Foro de São Paulo: Mais atual do que nunca!
O conservador O Estado de S. Paulo vociferou, em sua edição de 10 de agosto, na coluna
Opinião, repetidos impropérios contra a esquerda da América Latina, por ocasião do XIX
Encontro do Foro de São Paulo, realizado entre 29 de julho a 4 de agosto, na capital paulista.
Organização criada em 1990, quando representantes de partidos e outras organizações de
esquerda da América Latina e Caribe aceitaram o convite do PT para se reunirem em São
Paulo e analisar as lutas políticas travadas na região, principalmente contra o neoliberalismo, e
as novas estratégias de atuação.
Nesses 23 anos, o Foro se tornou permanente e herdou o nome da cidade que lhe deu origem,
e muita coisa aconteceu nesse período em Nuestra América Latina.
O Neoliberalismo se impôs com o Consenso de Washington, a direita elegeu governos,
privatizou patrimônios públicos, promoveu a desregulamentação do mercado e precarizou as
relações de trabalho. Tudo para aumentar os ganhos do capital, impondo velhas receitas
fiscais e econômicas, mas perdeu as eleições e seus projetos foram temporariamente
afastados.
Derrota da ALCA - Nesse período, derrotamos a ALCA (que freou os planos americanos de
anexação econômica) e impusemos importantes derrotas eleitorais à direita em alguns países
da região, afugentamos o neoliberalismo, o que permitiu a ascensão dos primeiros governos
progressistas na América Latina.
O Foro de São Paulo consolidou-se, ampliou sua participação e melhorou a organização
interna de seus trabalhos, ao mesmo tempo em que a esquerda da América Latina avançava.
Ampliou sua influência, ganhou e reelegeu governos progressistas e de esquerda em países
importantes e esses governos deram início a um processo de importantes reformas sociais, em
curso.
Esquerda cresce e inicia integração - Nos últimos 15 anos, a América Latina vem
experimentando um ciclo político inédito de governos progressistas e de esquerda, patrióticos e
antiimperialistas. Um processo iniciado, em 1998, com a eleição do venezuelano Hugo Chávez,
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que seguiu com Nestor Kirchner, na Argentina, e Lula, no Brasil (2003); Evo Morales, na Bolívia
(2005); Rafael Correa, Equador; (2007); Daniel Ortega, na Nicarágua (2007); Maurício Funes,
em El Salvador (2009); e Mujica, no Uruguai (2010).
Com a posse de Lula, em 2003, essa tendência ganhou impulso e o tema da Integração entrou
com força na agenda dos governos, influenciando alterações importantes no Mercosul, que
passou a considerar e abrir espaço, ainda que tímidos, a temas sociais, extrapolando as
integrações tarifária e comercial.
Unasul - A criação da União Sul Americana das Nações (Unasul) foi outra ação definitiva no
avanço do processo de integração e afirmação de nossas possibilidades enquanto nações
autônomas, constituindo-se ainda em manifestação inequívoca da existência de um projeto de
integração da região, e é isso que incomoda muita gente em outros cantos da América Latina.
CELAC - A Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), por exemplo,
nasceu sob esses valores auspiciosos da esquerda latino-americana e caribenha, em
dezembro de 2011, em Caracas, na Venezuela de Hugo Chávez. A Comunidade de Estados
Latino Americanos e Caribenhos se constitui em outro marco significativo e concreto desse
projeto de integração que reúne 33 países independentes da América Latina e Caribe, sem a
presença dos Estados Unidos e Canadá.
Porém, o quadro é complexo e há uma clara reação das forças políticas antagônicas e dos
interesses econômicos contra esse projeto autônomo dos governos progressistas e de
esquerda, que se utilizam de variadas formas, como os meios (empresas) de comunicação,
para fomentar o caldo de cultura reacionária em relação a iniciativas de sucesso, como o Foro
de São Paulo.
Pluralidade - O Foro de São Paulo reuniu, no XIX Encontro, mais de 300 representantes
internacionais de 39 países latino-americanos e caribenhos. Superou o número de 1.100
inscritos que participaram de inúmeras oficinas, debates e conferências, com o objetivo de
promover um balanço dos avanços e refletir em como aprofundar as mudanças e acelerar a
integração.
O ex-presidente Lula, um dos criadores do Foro de São Paulo, esteve na quadra dos bancários
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e deixou seu recado. Disse Lula que é preciso ouvir o clamor da ruas, referindo-se às
“manifestações de junho” e de que por estar enfraquecida na maior parte do mundo, “a
esquerda latino-americana pode servir de farol"
.
Rumo a Cochabamba - A plenária de encerramento contou com a presença de Evo Morales,
que fez questão de convidar a todos/as para a próxima edição do Foro, em Cochabamba,
Bolívia, e expressou sua preocupação com os descaminhos adotados por alguns partidos de
esquerda quando chegam ao poder. Evo lançou o desafio da esquerda se debruçar na reflexão
sobre as gerações futuras.
"Se os partidos ou governantes de
esquerda só pensam nas próximas eleições, estão equivocados".
Decerto que caminhamos para um quadro cada vez mais complexo, pois além da arraigada
defesa que fazem dos seus privilégios, as elites nacionais não medem esforços para juntar-se
aos interesses antagônicos contra o avanço da esquerda no subcontinente. Haja vistas as
tentativas de golpe contra Chávez na Venezuela, de desestabilização do governo argentino de
de Cristina Kirchner, contra Rafael Correa, no Equador, e a incitação da elite corrupta boliviana
contra Evo Morales. Sem contar a interferência em Honduras, o golpe no Paraguai na
deposição formalmente “democrática” do presidente Fernando Lugo e mais recentemente na
rearticulação da Aliança para o Pacífico, que sob a batuta do Estado americano tenta dividir a
América Latina.
Logros da integração - No Brasil, durante esse período tivemos dois governos de Lula e a
sucessão por Dilma Rousseff, que mantém a mesma determinação para construir a Integração
e promover avanços para o Brasil e para a América Latina e Caribe. Sob esses governos vimos
avançar as políticas de saúde, educação, emprego e distribuição de renda. Certamente é
preciso avançar mais, porém os avanços e conquistas não podem sofrer retrocessos.
Desafios - Abre-se um período de novos desafios para manter e ampliar os espaços e
conquistas, aprofundar as mudanças, acelerar a integração, travar a luta de ideias com a direita
e nos próximos períodos derrotá-la no Chile, Argentina e Brasil.
Incômodo da integração – Portanto, não é sem propósito que o jornal O Estado de S.Paulo e
seus congêneres no Brasil, nos países da América Latina e de outras partes do mundo,
destilem ódio contra o Foro de São Paulo, taxando-o de anacrônico. A verdade é que essa
unidade e mecanismo de integração das esquerdas na AL e o avanço dessas correntes
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incomoda muito a elite conservadora, por estar ciente que há muita força criadora e muito caldo
de cultura para aprofundar esses caminhos.
Leocir Costa Rosa é advogado e secretário-geral do SASP.
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