Gestão da Inovação em Sistemas Organizacionais Marco Antonio Silveira Centro de Pesquisas Renato Acher (CenPRA)/MCT-( www.cenpra.gov.br ) [email protected] RESUMO. Os diferentes tipos de sistemas organizacionais – entre eles, empresas, instituições de P&D, universidades e redes organizacionais – estão em contínua interação com seu ambiente, de onde importam os recursos para as suas atividades e para onde exportam os seus produtos, sejam esses bens tangíveis ou não. Uma vez que as características do ambiente de atuação dessas organizações mudam rápida e continuamente, é fundamental que sejam conduzidas de forma contínua mudanças internas apropriadas. Portanto, a gestão da inovação – aqui entendida como toda mudança benéfica para a organização – é condição fundamental para que as organizações possam reajustar o seu nível de competitividade frente às demais forças competitivas presentes no seu ambiente e, assim, mantenham o sucesso ao longo do tempo. Neste capítulo é apresentado um modelo sistêmico para organizações de qualquer natureza, baseado na Teoria Geral de Sistemas-TGS, definindo uma estrutura de sub-sistemas que contempla os diversos requisitos necessários para a adequada gestão estratégica da inovação. O modelo apresentado considera as organizações sistemas hierárquicos em transformação, de natureza sociotécnica, e propõe uma estrutura com dois sub-sistemas de primeiro nível: “de negócios” e “da inovação”. A definição do sub-sistema da inovação contempla o seu objetivo global, componentes, estrutura de sub-sistemas (baseada na trilogia de Juran), ambiente, recursos, administração geral e administração das mudanças. As inovações são modeladas como mudanças de estado do sistema, adotando-se como variáveis de estado as características associadas à rede de processos implementados. O modelo enfatiza as competências organizacionais, definidas como capacidade para executar processos, tendo o propósito de apoiar o gerenciamento de inovações com enfoque sistêmico, pois isso aumenta a probabilidade de otimização da eficácia e da eficiência organizacionais. É apresentada ainda uma metodologia para gerenciar o processo de inovação nas organizações, a qual integra as dimensões objetivas e subjetivas de uma mudança. Tendo como princípio o enfoque sistêmico, a metodologia prevê os seguintes quatro elementos a serem considerados na gestão da inovação: o estado alvo do sistema organizacional, o seu estado inicial, o processo de mudança em si e um conjunto de referências para a adequada condução desse processo. Palavras chave: Gestão da inovação, Modelagem de sistemas organizacionais, Aprendizagem e conhecimento organizacional Toda organização, ou sistema organizacional, – entre elas, empresas, universidades, organizações do terceiro setor, redes organizacionais e institutos de pesquisa independentemente de sua natureza, porte ou segmento de atuação, interage continuamente com o seu ambiente externo, de onde importa os recursos para as suas atividades e para onde exporta o resultado dessas atividades, normalmente na forma de produtos, sejam esses bens tangíveis ou não. Devido à dinâmica do jogo competitivo, ao desenvolvimento tecnológico, à volatilidade das condições econômicas e sócio-políticas em vários países, entre outros fatores, as características do ambiente de atuação das organizações mudam rápida e continuamente. A aceitação das duas afirmações acima, isso é, que as organizações interagem com o seu ambiente e que este está em contínua transformação, implica que a mudança deve ser rotina nas organizações. Mais do que um jogo de palavras, essa frase evidencia que a inovação – aqui entendida como toda mudança benéfica para a organização – é condição fundamental para que as organizações possam reajustar o seu nível de competitividade frente às demais forças competitivas presentes no seu ambiente e, assim, mantenham o sucesso ao longo do tempo. Sucesso deve ser entendido no sentido da organização “ser bem-sucedida em seus propósitos”, sejam esses propósitos de natureza financeira, social, ou outra qualquer. E, as inovações – sejam elas mudanças radicais, pequenas melhorias ou adaptações – resultam da aplicação do desenvolvimento científico e tecnológico (em qualquer área do conhecimento) nas organizações e, obviamente, correspondem a uma mudança. Os benefícios de uma inovação podem ser ganhos, grandes ou pequenos, de eficiência no uso de algum de seus recursos ou, de eficácia no atendimento a um dos seus vários propósitos, tais como, lucratividade, melhorias internas, contribuições sociais, entre outros. A adequada gestão da inovação requer da organização eficácia, implementando mudanças corretas e com agilidade e, eficiência, utilizando racionalmente os recursos alocados nesta tarefa. A eficácia na gestão da inovação requer múltiplas atividades para monitorar e interpretar corretamente a dinâmica do ambiente, selecionar o conjunto de ameaças-oportunidades a que a organização deve responder, planejar os meios para dar as respostas corretas e implementar adequadamente as mudanças requeridas. Essas atividades exigem recursos humanos, financeiros e materiais, aumentando os custos operacionais, o que nem sempre é fácil equacionar, tanto em organizações privadas, devido à diminuição nas margens de lucro decorrente do nível de competição hoje existente, como em organizações públicas, devido à diminuição da capacidade de investimento do estado. A grande quantidade de demandas e de atividades internas em uma organização implica que entender que ela é um todo integrado, isso é, um sistema no qual os seus diferentes elementos internos interagem dinamicamente entre si e com os elementos presentes no seu ambiente de atuação, contribui para o aumento da eficácia e/ou da eficiência organizacional. O enfoque sistêmico aplicado às organizações, através do qual se busca entendê-las como um sistema em transformação, formado por múltiplos níveis de subsistemas que são interdependentes e que interagem entre si, oferece um meio efetivo de prover as capacidades estratégicas que são valorizadas pelos clientes e pelos segmentos de mercado onde a organização atua, sendo essas capacidades a base para se alcançar e manter uma posição competitiva a longo prazo. A recíproca também é verdadeira, como destacado por Tidd et alli (1997: 30), mostrando os inconvenientes para a organização de um entendimento parcial do fenômeno da inovação como, por exemplo, de que se trata de um esforço restrito à área de P&D ou, que se resume em manter os clientes satisfeitos ou, ainda, de estar restrito à mudanças tecnológicas de produtos. Entender que a organização é um todo integrado em constante transformação é, também, um fundamento da administração estratégica, como bem analisado em Ansoff e McDonell (1993). Estratégias bem formuladas e adequadamente implantadas constituem-se em fatores fundamentais para que as organizações sejam bem sucedidas, mercê do maior alinhamento interno em torno dos seus objetivos globais, do posicionamento da organização em relação ao seu ambiente de atuação e da manutenção da coerência ao longo do tempo proporcionados. 1. Teoria Geral de Sistemas e as Organizações Desde Galileu a ciência moderna tem sido dominada pelo enfoque analítico ou reducionista, que se caracteriza pela redução de problemas a componentes menores visando facilitar a sua análise. O paradigma reducionista tem vantagens evidentes, sendo responsável pelo ferramental metodológico que proporcionou o gigantesco desenvolvimento científico e tecnológico experimentado pela humanidade nos últimos séculos. No entanto, o enfoque analítico-reducionista se mostra inadequado para lidar com situações mais complexas, onde os fenômenos devem ser entendidos não só em termos dos seus componentes, mas também em termos do conjunto integral das relações existentes entre eles, como destacado por Schoderbek et al: 1982. A mudança do enfoque analítico dos problemas para o estudo dos problemas como um todo, pode ser visto como uma mudança metodológica; é a mudança para o enfoque holístico ou sistêmico, o enfoque que é usado pelos estudiosos da teoria geral de sistemas - TGS. Esse campo de conhecimento tem se revelado muito importante, pois revolucionou muitos campos da ciência e tem tido um impacto sobre a vida das pessoas. A noção de que os fenômenos devem ser analisados no seu conjunto não é recente. Encontra-se em Maximiano (1991) que em 1924 psicólogos alemães desenvolveram o conceito de Gestalt (teoria da forma), segundo o qual os fenômenos não devem ser separados uns dos outros para ser explicados, devendo ser considerados como conjuntos indissociáveis, já que a natureza de cada elemento é definida pela estrutura do conjunto a que pertence. Esse novo enfoque foi se desenvolvendo ao longo do século XX, sendo atribuído ao biólogo Ludwig von Bertalanffy a formalização desta metodologia nos anos vinte, quando iniciou o tratamento de organismos biológicos como sistemas abertos. Desde a década de 1940, a partir do trabalho do matemático americano Norbert Wiener, esse conceito vem sendo usado para explicar as similaridades entre os sistemas mecânicos e biológicos de autocontrole do desempenho, sendo esse autocontrole visando ao alcance de um objetivo o ponto central da cibernética. A TGS tornou também possível o desenvolvimento de sofisticados computadores e sistemas de automação, e outras aplicações práticas como “Análise de Sistemas”, que é uma ferramenta essencial para o gerenciamento de todos os tipos de negócios e instituições (Kauffman: 1990). Em 1954, na reunião anual da American Association for the Advancement of Science, foi fundada a “Sociedade para Teoria Geral de Sistemas” (Society for General Systems Theory), liderada por Bertalanffy e cientistas de outras áreas. Em Schoderbek et al. (1980) encontra-se um texto escrito em 1968 por Bertalanffy, que falava sobre os propósitos e funções dessa sociedade: A S.G.S.R. foi organizada ... visando o desenvolvimento de sistemas teóricos que são aplicáveis a mais de uma das tradicionais áreas de conhecimento, sendo suas funções principais: 1) investigar a isomorfia de conceitos, leis e modelos em vários campos e, ajudar na transferência de um campo para outro; 2) incentivar o desenvolvimento de modelos teóricos nos campos que se ressentem de sua falta; ...” A importância dessa nova maneira de enfocar os problemas é encontrada também em Churchman (1972), que afirma que quando desejamos resolver problemas devemos começar pelo processo de pensamento pois, a não ser assim, pode acontecer de se enveredar por um caminho completamente errado. Churchman explora no capítulo 3 do seu livro a necessidade de um novo enfoque da realidade, mostrando como nosso pensamento está sujeito a ser confundido pela tradição. Ele cita como exemplo que as empresas são em geral divididas em departamentos, divisões, repartições e setores, quando, no entanto, o exame cuidadoso mostra que estes não são os componentes reais do sistema-empresa, embora tenham rótulos que parecem indicar que são; as atividades relacionadas com a produção não estão circunscritas ao “departamento de produção”, assim como as atividades de projeto não se restringem ao “departamento de projeto”. É por essa razão que ao pensar em sistema o profissional ignora as linhas tradicionais de divisão e volta-se para as atividades básicas. Embora a palavra sistema tenha sido definida de muitas maneiras, todos autores pesquisados (Churchman (1972), Deming (1986), Harry (1990), Kauffman (1980), Schoderbek et. al. (1980), Kast e Rosenzweig (1985), entre outros) estão de acordo que: Um sistema é um conjunto de partes coordenadas realizando determinadas funções. “Sistema” e “sub-sistemas” são abstrações concebidas com o intuito de servir como ferramenta para um determinado estudo; portanto, para a concepção do “sistema” é importante saber exatamente o objetivo do estudo, quando então essa conceituação torna-se um instrumento útil e poderoso. 1.1. Modelos com Enfoque Sistêmico Uma das diversas vantagens que a análise sistêmica apresenta, é a possibilidade de se modelar o sistema focal, isso é, o sistema de interesse para estudo. Diversos trabalhos empregam a palavra “sistema” e outras co-relacionadas (por exemplo, sistêmico, holístico) sem estarem respaldados em critérios científicos. Alguns cientistas propuseram critérios que um modelo deve satisfazer para que possa ser considerado de concepção sistêmica. LeMoigne faz a seguinte afirmação baseada em Bertalanffy: o paradigma sistêmico caracteriza-se pela relação circular de três aspectos de base, estruturaatividade-evolução, com as hipóteses teleológica (de finalidade) e de abertura para o ambiente. Encontra-se ao longo de todo o clássico livro de Churchman (1972) mais respostas objetivas à indagação do que seja implementar um enfoque sistêmico, existindo uma concordância de Schoderbek et al. (1980) com essas propostas, em cujo trabalho encontra-se a seguinte citação: “De todos os proponentes de sistemas, Churchman talvez tenha nos dado uma das exposições mais lógicas sobre o assunto. Ele definiu cinco considerações básicas concernentes ao enfoque sistêmico, a saber, os objetivos do sistema, seu ambiente, seus recursos, seus componentes ou as atividades para alcançar seus objetivos e a administração do sistema” (p.8). Portanto, para que todos os critérios propostos por LeMoigne/Bertalanffy e por Churchman/ Schoderbek et al sejam satisfeitos, um modelo deverá contemplar os seguintes pontos: a) o objetivo global do sistema; b) as atividades desenvolvidas para alcançar seus objetivos; c) a sua estrutura; d) o seu ambiente; e) os seus recursos; f) a administração geral do sistema; g) a maneira pela qual as mudanças serão viabilizadas no sistema focal. O objetivo global do sistema é um lugar lógico para começar o estudo porque muitos erros podem ser cometidos no pensamento subsequente a respeito do sistema se forem ignorados os seus verdadeiros propósitos. A importância da correta definição do objetivo global de sistemas organizacionais é corroborada por diversos autores, entre eles Drucker (1994) quando propõe a sua Teoria do negócio como sendo fundamentada nas premissas que a organização tem sobre seu ambiente, suas competências e seu objetivo global1. Um sistema consiste de duas ou mais partes chamadas componentes. Schoderbek et al. (1980) afirmam que os componentes de um sistema podem ser elementos concretos ou, então, as atividades que são nele desenvolvidas. Dada a natureza dos sistemas organizacionais, é interessante pensar os seus componentes básicos como sendo as atividades, ou processos, nele desenvolvidas. A estrutura de um sistema é a forma como os componentes estão conectados ou, as atividades estão organizadas. O enfoque sistêmico pressupõe o desdobramento do objetivo global em objetivos dos sub-sistemas de níveis inferiores, os quais, por sua vez, estão organizados de acordo com a estrutura que caracteriza o modelo empregado A importância do ambiente da organização foi sintetizada por Maximiano (1994) na seguinte afirmação: adotar o enfoque sistêmico é buscar a relação entre as partes do sistema e destas com o ambiente. Kirby (apud Stahl, 1991) mostra que o estudo de sistemas organizacionais deve começar por analisar o ambiente da organização, cujo resultado principal será a descoberta das capacidades que agregam valor aos clientes. O gerenciamento adequado da complexidade inerente à existência de uma grande diversidade de elementos que influenciam o negócio da organização requer competência na determinação dos riscos, dos custos e dos benefícios de se alocar (ou não) recursos para conhecer e monitorar a dinâmica desses vários elementos. A modelagem do ambiente de atuação é, portanto, uma tarefa complexa e de fundamental importância para o sucesso da organização, sendo o resultado de uma análise estratégica do ambiente organizacional considerando, como apropriado, os vários elementos existentes. A definição de Schoderbek et al. (1980) de recursos de um sistema - todos os meios disponíveis do sistema para a execução das atividades necessárias para a realização de seus objetivos - é adequada para um modelo de sistema baseado no preceito teleológico, como o aqui proposto. Existem algumas tipologias possíveis para a classificação dos recursos disponíveis numa organização; sugerimos os seguintes cinco grupos de recursos: físicos ou materiais, financeiros, humanos, mercadológicos e administrativos. Segundo Churchman (1972) e Schoderbek et al. (1980), o componente que determina os objetivos globais e relaciona os padrões subsistêmicos com o padrão global, pode ser chamado de subsistema de administração. Esse é o subsistema que “pensa” a respeito do plano global e realiza esse pensamento; se o subsistema administrativo trabalha corretamente, seu pensamento prossegue continuamente: “pensa” a relação do objetivo global com os componentes desde o início, e coordena todas as atividades do sistema. A administração geral 1 Drucker utiliza o termo “missão” para designar o objetivo global. do sistema inclui duas funções básicas, a saber, planejar e controlar o sistema como um todo. A estabilidade de sistemas complexos é obtida através de um equilíbrio dinâmico, que está diretamente relacionado com o processo de entropia negativa, sendo uma condição necessária para a sua adaptabilidade às variações do ambiente. À esse respeito escreveram Kast e Rosenzweig (1985): “Sistemas físicos fechados estão sujeitos à força da entropia, cuja tendência é um movimento de aumento da ´desordem´ interna. Porém, em sistemas abertos, como o são os organismos biológicos e sociais (entre os quais os sistemas organizacionais) a entropia pode ser parada e, mesmo, transformada em ´entropia negativa´, ou seja, um processo de aumentar o nível de organização interna do sistema p.116) Maximiano (1991) afirma que, se a organização consegue adaptar-se às mudanças ambientais, ou antecipar-se às que ocorrerão, seu estado será de equilíbrio dinâmico; por meio do equilíbrio dinâmico, as organizações aumentam sua probabilidade de sobrevivência a longo prazo. A organização deve reconhecer esses aspectos, e implementá-los através de uma estrutura adequada que monitora continuamente todos os elementos do ambiente considerados de importância, inclusive aqueles com influência potencial. Para fazer frente ao jogo competitivo atual, é necessário que a eficácia da organização esteja aumentando ao longo do tempo, visto que as metas para o negócio são alvos móveis que estão sempre sendo redefinidas para níveis cada vez mais altos. Ou seja, a organização é um sistema dinâmico, o que significa que o seu estado varia ao longo do tempo. Portanto, as inovações deverão ser conduzidas no sentido tal a levar a organização para estados cuja eficácia seja cada vez maior, sob pena de comprometer o seu nível de competitividade. Schoderbek et al. (1980) afirmam que o estado do sistema num dado momento é determinado pelo conjunto de processos relevantes existentes neste instante. O sistema organizacional é, portanto, implementado através dos processos existentes tanto em cada função, como os interfuncionais, sendo esse segundo grupo de processos necessário para coordenação e compatibilidade do primeiro grupo de processos. 1.2. O Enfoque Sistêmico nas Organizações Como já mencionado, usar o enfoque sistêmico nas organizações significa estudar as influências mútuas exercidas pelos seus diversos elementos internos, e também a influência exercida sobre eles pelo meio ambiente. Em outras palavras, o enfoque sistêmico interpreta as organizações como conjunto de elementos distintos, porém interrelacionados, que controlam seu próprio desempenho visando à realização de objetivos situados no meio ambiente. O enfoque sistêmico vem ganhando uma nova importância na área organizacional, desde o início da década de 90. O trabalho de Kirby (apud Stahl, 1991) mostra que o enfoque sistêmico oferece um meio efetivo de prover as capacidades estratégicas que são valorizadas pelos clientes e pelo segmentos de mercado onde a organização atua, sendo essas capacidades a base para se alcançar uma posição competitiva a longo prazo. Peter Senge (1990), criador do conceito de Learning Organization, propõe em seu livro o pensamento ou enfoque sistêmico como a “Quinta disciplina” que integra as outras quatro que compõem a base de seu conceito “fundindo-as em um corpo coerente de teoria e prática”. A importância do enfoque sistêmico no universo empresarial é corroborada também pelo saber profundo, fundamento dos princípios da gestão da qualidade segundo Deming (Neave, 1990), o qual tem como um dos quatro elementos que o compõe a necessidade de se compreender sistemas. Pode-se citar entre diversos outros autores reconhecidos, Scholtes (1998) que afirma que a qualidade está baseada em seis princípios, entre eles “entender e administrar sistemas”; a esse respeito Scholtes afirma que “Não podemos entender quais são os problemas, descobrir como resolvê-los, saber como executar um bom trabalho e satisfazer os clientes, a menos que compreendamos os sistemas; elaborar sistemas é, aliás, uma das novas competências que se exigem dos líderes. Harrington (1998) é ainda mais enfático a esse respeito, afirmando que a tarefa de garantir a qualidade vai dar lugar a uma nova função, mais abrangente, que se chamará “garantia de sistemas”. Essa nova função, segundo Harrington, fornecerá uma segunda avaliação de quão bem estão funcionando os sistemas dentro da organização e avaliará seu impacto sobre todos os interessados da organização, e não só sobre seus clientes externos. É necessário, portanto, reconhecer que a organização é um sistema em transformação, formado por múltiplos níveis de subsistemas que são interdependentes e que interagem entre si buscando prover aquilo que o mercado valoriza. Diversos trabalhos publicados enfocam a organização como um sistema aberto que troca informação, energia e materiais com seu ambiente. Entre outros, podem ser citados os seguintes trabalhos2: - Feliciano Neto (1995) mostra uma visão sistêmica de uma empresa industrial como um conjunto de seis subsistemas de primeiro nível que interagem a fim de que a empresa cumpra a sua missão, a saber, sub-sistemas institucional, físico, social, formal, de informações e de gestão; - Kast e Rosenzweig (1985) produziram um trabalho bastante extenso, apresentando vários aspectos da organização vista como um sistema. Nesse livro é apresentado um enfoque da organização como um sistema hierárquico constituído dos seguintes cinco sub-sistemas de primeiro nível: técnico, estrutural, de valores e metas, psico-social e gerencial; em outro enfoque apresentado, a organização é mostrada como um sistema hierárquico constituído de três sub-sistemas de primeiro nível, a saber, estratégico, de coordenação e operacional. São apresentados, ainda, vários aspectos ligados à estrutura organizacional da organização, tais como, integração das atividades organizacionais, relações horizontais e diagonais e a dinâmica da estrutura organizacional. - Lobato (1997) apresenta um modelo sistêmico de Administração estratégica, cujo núcleo é baseado em cinco atividades, a saber, estabelecimento da estrutura formal (organização estratégica), harmonizar os esforços coletivos (coordenação estratégica), orientação das operações a serem executadas (direção estratégica), (organização estratégica), planejar o sucesso em seu ambiente atual e futuro (planejamento estratégico) e controlar todo o processo resultante (controle estratégico). Portanto podemos pensar um sistema organizacional – seja ele uma empresa, universidade, organismo do terceiro setor, ou qualquer outro – como: Sistema técno-social que organiza recursos para atender a dadas necessidades externas (através do seus produtos). Sendo o sistema organizacional um sistema hierárquico, é possível definir-se diferentes estruturas de sub-sistemas, tendo em vista atender aos propósitos de um determinado estudo. 2 Merecem também destaque: a) o mencionado trabalho de Schoderbek et al., com um capítulo que mostra a organização como um sistema; b) o livro editado por Morton (1991), que apresenta visões sobre as empresas e as transformações pelas quais passariam nos anos noventa, motivadas principalmente pela tecnologia de informação; c) o livro de Porter (1989), que não é um cientista sistêmico, mas propõe a empresa como uma reunião de atividades que são executadas para projetar, produzir, comercializar, entregar e sustentar seu produto. É o que será feito na seção 3 deste capítulo ao modelar um sistema organizacional como sendo constituído de dois sistemas de primeiro nível, o de negócios e o da inovação. 1.3. A Flexibilidade dos Modelos com Enfoque Sistêmico Além de proporcionar os meios para entender o todo sem se perder em detalhes, a análise sistêmica tem, segundo Churchman (1972), a vantagem de ser flexível, propiciando a visão da organização com qualquer nível de detalhamento, bastando definir o nível do subsistema que se quer analisar. Outro aspecto resultante da sua flexibilidade, é que pode-se aplicar o enfoque sistêmico não apenas na organização como um todo, mas também a cada uma de suas partes. Dessa forma, um departamento específico pode ser visto como o sistema focal, e seu ambiente é representado pelos demais departamentos e pelo meio externo que cerca a empresa como um todo. Um terceiro aspecto, talvez o mais importante de todos, é a flexibilidade decorrente da “modularidade” resultante da modelagem da empresa como um sistema hierárquico. Segundo Kirby (1991), um sistema consiste de sub-sistemas que podem ser priorizados em uma lista em relação à suas contribuições para alcançar o objetivo a ser alcançado. Assim, olhar cada um dos múltiplos sub-sistemas como um módulo – por exemplo, o sistema de informações gerenciais, o sistema da inovação ou o sistema para gestão do conhecimento - dá ao usuário liberdade para priorizar suas ações segundo os interesses envolvidos. Isto é particularmente importante na implantação de um sistema gerencial onde, via de regra, as carências são maiores do que os recursos disponíveis para atendê-las. Esse enfoque dá ao usuário também a flexibilidade necessária para lidar com a complexa dinâmica dos mercados atuais, a qual demanda mudanças contínuas, sem perder a coerência e a integridade do sistema como um todo. Segundo Kaufmann (1980), as duas maiores contribuições da TGS não foram compreendidas inicialmente. A primeira é que ela fornece a qualquer pessoa uma maneira de construir uma visão clara sobre como o sistema focal (isso é, o sistema de interesse) funciona, sem gastar um tempo demasiado estudando cada detalhe inerente. A segunda é que a TGS fornece uma maneira de interligar aqueles problemas grandes e confusos da vida real que não se encaixam em nenhuma especialidade; essa visão de um “todo integrado visando o desempenho de funções globais” é um instrumento de conhecimento útil nos dias de hoje onde é comum lidar com estruturas complexas, isto é, formada por diversos elementos conectados entre si3. Isso é particularmente importante no desenvolvimento de modelos de gestão, uma vez que as organizações são sistemas bastante complexos onde elementos internos de diferentes naturezas (tecnológicos, administrativos e humanos) interagem dinamicamente entre si e com os elementos do seu ambiente, resultando numa multiplicidade de demandas a serem atendidas, muitas delas potencialmente conflitantes entre si. Algumas organizações já perceberam a inexistência de fórmulas simplificadoras, e, instrumentalizadas pela TGS, vêm buscando entender as mudanças ocorridas internamente e nos seus mercados à luz de novas disciplinas, como o pensamento complexo emprestado às 3 Outros autores também reconhecem que a TGS transcende sua função de ferramenta metodológica, sendo, antes, uma forma de enfocar a realidade. Nas palavras de Schoderbek et al. “a TGS não é somente uma metodologia; ela é também um arcabouço (framework) válido para visualizar o mundo empírico.” áreas de filosofia e de epistemologia. A abordagem da teoria da complexidade vem sendo usada por organizações para enxergar as mudanças no mercado sem negar a sua multiplicidade, aleatoriedade e incerteza, mas sim conviver com elas. O momento exige uma nova ótica, a qual inclui entender que os abalos que a sociedade e a economia mundiais vêm sofrendo são efeitos da interdisciplinaridade do conhecimento, a qual exige a busca de um raciocínio integrado. Portanto, mercê da sua capacidade de integração, o enfoque sistêmico é o indicado para lidar com realidades complexas, inclusive porque permite a construção de modelos mais abrangentes, sem com isso comprometer a sua inteligibilidade. Vale destacar que quanto mais abrangente é um modelo, maior o número de elementos (ou seja, de “variáveis”) contemplados e, por conseguinte, maior a aproximação da modelagem com a realidade. 2. Gestão da Inovação com Enfoque Sistêmico O nosso objetivo é contribuir para a viabilização da gestão estratégica da inovação em organizações, através da proposição de modelos e métodos associados. Para tanto, nesta seção serão apresentados conceitos associados, alguns deles aqui redefinidos, e as linhas gerais que dão sustentação lógica ao modelo com enfoque sistêmico para gestão da inovação, que será descrito na próxima seção. 2.1. Conceitos-chave para a Gestão da Inovação com Enfoque Sistêmico Tendo como base a visão de que toda organização é um sistema hierárquico (isso é, composto por múltiplos níveis de subsistemas interrelacionados) de natureza sociotécnica4 (portanto, apresentando fatores sociais e tecnológicos que afetam o seu desempenho) que organiza diferentes recursos para atender a dadas necessidades externas através de seus produtos, propõe-se modelar a organização como tendo dois sub-sistemas de primeiro nível. O primeiro dos sub-sistemas, denominado Sistema do negócio (S.N.), engloba todos os processos direta e indiretamente envolvidos com a produção, comercialização e entrega dos produtos finais da organização, enquanto o segundo, denominado Sistema da inovação (S.I.), engloba todos os processos relacionados com o planejamento, implantação, controle e melhoria das inovações em todos os níveis e aspectos da organização, sejam essas inovações incrementais ou revolucionárias. O S.N. é responsável por disponibilizar continuamente ao mercado produtos que permitem a realização da missão da organização (e, a obtenção do retorno financeiro necessário, em organizações privadas) enquanto o S.I. implementa mudanças de forma tal a que a organização possa manter (e, elevar) o seu nível de competitividade frente à dinâmica do ambiente externo. Portanto, esses dois sub-sistemas estão inextricavelmente integrados na busca de atingir o objetivo global da organização, que é manter o sucesso ao longo do tempo. 2.1.1. Estratégia Organizacional 4 Está-se enfatizando que os sistemas organizacionais têm natureza híbrida. Não confundir com a “abordagem sociotécnica do trabalho” que apresenta especificidades próprias (vide, por exemplo, Fleury e Fleury, 1997: 41). Mintzberg e Quinn (2001: 19), entre outros, concordam que não existe uma única definição de estratégia que seja universalmente aceita. Vários trabalhos compilam e analisam diferentes perspectivas sobre o tema, como citado em Silveira (2003), sendo adotada a definição encontrada em Slack et alli (1997: 89) para estratégia como: "o padrão global de decisões e ações que posicionam a organização em seu ambiente e têm o objetivo de fazê-la atingir seus objetivos de longo prazo" A opção pela proposta de Slack et alli se baseia na sua capacidade de sintetizar três aspectos fundamentais para a gestão estratégica das organizações atuais. O primeiro deles, o alinhamento interno da organização, entendido como a consistência no que se refere a processos, ações, informações e decisões entre as suas diferentes unidades funcionais; isso se infere do excerto “o padrão global (isso é, sistêmico) de decisões e ações”. A esse respeito, Montgomery e Porter citam que, na época em que o pensamento gerencial estava orientado para funções individuais, Andrews e Christensen lideraram a Harvard Business School em direção às idéias modernas de estratégia e, "identificaram uma necessidade urgente de uma forma holística de se pensar a empresa e, articularam o conceito de estratégia como um meio de chegar a isso" (Montgomery e Porter: 1998, p. XII). Os outros dois aspectos que se inferem da definição apresentada são o posicionamento da organização em seu ambiente, condição para a sobrevivência em ambientes dinâmicos e competitivos, como o são a maioria dos ambientes de atuação das organizações atuais, e a visão de longo prazo, que proporciona as condições para a manutenção da coerência da organização ao longo do tempo, meta desafiadora face à dinâmica e complexidade do cenário atual. 2.1.2. Competências Organizacionais Perrenoud (1999: 8) afirma que são múltiplos os significados da noção de competência e a define como uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles. Uma definição com ampla aceitação nos meios acadêmico e empresarial é a de competências como combinações sinérgicas de conhecimentos, habilidades e atitudes, expressas pelo desempenho profissional, dentro de determinado contexto organizacional (Faria e Brandão, 2003). Vários textos trazem outras definições sobre competência (vide, por exemplo, Fleury e Fleury, 2001: 18), mas iremos comentar só os aspectos mais importantes para compreensão do modelo aqui proposto. É possível classificar as competências como profissionais ou humanas (relacionadas à indivíduos ou equipe) e organizacionais (da organização como um todo). Nós propomos competência organizacional como sendo a capacidade de executar um processo de forma a atender as necessidades a ele relacionadas. Uma vez que os processos envolvem tanto pessoas como outros tipos de recursos, identificamos dois componentes distintos de primeiro nível na competência organizacional, a saber, o humano e o estrutural. A competência humana (seja ela individual ou de uma equipe) pode ser desdobrada em conhecimentos, habilidades e atitudes, como mencionado anteriormente, enquanto que a competência estrutural engloba equipamentos, materiais e infra-estrutura. A figura 1 sintetiza essa proposta. 2.1.3. Competências Essenciais e Gestão Estratégica Uma competência organizacional é classificada como essencial se atender, simultaneamente, a três requisitos: resultar de um conjunto de diferentes competências articuladas de forma a constituir um diferencial estratégico de difícil imitação, ter impacto nos produtos finais agregando valor aos clientes e, propiciar meios para que a organização possa atuar em diferentes mercados (Prahalad e Hamel, 1990: 83). O foco nas competências organizacionais é um elemento integrador por contemplar tanto as necessidades operacionais do S.N., como a dinâmica da aprendizagem do S.I.. Por isso, o modelo integra ao conceito de estratégia apresentado anteriormente a perspectiva de estratégia baseada em competências essenciais, introduzida por Prahalad e Hamel (1990), resultando que a gestão estratégica, como aqui proposto, possui três atributos principais: a) enfoque holístico da organização baseado em suas múltiplas competências; b) busca do posicionamento adequado em relação ao seu ambiente; c) visão de longo prazo. Figura 1: Competência organizacional e suas dimensões [proposto pelo autor, baseado em outros trabalhos] Competência Organizacional Fator Estrutural Fator Humano Conhecimentos Atitudes Habilidades Equipamentos Materiais Infra-Estrutura 2.1.4. Inovação como Mudança de Estado do Sistema Organizacional Baseado em Schoderbek et alli (1980), entre outros, o modelo adota como componentes do sistema organizacional os seus múltiplos processos5. E, considerando que o estado de um sistema é determinado pelas propriedades relevantes dos seus componentes, propõe-se modelar 5 Discussões sobre a organização como uma rede de processos podem ser encontradas em Gonçalves (2000: 7). a inovação como uma mudança de estado do sistema, adotando-se como variáveis de estado as características associadas à rede de processos existentes, isso é, o conjunto de todos os processos existentes na organização. Nesse enfoque proposto, a gestão de mudanças se baseia na condução de alterações na rede de processos efetivamente implantados num dado instante (que determina o estado inicial da organização), de forma tal a se obter a nova rede de processos (que define o seu estado alvo) necessária para a consecução de um dado objetivo da organização. Esse objetivo pode ser lançar um produto, melhorar a imagem da empresa, modificar a sua cultura organizacional, aumentar a satisfação dos clientes, diminuir custos, implementar um sistema de gestão conforme com a norma ISO 9001, ou outro qualquer. Dada a relação de causalidade processo-produto – isso é, o produto é o resultado intencional de um processo - a inovação de produtos está contemplada nessa modelagem. Assim, portanto, introduzir uma inovação na organização se constitui: a. na modificação de qualquer característica de um processo existente; b. eliminação de processos cuja relação custo/benefício não seja favorável para a organização, ou; c. acréscimo de um novo processo cuja existência irá agregar valor à organização. Esse enfoque está ilustrado na figura 2. Figura 2. Cadeia de relações sistêmicas na gestão da inovação [proposta pelo autor] Rede de Processos Define Determina Estado do Sistema Organizacional Capacidade para Alcançar Objetivos 2.1.5. Aprendizagem Organizacional e Ganhos de Competência Aos dois comportamentos organizacionais inerentes ao S.N. e ao S.I. estão associadas, respectivamente, atividades laborais e de capacitação. A integração dessas atividades resulta em ganhos de eficiência, pela sinergia, e de eficácia, por potencializar a aprendizagem (vide Perrenoud, 1999:10). Desconsiderando as eventuais casualidades, toda inovação requer aprendizagem, sendo a aprendizagem organizacional um tema que comporta diversas perspectivas (vide, por exemplo, Fleury e Fleury, 1997: 19). Na figura 3 é apresentada a nossa visão sobre a relação entre aprendizagem, inovação e competitividade; a aprendizagem é entendida como ganho de competência ocorrido através das suas componentes humana e/ou estrutural. Figura 3. Cadeia de relações (re-interpretada pelo autor) Resulta em Impulsiona APRENDIZAGEM INOVAÇÃO Ganho de Competência Mudança de Estado COMPETITIVIDADE Melhoria do Desempenho da Organização 2.2. Conhecimento Organizacional e Sistemas de Informação Os diferentes processos executados dentro da organização geram uma quantidade abundante de dados a eles relacionados, tais como, relações com o cliente e com o mercado, ocorrências na produção, vendas realizadas, entregas efetuadas, materiais recebidos, movimentações financeiras, não-conformidades nas diversas áreas, ocorrências com pessoal, entre outros. Quando esses dados são devidamente tratados – seja através do uso de técnicas estatísticas, de tratamentos matemáticos ou, simplesmente organizados segundo um critério definido – poderão ser geradas informações valiosas para a gestão do sistema organizacional. A manutenção de qualquer sistema organizacional como um todo integrado (isso é, como um sistema eficiente e eficaz) depende fortemente do seu sistema de informação. A informação, por sua vez, irá transformar-se em “conhecimento” quando for utilizada para a realização de algo útil para a organização, através de uma ação inteligente empreendida por pessoas. A relação hierárquica entre dado, informação e conhecimento é apresentada na figura a seguir. Figura 4. Relação hierárquica entre dados, informação e conhecimento DADOS + Organização Ação Automática INFORMAÇÃO + Avaliação Mental Análise, Comparação, Conexões, etc Ação Inteligente 1 CONHECIMENTO Ação Inteligente 2 Ação Inteligente “n” 2.2.1. Dados e Informações em Sistemas Organizacionais Os dados podem ser definidos como um registro (estruturado) de uma observação. Os dados valiosos devem ser apropriados, mantendo uma relação útil com a necessidade identificada, acessíveis quando e onde forem necessários e, adequados e suficientes para as necessidades. Para se ter certeza de que os dados serão apropriados, úteis, acessíveis e adequados, eles devem ser reunidos de uma maneira sistêmica. Se o dado tem um propósito e uma relevância ele se torna uma informação. Portanto, o objetivo da coleta e análise dos dados é gerar informações úteis. Para que as informações obtidas tenham credibilidade é preciso reunir, analisar e compreender os dados. O conceito de informação em si porta a idéia de ordenação alcançando, assim, significado. Informação é um conjunto de dados organizados de tal forma que adquirem valor adicional além do valor do dado em si. A informação é criada definindo-se e organizando-se as relações entre os dados, sendo que a definição de diferentes relações resulta em diferentes informações. A gestão da informação é um processo pelo qual a organização informa-se sobre ela própria e seu ambiente, e, por ela, informa ao seu ambiente sobre si mesma. Esse processo pode ser dividido em quatro sub-funções, a saber, a. criação das informações (coleta, aquisição, captação); b. comunicação das informações (circulação, transmissão, difusão); c. tratamento das informações (transformação, utilização, interpretação); d. memorização das informações nas formas mais diversas. A informação é um dos recursos mais importantes e valiosos de uma organização, sendo o seu valor diretamente ligado à maneira como ela ajuda os tomadores de decisões a atingirem as metas da organização. A informação acrescenta ganhos relevantes, que variam conforme a estratégia escolhida e adotada pela organização. Porém, as informações geram custos de obtenção e de processamento, o que implica a necessidade de se analisar a relação custo-benefício de se ter ou não uma determinada informação. Se a informação não é de boa qualidade, decisões ruins podem ser tomadas, gerando custos diretos e indiretos à organização. As características da boa informação envolvem a sua precisão, completeza, economicidade, confiabilidade, relevância, clareza, verificabilidade, oportunidade, entre outros critérios. O processamento, a transmissão, armazenagem e uso de dados e informações são muito melhorados com o emprego de recursos tecnológicos e computacionais. Nos mercados atuais é inimaginável conceber uma organização sem a utilização das diversas tecnologias da informação - TI disponíveis, sendo que essa necessidade cresce com o tamanho da empresa, sua complexidade e a dinâmica associada ao seu ambiente de atuação. Porém, a TI não tem qualquer valia, e nem seus resultados podem ser adequadamente mensurados, quando ela é implantada sem que esteja associada aos objetivos estratégicos da organização. Assim, o uso da TI deve ser entendido como recurso estratégico para promover a agilização dos processos de comunicação e decisão das organizações, subsidiando a melhoria do desempenho dos processos organizacionais que permitem atingir os objetivos de negócio. Através de uma perspectiva estratégica, os sistemas de informação – sejam esses total ou parcialmente informatizados - podem se tornar um instrumento efetivo para a inovação em sistemas organizacionais em apoio à gestão do conhecimento (organizacional). Essa mediação, transformar “informação” em “conhecimento organizacional”, é o propósito básico da gestão do conhecimento. A TI, por sua vez, irá prover o sistema organizacional dos recursos tecnológicos necessários para desenvolver todas essas tarefas com a rapidez, a agilidade e a integração necessárias. 2.2.2 O Conhecimento em Sistemas Organizacionais Com base no que foi mencionado anteriormente sobre a importância da inovação, podese afirmar que uma competência essencial para os sistemas organizacionais que atuam em ambientes competitivos, complexos e dinâmicos é a capacidade de gerar, disseminar e assimilar novos conhecimentos ao longo de toda a sua estrutura. Conhecimento é um conceito, ao mesmo tempo, de fácil compreensão e de difícil definição. Uma das interessantes conceituações, derivadas dos filósofos clássicos, define conhecimento como sendo uma “crença verdadeira justificada”. Em Nonaka e Takeuchi (1997) diferentes enfoques e abordagens do conhecimento são discutidos. A efetiva difusão do conhecimento entre organizações e indivíduos envolve diversos mecanismos os quais são fortemente influenciados pelo processo de comunicação. Há, nesses casos, uma diversidade de métodos freqüentemente utilizados que objetivam tanto disseminar o conhecimento quanto permitir a sua assimilação. Parte desses mecanismos depende da interação presencial (pessoal) entre as pessoas. Vários estudos realizados sobre este tema convergem ao argumentar que a difusão do conhecimento torna-se mais efetiva se houver comprometimento e interação pessoal. Já outros mecanismos utilizados, principalmente aqueles apoiados na TI< prescindem da proximidade física, fator que por um lado diminui (mas, não necessariamente compromete) a eficácia na difusão, e por outro traz economias substanciais de tempo e de recursos. A difusão e assimilação do conhecimento em qualquer área do conhecimento supõem a disponibilidade de informações e a necessidade de organizá-las para, então, poder se apropriar das mesmas. No entanto, a geração, disseminação, codificação, compartilhamento e uso do conhecimento não são algo trivial e fácil de serem implementados na medida em que envolvem múltiplos atores e vários aspectos ligados à subjetividade do indivíduo. Compartilhar conhecimentos, sobretudo se este for tácito, ao mesmo tempo em que se constitui como etapa crítica para a criação do conhecimento individual e organizacional, também envolve uma série de dificuldades inerentes, considerando que tal processo é altamente dependente da interação entre as pessoas e requer confiança para ser implementado. Esses pontos sinalizam para a compreensão do fato de que o conhecimento é sempre gerado por indivíduos, na forma em que é postulado por Senge (1990) ao afirmar que “as organizações aprendem somente através dos indivíduos que aprendem. Aprendizagem individual não garante aprendizagem organizacional. Mas, sem esta, nenhuma aprendizagem organizacional ocorre”. Há vários obstáculos a serem superados quando se trata de pensar mecanismos que viabilizam a socialização de conhecimentos dado que, como corroborado por Nonaka e Takeuchi, a criação do conhecimento é efetivada não apenas pelo indivíduo, mas também pelo grupo e pela organização. Assim, é preciso analisar as condições que possibilitam e viabilizam o estabelecimento e a ampliação do conhecimento dentro do sistema organizacional, a qual deve configurar o cenário apropriado para a interação social de seus membros. Nonaka e Takeuchi descrevem a criação de conhecimento como um processo interativo entre o racional e o empírico, entre a mente e o corpo, entre a análise e a experiência. A base da sua teoria da criação do conhecimento passa pela distinção entre conhecimento tácito e conhecimento explícito e, por vários processos de conversão entre eles. Esses tipos de conhecimento interagem, são complementares e podem ser convertidos, estabelecendo-se um processo criativo dinâmico, que ocorre entre indivíduos, e dentro do indivíduo, em forma de espiral. Trata-se da espiral de criação de conhecimento, pois ocorre repetidamente e resulta de uma intensa interação social no seio de uma organização a partir de um permanente ciclo de conversão do conhecimento. Segundo esses autores, a interação entre os conhecimentos explícito e tácito gera quatro principais processos de conversão que, juntos, constituem a criação do conhecimento, sendo eles, a Socialização, a Externalização, a Combinação e a Internalização. 3. Apresentação do Modelo para Gestão da Inovação com base na TGS Implementar adequadamente as contínuas inovações requer liderança, planejamento integrado, estrutura descentralizada, processos flexíveis, sistemas de informação ágeis, gestão do conhecimento, cultura organizacional propícia à aprendizagem, entre outras. A maneira reconhecidamente melhor para alcançar esse estado é adotar um modelo com enfoque sistêmico (Kirby, 1991: 222). Foi visto na primeira seção deste capítulo que a modelagem de um sistema requer a definição de sete itens: a) o objetivo global do sistema; b) os seus componentes; c) os seus recursos; d) o seu ambiente; e) a sua estrutura; f) a sua administração geral, e; g) como as mudanças internas são gerenciadas. A definição desses sete itens constitui o planejamento do sistema, o qual orienta a implantação dos múltiplos elementos do sistema de forma tal que o resultado final seja um todo coerente, integrado e alinhado com as necessidades e prioridades estratégicas da organização. Como mencionado na seção anterior, o modelo proposto estabelece uma estrutura formada por dois sistemas de primeiro nível, o sistema do negócio (S.N.) e o sistema da inovação (S.I.). O objetivo global do S.I. é gerenciar e implementar a inovação mantendo o sucesso da organização ao longo do tempo. Uma vez entendido que sucesso é ser bemsucedida em seus propósitos, percebe-se que “manter o sucesso” inclui o crescimento e a diversificação da organização, caso esses sejam um dos seus propósitos. Os componentes do S.I. são todos os processos relacionadas com mudanças na organização. Vale destacar que, enquanto processos relacionados com capacitação de funcionários, especificação de novos equipamentos, projeto de alteração em produto, análise de dados, planejamento estratégico (entre outros) pertencem ao S.I., processos associados, por exemplo, às operações produtivas, à compra rotineira de materiais, às inspeções de qualidade fazem parte do S.N.. Os recursos são todos os meios disponíveis ao sistema para a execução das atividades necessárias para a realização de seus objetivos, o que inclui pessoas, equipamentos, materiais e a infra-estrutura associada. Baseado em definições encontradas na literatura e, considerando a dinâmica atual, ambiente externo é aqui definido como o conjunto de elementos que influenciam a organização, ou que podem vir a influenciá-la, e sobre os quais ela tem pouco controle. A estrutura é a forma como os componentes do sistema estão conectados. Portanto, no modelo a estrutura define como os processos estão distribuídos nos vários sub-sistemas que compõem o S.I.. A estrutura adotada neste modelo é baseada na trilogia de Juran (1979: 2-10), que sintetiza a função gerencial como sendo planejar, controlar e melhorar os processos relevantes. Assim, são três os sub-sistemas de primeiro nível do S.I., com os respectivos objetivos, a saber: . Planejamento do S.I.: Traduzir as demandas do negócio da organização em planos para a inovação. . Implantação e controle do S.I.: Assegurar a implantação dos planos para a inovação. . Liderança e melhoria do S.I.: Liderar a inovação na organização visando aumentar a eficácia e a eficiência do S.I.. Será apresentada a hierarquia até o quarto nível de sub-sistemas, a qual está representada na figura 5 e cujo detalhamento será feito a seguir. A explicação de cada sigla utilizada nessa figura é dada no próprio texto. Figura 5: Estrutura de sub-sistemas do S.I. até o quarto nível [elaborado pelo autor] Nota: a explicação de cada sigla utilizada nessa figura é dada no próprio texto Organização Nível 0 Sistema da Inovação (S. I.) Sistema do Negócio (S. N.) Planejamento do S. I. P 1 P1.1 P 2 P1.3 Implantação e Controle do S. I. P 3 C 1 P3.1 P1.2 Nível 1 Liderança e Melhoria do S. I. C 3 C 2 M 1 P3.3 M1.1 Nível 2 M 2 M 3 M3.1 M1.2 P2.3 P2.2 M3.3 M3.2 P3.2 P2.1 Nível 3 M2.1 C1.1 C3.1 C1.3 C3.2 M2.2 Nível 4 C1.2 C2.1 C2.2 A estabilidade em sistemas complexos é obtida através de um equilíbrio dinâmico relacionado com o fenômeno da entropia negativa, adaptando o sistema às variações do ambiente. Isso requer um componente que esteja continuamente “pensando” os objetivos globais, relacionando-os com os vários elementos, além de coordenar a sua implantação, buscando melhorar o seu desempenho ao longo do tempo. No modelo proposto, o planejamento do S.I. está centralizado no sub-sistema P3, as atividades de controle e coordenação geral que garantem a sua homeostase - isso é, a manutenção do equilíbrio dinâmico entre os diversos elementos do sistema, independentemente de efeitos externos estão concentradas em M1 e M2, sendo que M3 é responsável por aumentar a sua efetividade. Serão apresentados a seguir alguns detalhes da estrutura de sub-sistemas do S.I.. Porém, as múltiplas interações existentes entre os sub-sistemas não serão comentadas. 3.1. Planejamento do Sistema da Inovação (sub-sistema P) Segundo Juran (1979: 6-1), a atividade de planejar envolve: a) determinar as demandas dos elementos de interesse para a organização (definidos pela sua estratégia), tais como elementos do ambiente, requisitos legais e contratuais e, necessidades internas da organização; b) definir requisitos (de produtos, processos, estrutura e relativas ao fator humano) que atendam à essas demandas; c) desenvolver os planos que sejam capazes de produzir as características desejáveis. Dessa maneira, o sub-sistema para planejamento do S.I., subsistema P, possui a seguinte estrutura de sub-sistemas de terceiro e quarto níveis : P1. Monitoramento dos elementos de interesse: Sub-sistema responsável pelo levantamento de informações de interesse tanto do ambiente externo, relacionadas aos clientes, às forças competitivas, às tecnologias entre outros, (sub-sistema P1.1), como do ambiente interno, relacionadas às atitudes dos funcionários e ao clima organizacional (P1.2) e, do desempenho externo da organização (P1.3). P2. Definição de requisitos para o S.I.6: Tendo como base tanto o conjunto de informações disponibilizado por P1, como as diretrizes para o negócio da organização, define-se de forma integrada requisitos para os produtos finais da organização (P2.1), para todos os processoschave da organização, sejam esses ligados às operações produtivas ou de apoio (P2.2) e, para os aspectos ligados à dimensão social da organização (P2.3). P3. Elaboração de planos: É o subsistema responsável por elaborar o planejamento estratégico do S.I. (P3.1), os mapas de competências dos vários processos de interesse com os respectivos níveis de competência desejados (P3.2) e, os planos para a gestão do conhecimento organizacional (P3.3). 3.2. Implantação e Controle do Sistema da Inovação (sub-sistema C) A implantação consiste em transferir o planejado para as operações e, o controle é proposto por Juran (1979: 2-11) como o conjunto de atividades usado pelas forças operantes para conseguir atender os requisitos especificados, sendo baseado numa malha de realimentação que consiste em três grupos de atividades: a) avaliar a performance da operação real; b) comparar a performance com as metas definidas e; c) atuar nas discrepâncias. Assim, a estrutura do subsistema C é a seguinte: C.1 Desenvolvimento das competências organizacionais: elaborar projetos de aprendizagem organizacional apoiados em mecanismos de integração trabalho-capacitação (C1.1), desenvolver ferramentas de suporte à aprendizagem e à gestão do conhecimento (C1.2) e, desenvolver os demais recursos estruturais (equipamentos, materiais ou estruturas) (C1.3). C.2 Avaliação das competências implementadas: monitorar o nível das competências existentes (C2.1) e, apontar as lacunas entre os níveis requeridos e existentes (C2.2). 6 A integração dos requisitos de qualquer entidade (um sub-sistema, um produto, um processo, é condição essencial para se conferir o desejado enfoque sistêmico à mesma. C.3 Manutenção do nível requerido das competências: definir as causas das lacunas de competência (C3.1) e, implementar ações para corrigir os níveis de competência (C3.2). 3.3. Liderança e Melhoria do Sistema da Inovação (sub-sistema M) A inclusão da atividade melhorar dentro da função gerencial, como proposto por Juran, vem ao encontro das necessidades inerentes à dinâmica do ambiente empresarial, no qual as metas de desempenho são alvos móveis, continuamente reformuladas em níveis cada vez mais altos. Essa melhoria de desempenho deve ser uma meta inclusive para o S.I., tornando-o cada vez mais efetivo na implantação das inovações. Faz-se necessário, ainda, uma liderança eficaz para estabelecer e compartilhar a visão, a missão e as competências essenciais da organização, fixar as demais diretrizes estratégicas e, criar valores e metas na busca incessante das competências que conduzirão a organização ao nível de desempenho desejado. Para conduzir essas atividades mencionadas, o modelo propõe a seguinte estruturação do sub-sistema M: M.1 Liderança do S.I.: desenvolver tanto o compromisso da organização com as diretrizes do S.I. (M1.1), como a cultura organizacional propícia para a inovação (M1.2). M.2 Coordenação estratégica do S.I.: buscar o alinhamento interno através do foco nas diretrizes do S.I. (M2.1) e, fazer a coordenação dos vários elementos do S.I. (M2.2). M.3 Aumento da eficácia e da eficiência da inovação: fazer análises críticas periódicas do desempenho global do S.I. (M3.1), elaborar planos para aumentar a sua eficácia e eficiência (M3.2) e, gerenciar a implantação desses planos, para assegurar a sua efetividade (M3.3). 4. Conduzindo as Inovações nos Sistemas Organizacionais “Uma coisa é imutável: a contínua transformação” Um dos desafios mais importantes impostos às organizações da, assim chamada, “sociedade do conhecimento” ou “nova economia”, é desenvolver práticas sistemáticas para gerenciar a autotransformação. Isso porque, nesse contexto, mais que em outros, o desenvolvimento econômico se efetiva a partir de inovações ou, novas combinações de materiais e forças empregadas de forma diversas, como preconizado por Schumpeter, economista que apresentou o enfoque da inovação como destruição criadora (1988: 43). A gestão dessa autotransformação para níveis mais altos de desempenho – isso é, a gestão da inovação - é um assunto rico e complexo, envolvendo além de aspectos tangíveis, como fatores tecnológicos e financeiros, questões relacionadas com fatores comportamentais, cultura organizacional, tomada de decisão, planejamento estratégico, liderança, entre outros. O modelo apresentado na seção anterior descreve uma estrutura para sistemas organizacionais que cria as condições estruturais necessárias para que inovações sejam continuamente identificadas e implantadas, trazendo ganhos de eficiência e de eficácia dentro de uma perspectiva estratégica. Em complemento, nesta seção será apresentado um método para gerenciar a efetiva condução dessas inovações. O enfoque apresentado, ao contrário de se antepor aos vários bons trabalhos publicados, tem por finalidade servir como arcabouço lógico para orientar o uso dos múltiplos conhecimentos e técnicas relacionados 7 com a complexa tarefa de gerenciar toda sorte de mudanças dentro dos sistemas organizacionais. 7 No domínio da TGS, esses conhecimentos se inserem na área de dinâmica de sistemas. 4.1. Introdução a uma Nova Abordagem para Gestão da Inovação Como a organização é um sistema que visa atender as demandas de um ambiente que muda rápida e continuamente, as mudanças devem ser uma rotina na organização. E, essa afirmação reflete a realidade vivida em toda organização de sucesso. Portanto, um importante objetivo a ser perseguido é dotar as organizações de estrutura organizacional flexível e focalizada na realidade do ambiente, de modo a terem um alto grau de adaptabilidade sistêmica, como aquela estrutura descrita na seção anterior. Foi visto também que, como a organização é um sistema dinâmico, o seu estado muda ao longo do tempo. Esse estado é determinado a cada instante pelo conjunto dos processos existentes e por suas propriedades relevantes; essas propriedades que determinam o estado do sistema são selecionadas de acordo com os objetivos da análise requerida. A boa gestão da inovação visa, essencialmente, conduzir o sistema organizacional do seu estado atual para um estado de maior efetividade, determinado pelos objetivos estratégicos da organização, onde seja possível atender ainda melhor as demandas do ambiente. Em outras palavras, a gestão da inovação visa fundamentalmente a melhoria do desempenho da organização, em qualquer um dos seus aspectos, como no atendimento à uma dada norma ou especificação, na eficácia no atendimento às necessidades do cliente, no aumento da eficiência em utilizar os seus recursos, na diminuição de tempos de resposta aos mercados, ou em qualquer outro aspecto de interesse. Em função da análise do sistema podem haver situações em que as inovações a serem implementadas são de tal magnitude que o enfoque de buscar um novo estado do sistema (ie, o de pequenas inovações incrementais) transforma-se em um enfoque de planejamento estratégico de sistemas, onde deve-se delinear uma organização inteiramente nova para o sistema candidato. Seria o caso, por exemplo, da implantação de um sistema da qualidade segundo a ISO 9001 em empresas com alto nível de desorganização, em um intervalo de tempo relativamente curto. Será apresentado a seguir um enfoque onde a gestão da inovação é uma atividade composta por quatro elementos, a saber, conjunto de referências para a inovação, o estado inicial do sistema-empresa, o estado alvo para o sistema-empresa e o processo de mudança propriamente dito. 4.2. Conjunto de Referências para a Gestão da Inovação Usando uma metáfora, o conjunto de referências é a “bússola” que guia a organização pelos “revoltosos mares” do mercado atual. Ele pode ser utilizado tanto para auxiliar a definir objetivos e metas a serem alcançados como para direcionar a execução do processo de mudança, tendo a sua importância para a gestão da inovação fundamentada nos seguintes pontos: a. facilita a tomada de decisões e a superação de conflitos ao longo do processo de inovação; b. tende a criar coerência entre as múltiplas ações normalmente existentes nos processos de inovação; c. diminui riscos de problemas decorrentes de descontinuidades no processo; d. potencializa o sucesso de longo prazo na medida em que as sucessivas ações implementadas (em diferentes processos de inovação) tendem a convergir para uma mesma direção. O conjunto de referências para a gestão da inovação tem, portanto, a finalidade de orientar o processo de mudanças, podendo ser visto como um conjunto de objetivos organizacionais de longo prazo. Trata-se de um conjunto de princípios e diretrizes que devem ter três atributos básicos: a) mudança ao longo do tempo lenta ou, mesmo, inexistente; b) coerência entre si e com os direcionadores estratégicos da organização, entre os quais, a sua missão, os seus valores, a sua visão de futuro e as suas políticas (financeira, da qualidade, para pessoal, entre outras existentes) c) aceitação por parte das pessoas responsáveis pela condução do processo de mudança; essa aceitação deve ser buscada através da conscientização dos envolvidos e respaldada em conhecimentos referendados pelos especialistas das áreas afins. O conjunto de referências deve ser constituído por dois grandes grupos de princípios e diretrizes, a saber: 1) Próprios da empresa, que são aqueles que vão garantir a unidade e a coerência organizacional. Esses estão diretamente relacionados com a estratégia e a cultura organizacional da empresa, com a sua visão, com as suas políticas e com os seus valores. São exemplos: gestão participativa, ser inovadora (em produtos ou processos), atender exclusivamente um segmento de mercado (estratificado por critérios geográficos, sócioeconômicos, etc), ser lider no seu setor, ética, respeitar o ambiente físico, imagem pública positiva e reconhecida, contribuir proativamente (pe, para o equilibrio social, transformação social, etc), entre outros. 2) De áreas do conhecimento envolvidas. São os princípios fundamentais que norteiam as áreas relacionadas com a gestão da inovação considerados relevantes pela organização, podendo envolver gestão do conhecimento, desenvolvimento organizacional, gestão da qualidade, sociologia das organizações, psicologia do trabalho, entre outras áreas de interesse. O critério para definir quais princípios devem compor o conjunto de referências é se ter a quantidade de elementos necessária e suficiente aos propósitos da organização. Esses princípios são definidos de acordo com as características de cada organização, mas, recomenda-se que nele estejam contemplados, no mínimo, os princípios da boa gestão estratégica que prevê a visão de longo prazo, a focalização na realidade do seu ambiente, a abordagem sistêmica, contemplando a participação de todas as pessoas envolvidas, além da utilização de princípios da boa prática gerencial, com destaque para um modelo de gestão participativa e a adoção do princípio gerencial PDCA (do inglês, Plan-Do-Check-Act). 4.3. O Estado Alvo: Onde se Quer Chegar com o Processo de Inovação O estado alvo é o estado em que a empresa precisa estar para que se possa alcançar uma meta definida. Ou seja, quais processos devem ser implantados, suprimidos e/ou modificados. São exemplos dessas metas: a) de maior abrangência: . aumentar a produtividade da empresa; . obter o certificado de conformidade com uma norma (pe, ISO 9001, ISO 14.001); . diminuir o número de defeitos na produção; . implantar um determinado programa ou metodologia (pe, 5S, QFD, CEP); . aumentar a conscientização dos empregados para um assunto (pe, segurança no trabalho, cliente/fornecedor interno, eliminação de desperdicios); . melhorar o clima organizacional. b) específicas de uma entidade: . implementar determinadas inovações em um produto; . melhorar a qualidade de um produto; . aumentar a eficiência ou implementar um novo processo (gerencial ou do negócio); . implementar uma ação corretiva ou preventiva. Inicialmente deve-se ter certeza que a meta está coerente com a estratégia, as prioridades e o conjunto de referências da organização. A definição correta de uma meta é um dos principais fatores de sucesso da organização. Portanto, uma análise profunda deve ser feita, profundidade esta que deve ser proporcional à extensão e riscos associados com a inovação pretendida. Isso feito, deve ser feita uma análise dos processos e das propriedades do sistema que serão afetados com a mudança, e em que extensão e profundidade. A seguir são mostrados os principais elementos que podem sofrer alterações num processo de inovação: . Relacionados diretamente com os processos: aumentar ou diminuir o número de processos (gerenciais ou do negócio); alterar alguma especificação de um processo já existente; alterar um procedimento, ou seja, o modo pelo qual um processo é executado. . Relacionados com outras propriedades do sistema: a. com a estrutura organizacional, que envolve modificar a própria estrutura organizacional, alterar documentação ou o sistema de informações, alterar responsabilidades, autoridades ou vinculações hierárquicas; b. com aspectos tecnológicos, podendo modificar a tecnologia empregada, comprar ou trocar equipamentos, mudar instalações físicas ou seu lay-out; c. relacionadas com fatores humanos, como prover qualificação a funcionários, promover conscientização e motivação dos funcionários, criar um ambiente propício a melhoria e a inovações. A ênfase na gestão da inovação deve ser buscar estabelecer a relação causal entre a meta desejada (efeito) e o estado da organização (causa) necessário para a consecução do objetivo, o que é coerente com os cânones das boas práticas da administração moderna. 4.4. Avaliando o Estado Inicial: Onde se Está em Relação à Inovação Desejada Para se planejar adequadamente o processo de inovação é de fundamental importância conhecer a estado inicial (ie, atual) da organização, com o nível de profundidade adequado. A avaliação pode requerer conhecer a sua situação inicial sob três aspectos: 1) o estado inicial em relação ao estado alvo; isto é, a situação dos processos e das demais propriedades que deverão sofrer alguma alteração; 2) a estrutura organizacional real, a qual, muitas vezes, é diferente da estrutura formal; 3) o ambiente interno e o clima organizacional associado. A avaliação da situação atual de um sistema no mais das vezes não é uma tarefa trivial. Existe uma distinção entre realidade e realidade percebida, pois existem “filtros” de diversas naturezas colocados como um anteparo entre o observador e o sistema focal (ou, algum de seus elementos). As distorções na avaliação podem ter diferentes causas, sendo as principais, problemas de amostragem (uma vez que normalmente não se avalia 100% do sistema), erros devido à falibilidade de quem avalia e erros devido à falibilidade de quem é avaliado. O trabalho de Dhillon (1989) sobre confiabilidade humana, classifica os erros humanos em seis tipos: de atenção, de memorização, de interpretação, de operação, de identificação e intencionais. Um cuidado especial deve ser tomado quando há interesses envolvidos, tanto da parte de quem avalia, quanto da parte de quem é avaliado. Nesses circunstâncias é maior a probabilidade de haver tanto os erros intencionais como os não-intencionais, derivados de mecanismos inconscientes que podem levar uma pessoa a cometer qualquer outro dos cinco tipos de erro apontados por Dhillon. Há, portanto, de ser considerada a relação entre os riscos, os custos e os benefícios envolvidos com a mudança pretendida, para se poder determinar a extensão e a profundidade da avaliação do estado inicial do sistema focal. Para esta consideração, deve ser lembrado que uma avaliação correta é, muitas vezes, um gigantesco passo em direção à solução. A tabela a seguir mostra através de exemplos bem simples, a importância da avaliação da situação atual do sistema para aumentar a sua efetividade. Se pretende mostrar com esses exemplos simples que uma avaliação (diagnóstico) correta traz consigo a própria solução. Tabela 1 Exemplos mostrando a importância da avaliação da situação inicial do sistema focal para aumentar a efetividade da inovação a ser implementada. Meta a ser alcançada Se a avaliação do ... A ação a ser (com a inovação) Estado Inicial indica que a encaminhada para se capabilidade do processo atingir o Estado Alvo é: não é adequada devido à... ... falta de procedimento Definir o procedimento Aumentar a documentado documentado que falta. repetibilidade de um ... competência insuficiente Prover os ganhos de dado processo dos funcionário competência necessários. ... problemas recorrentes de Estabelecer um programa de manutenção das máquinas. manutenção preventiva. Existem vários mecanismos que podem ser utilizados para avaliação do sistema focal (ou de algum de seus elementos), sendo os principais: a. auditorias, isso é, verificações independentes; b. testes, verificações, exames e ensaios; c. coleta, tratamento e análise de dados existentes; d. entrevistas ou formulários a serem preenchidos; e. estudos de documentos existentes (pesquisa documental). 4.5. O Processo de Mudança: A Implementação Efetiva da Inovação Desejada Tendo sido definidos os estados alvo e inicial do sistema focal, deve-se proceder o processo de mudança propriamente dito. A condução das inovações é, no mais das vezes, uma atividade bastante complexa em função principalmente dos fatores humanos envolvidos. A disciplina Teoria das Organizações ensina que uma organização é, antes de mais nada, um sistema social e, como tal, deve ser tratada na situação de mudanças. O processo de mudança organizacional é um dos temas mais estudados em teoria das organizações, sendo que as abordagens normalmente enfatizam dois aspectos básicos: a. as dimensões objetivas e mensuráveis da organização, como a tecnológica e a organizacional; e, b. as dimensões subjetivas da organização, que incluem todos os aspectos relacionados com o ser humano, sejam de natureza sociológica, psicológica, fisiológica ou cultural. Não se pretende o aprofundamento de um tema tão rico e complexo. Mas, o enfoque sistêmico-holístico aponta para a necessidade de integrar as dimensões objetivas e subjetivas para que o processo de mudança seja conduzido com sucesso. 4.5.1. A Dimensão Subjetiva do Processo de Inovações Segundo vários autores, a mudança é antes de tudo cultural, entrando posteriormente no nível dos processos e dos recursos. Identificam-se quatro dimensões, ou níveis qualitativos, num processo de mudança: identidade da empresa, envolvendo questões estratégicas como sua missão, valores, propósitos estratégicos e políticas; nível das pessoas e das suas relações, como estilo de liderança e ambiente organizacional; nível dos processos; e, nível dos recursos físicos envolvidos. As áreas de psicologia e sociologia organizacional desenvolveram vários conceitos para ajudar a compreensão do desenvolvimento e comportamento das organizações, e das suas relações com os indivíduos e a sociedade. A seguir serão abordados alguns temas pertinentes à cultura organizacional e resistência à mudanças. Cultura organizacional Existem vários conceitos de cultura organizacional e várias maneiras de tratar o assunto. Cultura organizacional pode ser definida como o conjunto de valores e pressupostos básicos que definem o modo considerado correto de pensar, agir e sentir de uma empresa. Cultura organizacional não é um assunto novo, já que desde os primórdios da teoria administrativa e organizacional na década de 30 o tema já era objeto de publicações. Mas foi na década de 80 que o assunto ganhou relevância e destaque. Estudiosos do assunto perceberam que as organizações que se preocupavam com o assunto, começavam a usar a cultura como forma de melhorar a eficiência e a eficácia organizacional. A cultura tem algumas dimensões visíveis, chamados de artefatos culturais (mobiliário, prédio, etc), que são fáceis de serem notados. Os valores - que nesse contexto são as normas, princípios ou padrões sociais aceitos ou mantidos pelo grupo social - são bem mais difíceis de serem percebidos, e representam uma tendência de preferir determinadas situações ou estado de coisas. Quando esses valores são testados e percebidos como válidos pelo grupo, eles se transformam em pressupostos básicos. Assim, no mais das vezes a cultura é implícita, pouco visível e informal. Um aspecto importante relacionado à cultura organizacional é a influência causada pelos lideres e fundadores da empresa. Alguns mecanismos importantes de formação e transmissão de cultura são o que o líder presta atenção, mede e controla (daí a importância do sistema de indicadores da organização!), suas reações a incidentes críticos e a crises organizacionais, as atividades deliberadas de aconselhamento e modelagem, os critérios para a alocação de recompensas e os critérios de recrutamento, seleção, promoção, aposentadoria e excomunhão dos colaboradores. Tendo-se consciência da existência destes mecanismos, torna-se possível gerenciar aspectos ligados a cultura organizacional, procurando adequá-los às necessidades do negócio. Vale frisar que existem sub-culturas que convivem dentro de uma mesma organização, sendo a cultura global a intersecção dos distintos subsistemas culturais. Assim, tanto fatores internos à empresa influenciam a formação da sua cultura – entre os quais, a sua história, o perfil dos seus lideres, suas estruturas, seus sistemas de controle, a tecnologia empregada e a interação entre os membros da empresa. – como uma série de fatores externos à organização, em especial, as características sócio-culturais da região e as características do segmento de mercado a que pertence. Resistência à mudanças: Componentes psíquicas e sociológicas Churchman (1972) menciona que o primeiro artigo de fé da filosofia do futuro é que “o futuro é sempre menos certo que o presente”. Essa incerteza é uma das causas da resistência a mudança inerente à maioria das pessoas, pois um dos grande medos que assolam o ser humano é o medo do desconhecido e do novo. Alguns especialistas advogam que existe uma forte componente psíquica que induz as pessoas a terem resistência a mudanças, a qual é inconsciente e que, segundo algumas correntes, teria origem no (trauma do) parto Quando se forma um grupo de pessoas, esta resistência à mudança extrapola a dimensão do indivíduo (dimensão psiquíca) se tornando uma “meta” coletiva (dimensão sociológica). Essa meta grupal de buscar a manutencão do status quo vigente, pode encontrar a sua motivação em razões conscientes, normalmente para salvaguardar determinados benefícios dos grupos afetados pela mudança, razões inconscientes ou, um misto das duas. Muitos projetos de mudança organizacional fracassam por desconsiderar as dimensões psicológicas e sociológicas do processo, preocupando-se somente com suas dimensões objetivas. Mas a resistência às mudanças organizacionais existem, são influenciadas também pela cultura organizacional e devem ser consideradas com o nível de importância que tem. 4.5.3. Diretrizes para Processos de Mudança A estrutura lógica do processo de mudança deve obedecer a seguinte ordem: a. fazer o planejamento estratégico da mudança; b. definir as suas diretrizes; c. elaborar o planejamento da implementação; d. implantação das alterações (o novo sistema); e. rever o processo O planejamento estratégico de uma mudança deve levar em consideração, entre outros aspectos: a. as prioridades da organização; b. os recursos disponíveis, e uma análise custobenefício, nas dimensões objetiva e subjetiva; c. os elementos do ambiente, principalmente as forças competitivas básicas; o escopo dessa análise ambiental deve ser definido levando-se em conta a fronteira geográfica, clientes\mercados analisados, produtos analisados e que processos serão analisados; d. o modelo de Gleischer, que coloca que a velocidade e a determinação em se realizar uma mudança organizacional é diretamente proporcional à percepção pelo grupo dos benefícios e vantagens que a inovação pode proporcionar, das inconveniências advindas do fato de não se fazer a inovação, dos sucessos alcançados nos primeiros passos da mudança, sendo inversamente proporcional à percepção dos riscos envolvidos na inovação. Não obstante serem preponderantes a situação inicial e a meta a alcançar, outros fatores determinarão o caminho a ser percorrido até alcançar o estado alvo, sendo os principais mencionados abaixo: . tempo disponível para o processo de mudança, uma vez que o ritmo mutacional tem implicações independentes da inovação e, às vezes, até mais importantes do que eles; algumas pessoas são mais suscetíveis à mudanças, e isso deve ser considerado para garantir o sucesso na implantação da inovação; . nível de determinação e de comprometimento da direção pois inovações requerem da direção liderança, clareza e firmeza de propósito; tendo como referência o modelo de Gleischner para mudanças organizacionais, acima mencionado, é possível trabalhar para aumentar esse nível desde a fase do planejamento da mudança, através da conscientização da direção tanto para as implicações e perdas de não mudar, como dos benefícios advindos da inovação; . resultados intermediários, o que leva à necessidade de que o processo de mudança seja planejado visando alcançar pequenos resultados intermediários, o que é coerente com a proposta de Juran (1988) de estabelecer projetos de melhoria de pequeno porte; . graus de liberdade do processo, decorrentes de fatores externos ao sistema que vão influir no caminho a ser percorrido; são exemplos, pressões de clientes e do mercado, pressão dos níveis hierárquicos mais altos e endividamentos da organização; . outros fatores que dependem de características da organização ou da dimensão da mudança, podem ter uma grande importância no caminho a ser percorrido; são exemplos, o número de pessoas envolvidas na mudança, o seu nível de formação, o nível de capacitação e treinamento, o grau de envolvimento e de motivação das pessoas, as resistências a mudanças (principalmente nos níveis gerenciais intermediários), a cultura organizacional e o nível de integração entre os diversos setores. Baseado em tudo o que foi dito anteriormente - em relação às dimensões objetiva e subjetiva da mudança - consideramos que as seguintes diretrizes devem nortear o processo de mudança: 1. Considerar adequadamente os fatores tecnológicos, administrativos e humanos envolvidos com a mudança. 2. Considerar riscos, custos e benefícios de implementar (ou, não) uma ação. 3. Iniciar a mudança pelos níveis hierárquicos mais altos, relativamente ao sistema focal. A necessidade da mudança pode ser percebida de baixo para cima, mas é recomendável que sua implementação ocorra no sentido dos níveis de maior autoridade para os de menor. 4. Buscar meios para que a mudança seja endógena, isso é, que essa ocorra “de dentro para fora” do sistema focal - em contraposição à mudanças impostas de fora para dentro - o que se consegue (principalmente) através da conscientização para a necessidade da inovação. Uma mudança endógena tem como vantagens: a. é mais fácil obter a colaboração das pessoas no processo de mudança; b. (portanto) a probabilidade de sucesso se torna maior, entre outras coisas, porque são essas pessoas quem mais conhecem o sistema focal; c. aumenta a probabilidade da mudança implementada ter continuidade, já que ela foi feita com a participação das pessoas; d. as pessoas se sentem respeitadas e valorizadas. Uma mudança endógena pode, e na maioria dos casos deve, contar com a colaboração de especialistas de fora do sistema focal. 5. Buscar, sempre que possível que as inovações sejam graduais. Inovações “revolucionárias” devem ser evitadas por três razões principais: a. o processo de mudança pode ficar fora de controle; b. se a mudança se mostrar inviável ou com resultados indesejados, o ônus (objetivo e subjetivo) será maior; c. existe uma maior tendência de haver problemas relacionados com as pessoas envolvidas; por exemplo, produzir reações adversas em pessoas com menor capacidade de adaptação à mudança. 6. Buscar a participação e o envolvimento, mesmo que indireto, de todos os que serão afetados durante o processo de mudança.8 4.6. Condução da Inovação: Organizando as Equipes O nível de abrangência da inovação varia, bem como o tratamento que se pode dar a ela. A seguir, será apresentada uma forma de organizar as pessoas em equipes para conduzir o processo de mudança. Outras maneiras existem, obviamente, mas a que será apresentada tem base na literatura e na nossa própria experiência, sendo aplicável à inovações com escopo mais abrangentes. Visando simplificar a exposição das idéias, será considerada a situação de uma empresa que pretende introduzir inovações em seu sistema de gestão. É o caso, por exemplo, de se implantar um sistema de gestão da qualidade conforme com um determinado modelo (o da norma ISO 9001, critérios de excelência do PNQ, entre outros), ou um sistema de gestão ambiental (conforme com a norma ISO 14.001), ou qualquer outro modelo. Serão feitas considerações sobre como organizar as pessoas envolvidas em quatro diferentes grupos e as atribuições de cada um destes quatro grupos. 4.6.1. Distribuição das Pessoas Envolvidas com a Processo de Inovação Cada uma das pessoas envolvidas com o processo de inovação deverá estar incluída em um dos quatro grupos abaixo definidos. a) Conselho Diretivo . formado por membros do escalão hierárquico mais alto em relação ao sistema focal (a organização toda, uma unidade ou uma área) no qual se pretende implantar a inovação; . uma formação típica é um conselho com três ou quatro membros, presidido pelo executivo de mais alto nível do sistema focal; . é necessário que o responsável pela condução do processo de inovação (gestor do processo de inovação), independentemente do seu nível hierárquico, faça parte do conselho diretivo, sendo o elo de ligação com o comitê executivo. b) Comitê Executivo . formado por um representante de cada setor relevante do sistema focal e coordenado pelo “gestor do processo de inovação”; . o representante de cada setor funciona como uma “via de mão dupla” trazendo para o comitê executivo aspectos da situação vivida no seu setor (dificuldades, necessidades, resistências) e, por outro lado, sendo o vetor principal para conduzir as inovações no seu próprio setor; . face às suas atribuições, o perfil típico dos membros do comitê executivo é pertencer aos níveis hierárquicos intermediários e, além de ser bem aceito pelo seu grupo, ser dotado das 8 Exemplificando: na alteração de um documento, é recomendável criar meios para que todos os que tem alguma relação com o documento sejam ouvidos antes de se efetivar a alteração, mesmo que seja uma simples consulta. competências atitudinais adequadas, entre as quais, facilidade de comunicação, flexibilidade, iniciativa e dinamismo. c) Demais Membros do Sistema Focal . todas as demais pessoas que serão afetadas pela mudança; . o envolvimento das pessoas deve se dar de modo a que, ao mesmo tempo que se busque minimizar transtornos às suas tarefas rotineiras, se obtenha o comprometimento individual com a inovação. d) Especialistas Externos ao Sistema Focal . são pessoas que irão colaborar com o processo de mudança, podendo ser membros de outros unidades do mesmo grupo empresarial, clientes com interesse no processo de mudança (normalmente, organizações de grande porte) ou especialistas contratados. 4.6.2. Atribuições dos Grupos Envolvidos com a Inovação As atribuições e responsabilidades dos quatro grupos de pessoas foram estabelecidas considerando três aspectos: . as diretrizes que devem nortear processos de mudança mencionadas anteriormente; . racionalização dos custos com pessoal em especial: a. custos das horas dos profissionais envolvidos; por exemplo, como o custo/hora de um diretor é mais alto, as suas horas alocadas ao processo de mudança devem ser minimizadas, mas sem acarretar prejuízos ao processo de mudança; b. com treinamento; para isso, adotar como princípio treinar intensamente somente os membros do comitê executivo, que serão agentes facilitadores do processo; . minimização dos transtornos às outras atividades da organização, o que se consegue buscando racionalização e distribuição das tarefas entre os diversos colaboradores. São as seguintes as atribuições de cada um dos quatro grupos: a) Conselho Diretivo . definir planos, objetivos, metas e diretrizes de natureza estratégica de interesse para o processo de inovação; . dirigir o processo de inovação, o que inclui aprovar prazos e alocar os recursos humanos, financeiros e materiais necessários; . aprovar planos para implementação (planos tático) e documentos de referência; . fazer as análises críticas do processo b) Comitê Executivo . elaborar planos para implementação da inovação . conduzir o processo; . promover a mobilização e a sensibilização do pessoal envolvido; . coordenar a elaboração de documentos; . acompanhar as ações corretivas e preventivas relativas às não-conformidades encontradas; . (se aplicável) coordenar as auditorias internas. c) Todos os demais membros do sistema focal . elaborar os documentos pertinentes às suas atividades; . implementar as ações corretivas/preventivas no âmbito de suas atividades, recebendo o apoio necessário de pessoas do comitê executivo e/ou de especialistas de fora do sistema focal. d) Especialistas Externos ao Sistema Focal São tarefas típicas para consultores e especialistas externos: . dar palestras e treinamentos; . fazer a avaliação do estado inicial do sistema focal, relativamente ao estado alvo; . (se aplicável) liderar as primeiras auditorias internas e acompanhar as demais, conforme a necessidade; . supervisionar a implantação das ações corretivas e preventivas, buscando soluções em conjunto com os membros do sistema focal; . dar assessoria em todos os assuntos pertinentes. * Referências Bibliográficas AKAO, Y. Hoshin kanri: policy deployment for successful TQM. Portland: Productivity Press, 1988. _____. 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