Litoralização Introdução Land Care In Desertification Affected Areas From Science Towards Application Litoralização Pandi Zdruli Série do Folheto: B
Número: 6
O termo “litoral” vem do termo Italiano “litorale”. As definições mais comuns reportam para “margem do mar”, “frente de mar”, “zona entre marés” ou “zona litoral” e, estão relacionadas com as actividades que se desenvolvem numa estreita faixa de terra e água conhecida, como zona costeira. Em Francês, o termo “littoralisation” significa “sobre o desenvolvimento costeiro”. Geralmente o processo pode ser descrito como a migração interna da população em direcção à costa e a “maritimização” da economia ligada a actividades económicas, como o turismo, portos, serviços de equipamentos navais e de armazenamento, indústria petrolífera, pescas, e desenvolvimento de infra‐
estruturas, resultando todos numa tremenda expansão de ocupação do solo artificial, em períodos relativamente curtos de tempo. Estes processos, raramente, são mais acentuados do que no Mediterrâneo. Ecossistemas costeiros frágeis ligados a uma herança cultural enriquecida A linha de costa Mediterrânea tem cerca de 46.000 km de comprimento e, está quase igualmente dividida entre costas sedimentares e rochosas. A costa Norte da bacia é especialmente entalhada e inclui numerosas ilhas grandes e pequenas, cobrindo cerca de 73% de toda a costa. Adicionalmente existem cerca de 1 milhão de hectares de zonas húmidas, incluindo deltas, sapais, lagoas, e pântanos costeiros. Apesar de cobrir somente 0.8% da superfície global do mar, o Mar Mediterrâneo é a casa de 7% de toda a vida marinha reconhecida mundialmente. As zonas húmidas costeiras desempenham um papel crucial na manutenção e engrandecimento da qualidade ambiental e no provimento de vantagens económicas valiosas. Existem 81 sítios Ramsar e numerosos NATURA 2000 em todo o Mediterrâneo. O porto Veneziano em Chania, Creta, Grécia Foto: P. Zdruli As costas do Mediterrâneo incluem 48 sítios UNESCO de herança cultural, excepcionalmente belos, como os terraços milenares de Cinque Terre na costa Tirrénica em Itália ou Veneza no Adriático. É impossível descrever o Mediterrâneo, sem as suas pessoas e a sua história. O Mare Nostrum foi a ponte e não a divisão, entre a África, Ásia e Europa. Os templos Romanos desde Fés em Marrocos até Baalbek no vale de Bekaa no Líbano, são testemunhos vivos do passado glorioso, que abriu o caminho às modernas civilizações Europeias e, famosos exploradores Mediterrâneos, que descobriram o novo mundo. Raramente em outro lugar do Mundo, há uma tal mistura de culturas, Fenícia, Grega, Romana, Bizantina e Árabe como aqui e, mais importante, grande parte desde mundialmente famosa herança cultural está concentrada na costa. É óbvio, que a protecção e conservação dos ecossistemas costeiros Mediterrâneos e da sua herança cultural são e serão questões importantes, nas agendas políticas de todos os governos nacionais da região e da União Europeia. Ainda falta contudo, ver se conseguem resistir às pressões da globalização e competição económica. Uma coisa é certa, as pressões nas áreas costeiras vão aumentar. Desertificação e litoralização: onde está a ligação? Ao olhar‐se, para a definição estrita de desertificação, então pelo menos do ponto de vista climático a litoralização, pode não parecer que é desertificação. Contudo, desertificação é degradação da terra… e portanto a sua ligação com a litoralização é real. Para compreender esta relação é necessário analisar o conjunto de pressões e forças, que afectam directamente as zonas costeiras. A Figura abaixo sumariza as interacções entre processos em terra, nos sectores montante das bacias hidrográficas e as pressões nas faixas costeiras. É claro, que as pressões antrópicas desempenham um papel crucial no processo global. Efeitos locais da litoralização Urbanização, impermeabilização dos solos e pressão da população incluindo turismo A estratégia temática da UE, para a protecção dos solos identifica a impermeabilização destes, como uma das oito ameaças reconhecidas ao recurso solo na Europa. Pressões directas na zona costeira
Área da bacia
Pescas,
aquacultura,
turismo, extracção
de material
Urbanização, infraestruturas, indústrias,
turismo
Mar
Poluição terrestre,
diminuição do
escoamento nos
fluxos terrigenos,
perda de água
Costa
Erosão costeira
Poluição marinha
acidental e
voluntária, espécies
invasoras
Lagoa
Hinterland
Cheias, intrusão de água salgada
Planície Costeira
Faixa Costeira
Recife barreira 12 Milhas
Banco de
de Possidonia
areia
Zona Sub-Litoral
Ecossistemas Costeiros
Zona Costeira
Fonte: Blue Plan 2005
Enquanto o prejuízo económico de algumas outras ameaças, tais como a erosão ou a contaminação se estima em vários milhões de Euros por ano, não é possível obter estimativas financeiras, para os danos económicos da impermeabilização do solo. Esta é uma questão maior, que requer estudos adicionais. Alguns podem argumentar: “Qual é o mal em usar a terra para o desenvolvimento de infra‐estruturas em vez de ser, para cultivas tomates?” A resposta é clara: a cobertura artificial da terra desfaz as funções do ecossistema e os ciclos naturais de troca de nutrientes, água, e fluxos de gases, com consequências directas na biodiversidade, equilíbrio das águas subterrâneas e estabilidade do ecossistema, para nomear apenas alguns. Os povos Europeus urbanizaram mais de 65% do território do continente, mas a situação é muito mais acentuada nas zonas costeiras. Estudos mostram que cerca de 50 a 70% dos Europeus Mediterrâneos vivem a menos de 60 km da costa. Infelizmente, a urbanização tem‐se frequentemente, expandido de uma forma ilegal. Se os decisores políticos poderiam ou não parar tal a região pode receber 396 milhões de turistas processo, é muita vezes uma questão em aberto, internacionais e 273 milhões de turistas domésticos. A total de 48 milhões de pessoas de aumento em 30 anos). acompanhada de muita controvérsia. França, Itália e Espanha sozinhas acomodariam mais de As previsões para as regiões costeiras mostram que o 75% dos turistas internacionais, enquanto que a Turquia aumento de população nestas áreas poderá chegar a 174 A concentração de actividades numa tão estreita faixa de se tornaria no quarto destino no Mediterrâneo, com 34 milhões no ano 2025, ou um aumento de 0.8% ao ano, terra é acompanhada, pela perda de solos agrícolas milhões de visitantes internacionais por ano. A estes ainda que a maior porção seja na parte Sudeste da bacia. férteis e valiosos habitats costeiros, bem como pela números devem‐se acrescentar muitos mais milhões de poluição e um crescente dano ambiental. Estima‐se que turistas domésticos, que irão passar férias ou fins‐de‐
Agricultura a Grécia possa ter perdido mais de um terço das suas semana na costa. Um exemplo típico é Malta, um país da zonas húmidas. Outro factor, é que a alta concentração UE com menos de meio milhão de habitantes, que Os padrões de uso do solo actuais ao longo das zonas de população em pequenas áreas, as torna mais recebe em média 1.2 milhões de turistas por ano. A costeiras do Mediterrâneo, já não reflectem as práticas vulneráveis a catástrofes naturais, como inundações, indústria do turismo desempenha um importante papel ancestrais de agricultura rural tradicional. Em vez disso, tremores de terra e vulcões. O vulcão Vesúvio, que na economia Mediterrânea e, está previsto que aumente resultam cada vez mais de decisões dos utilizadores da destruiu Pompeia há 2000 anos não está muito longe da a sua contribuição. Contudo, a indústria criou um terra, preocupados com os retornos financeiros costa, mas não evitou a grande expansão de Nápoles na número de problemas ambientais, que vão desde a esperados, para as diferentes culturas, árvores de fruto e sua base. Também, não é impossível ocorrerem tsunamis perda de terras agrícolas, poluição, erosão costeira e gado e dos decisores que lidam com companhias no Mediterrâneo. O processo de concentração da aumento do consumo de água. comerciais e industriais, bem como com o crescimento população nas zonas costeiras da Europa, foi sobretudo urbano e expansão das infra‐estruturas. Existem vários iniciado após a revolução industrial, mas expandiu‐se Um dos maiores motores da litoralização é a pressão da interesses em competição pela terra e parece que a rapidamente apenas no Século XX. Foi promovido por população. Nas últimas três décadas os países agricultura é o principal perdedor na equação. A um número de incentivos públicos, que eram a favor do Mediterrâneos tiveram um tremendo aumento da agricultura vista como um motor importante de crescimento económico rápido, após o fim da Segunda população. Em 2000 os 22 países Mediterrâneos tinham desenvolvimento económico, criação de emprego e Guerra Mundial. Quando o enorme crescimento 428 milhões de habitantes comparados com 285 milhões fonte de rendimento, para a população rural económico produziu uma riqueza sem precedentes em 1970. Os dados são diferentes entre os países do remanescente nas zonas costeiras. A agricultura não (especialmente no Oeste da Europa), o turismo tornou‐
Norte e do Sul. Ao longo das costas Sul a taxa de devia ser apenas analisada como a culpada da causa de se um dos principais motores da transformação da costa. crescimento anual é de 2.35%/ano, acrescentando 3.9 degradação ambiental. milhões de pessoas por ano, para todos os países de O Mediterrâneo é o terceiro destino turístico Marrocos à Turquia. Estes números são cinco vezes Cheias e Inundações internacional e o primeiro entre os Europeus, superiores aos dos países do Norte do Mediterrâneo. Ao acomodando cerca de 218 milhões de visitantes por ano. nível costeiro as estatísticas do Eurostat, para NUTS3, As cheias e inundações são uma função da variabilidade De acordo com a Organização Mundial do Turismo o províncias, revelem que a população aumentou de 90 climática (especialmente padrões da precipitação), fluxo de turistas ao Mediterrâneo vai aumentar. Em 2025 milhões em 1970 para 143 milhões em 2000. O maior hidrologia (incluindo forma do leito do rio), densidade da aumento aconteceu nos países do Sul e Este (80% do drenagem e fluxo de débito, bem como das Perspectivas futuras e recomendações Mais especificamente a GIZC pretende endereçar os características do solo. Estes fenómenos, podem ser o seguintes pontos‐chave: resultado final da desflorestação, fogos florestais, A parada é elevada para as zonas costeiras sobrepastoreio, colapso de socalcos e de outras Mediterrâneas. A população de uma UE alargada, que estruturas de conservação do solo, que aceleraram a vive em áreas costeiras, mais do que duplicou nos providencie soluções equitativas para a erosão do solo e a escorrência superficial e o aumento da últimos 50 anos e, o valor total dos activos económicos resolução de conflitos entre os interesses em intensidade de cheias nas terras baixas. As zonas localizados até 500 metros da linha de costa foi competição costeiras são particularmente propensas a tais processos devastadores. A litoralização acentua o processo sobretudo, através das infra‐estruturas artificiais, que reduzem a infiltração de água no solo e perturbam o •
multiplicado para uns estimados 500‐1000 biliões de Euros em 2000. Espera‐se que as considerações Desenvolver um quadro unificador, que •
Permitir o restauro dos ecossistemas aquáticos •
Valorizar e realçar os produtos e serviços do ecossistema económicas continuem a ser o motor principal do •
desenvolvimento das áreas costeiras, e que os políticos e Permitir análise das políticas, questões decisores nacionais e da UE continuem a preocupar‐se transversais e implementação, através duma com as dinâmicas económicas e de crescimento. Este gestão participada e envolvimento de todos os causa como uma vítima das inundações. facto, continuará a dominar as agendas políticas e é actores e agentes provável que acelere a litoralização e todas as Efeitos não locais da litoralização consequências positivas e negativas, que lhe estão Por fim o fascículo sobre esta temática, sugere os associadas Nos estudos de erosão os efeitos não locais estão probabilidade é que mais Promenades d’Anglais e Las relacionados, com as consequências finais do processo. Ramblas apareçam ao longo da costa do Mediterrâneo. ecossistema natural. A litoralização é pois tanto uma Neste contexto, a litoralização cria disparidades extremas de desenvolvimento entre as áreas costeiras e terras interiores. Muitas áreas no interior estão a ser abandonadas, deixando para trás florestas negligenciadas, terras erodidas, socalcos em colapso, como descrito anteriormente. A seguintes assuntos, que requerem atenção especial no futuro: •
As respostas necessárias, para assegurar central, regional e local a •
sustentabilidade do desenvolvimento da zona costeira •
passar à acção e parar ou reverter a degradação da zona Durante as últimas décadas as migrações internas em controlar vários indicadores e o estado da degradação direcção à costa Mediterrânea, acentuaram rapidamente ambiental. todos estes processos. A melhor forma de lidar com a litoralização é aplicar os princípios da Gestão Integrada da Zona Costeira (GIZC), conforme definida pela Comissão Europeia. Realce dos recursos culturais e encorajamento do apoio da comunidade, para uma gestão costeira. Contudo, sem uma definição clara de onde começa e acaba a zona costeira é difícil comparar e Reforço da regulação da implementação de políticas e governo das zonas costeiras têm até agora sido inadequadas. Chegou a altura de sobrepastoreio, fogos florestais e degradação geral. Criação de capacidade e institucional a nível sustentável da zona costeira •
Estabelecimento de um equilíbrio razoável entre crescimento económico e protecção ambiental •
Garantir controlo e monitorização continua 
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