A1 ID: 60063108 08-07-2015 Tiragem: 14617 Pág: 18 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 26,00 x 30,44 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 1 Garland factura 100 milhões em 2015 Transportes Empresa de agenciamento de navios e logística cresceu 5,9% em 2014 e abriu filiais em Espanha e Marrocos. [email protected] A Garland, uma das mais antigas empresas nacionais, especializada nos transportes marítimos e logística, espera superar os 100 milhões de euros de facturação no exercício em curso. “As perspectivas para o desempenho neste ano de 2015 são boas, apesar de se saber que em ano de eleições nunca podemos prever o que vai sair em medidas novas na parte pública”, revela Bruce Dawson, presidente da Garland, em entrevista ao Diário Económico. “Estamos a prever que à medida que se chegue mais junto das eleições [entre Setembro e Outubro], o nervosismo vá aumentando”, prevê Bruce Dawson. Este responsável entende que “os últimos três ou quatro meses do ano vão ser de nervosismo e teme que o ‘timing’ eleitoral, das legislativas e das presidenciais, possa atrasar o Orçamento de Estado” para 2016. O líder desta empresa com quase 240 anos, entre as cinco mais antigas do país, fechou 2014 com uma facturação de cerca de 98 milhões de euros, um EBITDA de 2,7 milhões e um EBIT de dois milhões. Neste momento, emprega mais de 300 funcionários e agencia 674 navios. Movimenta cerca de 195 mil TEU (medida-padrão equivalente a contentores com 20 pés de comprimento) e cerca de 20 mil camiões. Após um crescimento de 5,9% na actividade da empresa no ano passado, a Garland avançou para a abertura de filiais em Valência e Barcelona, em Espanha; e em Casablanca, em Marrocos. “Correu bem, mas claro que há sempre alguns problemas. Tivemos uma expansão nos últimos dois anos, mas esperamos crescer 20% no O presidente da Garland defende que as infra-estruturas mais importantes para o futuro são as ligações aos portos nacionais. futuro”, deseja Bruce Dawson. O presidente da Garland assegura que não tem outros mercados internacionais em perspectiva, apesar de revelar que efectuou estudos em Moçambique, onde pondera iniciar a actividade, mas recorrendo a agentes locais, com parcerias. Conhecedor do meio profissional onde se movimenta, Bruce Dawson reconhece que a crise financeira iniciada em 2008, e que resultou no pedido de resgate, teve alguns resultados positivos: “O sector das exportações ganhou muito terreno e o aperto que houve ao consumo fez diminuir consideravelmente a importação”. No entanto, o líder da Garland é crítico em relação às opções estratégicas nacionais para o sector do mar (ver texto ao lado). “Aqui, em Portugal, já perdemos muitas oportunidades. A costa marítima era uma das oportunidades que Portugal tinha. Quando se desenvolveu o porto de Sines, podíamos ter aproveitado e ter sido a entrada [de mercadorias] para Espanha e impedir que houvesse o destaque que depois passou a haver em relação aos portos de Barcelona, Valência e Algeciras”, desabafa o presidente da Garland. “Este país tem de se desenvolver o máximo possível à base das exportações. Só podemos voltar a ter os consumos que tivemos no passado se conseguirmos expandir as exportações. Isso é que vai dar emprego”, defende Bruce Lawson. O responsável máximo da Garland acrescenta que “o desenvolvimento tem de ser pensado: temos de investir em outras áreas mais tecnológicas, mais do futuro”, até para poder combater uma aparente desvantagem de localização geográfica, porque “é mais fácil para um investidor da Alemanha investir na Eslovénia, por exemplo, do que em Portugal”. “Este país sobreviveu por causa da indústria privada, que temos de desenvolver ao máximo. Temos também de conseguir o máximo possível de fundos para desenvolver o investimento da parte pública. Muitas das dificuldades do país são nas empresas públicas, nos sectores dos transportes públicos nas cidades, nas ferrovias”, esclarece Bruce Dawson. E acredita que “estas empresas têm de levar um grande abanão”. ■ Paula Nunes Nuno Miguel Silva Bruce Dawson representa a quarta geração de liderança na gestão da Garland. TRÊS PERGUNTAS A... BRUCE DAWSON Presidente da Garland “Faz-me muita confusão o [terminal do] Barreiro” Bruce Dawson concorda com o actual Governo na estratégia para os transportes, mas revela sérias dúvidas sobre o projecto do terminal de contentores para o Barreiro. Como define a actividade da Garland em Portugal ao fim de mais de dois séculos? Temos uma rede de actividade marítima em todos os pontos do mundo, através de uma ‘network’ eficiente. Somos dos maiores transitários independentes no mundo. E somos uma empresa 100% portuguesa. Temos filiais em Espanha e em Marrocos e uma pequena firma no Chile, no sector da informática. Esta multinacional tem, aliás, filiais em grande parte do mundo. Como vê a estratégia do Governo para os grandes investimentos no sector dos transportes em Portugal? Considero que ainda bem que foram parados os investimentos previstos no TGV e novo aeroporto. Agora, foi dada prioridade à carga e não às pessoas. Acho correcto porque o emprego cria-se com o aumento da actividade de ‘import’ e ‘export’. Como comenta o projecto do novo terminal de contentores previsto para o Barreiro? Não está explicado o que vai acontecer aos terminais da margem Norte do Tejo do porto de Lisboa. Por outro lado, não são os terminais que temos em Alcântara ou em Santa Apolónia que vão alimentar o Barreiro. O Barreiro tem um canal para calados pequenos e vai precisar de dragagens. O Governo aposta muito no Barreiro, mas faz-me muita confusão porque não sei se já está delineado o que se vai fazer. Sines, Lisboa e Leixões são os portos estratégicos. O Barreiro parece ter ganho a batalha, mas é preciso explicar como é que se vai fazer o projecto, como é que rende. Não podemos construir um porto novo para depois tê-lo meio vazio. No passado, já tivemos o exemplo de auto-estradas que foram construídas e que agora estão inutilizadas. E há ainda a hipótese de desenvolver Setúbal. N.M.S. Página 1