ACTUALIDADE Venezuelanos confirmam Chavez Depois das vitórias presidenciais de 1998 e 2000, Hugo Chávez foi agora reeleito para um terceiro mandato. Graças ao elevado preço do petróleo, que abunda na Venezuela, o líder esquerdista lançou inúmeros programas sociais que lhe garantiram o apoio das camadas mais pobres. Desta vez, recebeu mais de 60 por cento dos votos, numa eleição em que a oposição surgiu unida na candidatura de Manuel Rosales. Chavez promete continuar a desafiar os poderosos, tanto internamente, como a nível internacional – leia-se os Estados Unidos texto Leonidio Paulo Ferreira* foto Lusa Quando Hugo Chavez foi pela primeira vez eleito presidente da Venezuela, em 1998, o preço do barril de petróleo rondava os 13 dólares nos mercados internacionais. Oito anos passados, o crude está cotado nos 62 dólares, quase cinco vezes mais. E esta é a explicação simplista para o sucesso do antigo tenente-coronel dos paraquedistas, que prometeu pôr fim às desigualdades sociais na Venezuela. Sete milhões de eleitores, na sua esmagadora maioria das camadas pobres, agradeceram nas urnas, a 3 de Dezembro, os múltiplos apoios sociais promovidos pelo líder esquerdista. Foi a terceira vitória presidencial de Hugo Chavez, que lhe garantiu um novo mandato de seis anos para prosseguir a sua “Revolução Bolivariana” inspirada no principal líder independentista sul-americano do século XIX. Contra Chavez, a oposição apre- sentou-se unida na candidatura de Manuel Rosales, governador do estado de Rosales. Mas o rival social-democrata obteve menos 20 por cento de votos que o presidente, que registou 61 por cento de apoios. Rosales, que defendia a manutenção de muitas das políticas sociais, criticava Chavez sobretudo pelo seu apoio a regimes como o de Fidel Castro, considerando um desperdício da riqueza venezuelana o fornecimento solidário de petróleo a Cuba. Rosales acusou também durante a campanha o “autoritário” Chavez de querer instaurar na Polícia anti-choque dispersa opositores de Chavez no sector pobre de Caracas FÁTIMA MISSIONÁRIA 14 Edição LIII | Janeiro de 2007 Uma boa parte acredita nas boas intenções revolu cionárias, outra parte teme uma ditadura populista Venezuela um modelo comunista de tipo cubano. Entre os outros candidatos, todos de fraca expressão política, destaque para Venezuela Portuguesa da Silva, uma advogada de origem portuguesa, popular numa comunidade que se cifra em centenas de milhares de pessoas. Depois de ter tentado chegar ao poder através de um golpe militar, em 1992, Hugo Chavez conseguiu em 1998 ser finalmente eleito para a presidência. Desde então tem respeitado sempre o jogo democrático e resistiu mesmo a um golpe de estado em 2002. A sua figura, porém, divide os 27 milhões de venezuelanos. E se uma boa parte acredita nas boas intenções revolucionárias, outra parte teme uma ditadura populista. Num país riquíssimo em petróleo – produto que rende 75 por cento do valor das exportações e vale metade do orçamento do estado – a subida do preço do barril de crude veio trazer um dinamismo surpreendente à economia venezuelana, de que grande parte da população parece estar a beneficiar. Uma recente reportagem do jornal britânico “The Guardian” mostrava que nos oito anos de Chavez os ricos de Caracas, a capital, tinham ficado ainda mais ricos. Mas o mérito do presidente é, sobretudo, o forte financiamento da educação e da saúde, que lhe valeu popularidade entre os desfavorecidos. Os críticos, como o derrotado Rosales, afirmam, porém, que Chavez nada tem feito para desenvolver a economia nacional e que se os rendimentos petrolíferos diminuírem a crise afectará toda a população. Confortado pela sua terceira vitória, e apoiado no elevado preço do barril de petróleo, Chavez promete para já continuar a desafiar a hegemonia política dos Estados Unidos na América Latina. Admirador do cubano Fidel Castro, tornou-se ele próprio em inspirador de políticos em países como a Bolívia e o Equador, onde dois presidentes declaram sem vergonha terem o líder venezuelano como referência. * jornalista do Diário de Notícias De golpista a estadista Hugo Chavez ganhou notoriedade internacional quando liderou em 1992 um golpe de Estado falhado contra o presidente Carlos Andres Perez. Mas, depois de dois anos passados numa prisão militar, o oficial paraquedista decidiu despir a farda e tornar-se um político de corpo inteiro. À frente do seu Movimento da Quinta República, lançou-se então numa bem sucedida campanha de denúncia dos partidos tradicionais, a qual culminou com a sua vitória nas eleições presidenciais venezuelanas de 1998. Desde então foi já reeleito duas vezes, a última das quais em Dezembro de 2006. Filho de professores, Hugo Chavez nasceu em Sabaneta, no estado de Barinas, a 28 de Julho de 1954. A sua formação foi feita na Academia Militar, onde se graduou em 1975. Revoltado com as imensas desigualdades sociais do seu país, apesar dos recursos petrolíferos, o jovem paraquedista começou a simpatizar com os ideais de esquerda e elegeu como referência Simon Bolívar, uma figura da primeira metade do século XIX, que esteve na origem da independência da maioria das colónias espanholas da América do Sul. A par da sua carreira militar e das ambições políticas, Chavez manteve-se sempre um grande praticante de basebol, desporto muito popular na Venezuela. Com evidentes dotes de oratória, Chavez triunfou nas presidenciais venezuelanas de 1998 com promessas de revolução social. O país praticamente dividiu-se a meio, com os seus partidários a considerarem-no quase um visionário e os seus detractores a denunciarem instintos ditatoriais. Graças aos rendimentos petrolíferos, o novo líder venezuelano lançou uma série de programas sociais que lhe valeram a admiração dos pobres. Ao mesmo tempo, usou o petróleo para reforçar a influência internacional do país, nomea damente ajudando a Cuba de Fidel Castro a minorar as suas carências energéticas. Em simultâneo, Chavez, pai de três filhas e de dois filhos, desafiou os Estados Unidos, acusando-os de tentarem manter os países latino-americanos numa situação de submissão. Reeleito em 2000, Hugo Chavez enfrentou um golpe de Estado em 2002, em que chegou a parecer afastado do poder. Conseguiu, porém, recuperar o cargo e acusou directamente os Estados Unidos de estarem por trás da intentona. Polémico mas popular, obteve em 2006 uma reeleição fácil. E tornou-se uma fonte de inspiração para vários líderes da América Latina, como o boliviano Evo Morales. Potência petrolífera Geografia Situado no extremo norte da América do Sul, a Venezuela tem fronteiras terrestres com a Colômbia, a Oeste, com a Guiana, a Leste, e com o Brasil, a Sul. O seu litoral está virado a Norte e é banhado pelo Mar das Caraíbas. Área 881 mil quilómetros quadrados. FÁTIMA MISSIONÁRIA 15 Edição LIII | Janeiro de 2007 População: 27 milhões. Língua Castelhano (oficial), línguas indígenas. Religião Catolicismo (maioritária). Economia Grande produtor de petróleo (75 por cento das exportações). Rendimento médio por habitante 4810 dólares.