UMA REALIZAÇÃO
Euroville
revestimentos
ROTEIRO E PESQUISA
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Joan Mir—, 1933 | FotograÞa Man Ray
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desenhar a partir da sua memoria e n‹o olhando para o
objeto diretamente.
JOVEM ROMÂNTICO
Mas aos dezenove anos o pai de Mir— lhe obrigou a trabalhar
no comercio e ter sua independência Þnanceira. Mir—
desolado abandona a pintura e poucos meses depois entra
em depress‹o seguido de uma febre tifoide. Desta vez, a
depress‹o de Mir— convenceu seu pai sobre sua falta de
vocaç‹o do Þlho para o trabalho burocr‡tico, e muito a contra
gosto lhe auxiliou a estudar na Escola de Arte de Galí. O pai
lhe dava o dinheiro de forma bastante limitada e muitas vezes
pedia dinheiro emprestado para sua irm‹ para comprar suas
tintas.
Joan Miró, um dos expoentes da arte surrealista, nasceu em
Barcelona em 1893, de uma família burguesa que no inicio de
sua carreira deu-lhe pouco apoio. Miró teve que vencer a
barreira da ira e da hostilidade dos pais, como todo jovem
artista, que o pressionaram para ter uma proÞss‹o segura e
de respeito social.
Miró era muito apegado a Catalunha, sua terra natal. Ele era
uma pessoa fechada em si mesmo e apesar de uma relaç‹o
pr—xima com a sua fam’lia esta relaç‹o foi ˆs vezes bastante
conturbada. Na sua infância, Miró passava suas férias com
seus avós maternos na ilha de Maiorca, e quando viaja para
estar com eles ia de barco o que despertou seu amor pelo
mar. Em Maiorca ele se sentia livre de seus problemas com
seu pai que era bastante autorit‡rio e n‹o lhe dava apoio
para a sua vocaç‹o art’stica.
Ele estudou aos quatorze anos de idade na ÒLa escuela de la
LonjaÓ. Esta era a mesma escola em que o pai de Picasso
lecionou, e onde Picasso (nove anos antes) teve sua
formaç‹o art’stica b‡sica. Mas Picasso na mesma idade j‡
dominava todas as técnicas acadêmicas ao passo que Miró
iniciava seus estudos. Miró aprendeu com seus professores
sobre a vitalidade e riqueza da cultura catal‹, a pintar e a
Joan Miró, 1907
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artisticamente. Miró era purista e este contato com o mundo
real do mercado de arte o fez concluir que deveria viver e
produzir sua arte na Catalunha longe das formas ditadas
pelos marchands franceses.
A segunda barreira a ser superada por Miró foi o mundo
artístico extremamente conservador que imperava na
Catalunha e contra os jovens artistas que buscavam novas
formas de expressão artística. A Catalunha do inicio do
século XX era um local cosmopolita mas nas artes plásticas
permanecia centrada em si mesma com a dominação de
duas associações de artistas locais. Miró que até então
nunca havia saído da sua região mantinha-se informado das
mudanças artísticas na Europa através de leituras de revistas
e trocas de cartas com amigos que viajavam pela Europa. Ele
acreditava que a arte na Catalunha deveria estar aberta para
a arte internacional. Mais tarde não encontrando vazão para
seu trabalho Miró se rebela e funda sua própria associação
de pintores com amigos de mesma atitude mais
internacional.
Durante a primeira Guerra Mundial (1914-18) muitos
franceses vieram para a Catalunha (Espanha não entrou na
guerra) e isto trouxe prosperidade para a região. A pintura
fauvista (de cores fortes) teve uma grande inßuencia no estilo
de Miró mas ele permaneceu independente no
desenvolvimento de seu próprio estilo que ocorreu de forma
mais lenta.
Obra fase inicial da carreira do artista.
Miró passou varias temporadas em Paris na década de 1920.
Ele de certa forma teve uma desilusão quando notou que
seus companheiros de proÞss‹o pintavam o que o mercado
queria comprar e menos o que eles desejavam expressar
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Os surrealistas se valeram de inspiraç›es de artefatos de
outras culturas tal como a africana e da Oceania como fonte
de inspiraç‹o para quebrar uma norma estŽtica vigente
(modelos cl‡ssicos). Mir—, por outro lado, sempre muito
conectado com o campo e o litoral da Catalunha tinha um
entorno fŽrtil de inspiraç‹o ao alcance de suas m‹os. O que
podemos notar no inicio de sua carreira era o car‡ter mais
primitivo e de certa forma rudimentar quando retrata a
ch‡cara de sua fam’lia onde se refugiava para pintar. Mir—
mais tarde em sua carreira tambŽm tirou inspiraç‹o da arte
japonesa. Ele apreciava o haiku japonês que e o poema de
três versos.
Mir— foi inßuenciado por artistas e poetas das vanguardas
europeias na dŽcada de 20 e 30. Sendo o Surrealismo sua
principal inßuência desde o inicio de sua carreira como
artista. Durante suas estadas em Paris, no estœdio da Rue
Blomet, Mir— teve contato com escritores como AndrŽ Breton
e Ernest Hemingway que marcaram profundamente seu
gosto de ler muito nos intervalos entre uma pintura e outra.
Ele pode ter passado muitos dos personagens de seus livros
para suas telas mas nunca de uma maneira direta. Ele busca
criar um vocabul‡rio de s’mbolos pr—prios e dar uma nova
forma a sua express‹o art’stica.
O Surrealismo foi um movimento art’stico, intelectual e
liter‡rio liderado pelo poeta AndrŽ Breton que teve inicio em
1924, data da publicaç‹o do Manifesto Surrealista. Paris era
a cidade de concentraç‹o para os artistas envolvidos neste
movimento. Os surrealistas tinham como objetivo eliminar as
regras opressivas da sociedade moderna atravŽs do desmoronamento da sua estrutura fundamental que era o pensamento
racional. Para atingir este objetivo os surrealistas buscavam
uma outra realidade (superior) atravŽs do subconsciente. O
fundamento do Surrealismo era o desejo de desprender a
arte de qualquer amarra social, era uma arte despida de
padr›es pol’ticos, culturais e sociais. Logo, o tipo de arte a
que se propunham fazer tinham imagens e conteœdo do
inconsciente logo era uma arte que n‹o representava o real.
Apesar de ter trabalhado com diversas tŽcnicas art’sticas
entre elas a pintura, escultura, litograÞa, tapeçaria e cer‰mica
sua notoriedade deu-se atravŽs do reconhecimento de sua
pintura. Mir— muitas vezes se revoltou contra as limitaç›es da
pintura e passou a dedicar-se cada vez mais a litograÞa e
escultura.
Em 1921, Mir— teve a sua primeira exposiç‹o em Paris,
tristemente um fracasso pois nenhuma tela foi vendida. Ao
retornar para a Espanha, j‡ sob a inßuencia da corrente do
construtivismo da De Stijl e da Bauhaus, Mir— passa a utilizar
formas geomŽtricas muito simples e se distancia do fauvismo
e cubismo do inicio de sua carreira. As formas geomŽtricas
deixam de ser um apoio na pintura de Mir— e passam a
Þgurar com presença pr—pria em suas telas.
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express‹o para dar forma a sua obra: pintura, desenho,
colagem, esculturas e cer‰mica. Ele observava a natureza e
objetos do cotidiano para realizar sua pesquisa e desta forma
criar um vocabul‡rio de sinais alargado e simpliÞcado. Suas
Þguras eram criadas a partir destas observaç›es como
procedimento de simpliÞcaç‹o. Mir— usa a simpliÞcaç‹o em
três dimens›es no seu trabalho: a modelagem, as cores e a
Þguraç‹o de personagens. Flores, cavalos, p‡ssaros,
estrelas, lua, uma mulher e a dança. N‹o h‡ linha do
horizonte e os personagens podem ser deslocados dentro da
pintura. Constru’a uma mitologia visual e fant‡stica mas
ainda percebia-se a presença humana. Alguns dizem que ele
reproduzia seus estados alterados de percepç‹o nas suas
obras de arte.
Afasta-se da Þguraç‹o e aplica a simpliÞcaç‹o das suas
formas e cenas com poucos traços entre 1920 e 1940.
Entre 1925 e 1927, durante suas estadas em Paris Mir—
pintou cento e trinta telas comparando a sua produç‹o de
cem telas durante a dŽcada que precedeu este per’odo de
produç‹o prolixa. As obras de Mir— passam a ser cada vez
mais abstratas e suas formas mais org‰nicas. Apesar da
abstraç‹o pode-se reconhecer alguns temas recorrentes
como a paisagem, a natureza-morta e o retrato.
Mir— disse que passa a buscar uma arte de conceito,
tomando a realidade como ponto de partida, nunca como
resultado. Mir— quando em Paris voltava para seu estœdio e
deitava em sua cama, muitas vezes sem jantar, e tinha
sensaç›es que ia anotando no seu caderno. Ele dizia que via
formas aparecerem no teto... Deitado, com fome e sono
agitado por sonhos de sua memoria via-se que Mir— foi
tomado pela conquista do inconsciente totalmente
inßuenciado pelo pensamento surrealista. Enquanto seus
companheiros do mundo da arte se entregavam aos prazeres
do ‡lcool, Žter, sexo, morÞna e etc. Mir— parecia mais um
monge porque primava pelo trabalho durante o dia com
pausas para exerc’cios, e ao Þnal do dia ele nadava no mar.
Ele era um rom‰ntico quanto a manter sua castidade e uma
pessoa muito reservada.
Devido ˆ guerra espanhola Mir— parte para o exilio com sua
mulher e Þlha. Permanece na França entre 1938 e 1940, mas
o avanço das tropas alem‹s no territ—rio da Franca levam
Mir— e sua fam’lia de volta para a Catalunha que oferecia um
ambiente relativamente seguro.
Em 1937, Mir— pintou um auto-retrato a observar as estrelas.
Esta seria sua serie conhecida como Constelaç›es. Em 1941,
a exposiç‹o individual de Mir— no Moma de Nova Iorque deu
excelente repercuss‹o para a serie Constelaç›es e outros
trabalhos expostos. As pinturas desta serie Constelaç›es
foram sucesso na New York School of Painting e forte
inßuencia no trabalho de artistas como Jackson Pollock.
Mir— explorava diversos materiais e meios de express‹o. Ele
utilizava todas as espŽcies de materiais e meios de
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Joan Mir—, 1942 | FotograÞa Joaquim Gomis
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subconsciente do artista. Depois de selecionar e criar objetos
ele mandava para os fundidores em Barcelona para compor
em bronze suas obras. Miró optava por não dar nomes as
suas telas porque estes poderiam conferir uma realidade
exata e uma justiÞcativa a imagem e ilus‹o. Ele concebia
suas peças em terracota e as convertia em bronze.
Apesar de estar em plena 1a. Guerra Mundial tal exposição
foi realizada graças aos empréstimos de coleções privadas
nos Estados Unidos. As obras da Constelação, em especial,
entraram nos Estados Unidos de forma clandestina em uma
mala de um diplomata.
Os anos da 2a. Guerra Mundial foram difíceis pois o mercado
de arte Þcou parado e o acesso a material de trabalho para
Mir— Þcou escasso. Logo ele se limitou a trabalhar sobre
papel e outras superf’cies que se Þzessem dispon’veis.
Terminada a guerra, Mir— parte com aÞnco para sua carreira
criar corpo e seu trabalho atingir outros pœblicos e para tanto
coloca pressão nas galerias que o representam para que
estas intensiÞcassem a venda de seus trabalhos. Neste
momento Mir— quer ter condiç›es Þnanceiras para ter seu
estœdio gigante porque ele dizia que tinha muitas ideias e
precisava de lugar para produzir e manter suas obras. Na
década de 1950 devido a ditadura de Franco, Miró muda-se
para Palma de Maiorca onde ir‡ construir seu estœdio.
No Þnal da dŽcada de 1960, Mir— passa a trabalhar a ‡gua
forte e ‡gua tinta, esta tŽcnica apoia Mir— no seu objetivo de
popularizar a sua obra uma vez que as mœltiplas vers›es
podem alcançar um publico maior do que as pinturas.
O estático imposto pela pintura tradicional e um limite para
Miró e para livrar-se desta limitação o artista eliminou a
moldura. Mir— trabalhava com a perspectiva para criar uma
ilus‹o de espaço e n‹o queria recriar o real. Nega a ilus‹o do
real e acredita que o movimento da imagem se estende sem
limite durante a percepção da imagem.
Liberdade de express‹o que vem de gestos espont‰neos.
Mir— trabalhou com extrema liberdade. Ele era comprometido
com a espontaneidade do gesto como procedimento.
Deixava-se levar pela incerteza do gesto e do que poderia
resultar do mesmo. Produziu como que caminhando por
linhas, cores e formas vibrantes.
Inicio da década de 1960, Miró irá dedicar-se às escultura.
Mas, o termo apropriado seria montagem ou construção é o
termo apropriado para descrever suas obras. Miró durante
suas caminhadas recolhia latas enferrujadas, ovos de
galinhas, tubos de pinturas vazias, conchas, bolsas de
pl‡stico furadas entre outras. De volta para seu estœdio Mir—
colocava as peças no ch‹o e em circulo para que elas por si
mesmas criassem possibilidades formais ao se inÞltrarem no
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Miró foi um artista muito produtivo. Ele produziu 2000
pinturas a óleo, 500 esculturas, 400 cerâmicas e 5000
desenhos e colagens. Entre as gravuras (litograÞa, ‡gua forte
etc) fez 3500 com tiragens grandes. Miró sempre criticou os
artistas jovens que assim que Þrmavam suas carreiras e
conseguiam viver de arte logo passavam a estilos que
agradassem a seus compradores e galeristas, mas Miró
soube se manter Þel a seu estilo durante toda sua vida.
A exposição a Força da Matéria reúne obras entre 1931 e
1981, traz trabalhos que ressalta a importância da matéria
para Miró como forma de aprender a trabalhar em novas
tŽcnicas. Esta aud‡cia de trabalhar com diversos materiais e
buscar inovar em técnicas artísticas existentes mostra como
Miró busca ultrapassar as regras estabelecidas entre os
artistas de sua época para alcançar sua própria forma de
expressar a arte em sua forma mais pura.
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ROTEIRO E PESQUISA:
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Joan Miró – A Força da Matéria