GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA CIDADE DE PALMAS/TO: CONTRIBUIÇÕES AO MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO (MDL) MARCUS VINÍCIUS ALVES FINCO; MARCELO DE BRITO VALADARES; MURIENE ALVES DA SILVA. UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS, PALMAS, TO, BRASIL. [email protected] APRESENTAÇÃO ORAL AGRICULTURA, MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA CIDADE DE PALMAS/TO: CONTRIBUIÇÕES AO MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO (MDL) Grupo de Pesquisa 6: Agricultura, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável RESUMO O presente artigo visa analisar e compreender o sistema de geração, destinação e tratamento dos resíduos sólidos na cidade de Palmas, bem como estimar a geração de créditos de carbono elegíveis no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), do Protocolo de Kyoto, em um horizonte de 10 anos (2005-2014). Para tanto, a metodologia consistiu de um levantamento bibliográfico sobre o tema, além da aplicação de questionários específicos e cálculos sobre a emissão de gases do efeito estufa na atmosfera, advindos do aterro sanitário. Como resultados, o estudo sugere mudanças na estrutura do aterro, já que o mesmo carece de condições mínimas de segurança e trabalho. O estudo ainda sugere que se houvesse tratamento na emissão dos gases de efeito estufa, haveria a geração de aproximadamente 65.582 toneladas de CO2 equivalentes, o que possibilitaria à Prefeitura de Palmas uma receita de cerca de US$ 320.000 com a comercialização dos créditos de carbono, durante o período analisado. Palavras-chave: Aterro Sanitário; Mudanças Climáticas; Desenvolvimento Sustentável; Créditos de Carbono. ABSTRACT The present article aims to analysis and understands the generation, destination and solid waste treatment in Palmas city, and also aims to estimate the carbon credits about the Clean Development Mechanism (CDM), Kyoto Protocol, for 10 years (2005-2014). In this context, the methodology consists in a bibliographic research and specific questionnaires survey as well, and some calculations about the green house gases emission in the atmosphere, from the landfill site. Results points that the landfill site needs some changes in the its structure aiming to give the minimum conditions to work and safety. The results also suggest that if there were 2 green house gases treatment, it should be the generation of 65.582 ton. carbon dioxide, which permits to Municipality some income, about US$ 320.000 in 10 years, through carbon credit sale. Key-words: Landfill Site; Climate Change; Sustainable Development: Carbon Credits. 1. Introdução O acelerado processo de urbanização, aliado ao consumo crescente de produtos menos duráveis ou descartáveis, provocou um grande aumento do volume e diversificação do lixo gerado e sua concentração espacial. Pelo processo de industrialização houve aumento da queima de combustíveis fósseis, elevando em quase 50% os níveis de concentração de dióxido de carbono (CO2) (FRANGETTO, 2005). Como conseqüências, a humanidade tem sentido intervenções sobre a natureza, como têm mostrado estudos do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – “Intergovernmental Panel of Climate Change”, 2005) sobre alteração climática provocada pela excessiva emissão e concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Em áreas urbanas, algumas das fontes geradoras desses gases estão nas indústrias, veículos automotivos, resíduos em gerais, e entre este último, destacam-se os resíduos sólidos residenciais, que cada vez tornam-se mais volumosos e complexos, pelo aumento populacional e diversificação de produtos industrializados que alcançam consumidores em potencial em grande rapidez e volume. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2005), 76% dos resíduos sólidos residenciais, em cidades brasileiras, não tem recebido tratamento adequado, podendo ser facilmente observados em acúmulos nas ruas, terrenos baldios, leitos de rios, valas, encosta de morros e outros locais impróprios, prejudicando a população local, os moradores da cidade em geral e, o próprio espaço habitado, com a produção e liberação de produtos. Nesse contexto, existem vários sistemas de disposição final de resíduos sólidos como descarga a céu aberto ou lixão; aterro controlado (lixão controlado); aterro sanitário e aterro sanitário energético; compostagem; reciclagem e; incineração (ATYEL, 2001). Esses processos são utilizados no Brasil, onde são geradas diariamente cerca de 240.000 toneladas de resíduos sólidos, somente em áreas urbanas. E destes, aproximadamente 90.000 toneladas/ dia (32 milhões de toneladas por ano), são de resíduos sólidos domésticos (op. cit. p.63). Estudos como os de Jardim et al (1995) e Pinto (1999) citam que, entre os municípios brasileiros, há a predominância de utilização do processo de disposição a céu aberto ou lixão, constituindo-se em áreas onde os resíduos são descarregados a céu aberto sem qualquer tratamento, tanto anterior, como posterior. Dessa forma inadequada, os resíduos contaminam o lençol freático, além de produzir efluentes líquidos e gases tóxicos; proporcionando grandes problemas ao ambiente e à saúde pública. Essa complexa e volumosa geração de resíduos sólidos e lixos domésticos estão relacionados a grandes problemas ambientais urbanos e sobre a saúde pública, entre tantos podem ser destacados: o entupimento de bueiros e galerias pluviais, enchente de córregos e rios em perímetros urbanos, proliferação de epidemias viróticas e bacteriológicas, o aumento de gases de efeito estufa com o metano gerado pela decomposição dos resíduos sólidos. Nesse sentido, o presente estudo analisa a geração de créditos de carbono oriundos do tratamento de resíduos sólidos no aterro sanitário da cidade de Palmas, capital do Tocantins. Para tanto, compreende-se a dinâmica do aterro sanitário em questão e a partir dessa 3 compreensão, estima-se os ganhos econômicos advindos da comercialização dos créditos, dentre da perspectiva do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) – artigo 12 do Protocolo de Kyoto (1997). 2. Panorama de referência e justificativa do estudo O interesse pela realização do presente trabalho surgiu do acompanhamento de questões gerais relacionadas às agressões ambientais na cidade de Palmas, capital do Tocantins, decorrentes de práticas sócio-econômicas na sociedade local. Nesse contexto, buscou-se analisar a geração de créditos de carbono no aterro sanitário e o sistema de tratamento e destinação de lixo, na cidade de Palmas, com perspectiva de contribuição na redução de emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, com possibilidades à promoção do desenvolvimento local sustentável. Buscou-se como espaço geográfico de atuação o aterro sanitário de Palmas, localizado a 26 quilômetros (km) do centro da cidade em uma área rural chamada de assentamento São João. As comunidades circunvizinhas são encontradas em um raio de 1 km a 3 Km de distância. O aterro recebe em média de 120 a 130 toneladas de lixo por dia, e sua área é de 95 hectares, sendo utilizados atualmente 9,8 hectares. Já o município de Palmas é localizado na Mesorregião Oriental do Tocantins. A cidade, capital do Estado, está situada a margem direita do Rio Tocantins, com altitude média de 260 metros, entre as coordenadas geográficas de 10°’12°’ 46° latitude sul e 48°’21°’46’ longitude oeste, de clima tropical. Possui área de 2.475 km², onde vive uma população estimada em 208.165 habitantes (IBGE, 2005), e que está distribuída em 97,69% na zona urbana e 2,31% na zona rural (IBGE, 2000). De acordo com a Secretaria de Planejamento do Estado do Tocantins (SEPLAN), a cidade de Palmas tem as maiores taxas de crescimento vegetativo entre as cidades brasileiras, com registros de crescimento anual de até 28,7% nos de 1991 a 1996, na época da implantação da capital e, atualmente, a média é de aproximadamente 11%. Diante deste contexto, espera-se que com a identificação dos problemas no sistema de coleta e destinação final do lixo, bem como as possíveis conseqüências de poluição e degradação ambiental geradas pelo crescimento populacional desordenado, poder-se-á contribuir para o controle de vetores de transmissão de doenças, fatores contribuintes aos transtornos urbanos, como enchentes de córregos e bueiros e, também, para o controle da emissão de gases de efeito estufa, com perspectivas de geração de divisas para a Prefeitura Municipal de Palmas. O presente estudo torna-se importante à comunidade científica, técnico-científica e a comunidade tocantinense em geral, ao levantar questões no contexto ecológico-econômico sobre o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), abordando deste a coleta, destinação até o tratamento de seus resíduos sólidos. Tais levantamentos inexistem, atualmente, no Estado do Tocantins, sendo este estudo pioneiro na temática. Espera-se que, com tal pioneirismo, os resultados sejam utilizados como instrumentos e subsídios na formulação de políticas públicas de cunho sócio-ambiental direcionados ao aterro sanitário de Palmas e com ressonância no Desenvolvimento local sustentável. 3. Aspectos Metodológicos 4 A primeira etapa de desenvolvimento da pesquisa consistiu no levantamento de dados bibliográficos acerca do tema central e outros a esse relacionado, a fim de compreender aspectos sobre resíduos sólidos, bem como sobre o Protocolo de Kyoto e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Concomitantemente foi realizado levantamento de dados técnicos sobre o aterro sanitário da cidade de Palmas, bem como informações sobre o sistema de coleta, tratamento e/ou destinação final do lixo. A segunda etapa correspondeu ao trabalho de campo. Através da técnica de entrevistas padronizadas, foram levantadas informações gerais acerca dos serviços prestados, quanto à operação do atual sistema de coleta de lixo na cidade; tratamento e destinação final dos resíduos sólidos e lixo em geral no aterro, ainda sobre poluição ambiental e seus efeitos locais. As entrevistas foram aplicadas junto a funcionários do Órgão Municipal e Empresa responsáveis pelos serviços da limpeza pública no Município de Palmas. A terceira etapa correspondeu ao trabalho em escritório, constituído por cálculos de emissão de gases do efeito estufa, advindos do aterro sanitário de Palmas. Tendo-se por base equações do IPCC, encontradas no chamando “Primeiro Inventário Brasileiro de Emissões Antrópicas de gases de efeito estufa”, realizada em 2004, e atualizado em 2006. Nessa terceira etapa buscou-se inter-relacionar os dados levantados sobre a projeção da população urbana em Palmas para 10 (dez) anos. Os dados estatísticos das projeções da população foram obtidos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em particular, dos Censos Demográficos. Os dados a respeito da disposição de resíduos sólidos foram obtidos da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico do IBGE, e do Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Domiciliares e de Serviços de Saúde, da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo (CETESB). As estimativas das emissões de metano provenientes da disposição de resíduos sólidos são apresentadas para a cidade de Palmas, com os dados da metodologia do IPCC, a fim de levantar as perspectivas de aproveitamento de gases emitidos na atmosfera, com possibilidade da geração de créditos de carbono a partir de alternativas de gerenciamento de resíduos sólidos no aterro sanitário de Palmas. Os cálculos adaptados sobre a equação do IPCC são apresentados a seguir. Mas, tornase importante salientar que, na referida equação, foram feitas conversões de metano (CH4) para dióxido de carbônico (CO2) devido à relevância que este último apresenta entre aqueles que compõem os gases de efeito estufa (GEE) e, enquanto moeda de negociação dos créditos de carbono, já que estes são creditados em toneladas métricas de dióxido de carbono (CO2), dentro dos acordos realizados sobre a questão de alterações climáticas, como o Protocolo de Kyoto e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), entre outros. De acordo com Protocolo, um projeto de MDL sobre emissão evitada de GEE pode ter validade por 7 (sete) anos podendo ser renovado por mais dois períodos de 7 (sete) anos, ou 10 (dez) anos se considerado um micro período. Diante das propostas utilizou-se o período de 10 (dez) anos, para melhor ilustrar os resultados. 3.1 Equações e Cálculos de Base Conforme apresentado acima, na etapa de escritório foram realizados cálculos de emissão de gases do efeito estufa advindo do aterro sanitário de Palmas, a partir da equação adaptada do IPCC. 5 3.1.1 Equação de emissão de metano Desse modo, tem-se o cálculo de emissões de metano dos locais de disposição de resíduos sólidos - LDRS – o qual foi revisado pelo IPCC em 1996 de acordo com Vieira e Silva (2002), consistindo na seguinte equação: (Popurb · taxa RSD · RSDF · FCM · COD · CODF · F · 16/12 - R) . (1 – FCM) = Emissão de Metano [GgCH4/ano] Onde: • Popurb: População urbana do país [habitantes]; • taxa RSD: Taxa de geração de resíduos sólidos domésticos por habitante por ano; • RSDF: Fração de resíduos sólidos domésticos que é depositada em locais de disposição de resíduos sólidos [fração adimensional]; • FCM: Fator de correção de metano [fração adimensional]; •COD: Carbono orgânico degradável no resíduo sólido doméstico [fração adimensional]; • CODF: Fração de COD que realmente degrada [fração adimensional]; • F: Fração de CH4 no gás de aterro [fração adimensional]; • 16/12: Taxa de conversão de carbono em metano [fração adimensional]; • R: Quantidade de metano recuperado [GgCH4/ano]. Para os desdobramentos dessa equação, foram levantados dados e realizados cálculos adaptados sobre cada parâmetro necessário. 3.1.2 Projeção para população residente em Palmas, de 2005 a 20141 Pop2005/Pop2004 – 1*100= i Taxa* Pop anterior = Pop (população desejada) Onde: • Pop2005 - é a população (residente em domicílios particulares e permanentes) no ano de 2005; • Pop2004 - é a população estimada (residente em domicílios particulares e permanentes) no ano de 2014; • i - é a taxa média de crescimento populacional anual. 1 Utilizou-se a média do IBGE (2004 e 2005) para projeções futuras. O IBGE só faz a média da população urbana e rural periodicamente e, nesta projeção utilizou-se a última média do senso de 2000 da população urbana e rural. A projeção da população é de 10 anos, dando início no ano de 2006 a 2014. No presente trabalho só utilizou-se a população urbana para os cálculos do metano, seguindo a metodologia dos cálculos. 6 3.1.3 Taxa de resíduos sólidos gerados por habitante (taxa RSD) No quadro a seguir é apresentado o resultado do Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Domiciliares e de Serviços de Saúde - Prolixo (CETESB, 1992). Neste trabalho foi estimada a geração de lixo por habitante de acordo com o número de habitantes do município. Esses dados foram obtidos em um número elevado de municípios do Estado de São Paulo, o que confere credibilidade aos valores médios de geração de resíduos. Tabela 01: Geração média de resíduos sólidos por habitante por dia Até 100.000 hab. De 100.001 a 500.000 hab. De 500.001 a 1.000.000 hab. Mais que 1.000.000 hab. 0,4kg/hab./dia 0,5kg/hab./dia 0,6kg/hab./dia 0,7kg/hab./dia Fonte: CETESB (1992). 3.1.4 Fração de resíduos sólidos depositados no aterro em Palmas (RSDf) Segundo a Agência Municipal de Serviços Públicos (AGESP, 2006) 85% da população urbana de Palmas é atendida por serviços de coleta de lixo. 3.1.5 Fator de correção de metano (FCM) Segundo o IPCC o valor padrão do fator de correção de metano para aterro é 1,0. 3.1.6 Carbono orgânico degradável (COD) O valor do carbono orgânico degradável (COD) mede a composição dos resíduos sólidos, não levando em consideração informações de hábitos do Brasil. O valor utilizado neste trabalho foi o valor sugerido pelo IPCC, igual a 12%. 3.1.7 Fração de carbono orgânico degradável que realmente degrada (CODF) Não se encontra disponível no Brasil estudos semelhantes ao realizado por Bingemer e Crutzen (apud IPCC, 1996). Neste sentido, o valor utilizado para CODF, no presente trabalho, é de 77%, como recomenda o IPCC (1996). 3.1.8 Fração de metano no gás de aterro (F) 7 O IPCC recomenda que se considere a fração de metano no gás de aterro igual a 50%. Esta é uma amostra selecionada de aterros com potencial para recuperação energética do metano. Talvez outros aterros não apresentem um potencial semelhante. Acredita-se num erro da ordem de 10%. 3.1.9 Metano recuperado (R) A quantidade de metano recuperada ou queimada (R) é considerada insignificante para todos os aterros, segundo o IPCC. Atrelado a isso, não se dispõe de dados a respeito da recuperação de metano nos aterros do Brasil. 4. Resultados e Discussão 4.1 Estrutura e Sistemática para Destinação de Resíduos Sólidos na Cidade de Palmas /TO A geração de resíduos sólidos (lixo) na cidade de Palmas apresenta características semelhantes a outras cidades brasileiras, no tocante à intensidade e volume e complexidade da produção dos mesmos, em decorrência de padrões sócio-econômicos predominantes entre as atuais sociedades em um mundo globalizado. Portanto, está no âmbito das preocupações da administração municipal toda estrutura e sistemática de coleta, tratamento e destinação final dos resíduos sólidos produzidos por sua sociedade. Por conseguinte, torna-se de relevante importância compreender o funcionamento dessa estrutura e a sistemática aplicada na gestão desses resíduos, a fim de expressar subsídios às demais análises proposta nesse estudo – geração de créditos de carbono, aproveitamento de GEE e sua importância ambiental, dentro da perspectiva do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). A partir dos dados adquiridos em roteiro de entrevistas e levantamento bibliográfico, junto a Agência Municipal de Serviços Públicos (AGESP) na cidade de Palmas, verificou-se que a estrutura desse serviço na cidade está assim organizada: a Secretaria Municipal de InfraEstrutura é o órgão responsável pelo suporte técnico, através de engenheiros de seu quadro de funcionários. A empresa Delta realiza a coleta de lixo na cidade, e AGESP trabalha na operacionalização da gestão do Aterro Sanitário de Palmas. Nesse contexto, ficaram constatadas que diariamente são coletadas aproximadamente de 120 a 130 toneladas/dia de resíduos sólidos, entre lixo domiciliar e hospitalar. Estando a sistemática de coleta de resíduos sólidos estruturados da seguinte forma: A coleta é realizada por quadra, com dia da semana estabelecido para ser recolhimento do lixo, pela empresa competente; Atualmente, a empresa conta com 7 caminhões, sendo um destinado para coleta de resíduos hospitalares; Cada caminhão faz duas viagens por dia para o aterro, com monitoramento do horário de chegada; 8 Em relação a cuidados e orientações junto à população de maneira a subsidiar a coleta seletiva do lixo domiciliar, através de formas adequadas de acondicionamento do lixo e/ou separação de resíduos inorgânicos dos orgânicos, foi registrado que inexistem orientações ou algum programa nesse sentido, embora sejam consideradas importantes pela empresa; Mesmo assim, é possível precisar a quantidade de resíduos orgânicos coletados na área central da cidade. Segundo estudo datado do ano de 2002, realizado pela AGESP, 60% do lixo domiciliar é de origem orgânica. Como pode ser verificado, todo o volume de resíduos sólidos produzidos e coletados na cidade têm como destinação final o Aterro Sanitário de Palmas, distante cerca de 26 km do centro da cidade. Os resíduos a serem descarregados não passam por nenhum processo de seleção. A forma de tratamento é a digestão anaeróbia, pura e simples 2. Considerada apenas uma forma sanitária de tratamento, já que a inertização do lixo (término das reações orgânicas alcançando-se o estágio de mineralização) pode demorar dezenas ou até centenas de anos. Diante disso, constatou-se que no aterro sanitário de Palmas não há nenhum tratamento dos resíduos. A Agência de Serviços Públicos apenas fiscaliza a chegada de caminhões de coleta. Atualmente não existe monitoramento dos poços de águas para verificação da qualidade da água e nem mesmo fiscalização dos órgãos responsáveis pelo acompanhamento da estrutura do aterro como o Ibama, a Naturatins e o Ministério Público. Constatou-se, ainda, a falta de material para trabalho, máquinas em péssimas condições de usos e inclusive um trabalhador contaminado pelo lixo hospitalar. Inexiste o sistema de drenagem dos gases do efeito estufa, ou seja, há significativa emissão desses gases na atmosfera. Dessa forma, tais condições denotam que não são seguidos os critérios e padrões determinados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para que essa área de destinação e tratamento do lixo da cidade esteja enquadrada nas condições sistemáticas de aterro sanitário. Por conseguinte, o ambiente enquadrou-se na condição de Aterro Controlado, área onde os resíduos sólidos são lançados, e são apenas cobertos por camadas de solo. 4.2 Estimativas da geração de créditos de carbono no aterro sanitário de Palmas As áreas de destinação final de resíduos sólidos nas áreas urbanas, como lixões e aterros, dentre outros, estão como importantes fontes produtoras de gases de efeito-estufa. As informações levantadas mostram que, “o lixo orgânico quando se decompõem libera também, metano (CH4), gás que é 21 vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO 2), responsável por 25% dos gases responsáveis pelo efeito estufa” (ICLEI, 2005). Portanto, ações voltadas para a gestão dos resíduos, que perpassam pelo acompanhamento do volume de entrada, triagem de materiais, monitoramentos das áreas de destino até o controle das emissões de gases, são contribuições diretas às questões referentes à poluição ambiental, por conseguinte, também àquelas sobre alterações climáticas, regionais ou globais. Assim, como subsídios às possibilidades de geração de créditos de carbono dentro do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) no Aterro sanitário de Palmas, são apresentados os resultados da aplicação da metodologia do IPCC, tendo-se utilizado por base 2 Conversão de matéria orgânica em metano (CH4) e Dióxido de Carbono (CO2). 9 a emissão anual de metano (CH4), com estimativas para 10 anos de creditação, seguindo uma projeção da população local e fazendo a conversão de metano (CH4) para dióxido de carbono (CO2), uma vez que os créditos de carbono são negociados em toneladas métricas de dióxido de carbono . No contexto citado anteriormente, os resultados obtidos a partir da aplicação de cálculos para a determinação da quantidade de metano para estimativas da geração de créditos de carbono no aterro sanitário de Palmas estão abaixo expressados. 4.2.1 Estimativas da população Para estimativas da população total considerou-se o censo do IBEG (2005). A projeção iniciou-se a partir de 2006 até 2014, utilizando-se a última taxa de crescimento populacional de 2004/2005 pelo IBGE, da ordem de 10,94%. Assim, para o período analisado na cidade de Palmas, os resultados foram: - Projeção de crescimento populacional urbano, com taxa de 97,69%. - Projeção de crescimento populacional rural de 2,31%. No contexto anteriormente citado, considerou-se a última taxa do senso de 2000 do IBGE, não se levando em consideração as variações que podem ocorrer entre os anos, como mudanças da cidade para a zona rural (e vice-versa), com uma margem de erro entre 10% a 15% (IBGE, 2005). Na tabela abaixo são apresentadas as projeção populacional para Palmas, dentro do período de 2006 a 2014. Tabela 02: Projeções para a População de Palmas - 2006 / 2014 ANO 2005 ¹ 2006² 2007² 2008² 2009² 2010² 2011² 2012² 2013² 2014² POPULAÇÃO TOTAL 208.165 230.938 256.202 284.231 315.326 349.822 388.092 430.550 477.652 529.907 POPULAÇÃO URBANA 203.356 225.603 250.283 277.665 308.041 341.741 379.127 420.604 466.618 517.666 Fonte: Resultados das pesquisa (2006). POPULAÇÃO RURAL 4.809 5.335 5.919 6.566 7.285 8.081 8.965 9.946 11.034 12.241 10 1-IBGE (2005); 2-Seplan (2005). 4.2.2 Enquadramento de parâmetros na equação do IPCC Parte dos resultados adquiridos sobre os parâmetros da equação em análise, são apresentado na tabela abaixo. (Popurb · taxa RSD · RSDF · FCM · COD · CODF · F · 16/12 - R) – (1-FCM) = Emissão de Metano [GgCH4/ano] Tabela 03: Parâmetros da Equação IPCC para Palmas/TO Indicadores RDS RDSf FCM COD CODf F R Parâmetros Resultados 500.000 – 500.001 0,5 - 0,6 hab kg/hab./dia 85% 0,85 1,0% 1 12% 0,12 77%. 0,77 50% 0,5 Insignificantes - Fonte: Resultados da pesquisa (2006). RDS - Taxa de resíduos sólidos domiciliares por habitante; RDSf – Fração de resíduos sólidos depositados em aterros ou lixões; FCM - Fator de correção do metano; COD – Carbono orgânico degradável; CODf - Fração de carbono orgânico degradável; F - Fração de metano no gás de aterro; R -Metano recuperado. Dessa forma, pode-se verificar que a taxa de resíduos sólidos domiciliar - (RDS) encontrada ficou enquadrada entre 500.000 – 500.001 habitantes, devido ao fator de ponderação utilizado 0,5 kg/hab./dia e 0,6 kg/hab./dia3 O valor utilizado para expressar a fração de resíduos sólidos domiciliar (RSDf) foi 85%, o valor padrão para aterro do fator de 3 Dentro do Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Domiciliares e de Serviços de Saúde – Prolixo – da CETESB (1992). 11 correção de metano (FCM) é 1 . Para o carbono orgânico degradável (COD) foi utilizado o valor de 12%, referentes à composição de resíduos que não levam em conta informações de hábitos do Brasil e, devido ao fato de que na cidade de Palmas não existe dados ou estudos detalhados sobre a composição do lixo orgânico. A fração de carbono orgânico degradável que realmente degrada (CODF) foi considerada de 77%. Para F aplicou-se 50%, com erro na ordem de 10%. E, para o metano recuperado (R), a literatura indica valores insignificantes, e somado a isso, não são conhecidos esses valores para os aterros no Brasil. 4.2.3 Geração de emissão metano no aterro sanitário de Palmas Nas tabelas a seguir, estão expressos os resultados sobre as quantidades de RSD, RSDf, FCM, COD, CODf, F e R depositados no aterro sanitário de Palmas. As tabelas e explicações a seguir representam os resultados obtidos pela aplicação da metodologia descrita. A numeração das tabelas segue numeração definida nos manuais do IPCC. Tabela 04: Emissões de metano pela disposição e tratamento de resíduos sólidos em Palmas - 2005 a 2014 (planilha 6.1A suplementar do IPCC) Módulo: Resíduos Sub-módulo: Quantidade de RSD depositados no aterro Planilha: 6.1 A (Suplementar) ANO 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 A1 POPULAÇÃO URBANA 203.356 225.603 250.283 277.283 308.041 341.741 379.127 420.604 466.618 517.666 B Taxa de RSD (kg/hab.dia) 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,6 C2 Quantidade Gerada de RSD (Gg RSD) 37.113 41.173 45.677 50.605 56.218 62.368 69.191 76.760 85.158 113.369 D3 Fração de RSD em Aterro 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 E4 Total Anual de RSD (Gg RSD) 31,546 34,997 38,826 43,014 47,785 53,013 58,812 65,246 72,384 96,364 Fonte: Resultados da pesquisa (2006). 1 - População que tem seus resíduos sólidos coletados. 2 - (a*b*365) 10 ^6 quantidade anual de RSD gerado (Gg RSD). 3 - Fração de RSD depositada em aterro. 4 - c*d=e total anual de RSD depositado no aterro (Gg RSD) 5 - * Operação de multiplicação. Com os dados das projeções populacionais, do enquadramento da taxa de geração resíduos sólidos – RSD/dia e fração de resíduos sólidos – RSDf, foram calculados os totais anuais de metano, apresentando variações de 31,546 GgCH4/ano (2005) a 96.364 GgCH4/ano RSD de resíduos sólidos domésticos no período de dez (10) anos. 12 Tabela 05: Emissões de metano pela disposição e tratamento de resíduos sólidos em Palmas – 2005 a 2014 (planilha 6.1 C suplementar do IPCC). Fator de correção de metano médio. Tipo de local W X Y=w*x de disposição de Proporção de Fator de FCM médio resíduos sólidos resíduos (por massa) correção de metano proporcional à massa (LDRS) para cada (FCM) por cada tipo de LDRS LDRS Aterro 1,0 1 Lixão-profundidade (< 0,8 5m (lixo) Lixão-profundidade (> 0,4 5m lixo) Lixão 100,0% 0,6 0,60 Total 100,0% 0,60 Fonte: IPCC (2006). Para o FCM – fator de correção do metano - foi utilizado o valor padrão para aterro que é 1 (um), segundo o IPCC . 13 Tabela 06: Emissões de metano pela disposição e tratamento de resíduos sólidos em Palmas 2005 a 2014 (planilha 6.1 do IPCC) Módulo : Resíduos Sub-módulo: Emissões de metano pela disposição de resíduos sólidos Etapa 1 Ano Etapa 2 a Total anual de RSD depositado No aterro (Gg RSD) Da planilha 6.1A 31,546 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 34,997 38,826 43,014 47,785 53,013 58,812 65,246 72,384 2014 96,364 b Fator de correção de metano Aterro (FCM) Da planilha 6.1C Etapa 3 c Fração de COD no RSD 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Fonte: Resultados da pesquisa (2006). 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 d Fração de COD que realmente degrada 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 0,77 e Fração de Carbono Gerado como metano 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 f Taxa de conversão do carbono em metano 16/12 1,3333 1,3333 1,3333 1,3333 1,3333 1,3333 1,3333 1,3333 1,3333 1,3333 14 Continuação da tabela 06 Etapa 4 ¹g=c*d*e*f Taxa de geração potencial de Metano por Unidade de Resíduos (GgCH4/Gg RSD) 0,062 0,062 0,062 0,062 0,062 0,062 0,062 0,062 0,062 0,062 ²h=b*g taxa de geração (específica do país)de metano por unidade de resíduo ³i=h*a geração anual metano de (GgCH4) J Metano recuperado por ano k=i-j geração anual líquida de metano (GgCH4) (GgCH4) L Um menos o fator de correção de metano (1-FCM) m emissão líquida metano de (GgCH4) (GgCH4/GgRSD) 0,062 0,062 0,062 0,062 0,062 0,062 0,062 0,062 0,062 0,062 1,956 2,170 2,407 2,669 2,963 3,287 3,646 4,045 4,488 5,975 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1,956 2,170 2,407 2,669 2,963 3,287 3,646 4,045 4,488 5,975 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Fonte: Resultados de pesquisa (2006). 1- multiplicar c*d*e*f= Taxa de geração potencial de Metano por Unidade de Resíduos 2 - multiplicar b*g= taxa de geração (específica do país) de metano por unidade de resíduo 3- multiplicar h*a = geração anual de metano 4- metano recuperado- 0 considerado insiguinificante 5- subtrair i-j= geração anual líquida de metano 6 - emissões liquidas As emissões anuais líquidas de metano apresentaram a mesma escala de valores da emissão anual, visto que não há recuperação na emissão desse gás. Assim, ao longo dos dez (10) anos analisados, as emissões líquidas de metano podem alcançar a média de 33,06 Gg/CH4, como destaca a tabela abaixo. De acordo com a metodologia do IPCC, foi calculada a quantidade de metano gerada no aterro sanitário de Palmas. Contudo, os créditos de carbono são contabilizados em emissões de CO2 equivalentes. Nesse sentido, faz-se necessária a conversão de metano para dióxido de carbono, igualando a massa do metano para dióxido de carbono a partir da formula d=m/v (onde d = densidade; m = massa; v = volume). Sabendo que a densidade do CO2 é de 5,125g/dm³, calculado a partir da fórmula d=m/ v, e utilizando o volume anterior do metano e a densidade do CO2, encontra-se a massa do metano convertido para CO2. O metano foi calculado em giga grama (Gg), e os créditos são 1,956 2,170 2,407 2,669 2,963 3,287 3,646 4,045 4,488 5,975 15 calculados em toneladas. Para a conversão de Gg para tonelada, utilizou-se a regra de 3 (três) para conversão: 1 tonelada equivale a 10^6, aplicando a regra encontra os valores em toneladas equivalentes de CO2, como sugere a tabela abaixo. Tabela 07: Emissões líquidas de metano (CH4) convertida para dióxido de carbono (CO2), no aterro sanitário de Palma/TO. Emissões CH4 1,956 2,170 2,407 2,669 2,963 3,287 3,646 4,045 4,488 5,975 Total 33,06 GgCH4/no Emissões CO2 eq. 3.817 4.235 4.697 5.208 5.782 6.415 7.115 7.894 8.758 11.661 Total 65.582Co2et/ano Fonte:Resultados de pesquisa (2006). Sobre os resultados das emissões líquidas de metano, aplicou-se cálculo de conversão para dióxido de carbono (CO2). Os valores anuais encontrados variam entre 3.817 a 11.661 t/ CO2 por ano, podendo alcançar a representação total de 65.582 t/CO2 para os períodos analisados. 4.3 Perspectivas para créditos de carbono no aterro sanitário de Palmas/TO O Protocolo de Kyoto possibilita a comercialização dos créditos de carbono, que podem ser negociados entre países que possuem metas de redução de emissão de GEE (países desenvolvidos ou países do ANEXO I do Protocolo) e países que não as possuem, como o caso do Brasil. O mercado consiste na compra e venda de certificados pelas emissões evitadas de gases de efeito estufa com base na proposta do MDL. Para tanto, um projeto para gerar créditos de carbono elegíveis no MDL deve cumprir algumas premissas como levar em consideração a participação das comunidades locais no projeto, isto é, deve haver como retorno do projeto o desenvolvimento local sustentável. Outra premissa é de que o projeto deve ser adicional, ou seja, deve haver redução da emissão de gases de efeito estufa vis-à-vis a ausência do projeto. Partindo da idéia de que o acúmulo destes gases na atmosfera é global, as reduções contam para todo o planeta e este é um aspecto importante e que incentiva a realização deste negócio. É diante deste mercado que existem perspectivas econômicas para projetos de créditos de carbono. Segundo os cálculos para implantação do projeto de MDL no aterro sanitário de Palmas, apresentam-se os seguintes cenários abaixo: 16 - Cenário sem o projeto MDL Todas as emissões dos gases produzidos no aterro são lançados para a atmosfera, em média 33,606 Gg/CH4 durante os 10 (dez)anos analisados. - Cenário com o projeto MDL Implantação de um sistema de captura e queima do metano, onde cerca de 75% do metano será capturado e transformando em gás carbônico (CO2) equivalente, sendo que os 25% oriundos da fuga (leekage) será transformado em CO2 durante a queima do metano, e dessa forma, o gás liberado passa a ser considerado carbono neutro4. O projeto do aterro sanitário de Palmas poderá gerar eletricidade (co-energia) que irá resultar, efetivamente, na diminuição de 65.582 toneladas de CO2, durante os 10 anos. Diante deste cenário, constata-se que há adicionalidade e, nesse sentido, a Prefeitura Municipal de Palmas poderá obter receitas na ordem de aproximadamente US$ 320.000, durante o período analisado, uma vez que a tonelada de CO2 equivalente, isto é, o valor do crédito de carbono está valendo cerca US$ 5 no mercado mundial de carbono, desde que seja um projeto MDL. Cabe lembrar que um projeto de mudança climática tem caráter de MDL quando além de gerar créditos de carbono, há também uma preocupação quanto ao desenvolvimento local sustentável – caso do aterro sanitário de Palmas. Caso a Prefeitura queria comercializar tais créditos em um mercado paralelo, chamando de “Não Kyoto”, as receitas obtidas com a venda dos créditos de redução de emissão seriam da ordem de aproximadamente US$ 130.000, uma vez que o preço da tonelada de CO2 neste mercado está por volta dos US$ 2. Tal preço mais baixo justifica-se pela ausência de algumas premissas como, por exemplo, que haja o Desenvolvimento sustentável na localidade, ou que haja participação das comunidades locais no projeto, dentre outras. Verifica-se, portanto, que seja com a comercialização dos créditos no âmbito do MDL, seja com a comercialização no âmbito do mercado “Não Kyoto”, a Prefeitura Municipal de Palmas pode obter ganhos econômicos da ordem de centenas de milhares de dólares. O tratamento dos resíduos sólidos, além de gerar tais receitas, poderá e deverá impactar positivamente o meio ambiente local, bem como as populações que vivem no entorno do aterro sanitário, ora na questão da redução do “mau-cheio” e degradação do lençol freático, ora na questão da geração de trabalho e renda. 4.4 Aproveitamento Energético do Biogás Em perspectivas futuras, o reaproveitamento energético do biogás gerado por resíduos, poderá colaborar na redução da emissão de gases de efeito estufa. Este, contudo, só é viável em determinadas situações, onde haja alta taxa de produção, aliada a uma demanda por esta 4 “Guia de Boas Práticas” do IPCC, no qual afirma que, “emissões de C02 de queima de gás de aterro recuperado são de natureza biogênica”. 17 energia produzida, justificada em termos de custo-benefício. O uso da área do aterro pode ser melhorado através do manejo integrado de resíduos para desenvolver o desenvolvimento sustentável dos recursos encontrados como, por exemplo: Separação junto à fonte (triagem); Reciclagem; Aterramento por diferentes categorias (orgânicos, inertes, perigosos); Combustão controlada (incineração ou pirólise); Compostagem. Esgotamento das reservas de combustíveis fósseis no futuro, e a crescente procura por combustíveis alternativos e ambientalmente sustentáveis leva ao desenvolvimento das tecnologias de aproveitamento energético dos resíduos, que além de incentivar a racionalização do uso dos recursos naturais, minimizando o consumo de matérias primas e desenvolvendo mecanismos de redução da geração de resíduos, visa otimizar a matriz energética utilizando um combustível renovável e abundante. 5. Considerações Finais Diante da gestão de resíduos sólidos e as possibilidades de implantação de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) na cidade de Palmas/TO, pode-se considerar que pelos padrões sócio-econômicos vigentes, a cidade de Palmas enfrenta problemas semelhantes a outras áreas urbanas do País, com a geração de intensos e complexos volumes de resíduos sólidos orgânicos e inorgânicos. A estrutura e organização do serviço de coleta do lixo urbano podem atender seguramente o atual contingente populacional, quanto das necessidades diária, mas não apresentam metas organizacionais da perspectiva do paradigma de desenvolvimento sustentável, através de programas de gestão ambiental; tais como: coleta seletiva do lixo; campanhas de educação ambiental, no contexto de armazenamento e separação do lixo; instalação de oficinas de reciclagem de materiais descartáveis; dentre outras. Assim, os organismos técnicos responsáveis pela prestação desse serviço anteriormente citado, contribuiriam largamente para a redução de lixo gerado, controle de poluição sobre o solo, água e ar atmosférico, e, sobre vetores de transmissão de doenças associadas à problemática do lixo urbano. A busca de alternativas para a gestão de resíduos sólidos em Palmas, que subsidie aplicação de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo deve, inicialmente, seguir normas e padrões estabelecidos em leis e organismos referentes à gestão ambiental, tornando a área de destinação final de seus resíduos, em Aterro Sanitário. Através da sistemática de operacionalização e condições estruturais encontradas no aterro, leva-o a enquadrá-lo em Aterro Controlado, uma vez que, tanto as componentes e a sistemas para tratamento de lixo exigido pelas normas técnicas são inexistentes ou incompletos. Por essas razões, é percebível que o Aterro Controlado é uma considerável uma expressiva fonte geradora de gases de efeito estufa (GEE). Os gases gerados pelas transformações anaeróbicas – metano e dióxido de carbono – são lançados no ar atmosférico, expandindo-se pela área de entorno, causando fortes odores e, contribuindo assim para o aquecimento global. 18 As análises sobre a alternativa de aproveitamento do metano produzido no aterro de Palmas podem inicialmente demonstrar o não interesse, quando visto somente sob a perspectiva de matriz energética, quando associada pela baixa demanda e pequena produção econômica. Mas, perfeitamente justificada no longo prazo em termos de benefício pela colaboração na redução da emissão de GEE e na captação de divisas para o País, através de programas e organismos internacionais dos países que aderiram ao Protocolo de Kyoto e, portanto, necessitam reduzir suas emissões, utilizando-se do mecanismo do mercado de carbono. Dessa forma, a busca de alternativas para o gerenciamento do sistema de tratamento ou destinação final de resíduos sólidos na cidade de Palmas constitui possibilidades de gerar desenvolvimento sustentável para a cidade, com aproveitamento ecológico-econômico dos rejeitos gerados por sua sociedade e, créditos de carbono, contribuindo à redução da emissão desses gases na atmosfera e, por conseguinte, a difusão do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) no Brasil. Diante dos resultados obtidos através da metodologia do IPCC, o aterro sanitário de Palmas em 10 (dez) anos vai gerar cerca de 65.582 toneladas de CO2 equivalente, referentes a 65.582 créditos de carbono, sendo comercializados a US$ 5 a tonelada, gerando uma receita para a Prefeitura Municipal na ordem de aproximadamente US$ 320.000, e deixando de emitir para atmosfera aproximadamente 33,606 GgCH4 durante os 10(dez) anos, contribuindo assim para diminuição dos gases poluentes e responsáveis pelo aquecimento global. Espera-se que os resultados da presente pesquisa sejam utilizados como subsídios na formulação de políticas públicas, no fomento ao desenvolvimento de novos projetos sobre diminuição da emissão de gases do efeito estufa, bem como no Desenvolvimento sustentável das comunidades locais. Nesse contexto, a pesquisa ainda apresenta as seguintes sugestões: A sede da administração do aterro, que fica junto como refeitório e o banheiro que os funcionários utilizam ficam muito próximos do aterro, onde o mau cheiro e as moscas incomodam. Se a sede for mais afastada irá resolver estes problemas; Falta também um alojamento, pois os funcionários saem do aterro e tem de irem embora sujos de lixo; O aterro não tem balança para controlar a quantidade de lixo que chega diariamente, somente uma empresa terceirizada que algumas vezes pesa os caminhões; Com o projeto de MDL o aterro poderá desenvolver investimento com educação ambiental. Trabalhar junto com os catadores de lixo a questão da triagem, reciclagem e aproveitamento do lixo gerando renda e emprego para população, como também montar um museu feito com os objetos encontrados e até mesmo uma biblioteca, pois alguns funcionários já se mobilizaram recolhendo material, como livros e objetos interessantes que eles acham no aterro, com a triagem este trabalho poderá ser desenvolvido. Podem também trabalhar com oficinas de reciclagem e cursos. Próximo ao aterro existe uma área verde chamado São João devido ao rio São João que fica a 5 km do aterro que estar sendo ameaçado por invasões, desmatamento e pela contaminação da água devido à falta de monitoramento da água, com o MDL poderá desenvolver projetos de conservação da área verde e do rio. 19 Referências Bibliográficas ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas,1987. AGESP. Agência Municipal de Serviços Púbico. Empreendimento do aterro sanitário de Palmas. Volume II relatório de impacto ambiental. Consultoria Juréia – gestão, planejamento e consultoria ambiental Ltda. Palmas-To. abril de 2002. ATYEL, S. O. Gestão de Resíduos Sólidos: O caso das Lâmpadas Fluorescentes (dissertação). Porto Alegre. 2001. 111p. FRANGETTO, F. W. Viabilização Jurídica do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)no Brasil- O Protocolo de Kyoto e a cooperação internacional / Flavia Witkowski,Flavio Rufino Gazani.São Paulo: Peirópolis; Brasília, DF: IIEB - Instituto Internacional de Educação do Brasil, 2002. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, responsável pelo censo populacional no país. 1991. _______. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico, responsável pelo censo populacional no país. 2000. _______. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico, responsável pelo censo populacional no país. 2004 ________. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico, responsável pelo censo populacional no país. 2005 ICLEI. 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