AÇÃO COLETIVA NA AQUICULTURA DE MARIPÁ: UMA FORMA DE DESENVOLVIMENTO DA
REGIÃO
PASINI, Andreia Helena1
ZACHOW, Marlowa2
ANZOATEGUI, Rodrigo3
RESUMO
O objetivo central desse artigo é avaliar a contribuição da AQUIMAP (Associação dos aquicultores de Maripá) para o desenvolvimento local da
Cidade de Maripá. Dessa forma, através do estudo buscou-se avaliar a importância que o associativismo tem para a cidade. O artigo apresenta através
da revisão de literatura o que motiva a ação coletiva, e como ela pode influenciar o desenvolvimento da região onde se encontra. Percebeu-se que na
Cidade de Maripá o apoio das instituições governamentais foi fundamental para que a atividade da aqüicultura existisse na cidade, no entanto,
somente com o associativismo, foi possível que a criação de tilápias se tornasse uma atividade produtividade e rentável nas propriedades rurais. Com
esse aumento de produtividade, a renda dos produtores melhorou, o que acabou por gerar crescimento econômico e desenvolvimento endógeno para a
região.
PALAVRAS-CHAVE: AQUIMAP, ação coletiva, aquicultura, associativismo, desenvolvimento local.
COLLECTIVE ACTION IN AQUACULTURE MARIPÁ: A FORM OF DEVELOPMENT OF THE REGION
ABSTRACT
The central objective of this Article is to assess the contribution of AQUIMAP (Association of farmers Maripa) for the local development of the City
of Maripá. In This way, through the study aimed to evaluate the importance that the associations have for the city. The Article presents through
review of the literature that motivates them to collective action, and how it can influence the development of the region where you are located. It was
noticed that in the City of Maripa the support of governmental institutions was essential for the activity of aquaculture existed in the city, however,
only with the associations, it was possible that the creation of tilapia became an activity productivity and profitable in rural properties. With this
increase in productivity, the producers' income has improved, which has ended up generating economic growth and endogenous development for the
region.
KEYWORDS: AQUIMAP, Collective action, Aquaculture, Associativism, Local development.
INTRODUÇÃO
Essa pesquisa tem como objeto de estudo os aquicultores da Cidade de Maripá no Paraná e a influência do
associativismo entre eles no desenvolvimento da região.
O desenvolvimento local tem sido objeto de estudo nos últimos anos. Nas últimas décadas alguns estudiosos
incluíram fatores não tangíveis nas explicações para o desenvolvimento de um local. Entre esses fatores está a
cooperação. Uma das explicações para a cooperação ou ação coletiva é de que surgem de necessidades que os atores
não conseguem suprir individualmente.
Nesse contexto surge a questão da imersão social, defendida por Granovetter (1985), para o autor, a imersão
social explica o associativismo, mostrando que o ser humano é um ser social, e, portanto, todas as negociações estarão
baseadas nos relacionamentos sociais. A ação coletiva facilita as negociações, ajudando os pequenos produtores
alcançarem melhores resultados.
Diante desse contexto, o associativismo se torna uma alternativa viável para promover o desenvolvimento de
algumas regiões. A aqüicultura é uma atividade que feira isoladamente exige grandes investimentos, assim o
associativismo viabiliza sua existência.
O presente estudo, em relação aos dados empíricos é um estudo de caso. Foram usados dados secundários
disponibilizados por órgãos de pesquisa para evidenciar o desenvolvimento da região. A análise dos resultados é de
natureza qualitativa, de caráter descritivo.
Um conjunto de fatores justifica a realização do presente estudo. A importância e a relevância que a produção de
tilápias tem para o município de Maripá, e para todo o Estado do Paraná. E a busca por respostas da influencia do
associativismo no desenvolvimento da região.
1
Mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste – Campus de Toledo. Professora da
Faculdade Assis Gurgacz, FAG – Cascavel. Professora da Faculdade Dom Bosco. E-mail: [email protected].
2
Mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste – Campus de Toledo. Professora da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Cascavel. E-mail: [email protected].
3
Especialista em Consultoria econômica e financeira pela Universidade Estadual Oeste do Paraná. Professor da Faculdade Assis Gurgacz e Faculdade
Dom Bosco. Email: [email protected]
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 DESENVOLVIMENTO
A aquicultura tem crescido constantemente nos últimos anos no Brasil, sendo a tilápia sozinha responsável por
39% de toda a aquicultura continental. De acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), o Estado do Paraná
produziu em 2009 cerca de 40 mil toneladas de pescado, montante esse que representa o dobro do que foi produzido no
ano de 2007. Desse montante, cerca de 32 mil toneladas, (80% tilápias) correspondem a peixes cultivados (FAEP,
2010).
As ações coletivas para Hardin (1994) acontecem quando grupos de indivíduos buscam objetivos comuns,
realizando ações combinadas de forma coletiva. Uma ação coletiva envolve a cooperação entre os indivíduos fora do
sistema hierárquico. Os indivíduos têm necessidades comuns que somente poderão serão atendidas por meio de ações
conjuntas (NASSAR, 2001).
Segundo Olson (1999) os indivíduos vão unir-se para alcançar objetivos em comum, que sozinhos seriam
incapazes de arcar com os custos, e os objetivos não seriam alcançados. Além disso, para o autor o tamanho do grupo
também é determinante para a ação coletiva, pois determinará a eficiência do grupo. Segundo ele, grupos menores, são
mais eficientes do que grupos maiores.
O associativismo pode ser considerado uma forma de ação coletiva, de acordo com Sachs (2003 apud
SCHMIDT e SAES, 2008), pode ser considerada a criação de entidades de representação política, ações como compras
em comum.
Percebe-se nos últimos anos uma grande tendência para formação de parcerias. Isso pode estar sendo motivado
pelo alto dinamismo e rápidas transformações tecnológicas. De acordo com Schmidt e Saes (2008) várias mudanças de
natureza econômica, informacional e tecnológica ocorreram nas últimas décadas e essas mudanças impulsionaram as
organizações a adaptar seus processos de gestão e produção para manterem-se competitivas. Ainda de acordo com as
autoras, neste cenário as organizações criaram modelos baseados na associação e na coletividade.
Os seres humanos sempre conviveram em sociedade, e não somente no seu ambiente familiar. O conceito de
imersão social, defendido por Granovetter (1985) leva em consideração os relacionamentos sociais para explicar
decisões de agentes econômicos. De acordo com o autor, as decisões sempre são tomadas em um contexto de
relacionamentos sociais. Granovetter traz atenção ao fato de que os indivíduos perseguem objetivos sociais, como
sociabilidade, reconhecimento, estatuto e poder. Dessa maneira os relacionamentos sociais podem melhorar a qualidade
de informação entre os atores, bem como desencorajar a má-fé e aumentar o grau de confiança. Essa visão reforça a
importância de grupos, que por manter relacionamento interpessoal entre seus membros, facilitaria o crescimento.
A imersão social tem sido muito utilizada para explicar a formação de grupos ou parcerias. De acordo com essa
visão, as organizações poderiam alavancar suas competências e capacidades através dos laços sociais. A confiança é um
fator que cresce com o estreitamento dos laços sociais, e conforme a confiança se estabelece, as negociações são
facilitadas, tornando menores os custos de transação. Isso porque quando há confiança, passam a não serem necessários
contratos complexos e nem monitoramento constante. Além disso, o estabelecimento desses laços sociais acaba
impelindo os parceiros a atuarem em conjunto. (CÁRDENAS, 2007)
Ao estudar a importância da ação coletiva, não se deve ignorar o papel fundamental que elas exercem sobre o
desenvolvimento da região onde estão inseridas. Neste contexto, se torna necessário compreender como acontece o
desenvolvimento regional, e como o associativismo pode afetar esse desenvolvimento.
O desenvolvimento de uma região não depende apenas de seu crescimento econômico, para Haddad (2001), na
realidade o desenvolvimento depende da interação da capacidade de se organizar politicamente, de preservar o meio
ambiente, da participação da região em recursos nacionais e da influencia das diretrizes econômicas da região.
Considerando também, a possibilidade de se incluir pessoas qualificadas, o ensino e a pesquisa.
Como resultado das transformações ocorridas nas teorias do desenvolvimento regional surge a ideia de
desenvolvimento regional endógeno. De acordo com Piacenti (2009) aspectos não tangíveis passaram a ajudar a
explicar o desenvolvimento regional ou local, incluindo novas formas de competição e cooperação.
Conforme Boisier (2000 apud Haddad, 2009) o processo de desenvolvimento de uma região dependerá da
capacidade que os atores tiverem de organizarem-se política e socialmente, moldando seu futuro.
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2.2 AÇÃO COLETIVA EM MARIPÁ
A Cidade de Maripá desde o inicio da instalação do município apresentada um futuro promissor na criação de
tilápias, no entanto, apesar desse cenário promissor, apresentava dificuldades na produção, foi então que em 1997, com
o objetivo de organizar os aquicultores, auxiliar na produção e fortalecer a atividade na cidade, foi criada a Associação
dos Aquicultores de Maripá (AQUIMAP), que surgiu com o intuito de fortalecer o associativismo entre os piscicultores,
e o desenvolvimento da atividade no município.
A piscicultura comercial tem relevante importância no desenvolvimento da Cidade de Maripá, melhorando a
economia do município, a renda e a estabilidade das famílias envolvidas. Segundo dados da EMATER, na safra de
2009/2010, a Cidade contava com 39 produtores, com uma produção de 1.672,46 toneladas ao ano. Dados preliminares
da safra de 2010/2011 mostram que o número de produtores aumentou cerca de 20%, e a produção total da safra foi de
2.655.000 toneladas/ ano, mostrando a relevância da atividade para a economia da Cidade e das famílias produtoras de
tilápias.
Na produção de tilápias observa-se que apesar do número de produtores não variar expressivamente, a produção
total vem crescendo no decorrer dos anos. Essa melhora na produção está relacionada com as oportunidades que são
disponibilizadas aos piscicultores, uma vez que são altamente capacitados, possuem alto grau de profissionalização, tem
assistência técnica especializada, tanto pelo atendimento da Emater quanto do técnico da prefeitura, o que reflete em
alta qualidade do produto e alta produtividade. Devido aos números, muitos produtores optaram pela produção de
tilápias como atividade principal de sua propriedade, outros utilizam áreas que antes eram não eram utilizadas, pois o
espaço determinado para o tanque é pequeno. Na criação de tilápias, o produtor recebe em média o valor líquido
estimado de 24 mil por hectare, enquanto na produção de soja recebe 1,1 mil por hectare, por isso a criação de tilápias
em algumas propriedades passou de atividade secundária a ser a atividade principal.
No ano de 2012, a expectativa é que o número de produtores ultrapasse 55 e que a produção bata o recorde 3 mil
toneladas.
Quadro 1: Dados da piscicultura de Maripá
02/03 03/04 04/05 05/06
Numero de
35
35
36
40
produtores
Área lâm.
40
40
43,5
46,5
D’água (T/ha)
Produtividade 14,2
16,5
15,8
16,5
(t/ha)
Produção total 568
660
690
767
(t/ano)
Fonte: Emater
06/07
45
07/08
35
08/09
39
09/10
39
10/11
47
50
45,06
50,1
52,26
68,4
17
24,65
28,17
32,002
38,962
851
1.110
1.411.32
1.672,46
2.665.000
Hoje a AQUIMAP tem papel fundamental na criação de tilápias, auxiliando os produtores em sua capacitação,
oferecendo cursos profissionalizantes e aperfeiçoamento aos associados, além de viagens, visitas técnicas. A associação
busca o conhecimento constante dos associados, e a divulgação da piscicultura e da cidade como a maior produtora de
tilápias do Estado do Paraná.
As ações coletivas através do associativismo na Piscicultura da Cidade de Maripá foram de fundamental
importância para a consolidação e o fortalecimento da Cidade, bem como tiveram fundamental importância nos
percentuais apresentados pelo Estado na produção de tilápias, ainda assim, para o desenvolvimento da região.
Dessa maneira, o associativismo foi um marco para o fortalecimento da região e principalmente da piscicultura.
A Aquimap é uma entidade forte, respeitada na região, e de papel fundamental.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO ESTUDO
A aquicultura é um exemplo de novas alternativas para a diversificação da propriedade, e a tilapicultura responde
por um alto percentual na produção de pescados no Brasil. Na cidade de Maripá, foco deste estudo, o peixe tornou-se
símbolo da cidade, dada a importância da atividade para o município.
Analisando a história do município, apesar da produção de peixes já estar presente no município desde 1993, a
importância da atividade só foi realçada com o surgimento da Aquimap. Apesar dos esforços empreendidos pela
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Emater, Seab e pela prefeitura Municipal, somente após a união dos produtores e o aumento dos laços de cooperação e
coletividade, é que a produtividade e a renda dos produtores foram melhoradas.
O desenvolvimento que surgiu foi o endógeno, ou seja, aquele que aproveita as particularidades do local e dos
atores que ali estão presente. O inconformismo dos piscicultores diante da realidade do município foi o grande
propulsor para o desenvolvimento da região. A piscicultura veio como alternativa para o aumento da renda dos
produtores, uma vez que alguns viviam na pobreza, e a melhora em sua renda foi possível apenas após a Aquimap.
Com a cooperação os produtores buscaram a melhoria de seu futuro, fizeram com que a cidade fosse reconhecida
e respeitada através de sua alta produtividade, sendo propulsora de crescimento econômico e desenvolvimento regional
local.
REFERÊNCIAS
CÁRDENAS, L. Q. Formação e o desenvolvimento de arranjos cooperativos sob a ótica da imersão social e da
economia dos custos de transação: um estudo de caso na Coopercam e na Unipesca. 2007. 145 f. Dissertação
(Mestrado em Administração) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2007.
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em: http://www.sistemafaep.org.br/boletim-informativo.aspx, Acesso em: 15 jan. 2012.
GRANOVETTER, M. Economic Actionand Social Structure: the Problemof Embeddedness. The American Journal of
Sociology, New York, v. 91, n. 3, p. 481-510, 1985.
HADDAD, P. R. (Org.). Economia Regional: teorias e métodos de análise. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil S.
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HARDIN, R. One for All: The Logic of Group Conflict. Princeton: Princeton University. Press. 1994.
NASSAR, A. M. Eficiência das associações de interesse privado: uma análise do agronegócio brasileiro.234 f.
Dissertação (Mestrado em Administração) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de
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OLSON, M. A Lógica da ação coletiva. Os benefícios públicos e uma teoria dos grupos sociais. São Paulo: Edusp,
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PIACENTI, C. A. O potencial de desenvolvimento endógeno dos municípios paranaenses. 201 f. Tese (Doutorado
em Economia Aplicada) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2009.
SACHS, I.. Inclusão social pelo trabalho: desenvolvimento humano, trabalho decente e o futuro dos empreendedores
de pequeno porte. Rio de Janeiro: Garamond, 2003.
SCHMIDT, C. M. ; SAES, M. S. Me. Ações Coletivas: desenvolvimento para arranjos produtivos inseridos no
contexto do agro-negócio e turismo rural. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA,
ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL, 46., 2008, Rio Branco. Anais eletrônicos... Brasília, DF: SOBER.
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