PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA Dezembro de 2012 PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA EXECUÇÃO: EPPC – Estudos e Projetos em Patrimônio Cultural Ltda. ME CNPJ 15.608.400/0001-51 Rua México 450, Cj. 404. CEP 82510 060, Bacacheri, Curitiba/PR Telefones: (41) 3039-9080 / 9901-1423 Responsabilidade Cientifica: Arqueólogo M.Sc. Antônio C. M. Cavalheiro E-mail: [email protected] EMPREENDEDOR: GERAÇÃO CÉU AZUL SA– GRUPO NEOENERGIA (CNPJ 09.136.819/0001-55) Praia do Flamengo, 200, 11º e 12º Andar – CEP 22210-030 – Rio de Janeiro – RJ Telefones: 55 3235 2800 Home page: www.neoenergia.com Contato responsável: Ronaldo Câmara Cavalcanti, gerente de Meio Ambiente E-mail: [email protected] ENDOSSO INSTITUCIONAL: Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal do Paraná, MAE-UFPR Diretor: Profª. Dr. Márcia Cristina Rosato. EQUIPE TÉCNICA FIXA: Arqueólogo coordenador: Antônio Carlos Mathias Cavalheiro Arqueólogo 2: Jonas Elias Volcov Arqueólogo 3: Eliane Sgarzela Arqueólogo 4: Eloi Bora Historiador 1: Jacqueline Monteiro dos Santos Historiador 2: Gabriela Dors Batassini PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 1 SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................... 3 2. HISTÓRICO ARQUEOLÓGICO DO PROJETO ....................................................................... 5 3. 2.1. FASE DE OBTENÇÃO DE LICENÇA PRÉVIA (LP). EIA-RIMA,......................................... 5 2.2. FASE DE OBTENÇÃO DE LICENÇA DE INSTALAÇÂO (LI). ............................................ 6 O EMPREENDIMENTO............................................................................................................... 11 3.1. ABRANGÊNCIAS .................................................................................................................... 13 4. CONCEITUAÇÃO ......................................................................................................................... 16 5. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO ..................................................................... 18 5.1. OBJETIVOS GERAIS .............................................................................................................. 19 5.2. METODOLOGIA ..................................................................................................................... 21 5.2.1. Escavações e coletas arqueológicas................................................................................... 23 5.2.2. Laboratório ........................................................................................................................ 25 5.2.2.1. Limpeza, Identificação, Análise e Acondicionamento .............................................. 25 5.2.2.2. Considerações teórico-metodológicas na análise do material lítico .......................... 27 5.2.2.3. Considerações Teórico-Metodológicas na Análise do Material Cerâmico ............... 32 5.2.3. 6. 7. Prioridades de ação .................................................................................................... 37 5.2.3.2. Valoração dos Sítios .................................................................................................. 38 6.1. ATIVIDADES ........................................................................................................................... 41 6.2. METODOLOGIA ..................................................................................................................... 43 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO E EXTROVERSÃO PATRIMONIAL ........................................ 45 7.1. OBJETIVOS.............................................................................................................................. 46 7.2. METODOLOGIA ..................................................................................................................... 47 7.2.1. Macro-atividades ............................................................................................................... 47 7.2.2. Procedimentos ................................................................................................................... 48 7.2.3. Estudos e levantamento prévios ........................................................................................ 49 7.2.4. Proposta de Ação ............................................................................................................... 51 AGENDA MÍNIMA.................................................................................................................. 53 CRONOGRAMA DE ATIVIDADES E RECURSOS HUMANOS ................................................ 55 8.1. 9. 5.2.3.1. PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO ........................................................ 41 7.3. 8. Valoração e Prioridades..................................................................................................... 36 RECURSOS HUMANOS ......................................................................................................... 56 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................... 57 10. ANEXOS.......................................................................................................................................... 62 PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 2 1. APRESENTAÇÃO A empresa EPPC – Estudo e Projetos em Patrimônio Cultural LTDA, em observação a portaria IPHAN/Minc n° 007 de 01 de dezembro de 1988, apresenta Projeto de Pesquisa referente aos Programas de Resgate Arqueológico, de Monitoramento Arqueológico e de Educação Patrimonial, a serem realizados nas Áreas de Abrangência da planejada Usina Hidroelétrica Baixo Iguaçu, discorrendo sobre as especificidades técnicas e metodológicas e de cronograma para os mesmos. A meta almejada pelos Programas propostos é tentar minimizar e compensar os impactos negativos gerados pelas obras de instalação e operação da UHE Baixo Iguaçu sobre bens históricos/arqueológicos. Para este caso a melhor estratégia, em consonância com a legislação e normas em vigência nos âmbitos nacional e internacional, refere-se à implementação e execução dos Programas Arqueológicos acima citados, que lidam diretamente com o bem patrimonial e cumprem com o direito das comunidades humanas ao conhecimento do legado das gerações passadas. O planejamento e a execução desses Programas Arqueológicos deverão ser compatíveis com o cronograma das obras, de maneira a não prejudicar o desenvolvimento normal das pesquisas e das obras. Neste sentido, serão seguidas as prioridades de ação e cobertura, estabelecidas previamente no Programa de Prospecção Arqueológica: primeiramente, executar-se-ão trabalhos arqueológicos nas áreas destinadas à infra-estruturas e ao barramento para a liberação das mesmas e para que se possa dar início às obras e, posteriormente, nas áreas do reservatório , na faixa de depleção e nas áreas de preservação permanente (faixa dos 100m), nestas somente para as porções que serão reflorestadas. Para desenvolvimento dos Programas ora apresentados – que envolverão levantamentos bibliográficos e trabalhos de Resgate do patrimônio arqueológico, que incluem escavações exaustivas, registros de sítios e coleta de materiais significativos em cada sítio arqueológico (IPHAN, Portaria nº 230, de 17 de dezembro de 2002) – estima-se uma duração de 30 meses, a contar a partir da obtenção da autorização expedida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. A coordenação científica dos trabalhos ficará a cargo do arqueólogo M. Sc. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 3 Antônio Carlos Mathias Cavalheiro e, ainda, contará com a participação dos arqueólogos M.Sc. Jonas Elias Volcov, Eliane Maria Sganzerla, Eloi Bora e das historiadoras Gabriela Dors Batassini e Jacqueline Monteiro dos Santos, cujos currículos e declarações de participação seguem nos anexos 2 e 3. Este projeto de pesquisa, em suma, apresenta a descrição do empreendimento e a delimitação de suas áreas de abrangência; os objetivos e metodologias dos programas supracitados; as características ambientais de relevância arqueológica; e a caracterização do quadro de pesquisas arqueológicas desenvolvidas na região; o cronograma de atividades e recursos humanos necessários. Além destes conteúdos, serão apresentados, nos anexos, os seguintes documentos: Endosso Institucional da pesquisa, fornecido pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal do Paraná, MAE-UFPR; Atestados de Compromisso de Participação da Equipe Técnica Currículos do coordenador e dos pesquisadores participantes. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 4 2. HISTÓRICO ARQUEOLÓGICO DO PROJETO Seguindo os padrões e as normas da Portaria 230/02 do IPHAN, os trabalhos de arqueologia no processo de licenciamento ambiental da UHE Baixo Iguaçu previram três (3) etapas acrescidas de Educação Patrimonial. A primeira etapa, já concluída, de Diagnóstico e Avaliação de Impactos, foi realizada na fase de obtenção da Licença Prévia (LP) e compôs o EIA-RIMA (2007) da obra. A segunda etapa, de Prospecção Arqueologia intensiva, já concluída, foi realizada na Fase de obtenção de Licença de Implantação (2010/11). A terceira etapa, a ser realizada, para a qual apresentamos Projeto, é a execução do Programa de Resgate Arqueológico baseado nas diretrizes e critérios de relevância e prioridades propostos na etapa anterior e, realizado durante a fase de obtenção da Licença de Operação (LO). Essa é a etapa onde ocorrerão às escavações arqueológicas (Resgate arqueológico). Educação Patrimonial, a ser realizada, para a qual apresentamos Projeto, se faz pela implementação do Programa de valorização do patrimônio Arqueológico e históricocultural. Esta etapa também é realizada durante a fase de obtenção da Licença de Operação (LO), e deve iniciar logo em seguida aos trabalhos da etapa anterior, de Resgate aos sítios arqueológicos, assim, as escavações já podem ser exploradas educacionalmente. 2.1. FASE DE OBTENÇÃO DE LICENÇA PRÉVIA (LP). EIA-RIMA, Os trabalhos de Avaliação e Diagnóstico Arqueológico para compor os Estudos e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) do empreendimento foram realizados pela empresa Scientia Consultoria Cientifica Ltda, e estiveram sob a coordenação da arqueóloga Dra. Solange Bezerra Caldarelli em 2004. O método seguido foi o de Avaliação Arqueológica não Interventiva e serviram de base para avaliar os possíveis impactos sobre os bens arqueológicos decorrentes da implantação e PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 5 operação do empreendimento hidroelétrico, assim como para proposições de medidas mitigadoras e/ou compensatórias para os possíveis impactos. A fim de estimar o potencial da área como um todo, foram levantados dados secundários sobre arqueologia da região, bem como, realizado levantamento arqueológico no local, junto às áreas de Influência Direta do empreendimento através do método de Avaliação Arqueológica Rápida não Interventiva, apenas com inspeção de superfícies dos solos expostos. O objetivo era construir um panorama estimativo do potencial arqueológico, bem como da suas características e graus de ameaças em relação à implantação do empreendimento para projetar parâmetros e indicações específicas necessárias à minimização dos impactos sobre esses bens culturais. Os trabalhos em campo localizaram 18 locais com evidências arqueológicas. Destes 8 eram sítios arqueológicos, 7 Ocorrências isoladas e 3 eram informações orais de moradores locais que lembravam de já ter encontrado peças arqueológicas. Segundo os autores do Diagnóstico, em relação às fontes secundárias consultadas a época, estas atestaram, para todo o vale do rio Iguaçu, uma intensa ocupação humana em ampla faixa temporal. Há inúmeros sítios líticos (pedras lascadas), cerâmicos e históricos que representam a alta potencialidade do rio e de seus ambientes para assentamentos humanos, e concluíram, somados aos resultados obtidos em campo, pela existência de alto potencial arqueológico para as Áreas de Impacto Direto da UHE Baixo Iguaçu e recomendam a implementação dos Programas de Prospecção arqueológica intensiva e de Resgate Arqueológico como medida mitigadora e o Programa de educação patrimonial como medida compensadora. 2.2. FASE DE OBTENÇÃO DE LICENÇA DE INSTALAÇÂO (LI). As atividades executadas durante o Programa de Prospecção Arqueológica (2010/2011), um dos quesitos da Portaria 230 do IPHAN para obtenção da Licença de Instalação, resultaram na localização de cinqüenta e dois Sítios Arqueológicos (ST), de setenta e três Ocorrências Arqueológicas (OC) e na coleta de 336 materiais, que foram destinados a estudos sobre a arqueologia da região e acervo. Do total dos cinqüenta e dois sítios identificados, trinta e quatro são líticos, cinco são cerâmicos, doze são lito-cerâmicos e um é relacionado à arte rupestre. Estes sítios se localizavam, principalmente, na Área de Impacto Direto (AID), onde foram PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 6 registrados um total de quarenta e oito: quarenta em área destinada ao reservatório, quatro em área de infra-estrutura e posterior reservatório, três em Área de Preservação Permanente (APP – faixa de 100 metros) e um em área de infra-estrutura (canteiro na margem esquerda). No quadro abaixo, apresentamos a relação dos sítios arqueológicos identificados no Programa de Prospecção Arqueológica, indicando seus nomes, tipos, localizações e filiações culturais. FILIAÇÃO CULTURA MATERIAL TIPO NOME DO SÍTIO CÓDIGO DO SÍTIO COORDENADA MARGE M DO RIO IGUAÇU ÁREA DE ABRANG ÊNCIA SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS, LOCALIZAÇÕES E FILIAÇÕES CULTURAIS ÁREA ESPECÍFICA Tradição Geométrica Arte Rupestre (gravuras) Vista Alta BI01CLM-ST 22J 244386 7175970 Direita AII Entorno/faixa APP/ reservatório Lítico Barra do Sarandi BI02RLZ-ST 22J 248755 7171501 Esquerda AID Reservatório Lítico Ilha Montalvani 1 BI03CLM-ST 22J 236291 7173919 Direita AID Reservatório Lítico Córrego Laranjeira 2 BI11CLM-ST 22 J 232472 7176665 Direita AID Bota-fora Lítico Joy BI16CLM-ST 22 J 236439 7173911 Direita AID Reservatório Lítico Flores BI14CLM-ST 22 J 235302 7174827 Direita AID Reservatório Lítico Córrego Caçula 2 BI18CLM-ST Direita AID Reservatório Lítico Presotto 1 BI19CLM-ST Direita AID Reservatório Lítico Presotto 2 BI20CLM-ST 22J 239115 7170442 Direita AID Reservatório Lítico Linha Hortelã 1 BI22CLM-ST 22J 240376 7173157 Direita AID Reservatório BI25CLM-ST 22J 240029 7172986 Direita AID Reservatório BI27CPM-ST 22J 234647 7174474 Esquerda AID Reservatório Tradição Bituruna Lítico Lítico Sem identificação Linha Hortelã 3 Linha Vargem Bonita 22 J 236950 7173400 22J 239186 7170520 Lítico José Guerra BI28CPM-ST 22 J 234788 7174001 Esquerda AID Reservatório Lítico Fazenda Sinuelo BI30CPM-ST 22J 237133 7172192 Esquerda AID Reservatório Lítico Barra do Capanema 1 BI32RLZ-ST 22J 239294 7169355 Esquerda AID APP e Reservatório Lítico Barra do Capanema 2 BI33RLZ-ST 22J 238386 7169945 Esquerda AID Reservatório Lítico Olaria Realeza BI34RLZ-ST 22J 241614 7171563 Esquerda AID APP Lítico Matiuzzi BI35RLZ-ST 22J 241464 7170501 Esquerda AID Reservatório Lítico Kives BI36RLZ-ST 22J 241017 7173795 Esquerda AID Reservatório Lítico Lajedo Rodeio 1 BI40CLM-ST 22J 246125 7175417 Direita AID APP e Reservatório Lítico Lajedo Rodeio 2 BI42CLM-ST 22J 246397 7175496 Direita AID APP e Reservatório Lítico Foss 1 BI43CLM-ST 22J 244885 7176283 Direita AID APP e Reservatório Lítico Porto Três Irmãos 1 BI44CLM-ST 22J 244521 7176293 Direita AID APP e Reservatório PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 7 Ceramista não identificado Tradição Tupiguarani Tradição Itararé TIPO NOME DO SÍTIO CÓDIGO DO SÍTIO COORDENADA ÁREA DE ABRANG ÊNCIA FILIAÇÃO CULTURA MATERIAL MARGE M DO RIO IGUAÇU SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS, LOCALIZAÇÕES E FILIAÇÕES CULTURAIS Lítico Sartori 2 BI46CLM-ST 22J 244718 7177073 Direita AII Lítico Córrego Maria BI47CLM-ST 22J 245760 7177179 Direita AID APP e Reservatório Lítico São Brás BI48CLM-ST 22J 245591 7178473 Direita AID APP e Reservatório Lítico Vacaria BI50CPM-ST 22J 237450 7163518 Esquerda AID APP e Reservatório Lítico Linha Moraes BI51CPM-ST 22J 238516 7164665 Esquerda AID APP Lítico Alto Faraday BI52CPM-ST 22J 236034 7166810 Esquerda AID Reservatório Cerâmico Iguaçu BI23CLM-ST 22J 240474 7173112 Direita AID Reservatório Lítico de ceramista Córrego Estrela 1 BI04CPM-ST 22 J 235476 7173770 Esquerda AID Alagamento Lítico de ceramista Gonçalves Dias BI10CLM-ST 22J 231086 7177159 Direita AID Canteiro Lítico de ceramista Monteiro 1 BI12CLM-ST 22 J 233008 7176576 Direita AID Reservatório Esquerda AID APP e Reservatório ÁREA ESPECÍFICA Lítico de ceramista Luis Pitol BI29CPM-ST 22 J 236455 7172715 Lítico de ceramista Ouro Azul BI31CPM-ST 22J 238145 7170056 Esquerda AID Reservatório Cerâmico Córrego Saltinho 1 BI05CLM-ST 22J 234534 7175237 Direita AID Reservatório Cerâmico São Luís BI06CLM-ST 22J 232150 7176600 Direita AID Infra-estruturaalagamento Lito-cerâmico Córrego Laranjeira 1 BI07CLM-ST 22J 231959 7176517 Direita AID Infra-estruturaalagamento Lito-cerâmico Andrada 1 BI08CLM-ST 22J 244642 7175669 Direita AII Entorno externo APP Lito-cerâmico 0Córrego Saltinho 2 BI13CLM-ST 22 J 235194 7175060 Direita AID Reservatório Lito-cerâmico Ponte Alta BI21CLM-ST 22J 240190 7170277 Direita AID Reservatório Lito-cerâmico Linha Hortelã 2 BI24CLM-ST 22J 240429 7172916 Direita AID Reservatório Lito-cerâmico Córrego Leãozinho BI26CLM-ST 22J 241086 7175608 Direita AID Reservatório Lito-cerâmico Tecchio BI37RLZ-ST 22J 247682 7172204 Esquerda AID APP e Reservatório Lito-cerâmico Monteiro 2 BI38CLM-ST 22J 234311 7178867 Direita AID Reservatório Lito-cerâmico Porto Três Irmãos 1 BI39CLM-ST 22J 246180 7175249 Direita AID APP e Reservatório Lito-cerâmico Doring BI41CLM-ST 22J 246306 7175151 Direita AII Faixa da APP Lito-cerâmico Sartori 1 BI45CLM-ST 22J 244084 7178310 Direita AID APP Direita AID APP e Reservatório Lito-cerâmico Foss 2 BI49CLM-ST 22J 245581 7175676 Lito-cerâmico Marechal Lott BI09CPM-ST 22 J 232089 7175768 Esquerda AID Infra-estruturaalagamento Cerâmica Antenor Raubert BI15CLM-ST 22 J 236332 7173982 Direita AID Reservatório Lítico Córrego Caçula 1 BI17CLM-ST 22 J 236621 7173655 Direita AID Reservatório Quadro 1. Quadro de sítios arqueológicos localizados nas áreas de abrangência da UHE Baixo Iguaçu, com suas coordenadas e filiações culturais. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 8 A avaliação técnica do Programa de Prospecção sobre o potencial arqueológico e dos possíveis impactos decorrente da implantação e operação da UHE Baixo Iguaçu recomendou como medida preventiva e corretiva três (3) Programas Básicos Arqueológicos: de Resgate, de Monitoramento, e de Educação e Valoração Patrimonial. Os Programas de Resgate Arqueológico são aconselháveis e devem ser implementados como medida compensatória quando obras de engenharia ameaçam integridade de sítios arqueológicos e, quando não há possibilidade de mudanças no projeto para salvaguarda das áreas de interesse arqueológico cientifico. Nesses casos o Resgate arqueológico visa, através de produção de conhecimento sobre eles, incorporá-lo à Memória Nacional. A meta almejada pelos Programas é tentar minimizar e compensar os impactos negativos gerados pelas obras de instalação e operação da UHE Baixo Iguaçu sobre bens históricos/arqueológicos. A melhor estratégia, em consonância com a legislação e normas em vigência brasileiras e internacionais, refere-se à implementação e execução dos Programas Arqueológicos acima citados, que lidam diretamente com o bem patrimonial, cumprindo com o direito das comunidades humanas ao conhecimento do legado das gerações passadas. Abaixo apresentamos ilustração com o croquis de localização dos Sítios Arqueológicos localizados durante o Diagnóstico e o Programa de Prospecção Arqueológica PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 9 Figura 1 - Croquis de localização sítios arqueológicos UHE Baixo Iguaçu PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 10 3. O EMPREENDIMENTO A projetada Usina Hidrelétrica (UHE) Baixo Iguaçu é o último aproveitamento hidroelétrico em cascata previsto para o rio Iguaçu (afluente do rio Paraná). A opção de construção é de arranjo geral clássico, de derivação curta, e é composto por lago artificial (reservatório), circuito de adução e geração (canal de adução, conjuntos tomada d‟água/casa de força e canal de fuga), vertedouro, barragem de enrocamento e área de montagem. A potência nominal a ser gerada pela futura UHE será de 350 Megawatts e integrará o Sistema Elétrico Nacional. O reservatório a ser formado terá em média 31,63 km2 de superfície com um perímetro de 225 km e se nivelará na cota 259 metros de altitude, sendo que o total da área inundada territorial é de 13,59 km2. O empreendimento se localiza no sudoeste do Estado do Paraná. O eixo do barramento situa-se a 174 km da foz do rio Iguaçu sobre o rio Paraná e está imediatamente a montante da confluência do rio Gonçalves Dias e do limite leste do Parque Nacional do Iguaçu, entre os municípios de Capanema, na margem esquerda, e Capitão Leônidas Marques, na margem direita, sob as coordenadas geográficas 25º 30‟ 12‟‟ de Latitude e 53º 40‟ 18‟‟ de Longitude. O acesso rodoviário ao local do empreendimento se dá pela rodovia BR 277 até o entroncamento com a estrada PR 182/163, seguindo por essa até o município de Capitão Leônidas Marques. A distância de Foz do Iguaçu é de 120 km e de Curitiba é de aproximadamente 500 km. A Sociedade Anônima Geração água Grande do Grupo NEONENERGIA (CNPJ 09.136.819/0001-55) é detentora do direito de construção e operação da UHE Baixo Iguaçu obtida por leilão público. O empreendimento será construído pelo CCBI - CONSÓRCIO Construtor Baixo Iguaçu, consórcio este formado pela Construtora Norberto Odebrecht S.A., Voith Siemens Hydro Power Generation LTDA. e pela Engevix Engenharia S.A. A construção da UHE Baixo Iguaçu terá seu canteiro de obras centralizado e localizado à margem esquerda do rio Iguaçu, em área contígua à de implantação do barramento, com área total prevista de 0,7 km2. Ali estarão localizados as centrais de concreto, de armadura, de forma PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 11 e de britagem, alojamentos, oficinas, almoxarifados, escritórios, refeitórios e centrais de utilidade, bem como áreas de estocagem de materiais. Figura 2. Localização do empreendimento. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 12 3.1. ABRANGÊNCIAS Considerando a abrangência diversa dos efeitos ambientais do projeto, foram definidas, quando dos estudos de impacto ambiental, três escalas de análises: 1 - Área de Influência Macro regional (AIM) A Área de Influência em escala Macro Regional abrange toda a bacia hidrográfica do rio Iguaçu, considerando todas as usinas hidroelétricas existentes e àquelas constantes em planejamento governamental; 2 - Área de Influência Indireta (AII) A Área de Influência Indireta compreende toda a bacia incremental para o futuro reservatório, sendo os principais afluentes no trecho do barramento e reservatório, margem esquerda: rios Capanema e Cotejipe, Margem direita: rios Monteiro e Andrada. 3 - Área de Impacto Direto (AID) As Áreas de Impacto Direto consistem nos áreas atingidas pelo reservatório, faixa de proteção marginal, canteiro, acessos, bota-foras e demais intervenções, sendo esta a área de abrangência que concentrará a maioria dos trabalhos arqueológicos a serem desenvolvidos no Programa de Resgate Arqueológico. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 13 Figura 3. Área de Influência Indireta da Usina Hidrelétrica (UHE) Baixo Iguaçu. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 14 Figura 4. Área de Impacto Direto (AID) da Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 15 4. CONCEITUAÇÃO São considerados sítios arqueológicos os locais onde são identificados evidências de ocupações antigas. Colin Renfrew e Paul Bahn definem sítios arqueológicos como locais onde artefatos, ferramentas, estruturas, e vestígios orgânicos e ambientais são localizados juntos, caracterizando assim todos os locais onde houve atividade humana, seja para modificação ou obtenção de matéria prima, ou de estabelecimento temporário ou de duração indeterminada (RENFREW & BAHN, 2000: 50). As sociedades pretéritas, sejam simples ou complexas, produziram quantidades significativas de vestígios, que permitem aos arqueólogos estudar as relações existentes entre comportamento humano e a cultura material e, a partir de então, produzir inferências sobre a história dessas sociedades. Além dos vestígios arqueológicos propriamente ditos, o estudo do contexto ambiental fornece dados indispensáveis para a compreensão das estratégias de subsistências adotadas, migrações, mudanças paleoclimáticas e transformações culturais, impactos de atividades antrópicas antigas sobre o meio, entre outros. Nessa perspectiva, a Arqueologia é considerada uma ciência social voltada ao estudo de sociedades humanas, independente da cronologia, mas calcada nas marcas na paisagem e na cultura material remanescente, bem como de seu arranjo e articulação. Os sítios arqueológicos e vestígios nele encerrados devem ser tratados como vetores de informações passíveis de interpretação e reconhecidos como legítimos documentos da história, que expressam coisas sobre as pessoas que ali ocuparam e produziram cultura (BALLART, 1997). Para Sosa (1998) o patrimônio arqueológico deve ser entendido como um recurso frágil, não renovável e integrado ao espaço que ocupa. Ao considerá-lo como um recurso reconhece além de seu valor cultural, o seu valor econômico e a possibilidade de incorporação ao sistema social circundante, havendo, entretanto a necessidade da sua proteção e valorização. Define ainda a natureza do patrimônio arqueológico como uma produção cultural única e finita (porquanto seus criadores não mais existem), e específica quanto à disposição no espaço e na paisagem. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 16 Desse modo, a disciplina arqueológica é a indicada para tentar localizar e interpretar as ocupações humanas passíveis de ocorrência na área de influência do empreendimento, sejam essas ocupações relacionadas às populações indígenas - as quais recuam cronologicamente no tempo há milhares de anos atrás - ou à história da colonização da região. 1) Sítios arqueológicos (ST): o que basicamente o define é o quantum de informação que um determinado local ele encerra (DEETZ, 1967). Em 1958, Willey & Phillips definiram sítio arqueológico como a menor unidade do espaço a ser trabalhada pelo arqueólogo, podendo ir do pequeno acampamento à grande cidade. Os sítios arqueológicos apresentam expressivos vestígios em um determinado local, conformando estruturas com características afirmativas de atividade humana. A definição de sítio adotada no presente trabalho de caráter prospectivo é de que “sítio arqueológico” está intimamente ligado com os limites das conclusões que se podem tirar para formar as bases para modelos de permanência, fixação e uso da terra. Ou seja, sítio arqueológico é um local limitado que reúne informações materiais significativas sobre o tipo, cultura e utilização dos recursos ambientais por grupos humanos do passado em um determinado espaço geográfico. 2) Ocorrência arqueológica isolada (OC): Outro termo utilizado neste programa é o de Ocorrência Arqueológica Isolada (OC). As ocorrências arqueológicas, resumidas a uma, ou a um pequeno número de unidades, podem ser resultado de atividades ligeiras ou de objetos caídos, perdidos e/ou fora de sua origem transportados por meios naturais ou antrópicos. Apesar da aparente desconexão, os OCs ainda guardam informações, se não pela própria peça, pela tipologia, matriz e, ainda, por sua posição. Ás vezes OCs podem indicar áreas de atividade, caça, roça, entre outros, ou mesmo periferia de sítios arqueológicos. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 17 5. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO Os Programas Arqueológicos de Resgate, de Monitoramento e de Educação Patrimonial, para os quais apresentamos o Projeto para sua realização, foram recomendados pelo Programa de Prospecção Arqueológica realizado durante a Fase de obtenção de Licença Instalação nas áreas de abrangência da UHE Baixo Iguaçu em 2010/11. Os trabalhos relacionados ao Programa de Resgate Arqueológico possuem como finalidade específica o estudo do patrimônio arqueológico identificado durante a realização do Programa de Prospecção Arqueológica nas Áreas de Abrangência da Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu. Com esse objetivo as atividades aqui propostas seguirão as avaliações dos sítios constatados na nessa etapa anterior, e considerarão os critérios de prioridades e de significância arqueológica dos sítios e, ainda, as proposições teórico-metodológicas. Os sítios arqueológicos localizados durante o Programa de Prospecção Arqueológica, juntamente com aqueles resultantes das pesquisas realizadas em décadas anteriores (tal como a executada durante PRONANA – Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas – em finais da década de 1960, onde foram registrados 30 sítios arqueológicos (CHMYZ, 1971) 1, e aquelas relacionadas ao início e ao desenvolvimento da exploração do potencial hidrelétrico do rio Iguaçu a partir da década de 1970, como os trabalhos de prospecção e resgate associados às obras da UHE Salto Santiago (1975-1979), que resultou no registro de 41 sítios 2; de resgate na UHE Foz da Areia (1975-1979), onde foram identificados 35 sítios3, e na UHE Salto Segredo (1990), que apontou a presença de mais 32 sítios4; e, ainda, às atividades relacionadas à UHE 1 Esta pesquisa, realizada pelo Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná (CEPA – UFPR), compreendeu as margens do rio Iguaçu, divididas em três áreas: Alto, Médio e Baixo (CHMYZ, 1968). Em relação aos sítios arqueológicos identificados, 23 foram classificados como cerâmico, e 7 como nãocerâmico (CHMYZ, 1971). 2 O número real de sítios arqueológicos identificados é de 38, pois os sítios multicomponenciais receberam registros diferentes para cada camada de ocupação. Assim sendo, 29 dos sítios foram classificados como lito-cerâmicos associados à Tradição Itararé, 03 como líticos filiados à Tradição Umbu, 03 como multicomponenciais (précerâmico da Tradição Umbu e cerâmico da Itararé), 01 sítio da Tradição Bituruna e dais dois sítios, sendo um lítico e outro lito-cerâmico não associados a tradições arqueológicas. 3 Dos sítios arqueológicos resgatados, 04 eram lito-cerâmicos associados à Tradição Itararé, com casas subterrâneas e aterros alongados, 01 relacionado à Tradição Bituruna, e o restante ou seja, 30 sítios – não foram filiados a tradições arqueológicas. 4 Destes sítios 26 eram cerâmicos, sendo 24 atribuídos à Tradição Itararé e 02 à Tupiguarani, e 06 pré-cerâmicos. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 18 Salto Caxias, entre os anos de 1995 e 1999, que registraram e cadastraram 120 sítios)5, confirmam não só o grande potencial arqueológico e a essencial importância do rio Iguaçu para na ocupação humana pretérita, mas também a grande variabilidade da cultura material e de seu aspecto componencial, abrangendo tanto populações pré-históricas quanto históricas, sendo importantíssimas documentações para a construção de um passado plural e heterogêneo para o Oeste paranaense. Neste sentido, o Programa de Resgate Arqueológico por ora apresentado, cujo objetivo maior é minimizar os impactos negativos gerados pelo empreendimento e, sobretudo, compensar o mesmo mediante o resgate e a conservação de bens históricos/ arqueológicos, também se integrará com as atividades do Programa de Monitoramento Arqueológico e com o Programa de Educação Patrimonial. Para tanto são previstos trabalhos para cada sítio localizado e em seu contexto de ambientação, abrangendo coleta e processamento sistemático de dados, intervenções e escavações arqueológicas, execução de estudos e análises laboratoriais, ações de cunho educativo-patrimonial e apresentação dos resultados por meio de relatórios técnico-científicos. Ressalta-se que o planejamento e execução dos Programas devem ser compatíveis com o cronograma das obras, de forma a não prejudicar o desenvolvimento normal das pesquisas e das obras. Também deve seguir as prioridades de cobertura de áreas estabelecidas no Programa de Prospecção, em primeiro executar os trabalhos arqueológico e liberar as áreas destinadas a infraestruturas e barramento, para que se possa dar inicio as obras, e posterior, cobertura das áreas do reservatório e da faixa de depleção. 5.1. OBJETIVOS GERAIS Aplicar escavações exaustivas e sistemáticas nos sítios arqueológicos indicados pelo Programa de Prospecção Arqueológica da UHE Baixo Iguaçu; 5 Os trabalhos empreendidos na área de implantação desta UHE foram realizados, primeiramente, pela equipe do Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná (CEPA – UFPR) e sob a coordenaçãodo arqueólogo Dr. Igor Chmyz e, posteriormente, pelo Museu Paranaense, tendo como coordenadora a arqueóloga Dra. Cláudia Inês Parellada. Dos 120 sítios registrados, 02 foram relacionados à tradição Neobrasileira, 34 à Tradição Tupiguarani, 40 à Tradição Itararé, 03 à Tradição Bituruna, 36 à Tradição Humaita, 14 à TradiçãoUmbu, 03 a inscrições rupestre associados à Tradição Geométrica e 03 sítios líticos não relacionados às tradições arqueológicas. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 19 Promover o registro detalhado de cada sítio e de seu contexto de ambientação; Processar a coleta sistemática de amostras da cultura material contida em cada um dos sítios arqueológicos e de amostras geoarqueológicas necessárias à compreensão dos contextos abordados; Coletar amostras apropriadas para datação pelo método Termoluminescência ou Carbono 14, de modo a obter cronologias de ocupação da área; Encaminhar as amostras coletadas para fins de datação aos laboratórios especializados; Elaborar relatórios mensais que especifiquem as atividades desenvolvidas em campo; Realizar estudo e análise laboratorial do material coletado no decorrer das escavações arqueológicas, compreendendo: higienização, inventário, análises, interpretação, acondicionamento e guarda dos materiais e da documentação científica gerada em área de reserva técnica arqueológica; Sistematizar as informações obtidas; Executar ações de cunho educativo-patrimonial em sinergia com o Programa de Educação Patrimonial da UHE Baixo Iguaçu (visitas monitoradas as escavações arqueológicas); Construir a síntese da pesquisa arqueológica; Sistematizar e interpretar os dados de campo e de laboratório; Apresentar os resultados da pesquisa arqueológica, por meio de relatórios técnicocientíficos, conforme exigências expressa na portaria de autorização da pesquisa, especificando as atividades desenvolvidas e apresentando os resultados científicos sobre a arqueologia do universo estudado (Portaria n. 230/2002); Construir e apresentar o Relatório Final. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 20 5.2. METODOLOGIA Um Programa de Resgate Arqueológico se desenvolve em várias atividades. É preciso realizar arrolamentos exaustivos sobre a arqueologia e a etno-história regional, levantar e registrar a paisagem-arqueológica local, identificar pontos de oferta de matérias-prima e de nichos de produtos relacionados a subsistências e, principalmente, a execução de escavações arqueológicas, atividade esta mais demorada e de maior custo financeiro. As escavações arqueológicas buscam evidenciar a organização do espaço vital do homem no passado, tentando reconstituir as atividades sociais em um determinado local (BINFORD: 1983, 179). Neste sentido, os trabalhos de escavação visam à evidenciação da espacialidade da cultura material deixada, in loco, por meio de decapagens em uma perspectiva contextual (horizontal) e temporal (vertical), objetivando “revelar” o passado e estabelecer a diversidade e a complexidade das estruturas arqueológicas nas dimensões temporal, espacial, cultural e social. Os métodos e as técnicas de escavações arqueológicas se desenvolveram muito por influência dos desdobramentos da própria Geologia e, principalmente, pelo trabalho de Hutton - que estabeleceu o princípio do uniformismo - e, mais tarde, de Lyell (RENFREW & BAHN, 2000), onde estabelecem os princípios da estratigrafia através da sua associação com estratos contendo vestígios inorgânicos com alterações intencionais (objetos trabalhados pelo homem) e com ossos de animais extintos (LLORET, 1997: 41). No entanto, durante algum tempo ainda, a estratigrafia, em termos arqueológicos, seria encarada como uma construção teórica, definida pelo conteúdo dos estratos e não através da disposição física da estratificação. Desta forma, as escavações eram feitas por estratos artificiais (de espessura arbitrária previamente estabelecida), elaborando-se depois a estratigrafia, de acordo com as percentagens de material de cada camada e a sua profundidade (LLORET, 1997: 152). Entre os séculos XIX e XX, o general Pitt-Rivers e Sir Flinders Petrie estabeleceram os primeiros parâmetros para uma escavação com grande qualidade de registros (RENFREW & BAHN, 1996: 28). Pitt-Rivers (1827–1900), general do exército britânico, desenvolveu escavações lentas e meticulosas, inspiradas no rigor militar da sua formação, nas suas propriedades no sul de Inglaterra (TRIGGER, 1989: 197). Serão estes os primeiros arqueólogos PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 21 a estabelecer escavações meticulosas, com registros exaustivos e cuidados com todo vestígio localizado. Apesar do rigor pretendido por estes homens, faltava ainda o estabelecimento de uma metodologia que regularizasse os trabalhos arqueológicos, que pudesse servir de guia a arqueólogos e que se impusesse de forma quase universal. Este fator permitiu que o método instituído por Sir Mortimer Wheeler, na década de 1930, estabelecesse as bases de uma moderna Arqueologia (LLORET, 1997: 154). Apesar de colher diretamente dos seus antecessores influências metodológicas, coube a Wheeler o mérito de ter sistematizado, aperfeiçoado e executado o seu método (RAPOSO, 1996: 77). O método Wheeler (como viria a ficar conhecido), estabeleceu aquilo que se viria a se tornar a imagem de marca da Arqueologia moderna: as escavações verticais por quadriculamento do terreno com preservação de porções lineares (bermas) do mesmo como testemunhos estratigráficos. Com o desenvolvimento de um pensamento processualista na arqueologia, se apresentam novas visões sobre os problemas metodológicos encontrados, mais adequados às novas questões colocadas pela Arqueologia. Percebeu-se que a existência das bermas, propostas pelo método Wheeler, levantava problemas à correta percepção do registro horizontal da escavação (LLORET, 1997:154). Assim, na década e 1970, Barker apresentou uma nova visão sobre os problemas metodológicos ao propor que todo o sítio arqueológico deveria ser escavado, não recorrendo a seções ou trincheiras de amostragem (BARKER, 1993). Assim, não deveriam ser deixadas interrupções físicas no interior da área escavada, pois, regra geral, “um sítio arqueológico é provavelmente três vezes mais complexo em plano do que parece ser em secção” (LLORET, 1997: 154; BARKER, 1993). Nascia, assim, o método open-area, baseado na suposição da escavação de superfícies amplas de terreno (LLORET, 1997: 154). Este método pretendeu, antes de mais nada, ter em conta cada camada ou seqüência estratigráfica na sua integridade horizontal (PELLETIER, 1985: 69). O método de escavação em amplas superfícies privilegia, portanto, mais as inter-relações sócias intra-sítios, os modos de vida e a utilização do espaço do que dispersão espacial/cultural/cronológica que os trabalhos histórico/culturalistas até então desenvolviam. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 22 O arqueólogo francês Leroy-Gourhan desenvolveu durante a década 1950 o método topográfico/etnográfico que aliava intervenções verticais e de amplas superfícies. Suas escavações em abrigos e cavernas foram executadas com o desenvolvimento de abordagens verticais na execução de perfis (para detecção dos perfis estratigráficos do sítio), na execução de trincheiras (para detectar os mais diversos tipos de vestígios como fogueiras, sepultamentos, entre outros), e da abertura de amplas superfícies com decapagens por níveis naturais em áreas no interior do sítio com concentração de cultura material, as quais foram localizadas em abordagens verticais. Esse procedimento metodológico possibilitou as evidenciações de contextos de atividades sociais diversas, tendo como fulcro, o sítio, o espaço, a cultura material e a temporalidade, onde o fundamental era se conhecer o cotidiano das populações préhistóricas. 5.2.1. Escavações e coletas arqueológicas Em relação aos métodos de escavação, deverão ser empregados tanto abordagens verticais como horizontais, adotando-se o método topográfico/etnográfico de Leroi-Gourhan de forma a obter dados referentes às: Atividades humanas desenvolvidas em um período particular da ocupação do local; Mudanças ocorridas nestas atividades ao longo do tempo; Semelhanças e diferenças entre os sítios estudados e os da região. Lidaremos desta forma, com atividades que se desenvolveram de forma contemporânea estando, portanto, dispostas de forma horizontal no espaço, e com as mudanças nas mesmas, que ocorrem de forma vertical ao longo do tempo (RENFREW & BAHN: 1996, BARKER: 1993). Assim sendo, as escavações arqueológicas, ao mesmo tempo evidenciam solos contemporâneos de ocupação, também lidam com a sucessão dos solos, definindo variações nas formas de apropriação do terreno. A técnica de escavação deverá enfatizar a dimensão horizontal, de superfícies amplas, trabalhando sempre com a planta topográfica da área de precisão milimétrica com plotagem das peças, conjuntos de peças ou estruturas. Isto se sucederá em profundidade, no momento em que PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 23 cada solo evidenciado for devidamente mapeado e as peças coletadas, afundando-se em seguida para níveis mais profundos. O objetivo é revelar as relações espaciais entre estruturas e artefatos no espaço dos sítios. Todo o sedimento retirado deve ser peneirado, as características e quantidades da matriz e do arcabouço anotadas e, coletados os materiais arqueológicos ou evidência arqueológicas móveis com valor arqueológico-cronológico, devidamente acondicionados em sacos plásticos com a identificação de procedência, delimitação das ocorrências, realização de croquis e descrição em fichas padronizadas. Para o estabelecimento de cronologia absoluta, especial atenção deverá ser dada à coleta de material orgânico para datação arqueológica (método do C14), principalmente na forma de carvões, encontrados em estruturas de combustão (fogueiras), já que este se mostra um dado fundamental na análise dos sítios e de todas as discussões arqueológicas regionais realizadas ao término das escavações. As amostras deverão ser processadas, selecionadas e enviadas a laboratórios especializados, para o qual sugerimos o laboratório Beta Analytic Inc, situado na Florida - EUA, uma vez que não contamos com serviço de qualidade similar no Brasil. É de relevância ressaltar que as datações servirão tanto como um dos fundamentos na distinção de diferentes assentamentos que se processaram na área, quanto para o estudo do desenvolvimento interno de cada um deles. Outro ponto importante será definir as características funcionais dos sítios (se de habitação, cemitérios, acampamentos, sítios cerimoniais), visto exigirem estudos específicos de territorialidade e articulação dentro do sistema. Para a coleta das Ocorrências Arqueológicas (OC‟s), que são peças isoladas e/ou dispersas em baixa densidade no entorno imediato aos sítios, realizaremos com vistas à valorização da distribuição espacial dessas ocorrências, georreferenciá-las com a utilização de GPS de precisão centimétrica, de modo que em uma etapa posterior do trabalho se possa, e dadso para futuras pesquisas, através de softwares de sistemas de informação geográfica (GIS), cruzar todos os dados, produzindo mapas de dispersão do material em qualquer escala para manipulação em laboratório. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 24 Os padrões de distribuição constituem importante elemento de análise. Através da identificação de regularidades na disposição dos vestígios no interior dos sítios (análise intra-sítio) ou na disposição dos sítios entre si (análise inter-sítio) é possível evidenciar características de territorialidade, de organização e de interação sócio-econômicas. Assim sendo, artefatos, estruturas ou sítios não fazem sentido se examinados isoladamente, só podendo ser compreendidos como partes interagentes de um sistema sociocultural, dentro de uma estrutura articulada e dinâmica (RENFREW & BAHN,1996). 5.2.2. Laboratório É, nesta etapa, que serão processados os dados obtidos a partir das escavações arqueológicas e atividades de campo, sendo feitas análises técnicas que culminarão na criação e obtenção de novos conhecimentos. Os trabalhos de laboratório deverão tratar da limpeza e da identificação referencial, da triagem segundo a natureza dos objetos, da identificação das matérias-primas, da forma, do tamanho, da tipologia, da análise paleológica, dos sedimentos, da traceologia e da antropologia física, bem como das datações absolutas C-14 e termoluminescência). As atividades laboratoriais serão iniciadas concomitantemente ao início das intervenções e escavações do Programa de Resgate Arqueológico, não só para que se estabeleça de imediato, uma inter-relação entre as informações geradas nos trabalhos de campo e aquelas, já mais refinadas, obtidas em laboratório, mas também para que se gere níveis mais elevados de informações e comunicações para o Programa de Educação Patrimonial. 5.2.2.1. Limpeza, Identificação, Análise e Acondicionamento O material coletado em campo - que será imediatamente acondicionado em pacotes plásticos individuais com etiquetas de identificação com informações referente ao sítio ou ocorrência na seqüência diária de trabalhos, à coordenada UTM, ao contexto de deposição, à data da coleta, à PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 25 relação de fotografias realizadas em campo e à sucinta descrição do material -, irá ser organizado em pacotes identificados por rótulos primários que abrangerá: a) Identificação do projeto b) Código da peça c) Descrição da peça; d) Dimensões da peça; e) Contexto de deposição; f) Data da coleta. EPPC LTDA Projeto de Resgate Arqueológico – UHE-BI UHEBI-OC1L1 Instrumento bifacial silicificado 4,5 x 11 x 2,2 22 K 601414 6816825 Superfície xx/xx/xxxx sobre seixo de arenito Figura 5. Exemplo de rótulo primário a ser utilizado. As atividades laboratoriais consistirão no tratamento e na análise da cultura material coletada, que abrangerá os seguintes itens: 1) Higienização do material arqueológico, variando os procedimentos de acordo com os tipos de materiais, com o objetivo de não danificá-los de forma alguma; 2) Registro definitivo, individualizado e descritivo de cada peça, onde se ratifica, modifica ou completa o registro realizado em campo; 3) Marcação das peças de acordo com o sistema de codificação apresentado acima, realizando-se a aplicação de uma camada de laca em zona adequada da peça (no caso de materiais cerâmicos, na face interna e, no caso de materiais líticos, em face com o mínimo de lascamento ou com sua ausência), seguida, após a secagem, da escrita do PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 26 código com tinta nanquim preta ou branca e finalizada, posteriormente à secagem da tinta, com uma cobertura de laca transparente para a fixação; 4) Registro fotográfico dos conjuntos de peças de cada sítio, visando à representação do conjunto artefatual como um todo; 5) Realização de descrição, análise e inventário individual das peças, assim como preenchimento de tabelas e pranchas específicas para cada tipo de artefato; 6) Seleção dos materiais mais representativos dos conjuntos para o recebimento de tratamentos mais detalhados, tais como a criação de desenhos, elaboração de fotografias e reconstituição gráfica; 7) Reconstituição dos materiais que apresentarem esta possibilidade; 8) Embalo dos materiais, que serão agrupados por formas ou coleção, para depósito definitivo em instituição museológica. 5.2.2.2. Considerações teórico-metodológicas na análise do material lítico As análises tipológicas em arqueologia foram impulsionadas pelo trabalho da lista de tipos de F. Bordes de 1950, para o período Auchelense e Paleolítico Médio com a noção básica de estratégias de redução de núcleos. As informações qualitativas e quantitativas provenientes deste tipo de análise possibilitaram a substituição da utilização do artefato guia, onde um instrumento particular era tomado como marcador cultural. Na prática, no entanto, a análise tipológica permaneceu isolada de seu objetivo original, o contexto comportamental, decorrente das dúvidas a respeito da eficiência da utilização das tipologias morfológicas em interpretações da variabilidade cultural no registro arqueológico. Assim, a utilização da classificação sistemática dos artefatos pelas análises tipológicas restringiu-se na elaboração de uma descrição históricocultural (BAR-YOSEF, 2009). A principal crítica a esta metodologia centra-se na impossibilidade de se compreender a natureza da variabilidade das indústrias líticas somente a partir das características morfológicas, ou no foco de instrumentos retocados e brutos com marcas de usos, sem considerar a dinâmica do processo de produção lítica, englobando uma interpretação que inter-relacione os demais vestígios do registro arqueológico, como núcleos e lascas, fornecendo uma compreensão das PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 27 atividades técnicas desenvolvidas. Complementando esta questão, Fogaça (2003) enfatiza que a tipologia desconsidera a gênese do artefato (os processos de produção, com aquisição de matéria-prima, produção, uso e função, reciclagem e descarte) ao pressupor que a forma do objeto corresponde somente a conceitos mentais estabelecidos e não a eventuais readequações e reformulações de uso e acidentes provocados durante a produção do instrumento. Assim, ao desconsiderar o artefato como resultado de um processo tecnológico, proveniente de uma relação entre agente, objeto técnico e material, as análises tipológicas priorizam o aspecto final do instrumento ao vincular a forma a uma função, a partir de analogias a objetos presentes na experiência pessoal de cada pesquisador (MELLO, 2005). Assim, os estudos de tecnologia em arqueologia foram impulsionados, sobretudo a partir do desenvolvimento de conceitos vinculados à antropologia social, filosofia da ciência e préhistória, por Leroi-Gourhan e Lemonnier, que visavam explicar a evolução da tecnologia (VIANA, 2005; SELLET, 1999). Dentre estes conceitos, destaca-se a idéia embrionária de chaîne opératoire cunhado inicialmente por Mauss, como ferramenta na descrição das técnicas tradicionais, sobretudo em observações etnográficas, concebendo o ato técnico como uma sucessão de etapas inter-relacionadas. No entanto, Mauss enfatizava que a técnica existe independente do instrumento, pois há técnicas do corpo, caracterizadas pelo modo de caminhar, falar e correr, e técnicas instrumentais, reduzindo estas a uma tendência funcional de aquisição e consumo de objetos (VIANA, 2005; FOGAÇA, 2003; MELLO, 2005). Por sua vez, Leroi-Gourhan, na obra La geste et la parole de 1950, difundiu o conceito de cadeia operatória, apontando que a produção de instrumentos técnicos são provenientes de três grandes processos: aquisição (matéria prima), fabricação e consumo. Na totalidade de sua obra, o autor também enfatizava o movimento e seu resultado, ao considerar o instrumento como uma exteriorização do homem, sendo impossível analisar um instrumento isoladamente, já que este, tecnicamente, só existe com os gestos, permitindo a dinamização entre técnicas do corpo e instrumentais de Mauss. Assim, Leroi-Gourhan concretizou o conceito de cadeia operatória ao considerar a técnica como “simultaneamente gesto ou utensílio, organizados em cadeia para uma verdadeira sintaxe que dá às séries operatórias a sua fixidez e subtileza” (1985: 117). PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 28 A análise do material lítico a ser resgatado pelo Programa de Resgate Arqueológico da UHE Baixo Iguaçu seguirá uma abordagem voltada para compreender as etapas de redução dos artefatos, tendo em vista que toda tecnologia lítica se organiza a partir da debitagem e/ou da façonagem. No primeiro caso, núcleos são preparados para a extração de lascas que servirão de suporte aos instrumentos; já no segundo, o próprio núcleo serve de suporte para os instrumentos. Para Collins (1975), os seguintes estágios são observados tanto na debitagem quanto na façonagem: 1) Aquisição da matéria-prima; 2) Preparação inicial do núcleo (debitagem) ou redução inicial do suporte (façonagem); 3) Redução primária (dando origem a bifaces e unifaces); 4) Redução secundária, ou seja, retoque; 5) Reavivamento ou reciclagem. No caso dos instrumentos, especialmente, utilizaremos esta abordagem para classificálos conforme possuam apenas lascamento primário ou também retoques. Instrumentos 1) Com lascamento primário: poucas retiradas ao longo do contorno da peça, sem retirar completamente o córtex, e sem trabalho posterior para refinar os bordos; 2) Com retoques: após um lascamento primário mais intenso, retirando completamente o córtex, o artesão refinou os bordos do instrumento através de retoques contínuos ao longo do contorno da peça. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 29 As lascas que resultam deste processo podem fornecer informações mesmo na ausência de instrumentos ou núcleos. Podemos, assim, classificá-las como: 1) Lascas corticais ou primárias (com a superfície dorsal completamente coberta por córtex): relacionadas à preparação inicial dos núcleos ou à redução inicial (retirada do córtex) dos instrumentos; 2) Lascas de preparação de núcleo ou secundárias: lascas grandes e espessas que apresentam negativos de retiradas anteriores (portanto, não estão mais completamente cobertas por córtex); 3) Lascas de redução de biface: são aquelas resultantes da produção de instrumentos; são lascas pequenas, finas e ligeiramente curvas que apresentam, em sua superfície dorsal, negativos dos estágios anteriores de redução do instrumento. Lascas Lasca de preparação de núcleo Lasca de redução de biface Lasca de redução de biface Tal perspectiva pode ser combinada com os pressupostos de Andrefsky (1998) no que se refere à função dos sítios: quanto maior a diversidade artefatual de um sítio (e acrescentamos, quanto mais etapas de redução estiverem representadas), maior seria o número de atividades desempenhadas e o tempo de permanência no local. Sítios efêmeros de atividades específicas seriam indicados por baixa variedade artefatual e por apenas algumas das etapas de redução (por exemplo, apenas instrumentos, sem debitagem ou lascas que indiquem a produção dos instrumentos no local). PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 30 A análise do material lítico levará em conta ainda, como metodologia de base, os preceitos propostos pelos estudos relacionados à concepção de cadeia operatória6 e desenvolvidos por Boëda (1997 apud HOELTZ, 2005; MELLO, 2005), empregados por FOGAÇA (2003) HOELTZ (2005), VIANA (2005) e MELLO (2005), onde serão levados em consideração, essencialmente, os seguintes aspectos: aquisição de matéria prima, produção (gerenciamento e/ou uso), e manutenção/descarte. A aquisição de matéria-prima consistirá na avaliação de dois fatores: acessibilidade (indicando os tipos de matérias primas utilizadas e sua disponibilidade na região), e características (qualidade de lascamento, origem da matéria prima – transporte terrestre ou fluvial). A análise da produção focará na descrição das etapas de lascamento empregadas na produção de um instrumento, objetivando a leitura diacrítica dos gestos técnicos, almejando o detalhamento dos conhecimentos cognitivos utilizados. Além disso, permite estabelecer os esquemas de produção (debitagem7 e façonnage8) e inferir o funcionamento do objeto (Unidades TecnoFuncionais9). A partir dos dados levantados na etapa anterior, é possível identificar possíveis estratégias de manutenção de determinados instrumentos, como o reavivamento do gume, ou reutilização de instrumentos quebrados, alterando os sistemas de função (para que) e de funcionamento (como) 6 Segundo Boëda (1995 apud Mello, 2005), a cadeia operatória é a totalidade dos estágios técnicos necessários na produção de instrumentos, desde a aquisição de matéria prima bruta até o seu descarte, incluindo os vários processos de transformação e utilização de instrumentos. 7 “A debitagem consiste em produzir retiradas, em detrimento de um bloco, que servirão imediatamente como instrumentos ou que serão objeto, num segundo momento, de uma transformação em instrumento” (FOGAÇA & BOEDA, 2006: 675-6). O objetivo deste procedimento é a obtenção de suportes, no caso lascas, que poderão ser usados imediatamente, ou configurados a partir de lascamentos subseqüentes, indicados pela façonnage. Neste processo, são identificados, portanto, lascas e núcleos. 8 “O façonnage consiste na redução por etapas sucessivas de um bloco de matéria prima tendo em vista conseguir um instrumento ou uma matriz cujas bordas serão, num segundo momento, arranjadas para a obtenção de vários instrumentos. (FOGAÇA & BOEDA, 2006: 676). Neste procedimento, o alvo é a configuração de um suporte, seja uma lasca ou um bloco, em um instrumento, não havendo núcleo, pois o interesse do artesão é produzir um instrumento a partir do suporte. Como o suporte pode ser uma lasca, este procedimento pode complementar a produção de instrumento iniciado com o processo de debitagem. 9 Segundo Lepot (1993 apud HOELTZ, 2005) um instrumento é formado por três partes: a receptiva, a qual recebe a energia necessária para o funcionamento do objeto, a preensiva, que permite o instrumento funcionar – sobrepondo-se a primeira em muitos casos, e a transformativa. Segundo Boeda (1997 apud HOELTZ, 2005) cada uma destas partes pode ser formada por uma ou mais Unidades Tecno-Funcionais (caracteres técnicos que coexistem em uma sinergia de efeitos), possibilitando a compreensão de uma complexidade organizacional no funcionamento do instrumento. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 31 projetados inicialmente para o objeto técnico. A impossibilidade técnica de transformação do instrumento ou inadequação ao uso, por exemplo, são aspectos que podem levar ao descarte do objeto. 5.2.2.3. Considerações Teórico-Metodológicas na Análise do Material Cerâmico Os materiais cerâmicos, em suas variadas categorias, apresentam um essencial potencial interpretativo para os estudos arqueológicos. Geralmente exumados dos sítios arqueológicos cerâmicos em grande quantidade, estes testemunhos materiais apresentam um importante número de características e questões passíveis de serem analisadas e interpretadas: podem-se inferir sobre sociabilidades, hábitos alimentares e higiênicos, padrões econômicos, trocas comerciais, relações de prestígio, relações diante da morte, questões de gênero, entre outros. Recentemente, os estudos relacionados ao material cerâmico tem se diferenciado, apontando para estudos tecnotipológicos associados à concepção de cadeia operatória (MEDEIROS, 2007). Neste sentido, a análise da cerâmica, para além de quantitativa e serial10, tem se tornando também qualitativa, assinalando para a técnica não como um modo de satisfazer as necessidades materiais de um determinado grupo, atuando como apenas uma estratégia de adaptação ao meio, mas, ao contrário, como integrante de um sistema social, feito de escolhas e associada aos demais subsistemas que fazem parte da composição de uma sociedade (MEDEIROS, 2007: 2122), contendo significados simbólicos e traços importantes da dinâmica cultural. 10 Tal metodologia de análise, ainda utilizada em pesquisas, foi amplamente utilizada pelo Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA), que se voltou, de acordo com Ana Nascimento e Suely Luna, aos estudos dos grupos ceramistas. Neste sentido, “para classificar a cerâmica, foram estabelecidos parâmetros que identificavam os tipos, fases e tradições ceramistas a partir dos dados arqueológicos, utilizando-se também correlações etnohistóricas e etnolinguísticas”, tendo como principais elementos de classificação o antiplástico, a decoração e as formas dos vasilhames (Cf.: LUNA & NASCIMENTO, 1994: 8). Com o encerramento do PRONAPA (1965-1970), iniciou-se um questionamento do quadro até então estabelecido em relação a aspectos teórico-metodológicos. Neste sentido, diante das críticas, novas propostas de análise e reflexão começaram a surgir, “onde a perspectiva principal é integrar a cerâmica em um contexto mais amplo” (LUNA & NASCIMENTO, 1994: 9), sendo necessário que, conforme Medeiros (2007: 21), o arqueólogo não compreenda a cultura material pela cultura material, mas que “estude o artefato dentro dos contextos sociais, culturais e tecnológicos, acima de tudo buscando compreender como as escolhas estão inseridas nesses contextos: dos gestos técnicos que estruturam a manufatura de uma dada cultura material, perpassando pelo seu emprego social até o descarte”. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 32 Neste âmbito, várias técnicas instrumentais têm sido utilizadas para a análise e compreensão do material cerâmico com o intuito de compreender os grupos sociais pretéritos (GOULART, 2004; MEDEIROS, 2007). Dentre elas, ressaltam-se a microscopia óptica (GOULART, 2004) e a utilização da fluorescência induzida por raios ultravioletas. Por meio da microscopia óptica, “técnica que permite a caracterização dos materiais de interesse arqueológico, sejam as matérias-primas, sejam os produtos cerâmicos [...]” (GOULART, 2004: 251), pode-se obter informações valiosas sobre os materiais cerâmicos, tais como forma, constituição mineralógica da pasta, distribuição granulométrica, procedimentos técnicos de manufatura, presença de minerais corantes, utilização de aditivos – ou seja, de materiais adicionados à massa cerâmica para se conseguir técnicas propícias a uma boa secagem e cocção (GOULART, 2004: 257), tratamentos de superfície e a existência de fissuras ou quebras na pasta cerâmica, assim como bolhas de ar. Já com a fluorescência visível induzida por raios ultravioletas, técnica esta não destrutiva, pode-se obter informações a respeito de aspectos técnicos de execução e de constituição de materiais não mais visíveis a olho nu, como a presença de decorações muito desgastadas (IPINZA & POBLETE, 2011). Ambos os métodos, assim sendo, são capazes de oferecer uma vasta quantidade de dados essenciais para se compreender as técnicas utilizadas por grupos sociais que as produziram e, conseqüentemente, as etapas de produção do artefato cerâmico, sem perda significativa do material a ser analisado. Para a análise do material cerâmico, utilizaremo-nos da definição genérica de cadeia operatória, ou seja, da seqüência de operações para a realização da transformação da matéria-prima em artefato (PFAFFENBERGER apud MACHADO, 2006). A aplicação de tal conceito para a compreensão e em uma forma de classificação de conjuntos cerâmicos deve, portanto, considerar uma ampla gama de atributos relacionados a diferentes etapas desta cadeia, levandose em consideração a percepção de combinações entre distintas escolhas tecnológicas no momento da manufatura, tais como matérias-primas selecionadas, técnicas de manufatura, tratamentos de superfície, resultados formais, técnicas decorativas e, até mesmo, atividades de uso e de descarte (MACHADO, 2006). PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 33 Para obter tais informações, a análise do material cerâmico será executada em duas etapas: uma quantitativa e outra qualitativa. Na primeira delas, ou seja, na qualitativa, levar-se-á em apreensão de questões tipológicas e morfológicas, com o intuito de se estabelecer etapas de manufatura para os materiais exumados. Em relação à morfologia, nossas observações se encontram consorciadas ao sistema de classificação cerâmica de Birkhoff (1933) e adaptada por Shepard (1965). Conforme Machado embasada nos escritos de Shepard (2006: 90), “a classificação [...] baseia-se na observação e descrição dos pontos considerados chaves do contorno do pote, a partir dos quais é possível se ter uma idéia das dimensões”, onde devem ser observados (MACHADO, 2006: 90): a) O ponto final da curva, na base ou lábio; b) Os pontos que medem o diâmetro máximo e mínimo da curvatura; c) O ponto que marca uma mudança abrupta na curvatura; d) O ponto que marca a inversão na direção da curvatura O emprego de tal sistema de pontos-chave do material cerâmico proporciona a compreensão da morfologia dos instrumentos cerâmicos, facilitando também sua projeção e reconstituição a partir de fragmentos específicos, como no caso das bordas (MACHADO, 2006). Na análise cerâmica aqui proposta, tendo-se em vista a lida não com vasos cerâmicos inteiros, mas sim com fragmentos cerâmicos, tais categorias serão simplificadas, adotando-se como parâmetros de análise a base, o bojo e a borda. Aqueles elementos que não apresentarem características para se afirmar que pertençam a alguma destas três categorias, serão classificados como fragmentos de cerâmica (MEDEIROS, 2007: 84). Importante também para a análise a ser desenvolvida são as classificações de estruturas de potes propostas por Shepard (apud MACHADO, 2006), onde podem ser de: a) Orifícios restritivos (“restricted orifice”); b) Orifícios irrestritivos (“unrestricted orifice”); c) Pescoço ou gargalo (“neck”). PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 34 Os orifícios restritivos são, normalmente, definidos como tendo o diâmetro de seu orifício menor que o maior diâmetro das vasilhas; já os irrestritivos, possuem nos seus orifícios o maior diâmetro das vasilhas; e os pescoços ou gargalos são marcados por um ponto de inflexão abrupto que delineia o fim do corpo do pote e o início do gargalo (MACHADO, 2006: 90). Conforme Machado (2006: 90), mesmo que essas divisões não impliquem fundamentalmente em funções específicas, cada uma das formas se adapta melhor a diferentes tipos de utilizações. Assim sendo, de acordo com a estudiosa, os potes que apresentam orifícios irrestritivos, teriam um fácil acesso ao seu interior e uma grande visibilidade do mesmo, podendo ser grandemente utilizados para ações que exigissem um manuseio de seu conteúdo, ou para que este ficasse à mostra ou secasse; já aqueles que contêm orifícios restritivos, dificultariam o acesso ao seu conteúdo retendo-o e conservando-o melhor; e, por último, os potes que possuem gargalo/pescoço possuiriam o atributo de proteger o líquido de seu interior de ser derramado para fora, tendo ainda seu manuseio facilitado. Ainda com relação à morfologia e à análise quantitativa, serão observadas e anotadas a espessura das paredes de borda, de bojo e de base; os tipos de borda, bojo e lábios; os ângulos de cada uma das três categorias; os tratamentos de superfície, tanto em paredes internas quanto externas; a pasta e a queima. Com os dados referentes às espessuras das paredes11, poderemos levantar questões sobre etapas da cadeia operatória, tanto em seu processo de manufatura quanto em seu emprego utilitário, ou seja, seu uso no preparo de alimentos. Já as informações acerca dos ângulos da borda, do bojo e da base, assim como de seus tipos12, auxiliarão na reconstituição do vaso cerâmico, apontando dados relevantes sobre tamanhos e volumes. Ainda, com o estudo das marcas de utilização, do tratamento de superfície e da queima, buscaremos recorrências que indiquem modos de se fazer. 11 As espessuras serão analisadas a partir dos critérios propostos por Alves (1992), onde: A parede muito fina possui medidas ≤ a 06 milímetros; A parede fina possui medidas entre 07 e 09 milímetros; A parede média possui medidas entre 10 e 14 milímetros; A parede grossa possui medias entre 15 a 20 milímetros; A parede muito grossa possui medidas maiores a 20 milímetros. 12 Os tipos de borda, bojo e base serão classificados conforme os termos técnicos apontados pela Terminologia Arqueológica Brasileira para a Cerâmica (CHMYZ, 1976). PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 35 Para auxiliar numa análise mais detalhada do material cerâmico, principalmente no que concerne aos tratamentos de superfície e aos elementos que formam o antiplástico, é de grande importância o uso da arqueometria, ou seja, das ciências físicas, nos estudos arqueológicos. Neste sentido, a utilização da fluorescência induzida por raios ultravioleta, pode colaborar, definitivamente, na visualização de detalhes relacionados à existência de pinturas de superfície já deterioradas ou não mais visíveis ao olho humano e à presença de elementos orgânicos e minerais; ainda, a visualização do material cerâmico através de um microscópico óptico permitirá, conforme Goulart (2007: 20) “com seus aumentos variando de 10 a 1000 vezes, [...] a obtenção de dados amplos relativos à mineralogia, à forma dos grãos e à microestrutura (modo de interrelação dos diversos grãos da amostra) seja sob luz refletiva, seja sob luz transmitida”. Assim sendo, as observações já delineadas acima, juntamente com utilização de técnicas arqueométricas, podem nos ajudar a obter dados mais precisos e com maior número de informações e, também, a compreender com mais profundidade quais eram as prioridades selecionadas em cada momento, colaborando no entendimento dos processos de manufatura, usos e descartes dos utensílios cerâmicos. No que concerne à análise qualitativa, que poderá ser contraposta à quantitativa, realizar-se-á um agrupamento das recorrências em conjuntos. Tais conjuntos serão então descritos com o objetivo de se identificar o que lhes dá unidade, que pode ser decorrente tanto de uma padronização formal quanto de uma seqüência de manufatura. Ainda, serão relacionados estes dados com suas concentrações e distribuições espaciais nos sítios arqueológicos e setores de escavação a serem estudados. 5.2.3. Valoração e Prioridades Visto que, na arqueologia de contrato, há a necessidade de adequações dos trabalhos a serem desenvolvidos a cronogramas temporais e financeiros da obra neste sub-capítulo apresentamos argumentos e tabelas relacionados à valoração dos sítios arqueológicos localizados no âmbito desse Programa e, ainda, prioridades de ação baseados na seqüencia operativa da obra e nos índices de valoração dos sítios arqueológicos. Salientamos que estas determinações em parte PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 36 estão baseadas nas indicações e recomendações geradas pelo Programa de Prospecção do empreendimento em tela. 5.2.3.1. Prioridades de ação A arqueologia como ciência trabalha com dados qualitativos e quantitativos cujos levantamentos e organizações precisam de um planejamento de execução baseados em variáveis de relevância e de acordo com os resultados esperados. Basicamente, para a execução do Programa de Resgate Arqueológico, se apresentam dois (2) condicionantes gerais. O primeiro deles se refere ao próprio cronograma da obra, tendo-se em vista quais serão as seqüências das áreas impactadas e qual as intensidades das intervenções. Já o segundo condicionante é consorciado à qualidade de cada sítio arqueológico e seus valores científicos, didáticos e de conservação e, ainda, à demanda de trabalhos necessários para se atingir os resultados sobre eles. Para que os trabalhos de Resgate arqueológico ocorram sem prejuízo, é preciso adequá-los aos cronogramas da obra. Os trabalhos nos sítios arqueológicos devem iniciar com segura antecedência ao início das interferências da obra no setor, em um prazo que assegure a realização de todos os procedimentos arqueológicos necessários àquele sítio e não prejudique o próprio andamento da obra. Abaixo, no Tabela 2, relacionamos setores da UHE Baixo Iguaçu a prioridades de ação em graus de um a três (1 a 3), sendo que os de prioridade de grau 1 receberão de imediato os trabalhos de Resgate arqueológico e assim sucessivamente. Setores - UHE BI Prioridade Infraestrutura, acessos e barramento 1 Áreas a serem inundadas, reservatório 2 Áreas a serem reflorestadas na APP na faixa dos 100m + zona de depleção (linha de margens do reservatório) 3 Tabela 2. Setores da Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu e prioridades de ação. Em proposição às prioridades de ação sobre os sítios arqueológicos localizados nas Áreas de infra-estruturas e barramento, relacionamos no quadro abaixo os sítios localizados nesses setores com seus graus de prioridades, os quais estão baseados na seqüência das obras iniciais no PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 37 interior dos setores de infra-estruturas, sendo o de grau um (1) o primeiro a ser trabalhado e assim sucessivamente. Código do Sítio Nome do Sítio Coordenada UTM Margem rio Iguaçu Impacto infra-estrutura Prioridade de ação BI09CPM-ST Marechal Lott 22 J 232089 7175768 Esquerda Tomada d‟água 1 BI11CLM-ST Córrego Laranjeiras 3 22 J 232472 7176665 Direita Bota-fora 2 BI10CLM-ST Gonçalves Dias 22J 231086 7177159 Direita Canteiro e barramento 3 22J 232023, 7176400 Direita Pedreira 4 22J 231959, 7176517 Direita BI06CLM-ST BI07CLM-ST BI12CLM-ST Córrego Laranjeiras 1 Córrego Laranjeira 1 Monteiro 1 22J 233008, 7176576 Direita Imediações botafora Imediações botafora 5 6 Tabela 3. Sítios arqueológicos localizados em área de infra-estrutura. 5.2.3.2. Valoração dos Sítios O objetivo em estabelecer atributos de valor entre um conjunto de sítios arqueológicos é de se gerar um plano para o desenvolvimento dos trabalhos de Resgate arqueológico, no sentido de saber quais sítios consumirão mais tempo de campo e quais necessitarão de uma abordagem técnica-arqueológica com mais intensidade. A valoração científica dos sítios gera parâmetros de prioridade para o Programa de Resgate Arqueológico. Os atributos e avaliações aqui aceitas são as mesmas indicadas pela equipe que realizou o Programa de Prospecção nas áreas de abrangência da UHE Baixo Iguaçu. Estas avaliações foram determinadas por observações em campo e por avaliações em gabinete e laboratório. Os itens valorizados se focaram no ineditismo, na representatividade arqueológica cultural, na qualidade científica, na qualidade didática e no estado de conservação de cada sítio. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 38 Os atributos quantificados são: Raridade; Conhecimento científico; Conservação; Qualidade científica e; Qualidade didática. Os valores atribuídos a esses foram organizados em um intervalo 1 a 3, sendo 1 para pouco, 2 para médio e 3 para indicar muito. Os resultados obtidos na valoração dos sítios foram agrupados em grupos (Tabela 4). O primeiro grupo, marcado em azul, abriga os sítios de melhor qualidade, que ultrapassaram 2 pontos de média; no segundo, marcados em vermelho, os sítios entre 1,5 e 1,9 pontos; no terceiro, em verde, os sítios entre 1 e 1,4 pontos e no quarto e último segmento, com menor qualidade, em roxo, os sítios que ficaram abaixo dos 0,9 pontos de média. Os sítios arqueológicos que obtiveram maior pontuação, com melhores qualidades informativas, receberão maiores recursos humanos, físicos e temporais. Essa classificação obtida servirá de parâmetro para o cronograma de trabalho do Programa de Resgate Arqueológico a ser executado nas áreas destinadas a Reservatório e APPs Os sítios arqueológicos localizados nas áreas de infra-estruturas e barramento serão de prioridade máxima no atendimento – e estarão em caráter de urgência como acima explicado. Raridade Conhecimento Científico Conservação Qualidade Científica Qualidade Didática Total Média Vista Alta Tecchio Vacaria Ponte Alta Córrego Laranjeira 1 Antenor Raubert Barra do Sarandi Barra do Capanema 2 Córrego Caçula 1 Córrego Caçula 2 Luis Pitol Doring Alto Faraday Porto Três Irmãos 2 Sartori 1 Marechal Lott Córrego Laranjeira 2 Monteiro 1 Córrego Saltinho 2 Código 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Nome Clasificação VALORAÇAÕ DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS BI01CLM-ST BI37RLZ-ST BI50CPM-ST BI21CLM-ST BI07CLM-ST BI15CLM-ST BI02RLZ-ST BI33RLZ-ST BI17CLM-ST BI18CLM-ST BI29CPM-ST BI41CLM-ST BI52CPM-ST BI44CLM-ST BI45CLM-ST BI09CPM-ST BI11CLM-ST BI12CLM-ST BI13CLM-ST 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 3 2 2 2 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 3 2 3 3 2 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 2 2 3 2 2 2 2 2 2 2 1 2 2 2 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 15 13 13 13 12 11 11 11 10 10 10 10 10 9 9 9 9 9 9 2,50 2,17 2,17 2,17 2,00 1,83 1,83 1,83 1,67 1,67 1,67 1,67 1,67 1,50 1,50 1,50 1,50 1,50 1,50 PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 39 Raridade Conhecimento Científico Conservação Qualidade Científica Qualidade Didática Total Média Flores Joy Lajedo Rodeio 1 Lajedo Rodeio 2 Córrego Leãozinho Ilha Montalvani 1 Córrego Saltinho 1 Gonçalves Dias Fazenda Sinuelo Barra do Capanema 1 Porto Três Irmãos 1 Sartori 2 Foss 2 Linha Moraes Córrego Estrela 1 Presotto 1 Presotto 2 Linha Hortelã 3 Linha Vargem Bonita José Guerra Kives Foss 1 São Brás Andrada 1 Linha Hortelã 1 Iguaçu Linha Hortelã 2 Ouro Azul Matiuzzi Córrego Maria Olaria Realeza São Luís Monteiro 2 Código 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 Nome Clasificação VALORAÇAÕ DOS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS BI14CLM-ST BI16CLM-ST BI40CLM-ST BI42CLM-ST BI26CLM-ST BI03CLM-ST BI05CLM-ST BI10CLM-ST BI30CPM-ST BI32RLZ-ST BI39CLM-ST BI46CLM-ST BI49CLM-ST BI51CPM-ST BI04CPM-ST BI19CLM-ST BI20CLM-ST BI25CLM-ST BI27CPM-ST BI28CPM-ST BI36RLZ-ST BI43CLM-ST BI48CLM-ST BI08CLM-ST BI22CLM-ST BI23CLM-ST BI24CLM-ST BI31CPM-ST BI35RLZ-ST BI47CLM-ST BI34RLS-ST BI06CLM-ST BI38CLM-ST 2 2 2 2 1 2 1 2 1 1 1 2 2 1 2 1 1 1 1 1 2 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 2 1 1 1 2 2 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 1 2 1 1 1 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 2 2 1 1 1 1 2 2 2 2 2 1 2 1 2 2 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 1 1 1 1 1 2 1 2 1 1 2 2 1 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 9 9 9 9 9 8 8 8 8 8 8 8 8 8 7 7 7 7 7 7 7 7 7 6 6 6 6 6 6 6 5 5 5 1,50 1,50 1,50 1,50 1,50 1,33 1,33 1,33 1,33 1,33 1,33 1,33 1,33 1,33 1,17 1,17 1,17 1,17 1,17 1,17 1,17 1,17 1,17 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 0,83 0,83 0,83 Tabela 4 -Valoração Sítios Arqueológicos Baixo Iguaçu PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 40 6. PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO O Programa de Monitoramento Arqueológico será desenvolvido durante as obras, junto as atividades de alterações e/ou de remobilização físicas nos solos. O objetivo geral na execução do Monitoramento Arqueológico é evitar que, por ventura, materiais ou elementos arqueológicos que não tenham sido detectados pelas malhas de sondagens durante o Programa de Prospecção Arqueológica, por serem unos ou de pouca densidade, venham a ser remobilizados de seus contextos ou destruídos pelas interferências das obras em solos e subsolos quando da implantação do empreendimento em tela. Assim, é muito recomendável a execução de Monitoramento Arqueológico junto a essas atividades específicas da obra, que causa interferência em solos, e pode ser observado como forma auxiliar ao método prospectivo arqueológico e, como medida antecipada de proteção a qualquer vestígio ou sítio arqueológico ainda existente nas áreas de impacto direto. Terão prioridades no Monitoramento Arqueológico as obras que prepararão as áreas de canteiro, de infra-estruturas, de abertura dos acessos e nas áreas de supressão de vegetação, nas quais necessitarão destoques. 6.1. ATIVIDADES Monitoramento sistemático das obras de engenharia na fase de abertura de solo e subsolos; Inspeção visual, junto às áreas em abertura antes e depois de abertas; Registro e coleta de elementos, materiais descontextualizados, de baixa relevância arqueológica (OCs); Registro diário, efetuado em ficha própria para controle de todos os trabalhos realizados que afetam o subsolo (levantamento de pavimentos, cortes, desvios, implantação de infra-estruturas, etc.), anotando-se as ações realizadas em contexto de obra e os registros efetuados, designadamente por fotografia ou filme em vídeo; PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 41 Registros mais específicos e detalhados, direcionados para as evidências arqueológicas mais significativas que foram sendo detectadas; Paralisação das atividades, isolamento e sinalização de sítios arqueológicos se localizados no Monitoramento para posterior estudo e aplicação dos procedimentos de Resgate Arqueológico; Relatório em caráter emergencial remetidos aos empreendedores e comunicação a todos os responsáveis pela obra sobre a ocorrência de sítio arqueológico nas frentes de abertura de solos e a necessidade de proteção imediata dos mesmos. Programas de Acompanhamento Arqueológico, por norma, devem ser permanente e presencial sempre que se efetuarem escavações, aterros, cortes, movimentações de terras, ou outros trabalhos com impacto sobre o solo e subsolo. As observações e decisões do arqueólogo responsável deverão basear-se em critérios técnicocientíficos, experiências e um bom conhecimento do projeto e dos perfis estratigráficos do terreno de implantação da obra. As atividades de implantação da obra com potencialidade negativa sobre possíveis bens arqueológicos devem ser descritas, registradas em fichas, em meios visuais e localizadas no interior do terreno. Caso da ocorrência de elementos arqueológicos, as atividades perturbadoras devem cessar e ser avaliada a significância dos achados, bem como do seu registro, localização tridimensional e procedimentos arqueológicos posteriores. As atividades de abertura de solo e subsolo devem ser preferencialmente realizadas por camadas horizontais, e seguirem ritmo adequado à capacidade de observação/monitoramento da equipe de arqueologia, com acuidade às mudanças de cor, dureza e texturas dos estratos, bem como da presença ou não de materiais arqueológicos. A equipe de arqueologia deve manter um registro geral diário de todos os trabalhos efetuados na obra e um registro mais específico e detalhado, direcionado para as evidências arqueológicas que forem sendo detectadas. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 42 A equipe de arqueologia durante o Subprograma de Monitoramento deve estar preparada para realizar Resgate imediato de sítios arqueológicos ou materiais arqueológicos isolados. 6.2. METODOLOGIA O Acompanhamento Arqueológico ocorrerá na fase de implantação das obras e tem o objetivo de identificar sítios ou vestígios que por ventura não tenham sido observados nas etapas anteriores. Trata-se de um procedimento normal em pesquisa arqueológica, pois os levantamentos são superficiais e as sondagens amostrais. Assim configura-se com uma medida de segurança na preservação de patrimônio arqueológico passíveis de serem impactados pelo empreendimento. Este Programa, portanto, será executado simultaneamente às obras de terraplenagem e supressão da vegetação nos limites do reservatório, sobretudo, nas áreas de revolvimento de solos. Os sítios que eventualmente forem identificados deverão sofrer os mesmo procedimentos de Resgate, devendo ser objetos de escavação arqueológica. O desenvolvimento das ações desse Programa se dá com acompanhamento presencial de arqueólogo junto às frentes da obra que estão envolvidas com as aberturas de solo e subsolo, por vezes haverá a necessidade de dispor de uma equipe com vários arqueólogos ou assistentes, quer devido à extensão do projeto ou ao número de frentes de obra em execução, quer pela necessidade de efetuar registros mais detalhados (tomada de medidas, desenhos, implantação topográfica, etc.) ou arqueológicos em caráter emergencial Quando o Programa de Monitoramento Arqueológico é assumido em uma obra como intervenção preventiva exclusiva, pressupõe sempre (e disso devem ser informados todos os intervenientes) que a eventual detecção de vestígios arqueológicos significativos pode exigir a execução de sondagens ou mesmo escavações arqueológicas em algum setor das áreas de influência direta, precisando ela ser isolada e liberada somente após término dos trabalhos arqueológicos. A filosofia deste Programa é a de assegurar a monitorização arqueológica de um projeto com o mínimo prejuízo do seu desenvolvimento e, ao mesmo tempo, garantir que sejam assegurados PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 43 aos arqueólogos condições minimamente satisfatórias para executar a sua tarefa. A especificidade de trabalhos de Monitoramento Arqueológico requer um amplo ajuste e comunicação com os cronogramas da obra, especificamente os de abertura de solo e subsolo, sendo necessária a colaboração muito estreita entre os arqueólogos presentes no campo e os outros responsáveis e intervenientes na obra, sejam projetistas, empreiteiros, técnicos de fiscalização, etc. O arqueólogo responsável pelo Monitoramento do empreendimento deverá participar das reuniões de obra regulares, como as outras especialidades, e tomar conhecimento da programação e cronogramas, informando aos decisores do projeto o modo como o Monitoramento Arqueológico poderá ou não condicionar certos trabalhos e das expectativas existentes acerca de determinadas áreas. Os condicionamentos particulares poderão passar por formas de escavação menos agressivas como, por exemplo, o uso de uma retro-escavadora em vez de uma rotativa de grandes dimensões; ou uma abertura por “camadas” em vez de escavação vertical, para que o arqueólogo possa controlar melhor o levantamento dos depósitos; ou, ainda, por abrandamentos ou interrupções pontuais em certas frentes de obra, para que possam ser efetuadas ações de registro e caracterização arqueológica de determinados achados. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 44 7. PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL Programas de Educação Patrimonial visam compensar e compatibilizar as interferências produzidas sobre os bens culturais, sejam do tipo material ou imaterial, por obras de instalação e procedimentos de operação em empreendimentos sob licenciamento ambiental. Conforme entendimento internacional, através de Cartas e Recomendações da ONU, os bens culturais constituem legado das gerações passadas às gerações futuras, não tendo as gerações presentes o direito de interromper sua trajetória natural, subtraindo a herança aos seus legítimos herdeiros. No Brasil, os sítios arqueológicos/histórico ou culturais são considerados bens da União, cf., Art. XX da Constituição Federal do Brasil. Os sítios arqueológicos são protegidos por lei específica (Lei nº 3.294/61), que obriga o estudo antes de qualquer obra que possa vir a danificá-los. Tendo em vista que essas necessárias atividades educativas e culturais a serem desenvolvidas deverão ser capazes de estudar e extroverter com profundidade o patrimônio histórico/arqueológico e seu contexto ambiental nas de abrangência da UHE Baixo Iguaçu, propôs-se a implantação de um Programa de Educação e Extroversão Patrimonial em conformidade a exigência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) estabelecida a parir da portaria 230/02. A Educação Patrimonial têm como objetivo principal atender as comunidades locais, quanto ao conhecimento, valorização, proteção, utilização e preservação sustentável desses bens e deve ser realizada na região atingida pelo Projeto Básico, e que abranja todos os municípios localizados na área do empreendimento. A Extroversão se deve ao fato da necessidade de apresentação dos resultados obtidos com os trabalhos de Resgate Arqueológico à comunidade científica e ao público nacional por meio de: apresentações em congressos, simpósios e encontros acadêmicos na área de arqueologia, história e afins, publicações de artigos e notas de pesquisa em revistas acadêmicas da área, produção de relatórios de pesquisa e disponibilização dos mesmos em meio impresso e digital na comunidade local. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 45 O Programa de Educação Patrimonial proposto utilizará dados tanto das informações obtidas com a realização do Programa de Prospecção Arqueológica, e das que serão geradas com o desenvolvimento dos trabalhos do próprio Programa Educativo como do Programa de Resgate Arqueológico do referido empreendimento, e atenderá em especial as comunidades dos municípios de Capanema, Planalto, Realeza, Nova Prata do Iguaçu e Capitão Leônidas Marques. 7.1. OBJETIVOS Inventariar os bens culturais regionais (materiais e imateriais), dando a eles visibilidade e divulgando-os junto às comunidades locais; Contribuir, por meio de processos de sensibilização, para o fortalecimento dos sentimentos de identidade cultural e de cidadania a comunidade local; Refletir, juntamente com as comunidades locais, sobre o significado dos bens culturais regionais (materiais e imateriais); Fomentar as iniciativas locais, a fim de promover a defesa dos bens culturais; Promover e divulgar os trabalhos e resultados do Programa de Resgate Arqueológico, em especial visitas monitoradas a sítios arqueológicos em processo de escavação e exposição itinerantes dos materiais arqueológicos nos municípios atingidos pelo empreendimento; Incentivar a formação de agentes multiplicadores visando à preservação do patrimônio cultural local/regional (material e imaterial); Divulgar os resultados junto às comunidades locais, escolas, etc; Divulgar os resultados da pesquisa junto à comunidade científica nacional, por meio de participação em simpósios especializados e publicação, em meio impresso e eletrônico, dos resultados alcançados; PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 46 7.2. METODOLOGIA Bens culturais são elementos definidores de identidades sociais, sendo entendido como patrimônio os resultados de processos culturais, constantemente resimbolizados, constituindo-se em portadores de referências das identidades dos sujeitos sociais. O desaparecimento ou desestruturações destes são de grande impacto sócio-cultural, sendo direito de todos os homens terem acesso aos bens materiais e imateriais que representem o seu passado, a sua tradição (FERNANDES, 1992:271). Portanto, a única maneira de prevenir ou compensar perdas é fomentar o conhecimento e valoração dos bens culturais. 7.2.1. Macro-atividades As atividades de Educação Patrimonial devem ser desenvolvidas a partir das seguintes macroatividades: 1) Levantamento preliminar das referências culturais materiais e imateriais dos municípios de Capanema, Capitão Leônidas Marques, Realeza e Nova Prata do Iguaçu., 2) Avaliação das carências, demandas e perspectivas da comunidade em geral com relação ao patrimônio arqueológico; 3) Planejamento de atividades em conjunto com as Secretarias de Cultura e Educação dos municípios abrangidos pelos empreendimentos; 4) Tornar tangível as práticas arqueológicas e ações desenvolvidas pelo Programa de Prospecção e de Resgate Arqueológico para a comunidade, através da implantação de formas de exposição, acompanhamento e participação; Através destas macro-atividades será possível definir ações específicas de Arqueologia Pública/Educação Patrimonial que serão desenvolvidas, tendo como ponto de partida a participação efetiva dos diferentes atores envolvidos, incluindo o próprio IPHAN. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 47 Para isso este Programa de Educação e Extroversão Patrimonial terá dois vieses, um que sistematizará e divulgara os estudos histórico/culturais já realizados assim como os que serão gerados pelo Programa de Resgate Arqueológico, e outro que terá como objetivo a identificação, divulgação e valoração das referências Culturais, materiais e imateriais levantadas, assim como revalidar esses bens culturais junto as comunidades atingidas pelo empreendimento. O resultado e encaminhamento do conjunto de atividades em Arqueologia Pública a serem implantados e desenvolvidos por este Programa devem sofrer avaliações continuadas em relatórios de andamento e revisões de desempenho, visando o cumprimento dos compromissos sociais aqui assumidos. 7.2.2. Procedimentos Elaborar um estudo prévio de percepção do patrimônio cultural material e imaterial, cujos resultados fundamentarão as estratégias a serem adotadas pelo programa; Identificar, em campo, as fontes históricas orais, as lideranças locais e espaços propícios a sediar atividades de divulgação e de educação patrimonial; Coletar, registrar e organizar as informações históricas orais; criar arquivos impressos, iconográficos, gravados e filmados sobre os bens culturais regionais; Promover exposições dos materiais e estudos levantados durante todo o processo de licenciamento do empreendimento e em principal os gerados pelo Programa de Resgate Arqueológico; Estabelecer estratégias de divulgação e fomento dos bens culturais regionais, usando como apoio o material acima relacionado e as possibilidades oferecidas pela mídia local e regional; Elaborar cartilhas sobre a cultura regional, material e imaterial, passada e presente para uso dos professores e alunos. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 48 Organizar oficinas com os professores da rede escolar para capacitação sobre o conhecimento cultural/arqueológico regional e prepará-los para uso do material paradidático produzido; 7.2.3. Estudos e levantamento prévios Tendo por objetivo o conhecimento dos bens culturais de natureza material e imaterial existentes nos municípios diretamente atingidos pelo empreendimento em tela, para depois extroversão e valoração dos mesmos junto as comunidades será realizado, já no início dos trabalhos desse Programa, um levantamento para caracterização Bens Culturais de natureza Material e Imaterial. O levantamento do patrimônio material tentará apontar potencialidades de conjuntos históricos e edificações isoladas, analisando-os através de suas características arquitetônicas, urbanísticas e paisagísticas, tipologias, estado de conservação, considerando parâmetros como: - Caráter histórico, avaliando a relação do bem com fatos, com personalidades históricas e/ou com fases da evolução urbana da cidade; - Caráter artístico, considerando as características arquitetônicas, urbanísticas e paisagísticas de estimável valor artístico; - Caráter sociológico, considerando a vinculação do bem com os aspectos sociais da vida urbana; - Caráter ambiental, analisando a inserção urbana e paisagística do bem. O levantamento do Patrimônio Imaterial tentará registrar aspectos culturais que são destacados pela própria comunidade como bens de significação e formadores de identidade, e a vigência destas referências nas práticas sociais, tanto na atualidade como na memória. Para atingir o objetivo proposto nesses levantamentos iniciais, será necessária a execução de passos metodológicos que resultaram nas seguintes atividades: - Levantamentos históricos, bibliográficos e iconográficos sobres o municípios de Capanema, Capitão Leônidas Marques, Realeza e Nova Prata do Iguaçu, todos localizados no limite da Região Oeste com Sudoeste do Paraná, através de pesquisas em PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 49 acervos pertencentes a Arquivos Municipais e Estaduais, buscando o conhecimento através de textos, imagens, gravuras, mapas, laudos técnicos, fotografias e representações gráficas que elucidaram questões históricas e culturais do objeto em questão. - Levantamento de informações referentes ao patrimônio cultural nas instituições municipais, responsáveis pela sua proteção, guarda e difusão, nas quais foi possível coletar dados históricos e iconográficos, legislações vigentes, estudos propositivos, inventários, dossiês de tombamento, além de outras informações existentes pertinentes à elaboração desse diagnóstico; - Realização de entrevistas com pessoas detentoras de conhecimento histórico e cultural do município, obtido através de pesquisa ou por sua vivência no local, possibilitando estabelecer a importância da dimensão sociocultural e desvelando a importância da história, da memória e da função simbólica para a sociedade e para os usuários das localidades analisadas. - Levantamento fotográfico dos edifícios e das paisagens urbanas e rurais identificadas com um potencial patrimonial. As informações obtidas foram registradas em fichas específicas, as quais, depois de sistematizadas, permitiram uma visualização sintética das informações culturais levantadas. Assim se destacarão no levantamento prévio sobre o Patrimônio Cultural Material e Imaterial os seguintes itens: 1. O que a comunidade destaca de forma reiterada como bem de significação diferenciada enquanto marca da sua identidade 2. O que o conhecimento acumulado sobre o sítio permite destacar; 3. O que se verifica ser relevante comparativamente, por semelhança ou contraste com o que ocorre na região de entorno da área inventariada 4. A vigência da referencia nas práticas sociais atuais ou na memória. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 50 Os resultados permitiram visualizar os bens inventariados em seu conjunto, indagar sobre seu sentido e compreender o contexto histórico e sobre o contexto social em que ocorrem, principalmente em termos de grau de estabilidade ou mudança em que se encontra o bem. 7.2.4. Proposta de Ação Uma nova visão sobre o Patrimônio Cultural abrange seu potencial pedagógico como fonte de conhecimento e aprendizado, ou ainda, “como instrumento de motivação individual e coletiva para a prática da cidadania, o Resgate da auto-estima dos grupos culturais e o estabelecimento de um dialogo enriquecedor entre as gerações” (HORTA, 1999:05). Para se tornar um instrumento possibilitador do exercício da plena cidadania, os temas relacionados ao Patrimônio devem prever o direito à cultura que, por sua vez, compreendem a produção cultural, passando pelo direito ao acesso a cultura até o direito a memória histórica. sendo direito de todos os homens ter acesso aos bens materiais e imateriais que representem o seu passado, a sua tradição (FERNANDES, 1992:271). Para chegar a assumir tais direitos culturais é necessário que o indivíduo se aproprie dos bens patrimoniais, resignificando-os. Para tanto, o sujeito deve sentir-se pertencente a algo, isto é, integrado a grupos sociais em determinado espaço (ROCHA,1997). Percebe-se, assim, uma relação de pertença ligada aos processos de construção da identidade que nos situariam no espaço, assim como a memória nos situa no tempo. Portanto, “identidade e pertencimento acontecem segundo uma inscrição territorial, submersos a um contexto social e cultural que as expressam e dão sentido, constituindo assim, a noção de territorialidade que implica também em pensar o espaço humanizado” (ROCHA, 1997:96). Segundo Horta (1999), a Educação Patrimonial é um instrumento de “alfabetização cultural”, para a qual o conhecimento crítico e a apropriação consciente pelas comunidades de seu patrimônio são fatores indispensáveis no processo de preservação sustentável desses bens, assim como o fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania (HORTA, 1999:06). PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 51 A arqueologia, com o seu enorme potencial educativo também participa desses processos mencionados e que podem ser abordados sobre a cultura material remanescente. Também possibilita a restituição de sentido aos testemunhos materiais que se relacionam diretamente à história da cidade, provocando a reapropriação desses bens o que levaria a construção de uma memória restituindo para os membros da sociedade em questão, o sentido de sua existência sócio-histórica e, portanto, de sua identidade (VOGEL e MELLO, 1984: 49). Para Pedro Paulo Funari, (1992/1993: 19) a arqueologia pode estimular reflexões sobre as condições sociais e humanas, levando a uma crítica do presente. Para que esta teoria se traduza em prática foram definidas três linhas de ação direta vinculadas à preservação do Patrimônio Cultural, Histórico, Arqueológico e Paisagístico dos Municípios em área de influência direta da UHE Baixo Iguaçu (Capanema, Planalto, Realeza, Nova Prata do Iguaçu e Capitão Leônidas Marques): 1. Levantamento dos moradores mais antigos de cada localidade da região e o posterior Resgate de sua memória por meio de entrevistas (ALBERTI, 1990). Os dados obtidos serão analisados, sendo depois confrontados e complementados pelas fontes históricas e arqueológicas disponíveis. O produto final é o registro da história da ocupação desses municípios segundo seus próprios ocupantes (MANIQUE & PROENÇA, 1994). 2. “Feed back”, ou seja, o retorno da informação, a devolução do primeiro produto à comunidade que o produziu. Esta devolução será feita por meio de exposições e distribuição de material impresso com textos que complexifiquem as informações. 3. Oficinas de Educação Patrimonial (TOCCHETTO & REIS, 2000) e de Arqueologia em localidades regionais e com professores e alunos da rede pública de ensino local, buscando trabalhar três elementos fundamentais para a construção da cidadania: imagem positiva de si, perspectivas éticas de vida e reforço dos laços de pertencimento, sendo estas oficinas sempre direcionadas por leituras étnico-culturais de contexto regional. Nessa etapa devem ocorrer visitas monitoradas aos sítios em escavação. O resultado final da terceira ação é o conjunto da produção de material gráfico, exposições itinerantes, folders ou cartilhas, e material científico que incrementem a extroversão dos conhecimentos arqueológicos obtidos junto à PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 52 comunidade regional elevando assim o grau de envolvimento, responsabilidade e cidadania da população como um todo. 7.3. AGENDA MÍNIMA Procurando sintetizar e organizar as etapas e tarefas planejadas para o Programa de Educação Patrimonial as apresentamos organizadas em um cronograma prévio, o qual relaciona atividades, objetivos e públicos específicos ao seu período planejado para execução. Agenda Mínima – Programa de Extroversão e Educação Patrimonial Publico especifico Objetivos 1 Trabalhadores e responsáveis pela obra. Educação e conscientizaçã o Cultural Patrimonial, procedimentos cautelares Conceituar o que é Patrimônio Cultural; conscientizar sobre a existência e o valor do patrimônio cultural regional, fazer reconhecer materiais e sítios arqueológicos e, divulgar procedimentos padrão para proteção quando da localização de materiais ou evidências arqueológicas nas frentes de obra. Fevereiro 2012 2 Proprietários atingidos diretamente pelo empreendiment o e pelas atividades de Resgate Arqueológico Educação e informação a comunidade diretamente atingida. Fazer-se conhecer e divulgar os objetivos e os trabalhos arqueológicos, históricos e culturais que serão implementados. Indicar para registros posteriores em entrevistas os proprietários/moradores mais antigos ou/e os que demontrem saber mais sobre a história e cultural locais. Fevereiro / março 2012 3 Secretarias de educação e/ou cultura municipais Contatos, apoio e estratégias Divulgação dos Programas, dos objetivos e combinação das metas comuns para divulgação dos trabalhos arqueológico e de educação patrimonial 4 Municípios diretamente atingidos. Levantamento patrimônio material e imaterial Levantamentos para divulgação e valorização das referências culturais materiais e imateriais das comunidades urbanas e rurais dos municípios diretamente atingidos pelo empreendimento Abril/maio /junho 2012 5 Moradores mais antigos da Região atingida. Registro em áudio e vídeo de entrevista. Prospecção, registro e entrevistas com moradores mais antigos e sabedores das histórias locais. Junho/julh o 2012 Seq Atividades Período Março 2012 PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 53 Agenda Mínima – Programa de Extroversão e Educação Patrimonial Seq Publico especifico Atividades Período Divulgação dos Programas, Exposição de materiais. Divulgação dos trabalhos arqueológicos, históricos e culturais em andamento, objetivos e metas; Exposição sobre os materiais, espacialidade e culturas arqueológicas obtidas com o Programa de Prospecção Arqueológica; Abertura de canal de comunicação entre a comunidade e os Programas de Resgate Arqueológico e de Educação Patrimonial Junho/agos to 2012 7 Professores municípios atingidos Capacitação professores redes municipais Capitação de professores das redes municipais de educação dos municípios atingidos para conhecimento e discussão de métodos para repassase aos alunos de conteúdo histórico-arqueológico. Preparação dos alunos para antes, durante e depois das visitas monitoradas aos sítios arqueológicos em escavação Junho 2012 8 Alunos rede escolar, municípios atingidos Palestra e exposição itinerantes em escolas Divulgação dos trabalhos histórico e arqueológicos, Fazer conhecer e interessar pela historia e arqueologia regionais, Distribuição de materiais informativo-educacionais (cartilhas) Agosto a outubro de 2012 Escolas e comunidade Municipais Visitas monitoradas a sítios em escavação Divulgar a arqueologia local, fazer conhecer matérias e os métodos arqueológicos, arqueológicos e os m Setembro a dezembro de 2012; Fevereiro a abril de 2013 Comunidades dos municípios atingido e interessados. Exposições matérias e resultados dos levantamentos e estudos histórico, culturais e arqueológicos Divulgar os trabalhos arqueológicos, históricos e culturais em realização e seus resultados. Exposição de materiais arqueológicos e históricos. Espaços das Secretarias de Educ/Cult. e/ou em espaços públicos nos municípios atingidos. Comunidade nacional e científica Divulgação dos trabalhos arqueológicos Apresentação dos resultados obtidos com os estudos arqueológicos a comunidade nacional através de publicações em revistas, jornais e em congressos científicos. 6 9 10 11 Comunidades das sedes dos municípios atingidos Objetivos Novembro / dezembro 2012; Fevereiro a junho de 2013 Inicia-se em Março 2013 Figura 6 - Quadro de Agenda Mínima do Programa de Educação e Valorização Patrimonial PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 54 8. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES E RECURSOS HUMANOS Os Programas Arqueológicos a serem implementados deverão estar de acordo com as diretrizes do Departamento de Proteção do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Portarias 07/88 e 230/02) e iniciados durante a Fase de obtenção da Licença de Operação (LO) com antecedência ao início das obras. O cronograma estimado para a realização dos Programas é de 30 meses, sendo 22 meses para os trabalhos de campo e 8 meses para atividades de laboratório e gabinete. As prioridades na execução dos Programas seguirão as recomendações de ação e científicas estabelecidas no capítulo seguinte deste Projeto de Pesquisa e cumprir o cronograma apresentado abaixo (Tabela 5) onde representamos linearmente a relação temporal dos Programas Arqueológicos propostos com as Etapas da Obra. PROGRAMAS ARQUEOLÓGICOS PRÉ-OBRA INFRAESTRUTURA Mobilização, organização. Abertura Acessos Canteiros e parque industrial Construção barragem RESERVATÓRIO Supressão vegetação OPERAÇÃO Enchimento Projeto de Pesquisa IPHAN e outorga de Licença de Pesquisa. Resgate Arqueológico Acompanhamento Arqueológico Educ. e Valorização Patrimonial Extroversão cientifica Tabela 5. Cronograma linear, programas arqueológicos versus etapas da obra. Todos os sítios arqueológicos localizados no interior das Áreas de Influência Direta (AID) da UHE Baixo Iguaçu serão motivo de intervenção arqueológica, alguns superficiais, outros com escavações sistemáticas exaustivas. Os sítios que estão fora da área atingida por impactos (Sítios BI01CLM-ST; BI08CLM-ST; BI41CLM-ST; BI46CLM-ST), em área de Influência Indireta (AII) também devem receber tratamento arqueológico, mas limitado, apenas para sua contextualização, com registros detalhados, considerando o objetivo maior do presente Plano de Manejo (a preservação do patrimônio arqueológico envolvido). Entre esses, apenas o sítio PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 55 BI01CLM-ST (Vista Alta), do tipo Arte Rupestre, este deve receber exaustivos trabalhos arqueológicos porque é um sítio de extrema importância cientifica, um enclave arqueológico, além de ter alto valor didático e turístico. 8.1. RECURSOS HUMANOS Para que os trabalhos sejam exeqüíveis, satisfatórios e realizados dentro do cronograma planejado indicamos um contingente mínimo de profissionais a serem contratados para Prog. Educação e Valorização Patrimonial Função Prog. Resgate Arqueológico Qtd. Prog. Monitoramento Arqueológico comporem a equipe: 1 Arqueólogo mestre especialista em lítico (consultor) X X 1 Arqueólogo mestre especialista em cerâmica (consultor) X X 1 Arqueólogo mestre, coordenador de campo X X 2 Arqueólogos Auxiliares de campo X X 4 Estagiários de arqueologia X X 6 Trabalhadores braçais X 1 Arqueólogo laboratorista X 1 Aux. Téc. Laboratório X 1 Professor de história X 2 Estagiário de história X 1 Aux. de escritório X X X Tabela 6. Recursos Humanos e Programas Arqueológicos. PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 56 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERTI, V. A entrevista. In: História oral: a experiência do CPDOC/ RJ. Ed. Fundação Getulio Vargas, 1990. ANDREFSKY, W. Lithics: macroscopic approaches to analysis. Cambridge: Cambridge University Press, 1998. BALLART, J. 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Atestado de Endosso Institucional – Museu de Arqueologia da Universidade Federal do Paraná – MAE-UFPR PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 63 ANEXO 2 Termo de Compromisso de Participação da Equipe Técnica 1. Jonas Elias Volcov – arqueólogo 2. Eliane Maria Sganzerla 3. Eloi Bora - arqueólogo 4. Gabriela Dors Batassini 5. Jaqueline Monteiro dos Santos - historiadora PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 64 ANEXO 3 Currículos do coordenador e equipe técnica. 1. Antônio Carlos Mathias Cavalheiro – arqueólogo coordenador 2. Jonas Elias Volcov – arqueólogo 3. Eliane Maria Sganzerla 4. Eloi Bora - arqueólogo 5. Gabriela Dors Batassini 6. Jaqueline Monteiro dos Santos - historiadora PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 65 CURRICULO Antônio Carlos Mathias Cavalheiro – arqueólogo coordenador PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 66 CURRICULO Jonas Elias Volcov – arqueólogo PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 67 CURRICULO Eliane Maria Sganzerla PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 68 CURRICULO Eloi Bora - arqueólogo PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 69 CURRICULO Gabriela Dors Batassini PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 70 CURRICULO Jaqueline Monteiro dos Santos - historiadora PROGRAMA DE RESGATE ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE MONITORAMENTO ARQUEOLÓGICO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL UHE - BAIXO IGUAÇU PROJETO DE PESQUISA, página 71