CONSTRUÇÃO DE MARCAS EM MERCADOS EMERGENTES a As marcas e a construção de marcas em mercados emergentes são questões críticas. Aparentemente, toda organização de marketing em cada mercado emergente, particularmente nos países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), tem o sonho de se tornar a próxima gigante de marcas globais, como a Unilever, Toyota ou a Coca-Cola. Com estrelas nos olhos, é freqüente trilharem o que consideram ser o mesmo caminho usado por essas marcas gigantes para atingir o nirvana das marcas, ou seja, altas classificações na Business Week/Interbrand ou tabelas de grupos do Financial Times. Adotam ou adaptam o que acreditam -- ou o que ouviram de consultores externos e gurus de marcas -- ser os ingredientes necessários para construir uma marca global, ou seja, enormes orçamentos publicitários, criatividade sofisticada, particularmente na TV, embalagens avançadas, programas de relações públicas do tipo conversa de bebedouros d’água para “produzir boatos”, e assim por diante. A próxima coisa: todos esperam sucesso instantâneo. Lembre-se: são economias emergentes, empresas emergentes e marcas emergentes. Elas não têm tempo para esperar ou desperdiçar e certamente não têm interesse ou recursos em seu ciclo econômico para desenvolver planos de longo prazo. Um número excessivo de concorrentes em um número excessivo de mercados estão em seus calcanhares. Assim, elas vão seguindo o conselho e instruções dos gurus de melhores práticas, tipicamente indivíduos com importante experiência em marcas de empresas com dez ou vinte anos de idade e, basicamente, oriundas de mercados bem estabelecidos e desenvolvidos. 44 THE BRANDER Don E. Schultz As empresas japonesas e coreanas decidiram não exportar suas culturas nacionais. isso permitiu que se tornassem fornecedores globais Os resultados globais desses construtores de marcas novatos são, freqüentemente, um desastre. Houve alguns sucessos notáveis, ou seja, Haier da China, Infosysis da Índia, Embraer do Brasil e casos semelhantes. Mas houve igualmente muitos fracassos que nem foram notados, porque morreram no processo de criação em seus mercados locais No ano passado, visitei mais de 20 países, pelo menos metade deles definidos como “emergentes”, ou seja, os grandes: China, Índia, Brasil, México, e os menores também, Guatemala, Tailândia, Slovênia etc. Durante essas visitas, desenvolvi um ponto de vista sobre marcas e construção de marcas. Fiz muitos testes em mercados emergentes para acreditar que a idéia apresenta alguma ressonância. Assim, aqui está uma forma de considerar as marcas e a construção de marcas em economias emergentes. Nos últimos duzentos anos, um modelo básico de desenvolvimento industrial produziu a maior parte do progresso econômico. As nações condutoras do modelo foram inicialmente o Reino Unido e a Europa Ocidental, ou seja, França, Alemanha e Itália. Os Estados Unidos surgiram nessa área durante o século 20. O modelo se baseava em firmas nacionais usando os recursos naturais do país, transformando-os em produtos manufaturados, e, então, diferenciandoos com nomes de marca. Vimos o surgimento da indústria automotiva alemã (Mercedes-Benz, BMW e Audi. No Reino Unido, foi a Rolls Royce, Wedgewood e a Twining. As firmas da França e Itá- lia se concentraram em produtos agrícolas (vinho, espumante, champagne e presunto de Parma), moda (Channel e Armani). Nos Estados Unidos, foi uma mistura de tudo, variando de automóveis (GM e Ford) a produtos alimentícios (P&G e Kraft), entretenimento (Warner Brothers e Universal). Mas todos usaram, basicamente, o mesmo modelo. Desenvolver produtos. Construir marcas e promovêlas. E, a partir de uma forte base nacional, exportar essas marcas para o resto do mundo. O desenvolvimento promocional das marcas permitiu à empresa agregar valor de consumo a produtos básicos, gerando vendas e lucros adicionais. Esses então voltavam ao proprietário da marca onde geravam enormes ganhos econômicos para a empresa e para o país sede. Na sua maioria, essas marcas desenvolvidas no mercado nacional, quando exportadas, tendiam a levar consigo a cultura do país. O modelo básico era convencer os consumidores em outras nações a aceitar os produtos desenvolvidos, juntamente com a cultura que os gerou e os apoiou. Um exemplo notável é a indústria de entretenimento dos Estados Unidos. Como as marcas e a construção das marcas eram ingredientes bastante críticos no sucesso da firma e do país, houve, e continua havendo, grande ênfase na proteção do valor dessas marcas, principalmente através de patentes, marcas comerciais, marcas de venda e outros meios legais. Nos últimos quarenta anos mais ou menos, foi desenvolvido outro modelo econômico. Eu o chamo de modelo de criação de marcas de transição, tipificado pelas firmas japonesas e coreanas. Nesses países, pobres em recursos naturais, as empresas nacionais, freqüentemente com o apoio do governo, importavam matérias primas, processavam e as transformavam em cópias ou aprimoramentos de produtos originalmente desenvolvidos nos mercados industriais tradicionais. As empresas japonesas se concentraram em automóveis, (Toyota, Honda, Nissan) produtos óticos (Seiko, Panasonic) e câmeras (Canon, Nikon, Olympus). As firmas coreanas tornaram-se importantes nos mercados mundiais em produtos duráveis de consumo, como telefones celulares (Samsung), automóveis (Hyundai e Subaru) e aparelhos domésticos (LG e Sharp). Tanto as empresas japonesas quanto as coreanas decidiram não exportar suas culturas nacionais com seus produtos, preferindo ser neutras em termos de cultura. Isso permitiu que elas se tornassem fornecedoras globais com poucos estigmas sociais. As empresas que utilizam este modelo de transição tenderam a se concentrar no marketing tradicional, ou seja, publicidade e promoção, através de mídia de massa, para construir seus nomes de marca individuais, ajudando-as a dominar muitas categorias de produtos. Para proteção da marca, tenderam a confiar mais na contínua melhoria do produto do que em meios legais. O terceiro modelo, denominado Modelo de Mercado Emergente, é basicamente um híbrido dos dois primeiros. Foram desenvolvidas duas abordagens básicas. THE BRANDER 45 Don E. Schultz A. Firmas e países vendem os recursos naturais de seus países, sem marca, a outros processadores, mais sofisticados, em economias avançadas. Rússia, Ásia oriental e países do Oriente Médio (todos basicamente relacionados com petróleo), tipificam esta abordagem. Nenhuma construção de marca ou valor de consumo agregado é desenvolvido ou adicionado. Esta mesma abordagem está sendo usada por firmas e nações africanas. Com exceção de algumas pedras preciosas e metais da África do Sul, as empresas e países africanos geram receitas substanciais de curto prazo sem agregar valor de cliente ou de consumo através da construção de marca. B. O segundo modelo é tipificado pela China. As empresas chinesas compram matérias primas e ingredientes e os transformam em produtos com marca, embora, em muitos casos, não para suas próprias empresas ou para o país. São basicamente organizações de fontes para os países e empresas industriais. Assim, grande parte da produção manufaturada da China só fazem referência ao país de passagem, como a fonte, e, menos ainda quanto à firma individual que fabricou ou processou os produtos. Há algumas tentativas de agregar valor de cliente ou de consumo através de uma marca ou construção de marca que, concebivelmente, poderiam agregar valor a mais longo prazo para a organização fabricante e o país. C. O terceiro Modelo Emergente esta sendo praticado pelas empresas indianas. Apesar da Índia ter alguns recursos naturais, as empresas indianas se tornaram hábeis na importação de ingredientes e matérias primas e, então, transformá-los em produtos com marca da Índia. Esses estão sendo cada vez mais vendidos nacionalmente, e exportados para todo o mundo. Os exemplos incluem empresas automotivas (Tata, Mahindra e Bajaj), produtos de aço com marca (Mittal), software para computadores (Infosys e Wipro), e assim por diante. Na maioria dos casos, as empresas indianas modelaram seus produtos com base em indústrias existentes, mas adicionaram um ingrediente a mais, serviços, para diferenciar a firma. Ou seja, o serviço em 46 THE BRANDER todas suas variações, de atendimento ao cliente a suporte técnico e operações de retaguarda. As marcas desempenham um papel chave ao diferenciar os produtos indianos e provavelmente terão um papel chave no sucesso permanente dessas firmas. Apesar deste esquema de classificação econômica ainda estar evoluindo, parece que as regras para o “jogo do marketing de marcas” para as firmas dos mercados emergentes estão agora razoavelmente estabelecidas. O que ainda está para ser determinado é o que acontecerá provavelmente com outras firmas em outros países que estão acabando de entrar nesta corrida global. A gente só se pergunta sobre o Brasil e Chile na América do Sul. Ou a Polônia e a Ucrânia na Europa Oriental ou o Viet Nam e Filipinas na Ásia-Pacífico. Cada um deles possui recursos naturais substanciais, mas não construíram muitas marcas que sejam sustentáveis para além de suas fronteiras. O mesmo se aplica, em grande parte, no caso da Austrália e Nova Zelândia. Lá, as firmas parecem satisfeitas em vender seus recursos naturais sem marcas. 8234_AnuncioMix.ai 14.05.08 10:52:25 As marcas e a construção das marcas estão se tornando fatores cada vez mais importantes na economia global. Agregar valor de longo prazo sustentável pareceria crítico, tanto para as firmas quanto para os países onde estão localizadas. Como a importância da cultura aumenta em todo mundo, pode-se apenas especular sobre como o valor das marcas de nações industriais orientadas para a cultura poderia entrar em declínio e serem substituídas por marcas de países mais novos e empresas encontradas no modelo dos mercados emergentes. A esta altura, parece que apenas a Índia e as empresas indianas estão preparadas para obter lucro com as atividades de suas marcas. A Índia parece ser o único mercado emergente onde tanto a marca quanto o país podem lucrar com a agregação do valor da marca. Mas apenas o tempo irá dizer se as empresas indianas ou seus compatriotas em outras economias emergentes podem ou irão otimizar suas oportunidades. É isso o que torna o mercado de marcas tão excitante. C M Y CM MY CY CMY K THE BRANDER 47