Aula 27
Creio na Igreja Católica - 3
1 - O Mistério da Igreja
“A Igreja está na História, mas ao mesmo tempo a transcende. É
unicamente ‘com os olhos da fé’ que se pode enxergar na sua
realidade visível ao mesmo tempo uma realidade espiritual, portadora
de vida divina” (CIC 770).
Dizer que a Igreja é um mistério já não difícil para nós entendermos. A
Igreja é uma realidade onde Deus atua e só com os olhos da fé, o que
já é uma graça divina, podemos compreender sua natureza. A Igreja é
um campo de atuação humana e divina, ao mesmo tempo. A História
tem sempre a espécie humana como seu principal interesse. Investiga
sua origem, seu passado, sua evolução e tudo o que a humanidade
produziu.
Assim, o surgimento da Igreja e sua evolução fazem parte do objeto
de estudo da História. Mas muita coisa que se passa no interior da
Igreja não é compreensível para a História, enquanto ciência. Sem o
elemento fé, a renúncia de Bento XVI não é inteiramente
compreensível. Claro que elementos naturais que também intervieram
em sua atitude são objeto das ciências humanas, e, portanto, ao
alcance da História. Mas isso daria apenas uma parte da verdade.
Contudo, uma parte da verdade não é a verdade!
O CIC diz isso afirmando ser a Igreja ao mesmo tempo visível e
invisível. Ela é projeto de Jesus Cristo e, como vimos na aula anterior,
é fundada pela Trindade Santíssima. Cristo, continuamente e em
todos os tempos, dá sustento à sua Santa Igreja. Como uma
corporação, ela é humana. Mas essa corporação de irmãos, que vivem
a Fé, a Esperança e o Amor está inteiramente impregnada de Deus.
Isso é exatamente a vida na graça e pela graça divina. Por isso, São
Paulo afirma que esse tecido humano, composto de irmãos unidos
entre si como os membros de um corpo vivo, estão atuam
conjuntamente no todo do organismo, é o Corpo (Místico) de Cristo
(1Cor 12, 27). Cristo ressuscitado incorporou-se neste enorme corpo
vivo que é a Igreja. Cada de um de seus membros serve para que
Cristo continue atuando através dele para o bem de todos.
Os elementos divinos e humanos fundem-se de tal forma que muitas
vezes não conseguimos identificá-los.
Aqui vai uma pequena digressão sobre certo dualismo fundamentalista
que insiste em apresentar o humano e o divino como elementos
separados e até opostos. Lembro-me de uma penitente que, certa vez,
me procurou. Meu interesse em ajudá-la era autêntico. A situação
requeria mais uma orientação do que simples absolvição. Na segunda
ou terceira frase explicativa, a criatura levantou-se enfurecida,
interrompeu a confissão e corrigiu-me, quase aos gritos, que viera
para ouvir uma palavra de Deus e não explicações humanas.
Isso não é uma visão cristã. É uma antiga visão pagã. Toda a ação da
pessoa de fé que age com reta intenção, movida por amor autêntico e
que tem preparo, conhecimento da boa doutrina e age em sintonia
com Deus, tem em si elementos humanos e divinos atuando de forma
inseparável. Não esquecer que entre os dons do ES está também o da
ciência.
2 - A Igreja e Sacramento da Salvação (CIC 774-776)
O número 774 começa explicando a origem da palavra mistério. Do
grego mysterion, para o latim resulta em mysterium ou, às vezes,
sacramentum. No português, deu sacramento e mistério.
Mistério refere-se a realidades da Salvação inacessíveis sem a luz da
Fé. A luz é de Deus.
Sacramento exprime sinais visíveis da presença e ou atuação do
mistério.
Assim, o grande mistério da Salvação de Deus é Jesus Cristo. Jesus
atua na Igreja que é seu corpo. A humanidade de Cristo é santa e
santifica aqueles seres humanos que entram em comunhão com Ele.
Neste sentido a Igreja, no seu todo, é o grande Sacramento (= sinal
visível) de Cristo. Na Igreja Cristo salva e santifica o ser humano, de
modo especial, através dos sete sacramentos. As Igrejas do Oriente
chamam ainda hoje os sacramentos de “os santos mistérios”.
Lumen Gentium (LG, A Luz dos Povos) já apresentada a vocês na
aula passada, no número 1, diz que “a Igreja é, em Cristo, como que o
Sacramento ou o Sinal e instrumento da íntima união com Deus e da
unidade de todo o gênero humano”. O primeiro objetivo da Igreja é ser
sacramento da união íntima dos seres humanas com Deus, afirma
também LG.
Deste ponto dá-se um desdobramento importante. Nossa união com
Deus capacita-nos para uma verdadeira comunhão com outras
pessoas. Igreja, então, aparece como sacramento e esperança de
unidade da raça humana. Mas, por favor, unidade não é unicidade! O
sonho da unidade deve concretizar-se, realizar-se, na beleza e riqueza
da diversidade.
O número 776 do CIC é uma riquíssima coletânea de afirmações do
Vaticano II. Vamos reproduzi-lo.
“Como sacramento, a Igreja é instrumento de Cristo. ‘Nas mãos Dele,
Ela é o instrumento da Redenção de todos os homens’ (LG 9), ‘o
sacramento universal da Salvação’ (LG 48), pelo qual Cristo ‘manifesta
e atualiza o amor de Deus pelos homens’ (GS - Gaudium et Spes 45).
Ela ‘é o projeto visível do Amor de Deus pela humanidade’ (Paulo VI,
discurso de 22.6.73), que quer que o ‘gênero humano inteiro constitua
o único povo de Deus, se congregue no único Corpo de Cristo, seja
construído no único templo do ES’ (AG - Ad Gentes - 7)”.
3 - A Igreja Sacramento, visibilidade e esperança
O conteúdo do texto que acabamos de ler é belo e esperançoso para
quem tem a Fé. Para quem não tem a Fé, ele é incompreensível. Mas,
ao citar Paulo VI - “é o projeto visível do amor de Deus pela
humanidade” -, o CIC está falando em visibilidade para a humanidade.
Certo, já sabemos que Ela é sacramento e todo o sacramento se
percebe por sinais visíveis. Mas, essa visibilidade específica,
sacramental também só é compreensível para quem tem nossa Fé.
Contudo, quando Paulo VI falou em “projeto visível”, creio que deve ter
pensado em uma visibilidade maior, também perceptível para gente de
outras crenças e até mesmo para aqueles que não tem fé alguma.
Jesus gosta de imagens tiradas de colheitas, tais como de figos (Lc
12, 6-9), de uvas (Jo 15, 1-2) e do trigo que rende cem por um (Mt 13,
3-9). Talvez Jesus estivesse revendo em resumo essas diversas
referências aos generosos frutos produzidos por tais vegetais quando
nos diz que fomos enviados para produzir frutos, e mais, frutos
permanentes (Jo 15, 16). Produzir frutos tem de ser algo ligado à
própria natureza de nosso ser!
Como a figueira que nada produz além de folhas é declarada inútil e
deve ser cortada, o que deverá ser feito de nós se não produzirmos
frutos?
Agora estamos a falar de coisas perceptíveis e compreensíveis a todo
o ser humano, com esta ou aquela fé, ou sem fé alguma. Um cristão
que nada produz é inútil.
É um ser que degenerou, em quem a própria natureza desandou e
deteriorou-se.
E quais são esses frutos que Deus e todos os outros seres humanos
tem o direito de cobrar de nós?
Vamos pensar juntos e anotem.
Isso pode servir para traçar um bom programa de melhoria de vida ... .
É com esses frutos que todos entendem como tipicamente nossos que
a Igreja é percebida como a luz do mundo.
Observem que Jesus está a falar de luz para todos, para toda a
humanidade. Se é luz, a Igreja também é uma esperança para todos.
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