Minhas Senhoras e meus senhores. Hoje importa mais do que nunca celebrar duas e não apenas uma data!! 25 de Abril de 1974-revolução dos cravos vermelhos de sangue, mas sem sangue. 2 Abril de 1976 - aprovação da Constituição da Republica com os votos favoráveis de todos os partidos com assento na AR com exceção do CDS. Onde se definiram, os órgãos de soberania; estabeleceu-se a saudável e importante separação de poderes, bem como os preceitos e balizas para o exercido democrático da democracia representativa. Pressupunha-se, definida que estava essa lei base da nossa sociedade, que estariam assegurados “à de eterno” os adequados pilares da democracia, democracia essa entendida, como o governo dos cidadãos e não como o governo de poderes originados na recorrente e promiscua ligação entre o poder económico e o poder político, mesmo que eleito pelo, povo”. Aquelas duas datas de referência, profundamente interligadas marcaram um caminho percorrido até 2011 ou para ser mais exato até à apresentação do orçamento de Estado, o OE de 2012, ferido de inconstitucionalidade, inconstitucionalidade essa replicada atrevidamente, com alguns laivos de ingenuidade,(!!) na versão de 2013 com os efeitos que estamos hoje a sentir. Importa não esquecer que Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária. A República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de efetivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa. Estamos, na atualidade claramente em contra ciclo com este princípios gerais expressos nos dois primeiros artigos da nossa constituição e que são universalmente aceites em todas as sociedades democráticas nossas parceiras na Europa. Mais,… apercebemo-nos que estamos num processo contra revolucionário (que no PREC era uma ameaça às conquistas de Abril e seria na altura apelidado de reviralho), processo este qualificável no mínimo de conservador quando nos apercebemos na forma como o Chefe de um Governo de um regime que se pretende democrático pressionou, e posteriormente criticou e procurou responsabilizar o supremo “fusível” (permitam-me a expressão) do sistema de segurança democrático, ou seja o Tribunal constitucional. Este 1 incidente/acidente mereceu inclusivamente um comentário crítico bem acertado por parte do Sr. Provedor da Justiça. Que vos relembro. O SR Provedor considerou que a decisão do Tribunal Constitucional encerra também uma mensagem sobre os limites das decisões, isto é: "dizer que são as leis do Governo, quaisquer que elas sejam, e da Assembleia da República que se têm de conformar com a Constituição e não é a Constituição que tem de se conformar com essas leis". "Alias, o senhor presidente do Tribunal Constitucional acentuou este aspeto e, quer o Governo, quer a Assembleia da República devem tomar consciência que com esta Constituição têm que ter o maior respeito pelos seus princípios, não só sobre as normas como também sobre os princípios que o tribunal tem como fundamentais e que são originários da interpretação jurisprudencial da Constituição". Resumindo, o que se passou foi o espetáculo triste do Sr. primeiro-ministro de um País democrático reagindo com despropósito contra a decisão de um órgão de Soberania, responsabilizando-o por todos os males presentes e futuros, porque este, cumprindo as suas funções, decidiu num sentido que não agradou ao Sr. primeiro-ministro, deixando-o claramente fora de si. O Sr. primeiro-ministro em vez de usar externamente a decisão independente e soberana do TC como fator de credibilidade do País, (até a insuspeita Sra. Dra Manuela Ferreira Leite acreditou que teria saído a sorte grande ao Governo) exemplo evidente de que Portugal ainda é um País onde a democracia funciona e que não perde a dignidade apesar do resgate e por isso permanece um Estado de Direito, optou com ineditismo histórico por destratar e desconsiderar o Tribunal Constitucional. Caiu a pele, estalou o verniz, estoirou o maneirismo, todos nós percebemos infelizmente e confirmámos, se ainda dúvidas houvesse, a impressão de que algo andava a correr muito mal no que respeita ao pensamento prático que anima o Sr. Primeiro-ministro quando afirma o “custe o que custar”. Aliás essa postura tem sido bem visível na desconsideração com que o Governo tem lidado com os cidadãos e os municípios portugueses, que culminou recentemente, no que mais diretamente nos diz respeito, por exemplo com a decisão unilateral da constituição de um único agrupamento de ensino na Lousã; com o o enviesado processo de extinção de freguesias, com as propostas de alteração da Lei das finanças locais e competências dos órgãos autárquicos , à revelia do parecer dos municípios e da, associação que os representa (processo que também é de duvidosa constitucionalidade, segundo a interpretação da ANMP e também mais recentemente com a iniciativa de desenvolver o nebuloso e preocupante projeto de intervenção no setor das águas. 2 E é precisamente este o estado a que deixámos coletivamente chegar o nosso regime ao longo destes 39 anos e estamos a pagar na pele o nosso laxismo e tolerância. Refiro laxismo e tolerância porque sendo a nossa democracia representativa significa que os cidadãos depositam nos partidos políticos, (os agentes intermediários com o Estado), as funções de participação e cidadania e de fazer respeitar os valores constantes de programas eleitorais sancionados nas estruturas partidárias e nos votos dos eleitores. Este facto leva a que os cidadãos cedam aos partidos essa função e arriscam-se se não forem atentos e vigilantes a que os propósitos iniciais sejam alterados em favor de garantir e perpetuar o poder e inclusivamente desvirtuar valores anteriormente consensualizados e aprovados. Da mesma forma relevamos o que parece ser de mau gosto constitucional e clara e eticamente reprovável que se use a abuse da frase “os partidos do arco da governação” porque parece que procuram induzir junto da sociedade haver duas classes de partidos, se me permitem em linguagem futebolística, os da primeira e os da segunda divisão o que é profundamente errado porque todos eles podem vir a ser governo e até , com essa frase parecem pretender negar de forma bacoca, a capacidade potencial dos eleitores em poderem quebrar este ciclo não virtuoso da infindável promíscua alternância sempre entre os mesmos. Veja-se o caso da Grécia, com a eleição do Siriza como segundo partido da Assembleia da Republica que ilustra bem o quanto incorreta é aquela frase. Aquela distinção também inviabiliza a concretização de qualquer pacto de regime sério que seja entendido desenvolver e que ultimamente tem sido recorrentemente referido por diversos comentadores que pululam nas televisões. Quando isto sucede, quando a governança não corresponde às promessas eleitorais, quando a mentira grassa em detrimento da verdade, os cidadãos entram em processos de desacreditação, afastam-se, criticam e repudiam tanto os partidos como as pessoas com atividade política, colocam em causa o próprio sistema, porque negam e porque desclassificam as organizações de base, os partidos, que são imprescindíveis para a Democracia, colocando assim em causa o próprio regime. Levanta-se aqui a questão de saber qual a consequência prática de um governo com maioria na AR, seja ele qual for, poder estar ou não legitimado para governar depois de ter quebrado as promessas eleitorais e alterado significativamente o seu programa de governo? A nossa constituição é omissa relativamente esta situação pelo que podemos ser confrontados com a sua manutenção no poder desde que o Sr. PR, ouvido o Conselho de Estado, entenda que está assegurado o regular funcionamento das instituições democráticas. Este cenário de fundo é propício ao surgimento de movimentos à margem das estruturas partidárias que legitimamente se manifestam perante o gorar de expetativas e de outras de índole mais radical, norteadas pela visão do partido 3 único (infelizmente ainda existente no subconsciente coletivo) que aproveitam as brechas abertas no regime democrático pela incompetência, fraude, falta de ética respeito e seriedade para com os eleitores para poderem fermentar/desenvolver paulatinamente os seus projetos radicais e antidemocráticos. Por esta razão minhas senhoras e meus senhores sou muito avesso, como já antes aqui disse em anteriores cerimonias aos boicotes a atos eleitorais (pela não utilização da arma que é o voto, e dessa forma, fortalecer os detratores do regime democrático), aos discursos derrotistas que devem ser anulados e passarem a ser dirigidos de forma pragmática para refundação, primeiro, da forma geral do governo dos partidos, em termos ideológicos, práticas de comunicação, reflexão e captação de militantes, segundo, estimular a vivência e participação mais ativa dos cidadãos nos problemas que os afetam e a difusão das politicas de proximidade para reabilitarmos a base da democracia, restaurar a confiança dos cidadãos nas organizações que os devem sempre bem representar junto do Estado e em simultâneo, refundar, reavivar, o pulsar do 25 de Abril e definir o futuro, com um novo e mais transparente ciclo político para Portugal, com base na Constituição progressista, e edificado através de eleições num novo quadro de uma reforma de um novo sistema eleitoral desgraçada e recorrentemente adiada, mas que garanta mecanismos que evitem, o afastamento entre representantes e representados. Hoje, está em crescendo a discussão sobre a continuidade de Portugal no euro e ou também a viabilidade futura da Zona euro tal como a conhecemos, aspeto que importa refletir sem complexos e de forma desassombrada. De nada nos vale enterrar a cabeça na areia! Hoje estamos numa comunidade europeia que foi criada para anular a possibilidade de conflitos, gerar a paz e o progresso económico e social mas que assume atualmente uma politica de agressão (sem armas!!!) sobre os mais fracos pondo em causa a soberania dos Estados, utilizando, como instrumento o Governo, com torpes processos assentes em inqualificáveis práticas de dissimulação, teatralização, pressão e chantagem. Para além de muitos exemplos não posso deixar aqui de citar a Sra. chanceler alemã, que disse na segunda-feira, 15 abril, “que os membros da zona do euro devem estar preparados para ceder o controlo de certos aspetos de política a instituições europeias……. Merkel diz que países do euro devem estar preparados para ceder soberania…. A subtileza deste discurso faz lembrar o seu antepassado de muito má memória, que também devagarinho começou uma politica de terror na Europa!!!!!! Na sequência desta afirmação seria expectável ouvir uma posição do nosso Governo sobre tal alarvidade antidemocrática! Mas não! Tristemente nada ouvimos porque a obediência é surda e muda e a força, essa anímica, parece 4 andar a esgotar-se em repetidos exercícios económicos previsionais, para desgraça nossa, invariavelmente errados. Minhas senhoras e meus senhores. Creio que chegou a hora de deixarmos de ser acríticos e dormentes e passarmos a ser ativos, participativos e acima de tudo pugnarmos no nosso diaa-dia pela prática dos princípios nobres da ética colocados no serviço do Estado, nas governanças nacional, regional ou local. Não há que, como se usa hoje dizer por aí, refundar o Estado de modo discricionário e precipitado como é pretendido despoticamente pelo Governo, mas sim é de urgente necessidade refundar isso sim, o 25 de Abril e reavivar os princípios republicanos a ele associados. Refundar o magnífico espírito de unidade e esperança vivido por milhares de cidadãos no primeiro primeiro de Maio de 74 e reeditado com força, mas ferido de desilusão e descrédito, e por isso com contestação, como se verificou nas manifestações de Setembro de 2012 e de Março de 2013 que demonstraram que o povo pode e deve existir sem ser servil, sem ser seguidista e que pugna, mesmo de forma espontânea, sem enquadramento de partidos pelos princípios que considera relevantes. Foram sem margem de dúvidas três importantes manifestações que devem ficar registados na memória coletiva e que devem fazer pensar os Partidos. Para finalizar relembro uma frase de Agostinho da Silva que sintetiza essa necessidade e convite ao desafio permanente incentivando o exercício aberto, holístico e responsável de cidadania de discussão e reflexão: “Podes e deves ter Ideiais políticos mas por favor, as tuas ideias politicas e não as ideias do teu partido…..O teu comportamento e não o dos teus líderes…os interesses de toda a Humanidade não os interesses de uma parte…E lembra-te de que uma parte é etimologia de partido.” Que viva o 25 de Abril - Viva a lousã - 25 de Abril sempre Amândio Torres . 5 6