Lixões estão na periferia das cidades e das preocupações É um problema grave de meio ambiente e saúde, devido à contaminação do solo e lençóis de água, mas o poder público não dá a ele a devida atenção POR EDITORIAL 11/07/2014 0:00 Com o fim da Copa do Mundo, entrarão em cena na campanha eleitoral temas clássicos como a violência urbana, o drama da educação e as péssimas condições dos hospitais públicos. E não poderia ser diferente. É consenso que são prioridades, e os políticos — quase sempre mais empenhados em jogar para a plateia do que em melhorar efetivamente a qualidade de vida do eleitor — falam do que rende votos. Um assunto importante, no entanto, ocupará lugar secundário — quando muito — no debate justamente porque se trata de algo localizado nas periferias das cidades, longe dos olhos da maioria. São os cerca de dois mil lixões ainda em atividade em todo o país. É um problema grave do ponto de vista do meio ambiente e da saúde. Segundo a Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), 40% de todo o lixo do país não têm destinação adequada. Sem o devido tratamento, a decomposição dos resíduos contamina o solo e os lençóis subterrâneos de água. Há vazamento de chorume e produção de gases poluentes, facilitando a reprodução de insetos transmissores de doenças. Do ponto de vista social, a questão não é menos relevante. É degradante o cotidiano de catadores que dividem espaço com urubus em busca de recicláveis. Tamanha insalubridade está fora de qualquer parâmetro de condição de trabalho aceitável e é uma faceta ainda do subdesenvolvimento. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que entrou em vigor em 2010, estabelece que os catadores, organizados em cooperativas, participem de forma digna do sistema de coleta seletiva. E determina o fim dos lixões até 2 de agosto. Mas a meta dificilmente será cumprida. Reportagem publicada no GLOBO a um mês do prazo mostrou que 20 depósitos sem licença ainda aceitam detritos de municípios do Estado do Rio — a maior parte no Norte Fluminense. Juntos, eles recebem 474 toneladas de lixo por dia. O município do Rio é um dos que fizeram o dever de casa. Em abril, o aterro de lixo de Gericinó, na Zona Oeste, fechou as portas para os catadores, adequando-se às normas da PNRS. A persistência dos lixões é um desperdício. Segundo a Abrelpe, o mercado de resíduos sólidos movimenta quase US$ 10 bilhões, e tal valor seria muito maior se todo o lixo do país fosse coletado e disposto corretamente — só 3% nas cidades são reciclados. O potencial de geração de renda desprezado é imenso. A leniência é, sobretudo, dos municípios, responsáveis pela limpeza urbana, mas nenhuma esfera da administração pode se esquivar. A destinação correta do lixo é, também, questão de educação. Todos devem participar. E não há como cobrar o engajamento da população se prefeituras, estados e a União não fizerem a sua parte. fonte: http://oglobo.globo.com/opiniao/lixoes-estao-na-periferia-das-cidadesdas-preocupacoes-13213211#ixzz379t0t6fk