LULA PENA BIOGRAFÍA (_pt_) Lula Pena (Lisboa, 1974) é uma cantora, guitarrista, compositora e intérprete portuguesa, que em Junho de 2010 lança o seu segundo álbum, ‘Troubadour’ (Mbari) depois de um silêncio de doze anos, que se seguiu ao lançamento do extremamente bem sucedido ‘Phados’ (Carbon 7). A pergunta mais recorrente quando se pensou, e graças a deus pensou-‐se muito, em Lula Pena, foi por onde parava e porque é que nos víamos sucessivamente privados de ouvir novos documentos desta música, que parece maravilhar todos os que com ela contactam, independentemente da parte do mundo de onde vêm. As razões são tantas como as histórias, e tão puras e honestas quanto a música. Nascida e criada no bonito Príncipe Real, cresceu longe da televisão, com o rádio do pai presença habitual em casa. Habituou-‐se, diz, ao “som sem a imagem social”. Aos 10 anos, tinha na escola uma professora que levava os seus alunos para a ponta do recreio. Aí, junto com os seus colegas, todos com os olhos fechados, tentavam, durante minutos, identificar todos os sons que escutavam, perto e longe. O seu irmão tocava guitarra e foi com ele que Lula descobriu o milagre singelo da polifonia quando os dois cantavam juntos, enquanto desbravava uma discografia com Simon & Garfunkel, Bob Dylan, folk norte-‐americana, Beatles ou jazz. Será essa parte da sua educação, mesmo que até hoje mantenha uma maneira de não “procurar nada”, mas sim de “ir encontrando”. Não odiava nem idolatrava ninguém nem coisa alguma, e se um dia, em miúda, decidia pegar na guitarra para tocar uma canção de que só se recordava vagamente, isso só lhe possibilitava que passasse, essa, e tantas outras canções até agora, a ser dela. Pegava em letras, reordenava-‐as; dava-‐lhes novas palavras, métrica e melodia. “A tradição tem que ser mantida viva para que seja tradição”. Lula Pena toca um fado a que tira o f, assumindo-‐se, sem drama ortográfico mas com crença, como phadista. Vivendo imersa nesta relação tão singular com o som, com a memória e com como carregamos connosco tudo o que já vimos, observámos e aprendemos para todo o lado, podemos pensar em Lula não só como uma das grandes reinventoras do fado, mas alguém que verdadeiramente o viveu e segue vivendo. Porque o leva para todos os portos do mediterrâneo, em direcção ao francês para que tenha mais com que falar do amor, para o Brasil e a América Central quando o balanço assim o dita, e dizendo a palavra em inglês quando tem que ser. Estudou desenho, parou – mas ainda lhe ouvimos a precisão caligráfica em cada som que produz. No dia em que conseguiu galeria em Barcelona celebrava o feito e foi assaltada, ficando sem todo o trabalho que ía expor. Lembraram-‐lhe que ainda tinha uma guitarra. Viveu em Bruxelas, onde conseguiu o seu primeiro contracto, após ter começado a tocar inicialmente na rua, e depois em bares e clubes de jazz. Tocou na Alemanha, França, Itália, Holanda ou França e para o Rei Mohammed V em Marrocos, depois da Orquestra Real e com Rabih Abhou-‐Khalil por perto. Um concerto seu foi prenda de marido no aniversário da sua esposa que celebrava 60 anos. Tantos amaram a sua música, e a sua “desidratação” das maquinações da indústria da música levou-‐a a considerar desistir por inteiro do ofício e do negócio, a recolher-‐se, chegando a FOLELÉ PRODUCCIONES: www.foleleproducciones.es / [email protected] / +34 696 291 374 recusar vários concertos. Andou de mota diariamente entre uma casa no meio do nada a ir e vir de Montemor-‐O-‐Novo, onde voltou a escrever. Diz que “a velocidade é uma coisa que não é humana”, e que o seu é um “trabalho que vem de dentro para fora – [o de] tentar perceber a tecnologia humana”. Aos grandes que assim operam, e só operam deste jeito porque são infinitos, temos que estar gratos por existirem, sendo sérios e leves ao mesmo tempo. Talvez Lula tenha estado com o seu trabalho durante demasiado tempo longe de quem entende que ela é lindíssima porque é como é, e no seu tamanho inteiro e incalculável, é um prazer dar-‐lhe espaço e calor para que connosco possa partilhar tudo o que nela está contida, e sai, no mar inteiro da sua música, numa torrente tão inquebrantável quanto calma. Os livres têm as suas próprias regras; os livres de coração bom têm regras em que podemos confiar. ‘Troubadour’ – “aquele que não estava contente com a sociedade em que vivia”, é um “disco que conheceu pessoas que conhecem as condições básicas” da sustentabilidade das coisas, entre quem a fez voltar aos palcos, Norberto Lobo (que colaborou consigo em palco), o estúdio Golden Pony e a editora Mbari (Norberto Lobo, B Fachada, Ricardo Rocha, Tó Trips). ‘Troubadour’ é um “organismo vivo que dá e recebe”, onde podemos apanhar Lula gloriosa e crua, sem confinamentos, com espaço para respirar e ser concisa – na composição, nas suas inimitáveis rapsódias de revisitação, na tremenda entrega emocional, na voz incomparável. Diz que em disco, “tudo são tentativas de”, em canção. “Uma leitura encriptada que temos que fazer do mundo constantemente”, mesmo que diga que “o que eu oiço jamais poderá estar num disco”. O palco, a que volta com maior disponibilidade no contexto de ‘Troubadour’, lançado em Lisboa no Auditório ao Ar Livre da Fundação Calouste Gulbenkian, é hoje encarado de forma bem diferente do tremor do início de carreira de Lula, da “purga” que era para si esse processo. Esse “risco enorme” que assumia obrigou-‐a à humildade e delicadeza de “actuar no palco e sentir as pessoas”. Em concordância com a soltura de ‘Troubadour’ diz que “não quer produzir discos fechados”, para que quem a vá ver em concerto tenha “o menos memória possível” na antecipação; para que cada momento que partilha com o público seja único, seja uma comunhão ritual da descoberta da criação, de momentos e reacções irrepetíveis. Nas suas palavras, diz que procura uma “tradição à escala universal. Em cada esquina está uma presença divina que nos permite chegar a essa escala”. “Se questiono o fado dessa maneira é para me sentir livre, [e para] comunicar essa liberdade”. “O artista é o que consegue expandir implodindo-‐se a si e ao mundo”. “Fazer com que a poesia seja a divisa deste mundo. Nada mais”. Independentemente da frase que lhe ouvimos, ou de onde lhe começamos a escutar o raciocínio, é esta a sua teia de coerência, espraiada por todas as frases, gestos e dias, que temos o privilégio de escutar, na sua inteireza, na forma de música. Está reunida a constelação de circunstâncias e acontecimentos para que, finalmente, possamos viver a Lula Pena que sempre quisemos ver, para que a possamos mostrar àqueles com quem partilhamos as coisas mais preciosas, e para que esses aumentem ainda mais o círculo. Um inquestionável tesouro nacional, contemporâneo, irrepetível, em música, expressão e som, que nos dá o dom de melhor aprendermos a viver os dias como mais nossos, mais belos, porque de todos. “Se somos capazes de amar individualmente porque não aceitamos o amor numa escala maior?” FOLELÉ PRODUCCIONES: www.foleleproducciones.es / [email protected] / +34 696 291 374