As contribuições de Luís da Câmara Cascudo para infância brasileira1 Dra. Maria Angela Barbato Carneiro Luís da Câmara Cascudo foi um dos maiores pesquisadores do folclore brasileiro. Podese dizer que suas contribuições vão para além da etnografia, ciência da qual foi um grande especialista. Sua obra foi importante, também, no campo da literatura bem como da cultura da infância. Pesquisador, escritor e folclorista potiguar, formado em Direito pela Faculdade de Recife, Câmara Cascudo concluiu em Natal o Curso de Etnografia. Sua formação ocorreu ainda na área médica, na qual estudou até o 4º ano em Salvador e, posteriormente, no Rio de Janeiro. Nasceu em Natal (RN) em 1898 e aos seis anos já sabia ler. Aprendeu inglês para acompanhar os viajantes pela África e pela Ásia. Especializou-se em etnografia e no folclore, embora tivesse predileção pela História e Geografia, especialmente do Rio Grande do Norte, onde passou a vida atuando como professor na Universidade Federal (UFRN), e homenageado pelo Instituto de Antropologia que recebeu o seu nome. Tem inúmeras obras que vão desde a literatura, passando pela gastronomia e pela história., mostrando a riqueza de sua pesquisa Na perspectiva da cultura da infância, parece que suas maiores contribuições estão no Dicionário do Folclore Brasileiro, Contos Tradicionais do Brasil e Facécias: contos populares divertidos. No Dicionário do Folclore Brasileiro estão centenas de verbetes acompanhados de suas origens e da sua história. Neste particular artigo estão colocados alguns deles. 1. “Assobio. Assobiar de noite chama as cobras. Três assobios bem longos atraem o vento. É crença geral que um certo assobio demorado e longo tem a singular propriedade de chamar o vento... “ ( CASCUDO, s/d, p.112) 2. Animais. “Animal. A participação do animal no folclore e na etnografia tradicional é variada e ampla. Para o povo, o animal é portador de memória, prevenção, simpatia, defeitos, virtudes ... “( CASCUDO, s/d, p.85) 3. Academia. ou Cademia. Jogo ginástico infantil, muito antigo e muito espalhado por todo o Brasil. A academia ou cademia é conhecida como amarelinha ou 1 Este material é resultado de uma exposição de brinquedos intitulada As contribuições de Luís da Câmara Cascudo para a infância brasileira marelinha no Rio de Janeiro, maré em Minas Gerais, e recentemente avião no Rio Grande do Norte. Na Bahia dizem pular macaco. Em Portugal: jogo da macaca ou pular macaca, jogar macaca (Norte) .( CASCUDO, s/d, p.28)” 4. Bola. “O crânio, a cabeça...” “Jogo. Pelota. As bolas são popularíssimas e existiram em todas as civilizações antigas. Feitas de couro, de madeira de vegetais, de borracha, são atiradas a mão nua e aparadas, quando de retorno, perdendo quem as deixa cair.” ( CASCUDO, s/d, p.175) 5. “Boitatá. Baitatá, Batatá, no Centro-Sul,. Biatatá na Bahia, Batatal em Minas Gerais, Bitatá em São Paulo, Jean Delafosse em Sergipe e Alagoas, João Galafuz em Itamaracá, Batatão, no Nordeste; mboi, cobra ou mboi, o agente a coisa, e tatá fogo, a cobra de fogo, o fogo da cobra, em forma de cobra, a coisa do fogo, um dos primeiros mitos registrados no Brasil.” ( CASCUDO, s/d, p.171) 6. “Boneca. Boneco, figura representando criatura humana, desenho. Calunga. Indispensável na magia simpática do envultamento onde é a presença simbólica da vítima nos processos do feitiço, catimbó, muambas, coisa-feita, canjerê no plano universal e milenar.( CASCUDO, s/d, p.178)” “Calunga. Figurinha de pano, madeira, osso metal: desenho representando a forma humana. .( CASCUDO, s/d, p.239)” 7. “ Bonecas de pano, ‘bruxas’, brinquedos de criança pobre, indústria doméstica, precária e tradicional no Brasil, são documentos expressivos da Arte Popular, indicando as preferências por determinadas cores, feitios de trajes, tipos antropológicos, índice da seleção indumentária na região do fabrico.” (CASCUDO, s/d, p178) 8. “Curupira. Um dos mais espantosos e populares entes fantásticos das matas brasileiras. De curu, contrato de corumi, e pira, corpo, corpo de menino, segundo Stradelli o Curupira e representado por um anão, cabeleira rubra, pés ao inverso , calcanhares para frente.” (CASCUDO, s/d, p.332) Imagens de arquivo particular Curupira, Cuca e Yara Exposição realizada em nov. de 2012 9. “ Jogo. A expressão popular compreende apenas o jogo de cartas, de gamão, de bilhar, xadrez, etc. Como sinônimo de brincadeira infantil, jogo ginástico, motor é de recente divulgação pedagógica.”. (CASCUDO, s/d, p.484) 10. “Jogo de Baralho. Até o século XVI foi época de jogo intenso em Portugal.” “ os jogos de naipes, que chamamos hoje cartas, foram soberanas distrações que se tornaram custosas e raras de abandono”. “ A lista subsequente é uma pequenina amostra dessa variedade que distraiu e distrai brasileiros no tempo e no espaço: Abafo/Alamoa/Bacará/ Basto/Bisca/Bridge/Burro/Buraco/Campista/Canastra/Castelinho/Cavalo/ Copas/Crapor, EspadaPaciência, Sueca/ Sete e meio/ Trinta e um”. (CASCUDO, s/d, p.485/486) 11. “Jogo de Dados. Foi trazido pelos portugueses porque era popular e já tradicional no séc XVI. Eram os pequenos cubos de marfim, ou metal, tendo um algarismo em cada uma das seis faces. Não jogo mais antigo. Os gregos diziamno inventado por Palamedes, companheiro de Agamemmnon na guerra de Tróia. Conheciam-no egípcios, persas, assírios, babilônios, medas.” “Mas os dados eram populares em toda a Grécia clássica. Em Roma constituía o jogo favorito de todas as classes, imperadores, senadores e plebeus, escravos e livres.” (CASCUDO, s/d, p.487) 12. “Maracá. O primeiro dos instrumentos indígenas no Brasil. É o ritmador dos cantos e das danças ameríndios. É uma cabaça na extremidade de um pequenino bastão empenhadura. No interior há sementes secas ou pedrinhas, fazendo rumor pelo atrito nas paredes internas do bojo.” (CASCUDO, s/d, p.552) 13. “Saci. Saci-Pererê, entidade maléfica em muitas, graciosa e zombeteira noutras oportunidades, comuns nos Estados do Sul. Pequeno negrinho, com uma só perna, carapuça vermelha na cabeça que o faz encantado, ágil, astuto, amigo de fumar cachimbo de entrelaçar as crinas dos animais, depois de extenuá-los em correrias durante a noite, anuncia-se pelo assobio persistente e misterioso, inlocalizável e assombrador.”( CASCUDO, s/d, p.794) Em Contos tradicionais do Brasil, no Prefácio, mostrou o valor do conto para a “viagem ao país da infância”2, enquanto em Fafécias: contos populares divertidos, apresenta histórias contadas pelo povo, por vezes ingênuas, engraçadas e até mesmo cruéis, porém registradas com muita fidedignidade. Faleceu em sua cidade Natal em 1986. 2 Palavras do autor