Introdução à Montagem de Genomas Gustavo Gilson Lacerda Costa [email protected] Histórico • • • • • • • • • • • • 1995, Haemophilus influenzae 1996, Methanococcus jannaschii 1997, Saccharomyces cerevisiae 1997, Escherichia coli 1998, Caenorhabditis elegans 2000, Drosophila melanogaster 2000, Arabidopsis thaliana 2001, Homo sapiens 2002, Schizosaccharomyces pombe 2002, Oryza sativa 2002, Mus musculus 2005, Pan troglodites Onde sequenciar seu genoma • Illumina (www.everygenome.com) – $9500 por indivíduo – $7500 para grupos de 5 • Serviço contratado sempre através do médico do paciente • O médico recebe um notebook com um navegador genômico carregado com os dados do paciente Onde sequenciar seu genoma • DNAVision (www.dnavision.com) Onde sequenciar seu genoma • Complete Genomics (www.completegenomics.com) – Para grandes lotes, preço por genoma pode chegar a $5000 – Serviço voltado para empresas e instituições acadêmicas MONTAGEM DE GENOMAS Whole Genome Shotgun (WGS) • Quebrar o DNA original em fragmentos aleatórios e selecionar os fragmentos de determinado tamanho (Ex: 2Kbp) Não sabemos a posição de cada fragmento no genoma 8 Whole Genome Shotgun (WGS) • Sequenciar as pontas de cada fragmento 9 Whole Genome Shotgun - Montagem DNA original singlet gap 10 Montagem de genomas (ab initio) • Reconstruir a sequência do genoma, dados vários (potencialmente milhões) fragmentos curtos de sequência (os reads) • Os reads têm tamanho entre 35-800 bp • Os reads podem conter erros de sequenciamento (mismatches ou indels) • A orientação (5`3` ou 3`5`) de cada read é desconhecida TAMANHO DOS GENOMAS Tamanho do genoma 3,4 Gbp Homo sapiens 15 Gbp Allium cepa 680 Gbp Amoeba dubia 13 1pg ~ 1Gbp Cobertura • Total de pares de bases em reads dividido pelo tamanho do genoma • Ex: Genoma de 1Mbp • 5 milhões de reads de 50bp • Cobertura = (5000000 * 50) / 1000000 = 25X • Na prática, corresponde a quantas vezes, em média, cada base do genoma foi sequenciada Cobertura • É preciso ter várias coberturas para conseguir montar contigs grandes (oversampling) • Sanger: 8X a 10X • 454 Titanium (pirosequenciamento): 15X • Solexa: > 50X Modelo de Lander-Waterman L = tamanho do read T = overlap mínimo G = tamanho do genoma N = número de reads c = cobertura (NL / G) σ = 1 – T/L E(#clusters) = Ne-cσ E(tamanho do cluster) = L((ecσ – 1) / c + 1 – σ) cluster = contig ou singlet 17 Exemplo Genome size: 1 Mbp L= 600 c T= 40 N 1 #cluster #contigs bases não sequenciadas 1,667 655 614 367,806 3 5,000 304 250 49,787 5 8,334 78 57 6,735 8 13,334 7 5 335 18 Modelo de Lander waterman Medidas para avaliar uma montagem • • • • Número de contigs Tamanho médio dos contigs Tamanho do maior contig N50: maior N tal que 50% do total de pares de base do genoma esteja contida em contigs >= N bp Cálculo do N50 • Seja uma montagem de um genoma de 300 bp que produziu 8 contigs de tamanho (3, 3, 15, 24, 39, 45, 54 e 117) • Ordenar os contigs em ordem decrescente de tamanho e ir somando um por um • Quando a soma ultrapassar 150 (300/2), o tamanho do contig da vez é o N50 • Os dois maiores contigs (117+54=171) ultrapassam 150. Logo N50=54 (tamanho do segundo maior contig) Glossário de montagem • Read: fragmento sequenciado • Contig: Pedaço contíguo de sequência formado a partir da sobreposição dos reads • Singlet: read sem sobreposição com nenhum outro • Gap: região do genoma não capturada por nenhum read • Cobertura: Total de bases sequenciadas dividido pelo tamanho do genoma Paradigmas de montagem I. Guloso (Greedy) II. Overlap – Layout – Consensus (OLC) III. Grafo de De Bruijn (DBG) I - Guloso (Greedy) • Phrap, TIGR assembler, CAP3 Guloso • Criação de uma tabela de sobreposições • Pegue a sobreposição de melhor score • Junte os fragmentos • Repita até que não possa ser feita mais nenhuma junção I - Guloso (Greedy) • Phrap, TIGR assembler, CAP3 – Mesmo paradigma, diferentes resultados – Cada programa usa uma série de heurísticas próprias, pré e pós processamentos – Cap3: montagem de ESTs (transcritos) – Phrap e TIGR: genomas (pequenos e simples) – Nenhum deles funciona bem com reads curtos (Illumina/Solid) II - Overlap – Layout – Consensus (OLC) • Overlap: alinhamento par a par entre todos os reads sequenciados para detectar sobreposições • Layout: ordenação/orientação dos reads de acordo com os overlaps • Consensus: reconstrução da sequência do genoma através do alinhamento múltiplo dos reads (obedecendo ao layout) II - Overlap – Layout - Consensus • Montadores OLC usam uma estrutura de dados chamada grafo de overlap – Celera Assembler – Arachne – Mira – Newbler O que é um grafo? • Informalmente, um grafo é um conjunto de vértices conectados por um conjunto de arestas Grafo direcionado Grafo não direcionado 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 II - Overlap-Layout-Consensus Grafo de overlaps Vértices: reads Arestas: overlaps Overlap graph for a bacterial genome. The thick edges in the picture on the left (a Hamiltonian cycle) correspond to the correct layout of the reads along the genome (figure on the right). The remaining edges represent false overlaps induced by repeats (exemplified by the red lines in the figure on the right) Fonte: http://www.cbcb.umd.edu/research/assembly_primer.shtml III - Grafo de De Bruijn (DBG) Definição • É uma representação de uma sequência (ou conjunto de sequências) através de sua decomposição em subsequências de tamanho K (K-mer) • Os vértices são sequências de k-1 caracteres • Arestas são inseridas entre pares de vértices (u,v) em que o sufixo de tamanho k-2 de u é igual ao prefixo de tamanho k-2 de v Construção de um grafo de De Bruijn Reads= (GTGC,ATGT,GCCG,CGCA,TGCC) k=3 GT AT TG CC GC CG CA Grafo de De Bruijn K=8 Fonte: http://www.homolog.us/blogs/2011/07/28/de-bruijn-graphs-i/ Grafo de De Bruijn GENOMA E se o genoma fosse desconhecido? Vamos ver como ficaria o grafo de De Bruijn construído a partir dos reads Cada read é decomposto em subsequências de tamanho K (K-mers) e inserimos todos os K-mers no grafo de uma vez Grafo de De Bruijn Grafo de De Bruijn • Sem erros de sequenciamento e com cobertura alta – DBG do genoma ~ DBG dos reads • A sequência do genoma pode ser recomposta através de um caminho euleriano no DBG • Caminho euleriano: caminho que passa por todas as arestas do grafo exatamente uma vez • Se o DBG não for euleriano, tenta-se simplificá-lo ao máximo e encontrar subgrafos eulerianos Grafo de De Bruijn • Erros de sequenciamento tipicamente geram topologias características no DBG Grafo de De Bruijn • Repeats também induzem topologias características Grafo de De Bruijn • Repeats também induzem topologias características Reconstituição do genoma com o DBG Reads= (GTGC,ATGT,GCCG,CGCA,TGCC) k=3 GT AT TG CC GC CG CA • Reconstruir a sequência do genoma é encontrar um caminho euleriano (caminho que passa por cada aresta uma unica vez) Reconstrução da sequência (De Bruijn) Reconstrução da sequência (De Bruijn) Reconstrução da sequência (De Bruijn) Reconstrução da sequência (De Bruijn) Reconstrução da sequência (De Bruijn) Reconstrução da sequência (De Bruijn) Montagem - De Bruijn (Velvet, Euler-USR, Abyss) • Escolha um valor de K, menor que o tamanho do read – K grande: mais especificidade – K pequeno: mais sensibilidade • Inicie um grafo G vazio • Para cada read sequenciado, divida-o em palavras de tamanho k (k-mers), com passo de 1, e insira os k-mers no grafo G • Simplifique o grafo G (remova tips e bubbles) • Busque caminhos eulerianos • Se não houver, busque subgrafos eulerianos Montagem - De Bruijn (Velvet, Euler-USR, Abyss) • Os montadores DBG conseguem gerenciar quantidades massivas de sequência • Não precisa alinhar todo mundo contra todo mundo • Construção do grafo em tempo linear • Erros de sequenciamento -> grafo maior -> muita, muita memória O problema dos repeats • Trechos de sequência repetidos ao longo do genoma • Em procariotos: pouco frequente • Em fungos: média quantidade • Em algumas plantas e em vertebrados compõem a maior parte do genoma • Desafio para qualquer software, independente do paradigma usado A 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 B C D E F G H I J K L A 1 2 3 4 B C D O problema dos repeats • Vamos tentar reconstruir a seguinte frase (genoma) a partir de alguns fragmentos (reads) • It was the best of times, it was the worst of times, it was the age of wisdom, it was the age of foolishness, … Qual a próxima palavra? Worst ou Age? Erros de montagem causados por Repeats excision collapsed tandem I a b c II a c I a b III c d b III a c d b II b c rearrangement I II a I c b a a III d IV e d III f II e b IV c f 55 Resolvendo repeats com paired ends 56 O problema dos repeats • O maior repeat tem tamanho 5. Logo eu precisava de reads maiores que 6 para conseguir montar sem ambiguidades O problema dos repeats • Ou então: vínculos par a par entre os reads com distância conhecida (paired ends) Construindo Scaffolds • Os paired ends também são muito úteis para ordenar e orientar os contigs • Mesmo que não tenhamos a sequência entre dois contigs, a informação de que eles são vizinhos é de grande valor SCAFFOLD 59 Resumo do processo de montagem Montagem Scaffolding 60 Scaffolding • Alguns montadores são capazes de produzir scaffolds – Velvet – Celera assembler – SoapDeNovo – Newbler • Programas standalone – Bambus – Supercontigs • Construção de scaffolds também é um problema modelado em grafos (caminho de custo mínimo) Tamanho do read, pairedends e cobertura – Reads grandes facilitam a montagem. Se eles forem pareados melhor ainda • Reads longos podem atravessar repeats • Reads paired-ends ajudam a resolver ambiguidades e atravessar repeats maiores – Cobertura alta também ajuda, mas só até um certo ponto • Mais precisão para determinar as bases do consenso • Diminui as chances de haver regiões do genoma não sequenciadas • Regiões do genoma de cobertura atipicamente alta provavelmente representam repeats fundidos 5 November 2015 · Computational Genomics Montagem comparativa • Em algumas ocasiões, já existe um genoma de algum organismo parecido sequenciado (referência) • Queremos saber as diferenças entre o nosso genoma de interesse e a referência • Mais simples computacionalmente • Alinhamos os reads contra a referência, fazemos o layout e o consenso • Alignment-Layout-Consensus Ressequenciamento Ressequenciamento: SNPS, variações estruturais, variações de número de cópias reference genome SNP DEL REFERÊNCIA= TODAY_IS_SUNDAY Montagem ab initio Montagem comparativa