FÓRUM OLÍMPICO 2000 O Movimento Olímpico em face do novo milênio Comunicações Orais e Pôsters Alberto Reinaldo Reppold Filho Nelson Schneider Todt editores UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ___________________________________________________ REITORA Wrana Maria Panizzi VICE-REITOR Nilton Rodrigues Paim PRÓ-REITOR DE GRADUAÇÃO José Carlos Ferraz Hennemann PRÓ-REITORA DE PESQUISA Maria da Graça Krieger PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO Luiz Fernando Coelho de Souza PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO Franz Rainer Semmelmann PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO Maria Alice Lahorgue PRÓ-REITORIA DE RECURSOS HUMANOS Maria Beatriz Galarraga ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA _______________________________ DIRETOR Antônio Carlos Stringhini Guimarães VICE-DIRETOR Newton Fernando Furtuna ESEF: Rua Felizardo, 750 – Jardim Botânico – Porto Alegre, RS CEP 90690-200 – Fones: (51) 3316.5829 / 3316.5830 – Fax: (51) 3316.5811 FÓRUM OLÍMPICO 2000 _______________________ COMISSÃO ORGANIZADORA Prof. Alberto Reinaldo Reppold Filho Prof. Alberto Ramos Bischoff Profa. Janice Zarpellon Mazo Prof. Nelson Schneider Todt Prof. Ricardo Demétrio de Souza Petersen Prof. Roberto Maluf de Mesquita Prof. Vicente Molina Neto COMISSÃO CIENTÍFICA Prof. Alberto Reinaldo Reppold Filho Prof. Adroaldo Gaya Prof. Alberto Reinaldo Reppold Filho Prof. Alexandre Velli Nunes Prof. Carlos Balbinotti Prof. Francisco Camargo Netto Prof. Francisco Vargas Neto Prof. Georgios Hatzidakis Profª Jane da Silva Gonzalez Profa. Janice Zarpellon Mazo Prof. João Oliva Prof. José Cícero Moraes Prof. Lamartine Pereira da Costa Prof. Luiz Fernando Kruel Prof. Marcelo Cardoso Prof. Mário Brauner Prof. Otávio Tavares Prof. Ricardo Demétrio de Souza Petersen Prof. Vicente Molina Neto SECRETARIA EXECUTIVA Heloísa Perlott Carmona Márcio Amaro Muller _________________________ __________________________________ PALESTRANTES INTERNACIONAIS Ingomar Weiler (Universidade de Graz, Áustria) Jorge Olímpio Bento (Universidade do Porto, Portugal) Margaret Costa (California State University, Estados Unidos) PALESTRANTES NACIONAIS Antônio Carlos Garcia de Viveiros (Presidente do INDESP) Carlos Arthur Nuzman (Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro) Lamartine DaCosta (Presidente da Academia Olímpica Brasileira) Francisco Radler (LADETEC – Universidade Federal do Rio de Janeiro) Emerson Franchini (Universidade de São Paulo) Gergios Hatzidakis (Universidade Bandeirante de São Paulo) Otávio Tavares (Universidade Federal do Espírito Santo) Alberto Reppold Filho (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Adroaldo Gaya (CENESP - Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Emerson Franchini (Universidade de São Paulo) Luis Onmura (Medalha de Bronze – Judô, 1984) João Paulo Medina (Sport Club Internacional) ______________________________________________________ PROMOÇÃO Academia Olímpica Brasileira REALIZAÇÃO Escola de Educação Física - Universidade Federal do Rio Grande do Sul LOCAL DE REALIZAÇÃO Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS), Porto Alegre DATA 2 a 4 de junho de 2000 ______________________________________________________ PREFÁCIO O Grupo de Estudos Olímpicos da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul tem a satisfação de apresentar, à comunidade olímpica brasileira e ao público interessado em estudar e conhecer assuntos relacionados ao Esporte Olímpico e ao Olimpismo, o livro O Movimento Olímpico em Face do Novo Milênio. Fazem parte da obra os trabalhos apresentados nas sessões de comunicações orais e pôsteres apresentados no Fórum Olímpico realizado em Porto Alegre, de 2 a 4 de junho de 2000. O evento teve por objetivo promover o debate sobre aspectos significativos do Esporte Olímpico no Brasil e foi organizado sob os auspícios da Academia Olímpica Brasileira, instituição responsável pela propagação dos princípios Olímpicos no País. O livro contém também ensaios apresentados em seminários organizados pela Academia Olímpica Internacional e Academia Olímpica Britânica nos anos de 1993 e 1997. Esses trabalhos foram incluídos no volume com o intuito de tornar pública e preservar a memória da participação brasileira nesses eventos. Esperamos que a obra seja do agrado de todos e que a publicação do material contribua para o crescimento de uma incipiente, porém promissora, área de pesquisa conhecida no Brasil como Estudos Olímpicos. Alberto Reinaldo Reppold Filho Nelson Schneider Todt Grupo de Estudos Olímpicos ESEF-UFRGS SUMÁRIO Introdução i Comunicações Orais e Pôsters 1 Educação Olímpica: Pesquisa de campo para validação de um modelo adaptado à realidade brasileira Lamartine DaCosta - Arianne Carvalhedo 2 A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento harmonioso dos atletas – Um princípio do Olimpismo Maurício Bara Filho - Luiz Ribeiro – Renato Miranda – Lamartine DaCosta 8 Projeto “Educação Olímpica na Escola” - O uso da Internet para difundir a Educação Olímpica no Brasil Cristiano Belém 17 Niké: A apropriação de um Mito Carlos Miranda - Mário Brauner 23 Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em atletas de voleibol do sexo masculino Gustavo da Silva – Daniel Garlipp – Marcelo Cardoso – Adroaldo Gaya 31 Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal Adroaldo Gaya – Osvaldo Siqueira – Marcelo Cardoso – Lisiane Torres 40 Validação de Instrumentos de Medida na Modalidade de Basquetebol Christiano Guedes 53 Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em equipes de futsal José Hernandez - Rogério Voser - Mariele Gomes 61 Etapas de uma abordagem pedagógica no basquete adaptado Lia Hoffmann – Cristiana Braiyer – Crissia Castro 72 Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol: Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da Categoria Juvenil Masculino Claiton Henrique Lenz 76 Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais Cláudio Mandarino – Francisco Camargo Netto 87 Comportamento agressivo em Escolares de 1ª a 8ª série do Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul: uma abordagem através da Teoria dos Sistemas Ecológicos Sandra Mayer 100 Jogos Olímpicos do Século XXI: O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio Walter Osório 108 Implicações éticas das relações dos Atletas com o treinamento esportivo Ana de Almeida - Lamartine DaCosta 118 O Esporte no 3o Milênio Luciana Peil 125 Estudo de caso na Recuperação pós-curúrgica de atleta de Judô visando seletiva das Olimpíadas de Sydney 2000 Luciano Ferroni – Alexandre Nunes 131 A Carta do ‘Fair Play’: Identificando seus valores universais Fernando Portela 137 Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: Um texto endereçado aos alunos das graduações Fernando Portela - Otávio Tavares 145 Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de Iniciação Desportiva pela criança Roberto Scalon 154 Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança Roberto Scalon 165 Correlação de parâmetros cinemáticos angulares com velocidade linear durante corrida em esteira Leonardo Tartaruga – Marcus Tartaruga - Leonardo Ribas – Jefferson Loss - Luiz Kruel 177 A Participação do Pólo Aquático Brasileiro nos Jogos Olímpicos e sua Ausência em Competições importantes Silvio Telles - Antônio Soares 185 A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência Arianne Carvalhedo - Nelson Todt 193 Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas Lisiane Torres – Adroaldo Gaya 203 Doping X Olimpismo Patrícia Torsani 216 Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício entre adultos brasileiros e americanos Adriana Truccolo - Eduardo De Rose 222 Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play) Marcio Turini – Lamartine DaCosta 234 Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal Rogério Voser – Ulf Klemt 244 O Estresse e a Prática Desportiva na Sociedade Contemporânea: reflexões a partir da análise de uma equipe de futebol infantil Patrícia Weiduschadt - Valdelaine Mendes 253 Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul Gilmar Weis - Ursula Muller 262 Apresentações em Eventos Internacionais 275 Physical Education in Brazil: an historical overview Alberto Reppold Filho 276 Olympism and the Pedagogical trends of Physical Education in Brazil Alberto Reppold Filho 284 Epistemological notes on the Theory of Sport Alberto Reppold Filho 289 Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul Alberto Reppold Filho 293 Programa 305 Programa do Fórum Olímpico 2000 306 INTRODUÇÃO – FÓRUM OLÍMPICO 2002 HISTÓRIA, ORGANIZAÇÃO E RESULTADOS Em 1927, quando Pierre de Coubertin foi convidado pelo governo grego para participar de uma cerimônia em sua homenagem, pelas ações que promoveu para reviver os Jogos Olímpicos, ele já comentava com seu amigo Ioannis Chrysafis, Diretor do Departamento de Educação Física da Universidade de Atenas, sobre a criação de um centro para estudar as tendências do Movimento Olímpico. Coubertin acreditava que o Movimento Olímpico não devia desviar-se de seus objetivos educacionais, e um centro de estudos auxiliaria na preservação e no progresso de seu trabalho. Vários fatores, em especial a morte de Coubertin e o advento da II Guerra Mundial, retardaram o estabelecimento de um centro de estudos. A idéia veio a concretizar-se em 1949, quando, na Conferência do Comitê Olímpico Internacional (COI) realizada em Roma, foi aprovada, por unanimidade, a criação da Academia Olímpica Internacional (AOI). A abertura oficial, contudo, ocorreu apenas em julho de 1961, após a superação de várias dificuldades. Desde a sua fundação, a AOI tem-se empenhado em estudar e discutir as idéias de Coubertin e os caminhos e perspectivas do Movimento Olímpico. De maneira a concretizar seus objetivos, a AOI instituiu encontros anuais que ocorrem em suas instalações na cidade de Antiga Olímpia, próxima ao local onde na antigüidade aconteciam os Jogos Olímpicos. Nesses eventos, que congregam a comunidade olímpica internacional, acontecem cursos, palestras e seminários. A primeira participação significativa de um acadêmico brasileiro nesses encontros aconteceu em 1991, quando o Professor Lamartine da Costa foi convidado para palestrar na Sessão Principal. Desde então, a participação brasileira tornou-se regular, com a indicação de representantes para as sessões de jovens estudantes e seminários de pós-graduação. A presença nesses eventos despertou o interesse da comunidade acadêmica brasileira em investigar tópicos relacionados ao Esporte Olímpico e ao Olimpismo. Alguns programas de pós-graduação criaram linhas e grupos de pesquisa orientados para essa área. Os resultados têm sido promissores. Vários trabalhos de mestrado e doutorado encontram-se em andamento. Outros, já concluídos, trouxeram contribuições importantes à compreensão do Olimpismo nas esferas nacional e internacional. i A Universidade Gama Filho, imbuída desse espírito, tomou a iniciativa de organizar um encontro aberto à participação de diversos setores interessados no Esporte Olímpico e no Olimpismo. Assim, de modo experimental, foi realizada a primeira edição do Fórum Olímpico, na cidade do Rio de Janeiro, em 1997. O evento teve dimensão nacional. Estiveram presentes cerca de 40 participantes, e foram apresentados 13 trabalhos, na maior parte por pessoas do meio acadêmico. É importante destacar que, paralelamente a essas iniciativas, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e o Governo Federal vinham envidando esforços na mesma direção. Ciente da necessidade de investigar aspectos relacionados ao Esporte Olímpico no País, o COB realizou reuniões e encontros desde o início da década de 90, com o intuito de estabelecer a Academia Olímpica Brasileira (AOB). A idéia acabou concretizando-se em junho de 1998. A AOB foi criada com o objetivo de difundir os princípios Olímpicos, incentivar a produção e a propagação do conhecimento referente ao Olimpismo, e promover a formação e o aperfeiçoamento de recursos humanos para diversos setores ligados ao Esporte Olímpico. Para concretizar esses objetivos, mostrou-se de fundamental importância o trabalho integrado e o intercâmbio permanente entre pesquisadores e profissionais de diferentes áreas do esporte. O Governo Federal, em parceria com instituições de ensino superior, instituiu os Centros de Excelência Esportiva - CENESPs. Esses Centros foram criados com o objetivo de fomentar a pesquisa científica sobre o esporte e apoiar programas de avaliação de atletas e identificação de talentos. Várias pesquisas encontram-se em andamento, e os resultados de outras têm sido apresentados em congressos e publicações científicas. Foi com o intuito de dar continuidade aos estudos e debates iniciados no Rio de Janeiro, e criar um espaço onde os achados da investigação científica produzida pelos programas de pós-graduação e CENESPs pudessem ser articulados com as necessidades de atletas, técnicos e demais segmentos esportivos, que a Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul tomou para si a responsabilidade de organizar o Fórum Olímpico 2000. O Evento foi organizado pela Escola de Educação Física, em parceria com a Academia Olímpica Brasileira, e contou com a participação de diversos segmentos esportivos e acadêmicos. ii Foram convidadas as federações esportivas do Estado do Rio Grande do Sul para discutirem a forma de realização do Evento. Estas receberam ampla autonomia para organizarem seus fóruns esportivos específicos. Dessa forma, o Fórum Olímpico contou com palestras, painéis, mesas-redondas, sessões de comunicação oral e pôsteres e os fóruns esportivos específicos. Com esse modelo de organização, procurou-se ampliar não apenas o número de participantes no Evento mas, sobretudo, que mais segmentos da comunidade olímpica brasileira estivessem representados. Procurou-se, também, criar uma dinâmica que favorecesse a troca de idéias e informações entre os diferentes segmentos e que estes pudessem debater tópicos relevantes tanto no que se refere aos seus interesses específicos quanto aos interesses da coletividade esportiva. O Fórum Olímpico procurou congregar personalidades nacionais e internacionais de reconhecido prestígio nos meios acadêmico, esportivo e governamental. Nesse sentido, o Evento contou com a presença dos Presidentes do Comitê Olímpico Brasileiro e do Instituto Nacional para o Desenvolvimento do Esporte – INDESP, bem como de pesquisadores de renome na área dos Estudos Olímpicos. Nos fóruns esportivos específicos, ocorreram 14 painéis e mesas-redondas tematizando as modalidades de atletismo, badminton, ginástica olímpica, natação, judô, esgrima, ciclismo, canoagem, handebol, basquetebol, tênis, triathlon, remo e esportes paraolímpicos. Nessa parte, expuseram suas idéias dirigentes de Federações e Confederações Esportivas nacionais e internacionais, técnicos de equipes e de seleções nacionais, atletas e ex-atletas olímpicos, representantes de órgãos governamentais e sociedades esportivas, num total de 39 apresentações. Com relação à pesquisa científica, foram apresentados 21 trabalhos nas sessões de comunicação oral e 10 na sessão de pôsteres, tendo participado representantes de oito universidades brasileiras. Os trabalhos foram organizados em áreas temáticas de maneira a evidenciar a diversidade de interesses e a amplitude da produção científica relacionada ao esporte olímpico no País. Dentre os temas tratados, encontram-se a estruturação da performance esportiva; a validação de instrumentos de medida; a ansiedade, a agressividade e a motivação no esporte; o crescimento e o desenvolvimento nutricional; a prestação esportiva em atletas; os hábitos de vida; e a metodologia do ensino dos esportes. Além disso, foram apresentados vários trabalhos focalizando os aspectos históricos, éticos e sociológicos relacionados iii ao Esporte Olímpico e ao Olimpismo. A comissão científica contou com 21 professores de diferentes universidades brasileiras. O Fórum Olímpico contou, ainda, como uma exposição sobre a História do Esporte organizada em parceria com instituições ligadas à pesquisa, à preservação e à divulgação da memória olímpica brasileira. Ocorreram, também, lançamentos de livros ligados a diversas áreas do esporte. O número de congressistas inscritos foi de 467. Estima-se que o Evento como um todo tenha envolvido cerca de 570 pessoas. Com base nos dados acima descritos e no índice de satisfação manifestado pelos palestrantes e congressistas, acredita-se que os objetivos do Evento tenham sido alcançados. Evidentemente, a realização de um evento dessa natureza depende do apoio de várias instituições. Nesse sentido, é importante que se registrem os mais sinceros agradecimentos à Secretaria Nacional de Esporte (SNE) do Ministério do Esporte e Turismo pelo suporte financeiro prestado ao Evento. O apoio do Instituto Nacional para o Desenvolvimento do Esporte – INDESP foi fundamental na estruturação do Fórum nos moldes idealizados pela Comissão Organizadora. Do ponto de vista da qualidade acadêmica, o suporte do INDESP possibilitou a presença de pesquisadores de renome nacional e internacional. Da mesma forma, permitiu a vinda de representantes de outros setores da comunidade olímpica brasileira. Do ponto de vista logístico, o Evento pôde ser realizado em um centro de convenções com instalações de excelente qualidade e contou com o apoio técnico de empresas especializadas nos setores de audiovisual, transporte e tradução. Regitramos, também, o agradecimento ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB), à Academia Olímpica Brasileira (AOI), às Federações Esportivas do Rio Grande do Sul e à Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FAURGS), que contribuíram de diversas maneiras para a realização do Fórum Olímpico 2000. Por fim, um especial agradecimento à direção, servidores e alunos da ESEF-UFRGS que aceitaram o desafio de realizar este Evento. Alberto Reinaldo Reppold Filho Coordenador do Fórum Olímpico 2000 iv COMUNICAÇÕES ORAIS E PÔSTERS Educação Olímpica: Pesquisa de campo para validação de um modelo adaptado à realidade brasileira Lamartine P. DaCosta - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ Arianne Carvalhedo - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ Resumo Ao analisarmos a gênese dos Jogos Olímpicos da era moderna podemos perceber que seu idealizador, o Barão Pierre de Coubertin, acreditava que o esporte seria um importante veículo para a educação do homem. Não só a para a educação do físico para a saúde como também da mente e do espírito para o desenvolvimento de valores morais importantes para a construção de uma sociedade mais pacífica. Sendo assim, elegeu alguns valores morais supostamente universais – tais como cavalheirismo, respeito mútuo, integridade, amizade, fair play, excelência, etc. – e atribuiu-lhes papéis na prática esportiva. A partir desta visão e de seus preceitos surge então a Educação Olímpica, ou seja, a transmissão de valores universais vinculados aos ideais do Olimpismo através da prática de esportes tendo os Jogos Olímpicos como pano de fundo. Contudo, não está provada a existência de um modelo de Educação Olímpica que tenha atendido plenamente as necessidades locais, mas apenas propostas idealizadas e distantes da experiência. Acreditando que estes valores podem realmente ser trabalhados na prática esportiva e que existe um enorme potencial disseminador no que se refere aos Jogos Olímpicos, a presente investigação, ainda em fase de execução, apresenta-se como uma proposta para validação de um modelo de Educação Olímpica para a realidade brasileira. Para tal vem sendo utilizado um grupo de 17 escolares adolescentes do sexo feminino praticantes de Ginástica Rítmica nos municípios de Angra dos Reis e Paraty no Estado do Rio de Janeiro. Palavras-chave: Educação Olímpica Abstract As we analyze the genesis of Modern Olympic Games we can clearly notice that its idealistic founder, Baron Pierre de Coubertin, believed that sport could be an important vehicle to the education of men. Not only to the education of the body concerning the health aspect of it, but also the education of mind and spirit so to develop important moral values for the construction of a more peaceful society. Thus, he elected some supposedly universal moral values – such as chivalry, mutual respect, integrity, friendship, fair play, excellence, etc. – and gave them roles on the sports related activities. From this point of view comes the Olympic Education, that is, the transmission of universal values attached to the “philosophy” of Olimpism through sports practices having the Olympic Games as the main scenario. However, it is not yet proved that there 2 Educação Olímpica: Pesquisa de campo para validação de um modelo adaptado à realidade brasileira has been an Olympic Education model that had fulfilled local necessities, but only proposals idealized and distant from the real experience. The present study, still under progress, is a proposal for the validation of an Olympic Education model to the Brazilian reality, as we believe that these values can be really taught through sports activities and that there is an enormous disseminating potential for what is referred to the Olympic Games. For that purpose, an all female group of 17 teenagers involved in Rhythmic Gymnastics classes in Angra dos Reis and Paraty – Rio de Janeiro is being analyzed. Key words: Olympic Education Introdução O tema da Educação Olímpica possui registros históricos relacionados a Pierre de Coubertin, na França, desde 1897. Nesta concepção originária, propunha-se reinventar os Jogos Olímpicos e os esportes em geral, dando-lhes uma conotação de "aperfeiçoamento harmonioso do homem"3. Coubertin, no desenvolver de tal concepção, almejava salvaguardar o ideal de educação preconizado na Grécia Antiga, em que a harmonia de corpo e mente era de importância essencial para a educação dos jovens. Atitudes a serem criadas nos esportistas como de busca de excelência e de ética nas relações entre adversários - o que hoje é chamado de fair play - foram objetivados por Coubertain em termos de "filosofia de vida", como até hoje vigora na Carta Olímpica7. Segundo alguns autores a principal tarefa da Educação Olímpica visa ao desenvolvimento desses preceitos morais anteriormente citados juntamente com a modéstia, sentimentos nobres, sabedoria, amizade, integridade, coragem, respeito por valores humanos e diplomacia que são pretensamente alcançados através da prática do esporte 5, 9, 10, 11, 17. Novamente citando a Carta Olímpica, no tema da Educação Olímpica tal é a sua importância que Pierre de Coubertin colocou-a como função primordial dos Comitês Olímpicos Nacionais (CONs)7. Porém, embora a Educação Olímpica e o "Olimpismo" que lhe dá fundamento - isto é, a doutrina delineada por Coubertin no final do século passado - ainda sejam prestigiadas nos dias presentes pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e seus desdobramentos nacionais (CONs), não há uma consolidação operacional de sua implantação e aperfeiçoamento. Esta particularidade tem sido expressa por dissertações de mestrado e teses de doutorado da Universidade Gama Filho que mantêm desde o inicio da década de 1990 uma linha de pesquisa sobre o tema do Olimpismo1, 2, 12, 14 . Esta situação, teoricamente, contrasta com o gigantesco potencial de comunicação e de influência sócio-cultural manifestada pelos Jogos Olímpicos, hoje um evento multicultural e de participação universal em termos de nações. Assim sendo, a pesquisa que venho apresentar e ora em andamento parte da 3 Educação Olímpica: Pesquisa de campo para validação de um modelo adaptado à realidade brasileira percepção de que há viabilidade na proposta da Educação Olímpica, mas ainda é insuficiente o conhecimento de sua efetiva operacionalização. Em que pese essa deficiência há diversas iniciativas de Educação Olímpica no Brasil e programas importantes em países avançados, tais como Canadá, Alemanha, E.E.U.U., Austrália, Inglaterra, etc.. Contudo, não está disponível ainda uma teoria nem roteiros práticos formais que garantam um pleno exercício da educação idealizada por Coubertin. Existe uma publicação do IOC, divulgada em 1995, que oferece bases para a Educação Olímpica para todos os países filiados, independente de peculiaridades culturais8. Esta proposta foi elaborada na expectativa de que cada país e cada região produzissem sua versão própria da Educação Olímpica4. Contudo, como dito anteriormente, apesar de algumas tentativas isoladas, não é suficiente ainda o acervo de experiência e conhecimento no que concerne à aplicabilidade desses modelos. Portanto, a presente pesquisa se insere na expectativa de se ajustar o modelo genérico do IOC a condições encontradas no Brasil e, se partindo daí, sugerir um roteiro de implantação e aperfeiçoamento de Educação Olímpica. Pressupostos da pesquisa A aplicação de roteiros de Educação Olímpica em jovens escolares brasileiros, diretamente envolvidos com a atividade física e desportiva, apresenta-se como experimental, uma vez que não existe ainda uma teoria de validade universal neste âmbito de conhecimento. Esta experimentação implica em se ter um padrão de referência, o qual para o caso presente vem sendo considerado o Manual de Educação Olímpica em vigor, editado em 1995 pelo COI, além de alguns manuais criados pelos Comitês Olímpicos Nacionais dos EE.UU.16 e Portugal13. Havendo o padrão de referência, os desvios de sua aplicação na realidade local podem ter surgimento ao se acompanhar a prática recomendada com as reações efetivas dos instruendos. Objetivo da pesquisa Observar a operacionalização do modelo de Educação Olímpica do COI em vigor num grupo de escolares brasileiros, a fim de avaliar sua efetividade e definir adaptações adequadas a condições locais mais pertinentes de serem encontradas no país. Sujeitos da investigação Um grupo de 17 escolares, de idades entre 11 e 18 anos, alunas de aperfeiçoamento e equipe do Projeto de Ginástica Rítmica da Cooperativa de Empréstimo e Crédito Mútuo dos Empregados de Furnas (CECREMEF), nos distritos de Praia Brava e Mambucaba, situados nos municípios de Angra dos Reis e Paraty. Estes escolares, todos do sexo feminino, vêm passando por um 4 Educação Olímpica: Pesquisa de campo para validação de um modelo adaptado à realidade brasileira regime de 3 sessões de aulas por semana com duração de 2 horas por sessão, em média. Essas alunas têm experiência mínima de 6 meses e máxima de 3 anos com esta modalidade esportiva. Metodologia A metodologia prevista para a pesquisa ora em andamento em suas linhas gerais é a Analise de Comportamento Grupal (Group-Behavior Analysis)6. Este processo metodológico é tradicional em problemas escolares em que se experimentam mudanças de comportamento, sendo o instrumental de coleta de dados definido por questionário, entrevista, registro direto de reações etc. 6 A abordagem metodológica, na opção escolhida, torna a pesquisa qualitativa e quantitativa. Inicialmente a investigação será qualitativa, já que serão escolhidos fatores passíveis de mudança, os quais deverão ser descritos (valores que são trabalhados na prática dos exercícios, por exemplo), tornando-se posteriormente quantitativa ao se mensurar mudanças durante a aplicação do modelo do COI. Inicialmente foram formuladas aulas teóricas ministradas às alunas sobre os assuntos a serem analisados – fair play e excelência – com duração de 10 minutos por sessão de treinamento. Estas aulas têm como objetivo introduzir os termos e suas significâncias básicas às participantes. Concomitantes a este procedimento estão sendo registradas reações através de controle feito com bloco de notas durante todas as sessões de treino. Após a oitava exposição teórica será feito um pré-teste com cinco alunas escolhidas de forma a representar o grupo em toda sua heterogeneidade. Este tem a intenção de apenas verificar o grau de compreensão por parte das escolares do conteúdo do questionário. Será desta forma então apresentado um questionário-piloto e as alunas determinarão se estão compreendendo seu conteúdo e através de entrevista elucidarão suas dúvidas. Após a análise deste pré-teste e suas conseqüentes modificações, será aplicada a todas as alunas a primeira avaliação através de questionário fechado. Neste será utilizado para mensuração dos dados a escala de comportamento de Lickert. Dando seqüência aos procedimentos metodológicos, seguir-se-á uma análise dos dados encontrados no questionário e a partir desta elaborar-se-ão questões elucidativas para uma futura entrevista. Paralelamente a isto, outras doze aulas teóricas estarão ocorrendo, para que ao término destas seja aplicado o questionário final, que terá as mesmas características do primeiro, porém mais elaborado, extenso e validado. Como no primeiro momento de nosso estudo, este questionário também terá como extensão uma entrevista individual com as 17 participantes do estudo. É importante salientar que, em se tratando de um estudo que objetiva analisar mudanças de comportamento a partir de um modelo de Educação Olímpica, este projeto vem priorizando o registro direto de comportamento, 5 Educação Olímpica: Pesquisa de campo para validação de um modelo adaptado à realidade brasileira obtido através de bloco de notas durante todo seu decorrer. As informações resgatadas neste processo serão de importância fundamental na análise final de dados. Revisão de literatura A base da coleta e revisão da literatura vem sendo estabelecida a partir de publicações da Academia Olímpica Internacional, Comitês Olímpicos Nacionais e de trabalhos já publicados com autores brasileiros, tal como se encontra na coletânea "Estudos Olímpicos", Editora Gama Filho, 199915. O manual do COI citado e ponto de partida da investigação é "Keep the Spirit Alive"8. Coleta de dados da investigação Os dados estabelecidos pelos pressupostos da investigação e respectiva metodologia estão sendo coletados durante o primeiro semestre letivo do ano de 2000 junto ao grupo experimental, considerando-se o semestre seguinte à coleta como destinado à análise dos dados. Assim dispondo-se, estima-se em dois semestres a duração da investigação. Referências Biblográficas 1. ABREU, N. Bases multiculturais do Olimpismo. In: TAVARES, O. & DA COSTA, L. (ed.) Estudos olímpicos. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999. p. 70-78. 2. CORREA GOMES, M. Solidariedade e honestidade: os fundamentos do fair play entre adolescentes escolares. In: TAVARES, O. & DA COSTA, L. (ed.). Estudos olímpicos. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999. p. 207-222. 3. DA COSTA, L. P. Olympism and the equilibrium of man. In: MULLER, N. (ed.) Coubertain and Olympism - questions for the future. Niedernhausen: Schors, 1998. p. 188-199. 4. DA COSTA, L. P. Comunicação oral. 1999. 5. DURANTEZ, C.. The national olympic committees and olympic education. Report of the Twenty-Seventh IOA Session. Lausanne: IOA, 1987. p. 162-171. 6. GOOD, C.V. & SCATES, D.E.. Methods of research - educational, psychological and sociological. New York: Appleton-Century-Crofts Inc., 1954 7. INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE. Olympic charter. Lausanne: Autor, 1994. 6 Educação Olímpica: Pesquisa de campo para validação de um modelo adaptado à realidade brasileira 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE. Keep the spirit alive you and the Olympic Games. A handbook for educators. A Publication of the IOC Commission for the International Olympic Academy and olympic Education. Lausanne: Autor, 1995. LOTZ, F. Youth and the olympic movement. Report of the Twenty-Seventh IOA Session. Lausanne: IOA, 1987. p. 100-106. NEVERKOVICH, S. Methods of olympic education. Report of the TwentySeventh IOA Session. Lausanne: IOA, 1987. p. 172-176. PARRY, J. Young people’s interest in competitive sport and Olympism. Report of the Twenty-Seventh IOA Session. Lausanne: IOA, 1987. p. 111-121. PORTELA, F. Contrapondo teorias da formação ética e a prática do fair play. In: TAVARES, O. & DA COSTA, L. (ed.) Estudos olímpicos. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999. p. 223-237. PORTUGAL. Câmara Municipal d’Oeiras. Divisão de Fomento do Desporto. Cadernos do Espírito Desportivo. Espírito desportivo, é importante. Oeiras, 1999. TAVARES, O. Referenciais teóricos para o conceito de “Olimpismo”. In: TAVARES, O. & DA COSTA, L. (ed.) Estudos olímpicos.. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999. p. 15-49. TAVARES, O. & DA COSTA, L. (ed.). Estudos Olímpicos. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999. UNITED STATES OLYMPIC COMMITTEE. Share the olympic dream. The United States Olympic Committee’s Curriculum Guides. Glendale: Griffin Publishing, 1995. ZERGUINI, M. Olympic Education as a contributing factor to international understanding. Report of the Twenty-Fifth IOA Session. Lausanne: IOA, 1986. p. 125-133. 7 A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento harmonioso dos atletas – Um princípio do Olimpismo Maurício G. Bara Filho - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ Luiz Scipião Ribeiro - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ Renato Miranda - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ Lamartine DaCosta - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ Resumo A filosofia do Olimpismo, idealizada pelo Barão de Coubertin, considera que o desenvolvimento do homem deve ocorrer de maneira harmoniosa entre corpo e mente. Este princípio pode ser transferido para o treinamento desportivo, no qual torna-se fundamental o trabalho de aspectos físicos e psíquicos conjugadamente. Com este intuito, o presente estudo objetivou analisar os efeitos de uma técnica mental (relaxamento progressivo) sobre o controle dos níveis de ansiedade-estado em nadadores durante um determinado período de treinamentos, a fim de possibilitar um desenvolvimento harmonioso no processo da prática esportiva competitiva. Vinte e três nadadores de ambos os sexos foram divididos em Grupo Experimental (tratamento – relaxamento progressivo) e Grupo de Controle (tratamento placebo) e durante sete semanas foram submetidos a duas sessões semanais de 30 a 45 minutos do respectivo tratamento. A análise inicial demonstrou não haver diferença estatisticamente significativa (p > 0,05) na redução da ansiedade em ambos os grupos. Porém, o teste do Qui-Quadrado apontou uma melhor evolução do Grupo Experimental, indicando que o prolongamento do tratamento evoluiria a uma diferença significativa, o que não ocorreu com o Grupo de Controle. Concluise, portanto, que a técnica de relaxamento progressivo é um meio eficaz na redução da ansiedade-estado dos atletas, contribuindo para uma melhor revolução do processo de treinamento desportivo, corroborando os princípios do Olimpismo de equilíbrio corpo e mente em busca do desenvolvimento harmonioso do ser humano através do esporte. Palavras-chave: Olimpismo, ansiedade-estado, relaxamento progressivo, psicologia esportiva. Abstract The Olympism philosophy, conceived by Pierre de Coubertin, considers that the man development must happen in a harmonious way between body and mind. This principle can be used in the competitive sports field, where it is necessary to work physical and psychological aspects together. Related to that, the purpose of this study was to analyze the effects of a mental training (progressive relaxation) in the control of state-anxiety levels in swimmers to allow a harmonious development of training process as mentioned in 8 A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento harmonioso dos atletas – Um princípio do Olimpismo Olympism principles. Twenty three swimmers were divided in Experimental Group (treatment – progressive relaxation) and Control Group (Placebo Treatment) and during seven weeks were submitted to a 30 to 45 session twice a week. At a first analysis, there was no significant statistical difference (p > 0,05) in both groups in anxiety reduction. However, the Chi-Square test depicts a better evolution in the Experimental Group, indicating that a longer treatment would lead to a statistical difference, what did not happen in the Control Group. To sum up, the progressive relaxation is an effective way o reduce state-anxiety in athletes, helping a better evolution of training process, corroborating the Olympism principles of body and mind balanced towards man harmonious development through sports. Key words: Olympism, state-anxiety, progressive relaxation, sports psychology O Olimpismo moderno foi concebido pelo Barão Pierre de Coubertin, idealizador dos Jogos Olímpicos modernos, em 1894. Entre as crenças filosóficas que o influenciaram no desenvolvimento do Olimpismo estava a filosofia clássica grega com Platão e sua obra “A República” que enfatizava uma educação de corpo e mente, porém de forma dualística (Carta Olímpica, 1997; Mechikoff, 1999) Platão, contudo, observou que uma educação com maior ênfase na parte mental do indivíduo tornava-o fraco e sem caráter. Ao mesmo tempo, constatava que os atletas que só consideravam o treinamento da parte física, ignorando os processos mentais, prejudicavam seus desenvolvimentos como seres humanos (Mechikoff, 1999). Sob esta filosofia, Coubertin considerava que o desenvolvimento do homem deveria ser harmonioso entre corpo e mente, conceito este que refletiu nos princípios 2 e 3 do Olimpismo mencionados a seguir: Princípio nº 2 “Olimpismo é uma filosofia de vida, que exalta e combina num conjunto equilibrado, as qualidades do corpo, espírito e mente...”. Príncipio nº 3 “O objetivo do Olimpismo é colocar o esporte em todos os lugares a serviço do desenvolvimento harmonioso do homem, com a visão de encorajar o desenvolvimento de uma sociedade pacífica ...”. (Carta Olímpica, 1997, p. 8) Estes princípios podem ser transferidos para o processo de treinamento desportivo que deve considerar o desenvolvimento tanto físico como psíquico dos atletas, pois a performance desportiva está diretamente relacionada com mecanismos psicológicos. 9 A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento harmonioso dos atletas – Um princípio do Olimpismo Uma condição psicofisiológica satisfatória é pré-requisito para qualquer atividade física e, para que ocorra um desenvolvimento harmonioso, torna-se necessário trabalhar capacidades como a motivação e a determinação de objetivos, satisfação com o esforço físico e programas que auxiliem o controle do estresse e a da ansiedade, tema do presente estudo, dentro de um programa completo de treinamentos e competições (Bara Filho e Miranda, 1998; Kunath, 1990). A ansiedade é um fator psicológico fundamental e importante para a psicologia do esporte, estando relacionada com o equilíbrio psicofisiológico do ser humano. É acompanhada por uma elevada reação do sistema nervoso autônomo e por um aumento da atividade endócrina. (Brandão, 1995). A ansiedade é definida por Levitt apud Cox (1994, p.101)1 como: “Um sentimento subjetivo de apreensão e ativação fisiológica elevada” e divide-se em ansiedade-traço e ansiedade-estado. Denomina-se ansiedade-estado o estado emocional imediato, sendo o componente mutável da ansiedade. Caracteriza-se por um sentimento subjetivo, conscientemente percebido de apreensão e tensão, associados à ativação do sistema nervoso autônomo e gerando reações psicofisiológicas como taquicardia, “frio na barriga e arrepio na espinha” (Spilberger apud Cox, 1994; Weinberg e Gould, 1995; Wrisberg, 1994). A ansiedade-traço é a parte da personalidade do indivíduo que possui uma predisposição para perceber certas situações como ameaçadoras ou não, e para responder a isto com aumento ou não da ansiedade-estado (Spilberger apud Cox, 1994). Um fator relevante na natação - modalidade esportiva que é objeto do presente estudo - é o fato dos níveis de ansiedade se elevarem nos últimos anos da adolescência, o que coincide com o momento de maior envolvimento no processo de treinamento da maioria dos atletas nesse esporte. Isto demonstra a necessidade e a importância de se estudar o fenômeno com a população mencionada (Cattel apud Cratty, 1983). A partir dos pressupostos teóricos mencionados anteriormente, a presente pesquisa objetivou analisar os efeitos de uma técnica mental (relaxamento progressivo) sobre o controle dos níveis de ansiedade-estado em nadadores durante um determinado período de treinamentos, a fim de possibilitar um desenvolvimento harmonioso do treinamento desportivo e do ser humano como preconizado pelos princípios do Olimpismo. Metodologia Vinte e três nadadores, sendo 16 do sexo masculino e 07 do feminino com média de idade de 16,6 anos e, aproximadamente, sete anos de treinamento 11 " subjective feeling of apprehension and heightened physiological arousal". 10 A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento harmonioso dos atletas – Um princípio do Olimpismo desportivo, que competiam por um clube da cidade de Juiz de Fora – MG, foram divididos randomicamente em dois grupos. O Grupo Experimental recebeu o tratamento com a técnica de relaxamento progressivo com o objetivo de reduzir anasiedade-estado causada por treinamentos e competições durante sete semanas com duas sessões semanais de 30 a 45 minutos. O Grupo de Controle passou por um tratamento placebo durante o mesmo período, porém com técnicas que não reduziriam a ansiedade-estado dos atletas. Três coletas de dados foram realizadas constituindo-se em pré, mid e póstestes e o instrumento utilizado foi o Questionário de Ansiedade-Estado de Spielberger que era aplicado nos atletas antes dos treinamentos. Este teste possui uma escala de pontos que varia de 20 (ansiedade mais baixa) a 80 (ansiedade mais alta) e mede como a pessoa está se sentindo no momento de sua aplicação. Sua aplicabilidade concerne aos efeitos do exercício sobre o estresse de acordo com proposições de Brown (1990). A coleta de dados transcorreu dentro da fase de maior volume e intensidade dos treinamentos até uma semana antes da competição alvo dos atletas. Como nenhum dos grupos sabia se integrava o Grupo Experimental ou o de Controle, cabendo apenas ao pesquisador esse conhecimento, a pesquisa pode ser caracterizada como simples cega (Stratton e Hayes, 1994). Resultados Numa análise estatística através dos testes “t” de Student e amostras emparelhadas, observou-se não haver diferença estatisticamente significativa (p > 0,05) na redução dos níveis de ansiedade-estado em ambos os grupos. Para uma melhor compreensão desses resultados, decidiu-se por realizar uma comparação entre os grupos nos estágios inicial (pré-teste) e final (pósteste) do tratamento. A variável em estudo, apesar de ser qualitativa, pode ser grupada em categorias e analisadas pelo teste Qui-quadrado, a fim de comparar os grupos experimentais (G.E.) e de controle (G.C.). Ao dividir-se os dois grupos em duas categorias, limitados pela mediana do G.C. (igual a 39 pontos), tem-se a seguinte disposição na Figura 1: 11 A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento harmonioso dos atletas – Um princípio do Olimpismo Figura 1 - Freqüências observadas nos grupos em relação à ansiedadeestado no pré-teste Frequência 7 6 5 4 G.C. 3 G.E. 2 1 0 Ansiedade-estado(pontos Observa-se na Figura 1 que, dividindo-se os dois grupos pela mediana, as freqüências do G.E. se aproximam bastante das do G.C.. A partir disso, aplicando o teste do Qui-quadrado, têm-se os seguintes resultados quanto às freqüências previstas (Tabela 1). Tabela 1 - Freqüências previstas nos grupos em relação à ansiedadeestado no pré-teste. G.C. G.E. Geral < 39 6,78 6,22 13 >39 5,22 4,78 10 Total 12 11 23 Pelos resultados obtidos na Tabela 1 e na Figura 1, depreende-se que não existe diferença estatisticamente significativa no estágio inicial das medidas (pré-teste) entre os grupos de controle e experimental. Para verificar-se a efetividade do tratamento, realizou-se uma comparação do estágio final (pósteste) dos grupos em relação à variável ansiedade-estado (Figura 2). 12 A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento harmonioso dos atletas – Um princípio do Olimpismo Figura 2 - Freqüências observadas nos grupos em relação à ansiedadeestado no pós-teste. Frequência 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 G.C. G.E. <39 >39 Ansiedade-estado (pontos Observa-se uma mudança. O nível de ansiedade > 39 pontos baixou no grupo experimental de 4 (quatro) para apenas 1 (um) elemento. Apesar de ser um bom resultado, isso impede o prosseguimento utilizando o teste Quiquadrado. Aplicou-se o teste exato de Fisher, uma vez que Pearson e outros autores não recomendam a aplicação do teste do Qui-quadrado para células com freqüência observada menor que 5 (cinco). O teste de Fisher revelou não haver uma diferença estatisticamente significativa entre o pré e o pós-teste no grupo experimental (p > 0,05). Mesmo assim, pode-se evidenciar que o resultado do tratamento foi bastante satisfatório no grupo experimental, enquanto o grupo de controle pouco variou. E o teste de Fisher corrobora com a indicação de que houve uma evolução do tratamento em relação à redução do nível de ansiedadeestado dos elementos amostrados. A ansiedade-estado é uma variável não objetiva, o que necessita um cuidado maior na análise dos resultados que indicando que: • No grupo de controle não houve variação entre os estágios inicial (préteste) e final (pós-teste) do experimento. Isso ficou plenamente evidenciado nos testes realizados ("t" de Student, amostras emparelhadas, Qui-quadrado e exato de Fisher); • No grupo experimental, apesar de ainda não haver uma diferença estatisticamente significativa entre os pré e o pós-testes, nota-se que as variáveis reduzidas ("t" de Student e Qui-quadrado) estão evoluindo de 13 A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento harmonioso dos atletas – Um princípio do Olimpismo forma crescente, ou seja, há fortes indicações de que o prolongamento do tratamento irá revelar um estágio final significativamente menor que o inicial para o nível de ansiedade-estado. Esses resultados, estatisticamente analisados, corroboram a literatura sobre o assunto que indica a necessidade de um trabalho de alguns meses para uma maior efetividade da técnica de relaxamento progressivo (Cox, 1994). Mesmo com um período reduzido de tratamento (sete semanas), pode-se observar que houve indicações dos resultados obtidos na redução da ansiedade-estado no grupo experimental. A redução da ansiedade-estado, quando em níveis excessivos, aparece como um dos principais problemas dos atletas, podendo prejudicar sua performance. Esse processo pode ser revertido através de técnicas de relaxamento, que efetivamente, reduzem a tensão e a ansiedade associadas ao esporte (Cox, 1994; Gould e Udry, 1994; Weinberg e Gould, 1995). Por isso, torna-se importante e essencial que o atleta aprenda e pratique técnicas de relaxamento para reduzir o estresse causado pelo processo de treinamento desportivo. O presente estudo confirmou tal conhecimento, demonstrando para técnicos e atletas que a ansiedade-estado pode ser reduzida a partir de um trabalho com pouco tempo de duração (duas horas semanais), não alterando o planejamento dos outros aspectos da performance (físico, técnico e tático). Conclusões A técnica de relaxamento demonstrou ser eficaz na redução dos níveis de ansiedade-estado, porém para que esse tipo de tratamento tenha o efeito desejado, ele deve ser realizado durante um período de tempo mais prolongado, sugerindo-se, assim, que o treinamento psicológico deve ser realizado durante o macrociclo anual de treinamentos e competições dos atletas. Um meio de preparação que venha influenciar positivas variáveis psicológicas (ex. ansiedade-estado) como foi atingido com o relaxamento progressivo, acarreta uma melhora na qualidade dos treinamentos, na relação técnico-atletas-companheiros como, também, na motivação dos atletas perante a prática desportiva. Por essas razões, deve-se utilizar um programa de treinamento psicológico desde o início da temporada de treinamentos para que a ansiedade provocada por estes não se eleve a níveis excessivos, prejudicando os atletas em seus treinamentos, competições e, por conseguinte, em seu dia-a-dia. Isso se torna relevante, pois o fenômeno do esporte competitivo tem sua importância crescendo significativamente na sociedade nos últimos anos, necessitando cada vez mais de estudos científicos para possibilitar o melhor 14 A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento harmonioso dos atletas – Um princípio do Olimpismo desenvolvimento esportivo harmonioso dos atletas sem, contudo, prejudicá-los em suas vidas. O presente estudo demonstrou que a inclusão de um trabalho psicológico no processo de treinamento desportivo é eficaz na redução dos níveis de ansiedade-estado dos atletas. Isto corrobora os pensamentos de Platão e Coubertin nos princípios do Olimpismo sobre o equilíbrio entre corpo e mente para um desenvolvimento harmonioso do ser humano. Com esse equilíbrio, o esporte pode auxiliar o desenvolvimento dos estados psicológicos dos atletas, contribuindo para que o indivíduo (cidadão) melhor enfrente situações de vida que transcendem o meio-esportivo, dando real significado à filosofia do Olimpismo. Referências Bibliográficas BARA FILHO, M. G. e MIRANDA, R. (1998). Aspectos Psicológicos do Esporte Competitivo. Treinamento Desportivo. 3 (3): 62-72. BRANDÃO, R. F. (1995). Ansiedade em atletas. Movimento. Ano V (1): 2427. BROWN, D.R.(1990). Exercise, Fitness and Mental Health. In: BOUCHARD, C. et alii (editors). Exercise, Fitness and Health: a consensus of current knowledge. Champain, IL: Human Kinetics. INTERNATIONAL OLYMPIC COMMITTEE (1997). Olympic Charter. Lausanne: IOC. COX, R. H. (1994). Sport Psychology:concepts and applications. Dubuque, Iowa (USA): Brown and Bench-Mark. CRATTY, B. J. (1983). Psicologia no esporte. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil. GOULD, D. & UDRY, E. (1994). Psychological skills for enhancing performance: arousal regulation strategies. Medicine and Science in Sports and Exercise. 26 (4): 478-485. KUNATH, L.(1990).Feminine Psychology and the Training of a HighPerformance Athlete. In: Proceedings of the 30st International Session. Ancient Olympia, IOA. 144-155. 15 A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento harmonioso dos atletas – Um princípio do Olimpismo MECHIKOFF, R. A. (1999). Selected Philosophical Influences. Paper presented in the 7th Post Graduate Seminar on Olympic Studies. Ancient Olympia Greece. STRATTON, P. e HAYES, N. (1994). Dicionário de Psicologia. São Paulo, Pioneira. WEINBERG, R. e GOULD, D. (1995). Foundations of sport and exercise psychology. Champaign,IL(USA): Human Kinetics. WRISBERG, C.A.(1994). The Arousal-Performance Relationship. Quest. 46: 60-77. 16 Projeto “Educação Olímpica na Escola” O uso da Internet para difundir a Educação Olímpica no Brasil Cristiano Mega Belém - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ Resumo O Projeto Educação Olímpica na Escola pela Internet tem o apoio da Academia Olímpica Brasileira do COB e se propõe a difundir tópicos elementares do Olimpismo: Fair Play, Símbolos e Cerimônias dos Jogos Olímpicos, História e Tradições Olímpicas. Abstract The Olympic Education in Schools by Internet Project has the support of Brazilian Olympic Academy – National Olympic Committee (COB) and has the purpose of diffusion of Olympism’s mais elements: Fair Play, Symbols and Ceremonies of Olympic Games, Olympic history and traditions. Introdução O Projeto Educação Olímpica na Escola foi criado para possibilitar o ensino dos valores do Olimpismo aos jovens estudantes das escolas brasileiras. O Programa de Educação Olímpica, em sua versão experimental, foi desenvolvido para crianças do 2º ciclo do ensino fundamental (5ª a 8ª série) e jovens do ensino médio profissionalizante. Essa iniciativa tem como propósito gerar um modelo a ser oferecido a todos os interessados no desenvolvimento da Educação Olímpica no país. Para implantação, troca de informações e divulgação do material utilizado, o Projeto foi disponibilizado na INTERNET desde out/98, nos seguintes endereços: www.pocos-net.com.br/olimpica http://www.sportseducationline.esp.br/olimpic . Atualmente estamos atualizando o site, que está com novo layout, novos conteúdos e recursos técnicos. Justificativa O Projeto Educação Olímpica na Escola tem como proposta básica a apreensão de novos comportamentos e hábitos saudáveis na adolescência. Sendo um Programa com características multidisciplinares promove a interação da disciplina de educação física com outras disciplinas. Abaixo apontamos algumas questões abordadas em um Programa de Educação Olímpica. Como a Educação Olímpica pode ajudar no Programa Escolar e aos Jovens Estudantes? 17 Projeto “Educação Olímpica na Escola” O uso da Internet para difundir a Educação Olímpica no Brasil Promovendo experiências na população jovem, que os ajudem a viver o Espírito dos Jogos Olímpicos onde quer que eles vivam, reafirmando suas tradições esportivas, heróis e heroínas do esporte. A proximidade dos Jogos Olímpicos de Sydney motiva os alunos pelo conteúdo? Sim, a mística da Olimpíada cria mais interesse e entusiasmo através da televisão, rádio e jornais, motivando os jovens e estimulando sua imaginação, com relação a países e culturas diferentes. Eventos especiais como os Jogos Olímpicos possibilitam criar uma série de tarefas para sala de aula e promovem bons modelos para importantes mensagens educacionais como: solidariedade, persistência, determinação, companheirismo, etc. Além disto os Jogos Olímpicos podem tornar-se um foco para o estudo de povos e culturas nas disciplinas de Estudos Sociais, resolução de problemas, usando a estatística esportiva em Matemática, textos e reportagens em Comunicação e Expressão, símbolos e esculturas em Educação Artísticas, línguas, etc. A Educação Olímpica interage com outros conteúdos do Ensino Fundamental e Médio? Sim, a Educação Olímpica valoriza a interdisciplinaridade dos conteúdos componentes do currículo do Ensino Fundamental e Médio, podendo representar uma alternativa pioneira em nosso País e um modelo interessante de exercitar a multidisciplinaridade, sugerida na nova Lei de Diretrizes e Base da Educação (Lei 9394/96). Os tópicos estudados no Programa de Educação Olímpica são atuais? Sim, algumas das maiores questões de nosso tempo, tais como: proteção ao meio ambiente, o papel da mulher na sociedade, conflitos globais e resolução dos mesmos, racismo e intolerância, promoção do fair play e ética, enfatizar a unidade de corpo e espírito, podem tornar-se parte de um projeto de Estudos Olímpicos e um componente dinâmico para os currículos escolares. Desenvolvimento ENSINO FUNDAMENTAL No ensino fundamental o Projeto é desenvolvido através da realização de atividades práticas e teóricas do Caderno de Atividades do Aluno do Manual de Educação Olímpica na Escola, traduzido e adaptado do manual “KEEP THE SPIRIT ALIVE - YOU AND OLYMPIC GAMES, IOC Commission for the Internacional Olympic Academy and Olympic Education, 1995”, um guia da academia Olímpica Internacional para promoção da Educação Olímpica entre crianças e jovens de todo mundo. 18 Projeto “Educação Olímpica na Escola” O uso da Internet para difundir a Educação Olímpica no Brasil ENSINO MÉDIO No ensino Médio Profissionalizante o Projeto está voltado às Escolas Agrotécnicas Federais, e visa investigar os valores e fundamentos do Fair Play, componente básico dos ideais do Olimpismo. A primeira parte do Projeto junto ao Ensino Médio Profissionalizante já foi realizada, e se constitui de uma investigação sobre os valores do Fair Play, realizado no ano de 1998 e apresentada em forma de Painel no 5º Congresso Mundial de Lazer e Tempo Livre - SP nov/98 , com o título “O ESPÍRITO DESPORTIVO (Fair-Play) NAS ATIVIDADES FÍSICAS DE LAZER PRATICADAS PELOS ALUNOS DO CURSO TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA DA ESCOLA AGROTÉCNICA FEDERAL DE MACHADO - MG", esta pesquisa foi orientada pelo Prof. Dr. Lamartine P. da Costa, que posteriormente me orientaria no desenvolvimento e criação do Projeto Educação Olímpica na Escola . A segunda parte do Projeto frente ao Ensino Médio Profissionalizante, consiste na investigação dos valores do Olimpismo nas Escolas Agrotécnicas Federais, num total de 52 escolas espalhadas por todas as regiões brasileiras. Nossa proposta de estudo tem como objetivo coletar informações via questionário descritivo em pelo menos 3 escolas de cada região, a fim de verificar quais as atitudes dos alunos frente a situações do seu cotidiano esportivo e como diferentes grupos (serão investigados jovens de todas as regiões do Brasil) reconhecem estes valores e se comportam diante deles, em situações esportivas hipotéticas que serão apresentadas no questionário de investigação. Material, Recursos e Métodos ENSINO FUNDAMENTAL No ensino fundamental o Projeto é desenvolvido através da realização de atividades práticas e teóricas proposta no Caderno de Atividades do Aluno, este caderno de atividades e foi dividido em módulos com temas associados ao Olimpismo, esta divisão permite o professor de educação física escolher uma atividade ou um tema pertinente ao conteúdo que esteja sendo estudado pelos alunos dentro da programação anual escolar. O Caderno de Atividades do Aluno parte integrante do Manual de Educação Olímpica na Escola, é constituído por tópicos relacionados com o conhecimento e aprendizagem dos Ideais do Olimpismo, 5 módulos completam o Caderno de Atividades do Aluno . Módulo1 - Espírito dos Jogos Olímpicos Modernos Símbolos e Cerimônias : Bandeira, Fogo, Cerimonial Anéis Olímpicos, Mascote ,Tocha Olímpica Pierre de Coubertin e Comitê Olímpico Internacional Carta Olímpica , Juramento Olímpico 19 Projeto “Educação Olímpica na Escola” O uso da Internet para difundir a Educação Olímpica no Brasil Módulo 2 - O Espírito dos Jogos Olímpicos da Antigüidade Olímpia a cidade sagrada Como os Jogos começaram Os esportes nos Jogos Olímpicos da Antigüidade Fatos Históricos e palavras Gregas Módulo 3 - O Espírito do Esporte Olímpico Os Jogos Olímpicos de Verão e Inverno Esportes Olímpicos, Organização e Comitês Grandes Momentos; os Heróis Olímpicos Fair Play nos Esportes: A Concepção Global Módulo 4- Jogos Olímpicos: O Espírito Universal A Geografia dos Jogos: Cidades e Países que sediaram Jogos Olímpicos As Nações Olímpicas e os Comitês Olímpicos Nacionais Desafio das Diferenças: Questões Olímpicas um Mundo de Desafios Módulo 5 - O Espírito Íntimo: O Atleta Olímpico Por trás do Atleta Olímpico: Treinamento, Determinação, Persistência, Habilidade e Otimismo Nossos Heróis e Heroínas Olímpicas Corpo Humano e as Atividades Esportivas ; Coração, Planejamento, Treinamento e Programa de Atividades Individual Vencer e/ou Perder ... O que é importante? Resolvendo o Conflito Este material pode ser copilado e reproduzido de acordo com as condições de cada estabelecimento de ensino, na sua totalidade ou em partes, uma vez que os módulos tratam de assuntos diferentes propondo atividades e tarefas independentes em cada módulo, possibilitando uma maior flexibilidade na elaboração do conteúdo disciplinar. Sendo um Programa com características multidisciplinares, permite um aumento de conhecimento nas diferentes áreas de domínio da aprendizagem: Domínio afetivo (valores e Ideais Olímpicos), Domínio Psicomotor (atividades físicas e esportivas), Domínio Cognitivo (história, culturas, símbolos, etc.), Domínio Psicossocial (solidariedade, companheirismo). ENSINO MÉDIO No ensino Médio Profissionalizante o Projeto consiste na investigação dos valores do Olimpismo nas Escolas Agrotécnicas Federais, esta investigação será feita via questionário descritivo, que deverá ser respondido pelos alunos participantes do estudo. Esta investigação tem como 20 Projeto “Educação Olímpica na Escola” O uso da Internet para difundir a Educação Olímpica no Brasil objetivo principal a verificação das atitudes e comportamentos dos jovens alunos das Escolas Agrotécnicas diante de situações hipotéticas do seu cotidiano esportivo. Os valores fundamentais do Olimpismo investigado serão os seguintes: honestidade, desportividade, solidariedade e companheirismo. As questões estarão abordando o cotidiano escolar e esportivo dos alunos das Escolas Agrotécnicas Federais, que na grande maioria das escolas espalhadas pelo Brasil vivem num regime de internato, o que garante uma característica singular a amostra em comparação as outras modalidades de ensino médio técnico-profissionalizante existente no país. As questões foram elaboradas através de um questionário fechado sugerindo situações hipotéticas, mas bem conhecidas dos alunos no ambiente escolar. As questões abordam o cotidiano dos alunos na escola, dentro de um contexto de competição, aula e lazer. Foram elaboradas 16 questões com 3 opções de resposta, uma caracterizando a concordância, outra a discordância e outra a concordância parcial com a questão (afirmações), também foram elaboradas 2 questões objetivas no questionário para investigar quais as atividades mais praticadas pelos alunos durante o tempo livre na escola . Nesta fase do Projeto o apoio do MEC – Ministério da Educação, através da Secretaria de Ensino Médio e Tecnológico - SEMTEC, na figura do ilustre Secretário Prof. Rui Berger tem grande importância, pois irá possibilitar o deslocamento a escolas regionais para divulgação do Projeto junto aos professores de Educação Física das Escolas Agrotécnicas e a coleta de dados junto a comunidade discente. Apresentação e Avaliação parcial dos resultados Não fugindo a proposta inicial do Projeto Educação Olímpica na Escola, nesta fase utilizaremos a INTERNET para a apresentação e divulgação dos resultados, a coleta de dados (resposta ao questionário) quando possível poderá ser realizada no próprio site através do preenchimento do formulário de pesquisa on-line. Todos os dados coletados e analisados na pesquisa estarão disponíveis no SITE, estes resultados serão de grande importância para futuras intervenções e para construção de um modelo no futuro. Considerações Finais A proposta aqui apresentada tem a preocupação de somar esforços para o crescimento do jovem cidadão brasileiro, proporcionando a juventude uma proposta Educacional pioneira e atual na qual as questões sociais, culturais e de saúde caminham lado a lado para construirmos uma nação mais justa e saudável. Quanto aos benefícios para o Governo Federal e o Comitê Olímpico Brasileiro, o presente Projeto intenciona criar fundamentos pedagógicos para 21 Projeto “Educação Olímpica na Escola” O uso da Internet para difundir a Educação Olímpica no Brasil disponibilizar o Programa de Educação Olímpica para todo o país, com um mínimo de custos. Referências Bibliográficas KEEP THE SPIRIT ALIVE - YOU AND OLYMPIC GAMES, IOC Commission for the Internacional Olympic Academy and Olympic Education, 1995. EDUCATION PACK - BRITISH OLYMPIC ASSOCIATION, 1996 MAYORS´ OlympicKids FOR FITNESS, United States Olympic Committee, 1998. ESTUDOS OLÍMPICOS: Programa de Pós-Graduação em Educação Física/ Editores: Otávio Tavares e Lamartine DaCosta, Rio de Janeiro, Ed. Gama Filho, 1999. CÓDIGO DE ÉTICA DESPORTIVA - Conselho da Europa, Oeiras, Câmara Municipal de Oeiras - Portugal, 1996. OLYMPIC CHARTER, Comitê Olímpico Internacional, Lausanne, COI, 1997. GONÇALVES, Carlos, O PENSAMENTO DOS TREINADORES SOBRE O ESPÍRITO DESPORTIVO NA FORMAÇÃO DOS JOVENS PRATICANTES, Oeiras, Câmara Municipal de Oeiras, 1996. 22 Niké: A apropriação de um Mito Carlos Fabre Miranda – Programa Especial de Treinamento - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Mário G. Brauner - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Resumo Este estudo tem por objetivo buscar na literatura, elementos que permitam uma melhor compreensão sobre a antiga deusa grega da vitória, a Niké. Buscamos compreender o significado, a origem e a influência desta deusa, na sociedade grega e suas relações com as atividades esportivas. Cabe aqui salientar que esta deusa estava enraizada na cultura grega., e relacionada com o sucesso obtido nos empreendimentos humanos, como as guerras principalmente. A deusa Niké era um meio de comunicação que os gregos criaram para ligar o sagrado e o mundano, entre os deuses, principalmente Atena e Zeus e os mortais. Foram identificados os principais resquícios arqueológicos ainda existentes sobre a Niké. Um dos exemplos é o Templo da Niké em Atenas, erguido em 437-432 a.C. A Vitória Alada de Samotracia, que esta no museu do Louvre e a Niké de Paionios que possuía um grande elo com as Olimpíadas antigas, são obras que demostram a influência que esta deusa tinha na sociedade da Grécia antiga. A importância deste trabalho se deve pois a imagem da deusa Niké é utilizada pelo Comitê Olímpico Internacional, nas medalhas esportivas. Desde a primeira Olimpíada em 1896, em Atenas, até o evento de Sydney, neste ano, a Niké é utilizada. Este trabalho faz parte de um estudo mais abrangente, onde a presente trabalho irá auxiliar a buscar respostas para uma possível re-interpretação pela empresa de materiais esportivos a Nike, do mito Niké. Buscamos estabelecer uma relação entre arte, religião, cultura e esporte. Palavras-chave: Niké, Mitologia Grega e Olimpíadas. Abstract This study is a literature research, looking for elements to be possible a better compression of the meaning about the goodness Nike. We want to know the meaning, the origin and the influence that this goodness had in Greek society, and her relations with sports activities. Is opportunity told that Nike was rooted in Greek culture, and has relation with success in human employees, like principally in wars. The Nike goodness was a communication between the mundane and the sacred, principally between the goods, like Zeus and Atena and the mortals. We identified the principally archaeological vestige about the Nike existence. One example is the Temple of Nike in Athens, that was heedless in 437-432 BC. The Wingless Victory of Samotrace, that is in Louvre Museum and the Nike of Paionios, who had a big link with the ancient 23 Niké: A apropriação de um Mito Olympics Games, represented the influence for this goodness in society for ancient Greece. The importance of this work is because the image of Nike is use for the International Olympic Committee, in medals. Since Athens in 1896 to Sydney, they used Nike. This work is a part of a more abrangent study. This present work will help to answer a question about a possible new interpretation for the Nike Company of shoes with the myth Nike. We want to do a relation between art, religion, culture and sports. Key words: Nike, Greek Mythology and Olympic Games Este trabalho tem como objetivo buscar compreender o significado, a origem e a influência da antiga deusa grega da vitória, Niké, na sociedade grega e suas relações com as atividades esportivas na antigüidade. A escrita desta figura mitológica em grego era Níkn. Cabe aqui salientar que este trabalho faz parte de um estudo que é mais abrangente, onde se pretende buscar a existência de uma possível re-interpretação na atualidade pela empresa de materiais esportivos Nike, do antigo mito grego da deusa Niké. Buscamos recorrer nesta revisão da literatura disponível como forma de melhor compreender o mito grego Niké, compreensão esta que julgamos importante para futuros avanços da pesquisa. O mito no qual nos centramos no momento, é de importância não somente no período antigo, mas tem uma grande influência no esporte moderno, tendo participação no Movimento Olímpico Internacional, e em diversas modalidades esportivas competitivas. É importante a utilização de imagens que ilustram a relevância da divindade Niké, nos esportes gregos da antigüidade. O significado da Niké na Grécia Antiga Segundo Carlos Prada1, Niké era a personificação que os Gregos fizeram para a vitória, ou para as conquistas. Ela era conferida por Zeus e Atena, onde estas divindades são freqüentemente vistas com pequenas Nikés em suas mãos. Não há mitos ligados a sua origem, mas ela é uma deusa antiga, nascida antes do Olimpo. Este autor coloca que Niké era irmã de Zelos, Cratos e Bia que eram personagens da cultura grega próximos dos deuses do Olimpo. Zelos era a personificação da emulação, ou seja, dos modelos. Cratos representava o poder, e Bia se relacionava com a força. Lurker (1997), em seu dicionário simbólico refere que esta deusa condecorava os vencedores com coroa de louros, ramos de palmeira e venda, que eram interpretados como símbolos de vitória e fama na Grécia antiga. No período romano, a Niké grega, se transformou na deusa conhecida como Vitória, que não precisa ser vista agora como um ser alado. Este autor argumenta que as várias imagens da Niké são representadas de diferentes O material referente a este autor foi retirado do site: www.hsa.brown.edu/~maicar/index.html no dia 06/12/1999 às 22:00hs 1 24 Niké: A apropriação de um Mito maneiras: como escrevendo sobre um escudo, ou de pé sobre o globo. Estas imagens são transferidas na arte cristã, também em imagens de anjos. Este autor cita Agostinho que em De civitate Dei IV, 17, coloca que Deus não envia Vitória, mas um anjo. E aqui se evidencia que o cristianismo também teria utilizado este antigo mito grego. A deusa Niké é um importante meio de comunicação dos vencedores com os deuses. Chamamos atenção para a antiga estátua, a Estátua de Zeus, feita por Fídias, que se localizava no interior do templo em Olímpia. Yalouris (1982), ilustra com uma reconstituição de como seria esta estátua, onde na mão direita de Zeus existia uma Niké. Aqui fica evidente a relação que esta figura mitológica possuía com os Jogos Olímpicos na antigüidade. No entanto Niké estava inserida em um contexto maior que o esportivo, muito relacionada as guerras da época. Gombrich (1993) coloca que após os gregos derrotarem as invasões persas em 480 a.C., sob o governo de Péricles, a democracia ateniense chegou ao seu apogeu. Isto se refletiu na arte e na arquitetura, onde os templos da Acrópole, que estavam destruídos, seriam agora construídos em mármore e com esplendor e nobreza jamais vistos. No apogeu grego, Péricles designou Fídias para modelar as figuras dos deuses e Ictino para planejar o desenho dos templos. O artista Fídias deu forma as figuras mitológicas gregas. As duas grandes obras de Fídias foram a estátua de Zeus, já comentada e a Palas Atena, sendo esta construída entre 447 a.C. e 432 a.C., e com uma pequena Niké também em sua mão direita. Gombrich coloca: “A arte de Fídias outorgava ao povo da Grécia uma nova concepção do divino”. Gombrich relata que a Palas Atena se localizava no interior do Partenon e assim como a estátua de Zeus, foi saqueada e destruída. Estas obras eram cobertas por ouro e outros materiais preciosos que foram saqueados. Nos resta, no entanto, uma pequena cópia desta Atena, com o nome de Atena Parthenos. A escultura original, construída entre 447 e 432 a.C., possuía onze metros de altura e era feita em madeira. Suas dimensões transmitiam temor e reverência. Uma cópia feita em mármore encontra-se atualmente no Museu Arqueológico Nacional em Atenas. Os Jogos Antigos A conexão que os diversos jogos realizados na Grécia antiga possuíam com cerimônias religiosas é bastante aceita na literatura esportiva. Yalouris (1982), por exemplo, afirma que desde os primórdios da civilização grega os jogos faziam parte dos cultos aos deuses. Sendo estes associados com festivais rurais religiosos, conectados com a fertilidade da terra, além de cultos funerais. Dentre as diversas atividades esportivas, os Jogos que se realizavam em Olímpia, em homenagem ao deus dos deuses Zeus, possuíam um grande 25 Niké: A apropriação de um Mito destaque. Os vencedores das diversas provas atléticas recebiam como prêmio uma coroa de oliva silvestre e era a maior honra que um mortal poderia alcançar. As Olimpíadas, como eram conhecidas, foram instituídas em 776 a.C., eram as mais importantes manifestações esportivas na antigüidade e influenciavam a vida de toda a população. Entretanto outros jogos também se realizavam para homenagear os deuses gregos, Guttmann (1978), relaciona os principais jogos. Os Jogos Istimos que tinham o pinheiro como material que dava origem a sua coroa de premiação e eram em homenagem ao deus Netuno, estes jogos foram fundados em 582 a.C., em Corinto e se realizavam a cada dois anos. O louro era uma característica dos Jogos Pistimos, realizados em Delfos a partir de 582 a.C., com periodicidade de quatro anos, em homenagem ao deus Apolo. Nos Jogos de Nemea, era a salsa o símbolo das premiações, eles se realizavam em Nemea, com intervalo de dois anos, a partir de 573 a.C.. Um dos pontos comum entre os diversos Jogos da antigüidade eram os prêmios, onde os vencedores recebiam uma coroa feita de algum vegetal característico da região. Nos Jogos de Olímpia existem evidencias que os prêmios eram simbolicamente entregues pela Niké. A evidências disto são as representações da Niké na mão da Estátua de Zeus e a Niké de Paionios, que será tratada em seguida. Dentre as evidências existentes desta antiga deusa, este estudo se valeu de exemplos de obras de arte, artefatos arqueológicos e do Templo na Acrópole de Atenas, que auxiliarão para melhor compreender e ilustrar este fenômeno. O Templo em Atenas Entre 437 e 432 a.C., foi erguido um templo em homenagem à Niké na Acrópoles de Atenas, onde diversas representações foram encontradas. Stewart (1984) relatou a importante relação que este templo possui com a arte e cultura ateniense. O Partenon, que é o templo central na Acrópole grega, teve iniciada a sua construção, pouco antes, em 447 ou 446 a. C.. No templo da deusa Niké, existem diversas narrativas sobre a mitologia grega. Entre elas estão: a guerra de Marathon, a guerra dos deuses com os Gigantes (Gigantomachy), e a guerra das Amazonas (Amazonomachy). Muitas destas passagens pela mitologia grega tem relação com a Niké. O fragmento do templo mais conhecido é a “Niké Amarrando as Sandálias”, que era parte integrante do parapeito do lado sul do templo. Atualmente esta obra esta no Museu da Acrópoles2. O Museu da Acrópolis pode ser acessado pelo site: www.culture.gr/2/21/211/21101m/e211am01.html 2 26 Niké: A apropriação de um Mito A Niké de Paionios Segundo o casal de arqueologistas Yalouris e Yalouris (1994) esta escultura da deusa é feita em mármore Pentelico tinha 2,11 metros de altura e foi esculpida por Paionios de Mende em Chalkidike. A “Niké de Paionios” é uma escultura que possui uma forte relação com as atividades esportivas, pois ela se localizava no santuário antigo de Olímpia. Hoje este local é um sítio arqueológico, pois lá se realizavam os Jogos Olímpicos da Antigüidade na Grécia. Na época das antigas competições gregas esta estátua ficava no canto sudoeste do templo de Zeus em uma base triangular de 8,81 metros de altura, que combinado com a escultura totalizavam 10,92 m. A face da deusa, partes do corpo e as assas infelizmente estão perdidas, mas resquícios desta obra de arte são preservados. Os autores colocam que esta estátua foi oferecida pelos Missenos e pelos Naupactians devido a sua vitória sobre os Espartanos na guerra de “Archidamean”, provavelmente em 421 a.C. Na sua inscrição se lê: “Os Missenos e os Naupactians dedicam para Zeus Olímpico, um dízimo pela vitória sobre os seus inimigos”. Um pouco mais abaixo ainda se lê: “Paionios de Mende fez esta tão bem quanto a acroteria acima do templo, pelos quais ele ganhou um valor”. O templo aqui referido é o templo de Zeus, que possui uma Niké sobre o seu telhado. Segundo Yaluoris e Yaluoris a “Niké de Paionios” é um outro exemplo do espírito competitivo e da sede de aclamação a qual tinha penetrado na arte e na vida dos gregos tão profundamente. Esta Niké é a mais antiga que se tem em dimensões monumentais, e marca um estágio decisivo na história das esculturas da Grécia. Esta é uma obra na qual a deusa da vitória está em pleno vôo, descendo do Olimpo para aclamar os vencedores, neste caso de uma guerra. Não deixa de ser impressionante que de um cubo de mármore de três metros cúbicos, surge esta tão bela obra, demonstrando a habilidade do artista como descreve este autor: “...transformar a solidez deste material na leveza de um sopro de vento”. Na atualidade esta escultura foi reconstituída em gesso, onde pode se ter uma idéia da magnitude e beleza da obra original. O local onde estava situada esta obra possui uma forte ligação com esporte e com os Jogos Olímpicos, pois Olímpia era peça central na cultura esportiva antiga. Os resquícios arqueológicos desta antiga obra de arte estão atualmente no museu de Olímpia na Grécia3. O sentido ou razão e a necessidade de competir eram vividos diariamente pelos gregos, e o prestígio nos jogos superavam os limites mundanos, em busca de poder se comunicar com deus, através da vitória; ou seja, através da mensageira dos deuses, que descia dos céus com seus atributos sagrados. A 3 O endereço eletrônico do Museu de Olímpia é: http://harpy.uccs.edu/greek/olympia2:html 27 Niké: A apropriação de um Mito escultura da Niké foi erguida para celebrar e perpetuar o triunfo que se obteve, não somente nos esportes, mas em vários aspectos da vida humana. A Niké de Samotracia A Niké de Samotracia é uma das mais conhecidas representações da Niké. Exposta no Museu do Louvre em Paris4., no mesmo setor que a Vênus de Milo, estas duas obras são grandes exemplos do período helênico grego. Esta escultura da deusa vitória, também é conhecida como: “Vitória Alada de Samotracia”. O nome Samotracia se refere a ilha ao norte do mar Egeu, onde a escultura foi encontrada. Esculpida em mármore com três metros e vinte e oito centímetros de altura, por volta do ano de190 a.C., é um ex-voto do povo de Rodes por ter vencido uma guerra no início do segundo século a.C., segundo o autor Kurish5. Esta estátua assim como a de Paionios, representa a deusa de asas abertas e são exemplos monumentais da Niké. Samotracia esta representada na proa de um barco, resistindo a uma tempestade, seus braços estão perdidos, assim como sua cabeça. Mas é evidente que seu braço direito era elevado. A exuberância do movimento e da beleza da obra é um patrimônio da cultura grega para as gerações futuras. A Niké nos dias de hoje A imagem da deusa Niké é utilizada na atualidade para relacionar sucesso esportivo e glória. Exemplos disto são as imagens que aparecem nas medalhas olímpicas. Segundo Greensfelder (1998) a imagem da deusa Niké esta presente desde as medalhas que foram entregues na primeira Olimpíada, realizada em Atenas no ano de 1896. A partir dos Jogos Olímpicos de Amsterdã, em 1928, teve início uma padronização das faces das medalhas, onde uma das faces das medalhas mostra a Niké, segurando uma coroa de louros e uma palma, com o Coliseu ao fundo. Esta face da medalha continua a ser utilizada até hoje, onde os vencedores de Sydney neste ano em setembro irão receber suas medalhas com estas imagens. Outro exemplo é o troféu que muito nos orgulha quanto brasileiros, a taça Jules Rimet que foi conquistada na Copa do Mundo de 1970, a qual ficou com o Brasil após vencer três campeonatos mundiais de futebol, organizados pela FIFA. Também importante é a marca da Federação Internacional de Atletismo Amador (IAAF), que reproduz fielmente a deusa grega da vitória, sobre um globo. O nome Niké segundo Katz (1997), inspirou o nome da empresa de materiais esportivos Nike, tão popular na cultura mundial, e a qual com os O Museu do Louvre pode ser acessado em: www.louvre.fr Esta referência se encontra no site de Adam Kurish, cujo endereço eletrónico é: www.kent.pvt.k12.ct.us/departments/General_Studies/2000/niké2.htm visitada na data de 07/03/2000 às 21:21hs 4 5 28 Niké: A apropriação de um Mito resultados deste estudo pretendemos prosseguir investigando a relação entre a empresa Nike e o mito Niké. Considerações finais Tendo este estudo o caráter de revisão bibliográfica, as conclusões são de certo modo inacabadas, entretanto, com certeza este primeiro contato com o assunto nos garante uma bagagem de conhecimentos que nos permitirão avançar em novas questões. Como podemos constatar através dos autores parece haver um consenso sobre a importância da deusa Niké e as raízes do esporte antigo, além de termos nossa curiosidade despertada para a ligação da deusa em emblemas esportivos na atualidade. O significado da deusa Niké ultrapassa o contexto do esporte. Guerras e diversos triunfos se relacionavam com a deusa, e inspiravam os artista a criar representações sobre este mito. O Movimento Olímpico Internacional, desde a antigüidade, até os dias de hoje mantém uma relação entre a Niké e os vencedores, mesmo tendo a oliva, o louro e o pinheiro, se transformado em ouro, prata e bronze. Como evidência desta relação, podemos constatar que as medalhas que os atletas do mundo todo irão receber em Sydney, terão imagem da comunicação entre o sagrado e o mundano, entre o céu e a terra. Esperamos que esta etapa concluída do trabalho possa nos levar a uma continuidade que permita estabelecer relações esporte, arte, religião e cultura também na atualidade. Referências Bibliográficas GUTTMANN, A.. From Ritual to Record: The Nature of Modern Sports. New York: Columbia University Press, 1978. 198p. YALOURIS, A.; YALOURIS, N.. Olympia: Guide to the Museum and the Sanctuary. Athens: Ekdotike Athenon S. A., 1994. 182p. YALOURIS, N. et al. The Olympic Games in Ancient Greece: Ancient Olympia and the Olympic Games. Athens: Ekdotike Athenon S. A., 1982. 302p. LURKER, M. Dicionário de Simbologia. 1 Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. GOMBRICH, E. H.. A História da Arte. 15 Ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1993. 518p STEWART, A.. History, Myth, and Allegory in the Program of the Temple of Athena Nike, Athens. Studies in History of Art. N.º 16. Pg.: 53-73.1984 29 Niké: A apropriação de um Mito GREENSFELDER, J. VORONSTOV, O. LALLY, J. Olympic Medals, a Reference Guide. Saratoga, 1998. KATZ, D.. Just do it: O espírito Nike no mundo dos negócios. 2. Ed. São Paulo: Best Seller, 1997. 383p. OLÍMPIA, Museu de. http://harpy.uccs.edu/greek/olympia2:html Visitado em 30/01/200 às 21:40hs. ACRÓPOLE, Museu da. www.culture.gr/2/21/211/21101m/e211am01.html Visitado em 09/04/2000 às 19:40hs LOUVRE, Museu.www.louvre.fr Visitado em 30/01/2000 às 21:18hs. KURISH, A. www.kent.pvt.k12.ct.us/departments/General_Studies/2000/niké2.htm Visitado em 07/03/2000 às 21:21hs. PRADA, C. www.hsa.brown.edu/~maicar/index.html. Visitado em 06/12/1999 às 22:00hs. FIFA, Federação Internacional de Futebol Associado. www.fifa.com Visitado em 02/03/2000 às 21:40hs. IAAF, Federação Internacional de Atletismo Amador. www.iaaf.com Visitado em 02/03/2000 às 22:10hs. COI, Comitê Olímpico Internacional. www.olympic.org Visitado em 03/12/1999 às 14:07hs. 30 Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em atletas de voleibol do sexo masculino* Gustavo Marçal Gonçalves da Silva - PIBIC-CNPq/PRODESP - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Daniel Carlos Garlipp – PIBIC-CNPq/PRODESP – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Marcelo Francisco da Silva Cardoso - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Adroaldo Cezar de Araujo Gaya – CNPq /PRODESP - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Resumo O presente estudo tem por objetivo identificar indicadores de desempenho desportivo, que permitam desenvolver parâmetros e metodologias para o treinamento de jovens voleibolistas. A amostra é do tipo voluntária composta por 39 atletas infanto-juvenis do sexo masculino, participantes do IV Jogos da Juventude, com idades entre 15 e 17 anos, divididos em dois grupos conforme classificação (grupo 1= 1° lugar da divisão A e grupo 2= 5° a 8° lugar da divisão B). As variáveis antropométricas avaliadas foram: estatura, peso, altura tronco-cefálica, envergadura, comprimento de membros inferiores, massa gorda e massa magra. As variáveis de desempenho motor avaliadas foram: resistência abdominal, agilidade, flexibilidade da coluna vertebral, força de preensão manual, força explosiva de membros inferiores e velocidade de deslocamento. Os procedimentos estatísticos realizados foram a ANOVA unidimensional para identificar diferenças entre os valores médios dos grupos em relação às variáveis antropométricas e de desempenho motor, e a Análise da Função Discriminante para a identificação de possíveis indicadores sobre os quais se possa separar maximalmente os grupos. Os resultados evidenciaram que as variáveis de agilidade e envergadura foram as que mais contribuíram para a discriminação dos grupos. Na matriz de classificação de Jackknife foram classificados corretamente 82,1% dos atletas de acordo com seus grupos originais. Palavras-chave: modelação da performance – desempenho esportivo - voleibol. Abstract The present study has for objective to identify indicators of sport acting, that allow to develop parameters and methodologies for the training of volleyball youth players. The sample belongs to the voluntary type composed by 39 31 Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em atletas de voleibol do sexo masculino infanto-juvenile athletes of the masculine sex, participants of the IV Jogos da Juventude, with ages between 15 and 17 years of age, divided in two groups according to classification (group 1 = 1° place of the division A and group 2 = 5° to 8° place of the division B). The variables appraised in anthropometry were: stature, weight, log-cephalic height, span, length of inferior members, fat mass and thin mass (free fat mass). The evaluated variables of acting motor were: abdominal resistance, agility, flexibility of the spine, hand grip force, inferior members explosive forces and displacement speed in 10 meters. The statistics procedures accomplished were the One Way ANOVA to find differences among the groups in relation to the variables related to the antrhopometry and acting motor, and Discriminanted Function Analysis for the identification of possible indicators on which the groups can be separate in a maximum way. The results evidenced that the agility and span variables were the ones that more contributed to the discrimination of the groups. In the matrix of classification of Jakknife they were classified 82,1% of the athletes correctly in agreement with its original groups. Key words: performance modelation - sport performance - volleyball. 1. Introdução Tendo em vista as características específicas referentes as diversas modalidades esportivas, sabe-se da importância de estudos que procuram descrever e evidenciar as exigências físicas - antropométricas e motoras - de práticas esportivas específicas. Assim sendo, descrever, delimitar e ou modelar o estado de prontidão desportiva para uma determinada modalidade constitui-se numa exigência inerente a projetos de investigação na área da detecção, seleção e monitoração do talento desportivo e em estudo de jovens atletas. Neste âmbito, este estudo tem como objetivo geral identificar indicadores de desempenho desportivo, que permitam desenvolver parâmetros e metodologias para o treinamento de jovens voleibolistas do sexo masculino visando a participação em desporto de rendimento, bem como para a detecção de possíveis talentos desportivos. Assim, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos: a) Analisar comparativamente a estrutura hierárquica da performance considerando variáveis de antropometria e de desempenho motor para a prática de rendimento desportivo em jovens voleibolistas. b) Identificar um conjunto de indicadores antropométricos e de desempenho motor capazes de justificar as diferenças entre atletas de diferentes níveis de performance no voleibol infanto-juvenil. 32 Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em atletas de voleibol do sexo masculino 2. Materiais e métodos de abordagem 2.1. Amostra A amostra foi composta por 39 atletas infanto-juvenis do sexo masculino, participantes do IV Jogos da Juventude, com idades entre 15 e 17 anos, divididos em dois grupos conforme classificação (grupo 1: 1° lugar da divisão A e grupo 2: 5° a 8° lugar da divisão B). Os jogos foram organizados pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Instituto Nacional do Desenvolvimento do Desporto (INDESP) e Governo do Estado do Rio Grande do Sul, realizados em Porto Alegre em 1998. Os atletas foram convidados há participar voluntariamente das avaliações propostas pelo Centro de Excelência (CENESP-UFRGS). O estudo é do tipo ex-post-facto com abordagem descritiva e comparativa. 2.2. Medidas Antropométricas O protocolo utilizado foi o proposto pelo International Working Group on Kinantrhopometry (IWGK), descrito por Ross & Marfell-Jones (1983) e por Borms (1987). Os atletas foram medidos nas seguintes variáveis: Estatura em cm: medida com a utilização de um estadiômetro com precisão de leitura de 1 mm; Altura tronco cefálica em cm (ATC): medida entre o vértex e a porção mais inferior da bacia, estando o atleta sentado em um banco de 50 cm de altura, com a utilização de um estadiômetro com precisão de leitura de 1 mm. Comprimento de membros inferiores em cm (CMI): calculado através da subtração entre a estatura e a altura tronco cefálica; Envergadura em cm: foi utilizada uma régua metálica fixada horizontalmente na parede, medida a distância entre os dois pontos dactiloidais, estando o atleta com os braços abertos e paralelos ao solo; Massa corporal em Kg (Peso): foi utilizada uma balança da marca Filizola com precisão de até 100 gramas. 2.2.1. Composição Corporal Foi utilizado o fracionamento da massa corporal em massa gorda e massa magra de acordo com as propostas de Boileau et al. (1985) para os atletas juvenis. A partir do percentual de gordura é facilmente calculado o valor de massa gorda (MG) e massa magra (MM). Para as dobra cutâneas (mm), os locais de medidas utilizados para a avaliação da composição corporal foram os da região tricipital e subescapular, determinadas em posição ortostática e em repouso, utilizando a padronização estabelecida por Guedes (1994). As medidas foram realizadas sempre do lado direito do avaliado, com uma precisão mínima de 0,1 milímetro, mesmo que esta seja obtida por interpolação da escala original do compasso. Realizou-se uma série de três medidas 33 Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em atletas de voleibol do sexo masculino sucessivas num mesmo local, considerando a média das três medidas como sendo o valor adotado para este ponto. Entretanto, tendo ocorrido discrepâncias superiores a 5% entre uma das medidas e as demais no mesmo local, uma nova série de três medidas foi realizada. 2.3. Medidas de Desempenho Motor Foram aplicados um conjunto de 7 testes motores conforme segue no quadro abaixo: Quadro 1 – Testes motores e seus respectivos objetivos Testes Objetivos Teste Abdominal (Sit up’s) Resistência de força dos músculos abdominais 10 x 5 metros Agilidade Preensão Manual (Hand Força estática de preensão manual grip) Sentar e Alcançar (Sit and Flexibilidade da coluna dorso-lombar e reach) elasticidade dos músculos ísquios-tibiais Impulsão horizontal Força explosiva de membros inferiores Impulsão vertical Força explosiva de membros inferiores Corrida de 10m Velocidade de deslocamento Teste de Resistência de Força dos Músculos Abdominais (Sit Up’s) Procedimento: realizado a partir de posição de decúbito dorsal, braços cruzados sobre o peito, joelhos fletidos à noventa graus, pés apoiados no solo pelo avaliador. Efetuar o maior número de flexões ininterruptas em um minuto. Materiais: colchonete de ginástica e cronômetro. Teste de Agilidade (10 x 5 metros) Procedimento: Correr o mais rápido possível, partindo da posição de pé, com um dos pés mais avançado, imediatamente atrás da linha de partida. Corrida de ida e volta, cruzando as linhas limítrofes dos cinco metros com os dois pés realizando um total de dez percursos. Será considerado o tempo total de realização do percurso (dez vezes cinco metros). Materiais: cronômetro, fita métrica e marcações de duas linhas de 120 cm paralelas no solo à distância de 5 m uma da outra. Teste de Força Estática de Preensão Manual (Hand-grip) Procedimento: Segurar o dinamômetro com a mão dominante, afastá-lo levemente do corpo e fazer de forma progressiva e contínua, mantendo-a durante aproximadamente dois segundos. Realizar duas tentativas, considerando o melhor resultado em kgf. 34 Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em atletas de voleibol do sexo masculino Materiais: dinamômetro manual com punho adaptável. Teste de Flexibilidade da Coluna Dorso-lombar e da Elasticidade dos Músculos Ísquios-tibiais (Sit and Reach) Procedimento: Sentado com os pés apoiados verticalmente na caixa de teste, inclinar o corpo para a frente tentando alcançar o máximo possível a frente, sem fletir os joelhos e com as mãos estendidas para frente. Tentar manter a posição aproximadamente durante dois segundos, sem executar movimento de balanço. Realizar duas tentativas registrando-se o melhor índice em centímetros. Materiais: caixa específica do teste de Sentar e Alcançar Teste de Força Explosiva de Membros Inferiores (Impulsão Horizontal – IH) Procedimento: Saltar a maior distância possível, partindo com os pés paralelos, joelhos flexionados, sem realizar balanço de braços. Realizam-se três tentativas e registra-se o melhor resultado. Materiais: solo antiderrapante, fita métrica. Teste de Força Explosiva de Membros (Inferiores Impulsão Vertical – IV) Procedimento: Saltar a maior altura possível, partindo com os pés paralelos, joelhos levemente flexionados, sem realizar balanço de braços. Realizam-se três tentativas e registra-se o melhor resultado. Material: Jump Meter. Teste de Velocidade de Deslocamento (Corrida de 10m) Procedimento: Duas linhas paralelas intermediárias são situadas a dois metros da linha inicial e a um metro da linha final. O atleta se posiciona imediatamente atrás da primeira linha e ao sinal do avaliador parte na maior velocidade possível até alcançar a quarta linha. Todavia, o registro do tempo é efetuado apenas entre a segunda e terceira linhas e considera-se a velocidade média para realização do percurso. Materiais: Pista plana e antiderrapante, cronômetro. 2.4. Procedimentos Estatísticos Primeiramente foi realizada uma Análise de Variância (ANOVA) unidimensional entre os dois grupos para identificar as possíveis diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos nas variáveis antropométricas e motoras. Posteriormente foi realizada uma Análise da Função Discriminante para identificarmos um conjunto de indicadores ao longo dos quais é possível a maximização de diferenças entre os grupos. 35 Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em atletas de voleibol do sexo masculino 3. Resultados e discussão A análise dos resultados possibilitou a identificação das variáveis que evidenciam as diferenças entre os dois grupos estudados. Tabela 1 – Resultados da ANOVA G1 FATORES Média Medidas Estatura longitudinais ATC CMI Enverg. Medida de Peso massa Composição MG Corporal MM Testes de desempenho it up’s motor 10 x 5 m and grip Sit and reach IH IV 10 m 189,42 90,11 99,44 197,04 77,05 G2 Desvio Erro Padrão Padrão 8,37 2,79 3,03 1,01 6,16 2,05 9,55 3,18 7,35 2,32 Média Sig. 183,28 86,83 96,58 190,18 72,34 Desvio Padrão 6,14 2,95 4,58 6,78 8,61 Erro Padrão 1,10 0,53 0,82 1,21 1,54 0,020* 0,006* 0,136 0,020* 0,129 14,62 63,87 52,44 3,38 4,70 7,53 1,12 1,56 2,51 13,86 58,48 47,51 5,02 5,16 7,64 0,90 0,92 1,41 0,675 0,008* 0,099 20,86 H 53,66 1,16 11,06 0,38 3,68 22,39 45,54 1,00 5,83 0,18 1,04 0,000* 0,005* 34,77 233,11 60,22 5,38 11,13 20,11 5,30 0,27 3,71 6,70 1,76 0,009 31,31 222,06 59,50 5,09 8,93 16,03 4,28 0,20 1,65 2,92 0,95 0,003 0,344 0,096 0,700 0,002* S * Diferença estatisticamente significativa (p<0,05) Na tabela 1, verifica-se a importância das medidas longitudinais para este esporte visto que a estatura, a altura tronco cefálica e a envergadura, apresentaram diferença estatisticamente significativa a favor do grupo de melhor performance. Em relação à composição corporal, identificou-se diferença estatisticamente significativa a favor do grupo de melhor performance quando se verifica a massa magra. Segundo Garganta et alli, 1993, levando-se em consideração a ausência de contato direto com os adversários, a separação da quadra por uma rede elevada e os gestos de ataque e defesa que dependem fundamentalmente do gesto técnico, compreende-se a importância da estatura e conseqüentemente da envergadura no voleibol. A diferença quanto a massa livre de gordura indica a importância da estrutura esquelético-muscular, característica nos esportes de potência muscular. Quanto as variáveis de desempenho motor, o grupo de melhor performance apresentou diferenças estatisticamente significativas em relação 36 Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em atletas de voleibol do sexo masculino ao segundo grupo nos testes de agilidade, força de preensão manual e 10 metros. Estes resultados parecem estar de acordo com a exigência motora no voleibol, uma modalidade desportiva na qual os deslocamentos caracterizam-se curtos, realizados em alta velocidade e com constante mudança de direção, evidenciando a importância da agilidade e da velocidade de deslocamento em curtas distâncias. Através da Análise da Função Discriminante, é possível determinar quais das variáveis analisadas tem poder discriminatório e possibilitam uma correta classificação dos indivíduos que justifique os diferentes níveis de performance. Tabela 2 – Matriz de coeficientes estruturais VARIÁVEL FUNÇÃO 10 x 5m 0,667 MM -0,628 Estatura -0,537 Hand Grip -0,534 Envergadura -0,507 Peso -0,499 ATC -0,458 IH -0,442 CMI -0,388 10 metros -0,353 MG -0,237 IV -0,226 Sit up’s -0,213 Sit and reach -0,156 Nos resultados da tabela 2, é importante ressaltar que todas as variáveis que apresentaram valores acima de 0,30 são relevantes na definição do perfil do jogador de voleibol desta categoria, segundo a matriz de coeficientes estruturais. Estes coeficientes são correlações que representam a contribuição relativa de cada variável para a construção de uma combinação linear capaz de distinguir os grupos (Função Discriminante). Porém, a contribuição relativa das variáveis não expressa o poder discriminante da função. Para este fim, utiliza-se o método discriminante Stepwise que inclui e exclui variáveis na Função Discriminante visando selecionar aquelas que maximizam a discriminação entre os grupos de acordo com o critério estatístico Lambda de Wilks. 37 Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em atletas de voleibol do sexo masculino Tabela 3 – Valores de Lambda de Wilks e significância das variáveis Passo 1 2 Variável Introduzida 10 x 5 Envergadura Lambda de Wilks 0,669 0,474 Nível de Significância 0,001 0,000 A tabela 4 sumariza os passos na aplicação deste método. A variável agilidade é a que mais poder tem de discriminar os dois grupos e, por isso, é a primeira a ser introduzida no modelo. Embora o poder discriminatório da variável envergadura é inferior, este ainda é significativo, incluindo-a na análise. Os resultados demonstram a alta significância que estas duas variáveis tem para discriminar os grupos quanto à performance. Cabe ressaltar que dos resultados obtidos nesta última análise, não significa que as demais variáveis analisadas não sejam importantes para a prática do voleibol. No entanto, para discriminarmos estes dois grupos as diferenças capazes de predizer a performance estão localizadas nas variáveis agilidade e envergadura. Através da classificação de Jackknife, a AFD reclassifica os atletas de acordo com o modelo matemático nos grupos previamente definidos, classificando-os da seguinte forma: Tabela 4 – Classificação de Jackknife G1 G2 G1 7 2 77,8% 22,2% G2 5 25 16,7% 83,3% TOTAL 9 100% 31 100% A Função Discriminante permite classificar corretamente 7 dos 10 atletas (77,8%) no grupo de melhor performance e 26 dos 31 (83,3%) no grupo com classificação inferior nos Jogos. No resultado final foram classificados corretamente 82,1% dos atletas de acordo com os seus grupos originais, o que permite considerar este índice como plenamente adequado para a relevância deste estudo. 4. Conclusão Em relação a ANOVA pôde-se identificar diferença estatisticamente significativa a favor do grupo de melhor performance nas variáveis estatura, altura tronco cefálica, envergadura, massa magra, agilidade, força estática de preensão manual e velocidade de deslocamento. Considerando a matriz dos coeficientes estruturais, observou-se a relevância das variáveis agilidade, massa magra, estatura, força estática de preensão manual, envergadura, massa corporal, altura tronco cefálica, impulsão horizontal, comprimento de membros inferiores e velocidade de deslocamento 38 Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em atletas de voleibol do sexo masculino para a construção de uma combinação linear capaz de distinguir os grupos (Função Discriminante). Utilizando a Análise da Função Discriminante através do método Stepwise, destacaram-se a agilidade (10 x 5 metros) e a envergadura como as variáveis que detem poder discriminatório para o rendimento de atletas de voleibol do sexo masculino da faixa etária investigada. Estas duas variáveis maximizaram as diferenças entre os grupos, permitindo classificar corretamente 82,1% dos indivíduos, conforme os perfis previamente estabelecidos. * Trabalho realizado na rede CENESP pela UFRGS; publicado na Revista da Faculdade de Educação Física da Universidade do Amazonas, v. 2, n. 3-4, jan./dez. 2001. 5. Referências bibliográficas BOILEAU, R.; LOHMAN, T.; SLAGHTER, M. (1985): Exercise and Body Composition of Children and Youth. Scandinavian Journal of Sports Science. 7: 1721. BORMS, J. (1987): Kinanthropometry – a Post Graduate Course. Instituto Superior de Educação Física – Universidade Técnica de Lisboa. GARGANTA, R.; MAIA, J.; JANEIRA, M.A. (1993): Estudo discriminatório entre atletas de voleibol do sexo feminino com base em testes motores específicos – A ciência do desporto, a cultura do homem. Universidade do Porto – Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física. Câmara Municipal do Porto – Pelouro do Fomento Desportivo. GAYA, A.; CARDOSO, M.; TORRES, L.; SIQUEIRA, O. (1997) : Os jovens atletas brasileiros. Relatório do estudo de campo dos Jogos da Juventude de 1996. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Centro Indesp de Excelência Esportiva. GUEDES, D. P. (1994): Crescimento, composição corporal e desempenho motor em crianças e adolescentes do município de Londrina (PR), Brasil. Tese de Doutoramento, Universidade de São Paulo. ROSS, .W.; MARFELL-JONES, M. (1983): Kinanthropometry . in Mcdougall, J.; Wenger, H.; Green, H. (eds); Physiological Testing of the Elite Athlete. pp. 75115. Mouvement Publications, Inc. New York. 39 Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal Adroaldo Gaya – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Osvaldo Donizete Siqueira – Universidade Luterana do Brasil, Canoas/RS Marcelo Cardoso - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Lisiane Torres – FAPERGS - Universidade de Santa Cruz do Sul /RS Resumo Considerando que a performance desportiva se edifica sobre um conjunto de variáveis biológicas, psicológicas, sociológicas, somáticas e motoras, esta investigação tem por objetivo descrever perfil sobre os hábitos de vida, fatores motivacionais à prática desportiva, composição corporal e aptidão motora. Foram investigados 47 atletas juvenis da modalidade de futsal, referente as 4 principais equipes do Rio Grande do Sul. Para descrição do perfil relativo as variáveis de prestação desportiva utilizamos os seguintes instrumentos de avaliação: Os hábitos de vida através do inventário EVIA adaptado para a especificidade desta população por Gaya et alli 1997. Para a identificação dos principais fatores motivacionais utilizamos questionário desenvolvido por Gaya, A., Cardoso, M., 1998, A determinação da composição corporal foi efetuado de acordo com as propostas de Boileau et al. (1985) e a aptidão motora através da bateria de testes do PRODESP. Os atletas evidenciaram em seus resultados que na sua maioria, pertencem à classe média-alta e tem uma freqüência de treino de quatro vezes por semana com duração média (em horas) de cada sessão de treinamento é de duas horas. Os jovens demonstraram uma tendência a valorizarem mais o fator motivacional ligado ao rendimento desportivo. O perfil revelado pelos atletas em relação aos testes motores demonstra um perfil único, pois os mesmos não apresentaram diferenças estatisticamente significativas em relação as variáveis clubes e posições. Palavras-chave: perfil, futsal juvenil, prestação desportiva Abstract Considering that the sport performance is built on a group of biological, psychological, sociological, somatic and motor variables, this investigation has for objective to describe the profile about life habits, motivationals factors to the sport practice, body composition and motor aptitude. Were investigated, 47 juvenile athletes of the futsal modality, referring the 4 main teams of Rio Grande do Sul. For description of the profile related to the variables of sport installment were used the following evaluation instruments: The life habits through the inventory EVIA adapted for the specificalty of this population by Gaya et alli 1997. For the identification of the main motivationals factors were used the questionnaire developed by Gaya, A., Cardoso, M., 1998. The 40 Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal determination of the body composition was made in agreement with the proposals of Boileau et al. (1985) and the motor aptitude through the battery of tests of PRODESP. The athletes evidenced in its results that in its majority, it belong to the high average class has a frequency of training of four times a week with medium duration (in hours) of each training section of two hours. The youths demonstrated a tendency to value it more the motivational factor linked to the sport revenue. The profile revealed by the athletes in relation to the motors tests demonstrates an only profile, because the same ones didn't present statistic significant differences in relation to the variable clubs and positions. Key words - profile, juvenile futsal, sport installment Introdução A investigação sobre a problemática da prospecção de talentos desportivos tem alcançado relevância e atualidade devida a atenção dada aos estudos das variáveis de prestação desportiva, Malina (1980) descreve a performance desportiva e motora como um fenômeno expresso a três dimensões: orgânica, motora e cultural, cuja expressão depende de um conjunto de predisposições e de condições que não se distribuem igualmente por todos os indivíduos, nem no mesmo indivíduo em diferentes fases de sua existência biológica. No plano desportivo, e em particular no desporto de rendimento, a definição de performance recorre à identificação e hierarquia dos fatores que a regulam, de forma a promover a melhoria da qualidade do processo de treino, especialmente aquele que é apresentado aos jovens no sentido de promover a excelência da sua performance, Maia (1993). Considerando que a performance desportiva se edifica sobre um conjunto de variáveis biológicas, psicológicas, sociológicas, somáticas e motoras, esta investigação vai discorrer: (1) sobre o perfil sociológico - através do estudo sobre os hábitos de vida dos jovens atletas; (2) sobre o perfil psicológico - através do estudo dos fatores motivacionais à prática desportiva; (3) sobre o perfil somático - através da descrição de variáveis referentes às dobras cutâneas, medidas longitudinais, perímetros e massa corporal; (4) sobre a aptidão motora - através de um conjunto de testes que abrangem as principais capacidades condicionais e coordenativas. Material e métodos O presente estudo se caracteriza como ex post facto, com técnica de abordagem do tipo descritivo-exploratório. - Amostra 41 Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal No período de 15 a 17 de julho de 1997, foi realizado na cidade de Pelotas - Rio Grande do Sul -, um torneio seletivo de futsal categoria juvenil para compor a equipe representativa do estado que participaria dos III Jogos da Juventude a realizar-se em Goiania -Goiás -. Participaram as 4 principais equipes do Rio Grande do Sul, representando a expressão mais evoluída desta categoria no estado, Neste torneio participara 47 atletas do sexo masculino com idade entre 14 a 17 anos: Juventude Esporte Clube de Caxias do Sul, (n = 11) Clube Brilhante de Pelotas, (n = 12) Grêmio Náutico Gaúcho de Porto Alegre, (n = 9) Seleção das equipes escolares do Rio Grande do Sul, (n = 15) Todos os atletas foram submetidos às avaliações antropométricas, aptidão física, responderam a um inventário sobre hábitos de vida e motivação para as práticas desportivas. - Instrumentos Para descrição do perfil referente as variáveis de prestação desportiva utilizamos os seguintes instrumentos de avaliação: HÁBITOS DE VIDA A avaliação dos hábitos de vida foi efetuada a partir do Inventário Estilo de Vida para Jovens. Este instrumento baseou-se no Inventário EVIA proposto por Sobral (1992) para crianças e jovens portuguesas, e, foi adaptado para a especificidade desta população por Gaya et alli 1997. MOTIVAÇÃO PARA A PRÁTICA DESPORTIVA Para a identificação dos principais fatores motivacionais utilizamos um questionário de escala somativa ou aditiva com três níveis de respostas (nada importante; pouco importante e muito importante) composta por 19 questões, ver Gaya, A., Cardoso, M., 1998. MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS Todos os atletas das três equipes foram medidos quanto a estatura, peso corporal, dobras cutâneas (tríceps, subescapular, peitoral, suprailiaca, abdominal, coxa, panturrilha), o protocolo das medidas de espessuras das dobras cutâneas, seguiu-se a padronização estabelecida por Guedes (1994). O somatotipo foi calculado de acordo com o método proposto por Heath & Carter (1966), para prescrever o tipo físico de atletas. Para a determinação da composição corporal e o fracionamento da massa corporal em dois compartimentos, massa magra e massa gorda, foi efetuado de acordo com as propostas de Boileau et al. (1985) para os atletas juvenis. A APTIDÃO MOTORA 42 Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal Foi aplicado um conjunto de 10 testes motores conforme o quadro seguinte. Quadro 1 - Teste de aptidão motora e objetivos: TESTES SIT UP’S (60 SEG.) OBJETIVOS RESISTÊNCIA DOS MÚSCULOS ABDOMINAIS 10 X 5 METROS AGILIDADE HAND GRIP FORÇA ESTÁTICA DE PREENSÃO MANUAL SIT AND REACH MOBILIDADE DA COLUNA LOMBAR TESTE DE COOPER -12 MIN. RESISTÊNCIA DE LONGA DURAÇÃO IMPULSÃO HORIZONTAL FORÇA EXPLOSIVA DE MEMBROS INFERIORES IMPULSÃO VERTICAL FORÇA EXPLOSIVA DE MEMBROS INFERIORES CORRIDA DE 20 METROS VELOCIDADE DE DESLOCAMENTO LANÇADOS SLALON COM BOLA HABILIDADE ESPECÍFICA SHUTLE RUN COM BOLA HABILIDADE ESPECÍFICA - Bateria de testes do PRODESP Apresentação e discussão dos resultados - Hábitos de Vida: a caracterização do cotidiano dos atletas Apresentaremos, a seguir, os resultados obtidos nas cinco categorias do inventário utilizado: indicadores sócio-econômicos (questões referentes ao nível de escolaridade, tipo de estabelecimento de ensino e renda familiar), caracterização do treino (freqüência semanal de treinos e tempo de duração dos mesmos) e indicadores sócio-econômicos. Em relação à renda familiar dos atletas, verificamos que grande parte da amostra caracteriza-se como pertencente à classe média-alta, sendo 48,9% mais de 15 salários, 28,9% de 10 a 15 salários, 15,6% de 5 a 10 salários e 6,7% até 5 salários. Salientamos o fato de que os dados obtidos indicam que esses atletas, na sua maioria, não desenvolvem atividades laborais (87,2% dos participantes declararam que não trabalham). Portanto, sua renda familiar é conseqüência das atividades de seus pais/responsáveis. No que se refere à escolaridade dos atletas, um elevado percentual de participantes deste estudo (85,1%) afirmou estar cursando o segundo grau e, em sua maior parte, em escolas privadas (78,3%) e, ainda, com grande concentração no turno da manhã, como podemos observar na tabela 1: 43 Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal Tabela 1. Caracterização da escolaridade: Grau de instrução Primeiro grau Segundo grau Faculdade V.p. 12.8 85.1 2.1 Tipo de Escola Municipal Estadual Privada V.p. 4.3 17.4 78.3 Turno de Estudo Manhã Tarde Noite V.p. 89.4 6.4 4.3 V.p.= valores percentuais Ressaltamos que estes dados confirmam uma tese encontrada em outras pesquisas: a de que o envolvimento com as práticas esportivas sofre influências do nível sócio-econômico de seus participantes. Estudos como os de Cauley e colaboradores (1991), e Taks e colaboradores (1995), entre outros, indicam que o esporte, longe de se caracterizar um espaço de fácil acesso, parece estar restrito ao alcance daqueles que, economicamente, têm este privilégio. Gaya e Torres (1996, e 1997), ao estudarem os hábitos de vida de escolares dos municípios de Santa Cruz do Sul (RS) e de Porto Alegre (RS), verificaram que, aproximadamente, 94% dos estudantes não praticam atividades esportivas para além das aulas de educação física e aqueles que as praticam são caracterizados como pertencentes às classes economicamente mais privilegiadas. Estes autores, ao analisarem os hábitos de vida dos atletas participantes dos Jogos da Juventude de 1996, realizados na cidade Curitiba (PR), constataram que 70,5% dos participantes do referido evento são pertencentes às classes A e B (critério ABIPEME, 1991). Portanto, o nível sócio-econômico parece consubstanciar-se numa variável interveniente nas práticas esportivas. Sendo assim, para que seja possível concretizar o desenvolvimento de gerações olímpicas em nosso País, é preciso, entre outros fatores, oportunizar o acesso de crianças e jovens à prática das diferentes modalidades esportivas, independente das classes sociais a que pertençam. - Caracterização do Treino Em média, os atletas afirmaram que treinam quatro vezes por semana, sendo que a duração média de cada treino é de duas horas. Com relação à freqüência semanal das sessões de treino, 23,4% dos atletas afirmaram que treinam de 2 a 3 vezes por semana, enquanto que 36,2 % dos participantes declararam treinar 4 vezes por semana. Este mesmo percentual (36,2%) foi encontrado na freqüência de treino 5 vezes na semana. A distribuição dos integrantes da amostra em relação à duração da sessões de treino apresenta-se da seguinte forma: 23,4% realizam sessões de treinamento com duração de 1h a 1h 50 min, enquanto que 76,0% participam de treinos com a duração de 2h a 2h 50 min. - Indicadores de saúde 44 Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal Os resultados obtidos nesta categoria indicam que os atletas participantes deste estudo mantêm hábitos saudáveis. Os percentuais obtidos revelam que grande parte destes atletas não costuma consumir bebidas alcoólicas, medicamentos ou cigarro (71,1%, 95,6% e 97,8%, respectivamente). - Perfil dos fatores motivacionais Em relação ao perfil motivacional para a prática desportiva dos jogadores de futsal, os resultados encontrados são apresentados no quadro abaixo. Quadro 2 Perfil dos atletas de futsal em relação aos “Fatores de Motivação”: Fatores motivacionais para a prática desportiva Média D.p. Aspectos relativos à saúde 2,58 0,41 Amizade e o lazer 2,33 0,45 Rendimento desportivo 2,73 0,28 O quadro 2 refere-se aos valores de média e desvios padrão em cada fator de motivação dos jogadores de futsal juvenil. Os jovens demonstraram uma tendência a valorizarem mais o fator motivacional ligado ao “rendimento desportivo”, evidenciando que os principais motivos para se envolverem e permanecerem na prática desportiva está relacionado à questões como: vencer, ser melhor no esporte, competir, ser um atleta, desenvolver habilidades e ser jogador quando crescer. O fator “aspectos relativos à saúde” foi o segundo a ter uma atribuição de valor significativa, revelando que esses jovens também praticam desporto por motivos referentes à saúde como: ter bom aspecto, manter o corpo em forma, desenvolver a musculatura e manter a saúde. Para os jogadores de futsal, o fator referente a “amizade e o lazer”, foram o que recebeu a menor atribuição de valor. Os motivos de fazer novos amigos, encontrar com os amigos, brincar e divertir-se, não são tão importantes como os outros para o envolvimento e a participação desportiva. - Perfil das medidas longitudinais e variáveis somáticas O quadro abaixo se refere ao perfil das medidas longitudinais e variáveis somáticas dos jogadores de futsal juvenil. Quadro 3 - Perfil dos atletas de futsal em relação às Medidas Longitudinais: Média D.P. Estatura 174,59 6,99 Envergadura 177,49 7,16 Altura tronco-cefálica 91,77 3,60 45 Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal O quadro 3 refere-se ao perfil geral dos jogadores de futsal, apresentando os valores de média e desvios padrão das medidas longitudinais referentes ao crescimento. As medidas descritas no quadro demonstram que os atletas possuem um perfil único, pois os mesmos não apresentaram diferenças estatisticamente significativas em relação as variáveis posição e clube. Quadro 4 - Perfil dos atletas de futsal em relação as medidas somáticas: Medidas somáticas Média D.P. Peso 66,14 6,62 73,93 19,63 ∑ Dobras Cutâneas % Gordura 22,07 5,80 IMC 21,70 1,87 Massa Muscular (kg) 51,35 4,83 Somatotipo Endo 3,52 1,13 Meso 4,25 1,03 Ecto 3,06 1,11 O quadro 4 apresenta índices médios e desvios padrão dos jogadores de futsal relacionado à variáveis que descrevem o perfil somático. De modo geral, por não termos constatado diferenças significativas nas comparações das medidas somáticas entre as posições e clubes, com exceção ao componente endomorfo e percentual de gordura onde o clube Brilhante apresentou índices inferiores aos demais, podemos inferir que em relação à atletas de futsal da categoria juvenil os índices apresentados configuram-se num perfil único. - Perfil da aptidão motora Quanto ao perfil das capacidades condicionais e coordenativas dos jogadores de futsal encontramos os seguintes resultados, que são apresentados no quadro abaixo. Quadro 5 Perfil dos atletas de futsal em relação a “ Aptidão Motora ”: Capacidades condicionais Testes motores média D.p. Dinamometria 34,74 4,89 Flexibilidade (sent. alcança) 32,81 6,79 Imp. Horizontal (salt. distân.) 217,3 16,02 Imp. Vertical (jump teste) 53,60 5,55 Cooper (12 min.) 2815,5 201,86 Resist. Abdominal (rep.1 min) 52,52 6,75 Velocidade (20 met.) 2,71 0,113 46 Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal O quadro 5 refere-se ao perfil geral dos jogadores juvenis de futsal apresentando os valores de média e desvio padrão em cada teste motor que compõem as capacidades condicionais. Os testes motores descritos no quadro demonstram um perfil único, pois os mesmos não apresentaram diferenças estatisticamente significativas em relação as variáveis clubes e posições. Quadro 6 Perfil dos atletas de futsal em relação a “ Habilidades Motoras ”: Capacidades Coordenativas Teste de habilidades Média D.p. Agilidade (10 X 5 m) 18,64 1,19 Habilidade com bola 18,55 2,59 S. Run ( 9,14 m) 11,16 0,47 O quadro 6 nos mostra o perfil geral dos jogadores de futsal juvenil em relação aos valores de média e desvio padrão nos testes de habilidades, que compõem as capacidades coordenativas. Conclusões Em síntese, considerando as informações obtidas pelo inventário Estilo de Vida em Jovens Atletas, podemos delinear um perfil para esses atletas de futsal com as seguintes principais características: • Na sua maioria, os atletas pertencem à classe média-alta; • Durante a semana, esses atletas possuem, em média, oito horas e meia de sono diárias. As principais atividades por eles desenvolvidas no interior de sua residência são: assistir televisão, escutar música, conversar com os amigos e estudar. No exterior de sua moradia, durante a semana, costumam conversar com os amigos e jogar bola; • Aos finais de semana, os hábitos de sono são mais heterogêneos. As atividades realizadas no interior da moradia não sofrem muita alteração. Porém, os participantes deste estudo diversificam mais suas atividades no exterior de suas moradias neste período semanal: atividades como freqüentar shopping center e danceterias e passear de carro, são adicionadas aos hábitos de conversar com amigos e jogar bola; • Os materiais de esporte mais adquiridos por esses atletas são a bicicleta, a bola de futebol e chuteiras; • Os locais prediletos para a realização de práticas de lazer são o clube, a cancha da escola e os parques/praças; • A participação sócio-cultural destes atletas é restrita ao clube a que pertencem; • Em média, os participantes deste estudo treinam quatro vezes por semana sendo que a duração média (em horas) de cada sessão de treinamento é de duas horas; 47 Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal • O jogador de futsal não tem o hábito de consumir bebidas alcoólicas, fumo ou medicamentos. A ocorrência de alergias e de fraturas entre a amostra estudada, apresentou-se relativamente baixa. Quanto aos aspectos relacionados à motivação para a prática desportiva podemos concluir que: • Em relação ao fator “aspectos relativos à saúde”, podemos inferir que, provavelmente os índices de motivação apresentado pelos jovens a este fator esteja relacionado à um discurso dos técnicos e professores de educação física, voltado para a aptidão física referenciado à saúde. Também, a preocupação com a saúde e a aparência, é discurso evidenciado pelos pais. Todavia, cabe ressaltar que embora a educação física tenha esse discurso, no campo da ação concreta não se atinge tal objetivo. No entanto, acreditamos que estes objetivos possam ser concretizados, quando esta prática e realizada de maneira organizada e sistemática. • Em relação ao fator “rendimento desportivo”, as tendências evidenciadas de valorização a este fator pelos jogadores de futsal, como o mais significativo para prática desportiva pode estar ligado, as influências do contexto da prática, incentivos e apoio dos pais e treinadores. No entanto, são motivados principalmente pela realização pessoal, pela auto-afirmação no grupo, auto-estima e pelo desafio que as situações da prática oferecem. As aspirações de ser jogador quando crescerem, ser o melhor atleta, de apresentar melhor rendimento e de demonstrar suas habilidade demonstram sua motivação para envolverem-se e persistirem na pratica do futsal. • Em relação ao fator “amizade e o lazer”, os jovens apresentaram menor grau de interesse por motivos relacionados às questões que compõem este fator. Esta constatação nos parece muito consistente, visto que tanto o ambiente de treino para a competição, bem como os objetivos a serem perseguidos pelos praticantes de futsal priorizam a busca permanente pelo aperfeiçoamento da performance, na procura da ocupação do espaço na equipe, de status social, de ser reconhecido. Outros estudos realizados por Gould, 1982; Gill, 1986; Serpa, 1992, com nadadores e jovens participantes de programas desportivos, apresentam resultados semelhantes aos encontrados em nosso estudo, as motivações mais valorizadas eram em relação ao status, desenvolver habilidade, melhorar a aptidão física, desafio. No que tange as variáveis antropométricas, podemos inferir que os níveis de adiposidade foram muito semelhantes, não evidenciando diferenças significativas entre os clubes. 48 Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal Em relação ao somatotipo, os atletas de futsal comparados por posição não apresentam diferenças significativas. Já quando comparados por clubes, o componente de endomorfia do Clube Brilhante, mostrou índices inferiores aos demais. No que se refere às medidas longitudinais, sendo elas: estatura, envergadura, altura tronco-cefálica, o grupo analisado, tanto em relação aos clubes ou posições não diferiram. Em relação às medidas de peso, massa corporal, índice de massa corporal, não encontramos diferenças significativas no que se refere comparações por posição e clubes. Na análise das variáveis de aptidão física, podemos considerar que as capacidades condicionais apresentaram: • Resistência abdominal - encontramos diferença significativa na comparação dos índices por clubes, a Seleção Escolar apresentou índices inferiores aos demais clubes; • Resistência aeróbia (Cooper) - a diferença encontrada ocorreu apenas na comparação por posição, onde os goleiros mostraram índices mais baixos que as demais posições; • No que se refere aos demais testes: dinamometria, flexibilidade, impulsão horizontal, impulsão vertical e velocidade 20 metros, independente da posição ou clube, os atletas evidenciaram um perfil único. Já para as capacidades coordenativas podemos dizer que: a habilidade com bola e shutle run, demonstraram nas comparações dos índices por posição, que os goleiros tiveram uma performance inferior na execução dos testes em relação às outras posições, no entanto, o teste de agilidade não apresentou diferenças na comparação por posição e clubes. Em síntese, devemos considerar que embora seja evidente que o presente perfil para o jogador de futsal juvenil possa configurar-se incompleto, é importante ressaltar que os dados apresentados neste ensaio constituem-se em indicadores precisos nos processos de planejamento, organização, avaliação e controle de programas de treino. Referências bibliográficas ARAÚJO, T. et alii. Perfil de aptidão física de jogadores de futebol de salão de acordo com as posição tática de jogo. In: Anais IV Congresso de Educação Física e Ciências do Desporto dos Países de Língua Portuguesa. Coimbra, p.CD11-27, 1995. BOILEAU, R.; LOHMAN, T.; SLAUGHTER, M. Exercise and Body Composition of Children and Youth. Scandinavian Journal Sports Science. 7:17-27, 1985). 49 Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modadidade de futsal OILEAU, R.A., BUSKIRK, E.R., HORSTMAN, D.H., MENDEZ, J., NICHOLAS, W.C. Body composition in obese and lean men during physical conditioning. Med. Sci. 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Os instrumentos criados estão divididos em três protocolos dos quais compreendem testes relacionados a: agilidade na defesa, velocidade de deslocamento na defesa e habilidade com bola. A amostra teve é do tipo não probabilística intencional e consistiu de 9 atletas entre 16 e 18 anos de idade, da categoria juvenil, do clube Grêmio Náutico União. Sendo uma categoria homogênea, por realizarem a mesma carga de treinamento tanto técnico quanto físico, todos foram submetidos a realização dos testes e retestes em um período de 14 dias de intervalo. Para avaliar a fidedignidade utilizou-se o teste de correlação produto momento de Pearson para escala intervalar, quando o teste utiliza escalas ordinais nos valemos da correlação de Spearman. Os resultados apresentados foram: para o teste de agilidade na defesa, a correlação foi de 0.93 e um índice de significância de 0.006; para o teste de velocidade de deslocamento, o coeficiente de correlação foi de 0.92 e um índice de significância de 0.00 e para o teste de habilidade com bola o coeficiente de correlação foi de 0.79 e o índice de significância de 0.010.Concluimos que de forma geral, todos os testes apresentaram um índice estatisticamente significativo, revelando a fidedignidade dos mesmos. Unitermos: Validação – Testes de capacidade motora – Basquetebol Abstract The objective of this study went verify to effectiveness of the tests motors in the basketball modality. The instruments servants are divided in three protocols of the which understand related tests the: agility in the defense, displacement speed in the defense and ability to deal with the ball. The sample used in this study had na intencional non-probability and it consisted of 9 athletes between the age 16 and 18 years old from Grêmio Náutico União. Being a homogeneous cathegory, for they had accomplish the same amont of technician and physical training, , all of them have undergone a test and a retest in a forthning period (14-day period).. To evaluate the effectiveness the test of correlation test moment product Pearson it was used for scale intervalar, when the test uses ordinal scales we used the Spearman correlation. The presented results were: for the agility test in the defense, the correlation was of 0.93 and an index of significância of 0.006; for the test of displacement speed, the correlation coefficient was of 0.92 and an index of significância of 0.00 and for the ability test with ball the correlation coefficient was of 0.79 and the index of significância of 0.010. We concluded 53 Validação de Instrumentos de Medida na Modalidade de Basquetebol that in general all the test present na statistically significative index revealing its efectiveness. Introdução É de grande importância para qualquer esporte a existência de testes validados e fidedignos, na medida em que há maior possibilidade de um processo mais adequado de avaliação tanto para a seleção e condução de talentos desportivos quanto serve de referencial para elaboração de programas de treinamento. No entanto, temos que ter com clareza a resposta para seguinte indagação: Avaliar, por quê? Inicialmente, há dois aspectos que devem considerar, o primeiro é obter, através dos resultados, parâmetros que permitam conhecer o atleta, o seu nível de habilidade, de performance de aptidão física entre outros. Enfim, tomar conhecimento do estado inicial do atleta. O segundo seria em relação a “reavaliação” na qual verificamos se a metodologia de treinamento está adequado. Não obstante, podemos, também, selecionar um provável talento esportivo através da análise de diferentes variáveis que compõem a prática esportiva. A análise de um conjunto de variáveis nos dará condições de apontar se este atleta poderá ser um possível talento ou não. Não obstante, conduzir ou acompanhar um atleta desde as categorias de base até a adulta, também nos dará, subsídios para dizer se o atleta pode ser um possível talento ou não, levando como um dos instrumentos de medida a reavaliação, pois, dentro de um longo processo de condução do atleta, nos mostra a sua evolução. No entanto, essa é uma pergunta que os técnicos deveriam se fazer antes de iniciarem o planejamento das atividades no decorrer de um determinado período. Porém, muitos não têm clareza o que e como avaliar, quais os instrumentos de medição embora saibamos a importância de manter regularmente um sistema de avaliação específica para a modalidade esportiva praticada. Segundo Mathews (1980), “uma criança é extremamente complexa em sua formação e capacidade e, decididamente, única em muitos aspectos. Ela tem aptidões variáveis nas numerosas habilidades físicas e mentais dela requeridas pela cultura que herdou e tem certas limitações fisiológicas. Em algumas habilidades ela se distinguirá, em outras será carente”. Nesta passagem, Mathews observa o quão é importante a elaboração de um processo de avaliação sistemático. Toda avaliação tem por finalidade o julgamento, estimativa, classificação e interpretação tão fundamentais ao processo educacional total. Todavia, Mathews diferencia a “avaliação” da “medição”. A “avaliação” é um processo contínuo lidando com objetivos globais; ela é um termo mais abrangente do que a medição e refere-se comumente à avaliação total da criança. Já, a “medição” é o principal veículo para se obter informações, quer seja numa situação complexa ou simples. 54 Validação de Instrumentos de Medida na Modalidade de Basquetebol Quanto maior a precisão na medição, maior fidelidade ou confiança o investigador pode depositar nesses dados (Mathews, 1980). Durante o processo educativo de nossos atletas devemos ter como procedimento informativo de suas evoluções, o acompanhamento através de testes e o registro de medições feitas dentro de uma certa freqüência. Contudo, para fazermos essas medições e extrair informações precisas que possam nos dar condição de elaborar um planejamento de treino do modo mais adequado possível, é necessário a aplicação de testes cientificamente validados, pois esses possuem três indicadores, confiabilidade, objetividade e validade, expressando características de fulcral importância para a cientificidade das medições. Passamos, então, a definir esses termos segundo Litwin (1985): Validade: o teste mede aquilo que se pretende medir, digo, se o que ele almeja medir está coerente com o objetivo do teste. Confiabilidade: é a capacidade de um teste para demonstrar consistência e estabilidade nos resultados. Por exemplo, quando é aplicado o teste e o re-teste em um mesmo grupo de alunos e em condições semelhantes, devemos obter resultados iguais ou similares. Se os resultados forem aproximados ou iguais, podemos dizer que o teste é confiável. Objetividade: é o grau de uniformidade com que vários indivíduos podem aplicar o mesmo teste. A objetividade depende da clareza e precisão dos instrumentos do teste. Além desses indicadores, Litwin (1985) nos aponta outros elementos que temos que levar em consideração, como: Propósito do teste; Os testes devem proporcionar meios de interpretar os resultados; Possibilidade de administração, digo, praticidade de aplicação; O teste deve ter uma dificuldade adaptada ao grupo, deve estar coerente com a modalidade a ser medida; Deve diferenciar níveis de habilidade; O teste deve dar resultados precisos; Deve proporcionar um número suficiente de repetições. Dessa forma o objetivo deste trabalho é validar testes de capacidade motora na modalidade de basquetebol na categoria Juvenil do Clube Grêmio Náutico União. Material e método A amostra para o presente estudo foi do tipo não probabilística intencional que consistiu de 09 atletas do Clube Grêmio Náutico União que compunham a 55 Validação de Instrumentos de Medida na Modalidade de Basquetebol categoria Juvenil. A faixa etária compreendida entre os atletas era de 16 a 18 anos de idade que participam de competições municipais e regionais. Para avaliar a fidedignidade dos instrumentos de medida referente às capacidades motoras como, a agilidade dos jogadores na defesa, velocidade de deslocamento do jogador na defesa e a habilidade com bola do jogador de basquetebol, criamos 3 (três) protocolos. Instrumentos de Avaliação: Protocolo 1: AGILIDADE NA DEFESA Objetivo: medir a agilidade dos jogadores de basquetebol na defesa. Procedimento: realizar uma única vez o percurso, o mais rápido possível, contornando os cones e alternando o tipo de deslocamento conforme as mudanças de sentido e direção, conforme mostra a ilustração 1. Tipos de Deslocamentos: conforme os trechos referenciados na ilustração 1, há um tipo de deslocamento a ser feito e, estes são: Trechos 1 Tipo de Deslocamento Para frente Observações Pé direito à frente 2 3 4 5 Para frente Lateral para direita Para trás Para trás Pé esquerdo à frente Pé esquerdo atrás Pé direito atrás Materiais Utilizados: cones, fita métrica, cronômetro e fita adesiva. Distância dos Cones: ver ilustração 2. Ilustração 1: Ilustração 2: Protocolo 2: VELOCIDADE DE DESLOCAMENTO NA DEFESA Objetivo: medir a velocidade de deslocamento na condição de defesa. 56 Validação de Instrumentos de Medida na Modalidade de Basquetebol Procedimento: deslocar-se o mais rápido possível, em deslocamento lateral na posição básica de marcação do basquetebol, com um dos pés mais avançado, imediatamente atrás da linha de partida. Deslocamento lateral de ida e volta, cruzando as linhas limítrofes com os 2 (dois) pés (5 metros), realizando um total de 10 (dez) percursos de 5 (cinco) metros (10 vezes 5 metros). Materiais Utilizados: cones, fita métrica, fita adesiva e cronômetro. Protocolo 3: HABILIDADE COM BOLA Objetivo: medir a habilidade com bola do jogador de basquetebol. Procedimento: uma linha é traçada no solo à distância de 1,14 metros de um conjunto de 9 (nove) cones colocados em linha com 1 (um) metro de distância entre eles. O atleta conduzindo uma bola de basquete com as mãos deverá realizar o percurso de ida e volta sendo registrado o número de “zig-zags” em um tempo de 30 (trinta) segundos. Realizar o trajeto utilizando a troca de direção e, respectivamente, a alternância das mãos no pique da bola. Se por algum motivo a bola sair rolando, para perto ou longe, o teste deve ser interrompido e reiniciado. Materiais Utilizados: cones, bola de basquetebol, fita métrica, fita adesiva e cronômetro. Análise dos Resultados Para avaliar a fidedignidade dos instrumentos de medida utilizamos o teste de correlação de Pearson, para escalas intervalares e o teste de correlação de Spearman para escalas ordinais. Considerando o “cut print” de 0.70 que segundo Safrit é o adequado para testes de capacidade motora e aptidão física. Já para descrever os resultados das variáveis utilizaremos a estatística de média (m) e desvio padrão (DP). Para as análises inferenciais, apresentaremos o coeficiente de correlação (r), assim como, a significância encontrada. Na tabela 1, apresentamos os resultados dos testes do protocolo 1 que tem como objetivo medir a agilidade do jogador de basquetebol na defesa. Tabela 1: Resultados do Teste de Agilidade na Defesa: Testes Agilidade na defesa (teste) Agilidade na defesa (re-teste) Média 7.28 7.39 Desvio Padrão 0.46 0.41 R 0.93 P 0.006 N 9 9 Os índices da média apresentados são muito semelhantes tendo uma dispersão dos resultados de 0.05 e um coeficiente de correlação de 0.93, um índice acima do proposto por Flechmam, portanto, consideramos que este teste é fidedigno para avaliar a agilidade do jogador de basquetebol na defesa. Na tabela abaixo, apresentamos os resultados do teste de velocidade de deslocamento do jogador de basquetebol na defesa, protocolo 2. 57 Validação de Instrumentos de Medida na Modalidade de Basquetebol Tabela 2: Resultados do Teste de Velocidade de Deslocamento: Desvio R P Testes Média Padrão Velocidade de Deslocamento 19.24 1.06 0.92 0.00 (teste) Velocidade de Deslocamento 19.92 0.89 (re-teste) N 9 9 Como no teste anterior, os índices da média apresentados são muito próximos tendo uma variabilidade de 0.17 e um coeficiente de correlação de 0.92, um índice considerado bom. Na tabela 3, apresentamos os resultados do teste de habilidade com bola do jogador de basquetebol, protocolo 3. Tabela 3: Resultados do Teste de Habilidade com Bola: Testes Média Desvio Padrão r Habilidade 47.66 2.39 0.79 com Bola (teste) Habilidade 47.55 1.87 com Bola (reteste) P N 0.006 9 9 Neste teste, os índices da média apresentados são muito semelhantes tendo uma variabilidade de 0.52 e um coeficiente de correlação de 0.79, um índice estatisticamente significativo, revelando a fidedignidade do teste. Conclusão Considerando as limitações do nosso estudo e baseados nos resultados encontrados concluímos que: 1º) o teste de agilidade na defesa, apresentou um índice estatisticamente significativo, revelando a fidedignidade do teste. 2º) no teste de velocidade de deslocamento, também apresentou um coeficiente de correlação acima dos parâmetros adotados por pesquisadores, revelando que o teste apresenta um índice estatisticamente significativo; 3º) e o teste de habilidade com bola, apresentou um índice estatisticamente significativo, revelando a fidedignidade do teste. Esses achados favorecem a aplicação dos testes sendo que sugerem a aplicação em uma amostra dividida em categorias de diferentes idades e sexo. Sugerimos a posteriori, que novos estudos venham a ser realizados com o 58 Validação de Instrumentos de Medida na Modalidade de Basquetebol intuito de desenvolver tabelas padrões objetivando a diferença de parâmetros para futuras comparações. Referências Bibliográficas ALVAREZ, Jaime. Entrenamiento intervalado y diferencial en básquetbol. Medicina del Ejercicio, v. 2, n. 3, set./dic., 1987. p. 14-18. BARROW, Harold. M., McGEE, Rosemary, TRITSCHLER, Kathleen A. Practical measurement in physical education and sport. Lea & Febiger, 1989. 4. ed. BOKAREVA, G. L. Desarrollo: Fuerza - Velocidad do los Basquetebolista. Moscou: Instituto Estatal Central Ordem de Lenin de Cultura Física, 1986. (Mimeo) 18 p. CARTER, J. E. Lindsay, HEATH, Barbara Honeyman. Somatotyping development and applications. New York: Cambridge, 1990. 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Hernandez – Universidade Luterana do Brasil, Canoas/RS Rogério da Cunha Voser – Universidade Luterana do Brasil, Canoas/RS Mariele de Moraes Gomes - Universidade Luterana do Brasil, Canoas/RS Resumo Foram investigadas as relações entre coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e resultados dos jogos de Futsal. Uma hora e meia antes das partidas, aproximadamente, 113 jogadores pertencentes a 10 equipes de sete diferentes clubes responderam a dois instrumentos. Para ter acesso à ansiedade précompetitiva dos jogadores foi utilizado o CSAI-2, (Competitive State Anxiety Inventory–2) de Martens e para investigar a coesão de grupo, o GEQ (Group Environment Questionnare), baseado no modelo de coesão grupal de Carron, Brawley e Widmeyer. Análises de variância revelaram que as equipes vitoriosas nos jogos obtiveram maiores médias de coesão grupal em torno da tarefa e menores médias de ansiedade cognitiva pré-competitiva. A Correlação de Pearson confirmou a hipótese da existência de uma relação inversa entre coesão em torno da tarefa e a ansiedade pré-competitiva dos jogadores. A análise de regressão múltipla encontrou como preditores do resultado em jogos de Futsal o fator atração pelo grupo tarefa, da coesão grupal, e o fator somático, da ansiedade pré-competitiva. Em termos gerais, os resultados confirmaram as expectativas corroborando os achados da pesquisa internacional. Palavras-chave: Psicologia do esporte, coesão grupal, ansiedade pré-competitiva. Abstract The present article is about the investigation concerning relationships among, group cohesion, pre-competitive anxiety and scores of Futsal games. This work consists of 113 players, pertaining to 10 teams of different clubs, that answered to 2 instruments one hour and a half before the start of each game. One of these instruments was the CSAI-2 of Martens (Competitive State Anxiety Inventory–2) , aiming to asses pre- competitive anxiety, and the other was the GEQ (Group Environment Questionnaire) based on Carron, Brawley and Widmeyer. Results have shown that winning teams had higher average to their task and lower average to asses pre-competitive cognitive anxiety,. The multiple analysis of regression has found as indicatives of games results the factor of attraction to the group task, to group cohesion; and the somatic factor, to pre- competitive anxiety. In general the results has confirmed the expectations , corroborating the findings of the international research. Key words: Sport psychology, group cohesion, pre- competitive anxiety 61 Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em equipes de futsal A ansiedade tem sido foco de investigação desde o início dos estudos sobre o psiquismo do indivíduo até os dias de hoje. Freud (1925) trouxe a diferenciação entre ansiedade objetiva e ansiedade neurótica. A primeira está relacionada ao perigo conhecido, real, proveniente de um objeto externo. A segunda está relacionada a um perigo desconhecido, que necessita ser descoberto, que provém de uma exigência pulsional, conforme identificado através da análise. Spielberger, Gorsuch e Lushene (1979, p.4), conceituaram a ansiedade em dois termos: Estado de ansiedade e Traço de ansiedade. O primeiro conceito é entendido como “um estado emocional transitório ou condição do organismo humano que é caracterizado por sentimentos desagradáveis de tensão e apreensão conscientemente percebidos, e por aumento na atividade do sistema nervoso autônomo”. A ansiedade divide-se em dois componentes: a cognitiva e a somática. A perturbação cognitiva é caracterizada por pensamentos e dúvidas a respeito da consecução da vitória. A perturbação somática se refere às diarréias, aumento de pressão arterial, batimentos cardíacos aumentados, tensão muscular e palidez facial (Lieber e Morris apud Moraes, 1998). Sarason apud Moraes (1998) somou a estes componentes anteriormente definidos de ansiedade, a autoconfiança. Definindo-a, como a preocupação com a própria auto-avaliação e a percepção de resultados negativos que o sujeito apresenta frente a situações de testes e exames. A influência da ansiedade no rendimento depende de cada atleta, é específica. É necessário que se diferencie uma reação de preocupação intensa, daquela derivada da ativação e preparação para enfrentar um desafio ou uma competição. Para a ansiedade aparecer, não necessita, exclusivamente, de uma ameaça ao bem estar físico do sujeito, basta uma ameaça ao bem estar mental do mesmo (Harris e Harris, 1987). Com a ansiedade, o sujeito apresenta maior tendência para observar e avaliar o nível do seu comportamento e qual o valor real que possui. Julga-se a si próprio e compara-se com os outros. Estes tipos de preocupações autoreferenciais impossibilitam a concentração na competição ou na tarefa (Frischknecht, 1990). O antídoto para a ansiedade é o significado, o qual se refere à percepção de uma relação que faz sentido. A pessoa ansiosa não se dá conta que a perturbação é essencialmente uma ausência de significado (Lindegren, 1965). Simon apud Severo (1994) examinou vários níveis de ansiedade em diferentes tipos de esporte, categorizando-os ao longo de suas dimensões: individuais, coletivos, de contato e sem contato. Os resultados desses estudos revelaram que participantes de esportes individuais possuem maior nível de ansiedade do que os de esportes coletivos. Nenhuma diferença foi encontrada 62 Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em equipes de futsal nos níveis de ansiedade entre participantes de esportes de contato e de sem contato foi encontrada. Moraes (1990) afirma que existe evidentemente uma relação entre ansiedade e desempenho e que estes parecem variar de acordo com vários outros fatores como tipo de esporte dificuldade da tarefa, traço de personalidade do atleta, ambiente, torcida. A sintomatologia da ansiedade produz efeitos negativos no rendimento do desportista como a inibição de suas habilidades motrizes finas, a diminuição da capacidade de tomada de decisão segundo Guzmán, Asmar e Ferreras (1995). Existem muitas causas para o aparecimento da ansiedade antes da competição, mas, em geral, elas se reduzem a dois fatores: a incerteza que os indivíduos possuem acerca do resultado e a importância que o resultado representa para os indivíduos (Martens, 1982). Cartwright e Zander (1975) trazem que um grupo coeso seria aquele em que seus membros se reúnem a trabalhar por um objetivo comum, no qual todos aceitam a responsabilidade pelo trabalho coletivo. Festinger et al. (1975) definiram a coesão como o campo total de forças que atuam sobre um mesmo grupo para que permaneçam nele. Grupo coeso é um grupo de indivíduos que pensam, sentem e atuam como uma unidade (Tutko e Richards, 1984). A equipe como organização coesa, não ocorre no início da formação do grupo de modo repentino, ela é construída pela vontade comum de todos. A coesão não ocorre naturalmente, mas através de um esforço reflexivo do grupo (Rioux e Chappuis,1979). Weinberg e Gould (1996) trazem que, entre 1950 e 1970, muitas definições de coesão de grupo foram propostas. O ponto em comum, em todas elas, era a definição de duas dimensões básicas que as constituem: a coesão de tarefa e a coesão social. A coesão é “um processo dinâmico que está refletido na tendência de um grupo para a confiança e unidade na busca de suas metas e objetivos”. Para formular esse conceito, Carron, Widmeyer e Brawley (p. 245, 1985) realizaram um estudo dos conceitos de coesão e construíram um questionário para medir coesão grupal, o GEQ (Group Environment Questionaire). Eles consideram dois problemas que têm sido muito discutidos quando se aborda a coesão de grupo: a necessidade de distinguir entre o indivíduo e o grupo, e a necessidade de distinguir entre tarefa e relações sociais dos grupos e seus membros. Além disso, o modelo está dividido em duas categorias principais: as percepções de um membro a respeito do grupo como um todo e as atrações pessoais de um membro em relação ao grupo. Dessa forma, identificaram quatro conceitos: integração grupal-tarefa, integração grupal-social, atração individual pelo grupo-tarefa, atração individual pelo grupo-social. Colocam, ainda, que a integração grupal representa a intimidade, similaridade e união dentro do grupo como um todo. A atração individual pelo grupo representa as 63 Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em equipes de futsal motivações que influenciam o indivíduo a permanecer no grupo, ou seja, uma mistura de sentimentos individuais dos membros a respeito do grupo, seu envolvimento com seu papel pessoal e envolvimento com outros membros do grupo. Os quatro conceitos do modelo estão correlacionados. Para Gill (1986) a relação positiva entre coesão e desempenho aparece mais freqüentemente em esportes que requerem uma interação e cooperação extensa entre jogadores. A alta coesão social pode prejudicar o desempenho da equipe, porque os membros do time podem sacrificar seus objetivos individuais para manter padrões de amizade. Ao escrever sobre as interações dentro da equipe, Cratty (1984, p. 78) traz que grupinhos amigos (quem gosta de quem) numa equipe são usados como medida da coesão grupal, baseando-se na crença de que, quanto mais amizades mútuas tiver um grupo, mais feliz e coeso ele será. Porém, nem sempre a freqüência de grupos de amigos é sinal de um desempenho melhor. A relação entre coesão de tarefa e rendimento é positiva, pois em equipes de basquete da NBA (EUA) o mau relacionamento entre os membros do grupo não interferiu no empenho dos mesmos nos jogos (Weinberg e Gould,1996). Em um estudo de Carron e Prapavessis (1996), no qual os autores verificaram o efeito da coesão na ansiedade pré-competitiva, encontrou-se que a coesão estava relacionada às respostas de ansiedade pré-competitiva. Especificamente, atletas com percepções mais altas de coesão de tarefa, tiveram o fator cognitivo de ansiedade pré-competitiva mais baixa. Sendo que nenhuma relação foi encontrada entre coesão social e a ansiedade estado competitiva. É importante registrar o estudo de Carron e Hausenblas (1996), o qual buscou a relação entre coesão de grupo e deficiências do self (self-handicapping). Dentre os diferentes conceitos de deficiências do self encontra-se a ansiedade. Metodologia Sujeitos: A amostra foi composta por 113 jogadores de Futsal pertencentes a duas categorias: 62 da juvenil e 52 da adulto. Os dados foram coletados em 10 times de sete clubes. Cinco times eram da categoria juvenil e cinco da adulto. Instrumentos: CSAI-2 (Competitive State Anxiety Inventory–2) de Martens (1990), que serviram para medir o grau de ansiedade pré-competitiva dos jogadores. Ele é constituído de vinte e sete itens, no qual cada conjunto de nove itens está relacionado a um tipo de ansiedade: somática, cognitiva e de autoconfiança. Sendo que os itens são medidos numa escala tipo Likert, limitada pelos extremos nada (1) e completamente (4). 64 Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em equipes de futsal GEQ, (Group Environment Questionaire) de Carron, Widmeyer e Brawley (1985) possui dezoito itens. Sendo que os itens são medidos numa escala do tipo Likert, limitada pelos extremos descordo fortemente (1) e concordo fortemente (5). Este instrumento acessa quatro manifestações de coesão: (a) Atração individual pelo grupo – tarefa (ATG-T), (b) Atração Individual pelo Grupo – Social (ATG –S), (C) Integração Grupo – Tarefa (GI-T), e Integração grupo-Social (GI-S). O GI-T (cinco itens) e o GI-S (quatro itens) avaliam a magnitude das percepções de um indivíduo no que se refere ao comprometimento do grupo pela tarefa e ao comprometimento como unidade social. O ATG-T (quatro itens) e o ATG-S (cinco itens) avaliam as percepções individuais de cada membro referentes ao envolvimento de cada um com a tarefa e com os colegas (social) bem como seus objetivos dentro do grupo. Foram observados e anotados todos os resultados dos jogos de acordo com o sucesso ou fracasso (variável categórica). Empates não foram considerados. Coleta de Dados: A coleta foi realizada durante dois campeonatos de Futsal que ocorreu em Porto Alegre e arredores. Os dois instrumentos (CSAI-2 e GEQ) foram aplicados sempre uma hora e meia antes do início das partidas, quando os jogadores já se encontravam no local do evento, de modo a não interromper seus preparativos para o jogo. Análise de Dados: Os dados coletados foram analisados através do pacote estatístico SPSS (Statistical Package of Social Sciences for Windows 7.52). Foi utilizado a técnica estatística Coeficiente de Correlação de Pearson para verificar a relação entre os fatores da coesão e da ansiedade pré-competitiva. A Análise de Variância foi usada para comparar os grupos de vencedores e perdedores com relação à ansiedade pré-competitiva e a coesão grupal. Por fim, foi usada a Análise de Regressão Múltipla com o objetivo de identificar os melhores preditores da variável resultado do jogo. Resultados A análise de Variância one-way para o fator resultado (vitória ou derrota) e variável dependente coesão grupal apresentou os seguintes resultados: Considerando as médias de coesão geral, não foram encontradas diferenças estatísticas significativas entre os que venceram e os que perderam (p = 0,211) e F(1, 112) = 1583. Considerando as médias da subescala Integração Grupo Social de coesão grupal, não houve diferenças estatísticas significativas (p = 0,920) e F(1, 112) = 0,010 entre os que venceram e os que perderam. Considerando as médias da subescala Integração Grupo Tarefa de coesão 65 Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em equipes de futsal grupal, não foram apuradas diferenças estatísticas significativas (p = 0,450) entre os que obtiveram derrota e os que alcançaram a vitória F (1, 112) = 0,574. Considerando as médias da subescala Atração Grupo Social de coesão grupal, também não houve diferenças estatísticas significativas apuradas (p = 0,884) entre os diferentes resultados F (1, 12) = 0,021. Considerando as médias da subescala Atração Grupo Tarefa de coesão grupal, foram apuradas diferenças estatísticas significativas (p = 0,019) entre os resultados F (1, 112) = 5705. Aqueles que venceram (m = 3,80) apresentaram média estatística significativamente maior dos que perderam (m = 3,39). A análise de Variância para o fator resultado (vitória ou derrota) e variável dependente ansiedade pré-competitiva apresentou os seguintes resultados: Considerando as médias de ansiedade geral, foram apuradas diferenças estatísticas significativas entre os que venceram e os que perderam (p = 0,013) e F (1, 112) = 6367. Aqueles que venceram (m = 1,56) apresentaram menor média dos que perderam o jogo (m = 1,70). Considerando as médias do fator autoconfiança de ansiedade pré-competitiva, não houve diferenças estatísticas significativas (p = 0,207) e F (1, 112) = 1609 entre os que venceram e os que perderam. Considerando as médias do fator ansiedade cognitiva, não foram apuradas diferenças estatísticas significativas (p = 0,130) entre os que obtiveram derrota e os que alcançaram a vitória F (1, 112) = 2331. Considerando as médias do fator ansiedade somática, houve diferença estatística significativa (p = 0,001) entre os resultados F (1,112) = 11103. Os que ganharam (m = 1,51) apresentaram média estatística significativamente menor dos que perderam (m = 1,72). Correlação de Pearson foi conduzida para investigar a relação entre as variáveis de coesão e as variáveis de ansiedade. Os resultados foram significativos (p = 0,006) e (r = -0,25) para as variáveis ansiedade cognitiva e integração grupo tarefa, apresentando uma correlação estatística significativamente inversa, ou seja, quando uma aumentou a outra diminuiu. O mesmo ocorreu entre ansiedade cognitiva e atração grupo tarefa, no qual (p = 0,007 e r = -0,25); ansiedade cognitiva e atração grupo social, em que (p = 0,002 e r = -0,21); e autoconfiança e integração grupo tarefa, no qual (p = 0,02 e r = -0,20). O melhor preditor para a variável resultado foi a variável ansiedade somática explicando 8% de variância compartilhada. O segundo melhor modelo foi explicado com a inclusão da variável atração grupo tarefa que contribuiu com mais 4% de variância explicado, elevando para 12% o total de variância explicada. Discussão Dirigindo-se a atenção a relação coesão-desempenho, lembra-se que para Weinberg e Gould (1996), a relação coesão social/rendimento não é 66 Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em equipes de futsal necessariamente positiva. O mau relacionamento entre os membros do grupo pode não interferir no empenho dos mesmos nos jogos. Estas considerações estão num mesmo sentido dos resultados aqui obtidos. Pois não houve diferenças estatísticas significativas entre as médias dos dois fatores representativos de coesão social: Integração Grupo Social e de Atração Grupo Social, comparando-se com a vitória e derrota das equipes nos jogos. Portanto a relação coesão social e desempenho não se apresentou significativa. Os resultados também podem ser entendidos conforme Gill (1986), ao afirmar que a alta coesão social (conceito de Carron, 1985) pode prejudicar o desempenho da equipe, porque os membros do time podem sacrificar seus objetivos individuais para manter padrões de amizade. Porém, se os indivíduos estiverem comprometidos em alcançar um bom desempenho, suporte social e o encorajamento individual, que ocorre no grupo, terão um efeito positivo no desempenho. A partir disso, podemos associar que se encontrarmos uma equipe apresentando alto índice de coesão em torno da tarefa, o aparecimento de um alto índice de coesão social poderá ter um efeito positivo sobre o desempenho. De fato, aqueles que venceram apresentaram média estatística significativamente maior para atração grupo tarefa dos que perderam. Este resultado sugere que há uma relação entre coesão de tarefa e desempenho, pois a maior média de Atração Grupo Tarefa relacionou-se ao resultado vitória. Considerando que o fator Atração Grupo Tarefa significa a atração do grupo em torno da tarefa e que Futsal é um esporte que requer extensa interação dos jogadores, afirma-se que este dado confirma a consideração de Gill (1986), de que podemos sugerir que a coesão, definida e medida como atração de grupo, está positivamente relacionada com o sucesso em times que requerem extensa interação. Ao longo da história da psicologia desportiva, diferentes autores se preocuparam somente com o fator atração de grupo ao conceituarem coesão de grupo (Cartwright e Zander (1975); Festinger et al., (1950), entre outros. Podemos compreender o que traz Gill (1986), acerca disto, salientando que a maioria dos estudiosos sugere que a atração de grupo é uma chave para o conceito de coesão e que muitos ainda tem um considerável atraso na interpretação da coesão. Não foram encontradas diferenças estatísticas significativas entre os que venceram e os que perderam. Com isso lembra-se das afirmações de Weinberg e Gould (1996), nas quais alegam que, a nível intuitivo, quanto maior é o nível de coesão grupal maior é seu êxito. Apesar do fator atração grupo tarefa da coesão apresentar relação com o desempenho, não necessariamente pode-se concluir ou afirmar que a coesão apresenta relação com o desempenho do grupo. Isso reafirma o entendimento que a coesão de grupo não se resume à atração de grupo. 67 Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em equipes de futsal Os resultados também apresentaram uma correlação estatística significativamente inversa para as seguintes variáveis: ansiedade cognitiva e integração grupo tarefa; ansiedade cognitiva e atração grupo tarefa; ansiedade cognitiva e atração grupo social; autoconfiança e integração grupo tarefa. Desta forma, encontramos que quando a ansiedade cognitiva aumenta os fatores integração grupo tarefa e atração grupo tarefa da coesão diminuem e viceversa. Especificamente, atletas com percepções mais altas de coesão de tarefa, tiveram o fator cognitivo de ansiedade pré-competitiva mais baixa (Carron e Prapavessis, 1996). Podemos entender que estes sujeitos, à medida que estiveram mais apreensivos, nervosos e preocupados, sentindo tensão, medo, apresentando pensamentos catastróficos e comportamentos desorganizados, obtiveram sua aproximação ao grupo, sua intimidade com os colegas, sua atração pelos mesmos em torno dos objetivos da tarefa, diminuídos (Carron, Widmeyer e Brawley, 1985; Balaguer , 1994). A ansiedade-estado manifesta-se frente a uma situação que é percebida pelo sujeito como extremamente ameaçadora. O que explica os índices encontrados aqui de ansiedade. A intensidade da ansiedade será proporcional a quantidade de ameaça que sofre o sujeito, que ela se manterá até que a situação ameaçadora seja enfrentada ou alterada por algum determinante externo ou interno ao sujeito. Ao colocarmos no lugar deste determinante externo, o colega de grupo de um sujeito, nos direcionaremos para a idéia de que relação intergrupal destes em torno da tarefa faz-se importante na ajuda do controle da ansiedade realizada por este sujeito (Balaguer, 1994). Carron e Prapavessis (1996) não encontraram nenhuma relação entre coesão social e a ansiedade estado competitiva. Porém quanto a isso, os resultados desta pesquisa apresentaram discordância, pois foi encontrado que quando a ansiedade cognitiva aumenta, a atração grupo social diminui e viceversa, o que sugere a existência de uma relação inversa entre estas duas variáveis. Referente à relação inversa de autoconfiança e integração grupo tarefa. Poderíamos associar que à medida que a autoconfiança, ou seja, que as percepções negativas do indivíduo frente ao jogo, a preocupação desse com a própria avaliação, definida por Sarason (apud Moraes, 1998), aumentassem, a integração deste sujeito no grupo em busca de resultados diminuiria. Porém, nenhuma revisão teórica foi encontrada neste trabalho, que confirmasse ou não este resultado. A Análise de Variância mostrou que aqueles que venceram, apresentaram menor média de ansiedade geral dos que perderam o jogo. Podemos entender que com a ansiedade o sujeito apresenta maior tendência para observar e avaliar o nível do comportamento e o valor real que possui. Julgar a si próprio 68 Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em equipes de futsal e comparar-se com os outros. Este tipo de preocupações auto-referenciais impossibilita a concentração na competição/tarefa (Frischknecht, 1990). O melhor preditor para a variável resultado, no presente estudo, foi a variável ansiedade somática explicando 8% de variância compartilhada. O segundo melhor modelo foi explicado com a inclusão da variável atração grupo tarefa que contribuiu com mais 4% de variância explicado, elevando para 12% o total de variância explicada. Enfim, esses resultados reafirmam que alto nível de ansiedade é fator interveniente no desempenho desportivo (Guzmán, Asmar e Ferrera, 1995). Conclusão Para realizar um bom trabalho psicológico com equipes desportivas devese atentar para os índices de ansiedade pré-competitiva e índices de coesão, focalizando nas manifestações somáticas, cognitivas e de autoconfiança dos jogadores; da mesma forma que para os níveis de atração e integração do grupo dirigida à tarefa e dirigida às relações sociais do mesmo. Por outro lado, a promoção da coesão de tarefa é que poderá ajudar na conquista do sucesso dessa equipe. Além disso, parte principal do controle de ansiedade consiste na modificação da maneira de pensar do sujeito. E está relacionado com ansiedade cognitiva do sujeito. Referências bibliográficas BALAGUER, Isabel. Entrenamiento en el deporte. Principios y Aplicaciones. S.L.: Albatros Educación, 1994. CARRON, Albert V. & HAUSENBLAS, Heather. A Group Cohesion and Self handicapping in Female and Male Atlhetes. Journal of Sport Psychology, v. 18, p. 132-143, 1996. CARRON, Albert V. & HODGES, Leigh. Collective Efficacy and Group Performance. International Journal of Sport Psychology, v. 23, p. 48-59, 1992. CARRON, Albert V. & PRAPAVESSIS, Harry. The Effect of Group Cohesion on Competitive State Anxiety. Journal of Sport and Exercise Psychology, v.18, p. 64-74, 1996. CARRON, A.; WIDMEYER, W. & BRAWLEY, L. The Development of Instrument to assess cohesion in sport teams: The Group Environment Questionaire. 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Crissia Andrea Hoffmann de Castro – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS O basquete em cadeira de rodas para deficientes físicos é um desporto tão completo como o usual, em que a combinação de qualidades físicas, técnicas e psicológicas, exigem coordenação, velocidade com um grande número de gesto (passes e arremessos), bem como um referencial de situações nos quais estão incluídos, o companheiro, o adversário, a bola, a quadra, a cesta entre tantas coisas e mais a cadeira de rodas para o deficiente físico. Da necessidade de avaliar a performance desportiva e o grau de habilidades remanescentes na prática de basquete adaptado e, sendo escassa a literatura em relação ao basquete em cadeira de rodas, utilizou-se como recursos os procedimentos pedagógicos de vários desportos coletivos e adaptações do basquete convencional, contemplando com a avaliação no manejo da cadeira de rodas (velocidade, agilidade, coordenação) e também como facilitadores de habilidades técnicas necessárias na prática do basquete para portadores de deficiência física (destreza na condução da bola e força nos arremessos e passes). A partir de observações e práticas didáticas, foi desenvolvida uma abordagem pedagógica baseada em 4 etapas que compreendem: 1ª Etapa: Avaliação funcional do portador de deficiência física, em relação à performance músculo-articular e habilidades remanescentes. Conforme o grau de limitação e da necessidade de auxílios de fixação torácica e dos membros inferiores, realizando a estabilização e manutenção de sua posição na cadeira de rodas. 2ª Etapa: Priorização de exercícios, movimentos e deslocamentos que possibilitem ao portador de deficiência, manejar e deslocar com segurança, agilidade e coordenação a cadeira de rodas. 3ª Etapa: Manuseio e desenvolvimento de habilidades com a bola de basquete, em posição estática e dinâmica, com deslocamentos em linha reta e em giros. Introdução de: funções de cada posição na quadra, movimentos de ataque e defesa, construção de visão e esquema de jogo, domínio de jogo. 4ª Etapa: Desenvolvimento de habilidades táticas e técnicas, bem como a interação e a conscientização de que o desempenho da equipe, necessita do somatório dos esforços e capacidades individuais. 72 Etapas de uma abordagem pedagógica no basquete adaptado Na etapa inicial de avaliação e classificação funcional, na qual são identificados os movimentos remanescentes, a mobilidade articular e estruturas musculares preservadas pelos portadores de deficiência, observa-se o grau de limitação e a necessidade de auxílios como faixas de fixar o tronco e os membros inferiores na cadeira de rodas, mantendo uma postura estável e equilibrada para praticar o basquete adaptado. A partir das próximas etapas, o processo pedagógico do basquete adaptado consiste numa gradual complexidade de vivências, associadas ao deslocamento com a cadeira de rodas, exigindo habilidades motoras de manejo e condução, velocidade, performance, destreza, coordenação e agilidade, que são obtidas através de uma metodologia de testes. Metodologia Clientela Local Material Os procedimentos são Quadras de Cadeiras de rodas, 10 cones, aplicados em portadores basquete e de bolas de basquete de deficiência física, voleibol num cronômetro, fichas e congênita e /ou adquirida. ginásio de esportes. planilha de apontamentos. 1. Teste de manejo e condução: Objetivo Atividade Pré- requisito Realizar deslocamentos Estar com domínio e Propiciar e desenvolver segurança de habilidades no manejo e com comandos de inversão condução da cadeira de para direita, esquerda, meia progressão na cadeira volta e retorno ao ponto de de rodas específica rodas. partida. para basquete. 2. Teste de velocidade: Objetivo Realizar a progressão da cadeira de rodas em movimento de velocidade, reação e impulsão de partida, percorrendo 20m e 40m, devidamente marcados na extensão da quadra de basquete. Atividade Percurso de 20 m - Em linha reta, desenvolver velocidade, impulsionando a cadeira , mantendo até seu limite disponível, a flexão de tronco. Percurso de 40 m - Idem ao anterior, com reversão de direção aos 20m, contornando o cone. Pré- requisito Ter noção de como impulsionar a cadeira com as mãos, num movimento contínuo, rítmico e simétrico, em linha reta e contornando obstáculos. 73 Etapas de uma abordagem pedagógica no basquete adaptado 3. Performance: Objetivo Atividade Pré- requisito Utilizar, cruzando em zig-zag a Associar os Precisão em dimensão da quadra de voleibol movimentos de manobras de com os cones distribuídos, 5 nas deslocamento velocidade, agilidade e linhas laterais. Em velocidade, coordenação na com cadeira realizar o deslocamento da cadeira, impulsão e manejo da de rodas, driblando os cones e o companheiro cadeira de rodas, evitando que vem em sentido contrário. driblando obstáculos e o colisões. adversário. 4. Destreza: Objetivo Desenvolver habilidades de condução da bola de basquete, movimentando a cadeira. Atividade Pré- requisito Percurso - 20 m Habilidade e domínio Em linha reta, progressão da no quicar bola, com cadeira de rodas com uma cadeira imóvel, bem mão, e a mão dominante como deslocar a quicando a bola de basquete. cadeira com a mão não dominante. 5. Coordenação e Agilidade: Objetivo Atividade Aquisição de Percurso - 20 m coordenação e agilidade Em linha reta, com domínio de fluência contornando 5 nos movimentos obstáculos, quicando a combinados de manejar bola de basquete com cadeira, quicar a bola e uma mão. driblar de obstáculos. Repetir o exercício trocando a mão na condução da bola. Pré- requisito Ter domínio do quicar a bola com mão direita/esquerda. Condução da cadeira de rodas tanto com uma e outra mão, obedecendo a um percurso préestabelecido. Os resultados obtidos na aplicação dos testes são significativamente relevantes em relação ao rendimento das habilidades de domínio motor como também a expectativa gerada, pelos alunos, na execução das atividades propostas, as quais tornam-se um desafio pessoal em realizar o teste com a respectiva mensuração do seu desempenho. 74 Etapas de uma abordagem pedagógica no basquete adaptado Conclusão Ao realizar-se esta abordagem pedagógica com suas etapas e a aplicação dos testes de habilidades motoras, há a possibilidade da elaboração de uma melhor e mais adaptada metodologia de treinamento no basquete em cadeira de rodas, observando-se as possibilidades e déficit de cada portador de deficiência. E nestas vivências de erros e acertos, de menores e maiores tempos reação, os quais serão os fatores de interiorização e fixação de novos gestos em condições adequadas de aprendizagem para compreensão e domínio do jogo e, a formação de uma equipe através da conscientização de que um resultado favorável depende do esforço e capacidade de todos, gerando uma interação social através do desporto adaptado. Referências bibliográficas MEINEL, K. Motricidade II o desenvolvimento motor do ser humano. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico S/A, 1984. MARTINELLI, E.; ROSINI, B. El entrenamiento adecuado para cada deporte. Barcelona: Editorial De Vecchi, 1996. GIRALDES, M. Metodologia de la Educacion Fisica. Buenos Aires: Editorial Stadium, 1987. 75 Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol: Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da Categoria Juvenil Masculino Claiton Henrique Lenz - Bolsista PET – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Resumo O presente artigo tem como objetivo fazer um estudo das valências físicas relevantes para o basquetebol, caracterizando-as de acordo com a categoria juvenil masculino (17 e 18 anos) e sugerindo um programa de avaliação para este grupo. Foram encontradas como relevantes para o basquetebol as seguintes valências físicas: destreza (habilidades motoras), resistência, força (potência), velocidade e flexibilidade, além da importância da análise dos dados antropométricos. No que se refere ao grupo estudado, estas valências físicas não encontram-se ainda nos mesmos níveis de atletas adultos, sendo portanto sugeridos testes específicos para esta faixa etária e modalidade esportiva. Unitermos: Avaliação Física, Basquetebol, Testes Abstract This article has the purpose of studying the physical valences that are relevant to basketball, matching them with the juvenil category (17 and 18 years old) and suggesting an evaluation program to this group. The following physical valences were found to be relevant to basketball: dexterity (motor habilities), resistance, strength (power), velocity and flexibility. The analysis of the antropometric data was also found to be important. These valences on the studied group aren’t in the same level as they are on adult athletes. Thus, specific tests are suggested to this age group and sport. Dentro das exigências cada vez maiores do esporte de rendimento encontra-se uma preocupação com o modo de avaliação dos resultados dos treinamentos realizados. Muitas vezes, o que se alcança na competição não pode ser tomado como parâmetro confiável, por envolver fatores que podem fugir aos nossos domínios. Por isso, existe a necessidade de estudar muito bem as características da modalidade esportiva em questão e da população que será avaliada, permitindo que os testes sejam direcionados para os elementos mais essenciais dos mesmos. No trabalho em questão, discutiremos as características do jogo de basquetebol e dos atletas da categoria juvenil masculino (17 e 18 anos), sugerindo testes específicos para avaliação dos mesmos. 76 Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol: Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da Categoria Juvenil Masculino Breve caracterização do jogo de basquetebol Segundo ALVAREZ (1987), a média de distância de deslocamentos em um jogo de basquetebol fica em torno de 18 m para os pivôs, 12 m para os alas e 6 e 10 m para os armadores, em cada ataque. Sendo que o tempo médio em que estas distâncias são percorridas fica entre 1,40 s e 2,40 s, podendo ser mais (nas menores distâncias) e 3, 9 s e 6 s, podendo ser mais (nas maiores distâncias). Outro fator que deve ser levado em conta é o número de saltos realizados pelos jogadores durante uma partida, normalmente na disputa pelo rebote. Segundo ALVAREZ (1987), os pivôs realizam uma média de 39 saltos por partida, os alas 9 e os armadores 4. Apesar de os pivôs realizarem mais saltos, o que nos levaria pensar que eles teriam mais força explosiva que os alas e armadores, ALVAREZ (1987), não encontrou esta diferença, pois os alas e armadores realizam um número muito maior de deslocamentos com alta intensidade que os pivôs. Segundo DIAS NETO (1996), a média de permanência de um jogador em quadra é de 34,54 min. Valências físicas importantes para o basquetebol e caracterização do grupo Segundo TRIGO (1986), o termo valência significa faculdade, fator de ação, atitude, capacidade ou qualidade física. Este termo aparece sempre ligado ao conceito de elementos constitutivos do valor físico ou da dimensão biológica do homem. O treinamento de basquetebol envolve as seguintes valências ou qualidades físicas: destreza (habilidades motoras), resistência, força (potência), velocidade e flexibilidade. Além disso, deve-se dar uma atenção especial aos dados antropométricos dos atletas (somatotipo, % de gordura, etc.), pois serão bastante úteis no que se refere ao acompanhamento da evolução dos atletas, refletindo diretamente os efeitos do treinamento. Deve-se ter o cuidado de não analisar este grupo etário como se fosse um grupo adulto, pois ainda não atingiu o estágio final de crescimento, apesar de se encontrar bem próximo. Segundo WILMORE e COSTILL (1994), a altura máxima ocorre aos 18 anos, sendo que a calcificação total dos ossos em torno dos 22 anos. Entretanto, não são só estes fatores que estão envolvidos na caracterização do grupo, elementos como: músculos, gordura corporal, sistema nervoso, habilidades motoras, força, funções pulmonares e cardíacas estão envolvidos e são distintos para esta idade. Destreza (Habilidades Motoras) — Para LOMBAO (1986), este é um conceito que está relacionado com praticamente todas as outras valências físicas (resistência, força, velocidade e flexibilidade), pois elas vão refletir-se na habilidade final do indivíduo. Já a habilidade pode ser definida como a capacidade de realizar movimentos simples e complexos dirigidos para um determinado objetivo, manifestando-se de forma diferente em cada esporte. 77 Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol: Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da Categoria Juvenil Masculino No basquete cada uma das novas situações cria novas decisões e novos movimentos. A habilidade é uma qualidade que se cria num longo período de tempo. Para VILMORE e COSTILL (1990), a habilidade motora aumenta com a idade até atingir um platô aos 18 anos, este aumento se deve ao desenvolvimento dos sistemas neuromuscular e endócrino e pelo acréscimo das atividades pelos indivíduos. Resistência — Para LOMBAO (1986), a resistência pode ser dividida em orgânica (aeróbica) e muscular (anaeróbica láctica). A primeira consiste na capacidade de manter um esforço moderado durante muito tempo, é também a base fundamental para poder suportar, não só grandes períodos de competição como também esforços físicos de múltiplas repetições para a aprendizagem da técnica, retardando o aparecimento da fadiga e encurtando o tempo de recuperação. A resistência muscular, para LOMBAO (1986), é a capacidade de manter o maior tempo possível um esforço máximo (sem a utilização do oxigênio), sem diminuição da efetividade no rendimento. Esta resistência permite ao jogador de basquetebol manter um ritmo máximo de jogo durante toda a partida; durante os treinamentos, realizar esforços de intensidade sub-máxima numerosas vezes com total controle do sistema neuromuscular, o que favorece a aprendizagem da técnica e da tática; realizar esforços de intensidade máxima em períodos curtos de treinamento, inclusive num ritmo maior que de uma partida. As capacidades pulmonar e cardíaca aumentam com o desenvolvimento do indivíduo, o mesmo ocorre com a capacidade aeróbica. No que se refere ao VO2max (l.min-1), ocorre um aumento com a idade, pois além de estar relacionado com o nível de exercícios está relacionado com a capacidade pulmonar, tamanho de coração e volume sangüíneo. O pico ocorre entre os 17 e 21 anos, ocorrendo um decréscimo linear após, segundo VILMORE e COSTILL (1990). Se formos avaliar o VO2max em ml(kg.min)-1 observaremos que ocorrem poucas mudanças desde os 6 anos até a idade adulta. Por isso, deve-se avaliar a capacidade aeróbica, em adolescentes, em l.min-1 pois assim poderemos estabelecer se estes já atingiram o pico de VO2max. No que se refere a resistência muscular, os valores esperados para o grupo de 17 e 18 anos são bastante próximos aos valores esperados para adultos, sendo que podem ser um pouco inferiores devido a aspectos relacionados a maturação e que envolvem desenvolvimento da força, habilidade de movimentos, etc. Força (Potência) — Segundo SEMASHKO apud. BOKAREVA (1986), força é a capacidade do indivíduo superar a resistência exterior ou opor-se a ela através de seus esforços musculares. Segundo BOKAREVA (1986), a força dos músculos depende da inervação do sistema nervoso central, das 78 Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol: Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da Categoria Juvenil Masculino particularidades dos processos bioquímicos, que ocorrem nos músculos durante o trabalho e do grau de fadiga. Para BOKAREVA (1986) e LOMBAO (1986), a força pode ser dividida em: força máxima (absoluta), seria a força máxima desenvolvida pelo indivíduo numa contração, sem considerarmos o seu peso; força rápida (explosiva), seria a manifestação da força com a aceleração máxima em tempo mínimo; resistência à força (relativa), seria a relação da força absoluta com o peso do indivíduo. No basquetebol, segundo LOMBAO (1986), os movimentos acíclicos fazem com que os fatores determinantes da força sejam a força explosiva (saltos, passes longos, tiros curtos) e a força relativa. Segundo BOKAREVA (1986), para o basquete é importante o desenvolvimento nas pernas, nos braços, antebraços e ombros, nas costas e nas articulações do joelho e nas pernas. Segundo WILMOR e COSTILL (1990), a força aumenta com a idade pois aumenta junto com a massa muscular. As trocas hormonais que acompanham a puberdade aumentam a força nos adolescentes, já que estas são responsáveis pelo aumento da massa muscular. O pico ocorre normalmente entre os 20 e 30 anos. Velocidade — Segundo TRIGO (1986), é a capacidade que permite atuar em um mínimo de tempo. Desportivamente refere-se a rapidez para ver, atuar, ou ambas as coisas simultaneamente. Está intimamente ligada a percepção, por meio dos órgãos dos sentidos e a ação de determinados grupos musculares. Nos esportes individuais, a velocidade é a relação entre o tempo gasto em percorrer a distância e a distância em questão. Nos coletivos, particularmente o que nos interessa, envolve as capacidades de arrancar e deter-se bruscamente, de mudar de ritmo, de mudar de direção, de raciocinar ante estímulos externos (geralmente auditivos e visuais), ou velocidade de reação, a velocidade de coordenação para raciocinar adequada e rapidamente aos problemas estabelecidos por companheiros, adversários e bola, a velocidade de discernimento para decidir as opções relacionando companheiros, adversários e a intuição e experiência pessoal que lhe permite estar no lugar e instante precisos, relacionada com o cálculo certo de distâncias e tempos. A velocidade de reação está vinculada ao tempo de percepção e a velocidade da contração muscular. A primeira pode-se melhorar com a prática, a segunda depende da condução do impulso nervoso e do aquecimento prévio, a condição fisiológica geral e o grau de motivação. A velocidade de deslocamento (também chamada velocidade de base ou velocidade pura), é definida como a maior distância coberta na unidade de tempo. Esta velocidade pode ser aperfeiçoada com o treinamento através da melhora da técnica de corrida (economia de esforços e aproveitamento eficaz das alavancas ósseas), automatização dos movimentos (eliminando a intervenção cortical) e 79 Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol: Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da Categoria Juvenil Masculino favorecimento da ação das alavancas (melhorando a flexibilidade e a potência da musculatura agonista). A velocidade máxima parece ser determinada geneticamente, WEINECK (1991), e a sua manifestação definitiva ocorre muito cedo, sendo difícil modifica-la posteriormente. A velocidade máxima (velocidade de corrida), atinge seu pico máximo em torno dos 20 ou 22 anos para os homens. O treinamento adequado pode melhorar esta capacidade dentro de certos limites, mas não mudá-la substancialmente. Os resultados esperados para o grupo de 17 e 18 anos são bastante aproximados dos resultados adultos, sendo que nesta idade podem ser treinados os aspectos coordenativos da corrida o que pode levar a uma melhora nos resultados. Flexibilidade — Para TRIGO (1986), flexibilidade é a capacidade de realizar movimentos de grande amplitude com facilidade. Fundamenta-se em duas características: mobilidade articular e elasticidade muscular. A primeira depende dos elementos articulares (cartilagens, cápsulas, ligamentos, meniscos e líquido sinovial), a segunda, é a propriedade mais importante do músculo, que se alonga e contrai, recuperando posteriormente sua extensão normal. Segundo TRIGO (1986), é nesta valência onde encontram-se as maiores diferenças entre os atletas, pois a flexibilidade está condicionada a diversos fatores, tais como: congênitos, idade, sexo, atividade prévia e treinamento. No basquetebol esta é uma das qualidades de maior importância, isto nos é mostrado por TRIGO (1986), principalmente nas articulações dos ombros, cotovelos, punhos e quadris. O treinamento da flexibilidade possibilitará: uma maior economia de esforço (pois a musculatura antagonista não irá impedir indevidamente o deslocamento), aplicar o esforço da musculatura agonista durante um percurso maior (o que assegurará um maior rendimento) e a possibilidade de prevenir eventuais lesões (com base em uma maior amplitude articular). A flexibilidade dos ombros, cotovelos e punhos está relacionada aos movimentos de arremesso, passe e drible, onde a musculatura antagonista deve estar relaxada e ao posicionamento defensivo dos braços. Já as articulações dos quadris são importantes para muitos dos movimentos realizados no basquete, pois servem de centro de partida, elemento de transição de impulsos, manutenção do equilíbrio, de postura correta e potência de muitos movimentos. Para HOLLMANN e HETTINGER (1980) apud. WEINECK (1991), a flexibilidade é a única das valências físicas que atinge seu pico entre os 10 e 13 anos e depois torna a diminuir. Isto se deve às alterações, condicionadas ao desenvolvimento, no âmbito do aparelho locomotor, na infância e juventude. A diminuição da flexibilidade pode ocorrer devido ao grande crescimento da altura, principalmente os ossos, o que não é acompanhado nos mesmos níveis 80 Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol: Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da Categoria Juvenil Masculino pelos músculos e ligamentos. Logo após esta fase de crescimento rápido, a altura já está muito próxima da definitiva para a idade adulta, sendo que os níveis de flexibilidade também acompanham estes níveis, continuando a diminuir com o avanço da idade. Dados antropométricos — Segundo MARINS e GIANNICHI (1998), a antropometria representa um importante recurso de auxílio para uma análise completa de um indivíduo, pois fornece informações ligadas ao crescimento, desenvolvimento e envelhecimento. Além disso, a antropometria pode ser considerada um componente de controle do treinamento, visto que alguns de seus elementos (composição corporal) sofrem interferência direta de acordo com o grau de treinamento. Quanto à população objeto deste estudo, a altura e o peso máximos são alcançados em torno dos 18 anos, além disso, os dois têm a mesma tendência de crescimento durante toda a fase de maturação. O peso pode continuar aumentando depois de o sujeito ter atingido a fase adulta, entretanto será devido a outros fatores, tais como treinamento e alimentação. Também podem ocorrer casos em que a altura dos indivíduos ainda esteja abaixo da sua altura definitiva como adulto, levando-nos a ter alguma atenção neste item. Em relação à gordura corporal, ela aumenta durante toda a vida e vai estar relacionada a dieta, hábitos de atividade física e hereditariedade. Segundo WILMORE e COSTILL (1994), no estágio entre 17 e 18 anos a porcentagem encontra-se em torno de 15% em indivíduos normais. O acompanhamento da composição corporal representa um meio importante no controle de um treinamento para atletas, através dele pode-se conhecer a quantidade de gordura corporal, peso ósseo e muscular. Posteriormente, em posse destes dados, pode-se classificar a composição corporal do indivíduo, o somatotipo, que segundo HEATH e CARTER (1990), pode ser de três condições diferentes: endomorfia, mesomorfia e ectomorfia. No que se refere ao somatotipo, HEATH e CARTER (1990), classificam os atletas de basquetebol como ecto-mosomorfos, ectomorfo-mesomorfos e meso-ectomorfos. Isto ocorre porque os atletas de basquetebol são leves para sua altura, atingindo valores maiores em ectomorfia. Alguns estudos observaram que os armadores são maiores em mesomorfia (algumas vezes acima de 6 e 7), sendo que os alas e pivôs são maiores em ectomorfia (algumas vezes acima de 5 e 6). Testes Os testes sugeridos abaixo contemplam o que foi mostrado até agora, abrangendo as valências físicas relevantes para o basquetebol e as características do referido grupo, sendo encontrados na literatura em pesquisas com atletas desta modalidade e em manuais de avaliação física. Este trabalho 81 Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol: Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da Categoria Juvenil Masculino não visa descrever exaustivamente os testes, procura apenas mostrá-los, sem entrar numa discussão maior, mesmo porque o espaço aqui colocado não nos permite tal debate. Destreza (Habilidade Motora) — Teste AAPERHD1 de Basquetebol para Meninos e Meninas: O objetivo deste teste é medir as quatro habilidades básicas do basquetebol: o arremesso, o passe, o drible e o movimento defensivo. Para tanto, o teste é dividido em quatro itens, cada um referente a uma destas habilidades. Ao final destes testes poderá ter-se um diagnóstico tanto individualmente quanto do grupo em relação a cada uma destas habilidades. BARROW et. al. (1989), exibem alguns dados relativos a estes testes realizados com alunos americanos, os autores trazem dados de jovens desde os 10 anos até os 18 (Universitários). Resistência Aeróbica — Protocolo de Balke para Esteira: A resistência aeróbica será medida através do teste de esteira de Balke, conforme encontra-se exemplo de sua utilização em outras avaliações de atletas de basquetebol, COLEMAN et. al. (1974). Este teste é específico para atletas e consiste em um teste de velocidade constante de 3,3 mph e com aumentos constantes de inclinação de 1% para cada estágio de 1 min. O cálculo do VO2max em ml(kg.min)-1 é obtido pela seguinte fórmula: VO2max ml(kg.min)-1 = 14,909 + (1,444 x tempo de duração, em min) WITHERS et. al. (1999), encontraram uma média de 58,5 ml(kg.min)-1 em atletas de basquetebol australianos. VACCARO, et. al. (1980), encontraram valores entre 48,40 e 67,79 ml(kg.min)-1. O valor em l.min-1 é encontrado com o seguinte cálculo: VO2max l.min-1 = (peso Kg x VO2max ml(kg.min)-1)/1000 Teste de Corrida de 40 s - Resistência Anaeróbica Láctica — O objetivo do teste de corrida de 40 s de MATSUDO, 1979, apud. MARINS e GIANNICHI, 1998, é determinar, indiretamente, a capacidade de resistência anaeróbica láctica, sendo um teste bastante simples. O resultado será a distância percorrida pelo executante com precisão de metro. MATSUDO (1988), apud. MARINS e GIANNICHI (1998), apresentam alguns resultados para escolares da rede pública de ensino na faixa etária de 17 e 18 anos, além do resultado de atletas de basquetebol de alto nível. Força (Potência) — Teste de 1-Repetição Máxima (1-RM): Serão utilizados testes de 1-RM nos exercícios de supino e agachamento, conforme PAULETTO (1994). Para os dois testes, o indivíduo deverá indicar o valor estimado para uma repetição máxima. Se realizar só uma repetição o teste estará encerrado, caso consiga mais, utiliza-se a tabela, conforme PAULETTO (1994), para estimar o peso para 1-RM, isto será feito até que o indivíduo realize apenas uma repetição. A força absoluta para membros superiores é igual ao 1 American Aliance for Health, Physical Education, Recreation, and Dance. 82 Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol: Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da Categoria Juvenil Masculino peso levantado em 1-RM no supino e a força absoluta para membros inferiores é igual ao peso levantado em 1-RM no agachamento. Sargent Jump (salto vertical) - Potência anaeróbica: Este teste consiste em medir a diferença entre o alcance máximo de uma pessoa de pé com os braços estendidos verticalmente e a altura que esta pessoa consegue pular e tocar (muito semelhante ao rebote de basquetebol). O seu valor pode ser obtido pela seguinte fórmula: P = (raiz quadrada de 4,9 * peso) * (raiz quadrada de D) Onde: P = potência em kg-m/s, D = marca do salto vertical. WITHERS et. al. (1977), encontraram valores médios para atletas de basquetebol australiano de 120,45 kg-metros/segundo. Teste de 30 m — O teste consiste na utilização de dois cronômetros, uma área de corrida de aproximadamente 45 m. Aconselha-se que sejam testados dois executantes ao mesmo tempo. O resultado será o tempo gasto para percorrer os 30 m computado em décimos de segundo. Alguns dados de testes realizados com atletas de 17 e 18 anos búlgaros podem ser encontrados em MARINS e GIANNICHI (1998). Velocidade — Corrida de 50 metros (Johnson e Nelson, 1979): Este teste tem por objetivo medir a velocidade de deslocamento. Consiste na utilização de dois cronômetros, uma área de corrida com mais de 50 m. Aconselha-se que sejam testados dois executantes ao mesmo tempo. O resultado será o tempo gasto para percorrer os 50 m computado em décimos de segundo. Testes antropométricos — Composição corporal (Técnica de Faulkener): Inicialmente serão medidos todos os valores necessários para as técnicas em questão: altura (cm), peso (kg), dobra cutânea tricipital, dobra cutânea subescapular, dobra cutânea suprailíaca, dobra cutânea abdominal, dobra cutânea da panturrilha, diâmetro biepicondiliano do úmero (cm), diâmetro biepicondiliano do fêmur (cm), perímetro do braço (cm), perímetro da perna (cm). Através da técnica de Faulkener será possível avaliarmos o percentual de gordura corporal, o peso de gordura e a massa corporal magra. Para obtermos o percentual de gordura utilizamos a seguinte fórmula: % G = Σ DC x 0,153 + 5,783 Onde: % G = percentual de gordura, Σ DC = somatório das quatro cutâneas (tricipital, subescapular, suprailíaca e abdominal). O peso corporal de gordura é encontrado pela fórmula: PG = %G x PCT / 100 Onde: PG = Peso corporal de gordura, PCT = Peso corporal total. Encontrado o peso corporal de gordura, basta subtraí-lo do peso corporal total para obter-se a massa corporal magra: MCM = PCT – PG Onde: MCM = Massa corporal magra 83 Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol: Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da Categoria Juvenil Masculino Somatotipo — Método Heath e Carter: Será utiliza esta técnica para fazermos a classificação da composição corporal. Primeiramente, calcula-se a endomorfia, depois a mosomorfia e por último a ectomorfia. Endomorfia = - 0.7182 + 0,1451 (X) – 0,00068(X2) + 0,0000014 (X3) Onde X* = soma das dobras tricipital, subescapular e suprailíaca. X* corrigido: o somatório é multiplicado por 170,18 e dividido pela altura do sujeito (cm). Mesomorfia = 0,858U + 0,601F + 0,188B + 0,161P – 0,131H + 4,5 Onde: U = diâmetro biepicondiliano do úmero (cm), F = diâmetro biepicondiliano do fêmur (cm), B = perímetro corrigido do braço (perímetro do braço – dobra do tríceps/10), P = perímetro corrigido da perna (perímetro da perna – dobra da panturrilha/10), H = estatura (cm). Para calcular-se a ectomorfia, primeiro precisa-se calcular o índice ponderal através da seguinte fórmula: IP = estatura (cm)/raiz cúbica do peso Onde: IP = índice ponderal. Se o índice ponderal for maior do que 40,75 utiliza-se a seguinte fórmula: Ectomorfia = (IP x 0,732) – 25,58 Se o índice ponderal for menor ou igual do que 40,75 utiliza-se a seguinte fórmula: Ectomorfia = (IP x 0,463) – 17,63 Flexibilidade — Goniometria: Na análise de flexibilidade dos atletas de basquetebol será utilizada a técnica de goniometria, principalmente por ser bastante eficaz, permitindo a análise das mais diversas articulações, e de razoável dificuldade no referente à execução. Segundo NORTIN e WHITE (1997), a goniometria pode ser usada para determinar posição articular como sua quantidade total de movimento possível. Os valores goniométricos podem, portanto, fornecer uma base para determinar o grau de flexibilidade dos atletas, bem como suas eventuais modificações com o treinamento. No basquetebol, segundo TRIGO (1986), as articulações mais importantes no que se refere à flexibilidade são: ombro, cotovelo, punho e quadril. No ombro serão avaliados os movimentos de flexão, extensão, adução, abdução, rotação lateral e rotação medial. No cotovelo e no punho serão analisados os movimentos de flexão e extensão. No quadril serão analisados os movimentos de flexão, extensão, adução e abdução. Conclusão Pelo exposto acima, podemos observar quais as valências físicas importantes para o basquetebol e como estas distinguem-se para indivíduos na faixa etária dos 17 e 18 anos não encontrando-se no mesmo nível de indivíduos adultos. Portanto, os testes que serão realizados com esta população 84 Estudo das Valências Físicas Relevantes para o Basquetebol: Uma Proposta de Programa de Avaliação para Atletas da Categoria Juvenil Masculino devem levar em conta os fatores mencionados, sendo específicos para os mesmos. Bibliografia ALVAREZ, Jaime. Entrenamiento intervalado y diferencial en básquetbol. Medicina del Ejercicio, v. 2, n. 3, set./dic., 1987. p. 14-18. BARROW, Harold. M., McGEE, Rosemary, TRITSCHLER, Kathleen A. 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Localizado no Festival Desportivo da V Semana Estadual da Pessoa Portadora de Deficiência, traçamos um debate no campo acadêmico envolvendo uma narrativa de acontecimentos. Como metodologia, adotamos a descrição e a interpretação partindo do lugar de observadores participantes num evento que envolveu estas populações. Palavras-chave: Desporto Adaptado, Rendimento, Evento Abstract This article aims at the understanding of how sports and in particular one of its categories - production - can be understood as a positive element in the generation of knowledge in the case of disabled persons who are blind, deaf, on a wheelchair, or mentally retarded. During the Sports Festival of the 5th State Week for the Disabled Person, we carried out a debate in the academic field involving a narrative of happenings. As methodology, we adopted the description and interpretation from the viewpoint of participant observers in an event that involved the above mentioned populations. Key words – Adapted Sports, Efficiency, Event Introdução Uma das mudanças que temos observado nas políticas públicas voltadas para as pessoas cegas, surdas, cadeirantes (as pessoas paralisadas, amputadas ou les outres, serão identificadas neste trabalho como cadeirantes) e deficientes mentais, refere-se a sua participação no desporto. Cada vez mais surgem propostas neste sentido. Uma delas se fez presente na V Semana Estadual da Pessoa Portadora de Deficiência que teve como propositor a Fundação de Atendimento às Pessoas Portadoras de Deficiência e de Altas Habilidades (FADERS) com a colaboração do Departamento de Desporto do Estado do Rio Grande do Sul. O seu tema era: “Atuando para Transformar”. No período de 28 a 29 de agosto de 1999, realizou-se na cidade de Porto Alegre o Festival Desportivo reunindo Atletas Cegos, Surdos, Cadeirantes e Deficientes Mentais (ACSCDM) com a apresentação das suas melhores 87 Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais performances. Uma população de 96 atletas esteve presente nestes dias. Este artigo trata de como o desporto e uma de suas categorias – o rendimento -, é entendido como um elemento positivo, porque produz um conhecimento, em relação aos ACSCDM. O seu objetivo está em organizar um conhecimento envolvendo uma narrativa de acontecimentos. Nesse sentido faremos uma prática discursiva sobre os momentos desportivos dessa população. Para tanto, iremos nos subsidiar de alguns educadores da educação física que tem apresentado nas suas posições uma valorização dos momentos desportivos. Estarão presentes também, olhares que tratam sobre o tema da integração. Para limparmos o nosso terreno fazemos o seguinte esclarecimento: um discurso que evitaremos durante o artigo refere-se ao viés da saúde que geralmente também é vinculado ao desporto. Na questão dos ACSCDM, ainda é somado à reabilitação ou terapia. Sem desmerecermos esses elementos, pensamos no desporto como uma prática, mimética (Elias, 1992) que tem um valor de rendimento pessoal e coletivo que desloca o nosso olhar para outra forma de análise. Nesse sentido percebemos em Santos (1998), uma síntese bem elaborada sobre que pratica um desporto: “a satisfação causada e buscada por quem pratica uma atividade desportiva (...), a satisfação por uma jogada inesperada, pelo gol ou ponto ganho seguem o capricho cultivado no interior de cada um e não podem ser descritos sem perder a emoção do momento vivido”. (p. 94) A valorização do desporto por este viés possibilita-nos a analisar o rendimento naquilo em que ele se apresenta. Portanto, para seguir adiante neste trabalho, iremos dividi-lo da seguinte forma: em primeiro apresentamos a nossa posição sobre o rendimento e localizamos o evento desportivo; por segundo a metodologia que adotamos; em terceiro, apresentamos os registros das informações, seguidos das suas análises e conclusões. O Rendimento e a sua Positividade Abordar o rendimento coloca-nos em um espaço em que ele é muito criticado por alguns professores da área da educação física. Nesse sentido, estamos entrando num campo onde os discursos estão centrados em relações de poder a favor ou contra esta categoria. No ponto em que nos localizamos, entendemos que o rendimento desportivo, não é algo negativo, pois pensamos que se fosse assim, teríamos que estender essa compreensão sobre outras áreas que também exigem um rendimento, ou seja: a intelectual, a artística, a musical, etc. Parece-nos que essas não têm recebido o mesmo tratamento de crítica como acontece com o desporto. Nesse sentido seguimos a mesma trilha de Gaya (2000) ao perceber o desporto como uma expressão da cultura assim como o é a pintura, as artes plásticas e a música. 88 Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais O rendimento é uma categoria central do desporto e nela podemos compreender o seu fenômeno e sua natureza. (Santos, 1998; Gaya, 2000 ). A nossa posição passa por esse entendimento, pois, para que o atleta possa aprimorar a sua técnica individual e coletiva e melhorar a sua condição física, para que a equipe atinja bons resultados é necessário que tenha havido um rendimento. O rendimento desportivo é positivo, pois produz um conhecimento sobre cada um de nós, permite que se estabeleçam relações de um com o outro, construindo nossos limites e possibilidades. Larrosa (1994) chama de relações do sujeito consigo mesmo, as experiências de si, que não são nada mais do que um complexo processo histórico de fabricação de sujeitos em que se entrecruzam os discursos que definem aquilo que seja verdadeiro, e as práticas que regulam o seu comportamento. Mais adiante destaca que: “A experiência de si, historicamente constituída, é aquilo a respeito do qual o sujeito se oferece, seu próprio ser quando se observa, se decifra, se interpreta, se descreve, se julga, se narra, se domina, quando faz determinadas coisas consigo mesmo, etc.”(p.43) Essa positividade que o desportista se oferece, ou seja, produzir um conhecimento sobre si mesmo, em relação às suas particularidades, exige de nós, entender o fenômeno do rendimento a partir de uma perspectiva menos preconceituosa. Como um primeiro entendimento sobre o fenômeno desportivo, nos reportamos a Barbanti (1979) ao destacar que: “Condição é o grau de capacidade física, técnica, tática e psíquica que determina um estado de rendimento. Assim, conhecemos a condição técnica, a condição física, a condição tática, etc. Existe uma condição geral que se caracteriza por um desenvolvimento amplo das qualidades físicas básicas (força, velocidade, resistência), das qualidades motoras (habilidade, destreza, mobilidade) e a condição especial que se refere às qualidades de uma modalidade ou disciplina desportiva específica”. (p. 9-10) Ao tratar do termo “Condição” tal como ele se apresenta no rendimento desportivo, ele localiza o nosso olhar. Permite ao atleta conhecer a sua dimensão desportiva através de relações que faz com o outro e consigo mesmo. Nesse sentido, destacaremos, a seguir, duas idéias sobre a categoria rendimento, para situar a nossa compreensão. Elas irão contribuir com a posição que adotamos. Ao destacarmos aquilo que corporalmente é necessário para que possamos pensar no rendimento, entendemos, porém, que somente essa definição não é suficiente para compreendê-la. Recorrendo a Santos (1998), percebemos que no seu estudo, destaca que o rendimento desportivo deve considerar dois elementos: o biológico e o cultural. O desafio que esse autor trouxe está 89 Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais justamente em tentar compreender como os componentes biológicos e culturais se articulam para produzir resultados desportivos, para que eles não sejam resultados do acaso, em outras palavras, o acaso é um elemento determinante e, portanto, indeterminado do rendimento. Mais adiante é acrescentado que existe um desconforto para aqueles que esperam uma precisão nessa resposta, pois não se pode produzir um/a atleta ou um/a desportista da mesma forma que se produz uma máquina. Em outro espaço de reflexão, Gaya, Balbinotti e Campos (1998:26), comentam sobre o rendimento e a competição, destacando que um tem como objetivo a ser perseguido a ética, e o outro, a forma objetiva e direta de avaliação do próprio rendimento. De alguma forma, esses referenciais nos dão pistas de que existe toda uma positividade a partir destes campos de análise, pois eles produzem um conhecimento, trazem para a margem um saber possível de ser identificado pela sua própria ocorrência, o desporto. É juntamente com essas compreensões que pensamos o desporto adaptado para os ACSCDM. Dessa forma, faz-se necessário comentar a partir do nosso ponto de vista o contorno que o Festival Desportivo tomou a partir daquilo que nós consideramos relevante para este momento. A Proposta do Evento Para contextualizar o evento faremos, inicialmente, algumas considerações sobre o logotipo utilizado na V Semana Estadual da Pessoa Portadora de Deficiência (ANEXO-1). Nele, aparecem duas pessoas dentro de um círculo como se estivessem no núcleo de um redemoinho. Os braços estão estendidos à vertical e próximos aos pés um do outro e os seus corpos girando lateralmente no sentido anti-horário e para dentro lembram, num primeiro olhar, um símbolo da cultura oriental: o yin e o yang. Posterior a essa impressão é possível dizer que eles estão interagindo entre si, sugerindo o tema da integração. A integração é um processo que tem como princípio garantir as mesmas oportunidades a todas as pessoas. Quando pensamos nela em relação ao desporto para os ACSCDM, ela nos remete para a acessibilidade, eliminação das barreiras arquitetônicas, adaptações, entre outros. Consideramos a integração como parte de uma luta de justiça e a igualdade envolvem relações de poder e práticas cotidianas, tais como: o exercício da cidadania. É nesse momento que a prática social dos envolvidos, reforçam ações que afastem-se de uma retórica discursiva. Temos claro que a perspectiva da integração representa uma lógica diferente daquela que foi dada para a constituição da sociedade moderna. Ela é entendida como uma das possibilidades de se propor políticas públicas aos 90 Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais ACSCDM. A existência de eventos como este repercute diretamente nos corpos desse sujeitos. Nesta lógica de compreensão percebemos que no conteúdo do foulder do evento é apresentado um entendimento sobre as ações que devem favorecer a integração. “A questão das ‘pessoas portadoras de deficiência, complexa que é, não será equacionada a partir de ações setoriais ou isoladas. Em vez disso, está diretamente vinculada à superação dos mais relevantes problemas de desenvolvimento e justiça social em nosso país”. (FADERS, 1999) Mais adiante é explicado, que a “V Semana Estadual da Pessoa Portadora de Deficiência traz a marca da descontinuação das formas tradicionais com que o Estado entende e trata essas questões, através de um processo que faça a ruptura de visões centradas nos conceitos de ‘atendimento/assistência’ e, em seu lugar, instaure um novo paradigma, norteado pelos conceitos de cidadania/direitos humanos”. Esses pontos são importantes para que possamos entender o contexto em que o Festival Desportivo ocorreu. Existe uma contemporaneidade na proposta do evento que culmina com a parcela de responsabilidade que o Estado assume. Aquilo que está por trás do tema escolhido, e, o logotipo é uma proposta para que haja uma interação durante esses dois dias. Nesse sentido, as possibilidades de rendimento de cada desportista seriam as de oferecer um enunciado através da visibilidade a ser dada. Metodologia Adotada Localizamos a nossa metodologia como um estudo descritivo. Utilizamos a técnica de observação como instrumento de coleta de dados. A nossa posição foi de um participante do evento. Dessa forma, apresentamos um olhar específico para os desportos realizados. As nuances deles caracterizam as suas particularidades, e o que deixamos nos discursos que trazemos, expressa o nosso lugar. A idéia de escrever sobre esses jogos, diz respeito a uma posição que temos adotado na passagem pelo Departamento de Desportos1. Nela procuramos registrar os momentos desportivos em que os ACSCDM se fazem presentes. Em uma sociedade como a nossa em que algumas diferenças não são expostas no seu dia-a-dia, a oportunidade de observar as possibilidades desportivas das pessoas que são cadeirantes, surdas, deficientes mentais, Cláudio Marques Mandarino, autor deste artigo, participou do Festival Desportivo como coordenador do evento, numa parceria entre o Departamento de Desportos da Secretaria de Educação com a Fundação Estadual de Atendimento ao Deficiente e ao Superdotado, órgãos do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. 1 91 Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais assumem um significado importante em relação às ações que podem ser propostas a elas. Descrição e Análise do Evento Ao tratamos da prática desportiva dos ACSCDM não basta somente reunilos pensando que ela irá acontecer. É necessário entender de que forma ela se concretiza no seu próprio acontecimento. Quando foi definido pela comissão organizadora, que no tema fosse dado ênfase aos atletas de rendimento no desporto adaptado2, estava presente a idéia de se romper com a visão de senso comum (não de bom senso) que muitas vezes tem no seu imaginário a incapacidade dos ACSCDM em momentos como esse. Estamos nos referindo àquela concepção de “superação”, “exemplo de vida” que muitas vezes é utilizado por algumas pessoas. Mesmo sendo um julgamento de valor, partiu-se do princípio de que as pessoas que iriam assistir desportos adaptados onde estão presentes os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais, observassem uma disputa com qualidade. Esse foi um princípio para dar uma visão mais positiva sobre essas pessoas e produzir um saber nesse contexto. Em relação aos discursos que seguidamente organizam uma representação sobre estes segmentos, observamos no jornal Zero Hora, uma reportagem intitulada: “Deficientes demonstram esportes”, destacou que o esporte venceu limitações no final de semana no Ginásio Tesourinha. Portadores de deficiências auditivas, visuais, físicas e mentais estufaram as redes e capricharam nas cestas(...) Mais do que competir, o objetivo da iniciativa era de mostrar que as limitações físicas ou psíquicas não são obstáculos para a prática de esportes. Sobre o princípio de apresentar os melhores rendimentos desportivos, percebemos que o número de pessoas que assistiram aos jogos, já estavam envolvidas, de alguma forma, com essas populações. Mesmo que não tenhamos ficado surpresos com a pouca circulação de pessoas, entendemos que essa prática, como foi o Festival Desportivo estabeleceu uma relação de poder quando tratou das possibilidades dos ACSCDM no desporto e uma visibilidade que ofereceu um saber através do que foi proferido a seu respeito. Uma prática discursiva que estabeleceu uma relação através de um evento que tinha como propósito desconstruir algumas compreensões sobre essa população, e que mesmo assim não avançaram em alguns meios de comunicação. Vásquez, Javier Hernandez, definiu o desporto adaptado, colocando que, cuando las personas que pratican deporte con unas determinadas discapacidades modifican sus normas, pistas deportivas o el entorno donde se realiza la actividad, este deporte toma la denominación de deporte adaptado. Actividades Físicas Adaptadas: perspectiva interdisciplinar y bases conceptuales. Revista APUNTS: Educación Fisica y Esportes. octubre de 1994. No38. p.9 2 92 Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais Dessa forma, esse meio de comunicação, divulgou para todo o Estado do Rio Grande do Sul a participação dos ACSCDM no Festival Desportivo. Se por um lado, o discurso presente afastou-se daquilo que se pretendeu, ou seja, desconstruir a visão de superação e limitações alcançadas, que sempre acompanha este tipo de reportagem, por outro, deu um destaque apresentando as possibilidades desta população no desporto adaptado. As seguir, então, iremos nos aproximar da organização de cada um dos segmentos no festival desportivo. O nosso olhar fará um outro tipo de representação. Em relação aos Cegos foram praticados dois desportos: um deles foi o futsal. Mesmo fazendo somente uma apresentação no evento ele nos surpreendeu pela habilidade técnica e tática dos seus jogadores. Uma particularidade desse desporto era o goleiro, pois, ali estava o único atleta vidente. O outro desporto foi o golbol3. Neste, todos os atletas utilizavam vendas nos olhos. Ele foi único em que houve a participação das mulheres. Este ponto merece uma pequena atenção, pois ao gênero feminino não foi reservada uma participação específica. Quando se pensou sobre a positividade do rendimento, o olhar foi deslocado para um único gênero: o masculino. É interessante fazer esse destaque, porque não foi pelo fato de estarem ausentes que somente uma população estaria credenciada para dar conta da proposta do evento. Portanto, a história do desporto adaptado, nesse momento, só pôde ser contada e narrada através do olhar que foi dado para os atletas homens. Isso pode ser interpretado pelas próprias relações de poder dentro do desporto adaptado que fizeram com que eles estivessem organizados para esse momento. Uma ilustração para o que vem sendo apresentado pode ser vista através de Mandarino (1998), quando, no seu artigo “Futsal para alunas com Deficiência Mental”, ressaltou a importância de incluir as mulheres no calendário desportivo da Associação Regional de Desportos de Deficientes Mentais (ARDEM), “pois desta forma se estaria confrontando territórios antes pertencentes somente à uma população, a masculina. A relação que fazemos com o Festival Desportivo é que este também caminhe nesta direção em eventos futuros”. Durante o congresso técnico, um problema que surgiu e que entendemos ser importante destacar neste momento, refere-se diretamente ao que estamos nos propondo a discorrer, ou seja: a positividade do rendimento. O núcleo de Hoffmann, Lia explica que utiliza-se uma bola com guizos no seu interior e trata-se de um desporto em que participam duas equipes com 3 jogadores cada uma, tendo 3 suplentes por equipe. Joga-se no solo de um ginásio, dentro de uma quadra retangular de 9 x 18 metros, dividida em duas metades por uma linha central e um arco em cada extremidade de 9 m x 1,30 metros de altura. O objetivo de cada equipe é fazer com que a bola cruze rodando a linha de gol contrária, enquanto a outra equipe tenta impedir. Golbol. In: NETTO, Francisco Camargo; GONZALEZ, Jane da Silva, coord. Desporto adaptado a portadores de deficiências: Futebol. Porto Alegre: UFRGS,INDESP,1996. p 28. 3 93 Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais atenção num certo momento foi deslocado para a classificação4 dos atletas, ou seja, as funções musculares que ele possui e que lhe dão uma maior ou menor habilidade quando jogam o basquetebol na cadeira de rodas. Isso, porque nem todos eles tinham a sua pontuação, que é feita pela Associação Brasileira em Cadeira de Rodas (ABRADECAR). No caso específico das equipes dos cadeirantes, Associação Riograndense de Paralíticos e Amputados (ARPA), União de Deficientes Físicos e Amputados (UDEFA), Centro Integrado dos Portadores de Deficiência Física (CIDeF) e Centro de Deficientes de Santa Cruz do Sul (CODESC), somente as duas primeiras tinham os seus atletas classificados. Nesse momento, então, nos deparamos com um impasse, pois não foi feita uma previsão de entrar em contato com classificadores desta modalidade desportiva. A questão foi resolvida por um acordo entre os coordenadores definindo por uma comissão para tratar da pontuação dos atletas. Nela decidiu-se que o controle seria feito em relação às duas equipes que tinham os seus jogadores já classificados. A classificação para os, cadeirantes no desporto tem por objetivo, como explica Mattos (1999), “assegurar um nível justo e adequado para o confronto com todos os participantes, sendo que a classificação pode ser considerada como a essência do desporto adaptado”. A mesma autora destaca que a classificação funcional enfoca a capacidade do atleta em realizar determinada prova. Em relação aos Surdos, não houve uma categorização para classificar as equipes, pois, não é o grau dela que irá determinar a qualidade técnica da equipe, e sim a sua experiência no desporto. O que se fez necessário durante todo o Festival Desportivo foi a presença de uma intérprete da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Na questão dos deficientes mentais, não houve a necessidade de se preocupar com a classificação, pois todos pertenciam ao nível I. Nos jogos que ocorreram durante o Festival Desportivo, três equipes se fizeram presentes, o Centro Abrigado Zona Norte (CAZON), o Centro de Atendimento e Desenvolvimento do Excepcional (CADE) e o Centro Ocupacional de Porto Alegre (COPA). Nas Olimpíadas Nacionais das APAEs, ou Special Olympics, as equipes são divididas em nível I e II, com menor e maior técnica, respectivamente. Como podemos perceber, os segmentos possuem as suas diferenças, que são totalmente distintas entre si. Essas diferenças produzem uma variedade de significados. Os quadros de relações que se estabelecem nos conduzem a destacar cada um particularmente. O que pretendemos deixar registrado é que as possibilidades de cada ACSCDM referem-se a um rendimento individual e a 4 Potrich e Diehl (1996:7) explicam que a classificação conferirá ao jogador uma pontuação que vai de 1 a 4,5 pontos aumentando de 0,5 em 0,5 pontos e a equipe deve ter na quadra cinco jogadores que juntos não deverão exceder a soma de 14 pontos. 94 Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais forma como é utilizada a classificação serve para que a disputa do desporto se torne mais justa. Descrição e Análise dos Registros do Desporto Adaptado Neste momento, objetiva-se direcionar o olhar específico para cada um dos desportos realizados apresentando as particularidades de cada um, através de alguns relatos. Deste modo será oferecida uma noção sobre a forma como apresentamos um discurso a partir desse lugar. Um discurso que pretende mostrar as possibilidades dos atletas, e o saber que é transmitido quando se envolvem nessa prática. Nos próximos parágrafos os registros da prática desportiva serão os focos de análise. Os deficientes mentais reuniram-se com as suas instituições e realizaram um torneio (triangular) que os envolveu durante o sábado. As plasticidades do futsal nos permitem estabelecer relações sobre as suas possibilidades. Durante o jogo, eles acertam e erram os passes, exercitam um fundamento desse desporto de forma coletiva e individual. Nem sempre as suas jogadas e fintas são bem sucedidas, e, mesmo assim este não é um fator de desestímulo. Esta prática, as suas emoções, o seu rendimento, a disputa, possuem uma magia contagiante que os estimulam. Podíamos perceber que todos eles tinham conhecimento das regras desse desporto. Disputavam a bola com uma voracidade almejando tentos sobre a equipe oposta. Um jogador chamou-nos a atenção, pois a cada gol que fazia, dedicava-os a um integrante de sua equipe ou a conhecidos seus, e da mesma forma que os comemorava com toda a sua emoção, irritou-se, reclamou, cometeu infrações quando no jogo seguinte a sua equipe foi vencida. Mesmo assim, permaneceu até o fim do jogo, comemorou uma vitória e amargurou uma derrota, tendo assim, uma experiência da relação consigo mesmo. Larrosa (1994) contribui com o que foi descrito sobre o atleta deficiente mental ao comentar sobre a experiência histórica e cultural do que deve ser aprendido e transmitido, dizendo que: “qualquer prática social, e o desporto é uma prática social (grifo nosso), implica que os participantes tratem os outros participantes e a si mesmos de um modo particular. Identificar quem são os participantes é fundamental para a natureza dessa prática, portanto, aprender a participar no desporto é ao mesmo tempo aprender o significado de ser um participante. Aprendendo as regras e o significado do desporto, a pessoa aprende ao mesmo tempo a ser um jogador e o que ser um jogador significa. (p. 45) Em relação às emoções presentes no desporto, as posições de Elias (1992) ilustram esses momentos, destacando que: “o quadro desportivo, como muitas outras atividades de lazer, destina-se a movimentar, a estimular as emoções, a evocar tensões sob a forma de uma 95 Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais excitação controlada e bem equilibrada, sem riscos e tensões habitualmente relacionados com o excitamento de outras situações da vida. Uma excitação mimética que pode ser apreciada e que pode ter um efeito libertador, catártico, mesmo se a ressonância emocional ligada ao desígnio imaginário contiver, como habitualmente acontece, a elementos de ansiedade - ou desespero”. (p. 79) As emoções que o desporto proporciona não se dão de forma hierárquica. Não existe uma emoção “normal” na qual eles devem alcançar. Os atletas deficientes mentais mostram-nos o quanto a cultura desportiva, em que estão envolvidos, possui um papel fundamental na sua formação, na experiência de si. Um outro olhar é deslocado para os surdos. No momento em que estão jogando, os ruídos do ginásio, ocorrem por parte daqueles que estão assistindo o futsal. Os sons emitidos pelos surdos estão num chute na bola, atrito dos tênis com o piso. A nós, ouvintes, que estamos acostumados com as reclamações, xingamentos que habitualmente ocorrem no futsal, esses se deram com gestos e batidas com os pés no chão. É interessante de registrar a disputa que houve entre as duas equipes. No sábado fizeram um jogo, e no Domingo, outro. As emoções que diferenciam um do outro estão nos resultados. No primeiro jogo, houve um empate em quatro gols, onde a decisão foi para os pênaltis. A emoção que essa disputa envolveu pode ser descrita pela forma como era disputado cada lance. Faltando cinco minutos, uma equipe estava com a vantagem de um gol em tentos que foram suados para adquiri-los e mesmo assim houve empate no final. Como haviam duas instituições envolvidas (Sociedade de Surdos do Rio Grande do Sul e Associação de Surdos de Guaíba (ASG), canalizaram-se as rivalidades nesse confronto. As disputas ocorreram com mais vontade, os jogadores esforçavam-se e não existia bola perdida, porém, o final foi simplificado na tensão de cinco chutes a gol para cada equipe. Por 4x3 a ASG venceu a partida. A segunda disputa não teve o mesmo significado porque cedo uma das equipes abriu uma vantagem no marcador difícil de ser alcançada no decorrer do jogo, portanto, desse momento em diante já havia um pré-anúncio sobre quem seria o vencedor. No final 7x1, mostrou-se a derrota do dia anterior sendo devolvida. Essas são situações que podem ser interpretadas através da sociologia do desporto. Elias (1992) comenta que: “o desporto, de uma maneira geral, possui um caráter de um combate mimético controlado e não violento. Uma fase de luta, ou conflito de tensão e excitação, que pode ser exigente em termos de esforços físicos e de técnica, mas pode também ser, em si mesmo, hilariante, uma libertação de tensões e dificuldades da rotina exterior ao lazer e ao conflito de tensões, quer seja pelo júbilo da vitória ou pelo desapontamento da derrota”. (p.83) 96 Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais Uma particularidade que poderíamos fazer em relação a esta população, refere-se a sua condição: surdo ou deficiente auditivo. Se não estamos informados sobre quem está compondo as equipes, não iremos procurar uma “normalidade” possível de ser observada (a partir de quem quer marcar uma diferença), pois, o que ocorre é justamente o contrário. O rendimento que apresentam quando praticam o seu desporto são fundamentais para que não se busque algo exterior às suas possibilidades. Ao contrário dos surdos, os cegos, no futsal, necessitam de um silêncio fora da quadra para que nela possam identificar a direção da bola através do seu guizo. Nesse desporto, a comunicação é constante, tanto entre si, como também do técnico com os jogadores. Os chutes a gol, as jogadas ensaiadas e a localização no espaço são determinantes para que a equipe tenha êxito. Disputam a bola, utilizam as suas habilidades para protegê-la e quando estão em posse dela concluem tentos em que o atleta vibra e grita comemorando a façanha. No golbol percebemos a que precisão das defesas, a força e a técnica dos arremessos em direção ao gol, demonstravam um rendimento que envolve uma noção de espaço acurada. Os sentidos envolvidos nesse desporto são muito aguçados. A percepção cinestésica, tátil, e acústica são fundamentais para que um melhor rendimento seja alcançado. Gaya, Balbinotti e Campos (1998:24), ao escreverem sobre a natureza do desporto, destacaram que “quando um atleta executa uma sofisticada ação técnico-táctica, podemos perceber, de várias perspectivas, a manifestação ímpar de um significado verdadeiramente corporal, verdadeiramente humano”. Em relação aos cadeirantes, durante a prática do basquetebol fazemos a seguinte descrição: Quando os atletas começam a movimentar-se dentro da quadra, é estabelecida uma normalidade. As possibilidades desportivas pertencem a esse contexto e as movimentações que ocorrem entre os jogadores, apresentam jogadas complexas. A tática para se obter um melhor rendimento exige de cada um e do coletivo, alterações nos lugares e posições para que o espaço adequado a efetuar um arremesso seja conseguido. Para quem assiste pela primeira vez uma partida de basquetebol em cadeira de rodas, algumas impressões ficam registradas. Uma delas, refere-se à forma como vamos nos envolvendo, pois rapidamente o nosso olhar concentra-se nas possibilidades que o desporto oferece. A cada momento observa-se uma jogada mais ousada e difícil. Ali várias habilidades são testadas. Cada um explora as suas condições, para melhorar o seu rendimento. Executam remadas quicando a bola. Existe uma plástica de movimentos com a cadeira que nos sugere uma estética plural ao desporto. Fintas que exigem uma rapidez que às vezes engana os nossos olhos. A simbiose da cadeira com o atleta é determinante para o rendimento durante a partida. As características desse desporto exigem uma complexidade de ações, e de alguma forma, elas 97 Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais registram na memória de quem executou e de quem observou as suas condições de possibilidades. É interessante resgatar aqui uma análise mais técnica que foi feita por Potrich e Diehl (1996) em outro momento. Eles comentavam que: “o jogador em cadeira de rodas, com a posse da bola, tem menos facilidade nas situações de um para um em relação ao adversário, no entanto, tem maior chance de proteger a bola devido às dimensões da cadeira, aumentando o raio de ação e defesa e, conseqüentemente, tornando o jogo mais defensivo. Durante o desenvolvimento do jogo, as jogadas sem bola são mais acentuadas do que no basquete regular, por isso as estratégias para ganhar espaço e formar jogadas devem concentrar-se mais nos espaços entre os jogadores e a cesta do adversário”.(p.7) Observar os cadeirantes praticando o basquetebol é perceber que a garantia desse desporto ocorre através de uma prática social que eles possuem. Portanto, no momento em que fizemos alguns registros sobre determinados segmentos, entendemos que eles apresentam significados próprios de quem vivencia o desporto. Os gestos, as movimentações, a relação com o espaço, as habilidades necessárias, nos mostram a pluralidade estética que os vários tipos de desportos adaptados exigem de seus atletas. Conclusão Neste artigo, procuramos refletir sobre o tripé ACSCDM, Rendimento e Evento Desportivo. Ela se propôs a fazer uma reflexão sobre a narrativa desse acontecimento. Nele foi possível, mesmo que de forma unilateral, apresentar um recorte sobre uma ação que garantiu a participação dessa população. Portanto, chegamos ao final deste artigo comentando que uma proposta como esta que envolve uma política pública para os ACSCDM deve ser estimulada nos mais variados espaços. O seu acontecimento, a narrativa e interpretação feitas sobre o evento permitem que novas perspectivas de análise possam juntar-se às posições aqui demarcadas sobre o desporto adaptado para essa população. A própria elaboração desse texto, e a representação que ele deixa, é fruto daquilo que o evento desportivo possibilitou. Referências bibliográficas APAES e INSTITUIÇÕES ESPECIALIZADAS. Regulamento geral e regulamento técnico. 13ª Olimpíada Nacional Rio de Janeiro - 19 – 24, 1996. BARBANTI, Valdir. Teoria e prática do treinamento desportivo. São Paulo. Ed. Edgar Blücher, 1979. ELIAS, Norbert. A busca da excitação. Lisboa, Difel, 1992. 98 Rendimento: Uma categoria do desporto como significado positivo para os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais FADERS/SE-RS. V semana estadual da pessoa portadora de deficiência: atuando para transformar. Mimeog, 1999. GAYA, Adroaldo, C. Sobre o esporte para crianças e jovens. Revista Movimento. Porto Alegre, v.7, n.13, 2000. p. I – XIV. GAYA, A., BALBINOTTE, C. e CAMPOS, J. Fundamentos de filosofia sobre a natureza do desporto. IN: SANTOS, Edmilson. S. Org. Educação física escolar: por uma cultura desportiva. POA/Sulina/Novo Hamburgo : FEEVALE, 1998. p. 11-36. LARROSA, Jorge. Tecnologias do Eu e Educação. IN: SILVA, Tomás Tadeu. O sujeito da educação: estudos foucautianos. Petrópolis: Vozes, 1994. MANDARINO, Cláudio M. Futsal para alunas com deficiência mental. IN: SANTOS, Edmilson S. Org. Educação física escolar: por uma cultura desportiva. POA/Sulina/Novo Hamburgo : FEEVALE, 1998. p. 134-51. POTRICH, Aldo C. e DIEHL, Rosilene. Deficiência Física. 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Para escolha das informações, foi utilizada amostragem probabilística estratificada proporcional, com aplicação de um questionário (Olweus, 1989), em que se procurou conhecer a perspectiva dos alunos, expressa nas suas respostas. O questionário engloba 32 questões organizadas em 4 blocos relativos a: dados sóciodemográficos; agressões sofridas; práticas agressivas. Verificou-se que 85% dos alunos que sofreram agressões e que, quanto ao tipo de agressões sofridas foi predominante a verbal. É o recreio, o momento de maior incidência das agressões sofridas. Quanto as características dos agressores, observou-se que estes são mais velhos. Verificou-se ainda, que quando os professores cientificam-se das agressões, há a predominância de interferência em 73%, na tentativa de impedir os atos agressivos, e a maioria deles conversa com os agressores para interromper ou resolver as disputas. Também se constatou que existe maior agressividade nas escolas do centro que da periferia. Como conclusão pode-se dizer que agressividade no contexto escolar é uma realidade em Santa Cruz do Sul, e propõe-se que se busque uma ação pedagógica-social. A conclusão também aponta as raízes da agressão, que se estendem, provavelmente, além do microssistema escola, para o que se justifica uma ação integrada de todos os setores da sociedade, a fim de combater a agressividade no contexto escolar. Abstract This study was orientated by the person and context model described by Bronfenbrenner (Krebs, 1997). The work investigated the agressive behaviour in 357 (three hundred fivety – seven) students from seven to fourteen years old from brth genders (male and female) of state, municipal and private schools in Santa Cruz do Sul, from the subrubs and downtown. To get the data, a proportional stratified probability sample was used, with na inquiry (Olweus,1989), searching for knowing the students perspective, expressed in their answers. The inquiry has thirty-two questions organized into four sections related to: socio-demographic data, sufferer agressions, agressive 100 Comportamento agressivo em Escolares de 1ª a 8ª série do Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul: uma abordagem através da Teoria dos Sistemas Ecológicos practices. It was verified that 85% eigth-five percent of the students had suffered agressions and, that the verbal aggression, was predominant amont the aggression styles. And it is in the break time that the students suffered a greater number of regardind to the aggressors, characteristics, it wass noted these are the oldest. It was verified, also, that when teachers know about the aggressions there is the predominance of interference in 73%, tying to stop the aggressive acts, and the most of them talk to the aggressors to stop then or solve the discussion. It was also noted that exists a greater aggressivity in downtows schools than in suburb ones. As a conclusion it can be said that aggressivit in school context is a reality in Santa Cruz do Sul, and it’s proposed a search for a social-pedagogical act. The conclusion, also, points to the bases of the aggression, that are probably, extended beyond the school microsystem, for what it is justified na integrated action from all the society sections, aiming to fight aggressivity in school context. 1. Introdução 1.1. O problema e sua importância A pesquisa é produto do exercício no magistério, durante mais de quinze anos, em que atuei no Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul, na Escola de 1º e 2º Graus Educar-se, em supervisão de estágio e como professora na Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. Durante esse período, através de múltiplas observações, discussões, vivências, leituras e avaliações, surgiu uma inquietação a respeito do aumento da agressividade em escolares, nas escolas do Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul. Indubitavelmente, a inquietação levou-me para além da reflexão, culminando, dessa forma, nesta pesquisa, em que apresento busca de caminhos para conhecer e, de alguma forma, indico propostas para amenizar a agressividade no ambiente escolar. A escola representa um contexto peculiar, de convivência de grupos, que, ao longo do tempo, poderão vir a estabelecer “regras”, algumas explicitadas e outras não, que influenciem nos comportamentos de seus pares. Enquanto educadores é necessário que valorizemos as relações interpessoais que se estabelecem entre os alunos, na escola. Nessa concepção, buscamos o posicionamento de Krebs (1996), que atribui ao estudo do desenvolvimento humano uma forma de entender todas as relações existentes entre o ser em desenvolvimento e o contexto no qual ele está inserido. 2. Metodologia 2.1. Caracterização da pesquisa Este estudo foi orientado pelo modelo pessoa/contexto, delineado por Bronfenbrenner (Krebs,1997) e que se caracteriza como uma abordagem dinâmica entre a criança em desenvolvimento e as relações com o contexto em que ela está inserida. A teoria de Bronfenbrenner permite uma análise das 101 Comportamento agressivo em Escolares de 1ª a 8ª série do Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul: uma abordagem através da Teoria dos Sistemas Ecológicos variações das características da criança em desenvolvimento e dos ambientes (escola, família, professores e amigos) em que ela está inserida. Nesse aspecto considerar-se-á, não somente as estruturas dos microssistemas, mas também a rede social caracterizada pelos meso, exo e macrossistemas. Essa teoria vem contribuir e caracterizar o ser humano em desenvolvimento como alguém ativo em seu meio, em inter-relações que estabelece com todos os grupos dos quais participa, direta ou indiretamente. Amplia-se a visão de homem e mundo, ao levar-se em conta as dinâmicas que se estabelecem entre a pessoa e seu contexto e as transformações daí decorrentes. 2.2. Sujeitos do estudo Fizeram parte deste estudo 357 escolares do ensino fundamental, com faixa etária de 7 a 14 anos (1ª à 8ª série), de ambos os sexos, das redes municipal, estadual e particular do Município de Santa Cruz do Sul, localizadas no centro e na periferia (zonas Rural e Urbana). As escolas foram estratificadas por tipo, conforme a figura 5 (p. 85) sendo que o tipo de amostragem foi a probabilística estratificada proporcional. Os questionários foram aplicados de abril a novembro de 1999. Foi aplicado o questionário em trinta (30) escolas, sendo que duas (2) eram estaduais rurais; oito (8) eram estaduais urbanas; dez (10) eram municipais rurais; oito (8), eram municipais urbanas e duas (2), eram particulares. O número total de alunos, somando os selecionados na rede municipal, estadual e particular, centro e periferia somou, é de dez mil, quinhentos e quinze alunos (10.515). A amostra ficou em trezentos e cinqüenta e sete (357) alunos. O questionário foi aplicado em dezoito (l8) alunos nas escolas estaduais rurais, cento e quarenta e cinco (145) alunos na rede estadual urbana, onze (11) alunos escolas nas municipais rurais, cento e trinta e cinco (135) alunos na rede municipal urbana, e quarenta e oito (48) alunos nas escolas particulares. Estratificação da população de alunos e escolas Escola Escolas estaduais rurais Escolas estaduais urbanas Escolas municipais rurais Escolas municipais urbanas Escolas particulares TOTAL Total alunos 333 4676 915 3745 846 1051 Alunos selecionados 18 145 11 135 48 357 Escolas selecionadas 02 08 10 08 02 30 2.3. Instrumentos de análise Para o diagnóstico da agressividade nas escolas do Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul, foi utilizada entrevista individual através de um questionário 102 Comportamento agressivo em Escolares de 1ª a 8ª série do Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul: uma abordagem através da Teoria dos Sistemas Ecológicos (Olweus, 1989) para os alunos. O questionário engloba 32 questões, organizadas em 4 blocos relativos a: dados de identificação, desenvolvimento sócio-afetivo, sócio-demográfico, agressões sofridas; práticas agressivas. Para etapa da coleta de dados, solicitou-se à Secretaria Municipal de Educação e Cultura, à - 6ª DE – Delegacia de Educação de Santa Cruz do Sul e para as direções as escolas particulares do município, permissão para o estudo e para a aplicação do questionário, ocasião em que foram esclarecidos os objetivos do estudo. 3. Apresentação dos dados e discussão dos resultados A discussão apresenta a análise destes resultados, interpretados de acordo com a orientação ecológica, em função dos objetivos propostos no presente estudo. Tabela 1 – Tipo de agressões sofridas Xingar Bater, chutar Falar mal Roubar Ignorar Outros Não foi agredida Total de alunos (357) 70% 53% 24% 15% 9% 4% 15% Centro 1ª a 4ª série 5ª a 8ª série Periferia 1ª a 4ª série 5ª a 8ª série M F M F M F M F 73% 65% 28% 16% 6% 3% 14% 70% 54% 37% 20% 15% 4% 11% 68% 53% 8% 19% 5% 5% 19% 69% 55% 14% 8% 6% 5% 15% 86% 14% 0% 0% 0% 0% 14% 93% 0% 29% 0% 7% 0% 0% 0% 0% 33% 0% 0% 0% 67% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 100% Observando a tabela 1, notamos, em primeiro lugar, que 85% dos alunos sofreram algum tipo de agressão. Em todos os grupos, a forma mais freqüente de agressão sofrida foi a verbal, com 70% do total de alunos entrevistados (357). Meninos e meninas apresentam percentuais semelhantes de agressão verbal em todos os grupos (1ª a 4ª série e 5ª a 8ª série tanto nas escolas de centro quanto de periferia). Nas escolas de centro, a segunda forma mais freqüente de agressão verificada foi a física, com um percentual de 59,5% no grupo de 1ª a 4ª série e 54% no grupo de 5ª a 8ª série. Já nas escolas de periferia, notou-se que apenas os meninos de 1ª a 4ª série tiveram incidência de agressão física (14%), os outros grupos não relataram esse tipo de agressão. Verificou-se que, nas escolas de periferia, a segunda resposta mais freqüente foi “falaram de mim, contaram segredos”. O roubo foi outra forma de agressão relatada somente nas escolas do centro. Foi verificado, ainda, que 15% dos alunos relataram não terem sido agredidos, sendo que nas escolas de periferia, 67% dos meninos e 100% das meninas de 5ª a 8ª série afirmaram não terem sido agredidos. 103 Comportamento agressivo em Escolares de 1ª a 8ª série do Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul: uma abordagem através da Teoria dos Sistemas Ecológicos Tabela 2 – Locais de agressão Total de alunos (357) Recreio 57% Corredores/escadas 29% Salas de aula 20% Cozinha 6% Outros 6% Não foi agredida 15% Centro 1ª a 4ª série 5ª a 8ª série Periferia 1ª a 4ª série 5ª a 8ª série M F M F M F M F 61% 25% 22% 9% 4% 11% 64% 31% 20% 10% 3% 10% 58% 35% 23% 2% 5% 16% 48% 35% 23% 0% 6% 17% 14% 0% 0% 0% 43% 29% 71% 7% 0% 0% 21% 7% 33% 0% 0% 0% 0% 67% 0% 0% 0% 0% 0% 100% O local de maior incidência das agressões relatadas foi o recreio, com 57% das respostas (tabela 2); a segunda resposta mais relatada foi relativa a corredores e escadas da escola. Agressões nas salas de aula tiveram 20% de incidência. Essa tendência média foi bem observada nas escolas de centro, entretanto, na periferia, os meninos de 1ª a 4ª série informaram terem sido agredidos em outros locais, não listados no questionário (43%). Tabela 3 – Características dos agressores Mais velhos Da turma Outra turma, mesma série Mais novos Não foi agredido Total de alunos (357) 39% 35% 10% Centro 1ª a 4ª série 5ª a 8ª série Periferia 1ª a 4ª série 5ª a 8ª série M F M F M F M F 58% 27% 4% 41% 41% 9% 26% 40% 21% 23% 43% 11% 14% 14% 29% 57% 14% 7% 0% 33% 0% 0% 0% 0% 7% 16% 5% 12% 7% 11% 2% 15% 3% 22% 14% 29% 14% 7% 0% 0% 67% 100% Quanto às características dos agressores (tabela 3), observamos que os mesmos são mais velhos (39%) e/ou pertencentes à mesma turma (35%) dos alunos que sofreram agressão. Apenas os meninos de 1ª a 4ª série tiveram incidência maior de agressão por alunos de outra turma, mas da mesma série (29%), em comparação com as outras respostas (14% em cada outra). Dos alunos de escolas de periferia entrevistados, todos os que sofreram agressão foram agredidos por colegas de turma (33%). 104 Comportamento agressivo em Escolares de 1ª a 8ª série do Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul: uma abordagem através da Teoria dos Sistemas Ecológicos Tabela 4 – Interferência dos professores (falar com o agressor) Falou Não falou Não soube Não foi agredido Total de alunos (357) 34% 28% 13% 24% Centro 1ª a 4ª série 5ª a 8ª série Periferia 1ª a 4ª série 5ª a 8ª série M F M F M F M F 37% 30% 17% 15% 32% 29% 22% 17% 37% 29% 6% 27% 34% 25% 5% 35% 14% 43% 0% 43% 29% 21% 14% 36% 33% 0% 0% 67% 20% 0% 0% 80% O mesmo percentual (34%) de professores que procuram impedir agressões, também conversou com os agressores (tabela 4). 43% dos meninos e 21% das meninas de 1ª a 4ª série das escolas de periferia afirmaram que os professores não falaram com o agressor. Tendo em vista que a pergunta era dirigida ao aluno caso este fosse um agressor, parece haver uma menor interferência dos professores das escolas periféricas nas questões de agressão entre os alunos. Em 13% dos casos de agressão os professores não ficaram sabendo dos fatos, sendo que um maior percentual de professores das escolas do centro em relação aos da periferia, não ficou sabendo das agressões (19,5% nas escolas de centro contra 14% nas de periferia, no grupo de 1ª a 4ª série, e 5,5% no centro contra 0% na periferia, no grupo de 5ª a 8ª série). O fato de que, nas escolas da periferia, apenas o grupo de meninas de 1ª a 4ª série relatou que os professores não souberam das agressões causadas mostra que, além de serem as meninas menos agressivas, quando o são, isso não chega ao conhecimento dos professores um maior número de vezes em relação aos meninos. 4. Conclusão A agressividade foi o foco central deste estudo que investigou o Perfil da Agressividade em 357 escolares na faixa etária de 7 a 14 anos, de ambos os sexos, nas escolas estaduais, municipais e particulares do Ensino Fundamental do Município de Santa Cruz do Sul, do centro e da periferia. Cabe ressaltar a evidente pertinência da Ecologia do desenvolvimento humano para a análise proposta pela pesquisa, ratificando a necessidade de estudar-se não apenas a criança em desenvolvimento, como também os ambientes dos quais ela participa ativamente. Isso abre novas perspectivas, tanto para o estudo da família quanto para o estudo da escola e, sobretudo, das pessoas que estão legadas à criança nos diferentes contextos. Os fundamentos desta pesquisa delineiam-se para alguns pontos essenciais, em relação à freqüência e ao tipo de agressão, os resultados apontaram para uma grande incidência de casos de agressividade entre escolares. Com isso, podemos deduzir que o contexto escolar não está isento de atos de agressividade entre alunos. Essa dedução leva à conclusão de que essa 105 Comportamento agressivo em Escolares de 1ª a 8ª série do Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul: uma abordagem através da Teoria dos Sistemas Ecológicos agressividade entre escolares pode afetar negativamente o processo educativo conduzido pela escola. Pode-se constatar aqui que, se a escola representa um caminho que busca equacionar as contradições e reforçar a função formadora, voltada para a aprendizagem escolar concebida como um instrumento de formação cultural e de construção do sujeito ético, político e social, constitui certamente um grande desafio para a sociedade e, em especial, para os educandos e educadores. Porém o aspecto negativo da agressividade no contexto escolar poderá comprometer o estabelecimento de relações interpessoais cooperativas indispensáveis para a efetivação do processo pedagógico. Quanto às características dos agressores, os resultados apontaram que são mais velhos e do mesmo sexo, dos agredidos sendo que os meninos agridem mais que as meninas. Quanto à característica de a criança preferir parceiros da mesma idade, essa interação social é um fenômeno com características motivacionais próprias. Os recreios, momentos de maior incidência de agressões, é parte importante para o desenvolvimento, social e cognitivo, da criança. Destaca-se aí a necessidade de uma organização dos espaços e tempos escolares para que propiciem à criança um ambiente mais agradável, melhorando os vínculos entre os alunos, proporcionando um ambiente capaz de propiciar condições de estímulos positivos e também de elementos possibilitadores de integração entre as crianças, minimizando aí a agressividade. Acredita-se, portanto que agressividade no contexto escolar é uma realidade em Santa Cruz do Sul, e que suas raízes, estendem-se além do microssistema escola, o que justifica uma ação integrada de todos os setores da sociedade para o combate à agressividade no contexto escolar, que sirva, também, como apoio ao Desenvolvimento Regional dentro da sociedade, nos seus vários segmentos. Por último, a pesquisa propõe que em cada escola houvesse um projeto adaptado às suas realidades, estando esse projeto comprometido com uma forte mobilização de pais, alunos e professores e, também, de uma comunidade social que possa ajudar essas diversas iniciativas em benefício da diminuição da agressividade escolar. 5. Referências Bibliográficas BELEZA, T. Violência, Crime e sociedade. In: GOMES-PEDRO, J. (Ed.). Stress e violência na criança e no jovem. Lisboa: Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, 1999. p. 335-347. BRONFENBRENNER, U. The Ecology of Human Development: experiences by nature and design. Cambridge: Harvard University Press, 1970. 106 Comportamento agressivo em Escolares de 1ª a 8ª série do Ensino Fundamental de Santa Cruz do Sul: uma abordagem através da Teoria dos Sistemas Ecológicos KREBS, R. J. Urie Bronfenbrenner e a Ecologia do Desenvolvimento Humano. Santa Maria: Casa Editorial, 1995. ___________. Teoria dos Sistemas Ecológicos: um paradigma para o desenvolvimento infantil. Santa Maria: Casa Editoral, 1997. KREBS, R. J., VIEIRA, L. F., VIEIRA, J. L. e BELTRAME, T. S. Desenvolvimento Humano: uma emergente da ciência do movimento humano. Santa Maria: Casa Editorial, 1996. OLWEUS, D. Prevalence and incidence in the study of anti-social behavior: definitions and measurement. In: KLEIN, M. (Ed.) Cross-national research in selfreported crime and delinquency. Dordrecht, The Netherlands: Luwer, 1989. VASCONCELLOS, A. T. M. Stress da vida e destino da mente (Stress, violência e educação). In: GOMES-PEDRO, J. (Ed.). Stress e violência na criança e no jovem. Lisboa: Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, 1999. 107 Jogos Olímpicos do Século XXI: O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio Walter Gomes Osório – Membro da Academia Olímpica Brasileira/SP Resumo Às vésperas do século 21, o aniversário de cem anos do ressurgimento dos Jogos Olímpicos coincide com mudanças em escala global que estão afetando cada aspecto do pensamento e das atividades do homem. Os Jogos Olímpicos são afetados pelas mudanças globais em áreas importantes da economia e política. Eles sofrem a influência da indústria do entretenimento e os esportes profissionais são uma importante parte desta industria. Os ideais do Olimpismo como uma filosofia de vida, onde a mistura de esporte e cultura com arte e educação num todo equilibrado as qualidades de corpo, espírito e mente, parecem ser utópicas. Os Jogos Olímpicos e os esportes profissionais, nos dias de hoje, parecem ser controlados pelo poder do dinheiro. O Olimpismo no final do século 20 está face à comercialização do esporte. Patrocínios, promoções, contratos, marketing, gerenciamento, e aspectos organizacionais são parte dos Jogos Olímpicos e dos esportes profissionais em geral. São as prescrições do Olimpismo aplicáveis à realidade dos Jogos Olímpicos de Sydney? O futuro do Olimpismo depende do equilíbrio entre o comercialização e os ideais do Olimpismo. Nós não podemos retirar o patrocínio e a comercialização do esporte hoje, mas nós podemos usar a assistência financeira para promover os ideais do Olimpismo. A contribuição da Academia Olímpica Internacional para promover os ideais do Olimpismo é um bom exemplo. Palavras-chave: Academia Olímpica Internacional, Olimpismo, Comercialização. Abstract On the eve of the 21st century, the centennial anniversary of the revival of the Olympic Games coincides with the global scale changes that are affecting every aspect of human thought and activity. The Olympic Games are affected by the global changes in important areas of economy and politics. It suffers the influence of the entertainment industry and the professional sports are an important part of that industry. The ideals of the Olympism as a philosophy of life, where blending sport and culture with art and education in a balanced whole the human qualities of body, will and mind, seem to be utopian. The Olympic Games and the professional sports nowadays seem to be ruled by the power of money. The Olympism at the end of the 20th century is facing the commercialisation in sport. Sponsorship, promotions, contracts, marketing, management and organisational aspects are part of the Olympic Games and professional sports in general. Are the humanistic prescriptions of the 108 Jogos Olímpicos do Século XXI: O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio Olympism applicable to the reality of the Olympic Games of Sydney ? The future of Olympism depends on the equilibrium between comercialism and the ideals of Olympism. We can’t take away sponsorship and commercialism from sport today, but we can use the financial assistance to promote the ideals of Olympism. The contribution of the International Olympic Academy to promote the ideals of Olympism is a good example. Key words: International Olympic Academy, Olympism, Comercialism. Introdução O esporte é objeto de estudos de diversas áreas do conhecimento, como filosofia, sociologia, economia e outras. Os grandes eventos esportivos tornaram-se grandes espetáculos de mídia e o esporte tornou-se um produto a mais no mercado de entretenimento. O enfoque que pretendemos discutir envolve o aparente antagonismo entre o ideal olímpico e o esporte espetáculo, as idéias de Pierre de Fredy, o Barão de Coubertin tendo como contrapartida a realidade dos Jogos Olímpicos que vivenciamos na virada do século. A primeira imagem que nos vem à mente quando pensamos em esporte é a imagem dos grandes eventos, das grandes competições mundiais como os Jogos Olímpicos e os Campeonatos Mundiais das diferentes modalidades. A palavra esporte tem como referencial o esporte competitivo, de alto rendimento, profissional. Simultaneamente tal esporte foi apropriado pela mídia e pelo marketing esportivo, assumindo o papel de entretenimento do espectador. Tal associação não ocorre ao acaso. O homem passou a ser espectador e principalmente consumidor de esportes, consumidor das transmissões esportivas e potencial consumidor de toda uma gama de produtos associados ao evento. É interessante notar que a grande maioria deles sequer tem algum tipo de relação direta com a prática esportiva. A idéia de esporte como forma de lazer passou a um segundo plano, assim como a idéia de se trabalhar o esporte como meio de educação sequer é percebida por pessoas que não tenham vínculo com a educação. Tornou-se clara a grande dificuldade em se pensar e trabalhar o esporte com os ideais de Pierre de Fredy, o Barão de Coubertin. Olimpismo e a busca de um ideal Para que possamos iniciar qualquer discussão sobre Olimpismo devemos nos referir aos Princípios Fundamentais da Carta Olímpica, que apresenta uma definição oficial do que é o Olimpismo e seus objetivos. A idéia de que o esporte deva ser um meio de formação, de educação do corpo, da mente e do espírito pode ser encontrada no Princípio Fundamental n° 2: “uma filosofia de vida que exalta e combina em equilíbrio as qualidades de corpo, espírito e mente, combinando esporte com cultura e educação. O 109 Jogos Olímpicos do Século XXI: O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio Olimpismo visa criar um estilo de vida baseado no prazer encontrado no esforço, no valor educacional do bom exemplo e no respeito aos princípios éticos fundamentais universais”(p.8). A leitura de tais princípios nos faz refletir sobre o perfil encontrado no chamado esporte olímpico hoje. Como princípio podemos afirmar que ele está sendo, na prática posto em segundo plano, uma vez que os elementos educacionais e culturais do esporte olímpico não são enfatizados nas competições dos Jogos Olímpicos. O distanciamento entre o ideal e o real, entre a teoria e a prática torna-se mais visível ao nos reportarmos novamente aos Princípios Fundamentais da Carta Olímpica e buscarmos pelos objetivos do Olimpismo (Princípio Fundamental n° 3): “...colocar em toda parte o esporte a serviço do desenvolvimento harmonioso do homem, na perspectiva de encorajar o estabelecimento de uma sociedade pacífica preocupada com a preservação da dignidade humana”(p.8). Muitos estudiosos apresentam trabalhos e análises com diferentes interpretações sobre os objetos de estudo Olimpismo e Jogos Olímpicos, como Jim Parry, Jose Maria Cagigal, Hans Lenk, Jeffrey Segrave, Ommo Grupe, Da Costa. O Prof. Ms Otávio Tavares nos apresenta em Referenciais Teóricos Para o Conceito de Olimpismo um estudo que apresenta uma síntese de valores, aspirações e objetivos do Olimpismo observados nos textos produzidos pelos citados autores a respeito do tema e dos Jogos Olímpicos. Tavares observa: “Assim, a partir do exame da literatura consultada, elaboramos um constructo de Olimpismo que se compõe pelo delineamento de três idéias gerais: Internacionalismo, entendimento e respeito mútuo Desenvolvimento harmonioso, físico e intelectual - Fair Play”. A primeira idéia, segundo Tavares, é objeto de muita discussão e de interpretações contraditórias quando discute a idéia de melhoria das relações internacionais através dos Jogos Olímpicos. Seriam os Jogos Olímpicos capazes de contribuir para tais causas? Não seria uma ingenuidade acreditar em tal poder? Se observarmos a óptica de Coubertin e soubermos compreender quais eram os seus conceitos e idéias a respeito do Olimpismo e dos Jogos, poderemos avaliar melhor a capacidade dos Jogos em exercer uma função pedagógica. Como afirma Tavares: “Na crença em sua ‘pedagogia esportiva’, os Jogos deveriam realizar ‘o valor educacional do bom exemplo’, institucionalizando o livre encontro de atletas do mundo num plano de igualdade e respeito mútuo e, assim, neste 110 Jogos Olímpicos do Século XXI: O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio contexto, ser ‘ um potente, ainda que indireto, fator de paz universal’ (Coubertin, in: Segrave, Ibid., p. 154)”. Temos a contraposição da “pedagogia esportiva” de Coubertin orientando os ideais do Olimpismo e o contexto geopolítico, com toda a sua influência sobre os Jogos. A segunda idéia, a respeito de um desenvolvimento harmonioso, físico e intelectual, um vez mais nos defronta com uma visão educativa do esporte, assim como uma concepção um tanto romântica dos Jogos Olímpicos. O desenvolvimento equilibrado das potencialidades físicas, intelectuais e culturais fundamenta a noção de Coubertin sobre Olimpismo, e seria capaz de evitar que os Jogos fossem desvirtuados pela participação de atletas transformados em “gladiadores de circo” (Grupe, Op.Cit., p 136). Alguma semelhança com os atletas olímpicos contemporâneos? O idealizado Olimpismo do Barão de Coubertin defrontado, uma vez mais com o a realidade dos Jogos do final do século. A terceira idéia, a do fair-play, é provavelmente uma das mais discutidas e estudadas sempre que discutimos o papel e a importância do esporte na sociedade, assim como as grandes competições esportivas. Segundo Tavares, podemos desenvolver dois conceitos de fair-play, sendo um deles de caráter formal e outro informal. O fair-play formal estaria ligado ao cumprimento de regras e regulamentos das competições. Já o fair-play informal estaria baseado em valores morais e éticos dos atletas. Um elemento de grande subjetividade. Embora os regulamentos e as normas das competições esportivas procurem proporcionar um ambiente de competição justo e equânime para os competidores, as maiores dificuldades encontradas pelos organizadores, árbitros e mesmo atletas, demonstram a falta do chamado fair-play informal de uma parcela dos competidores. O fair-play informal poderia ser entendido como está expresso no Código de ética Esportiva do Conselho da Europa (1996): “Cobre as noções de amizade, de respeito pelo outro e de espírito esportivo, representa um modo de pensar, e não simplesmente um comportamento. O conceito abrange a problemática da luta contra a batota, a arte de usar a astúcia dentro do respeito às regras, o doping, a violência (tanto física quanto verbal), a desigualdade de oportunidades, a comercialização e a corrupção” (p.20). Ainda segundo Tavares: “... na esfera olímpica, considerando a dupla dimensão do fair-play, o esporte deve ser praticado dentro do respeito às regras, aos árbitros e aos adversários, recusando vantagens injustificáveis e meios ilegítimos. Portanto, demonstrar que a vitória só deve ser alcançada através da 111 Jogos Olímpicos do Século XXI: O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio honestidade e da justiça, aceitar a derrota, respeitar adversários e árbitros torna-se uma obrigação moral do atleta olímpico. Assim, as relações humanas e o respeito à dignidade humana devem estar acima da busca da vitória a qualquer preço, dando um sentido ético à participação no esporte olímpico”. Uma vez mais temos um conceito sujeito a críticas no tocante à sua aplicabilidade no atual contexto dos Jogos Olímpicos. Certamente é desejável que os atletas olímpicos adotem tais comportamentos durante as competições, mas é cada vez mais comum encontrarmos competidores que se utilizariam de recursos proibidos e condenáveis para obterem a medalha de ouro. O idealismo frente à realidade dos valores, ou da falta deles na sociedade contemporânea, assim como no esporte profissional. Os Jogos Olímpicos e a comercialização do Esporte I - Os Primeiros Passos Quando defrontamos os Princípios Fundamentais da Carta Olímpica, que apresentam uma definição oficial do que é o Olimpismo e seus objetivos, com a realidade das ultimas edições dos Jogos Olímpicos ficamos com impressão de que a combinação de esporte, cultura e educação não se completa. Os eventos esportivos dos Jogos Olímpicos Modernos são muito mais difundidos e reconhecidos pela sociedade do que eventos culturais ou projetos de cunho educacional (como as Academias Olímpicas Nacionais e a Academia Olímpica Internacional) apoiados pelo COI. Devemos acompanhar a evolução histórica dos Jogos Olímpicos para que possamos ter uma melhor compreensão dos elementos que influenciaram a transformação dos Jogos Olímpicos. Desde o início dos Jogos Olímpicos da era moderna as competições tiveram que conviver com outros interesses não relacionados ao esporte, mas sim aos aspectos geopolíticos e econômicos em diferentes momentos históricos. O próprio Barão de Coubertin teve de enfrentar os problemas de se por em prática aquilo que fora idealizado. O idealismo do Barão enfrentou as dificuldades práticas, problemas com os custos dos jogos (aspecto econômico) e no trato com as autoridades (aspecto político) dos países que se candidataram para realizar os Jogos Olímpicos. Segundo Lancellotti em Olimpíada 100 anos – A História Completa dos Jogos, o Barão de Coubertin conseguiu realizar os Jogos de Atenas em 1896 graças à inestimável contribuição de um mecenas, um arquiteto bilionário chamado Georgios Averoff. Segundo Lancellotti: “... O arquiteto já havia financiado a construção de três escolas em Atenas, Por que não salvaria também os Jogos? Averoff aceitou o encargo. No recorde de dezoito meses, projetou e pessoalmente dirigiu a construção de 112 Jogos Olímpicos do Século XXI: O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio um novo estádio, o Panathinaikos, em Atenas, importou da Dinamarca o velódromo do ciclismo e, ainda cedeu o equivalente a US$ 100 mil, uma fortuna descomunal, naquela época, para a realização de outras obras” (p.4). Mesmo com o apoio da monarquia grega, do rei George I e de seu filho Constantino, o Barão teve de enfrentar a oposição do ministério civil grego, na figura do premier Charilos Tricoupis. O dinheiro para a realização dos Jogos deveria sair de algum lugar e os cofres públicos não poderiam arcar com tamanha despesa. Uma manobra política bem arquitetada acabou dando ao filho do rei George I, Constantino, um esportista praticante, o poder para demitir o premier Tricoupis e aprovar a realização dos jogos. A resistência dos políticos de oposição foi vencida pela generosidade do mecenas Averoff, que com suas “contribuições” aos renitentes oposicionistas conseguiu liberar o caminho para a organização dos jogos em Atenas. É interessante lembrar que o mecenas Averoff também foi generoso para consigo mesmo, ao custear uma estátua de mármore em sua honra, em tamanho natural, como um reconhecimento à contribuição de quem estava pagando a conta da festa. Podemos observar que, desde seu início, os Jogos Olímpicos sofreram influências políticas e econômicas, reforçando a necessidade dos organizadores em desenvolver as melhores relações possíveis com os detentores do poder, tanto político quanto o econômico. Com o a evolução dos Jogos Olímpicos ficou patente a necessidade do apoio dos governos dos países candidatos a receber os Jogos, assim como a importância da obtenção de recursos para a realização do evento. Os governos não podem dispor do volume de recursos necessários para arcar com todo o custo dos Jogos. Mesmo em países ricos como os Estados Unidos, a dependência do dinheiro de grandes corporações é clara. Grande parte do dinheiro que viabiliza o evento vem de grandes corporações que investem no marketing esportivo. II - Marketing Esportivo – Do Genial Sapateiro Alemão ao TOP. Uma mudança importante no perfil dos Jogos Olímpicos ocorreu a partir do final da segunda grande guerra mundial. Surge a figura de um empreendedor no esporte internacional, um homem que daria os primeiros passos para construir o que hoje conhecemos por esporte espetáculo e o marketing esportivo. Não se tratava de um nobre francês, de um mecenas grego, nem de um industrial norte americano. Estamos falando de um “sapateiro”. Sim, um sapateiro alemão. Horst Dassler, filho de Adolf “Adi” Dassler, o fundador da Adidas Alemã. Ele reforçou a ideia criada pelo pai, Adolf, de que “os vencedores usam Adidas”, e travou uma grande batalha com a Puma (pertencente ao tio 113 Jogos Olímpicos do Século XXI: O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio Rudolph Dassler) no jovem e promissor mercado de artigos esportivos. O senhor Dassler foi um dos pioneiros. O jovem alemão não era apenas um “sapateiro”, mas um homem de visão. Horst não só aumentou o “império” da Adidas, como também criou uma empresa de marketing esportivo, a ISL, para trabalhar com eventos esportivos. Na época poucas foram as pessoas que perceberam as grandes oportunidades de se ganhar dinheiro com o esporte. Dassler se associou ao neozelandês Patrick Nally, um especialista em relações públicas e marketing, a pessoa que faria a união entre comércio e esporte, ficando a parte política com o próprio Horst. Para consolidar sua posição (da Adidas) no mundo dos esportes, nada melhor do que estar junto aos dirigentes responsáveis pelas modalidades e pelos eventos esportivos mais importantes do mundo. O alemão tratou de estreitar seu relacionamento com os presidentes do COI, Sr. Juan Antonio Samaranch, da FIFA, na época o Sr. João Havelange, e da IAAF (Federação Internacional de Atletismo Amador), na época o Sr. Primo Nebiolo. Segundo Simson e Jennings, em Os Senhores dos Anéis, o alemão ajudou a criar a base da estrutura sobre a qual estamos trabalhando com o esporte e os eventos esportivos internacionais. As grandes competições passaram a atrair o interesse de grandes corporações, não somente de produtos e artigos esportivos, mas também de empresas interessadas em associar a sua imagem e a de seus produtos aos Jogos Olímpicos e aos seus ideais. Era o começo de um trabalho de marketing que evoluiria, resultando em programas como o TOP – “The Olympic Partnership Program” do COI. O marketing esportivo assumiria papel de grande importância para o desenvolvimento do esporte mundial, assim como das competições esportivas, com conseqüências positivas, mas também gerando sérios problemas e conflitos com os ideais do Olimpismo. Os investimentos em marketing esportivo devem proporcionar retorno aos patrocinadores. É pouco provável que encontremos um mecenas como o Sr. Averoff nos dias de hoje. O melhor retorno possível está na associação do patrocinador à imagem do vencedor, do campeão. A valorização da competição e da participação dos atletas confronta-se com a necessidade da vitória. Ideais olímpicos versus ideais comerciais. Um problema que vem sendo abordado nas ultimas edições dos Jogos Olímpicos. Conclusão Em Os Senhores dos Anéis, Simson e Jennings discutem em 1992 problemas dos Jogos Olímpicos Modernos que estão novamente em pauta na virada do século. Os ideais olímpicos, do Olimpismo estariam sendo preservados e difundidos nos Jogos Olímpicos? O poder, o dinheiro e as 114 Jogos Olímpicos do Século XXI: O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio drogas não estariam destruindo os ideais do Olimpismo, os ideais do Barão de Coubertin? Como reflexo do contexto no qual está inserido, o esporte deste final de século é um fenômeno global, sendo um instrumento, um meio de transmissão de valores e de normas. É precisamente tal capacidade que nos preocupa e requer maior atenção. Que tipo de valores, que tipo de idéias, que tipo de normas devem ser valorizadas e difundidas pelo esporte, através de seus eventos globais (Jogos Olímpicos e Campeonatos Mundiais)? A imagem mais difundida e valorizada em tais eventos é a do vencedor, a do campeão olímpico, com poucas referências ao competidor (Carta Olímpica). Está claro que vivemos numa sociedade altamente competitiva, na qual só é extremamente valorizada a vitória. Podemos seguir uma proposta baseada nos valores do Olimpismo, trabalhar para que o esporte seja instrumento de valorização da ética, da moral, da paz e da tolerância entre os povos. O grande desafio dos dirigentes esportivos é encontrar um ponto de equilíbrio entre os valores difundidos pelo Olimpismo e as características encontradas no esporte de alto rendimento na virada do século, cujo objetivo final é performance, é vencer e apresentar um grande espetáculo. Certamente a busca da melhor performance é um objetivo de todos os atletas, e consideramos legítima tal aspiração, a busca pela superação de seus próprios limites. A grande questão é saber distinguir entre a busca de superação dos limites individuais utilizando-se de meios legítimos, tendo como referencial a melhoria de seus próprios resultados, e a busca da superação de todos os limites, utilizando-se de quaisquer meios, inclusive os ilegítimos, sem nenhuma noção de “fair play”, para alcançar a vitória a qualquer preço. Seria ingenuidade de nossa parte imaginar a realização dos Jogos Olímpicos nos moldes atuais sem a contribuição dos patrocinadores, uma vez que mesmo em países ricos, os governos não podem custear com dinheiro público tal tipo de evento. Segundo afirmação do Sr. Pound (membro do COI e chefe da comissão de marketing), no site do COI na Internet: "Take away sponsorship and commercialism from sport today and what is left? A large, sophisticated, finely-tuned engine developed over a period of 100 years-with no fuel."Richard W. Pound, Q.C. Vice President, IOC Executive Board and Chairman of Marketing Commission. Não podemos negar a importância dos patrocinadores e da comercialização do esporte. O esporte hoje, sem patrocinadores, é como um sofisticado motor sem combustível. Devemos, isso sim, buscar tal participação sem perdermos de vista os ideais do Olimpismo. 115 Jogos Olímpicos do Século XXI: O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio Sabemos que o esporte e o espetáculo esportivo são produtos. Ao tratar o esporte e os eventos esportivos como produtos, os dirigentes passaram a ter a preocupação com a comercialização dos mesmos. Um produto bem vendido pode gerar ganhos que podem financiar, não somente o evento esportivo, como o desenvolvimento do esporte como fator de educação dos povos e difusão dos ideais do Olimpismo. Uma interessante iniciativa que contribui para a difusão dos ideais do Olimpismo é a da Solidariedade Olímpica, que se utiliza recursos obtidos junto aos meios de comunicação que transmitem os Jogos Olímpicos para desenvolver diversos programas de auxílio aos CONs, particularmente para aqueles que não podem dispor de maiores recursos financeiros. Os recursos da Solidariedade Olímpica, que no período de 1997 / 2000 somaram a quantia de US$ 121.900.000,00, são alocados em diversos programas, incluindo aqueles relacionados aos CONs, dos quais oito programas atendem a todos os CONs e quatro deles especialmente aos Comitês Olímpicos Nacionais mais pobres. A utilização de recursos advindos da comercialização dos direitos de transmissão dos Jogos Olímpicos e dos patrocinadores do evento pode ser um boa iniciativa na busca da valorização e divulgação dos ideais do Olimpismo. Tais recursos podem financiar a democratização do acesso à informação, melhorar a qualificação dos profissionais da área esportiva e facilitar o intercâmbio de informações e experiências entre representantes de diversos países. A busca do equilíbrio entre os interesses comerciais dos patrocinadores com os ideais do Olimpismo. Referências Bibliográficas COMITÊ OLÍMPICO INTERNACIONAL. Olympic Charter. Lausanne: COI, 1997. CONSELHO DA EUROPA. Código de ética esportiva. Oeiras: Câmara Municipal de Oeiras, 1996. DACOSTA, L.P.Olympism and the Equilibrium of Man. Texto Apresentado no Congrés Du Havre 1897-1997. Le Havre: Comité International Pierre de Coubertin, 1997. GRUPE, O. The sport culture and the sportization of culture: identity, legitimacy, sense and nonsense of modern sports as a cultural phenomenon. In: LANDRY, F et Alii (Eds.) Sport... the third Millennium. Quebec: Les Presses de L’Université Laval,1992. p.135-45. 116 Jogos Olímpicos do Século XXI: O Esporte Espetáculo e o Olimpismo – a busca do equilíbrio LANCELLOTTI, S. Olimpíada 100 anos – História Completa dos Jogos. Círculo do Livro, São Paulo, 1996. TAVARES, O. Referenciais teóricos para o conceito de ‘Olimpismo’ . In: ESTUDOS OLÍMPICOS: Programa de Pós-Graduação em Educação Física. Rio de Janeiro : Editora Gama Filho, 1999. p.13-47. SEGRAVE,J. O. Toward a definition of Olympism. In: SEGRAVE, J.O. & CHU,D.B. (Eds.) The Olympic Games in transition. Champaign: Human Kinetics, 1988. p.149-61. SIMSON,V., JENNINGS, A. Os senhores dos anéis. Círculo do Livro, São Paulo, 1992. 117 Implicações éticas das relações dos Atletas com o treinamento esportivo Ana Flávia Paes Leme de Almeida - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RS Lamartine Pereira DaCosta - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RS Resumo O aumento da participação no esporte tem intensificado sua importância social, sociopolítica e mais recentemente econômica. O esporte hoje, principalmente o de alto nível, atinge uma grande massa populacional, seja diretamente (atletas, treinadores etc.), ou indiretamente (espectadores, patrocinadores etc.). Conseqüentemente os ganhos com ele são cada vez mais frutíferos, com fama, fortuna ou poder. Isto nos faz refletir, sob o ponto de vista ético, as relações vividas pelo atleta. Através de revisão de literatura técnica e leiga, o presente estudo tem o objetivo de verificar o estado atual destas relações, assim como, a forma como o Movimento Olímpico e as entidades relacionadas a ele têm influenciado nas mesmas. Palavras-chave: Ética – Atleta – Movimento Olímpico Abstract The increase in sport’s participation has developed its social, political and, more recently, economical importance. Nowadays, elite’ sports reach either directly (athletes, coach, etc.) or indirectly (expectators, sponsors, etc.) a big mass of the population. In consequence, there has been much more fruitful gains to the one’s involved, like fame, power and fortune. From an ethical point of view, one can reflect about the relations experience by the athletes of our time. Through an analyses of wide range of literature, this study aims to verify the present state of these relationships and how the Olympic Movement and entities related have influenced on them. Key words: Ethics – Athlete – Olympic Movement Introdução Citius, altius, fortius. Essas palavras em latim, que significam cada vez mais longe, cada vez mais alto, cada vez mais forte, e que se transformaram no lema dos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, em 1896, nunca foram levadas tão a sério como neste final de milênio. Auxiliados pela moderna tecnologia, pelo desenvolvimento da medicina, pela evolução dos métodos e materiais de treinamento e financiados por grandes patrocinadores, atletas dos mais variados esportes estão progressivamente mais próximos de seus limites. Mas parece que, apesar de todo o empenho do Movimento Olímpico para modificar tal quadro, o atleta de alto nível tem sofrido constantemente danos, às vezes irreparáveis, provenientes de patrocinadores mal intencionados, abusivo poder dos meios de comunicação, treinadores equivocados, mau uso 118 Implicações éticas das relações dos Atletas com o treinamento esportivo da tecnologia e etc. Este é um diagnóstico preocupante sobre cujas conseqüências ainda não se refletiu suficientemente. O presente trabalho de revisão tem a intenção de verificar o estado atual da ética nas relações vividas pelo atleta. Enquanto tal, a delimitação escolhida para este estudo é referida a um painel de informações técnicas e do conhecimento comum da mídia, para que possa dar partida a pesquisas mais formalizadas. Desenvolvimento O esporte tem evoluído muito, seja pela tecnologia nele aplicada, seja pela diversidade de atividades esportivas hoje existentes, seja pela quantidade de pessoas que ele atinge. Segundo Bracht 1999, com o crescimento do valor dado ao esporte tanto na esfera sociopolítica quanto na econômica, procurouse através da ciência, garantir o sucesso esportivo. “O aumento da importância social do esporte, principalmente da importância sociopolítica (e mais recentemente econômica), requisitou os serviços da ciência, para eliminar o acaso, o imprevisto, e, assim garantir o sucesso. Basta ver o incremento das investigações em torno do esporte e a partir da sua inserção nos movimentos da Guerra Fria e, mais recentemente, com a transformação do esporte num segmento importantíssimo da economia mundial” (p.87). Do ponto de vista econômico, há um aumento progressivo e, que merece consideração, da atividade esportiva, como identifica Lovisolo (2000): “(...) o crescimento da participação das rendas dos esportes no PIB é constante e significativo nos últimos anos. A formação dos clubes-empresas reflete esta importância” (p.29). Os próprios meios de comunicação, em particular a televisão, têm dedicado mais tempo à programação esportiva. A revista Veja publicou uma reportagem que deixa bem claro este aspecto: “O esporte é, cada vez mais, um chamariz de telespectadores. Estima-se que 20% do faturamento dos canais venham deste segmento. Para se ter uma idéia, em 1997 a Globo colocou no ar 234 eventos esportivos. No ano passado, este número pulou para 329” (p.133). Diante destas constatações, podemos perceber que o esporte, principalmente o de alto nível, hoje, atinge uma grande massa populacional (direta ou indiretamente) e desta forma ele pode ser a mola para o ganho de fama, lucro e poder. Isto nos faz refletir, sob o ponto de vista ético, as relações vividas pelo atleta. O atleta se tornou o centro de critérios de adoção e interesse do empreendimento esportivo de alto nível. E no processo de treinamento e competições, que no qual há relações de interesse e trocas atleta/treinador, atleta/instituições, atleta/patrocinadores, o atleta se encontra como 119 Implicações éticas das relações dos Atletas com o treinamento esportivo destinatário final do sistema. O exame dos destinatários sob o ponto de vista da ética de aplicação de métodos e técnicas de treinamento é então, de fundamental importância, uma vez que o foco sobre o método instrumentaliza o atleta aviltando-o em sua integridade física social e mental. O Movimento Olímpico tem enfocado seu trabalho em modificações a serem feitas em prol da ética e das relações dos atletas de uma forma geral. O objetivo do Movimento Olímpico por suas últimas proposições formais é contribuir com o crescimento da paz e um mundo melhor através da educação dos jovens pela prática do esporte sem qualquer tipo de discriminação com entendimento mútuo do espírito de amizade, solidariedade e fairplay. Em geral o Movimento Olímpico prega relações de dignidade, de respeito e de conduta ética, embora na prática tais valores poucas vezes são lembrados ou transformados em intervenções pouco apropriadas. Respeito pelas pessoas que praticam os esportes olímpicos é permitir que os participantes cresçam como atleta e como pessoa, respeitando seus direitos de atletas e tratando-os de forma justa e ética durante todo processo de treinamento. Isto tem tido o significado de ampliar o poder dos atletas nas decisões que lhes possam atingir. O Movimento Olímpico vê os Jogos Olímpicos como a atividade de maior representação simbólica do Movimento, e com isso o esporte e os atletas são permanentemente o seu foco. Para o Movimento Olímpico os atletas têm muito a oferecer, porque eles vivem o Olimpismo na prática. Porém, Lovisolo observa que quando nos situamos do ponto de vista da intervenção, portanto, o treinamento: “emerge um discurso valorativo, que critica o atleta por sacrificar tudo à performance, ao desempenho, esquecendo ou sacrificando outros valores, morais e intelectuais, na procura de mais força, altura e velocidade...canta-se à potência e pretende-se elevar as possibilidades do corpo a seus limites. Sob o ponto de vista fisiológico, usam-se indicadores de avaliação específicos e diferentes dos presentes na fisiologia da normalidade... convoca-se, para a aventura de fazer possível o impossível lidando com incertezas e riscos e, mesmo, com a possibilidade de perder a saúde, quando não a vida, nessa procura. Incita-se competir, a lutar, a superar-nos e a superar os outros, a alcançar a glória, o reconhecimento público e consideráveis retornos financeiros”. Um exemplo prático deste relato do Lovisolo é o doping. Ele não apenas aumenta os riscos de saúde, mas também destrói a integridade de quem participa do esporte. O atleta que se dopa não compete em igualdade de condições com seus adversários e está usando de meios ilícitos para se obter vantagem na competição. O doping afeta todos os atletas, aqueles que são honestos e os que não são. Um “campeão” que trapaceia não é um campeão. O atleta que se dopa nunca terá a satisfação de testar seus reais limites numa 120 Implicações éticas das relações dos Atletas com o treinamento esportivo competição limpa com os outros. E ainda, o doping destrói a reputação e integridade de uma vasta maioria de atletas que não se dopam. Doping não é uma crise da medicina ou da ciência, mas uma crise de valores éticos esportivos. A solução não é apenas punir e controlar duramente, apesar destas atitudes serem necessárias, mas, sobretudo gerar mudanças nas atitudes; concordar enfim que vencer trapaceando não é ser realmente um vencedor. Na questão do doping, com relação as repercussões das pesquisas nas Ciências do Esporte, Bracht nos informa que na Alemanha já se pensa à respeito: “A Sociedade Alemã de Ciência Desportiva, no Congresso de 1992 (Oldenburg), tomou posição a respeito da pesquisa em torno de substâncias dopantes, dizendo que a comunidade científica precisa assumir a responsabilidade política que a ela cabe nesses casos” (p.90). Como não podia ser diferente, a instituição maior do esporte internacional o Comitê Olímpico Internacional (COI), vem discutindo algumas destas questões, que veremos a seguir. O avanço e o investimento em pesquisas aplicadas ao esporte é grande. Pesquisas no campo da Fisiologia do Esforço, na Psicologia esportiva, na Biomecânica do Movimento, na Nutrição é crescente. E a partir dos descobrimentos científicos feitos com elas, o atleta conta com um arsenal tecnológico para a busca contínua da eficiência com menor esforço. Neste contexto, podemos perceber que, as implicações éticas do trato social existente dentro do processo de treinamento tem tido maior ênfase à vista de uma ciência cada vez mais eficiente e atletas mais vulneráveis a seu domínio. Lovisolo afirma que: “Desenvolvem-se conhecimentos, teóricos e práticos, no campo da fisiologia do esporte, da biomecânica e no de uma psicologia aplicada que pretende, ao mesmo tempo, controlar os efeitos negativos do estresse e da agressão mantendo alta a chama da motivação. Como produto, além de se baterem recordes, consolidam-se conhecimentos teóricos e observações práticas no campo específico da teoria do treinamento, que guia a intervenção.”(p13) É neste contexto de reflexões que Lovisolo é levado a falar do esporte em relação a saúde: “(...) tornou-se cada vez mais difícil identificar a prática do esporte olímpico ou profissional e mesmo amador, com saúde ou qualidade de vida. A equação que vinculava esporte profissional ou competitivo e saúde parece haver quebrado”(p.15). Com o desenvolvimento constante da ciência aplicada ao esporte, hoje temos conhecimento disponível para levar os atletas a pontos cada vez mais elevados de performance. Além disso, geram-se crescentemente novas tecnologias para incrementar tal desempenho. A utilização da tecnologia para o 121 Implicações éticas das relações dos Atletas com o treinamento esportivo treinamento é legítima enquanto importante ferramenta para buscarem-se resultados mais satisfatórios. Mas há de se estabelecer limites para a utilização da tecnologia, porque o poder da ciência hoje é incomensurável podendo provocar prejuízos irreparáveis à vida e a saúde do atleta. Consolida-se assim, a idéia de limites necessários para orientar o treinamento como também estabelecer critérios na aplicação, o que leva a preceitos de natureza ética. Mas até onde vão estes limites? Como delimitar a aplicação de descobertas científicas ao esporte? No início de 1999, foi publicada uma reportagem no jornal O Globo que se intitulava Os desafios do esporte no século 21. Em síntese, esta reportagem trazia a discussão da tese de que o corpo humano não tem limites. “No início do século, não se imaginava que, em pouco menos de cem anos, os cientistas pudessem criar aquele que seria o atleta perfeito, com a ajuda da engenharia genética. Apesar da questão ética sobre a fabricação de seres humanos ainda ser discutida, dentro de algum tempo os engenheiros poderão colher os genes com as virtudes dos melhores atletas do mundo, implantar em uma pessoa e criar um ser capaz de transformar em pó recordes hoje tidos como imbatíveis” (p.45). Ainda na mesma reportagem algumas personalidades de nome como Joaquim Cruz, ouro nos 800 metros nas Olimpíadas de Los Angeles em prata em Seul, acredita que a força da mente (treinamento psicológico) poderá ser responsável pela quebra de marcas hoje consideradas insuperáveis. Já para o técnico Luiz Alberto de Oliveira responsável pela preparação de atletas de alto nível, acredita que nem mesmo as mais modernas técnicas podem fazer o homem superar os seus limites físicos e clínicos, que diz estar muito próximos. Ele constata isto quando aumenta a carga de treino e o atleta sofre fratura por estresse ou distende um músculo. Luiz comenta que, é aí que entram as drogas, acredita que no final do século 21, teremos atletas biônicos. Outro atleta de renome Ademar Ferreira da Silva, ganhador das medalhas de ouro nas Olimpíadas de 1952, em Helsinque, e de 1956, em Melbourne, acredita que o limite do homem está na ciência. Mas até que ponto a ciência pode ajudar o homem a superar os desafios do treinamento e a quebrar recordes sem prejudicar a saúde do atleta? Conclusão O que vemos hoje é uma quantidade importante de atletas com um potencial incomum, mas ao mesmo tempo sujeitos à danos como contusões e fraturas freqüentes, colocando inclusive a própria vida profissional em jogo. Um exemplo bastante atual é do jogador de futebol brasileiro Ronaldinho. Eleito o melhor jogador do mundo em 1997 e 1998, desde de 96 vem sofrendo lesões sucessivas em seus dois joelhos. No último dia 12 de abril, o atleta 122 Implicações éticas das relações dos Atletas com o treinamento esportivo sofreu ruptura total do tendão rotuliano e segundo os médicos, está em risco a sua volta aos campos de futebol. Mais do que isso foi uma declaração lida no mesmo jornal O Globo do dia 14 de abril de 2000, em que dizia que a cúpula do futebol anunciou planos de introduzir um calendário que permita aos jogadores um tempo para se recuperar das contusões. Permita-me aqui fazer um breve comentário: Não seria mais ético construir um calendário mais flexível para reduzir as contusões por estresse físico, ao invés, de construir um com a intenção de recuperar atletas contundidos? Em dezembro de 1999, em Lausanne foi elaborado pela Comissão 2000 um Anteprojeto do Comitê Olímpico Internacional (COI), na sua 110ª Sessão, visando a reforma daquela instituição maior do esporte. Neste documento constam algumas recomendações que foram consideradas apropriadas em termos de modificações na estrutura, regras e procedimentos do COI. Neste projeto, a parte referida aos atletas conta com importantes recomendações. Os atletas deverão ter uma organização adequada fornecendo as melhores possibilidades para eles executarem suas tarefas, o que em termos do COI corresponderá a organização de uma estrutura para o desenvolvimento do trabalho da Comissão dos Atletas. A comunicação entre a Comissão de Atletas do COI e outras comissões de atletas de diferentes níveis - Federação Internacional de Esporte, Comitês Olímpicos Internacionais – deverão ser pronunciadas e próximas. A Comissão de Atletas do COI e a Associação Olímpica Mundial deverão cooperar juntamente para o desenvolvimento do Movimento Olímpico visto que os dois representam os atletas nos diferentes estágios de vida. Os medalhistas olímpicos serão convidados a ter maior responsabilidade na promoção do Olimpismo. E adicionalmente, a Comissão 2000 do COI apóia a criação do Código do Movimento Olímpico Anti-Doping, que será responsável pela educação preventiva, particularmente em atletas novos e programas de reabilitação para atletas suspensos. Neste particular, a Comissão citada deverá assegurar para os atletas igualdade de chances nas competições e fairplay. Nesta visão, para estar qualificado para competir nos Jogos Olímpicos, todo atleta deverá ter um passaporte que contenha todas as informações precisas para tornar eficiente o controle de doping e monitorar a saúde dos atletas. Desta forma, os esportes que não apoiarem o Movimento Olímpico Anti-Doping serão excluídos nos Jogos Olímpicos. A comissão do COI adverte que o atleta deve ser tratado como pessoa e não como máquinas de performance. Eles devem possuir autonomia para escolher seus próprios interesses e tomar decisões, não devem ser prejudicados desnecessariamente (fisicamente ou mentalmente). Ela é da opinião que o processo de reforma do COI ainda não chegou ao fim com a implementação destas recomendações. Este processo é continuo visto que o COI é afetado por numerosas e rápidas mudanças e tendências no 123 Implicações éticas das relações dos Atletas com o treinamento esportivo mundo, como a globalização, a mudança de valores e a revolução nas comunicações. Evidentemente, tal reforma partiu de problemas institucionais (comercialização excessiva, corrupção de dirigentes etc.), mas do ponto de vista de destaque no perfil do atleta em suas relações sociais, há que se conjugar com o problema científico do treinamento. Estamos ainda, num início de processo de renovação do esporte olímpico e dos esportes em geral. E, neste caso, o papel da ciência é de acompanhar e avaliar. Neste propósito, insere-se a presente comunicação que pretendeu – nos limites de suas possibilidades de acesso – estabelecer alguns pressupostos de base. Nestes termos, sugiro que novos estudos sobre as relações éticas no contexto esportivo sejam feitos a fim de delimitar o papel das entidades e pessoas relacionadas ao esporte e rever os direitos dos atletas como profissional e ente humano. É igualmente importante que sejam feitos estudos que identifiquem nos atletas seus valores, concepções e atitudes a respeito do Olimpismo em seus múltiplos aspectos. Tavares (1998) apresentou um estudo bastante interessante no qual identificava as atitudes dos atletas brasileiros que participaram dos Jogos Olímpicos de Atlanta, em relação aos valores proclamados do Olimpismo. Referências Bibliográficas BRACHT, V. Educação Física e Ciência: cenas de um casamento (in)feliz, Rio Grande do Sul, Ed. Unijuí, 1999. COMITÊ OLÍMPICO INTERNACIONAL. Report by the IOC 2000 Comission to the 110ª IOC Session. Lausanne, 1999. (s.d.). Proposals for Reform of the IOC. LOVISOLO, H. Atividade Física, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, Ed. Sprint, 2000. O GLOBO. Os desafios do esporte no século 21. Caderno dos Esportes, 28 de Março, 1999. p.45. O GLOBO. Os tendões da discórdia do ídolo Ronaldinho. Caderno dos Esportes, 14 de Abril, 2000. p.36. TAVARES, Otávio. Mens Fervida in Corpore Lacertoso? As Atitudes dos Atletas Olímpicos Brasileiros Frente ao Olimpismo. (Dissertação de Mestrado). Rio de Janeiro: PPGEF/UGF, 1998. VEJA. Um gol contra, ano33- n° 3, janeiro, p. 133. Ed. Abril, 2000. 124 O Esporte no 3o Milênio Luciana Marins Nogueira Peil - Universidade Federal de Pelotas/RS Resumo A passagem do Milênio e a chegada de um novo século são fatores que aguçam, por assim dizer, a imaginação e a ansiedade da maioria das pessoas. A perspectiva de mudanças nem sempre suaves, mas talvez necessárias, parece a muitos amedrontar. À esta passagem, tão inquietante, ao 3o Milênio relaciono o Esporte, foco de reflexão deste texto.Como será ou o que será o Esporte no 3o Milênio? O Esporte é uma atividade que contempla ao mesmo tempo a dimensão lúdica (o jogo), o sentido de superação (a competição, o agonismo), o movimento humano e uma estrutura regulamentaria formal. Sendo este uma criação cultural, ele encerra fatores presentes em cada um de nós. Justamente por ter esta condição tão humana, o Esporte é sujeito às mais variadas interpretações e utilizações. A passagem ao 3o Milênio enseja uma reflexão e uma reavaliação de valores. Existe neste instante o ressurgimento do sentimento de grupo, de tribo. Na prática do Esporte se pode identificar este sentimento. Por isto o Esporte atrai à sua prática pura e simples. Ele contempla nossa condição humana. O homem faz a cultura, a cultura faz o Esporte. Façamos do Esporte no 3o Milênio, o que acharmos que ele deve ser. Palavras-chave: Esporte, valores, cultura, pós-modernidade. Abstract The passage of the Millennium and the arrival of a new century are factors that sharpen, so to speak, the imagination and the anxiety of most of the people. The perspective of changes not always soft, but perhaps necessary, it seems many to scare. To the this passage, so disturbing, to the 3o Millennium do I relate the Sport, will focus of reflection of this text. How be or the one what will the Sport be in the 3o Millennium? The Sport is an activity that contemplates the dimension playful at the same time (the game), the surpass sense (the competition, the agonismo), the human movement and a formal regulatory structure. Being this a cultural creation, he contains present factors in each one of us. Exactly for having this such human condition, the Sport it is subject to the most varied interpretations and uses. The passage to the 3o Millennium opportunity the reflection and a revaluattion of values. It exists in this instant the resurgence of the group feeling, of tribe. In the practice of the Sport it can identify this feeling. For this reason the Sport attracts to its pure and simple practice. He contemplates our human condition. The man makes the culture, the culture he makes the Sport. Let us do in the 3o Millennium of the Sport, what think he should be. Key words: Sport, values, culture, pos-modernity. 125 O Esporte no 3o Milênio A passagem do Milênio e a chegada de um novo século são fatores que aguçam, por assim dizer, a imaginação e a ansiedade da maioria das pessoas. A perspectiva de mudanças nem sempre suaves, mas talvez necessárias, parece a muitos amedrontar. À esta passagem, tão inquietante, ao 3o Milênio, relaciono o Esporte, foco de reflexão deste trabalho. Como será ou o que será o Esporte no século XXI? Primeiramente, julgo necessário colocar o que entendo como Esporte, para que o leitor fique claramente situado. Não falo de uma atividade física qualquer, mas sim, de uma atividade que contempla ao mesmo tempo a dimensão lúdica (o jogo), o sentido de superação (a competição, o agonísmo), o movimento humano e uma estrutura regulamentaria formal. Entendo que as três primeiras características são dimensões fundamentais tanto do Esporte como da vida, sendo a última característica fundamental ao Esporte, não obrigatória em outras instâncias da vida, mas obrigatória para que se considere uma atividade física como Esporte. Talvez possamos à partir daí, começar a entender porque o Esporte é tão atrativo e fascinante para a maioria das pessoas. Ele encerra fatores presentes em cada um de nós, enquanto seres humanos e criadores de cultura. CAGIGAL (1985) coloca que o Esporte nasceu da canalização e conseqüente ritualização em forma de jogo, da raiz competitiva que o homem herdou da luta pela sobrevivência nos tempos imemoriais. HUIZINGA (1996) menciona que o Esporte deriva da competição originária nas atividades do homem desde o início dos tempos e que o sentido agonístico que as animava, assegurava-as como jogo. Existe, portanto, na prática do Esporte uma catarse, uma representação da própria vida. O Esporte contempla toda nossa dimensão humana. SEIRUL-LO (1992), nos fala dos valores básicos do Esporte enquanto produto do próprio homem: o valor agonístico, o valor lúdico e o valor erótico. O valor agonístico (termo de origem grega), trata da intencionalidade competitiva, trata da luta contra algo ou alguém, que inclusive pode ser eu mesma. Trata do sentido da luta pela superação, pela melhora, pela evolução. A competição que pode ter o sentido do esforçar-se junto a alguém, o sentido de questionar juntos. O valor lúdico (termo de origem latina), trata do jogo, trata da brincadeira que não descarta as regras, mas que tampouco descarta o prazer de jogar. Trata do que se faz porque se quer fazer, porque se gosta. Trata do divertimento. O valor erótico, que não deve ser interpretado na acepção sexual propriamente dita, trata do prazer de sentir o próprio corpo na atividade esportiva, de vivenciá-lo. Trata do prazer do movimento como meu. Não pretendo substituir o prazer sexual pelo prazer do Esporte, mas sim salientar o prazer de se movimentar praticando Esporte. Não seria este um prazer também? O valor erótico propõe que o Esporte pode ser fonte de hedonismo, de prazer, valorizando a questão estética. 126 O Esporte no 3o Milênio O Esporte nasceu da vida, nasceu do homem, nasceu da sociedade e como nos lembra CAGIGAL (1981), existe nele um ancestralismo primitivo, uma busca de êxtase que está em toda a festa. Ele diz que o Esporte é no fundo, uma festa social. É uma atitude fundamentalmente festiva, entendendo-se esta, como uma busca de sentir-se pleno, eufórico e vitalmente realizado. A esportividade é esta atitude que nos fala em esforço, em busca da superação, em seriedade com leveza e bom humor. É uma maneira de estar na vida, de estar no mundo. A atitude esportiva revela a nossa condição humana e pretende nos diferenciar bastante do animal. Mas... Um momento... Este Esporte do qual estou falando é o Esporte que se vê hoje em dia? Realmente não é. A crítica mais severa que se faz ao Esporte é de que ele assumiu os valores capitalistas. Assumiu os valores do lucro, do gerenciamento empresarial e do alto rendimento. Fala-se também da vitória a qualquer preço e de que o segundo lugar nada vale. Na busca da vitória, a ética se torna de caráter duvidoso, valendo a máxima de que os fins justificam os meios. O doping é um bom exemplo desta distorção ética. Com objetivo do lucro e do alto rendimento, o homem se tornou um produto, uma mercadoria rentável e o Esporte, um meio de dominação. Vários são os autores que denunciam estes aspectos: Jean-Marie BROHM, Ommo GRUPE, Pierre BOURDIEU, Elenor KUNZ, Silvino SANTIN, etc. O Agon, o Ludus e o Erótico conservam a própria identidade do Esporte. O lúdico é o contra-ponto do sentido agonístico, mas a sociedade de hoje, guiada por poderes econômicos, faz com que o Agon se sobreponha ao Ludus. Portanto, a competição a qualquer preço, o uso de meios ilícitos, a seriedade que não deixa espaço para a brincadeira e o prazer, a distorção ética, o uso do ser humano como mercadoria, não são valores originais do Esporte, mas sim, utilizações e interpretações do fenômeno por pessoas que visam interesses que estão além do Esporte. “O desporto é, assim, penetrado por fatores que, num primeiro momento, são estranhos à sua essência original, mas que tendem e porfiam não apenas numa pervesão desta, mas, sobretudo em criar e difundir entendimentos e realidades divergentes e até opostas. Ou seja, o conflito instala-se ao nível dos sujeitos, dos interesses, dos motivos e dos objetivos” (BENTO, 1989:32). “Ocorre que o desporto, como qualquer acontecimento cultural, é sujeito a direcionamento de acordo com intenções externas à manifestação, ganhando sempre novos significados. Em outras palavras, o desporto é um jogo de significado intrínseco, mas que se torna extrínseco de forma variada no tempo e no espaço” (DACOSTA, 1996:46). É necessário resgatar o Esporte na sua origem, bem como desmistificá-lo como prejudicial aos interesses humanistas e denunciar sua má utilização por interesses diversos. Para muitos, esta é uma postura ingênua e romântica. 127 O Esporte no 3o Milênio Neste mundo calcado no racionalismo, julgo estar faltando a paixão. Julgo estar faltando realmente acreditar em valores mais nobres. O cinismo impera. Quem defende o Olimpismo, é tido como visionário. O fair-play é incentivado pelos órgãos administrativos do Esporte, mas no interior dos vestiários e dos gabinetes, conselhos são dados no sentido de burlar as regras de todas as maneiras, mantendo-se é claro, as aparências. Acredito que a questão passe realmente por uma reavaliação de valores. Reavaliação esta, presente na revisão dos moldes da modernidade, que acontece neste final de século. A questão passa pelo: “como devo agir?”, tão bem explorado por Bárbara FREITAG (1992) em seu livro ITINERÁRIOS DE ANTÍGONA, o qual aborda brilhantemente a moralidade e a ética. A questão, portanto, está colocada indistintamente nas mãos de todos. A passagem do Milênio enseja realmente uma reflexão e uma reavaliação de valores. Esta atitude crítica, esta percepção diferente do que sempre se disse, é o que se pode chamar de pós-modernidade. O pensamento pósmoderno nos fala através de autores como MAFFESOLI, MORIN e BAUDRILLARD, no ressurgimento do sentimento de grupo. A sociedade estaria recuperando estes valores. Existe um sentimento de se estar separadamente juntos. Sentimento este que se pode constatar na rede da INTERNET, na imagem que o satélite nos manda do outro lado do planeta simultaneamente ao acontecimento, na facilidade das viagens aéreas, etc...Existe uma rede invisível de ligações por afinidades de gostos, sentimentos e necessidades. O indivíduo existe, mas não isolado. Ele está ligado ao outro pela cultura, pela comunicação, pela moda e etc, a uma comunidade, ou como diz MAFFESOLI (1987), a uma tribo. Para compreender os novos modos de vida que renascem sob nossos olhos, é necessário usar a alavanca metodológica que se chama perspectiva orgânica do grupo. Nesta perspectiva, existe uma constante comunicação e quando um membro é atingido, isto afeta todo o grupo. A pulsão comunitária, a propensão mística e a perspectiva ecológica, que hoje se percebe, são reveladoras do clima “holista” que sustenta o ressurgimento do solidarismo e da organicidade de todas as coisas. Este sentimento de se estar separadamente juntos, o sentimento da tribo, é encontrado na prática do Esporte. Existe toda uma cumplicidade, afinidade e compartilhar de sentimentos presentes no Esporte. Existe a identificação, existe a organicidade, existe a comunidade, existe o grupo. Existe a necessidade de se estar junto, de vivenciar com o outro para poder viver, para poder sentir. Por isto o Esporte atrai à sua prática pura e simples. Existe uma busca da humanidade neste sentido e a passagem ao próximo Milênio a isto leva. Este compartilhar é inevitável, tanto dos maus acontecimentos quantos dos bons. O Esporte pode ser melhor, nós podemos ser melhores. Deixe-me ansiar por algo que está sempre a minha frente e não consigo alcançar! Deixe-me 128 O Esporte no 3o Milênio sonhar com a utopia...O Esporte no 3o Milênio será o que nós quisermos que ele seja. O homem faz a cultura, a cultura faz o Esporte. Não nos esquivemos, portanto, da responsabilidade, negando o Esporte. Façamos dele no 3o Milênio, o que acharmos que ele deve ser. Referências Bibliográficas BAUDRILLARD, J. A transparência do mal: ensaio sobre os fenômenos extremos. Campinas: Papirus, 1992. BAUDRILLARD, J. À sombra das maiorias silenciosas. São Paulo: Brasiliense, 1993. BENTO, J. & MARQUES, A. (org.). Desporto, ética, sociedade. Porto: F.C.D.E.F. - U.P., 1989. BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Editora Marco Zero, 1983. BROHM, J. M. Sociologia política del deporte. Partisans-Deporte, cultura e represion. Barcelona: Gustavo Gili, 1978, p. 63-87CAGIGAL, J.M. Oh! Deporte (Anatomia de um gigante). Valladolid: Minón, 1981. CAGIGAL, J.M. La pedagogia del deporte como educación. Revista de educación física. no 3, p. 5-11, mayo- junio/ 1985. DA COSTA, L. O reencontro do desporto com a cultura. In: SILVA.J. Esporte com identidade cultural: coletânea. Brasília: INDESP/CIED-UFOP, 1996. P. 39-55. FREITAG, B. Itinerários de Antígona - a questão da moralidade. Campinas: Papirus, 1992. GRUPE, O. O desporto de alto nível ainda tem futuro? Uma tentativa de definição. Lisboa: Ministério da Educação, 1988. HUIZINGA, J. Homo Ludens. São Paulo: Perspectiva, 1996. KUNZ, E. Transformação didático pedagógica do esporte. Ijuí: Unijuí, 1994. MAFFESOLI, M. O tempo das tribos: O declínio do individualismo na sociedade de massa. Rio de Janeiro: Forense, 1987. MORIN, E., BAUDRILLARD, J. e MAFFESOLI, M. A decadência do futuro e a construção do presente. Florianópolis: Editora da UFSC, 1993. 129 O Esporte no 3o Milênio SANTIN, S. Educação Física: da alegria do lúdico à opressão do rendimento. Porto alegre: EST/UFRGS, 1994. SEIRUL-LO, F. Valores educativos del deporte. Revista de educación física. Barcelona, no 44, p. 3-11, marzo- abril, 1992. 130 Estudo de caso na Recuperação pós-curúrgica de atleta de Judô visando seletiva das Olimpíadas de Sydney 2000. Luciano Oliveira Ferroni – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Alexandre Velí Nunes - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Resumo Este artigo relata a experiência de recuperação pós-cirúrgica de um atleta de Judô e seu retorno ao treinamento efetivo, de outubro à dezembro de 1999. Inserida no Projeto de Preparação de Atletas de Alto Rendimento do Projeto Bugre Lucena da Escola de Educação Física da UFRGS. Nesta experiência, foi realizada a preparação física de um judoca que sofria luxações recidivantes, no ombro direito. Em competição no Circuito Europeu no Torneio Cidade de Paris 1998, ocorreu uma recidiva que foi a responsável pela decisão da cirurgia. Retornando ao Brasil o atleta foi avaliado e constatado: Fratura e Lesão de Banckart anterior e ântero-inferior da glenóide sendo encaminhado a cirurgia em 15 de setembro de 1999 para recomposição dos ligamentos do ombro, retornando às atividades físicas em 20 de outubro de 1999. Devido as restrições médicas o atleta portava veupaux de verão e suporte específico evitando executar movimentos com o braço direito. Todas as atividades foram propostas observando a manutenção da posição do braço em flexão do cotovelo à 90º junto ao corpo. A periodização foi baseada no modelo de Elhez e outros (1985) com dois picos de performance objetivando as datas da repescagem e seletiva das Olimpíadas, respectivamente, o primeiro pico em 25 de março e o segundo em 25 de junho 2000. O condicionamento específico foi baseado no Teste de Sterkowicz (1995) e adaptado as necessidades do atleta juntamente a exercícios gerais com o objetivo de desenvolvimento da resistência muscular localizada de pernas, abdômen, dorsais, pescoço e trem superior. Introdução Este é o relato de experiência do retorno ao treinamento efetivo de um atleta de Judô após delicada cirurgia de recomposição dos ligamentos do ombro direito. O atleta estava com o percentual de gordura acima do ideal e condicionamento aeróbio prejudicado. A atividade aeróbia escolhida no período de preparação básico foi o jogging, pelo baixo nível de impacto por ela oferecida, reduzindo assim as chances de complicação na recuperação do ombro submetido à cirurgia. No planejamento do período de preparação básica programou-se exercícios gerais com o objetivo de desenvolvimento da resistência muscular 131 Estudo de caso na Recuperação pós-curúrgica de atleta de Judô visando seletiva das Olimpíadas de Sydney 2000. localizada de pernas, abdominais, dorsais, pescoço e trem superior, que são relatados com mais detalhe a seguir. Relato de Experiência Foram realizados no total vinte e um treinos no total, distribuídos durante a semana, conforme a disponibilidade do atleta que é acadêmico de Engenharia Civil da UFRGS. Os treinos tinham a duração de aproximadamente três horas por dia divididos em: alongamentos específicos para os grupamentos encurtados, trabalho técnico específico, fortalecimento abdominal (infra e supra), lombar, flexão do cotovelo em suspensão na barra e alongamentos gerais. Baseamo-nos nos exercícios utilizados pela Seleção Alemã para realizarmos o trabalho de fortalecimento abdominal, lombar e de braços, tais conhecimentos foram adquiridos e trazidos pelo orientador da disciplina em um recente curso de especialização em Leipzig, Alemanha. Os exercícios citados no parágrafo acima são realizados de forma dinâmica, mas em virtude das limitações do atleta optamos pela realização de forma isométrica a fim de corrermos o menor risco possível. A fim de identificar possíveis desvios posturais, enfraquecimento e encurtamentos musculares, o atleta foi submetido a uma avaliação postural. Os resultados possibilitaram a aplicação de alongamentos e fortalecimentos musculares objetivamente. Para obtenção de melhores resultados, o atleta contou com o apoio de profissionais de diversas áreas que assim formavam a equipe multidisciplinar, composta pelo Cirurgião Dr. José Maria Alves Neto, a Fisioterapeuta Cláudia Silveira Lima, Endocrinologista (responsável pela orientação nutricional) Dr. Carlos Alberto Werutsky, Professoras Ilana Pinto Marques (musculação), Luciana Reis (Trabalho de flexibilidade) e Acadêmico Marcelo Lunardi Carreno (avaliação cineantropométrica). Para avaliar a musculatura do reto abdominal, subdividimos em supra e infra-abdominal. Utilizamo-nos deste artifício para aumentar o volume de treino e diversificar a forma de trabalho, de maneira a estimular o atleta. Este teste foi realizado em decúbito dorsal sendo estipulado um ângulo em que tínhamos certeza que o reto abdominal era o motor primário, foi pedido ao executante permanecesse o maior tempo possível naquela posição. Seguindo padrão em que dividimos o reto abdominal para melhor estimulá-lo, o próximo passo foi de testarmos a musculatura infra-abdominal também em decúbito dorsal e segurando-se com o braço são, na perna do avaliador com elevação simultânea de ambas as pernas em um determinado ângulo e também foi pedido que ali as mantivesse o maior tempo possível. Na musculatura lombar, o atleta foi colocou-se em decúbito ventral perpendicular à um plinto na altura da crista ilíaca ântero-superior seguro pelos calcanhares ao espaldar, assim como aos demais exercícios estipulamos um ângulo e pedido que ali o mantivesse pelo maior tempo possível. Como já mencionamos o trabalho 132 Estudo de caso na Recuperação pós-curúrgica de atleta de Judô visando seletiva das Olimpíadas de Sydney 2000. aeróbio de base foi realizado na piscina sendo aplicado de Pesquisas de Atividades Aquáticas. A realização do trabalho aeróbio específico foi uma adaptação do teste Sterckowics (1995), o atleta começava na metade da área de combate e deslocava-se até a extremidade lateral do Dojô onde havia um UKE que recebia a aplicação da técnica, mas não era projetado pelo atleta em virtude da limitação do mesmo em realizar o KUMIKATA com ambas mãos, do outro lado da área de combate era realizado apenas a simulação da aplicação da técnica por não dispormos de outro UKE, essa atividade tinha a duração de quatro minutos para cada série. O volume inicial do treinamento aeróbio específico, com a adaptação do Teste de Sterkowics (1995), foram quatro séries no Treino 1, ampliado para cinco séries no Treino 3, sete séries no Treino 7, oito séries no Treino 9, nove séries no Treino 10 e dez séries do Treino 11 ao 21, sempre com armazenamento dos dados. Para avaliar a evolução da função cardio-respiratória foi observada a FC; FCinicial, FCfinal, FCreinício. Na monitorização da FC foi utilizado o freqüêncímetro Polar modelo Advantage, o intervalo entre as séries também foi utilizado como artifício de aumento e/ou redução da intensidade de treinamento baseado na FCreinício 120 bpm. Com base nos dados obtidos nos testes realizados na musculatura abdominal (supra e infra – abdominal), lombar com sobrecarga de 5 Kg (ambos de forma isométrica), a intensidade escolhida para começo de trabalho foi 60%. O tempo máximo permanecido num ângulo de 30° a 40° foi considerado 100% do teste. Seguindo o mesmo padrão de treino, realizamos seis séries de ambos exercícios no Treino 1, no Treino 4 aumentamos a intensidade com a redução do intervalo entre as séries. Utilizando o Princípio da Transferência imediata de força para os ângulos 20° acima e 20° abaixo do ângulo de contração isométrica, ampliamos para dez séries contra uma resistência oferecida em ângulos diferentes, exercida pelo responsável em aplicar o treino; o descrito acima foi aplicado para musculatura abdominal e lombar. No Treino 8 séries foram ampliadas de dez para quinze séries nos dois grupamentos musculares, aplicamos um teste novo, suspensão e permanência na barra com flexão do cotovelo e o queixo acima da barra, efetuada com o braço são, o tempo total de permanência neste posição foi considerado 100%, a intensidade de trabalho foi 60%. Pela melhora rápida e significativa, no Treino 9 retestamos a flexão do cotovelo, implementando uma nova carga de trabalho, o ombro submetido a cirurgia foi liberado com limitações e no Treino 14 testamos e partir de então começamos a executar dez séries a 60% do tempo máximo em contração isométrica com ambos os braços. Após várias seções de treinamento em contração isométrica nos grupamentos musculares já mencionados, no Treino 12 o atleta foi submetido a novos testes a fim de obter valores para comparação com os dados obtidos 133 Estudo de caso na Recuperação pós-curúrgica de atleta de Judô visando seletiva das Olimpíadas de Sydney 2000. anteriormente. No treino seguinte à aplicação dos testes, começou fase do trabalho dinâmico utilizando como principal parâmetro de avaliação o número de repetições, sendo a intensidade de trabalho 70% do número de repetições. A partir da liberação total para movimentação do ombro dada pelo seu médico e sua fisioterapeuta, com cautela, implementamos quatro séries de ataque na área de combate com duração de quatro minutos, aproximando-o ao máximo da situação real de combate, utilizou-se a contagem do número de ataques/minuto, servindo de parâmetro de avaliação nos treinos subseqüentes. Resultados Este estudo encerra a 1ª fase de treinamento da preparação física do atleta Fabrício Lusa Cadore para a seletiva dos Jogos Olímpicos de Sydney 2000. Nos resultados dos testes iniciais comparados aos resultados dos testes finais, do condicionamento físico específico, foi observada a melhora de 54 repetições, 4 séries com FCfinal 180 bpm no treino 1, para 68 repetições, 10 séries e FCfinal 153 bpm e redução do intervalo de repouso (ativo) de 1' para 45". O trabalho de fortalecimento muscular abdominal teve princípio com 6 séries de 21", em contração isométrica, findando com 4 séries de 30 repetições em contração dinâmica, o trabalho de fortalecimento lombar começou com 5 séries de 19", em contração isométrica, findando com 4 séries de 21 repetições, em contração dinâmica. O resultado mais significativo, está relacionado com trabalho de flexão do braço em suspensão na barra, que começou com 10 séries de 4” no treino 8 passando para10 séries de 10” com ambos os braços. Finalizando o trabalho, é esperado que o atleta obtenha êxito com resultados positivos nas duas primeiras etapas e alcançando o objetivo máximo: estar presente nos Jogos Olímpicos de Sydney 2000. Conclusão Esta experiência permitiu um contato direto com um atleta de alto rendimento da modalidade de Judô. Em um esporte como o Judô, a melhora da performance depende de múltiplos fatores, no caso em questão fizemos parte de uma equipe multidisciplinar de apoio que tinha por objetivo final classificar o atleta na repescagem da seletiva para a Olimpíada de Sydney 2000. Os profissionais envolvidos com o trabalho atuavam em suas áreas especificas, sendo o nosso objetivo, a preparação física geral e aprimoramento da técnica do atleta no período pós-cirurgia. Este trabalho contribuiu para a melhora de performance do atleta, o que pode ser comprovado através dos resultados, anteriormente apresentados. Podemos citar melhorias referentes a sua capacidade aeróbica e resistência muscular localizada para membros superiores, inferiores e musculatura do tronco. Ao final do trabalho, quando o atleta foi liberado para treinamento sem restrições, ainda não sabíamos se ele atingiria seu objetivo. Finalmente em 24 de março de 2000 durante a repescagem para 134 Estudo de caso na Recuperação pós-curúrgica de atleta de Judô visando seletiva das Olimpíadas de Sydney 2000. Sydney 2000 o atleta participou de seis combates, vencendo 4 por Ipon 1 por Wazari e 1 por Yuko, classificando-se assim para a seletiva final que realizar-seá em 24 de junho próximo. Para um bom resultado do trabalho, foi necessário embasamento teórico, retirado da literatura disponível e das experiências anteriores. As dificuldades encontradas com falta de material, disponibilidade de tempo do atleta e até mesmo motivação foram supridas com muito empenho e versatilidade do grupo de trabalho como um todo. É importante que se registre o valor deste tipo de experiência para um acadêmico, principalmente pelo contato mantido com um atleta de nível internacional e a experiência de fazer parte de uma equipe multidisciplinar convivendo e aprendendo com os mestres e colegas num trabalho em conjunto. Referências Bibliográficas Bases del Treinamento de las Capacidades Condicionales. In: CURSO NTERNACONAL DE ENTRENADORE, (1.:[1998 - 1999] ? : Leipzig) Anais... Leipzig: Universidae de Leipzig: Facultad de las ciencias de Deporte. FRANCHINI, Emerson. Bases para a detecção e promoção de talentos na modalidade Judô. In: Prêmio INDESP de Literatura Esportiva, (1.:[1999] 1999: Brasília) Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto. IAGNOL, Jean Marcel, BISCIOTTI, Gian Nicola. A Escolha no Judô: Aspectos Psicofisiológicos e Biomecânicos [página da Internet não identificada]. IGUMA, Hiromi Edson. Aspectos do treinamento total do judô. Revista de Educação Física, n. 119, p.49-64, 1991. JEUKENDRUP, Asker E.; HESSENLINK, Matthys K.C.Overtrainig-What do lactate curves tell us? British Journal of Sports Medicine. v.28, n.1, p.239-240, mar. 1994. MIL-HOMENS, Pedro; SARDINHA, Luis. O treino pliométrico: os saltos em profundidade. Treino Desportivo, p. 38-46, (s/d). NUNES, Alexandre Velí et al. Lactato sangüíneo em atletas de judô: relato de experiência de coleta durante combates sucessivos em uma competição oficial. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 4, n. 1, p. 20-23, jan-fev, 1998. 135 Estudo de caso na Recuperação pós-curúrgica de atleta de Judô visando seletiva das Olimpíadas de Sydney 2000. SANTOS, Saray G. dos et al. Proporcionalidade corporal e a Relação com a Técnica de Preferência do Judoca. Revista da Educação Física/ UEM, v. 1, n. 4, p.45-48, 1993. HARGRAVE, Lawire. Judo Refereeing Development. Auckland, New Zealand, nov. 1996.[artigo retirado da internet]. 136 A Carta do ‘Fair Play’: Identificando seus valores universais Fernando Portela – Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ Resumo Esse trabalho tem como objetivo identificar os valores universais inclusos nos textos da Carta do ‘Fair Play’ elaborado pela Câmara Municipal D’Oeiras, em Portugal. Procurou-se identificar esses valores, partindo do pressuposto de que alguns dos valores do Olimpismo, encontrados por Parry (1998), também seriam aqueles que supostamente integrariam os valores do ‘Fair Play’. Utilizou-se fundamentações estabelecidas por Kant e Pegoraro na área da filosofia, e por Tavares, Portela e DaCosta no campo do Olimpismo para a construção do conteúdo teórico. Considera-se que, não obstante à atribuição de valores na formulação de códigos éticos para o esporte, as variabilidades as quais o ‘Fair Play’ está sujeito também deveriam ser observadas, bem como um papel mais pronunciado dos atletas na elaboração destes. Recomenda-se que as próximas tentativas em se formular códigos de ética no esporte prezem não só pela atribuição de valores universais, mas que esses valores sejam atribuídos de acordo com as resignificações do esporte no tempo, no espaço e na cultura. Palavras-chave: Fair Play, valores. Abstract This work has as its aim to identify universal values that are included into the texts of Fair Play charter elaboreted by Câmara Municipal D’Oeira, in Portugal. We attempted to identify these values, starting from the assumption that some of the values of Olimpism, found out by Parry (1988), were also the same of Fair Play. We used theoretical presuposes established by Kant and Pegoraro in the field of philosophy and by Tavares, Portela and DaCosta in Olimpism area as main source of theory. Notwithstanding to the attribution of universal values to the ‘Fair Play’ code, we consider the differences of culture, in time and settings should be observed, as well as the role of the atheletes in elaborating this code. Key words: Fair Play, values. Introdução Nos últimos anos no Brasil testemunhou-se a promoção da idéia do ‘Fair Play’ no esporte por alguns dos meios de comunicação de massa. Assistimos episodicamente comentários nos quais aparece o enaltecimento da moral e da ética esportiva; e continuamente deparamo-nos com declarações de valorização do jogo limpo e da não-violência dentro dos espetáculos esportivos. Entretanto, permeado por esses discursos, encontramos por vezes 137 A Carta do ‘Fair Play’: Identificando seus valores universais certa incoerência, confusão ou desconhecimento a respeito de qual seria o sentido básico do conceito do ‘Fair Play’. Por uma via há aqueles que afirmam que o ‘Fair Play’ é o respeito às regras do jogo, porém absolvem de culpa o jogador que consegue quebrá-las sem que os árbitros percebam, sob o argumento que este é um jogador ‘esperto’ ou ‘malandro’, como se diz popularmente. Por outra via existem os que afirmam que o ‘Fair Play’ é algo que vai além das regras, ou seja, não basta obedecer a lei do jogo, há uma forma adequada de se jogar; contudo, variam de opinião quanto a esta forma de jogar. Outros declaram que a profissionalização do esporte impõe um código de moral particular. Já seus opositores entendem que a moral no esporte deve ser universal. Desta maneira, muitos outros conflitos poderiam ser destacados numa variabilidade de situações que poderiam ser indicadas, como por exemplo: modalidade esportiva, posição cultura ou sócio-econômica do praticante, idade entre outros. Destaquei o ‘Fair Play’ como objeto de estudo nesse trabalho por ser um dos elementos constituintes do Movimento Olímpico e pela crescente importância que a sociedade atual vem dando ao chamado código de valores das pessoas. Objetivo Uma dificuldade comum em se construir conhecimentos a respeito do ‘Fair Play’ no Brasil, repousa sobre o fato de existirem poucas publicações sobre o assunto na língua portuguesa. É nesse sentido, que proponho trazer a baila a Carta do ‘Fair Play’. Documento esse, elaborado em língua portuguesa pela Câmara Municipal D’Oeiras, em Portugal (versão já experimentada em perspectiva internacional na prática de competições esportivas, conforme linguagem acessível aos desportistas). No contexto dessas últimas indicações, tracei como objetivo desse trabalho identificar os valores que permeiam os textos do documento em voga, a fim de sugerir uma referência inicial para as demandas de estudos na área do ‘Fair Play’. Para tanto, utilizei como referência teórica postulações de Kant e Pegoraro na filosofia e Portela, Tavares e DaCosta no campo do Olimpismo. Problema Segundo a Carta do ‘Fair Play’ elaborada pela Câmara Municipal D’Oeiras, “A cada um, educadores, pais, treinadores, atletas, compete procurar promover uma prática do desporto mais humana e mais formativa”. Então, assim sendo, quais seriam os valores responsáveis por essa promoção e que estariam inclusos nos textos? 138 A Carta do ‘Fair Play’: Identificando seus valores universais Problematização O esporte emergiu na sociedade moderna como uma instituição com comportamentos padronizados que disseminam e transmitem valores sociais. Por valores consideram-se aqueles ideais pelos quais vale a pena se esforçar para realizar. Dentre as dimensões do fenômeno esportivo encontramos uma das manifestações de maior engajamento popular da era moderna Os Jogos Olímpicos. Estes representam o ápice de alguns dos esportes competitivos e como tais podem influenciar positivamente ou negativamente seus apreciadores. Esta ambivalência, entretanto, pode ser desequilibrada para o lado positivo por meio de uma estratégia codificada denominada Ideal Olímpico, ou Olimpismo. O Olimpismo é um conjunto de valores universais, que servem como linha diretriz para a formação dos princípios e comportamento dos atletas. Alguns desses valores poderiam ser destacados como: igualdade, justiça, respeito, racionalidade, entendimento mútuo, autonomia e excelência (PARRY, 1988:93). Então, em tese, os valores que compõem o ‘Fair Play’ poderiam estar contidos naqueles já descritos anteriormente, uma vez que o ‘Fair Play’ é parte integrante do Olimpismo e do Movimento Olímpico, senão vejamos. Justificativa Em vista da incipiente posição do Brasil com relação à produção de conhecimentos no campo do Olimpismo, é pertinente que se desenvolvam estudos que abordem as várias entradas que o tema permite. As investigações na área de valores são relevantes, na medida que levantam condições de assimilação e reflexão para um desdobramento do significado do ‘Fair Play’. Sobretudo no caso particular do Brasil, país em que conflitos ético-morais estão sempre presentes, tal fundamentação passa a ser justificada perante a possibilidade do ‘Fair Play’ constituir mais um código a ser rejeitado ou desviado por simulação de seu cumprimento. A Carta do ‘Fair play’ “Os educadores, os pais, os treinadores, os atletas, todos os participantes desportivos, são convidados a mostrar que possuem ESPÍRITO DESPORTIVO, cumprindo os dez artigos da Carta do Espírito Desportivo. A cada um, compete procurar promover uma prática do desporto mais humana e mais formativa”. MOSTRAR ESPÍRITO DESPORTIVO ARTIGO 1 É antes de tudo respeitar escrupulosamente todos os regulamentos; significa nunca procurar deliberadamente cometer uma infração aos regulamentos. 139 A Carta do ‘Fair Play’: Identificando seus valores universais ARTIGO 2 É respeitar os árbitros do jogo. A presença de árbitros é absolutamente indispensável na competição. Eles têm um papel difícil e ingrato a desempenhar. Eles merecem o respeito de todos. ARTIGO 3 É aceitar todas as decisões do árbitro, sem nunca pôr em causa a sua honestidade. ARTIGO 4 É reconhecer com dignidade, na situação de vencidos, a superioridade do adversário. ARTIGO 5 É aceitar a vitória com modéstia e sem ridicularizar ou diminuir o adversário. ARTIGO 6 É saber reconhecer os bons resultados do adversário. ARTIGO 7 É querer competir em igualdade de circunstâncias com o adversário. É contar apenas com o seu talento e as suas capacidades para alcançar a vitória. ARTIGO 8 É recusar ganhar por meios ilegais e/ou fraudulentos. ARTIGO 9 Significa para os árbitros conhecer bem todas as regras e aplicá-las com imparcialidade. ARTIGO 10 É ser digno em todas as circunstâncias; é demonstrar controle sobre si próprio. É recusar utilizar em qualquer situação a violência física ou verbal”. Em face de este código, cumpre destacar que é comum encontrarmos uma interdependência entre valores em um mesmo texto. Por esse motivo, a revisão de alguns períodos e/ou palavras torna-se pertinente para a identificação de tais valores. No artigo 1 encontramos “respeitar escrupulosamente todos os regulamentos”, isto é, aceitar conscientemente que todos são iguais perante a lei, permitindo oportunidades e tratamentos similares, mantendo-se o equilíbrio entre os competidores e evitando-se injustiças. Vê-se também a palavra “deliberadamente”, que indica um exercício racional que culmina com a administração da vontade e, conseqüentemente da liberdade individual. O artigo 2 trata do respeito aos mediadores das contendas. Estes possuem papel importante em restabelecer a igualdade, caso seja rompida, minimizando os efeitos da injustiça. O artigo 3 prescreve, “nunca por em causa a honestidade dos árbitros”. Intenciona admitir que o ser humano é falível, porém não o faz deliberadamente. Aponta para um exercício racional que se recomendaria aos atletas em prol de um entendimento mútuo amplificado. No artigo 4 a palavra “dignidade” pode sugerir uma pluralidade de significados, entretanto ao “reconhecer com dignidade” a derrota, faz-nos exercitar racionalmente a vontade de vencer, que por vezes leva atletas a buscarem meios ilícitos, rompendo com a igualdade e a justiça. De outra forma no artigo 5, em “aceitar a vitória com modéstia”, reflete-se a intenção de mostrar que igualdade de fato e de direitos devem ser 140 A Carta do ‘Fair Play’: Identificando seus valores universais respeitadas, pois “ridicularizar” ou “diminuir” o adversário fere a sua dignidade podendo provocar animosidades. Vale lembrar que a situação de vencedor ou vencido é temporária, e por isso recomenda-se que ao adversário conceda-se os mesmos direitos que se desejam para si. No artigo 6, “saber reconhecer os bons resultados do adversário” exprime a condição racional de admitir que todos são capazes de obter bons resultados, portanto todos são iguais. Igualmente, reconhecer o mérito de um terceiro promove um desdobramento do entendimento mútuo, sob a forma da justiça. No artigo 7 novamente aparece a categoria igualdade, trazendo conseqüências para a justiça, somada à liberdade para escolher os meios para competir. O artigo 8 é uma repetição do artigo 7, apenas indicando quais os meios para competir que os atletas deveriam escolher para uma competição justa e igual. No artigo 9 temos outra determinação aos mediadores das contendas, que devem “conhecer bem todas as regras”, de modo que não cometam injustiças por despreparo. O artigo 10 sumariza todos os outros, enaltecendo a utilização da faculdade racional para “controle sobre si próprio”, a fim de que se respeite os árbitros e os adversários. No contexto das interpretações anteriores, quatro valores universais destacaram-se no interior dos textos: racionalidade, igualdade, entendimento mútuo e justiça. Vejamos como eles poderiam ser interpretados num conjunto inicial de pressupostos teóricos. a) Racionalidade: Tomando-se como pressuposto teórico inicial a formulação de bom para si desenvolvida por Portela (1999), no qual por meio da racionalidade o indivíduo busca o melhor para si, e que o melhor para si seria determinar uma condição de equilíbrio e harmonia a ser usufruída por todos de um mesmo grupo social. E, fundado na filosofia de Kant, na qual as teorias derivam exclusivamente de princípios a priori, sugere-se que o Olimpismo busca na razão prática a fundamentação de seus ideais. Assume-se aqui tal postura em que pese ser uma das maiores e mais constantes críticas ao Movimento Olímpico a de se apontar incoerências entre sua ideologia e suas práticas. Por isso, reconhece-se que a tarefa de transformar princípios puros em realidade é árdua, como em Kant: “porque o homem, afetado por tantas inclinações, ainda que capaz de conceber a idéia de uma razão pura prática, não pode facilmente torná-la eficaz in concreto no decurso de sua vida” (1937:25). Mesmo assim, o criador do Olimpismo, Barão Pierre de Coubertin, propôs que o esporte poderia ser o agente catalizador a restabelecer o equilíbrio entre mente e corpo (In: TAVARES, 1998:7). 141 A Carta do ‘Fair Play’: Identificando seus valores universais b) Igualdade: Inicialmente, deveríamos distinguir a igualdade de fato, das relacionadas ao tratamento e às oportunidades. Há bem pouco tempo atrás, por exemplo, os organismos diretores do esporte internacional se reservavam o direito de tomar todas as decisões sem ao menos consultar órgãos de representação dos atletas. A partir do XII Congresso Olímpico em Paris em 1994, o Comitê Olímpico Internacional (COI) passou a recomendar que aos atletas fossem dados papéis ampliados dentro dos órgãos de direção das instituições esportivas, por meio da criação das comissões de atletas. Os membros dessas comissões seriam eleitos, caracterizando assim uma democracia representativa (TAVARES, Op.Cit.:25-26). Esta postulação identifica uma tentativa de se estabelecer explicitamente uma maior equidade de fato entre aqueles que estão diretamente envolvidos com as atividades esportivas, no que tange às discussões relativas ao esporte. Por outro lado, deveríamos fazer a distinção entre igualdade de oportunidades e de tratamento. Neste caso, poderíamos citar atletas que numa competição recebem o mesmo tratamento, porém podem ter realizado treinamentos distintos por falta da mesma oportunidade, por exemplo: tempo, saúde, dinheiro e outros. Estes últimos recebem apoio de um órgão particular vinculado ao COI, para a compensação de possíveis distorções.1 A partir de tais pressupostos podemos sugerir que o Olimpismo preocupase em minimizar as diferenças entre as desigualdades. c) Entendimento mútuo: Esta categoria passa pela liberdade como uma propriedade da vontade, a feição de como Kant sugeriu: “eu sustento que a todo ser racional que possui Este organismo é denominado Solidariedade Olímpica, e segundo a Carta Olímpica possui como objetivos: 1) O objetivo da Solidariedade Olímpica é organizar ajuda aos Comitês Olímpicos Nacionais reconhecidos pelo Comitê Olímpico Internacional, em particular aqueles os quais tem uma grande necessidade desta. Essa ajuda toma a forma de programas elaborados conjuntamente pelo Comitê Olímpico Internacional e os Comitês Olímpicos Nacionais, com a assistência técnica das Federações Internacionais, caso seja necessário. 2) Todos esses programas são administrados pela Comissão da Solidariedade Olímpica, a qual é compartilhada pelo Presidente do Comitê Olímpico Internacional. Os objetivos dos programas adotados pela Solidariedade Olímpica são contribuir para: 1) Promoção dos princípios fundamentais do Movimento Olímpico; 2) Desenvolvimento de conhecimento técnico-esportivo de atletas e treinadores; 3) Melhorar, por meio de bolsas de estudo, o nível técnico de atletas e treinadores; 4) Treinamento de administradores esportivos; 5) Colaborar com as várias comissões do Comitê Olímpico Internacional, tanto quanto com as organizações e entidades que perseguem esses objetivos, particularmente por meio da educação Olímpica e a propagação do esporte; 6) Criação, onde necessário, simples, funcionais e econômicas instalações esportivas em cooperação com as corporações nacional ou internacional; 7) Dar suporte à organização de competições nos níveis nacional, regional e continental sob a autoridade ou patrocínio dos Comitês Olímpicos Nacionais; 8) Encorajar programas de cooperação bilateral ou multilateral entre os Comitês Olímpicos Nacionais; 9) Impulsionar governos e organizações internacionais a incluírem o esporte em Assistências Oficiais de Desenvolvimento. 1 142 A Carta do ‘Fair Play’: Identificando seus valores universais uma vontade, devemos atribui-lhe necessariamente também a idéia da liberdade, debaixo da qual age” (1937:143). Kant prossegue distinguindo as vontades, propondo o ser humano como um objeto afetado pelos sentidos e ao mesmo tempo consciente de sua inteligência, isto é, independente das impressões sensíveis no emprego da razão. Identificam-se, assim sendo, as vontades sensível e inteligível. Nestes termos, poderíamos conferir à vontade sensível a dimensão psicológica do querer e à inteligível aquela voltada para a razão. Uma vez que o entendimento mútuo pressupõe a existência de dois ou mais indivíduos, seria difícil senão impossível afluir para uma vontade sensível universal, pois desejos e apetites variam de pessoa para pessoa, enquanto convergir para uma vontade inteligível tornar-se-ia algo realizável. Este parece ser o intuito do Ideal Olímpico, ou seja, tornar possível a compreensão de algumas das necessidades humanas por meio de um aforismo que possa ser universalizado, como descrito na Carta Olímpica (1997): O objetivo do Olimpismo é por em toda a parte o esporte a serviço do desenvolvimento harmonioso do homem, com a perspectiva de encorajar o estabelecimento de uma sociedade pacífica preocupada com a preservação da dignidade humana (p.8).2 d) Justiça: Segundo Pegoraro (1997:97), a justiça é definida como “a primeira virtude das instituições públicas do Estado, do direito, da economia e das relações interpessoais. A justiça funda soberanamente e rege esplendidamente todo o arco da ética pessoal e da convivência pública”. Fundamentado nesta definição, pode-se confirmar o pressuposto seguinte: o Olimpismo tenta tratar o indivíduo como ser que se realiza com os semelhantes e com a natureza (DaCosta, 1997:41-56). Considerações Finais Como pudemos observar o documento elaborado pela Câmara Municipal D’Oeiras fornece dados que nos permitem identificar valores que pressupostamente permeiam o ideal do ‘Fair Play’. No entanto, valores são produzidos culturalmente, e mesmo os considerados universais possuem representações diferentes quando deslocamos, nesse caso, o esporte pelo tempo, na cultura, no espaço, entre outros, como sugeriu Tavares (1999:173-193). Perder de foco as variabilidades a que está sujeito o ‘Fair Play’, pode significar a perda da compreensão do real sentido em se instituir um código 2 The goal of Olympism is to place everywhere sport at the service of the harmonious development of man, with a view to encouraging the establishment of a peaceful society concerned with the preservation of human dignity. 143 A Carta do ‘Fair Play’: Identificando seus valores universais ético para atletas. Outrossim, apenas instituir um código de valores para nortear a conduta de atletas, sem que esses participem da sua construção, pode torná-lo inócuo como sugere Portela (1999). No sentido das indicações anteriores, parece justo que as próximas tentativas em se elaborar códigos éticos para atletas preze não só pela definição de valores universais, mas que esses valores sejam atribuídos de acordo com as suas resignificações no tempo, no espaço e na cultura. Referências Bibliográficas CÂMARA MUNICIPAL D’OEIRAS. (1994). Carta do espírito desportivo. Oeiras, Portugal: Câmara Municipal D’Oeiras. (mimeo). COMITÊ OLÍMPICO INTERNACIONAL. (1997). Olympic Charter. Lausanne: International Olympic Committee. DACOSTA, L. P. (1998). Environment and sport – an international overview. University of Porto – International Olympic Committee, Porto – Lausanne. KANT, E. (1937). Fundamentos da metaphysica dos costumes. São Paulo: Edições e Publicações Brasil. PARRY, J. (1988). Olympism at the beginning and end of the twentieth century immutable values and principles and outdated factors. In: International Olympic Committee. Report of the twenty-eight session 29th june-14th july 1988, Ancient Olympia. Olympia, Greece: IOA. 81-94. PEGORARO, O. A. (1997). Ética é justiça. Petrópolis: Vozes. PORTELA. F. (1999). Fair Play, que Fair Play?! Doutrina, ou exercício da moral? (dissertação de mestrado). Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho. TAVARES, O. (1998). Mens fervida in corpore lacertoso? As atitudes dos atletas olímpicos brasileiros frente ao olimpismo. (dissertação de mestrado). Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho. ____________ (1999). Algumas reflexões para uma rediscussão do fair-play. In: Estudos Olímpicos. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho. UGF. 173193. 144 Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: Um texto endereçado aos alunos das graduações. Fernando Portela - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ Otávio Tavares - Universidade Federal do Espírito Santo/ES Resumo Essa comunicação é dedicada aos alunos que ingressaram ou estão ingressando nos cursos de graduação e tem por objetivo dar subsídios, em linguagem simples e acessível, àqueles que se interessarem por assuntos ligados ao Movimento Olímpico. O fio condutor teórico do texto foi retirado dos relatórios das sessões realizadas na Academia Olímpica Internacional, bem como o marco teórico estabelecido por Tavares (1998), sobre Olimpismo. O texto é iniciado com uma visão superficial dos Jogos Olímpicos da Antigüidade, e abrange algumas das suas principais características. Uma segunda parte se desdobra em dar indícios de como e por que o Barão Pierre de Coubertin idealizou e restaurou os Jogos Olímpicos, criando um ideal por detrás desse evento. O Olimpismo. Finaliza com considerações a respeito de como vem se amplificando parte do processo de Educação Olímpica no Brasil, sugerindo uma nova entrada para expandir o contingente de pesquisadores envolvidos com o assunto. Palavras-chave: Jogos Olímpicos da Antigüidade, Jogos Olímpicos da Era Moderna, Olimpismo. Abstract This essay is dedicated to the students who are undergraduated and it has as the main aim to give them some assistence by simple and easy speech, in order to create attraction for the Olympic Movement issues. As theoretical basis, reports from International Olympic Academy were used, as well as theoretical foundations established by Tavares (1998) in the grounds of Olimpism. Text begins with a superficial overview, that focus some characteristics of the Ancient Olympic Games. Secondly, it gives evidences of how and how come Pierre de Coubertin idealized and reestored the Olympic Games, creating the ideal of Olimpism. Finally, it finishes with some considerations about how some sort of the Olympic Education process in Brazil has being amplified and suggests a new strategy to increase the effectives of researchers involved in this issue. Key words: Ancient Olympic Games, Modern Olympic Games, Olympism. 145 Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: Um texto endereçado aos alunos das graduações. Introdução Próximos ao final da última Olimpíada do século, parece inconteste que o esporte tornou-se uma manifestação social de primeira grandeza. Os Jogos Olímpicos da era moderna representam uma fatia importante do contexto esportivo da modernidade, e como tal atestam o valor do esporte na sociedade atual. Somente nos Jogos Olímpicos de verão em Atlanta em 1996, mais de 4 bilhões de pessoas assistiram instantaneamente às imagens transmitidas pelos meios de comunicação e mais de 900 milhões de dólares foram arrecadados pelo Comitê Olímpico Internacional apenas pela concessão dos direitos televisivos do evento (LANDRY, 1998:171). Não é coincidência também que, além do vulto econômico, os Jogos Olímpicos são o maior evento cultural da humanidade na atualidade (ABREU, 1999:70-77), e que o interesse pelo tema vem crescendo em grandeza geométrica no Brasil nos últimos anos. A cristalização da demanda pelo tema Jogos Olímpicos, e assuntos correlatos, tem sido manifestada por intermédio da criação de centros de estudos Olímpicos em diversas Universidades, que buscam a formação de um grupo de pesquisadores dotados de conhecimento para desenvolver pesquisas na área. Entretanto, apesar do crescente interesse, as informações circulantes sobre o assunto ainda permanecem dentro de um elitismo acadêmico, muito por falta de profissionais especializados em Olimpismo trabalhando nos diversos cursos de graduação, e por vezes pela pouca acessibilidade da linguagem dos documentos elaborados. A ausência de textos dedicados à apresentação de temas Olímpicos aos alunos recém ingressados nos cursos de graduação das universidades depõe a favor desse elitismo, e dificulta o trabalho de se obter um entendimento mais amplificado sobre o assunto. A indicação anterior abre espaço para questionamentos, como por exemplo: em face de uma declarada intenção de se disseminar a Educação Olímpica no país, como dar conta de um hipotético paradoxo entre massificar e elitizar o conhecimento acadêmico a respeito do Olimpismo. Talvez esse seja mais um dos contrastes do ecletismo de Pierre de Coubertin (DACOSTA, 1999:50-69). Dedicarei o texto desse artigo à massificação. Nesses termos, o objetivo desta comunicação é apresentar de forma simples e em linguagem acessível uma breve iniciação sobre Jogos Olímpicos e Olimpismo, de forma que se permita a compreensão de informações básicas, por aqueles que entram em contato com o tema pela primeira vez. Nesse propósito, particularmente alunos das diversas áreas de graduação universitária. 146 Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: Um texto endereçado aos alunos das graduações. Revisitando os Jogos Olímpicos da Antigüidade Inicialmente é preciso fazer a distinção entre Jogos Olímpicos da Antigüidade e Jogos Olímpicos da Era Moderna. Os Jogos Olímpicos da Antigüidade eram realizados de 4 em 4 anos em Olímpia, na unidade política de Elis na antiga Grécia, e tem como marco inicial a data de 776 A.C.. Essa data foi estabelecida a partir de achados arqueológicos, os quais documentavam a vitória de um competidor na corrida do stadium. Algumas evidências indicam, porém, que os Jogos da Antigüidade podem datar de mais de 1000 anos a.C. (PALAEOLOGOS, 1962:136) Esses Jogos tinham caráter religioso, particularmente uma homenagem ao Deus Zeus, Deus de todos os Deuses em uma civilização politeísta. Eram disputados apenas pelos vários povos, pulverizados por territórios que conhecemos atualmente como sul da Europa, norte da África e Oriente Médio, os quais formavam a nação grega. O significado das leis morais, a despeito da ausência de qualquer lei escrita, era tanta que todos os gregos as aceitavam. Um ponto de referência era a adoração dos mesmos deuses pelos diferentes povos da nação grega. Em Olímpia eles se reuniam em torno de uma mesma situação, falando a mesma língua, com a mesma religião e as mesmas normas sociais morais, dessa maneira formando uma unidade cultural (PALEOLOGOS, 1981:69-74), esses fatores davam aos Jogos um caráter Helênico. Esse caráter Helênico somente veio a se modificar com a participação de artistas persas, que lá foram para entoar seus poemas. Isto ocorreu durante o reinado de Philip, o qual negociava com os Persas a subjugação da Grécia (PALEOLOGOS, 1962:142). Um ponto a ser destacado é o de que os competidores desses Jogos eram considerados representantes legais de suas cidades e de suas famílias, e como tais disputavam as provas atléticas em troca de reconhecimento, honra e glória. A vitória em uma prova representava um feito heróico, que justificava o erguimento de uma estátua em homenagem ao vencedor com as inscrições do nome da sua família, nesse propósito o nome do pai, e da sua cidade de origem, gravados nela. Esse participante que era destacado para competir em Olímpia recebia um salvo conduto que lhe permitia atravessar os territórios hostis sem que fosse molestado. Isso porque apesar da língua, da religião e da ética em comum, existiam guerras políticas entre os diversos estados e grupos. Esse contexto de lutas foi responsável pela introdução de uma trégua sagrada durante os Jogos denominada ekecheiria. As condições da ekecheiria não foram totalmente esclarecidas por autores do período, mas algumas fontes sugerem que: 1) durante o mês sagrado, todas as guerras cessariam e a passagem para Elis seria livre à todos; 2) o tempo de duração desta trégua era de 10 meses, devido a jornada, que em determinados casos, era extremamente longa; 3) a cidade de Elis era neutra, sagrada e 147 Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: Um texto endereçado aos alunos das graduações. inviolável. Essa condição proibia o porte de armas na cidade, sendo essa violação severamente punida; 4) A trégua era válida para todos os estados gregos e não somente para aqueles reinados que tinham assinado o acordo (PALEOLOGOS, 1965:203-210). Nesse contexto pode-se indicar a idéia habitualmente aceita, a qual durante os Jogos Olímpicos da Antigüidade todas as batalhas e guerras eram interrompidas, a fim de que os Jogos fossem realizados. Isso poderia ser verdade, entretanto vale lembrar que naquela época devido às dificuldades de locomoção por territórios muito extensos as batalhas eram tomadas com um intervalo muito grande de anos, o que torna esta hipótese difícil de ser comprovada. Outro ponto a ser registrado é o do conteúdo moral com que os Jogos eram realizados. O competidor submetia-se à códigos de conduta, os quais lhe garantiam o direito de, caso vencesse, desfrutar da glória da vitória. Esse código, denominado arete, ou seja, a perfeita conduta sob a forma da excelência moral, física e intelectual impulsionava os atletas na direção de algo maior, um status quase divino que combinava a perfeição física, mental, e moral chamado kalos kagathos como compreende Tavares (1999): “A idéia de kalos Kagathos pode ser compreendida como a concepção de um ser humano virtuoso e harmoniosamente equilibrado entre físico e intelecto” (p:28). A princípio os Jogos eram realizados em apenas 1 dia e apenas uma prova existia, a corrida relativa a distância de 1 stadium. Somente a partir da 14th edição dos Jogos Olímpicos da antigüidade é que a prova diaulos foi incluída, representava 2 vezes a distância do stadium. Na 18th edição dos Jogos foram incluídos o wrestling e o pentathlon. De acordo com o testemunho de Pausanias os Jogos tinham a duração de apenas um dia até 77th edição. Em 688 A.C. um segundo dia foi incluído e em 632 A.C. um terceiro também, assim como um dia anterior destinado aos sacrifícios e um dia subseqüente para as cerimônias de encerramento, totalizando 5 dias de festival sendo 3 destinados às pelejas (PALEOLOGOS, 1962: 142). Já o declínio dos Jogos se deveu à alguns fatores, entre eles às incursões dos romanos, que não compreendiam a profundo significado das competições ginásticas, wrestling e boxe. Os romanos se exercitavam somente com fins militares e ridicularizaram as competições gregas. Mesmo assim copiaram os Jogos, porém encararam estes como espetáculos e batalhas de guerra. No hipódromo escravos atuavam e em seguida eram mortos, César ofereceu 320 pares de dueladores, Pompeu abateu 500 leões. Os romanos pisaram nos costumes e na moral dos Jogos, infringindo os regulamentos e transformando-os em um espetáculo sangrento (Op.Cit., 1962:143). Tanto foi modificado do ideal da moral atlética com o passar dos anos durante o domínio romano, que os amantes da contemplação dos Jogos se 148 Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: Um texto endereçado aos alunos das graduações. desinteressaram por tudo aquilo que representasse competições atléticas. Então, por considerações políticas, em 394 d.C. o imperador Theodosius extinguiu os Jogos da Antigüidade (Ibid, 1962:144). Os Jogos Olímpicos da Era Moderna e o Olimpismo Idealizados pelo Barão Pierre de Coubertin e realizados pela primeira vez em 1896, os Jogos tinham como objetivo a concretização de uma reforma social baseada no valor educacional do esporte, como interpreta Tavares (1999). “Para o Barão, os Jogos representavam a institucionalização da crença no esporte como um empreendimento moral e social. Neste sentido, os Jogos Olímpicos deveriam ser uma manifestação pedagógica dos valores que atribuía à prática esportiva. Este conjunto de valores ele chamou de Olimpismo.” (p:6) Coubertin, estudioso da pedagogia, buscava fundamentos que o ajudassem a executar uma reforma do sistema educacional na França. Sustentado por três pilares básicos: um ensino sólido, atividades esportivas e a religião; mostrou-se admirado pelo modelo inglês de educação, particularmente o da Rugby School, onde Thomas Arnold introduzira com sucesso a educação moral por meio do esporte. Para o Barão o esporte necessitava ser mais do que um catalisador de energia, era preciso dar ao esporte um valor moral e intelectual, tal como aquele desenvolvido na antigüidade grega em seus Jogos Olímpicos. Ele almejava uma educação para os jovens, não por meio de informações secas e instruções servidas por professores pedantes, mas sim um tipo na qual, somados o treinamento do corpo e o enobrecimento das suas mentes, os jovens pudessem nutrir fé, construir corpos fortes, criar uma sólida e corajosa personalidade e um caráter virtuoso (SZYMICZEK:1975,46). Neste contexto, Coubertin vislumbrou a possibilidade de uma reforma mais abrangente, em que jovens de todas as partes pudessem se beneficiar dos efeitos de uma pedagogia esportiva que prezasse pela formação física, mental e do caráter, como sugere Diem (1962:5): “Por que não deveria a França restaurar essa glória (dos Jogos antigos), novamente?” Contudo, apesar de se servir dos Jogos Olímpicos da Antigüidade como inspiração, Pierre de Coubertin era um homem da modernidade e trabalhava em função dessa. Propôs a restauração dos Jogos, mas também incluiu elementos necessários à sua realidade; a internacionalização dos Jogos, a inclusão de diferentes competições e esportes, uma vez que em sua concepção todos os esportes possuem o mesmo valor desde que praticados adequadamente, o desenvolvimento da amizade e cooperação entre os povos, a recomendação 149 Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: Um texto endereçado aos alunos das graduações. para uma paz mundial nos moldes culturais de cada nação, a abolição da discriminação racial e a criação do Comitê Olímpico Internacional, o qual seria o guardião dos ideais Olímpicos (SZYMICZEK, 1975:47). Nestes termos Coubertin acabara de criar o Olimpismo que segundo a Carta Olímpica é: “Uma filosofia de vida que exalta e combina em equilíbrio as qualidades de corpo, espírito e mente, combinando esporte com cultura e educação. O Olimpismo visa criar um estilo de vida baseado no prazer encontrado no esforço, no valor educacional do bom exemplo e no respeito aos princípios éticos fundamentais universais”(p:8). No entanto, o grau de abstração dessa definição de Olimpismo não permite uma conceituação que vá além de uma intuição racional, na qual o esporte deveria ser praticado por ser uma atividade boa para o ser humano. De outra forma, há aqueles que contestam o Olimpismo como uma filosofia de vida, nesse propósito DaCosta (1999:62), que entende o Olimpismo como “uma das diversas versões do humanismo, uma posição filosófica que, passados os anos, se tornou uma construção pluralística.” Para tentar compreender o que seria o Olimpismo recorre-se ao marco teórico elaborado por Tavares (1998) em que se pese as 3 categorias distinguidas por ele. a) Internacionalismo, entendimento e respeito mútuo: está ligada à idéia de promoção da paz internacional por meio do esporte, desde que se conceda aos jovens de todo o mundo a oportunidade de conhecimento e relacionamento entre si. É um valor que se fundamenta no desenvolvimento de relações de amizade entre os participantes e entre os espectadores durante os Jogos Olímpicos, em um ambiente de respeito às diferenças culturais e exaltação da diversidade. Para isso ocorrer é preciso que os atletas dos diferentes países do mundo possam ter a chance de participar das competições esportivas dos Jogos e que a estrutura física e organizacional do evento permita o contato e o intercâmbio entre todas as delegações. b) Desenvolvimento harmonioso, físico e intelectual: nessa categoria o atleta Olímpico deve ser um cidadão que conjugue de maneira ótima as capacidades físicas e o desenvolvimento intelectual. Assim como os Jogos Olímpicos devem promover não só as competições esportivas como também manifestações artísticas, em um ambiente de perfeita integração entre cultura física e cultura artística, dentro e fora da Vila Olímpica. Estimular e valorizar não só as capacidades psicomotoras como 150 Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: Um texto endereçado aos alunos das graduações. c) também a capacidade intelectual dos competidores deve ser uma característica do Movimento Olímpico. Fair Play: ou, espírito esportivo é a categoria na qual o esporte deve ser praticado dentro do respeito às regras, aos árbitros e aos adversários, recusando vantagens injustificáveis e meios ilegítimos. Portanto, demonstrar que a vitória só deve ser alcançada através da honestidade e da justiça, aceitar a derrota com dignidade, respeitar os adversários e árbitros tornam-se uma obrigação moral do atleta Olímpico. Assim, as relações humanas e o respeito à dignidade humana devem estar acima da busca da vitória a qualquer preço, dando um sentido ético à participação no esporte Olímpico. Considerações Finais Em termos de conteúdo teórico, os temas Jogos Olímpicos e Olimpismo possuem infinitas possibilidades de discussão, o que é bom. No caso do Brasil os estudos dedicados ao assunto ainda são escassos, contrariamente ao que assistimos no cenário internacional, principalmente Europa e América do Norte. Este estágio do conhecimento poderá será superado a partir da tomada de 3 iniciativas básicas, conforme sugeriu Tavares (1999:8): “A superação deste estágio da produção do conhecimento na área do Olimpismo no Brasil passa necessariamente por três estágios. 1) a formação de um grupo de pesquisadores dotados de conhecimentos e motivação para desenvolver pesquisas na área; 2) a criação de uma linha de pesquisa que oriente, aglutine e forneça um sentido de continuidade no trabalho desenvolvido por estes pesquisadores (mainstream); 3) a formação de literatura sobre o tema em português, referenciada às condições brasileiras e seguida de um programa de publicação e/ou divulgação pela internet.” Parece que as medidas cogitadas por Tavares têm sido levadas a cabo de forma producente, tendo algumas universidades iniciado a formação de grupos de pesquisadores por meio dos centros de estudos Olímpicos. Igualmente, a Academia Olímpica Brasileira tem sido responsável pelo desenvolvimento de uma linha de pesquisa dentro dos moldes do Movimento Olímpico, mas que prestigia as condições de cultura do país, e também tem incentivado a realização de fóruns, seminários e congressos, em parceria com universidades, os quais permitem a constituição de literatura própria em língua portuguesa e a sua devida divulgação. Entretanto, considero que um outro estágio deveria ser incorporado aos três já existentes. Difundir os conhecimentos adquiridos por este grupo de especialistas, de forma tratável, às camadas iniciantes da formação acadêmica. 151 Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: Um texto endereçado aos alunos das graduações. A realização desta tarefa poderia acarretar um ‘efeito dominó’, no qual teríamos uma população muito maior de ‘pesquisadores’, com certeza num nível bem menor de rigorosidade, contudo com poder para disseminar a Educação Olímpica genuinamente. Não se pretende com isso tornar o estudo das demandas Olímpicas num circo, deseja-se construir um ‘exército de soldados’ competentes na divulgação dos ideais Olímpicos, liderados por generais de alto gabarito. Em analogia grosseira, haveria um nexo entre a atitude proposta e as palavras de Coubertin, que considerava as oportunidades para os mais bemdotados inseparáveis das oportunidades para todos. “Para que cem se beneficiem da cultura física, 50 devem praticar um esporte. Para que 50 pratiquem um esporte, 20 devem se especializar. Para que 20 se especializem, 5 devem ser capazes de performances fora do comum. É impossível quebrar este círculo. Uma coisa segue a outra” (Segrave, In:Tavares,1999:26). Em contas finais, há que se abrir as portas a todos os níveis de compreensão dos estudos Olímpicos. Bibliografia ABREU, N. (1999). Bases multiculturais do Olimpismo. In: Estudos Olímpicos. Rio de Janeiro, Universidade Gama Filho. 70-77. COMITÊ OLÍMPICO INTERNACIONAL. (1997). 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Rio de Janeiro, Universidade Gama Filho. 15-49. 153 Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de Iniciação Desportiva pela criança Roberto Mário Scalon – Universidade Luterana do Brasil – Canoas/RS Resumo O esporte no tempo mostra que tem se constituído num fator importantíssimo para o desenvolvimento social e cultural de todos os povos do mundo. Nos dias de hoje, segundo CRUZ (1989), ele é um dos fenômenos mais importantes do século XX, envolvendo pessoas de toda as faixas etárias. Se de um lado é fácil entender a motivação de um atleta profissional que recebe um salário mensal, o mesmo não acontece com o tipo de motivação que leva várias crianças a buscarem um programa de iniciação desportiva (CRATTY, 1983). Foram utilizados como instrumento de medida o Inventário da Motivação (GILL, 1983) adaptado e passou a ser denominado: Instrumento dos Fatores da Motivação (IFM). O estudo caracteriza-se por uma pesquisa descritiva comparativa e tem como objetivo investigar: a) os fatores que influem na aderência dos programas de iniciação desportiva pelas crianças em relação ao sexo; b) os fatores que influem na aderência dos programas de iniciação desportiva pelas crianças em relação a idade; c) os fatores que influem na aderência dos programas de iniciação desportiva pelas crianças em relação às modalidades desportivas. A seleção da amostra investigada foi do tipo Não Aleatória Intencional, composta por 119 crianças de 09 a 12 anos de idade, voluntárias que participam nas diversas escolinhas desportivas da Sociedade Ginástica de Novo Hamburgo. As modalidades investigadas foram: voleibol, basquetebol, handebol, punhobol, tênis, natação, judô e patinação. Os resultados detectados pela preferência dos sujeitos foram: “gosto de estar alegre e me divertir; ficar em forma, ser forte e sadio; melhorar minhas habilidades; encontrar novos amigos; e participar de um grupo esportivo”. Palavras-chave: motivação, aderência, criança, esporte. Abstract Sports is an important agent toward the social and cultural development of the peoples of the world. Nowadays, according to CRUZ (1989), sports is the most important phenomenon of the twentieth century which involves people of different ages. Although it seems easy to understand motivation of a professional athlete that earns a salary, it is not same kind of motivation that makes children to join sports introduction programs (CRATTY, 1983). The measurement instrument used in the study was a Motivational Inventory (GILL, 1983) which was adapted to the investigation and named Motivational 154 Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de Iniciação Desportiva pela criança Factors Instrument (MFI). The study carried out was of a comparative descriptive nature and had the objective to investigate a) the factors that influence adherence to sports introduction programs by children in relation to sex, b) the factors that influence adherence to sports introduction programs by children in relation to age, c) the factors that influence adherence to sports introduction programs by children in relation to the choice of sports activities. The research studied the whole population composed of 119 children whose ages ranged from 9 to 17 years old, volunteers that participated in the different sports school at the Novo Hamburgo Gymnastics Club. The sports researched were volleyball, basketball, handball, fistball (" punhobol"), tennis, swimming, and skating. The results revealed that the subjects were interested in being happy and have fun, being in shape, beiong strong and healthy, improving his/her sports habilites, getting new friends, and paticipating in a sports group. Key words: motivation, adherence, child sports. Introdução Definição do problema Uma análise do esporte, no tempo, mostra que ele tem se constituído num fator importantíssimo para o desenvolvimento social e cultural de todos os povos do mundo, coexiste com o homem desde os tempos mais primitivos. Nos dias de hoje, segundo CRUZ (1989), é um dos fenômenos sociais e culturais mais importantes do século XX. Atualmente, uma parte importante das pessoas em todo o mundo, pertencentes a todas as faixas etárias da população, estão engajadas em programas esportivos (CRATTY, 1989). A carga de treinamento a que são submetidas estas pessoas varia na razão do seu nível de motivação para o esporte. Se de um lado parece mais fácil entender a motivação para o treinamento esportivo de um atleta profissional, que recebe um salário mensal de milhares de reais, não acontece o mesmo com o tipo de motivação que leva muitas crianças a buscarem um programa de iniciação esportiva (CRATTY, 1989). Alguns autores (SCARR,1966; BRAZELTON, 1973) referem-se às diferenças genéticas que podem predizer o posterior envolvimento da criança em atividades esportivas. Por outro lado, ORLICK (1972) enfatiza que as atitudes dos pais, referente aos esportes, são fatores fundamentais na busca da prática desportiva pela criança. Embora alguns autores (CAGIGAL, 1985; ROBERTS, 1986; MENÉNDEZ, 1991) ressaltem a importância da prática do desporto na formação da personalidade das crianças, deve-se reconhecer que muitas delas não se sentem atraídas pela atividade desportiva e adotam um estilo de vida sedentária (CRATTY, 1989). Portanto, a motivação constitui um campo fecundo de investigação psicológica básica e sua aplicação de conhecimento vem sendo utilizada por profissionais das atividades físicas e desportivas. A competência destes profissionais não só demanda do domínio técnico, mas também da capacidade 155 Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de Iniciação Desportiva pela criança para motivar, ajudar e a orientar adequadamente na prática esportiva. Seu êxito profissional requer, portanto, a compreensão profunda dos fatores que a afetam e dos procedimentos para proporcionar um clima adequado para os indivíduos. As pessoas têm muitos motivos para envolver-se em uma atividade física ou esportiva, esses motivos às vezes se complementam e outras podem entrar em conflito. Tanto as situações como as linhas da personalidade são fatores que motivam as pessoas. Para aumentar a motivação deve-se mudar o trato com a criança, como que ajustar-se às necessidades dos participantes. Os líderes influenciam a motivação, tanto por vias diretas como indiretas. Finalmente, as técnicas de modificação da conduta são úteis para mudar os motivos não desejados e fortalecer os positivos (MARTÍNEZ, 1995). Este estudo visa proporcionar subsídios às áreas de Educação Física e de Psicologia Desportiva e especificamente à Iniciação Desportiva, procura-se responder fundamentalmente ao seguinte questionamento: Quais são os fatores motivacionais que influem na aderência de programas de iniciação desportiva pelas crianças? Justificativas Quando se observam as crianças interagindo em um cenário esportivo livre como, por exemplo, no pátio de uma escola, a importância de ser fisicamente competente aos olhos das outras é fundamental para a aceitação pelos demais. Este fato aumenta o interesse e a motivação para as atividades esportivas. Evans (apud ROBERTS & TREASURE, 1992) provou que as crianças que demonstram habilidades físicas são as mais populares. E conseqüentemente recebem mais oportunidades para interagir com seus companheiros e assim desenvolver ainda mais suas relações entre os mesmos. Assim sendo, esta pesquisa pretende contribuir para estabelecer um referencial de princípios, normas e condutas, que devem ser considerados na complexidade do envolvimento da criança no esporte. Pretende-se oferecer à comunidade esportiva, pais, atletas, técnicos, dirigentes, professores, interessados em geral, subsídios, perspectivas e recomendações de medidas pedagógicas, psicológicas e sociais pertinentes ao treinamento e à participação da criança no desporto. Objetivos Objetivo Geral: Analisar os fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de iniciação desportiva pelas crianças na faixa etária de 9 a 12 anos de idade. Objetivos específicos: 156 Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de Iniciação Desportiva pela criança a) identificar os fatores que influem na aderência aos programas de iniciação desportiva pelas crianças, em relação ao sexo; b) identificar os fatores que influem na aderência aos programas de iniciação desportiva pelas crianças, em relação à idade; c) identificar os fatores que influem na aderência aos programas de iniciação desportiva pelas crianças, em relação às modalidades desportivas; Revisão de Literatura Desporto Comenta-se muito sobre os efeitos educativos do desporto, mas se faz muito pouco a este respeito. Entender a dinâmica da prática esportiva, como mecanismo de regulação social, no processo de movimento humano, tem sido um dos assuntos mais estudados e discutidos entre as pessoas que trabalham e pesquisam o desporto. Os fenômenos que interferem no processo de regulação social da prática esportiva é muito complexo, vasto e importante no contexto social. Há inúmeros mecanismos reguladores sociais, todos, sem exceção, importantes. Conceitos Telama (apud MENÉNDEZ, 1991, p. 1) diz: “O desporto em si não educa os jovens. Seus efeitos pedagógicos dependem da situação criada pela atividade desportiva e pela interação social, determinada, na maioria das vezes, pelo treinador. Isto significa que a forma e o método são muito mais importantes que o conteúdo, por exemplo, o desporto praticado”. O educativo das práticas desportivas não é o aprendizado de suas técnicas ou táticas, nem sequer os benefícios físicos e psíquicos de uma boa preparação física que sustenta seu rendimento. Na verdade, o que realmente educa, são as condições em que se realizam essas atividades que permitem ao desportista comprometer e mobilizar sua capacidade, de tal maneira que essa experiência organize e configure seu próprio eu, consiga sua auto-estruturação e seja consciente dela. Todavia, deve-se preocupar mais com a formação do homem, com sua educação e não tanto com a formação do atleta. No momento em que se atingir esse primeiro objetivo, certamente se conseguirá formar, no futuro, um novo atleta (SEIRUL.LO,1992). Para Le Boulch (apud SEIRUL.LO, 1992) um desporto é educativo, quando permite o desenvolvimento de suas amplitudes motrizes e psicomotrizes, em relação aos aspectos afetivos, cognitivos e sociais de sua personalidade. Como já se manifestaram Antonelli e Cagigal (apud MENÉNDEZ, 1991) o desporto é jogo, é competição, é norma. Através das atividades desportivas, 157 Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de Iniciação Desportiva pela criança a criança pode desenvolver a experiência de grupo, o autocontrole e valorizar as relações interpessoais. Assim, a prática desportiva continuada e dirigida pode permitir a aquisição de destrezas específicas, como também de outros objetivos educativos, de hábitos e de valores em relação ao esforço, ao desejo de superação à resistência, à frustração, à aceitação das normas e linha de seu grupo, ao respeito e à solidariedade com os outros. Segundo ROBERTS (1986), o desporto se vê como modelo antecipado da sociedade, preparando a criança para que possa viver na mesma. O desporto contribui no desenvolvimento da personalidade e é também um foco de ensino da responsabilidade, conformidade, subordinação e modela os níveis de aspiração, fomentando o esforço e a persistência. Van Lierde (apud MENÉNDEZ, 1991) já apontava como primordial: o desenvolvimento do espírito de equipe, respeito ao adversário, a educação, a cooperação, a preparação do processo de aprendizagem social; tolerância, responsabilidade, respeito aos demais, ajuda aos colegas, iniciativa, adaptação e a preparação para assumir um lugar chave. O autor faz um comentário sobre o 41o Seminário de Professores Europeus realizado em Donaveschingen em 1988, que teve como tema: "Sem fair-play o desporto não é desporto", onde confirmou que há instituições, separadas do Conselho da Europa, criadas com o objetivo de estimular o "fair-play" e contra a violência e o próprio desporto.Dessa forma um programa de iniciação desportiva deve ser lúdico e educativo, onde o desporto é um meio intencional utilizado, tanto para o desenvolvimento pessoal, quanto para a integração social da criança (GOULD 1987). A criança no esporte As experiências adquiridas pela criança no início das atividades desportivas serão um ponto marcante para o resto da sua vida. Pois, é importante entender as modificações emocionais que ocorrem na criança que pratica o esporte, quando o sucesso ou o fracasso estarão ligados à vitória ou a derrota da sua equipe. Poderiam as derrotas prejudicar emocionalmente as crianças? Somente as vitórias proporcionam benefícios emocionais? Há inúmeros fatores podem motivar as crianças para a prática do esporte competitivo. Entre os mais importantes, segundo CRATTY (1989) estão: o ambiente familiar, na figura do pai, o mais motivante; o professor de educação física e o próprio treinador. Segundo GOULD (1984) as motivações que definem as atividades desportivas, parecem ser: melhorar as suas habilidades, passar bem, fazer amigos, vencer, vivenciar emoções, desenvolver o físico e o bem estar. Assim, o tipo de motivação, nesta idade, pode definir a orientação de jogar. Portanto, o que interessa não é a vitória contra um adversário, mas sim o progresso pessoal. 158 Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de Iniciação Desportiva pela criança Por sua vez SCANLAN (1995) enfatiza que o principal fator pela procura da prática esportiva continua sendo a busca da ludicidade, divertimento e aprimoramento de suas habilidades motoras. A competição deveria ser estimulada apenas para as crianças que demonstrassem esse tipo de interesse dentro do esporte organizado. Para as crianças que não estão interessadas em competir, propiciar outras formas de movimento, que possam atender seus interesses e manter sua motivação. Uma possível explicação é de que há falhas no aspecto educativo, quando se conserva todo um espírito que valoriza a seleção, a vitória, e não respeita as capacidades e as necessidades individuais. Muitas vezes, crianças são levadas a competir, mesmo quando não estão preparadas e sem que haja um equilíbrio entre os participantes, causando uma grande frustração entre as perdedoras em relação ao desporto (ROBERTS, 1995). Conclui-se que o equilíbrio entre o jogo de cooperação e/ou o jogo competitivo que o motiva na busca pela vitória é de extrema importância para a criança. Convém que o professor fale com as próprias crianças e faça esse equilíbrio entre o lúdico e o agonístico do desporto (BRAUNER, 1994). O próximo capítulo será um estudo baseado na psicologia desportiva, onde se busca subsídios para desenvolver a investigação sobre os motivos que levam a criança a buscar as atividades esportivas e o que a mantém na prática por um longo ou curto tempo. Motivação O termo motivação denota os fatores e processos que levam as pessoas à ação ou à inércia em diversas situações. De modo mais específico, o estudo dos motivos implica no exame das razões pelas quais se escolhe fazer algo ou executar algumas tarefas, com maior empenho do que outras ou, ainda, persistir numa atividade por longo período de tempo (CRATTY, 1983). Conceitos Segundo MARTÍNEZ & CHIRIVELLA (1995), as definições sobre motivação são muito vagas, o termo utilizado se aplica em diferentes significados e muitas vezes são contraditórios, o que dificulta a comunicação entre os psicólogos, os treinadores e os desportistas. Já BECKER JR. (1996), define a motivação como: um fator muito importante na busca de qualquer objetivo, pelo ser humano. Os treinadores reconhecem este fato como sendo principal, tanto nos treinamentos como nas competições. Assim sendo, a motivação é um elemento básico para o atleta seguir as orientações do treinador e praticar diariamente as sessões de treinamento. 159 Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de Iniciação Desportiva pela criança Metodologia Caracterização do Estudo O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa descritiva comparativa. Através desta se objetiva analisar os fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de iniciação desportiva pela criança, na faixa etária de 9 a 12 anos de idade. População e Amostra A população foi constituída por crianças participantes dos programas de iniciação desportiva, na cidade de Novo Hamburgo. Foi selecionada, intencionalmente, a Sociedade Ginástica de Novo Hamburgo (SGNH) por ser considerada o Clube que oferece o maior número de modalidades esportivas às crianças da cidade. Esta amostra envolveu todos os praticantes de 09 a 12 anos de idade, de ambos os sexos, voluntários, inscritos nas diversas escolinhas desportivas da SGNH, no total de 119 sujeitos. O objetivo foi verificar quais os fatores motivacionais que levaram as crianças a ingressar nos programas de iniciação esportiva. Modalidades praticadas pelos sujeitos Os sujeitos participantes da amostra praticavam as seguintes modalidades esportivas na SGNH: a) Desporto coletivo - voleibol, basquetebol, handebol, punhobol. b) Desporto individual - tênis, natação, judô e patinação. Instrumentos de medidas Para a presente investigação foi realizada a entrevista estruturada e a semiestruturada: Para investigar o grupo foi utilizado o Inventário de GILL (1983). Composta originalmente por 32 questões, modificado e validado para o idioma português pelo próprio investigador, ficando reduzido a 20 questões, o que objetivou verificar os possíveis fatores motivacionais que levaram as crianças a buscar as atividades desportivas, (anexo 3). Plano piloto Com o objetivo de testar a validade e a fidedignidade dos instrumentos de medidas utilizou-se um plano piloto, obtendo-se dessa forma maior segurança na aplicação da metodologia proposta para o estudo. 160 Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de Iniciação Desportiva pela criança Inventário dos fatores da motivação Para investigar o grupo “M” foi utilizado o Inventário dos Fatores Motivacionais - IFM - composto por 20 questões para verificar os fatores que concorrem para a motivação na busca pela prática de atividades esportivas. Tratamento estatístico Os dados aferidos pelo IFM foram tratados pelo pacote estatístico SPSS, através da estatística descritiva com gráficos das médias, dos desvios-padrão, bem como se utilizou a estatística inferência, a Análise de Variância e o teste F. Resultados e discussão Resultados da Investigação Os resultados apresentados serviram para caracterizar a amostra na variável estudada. A seguir, apresentar-se-ão dados dos fatores motivacionais que as crianças consideram como mais significativos para participar das atividades esportivas. Estes resultados foram analisados através da estatística descritiva (média aritmética e desvio padrão) e inferêncial (análise de variância, teste “F” e teste de Tukey). Verificou-se que não existiram diferenças estatisticamente significativas, ao nível de 5%. Notou-se que as pontuações médias obtidas nas dezenove questões do Instrumento dos Fatores de Motivação (IFM), respondido por 119 crianças, das faixas etárias entre 9 e 12 anos. Como pode notar, as questões que apresentaram as maiores pontuações foram: Gosto de estar alegre, me divertir; ficar em forma, ser forte e sadio; melhorar as minhas habilidades; encontrar novos amigos; modalidades coletivas enquanto que na questão n° 13 – Gosto do esporte individual - obteve-se a menor pontuação média, das categorias de motivação estudadas. Sugestões Com o intuito de maximizar o desporto fazem-se as seguintes sugestões: - Estabelecer como meio de motivação para as crianças, objetivos e desafios realistas e atingíveis, dentro do treinamento e da própria competição; - Utilize no treinamento materiais e técnicas diversificadas e atividades dinâmicas, para evitar a monotonia do trabalho; - Evite frustrações, aborrecimentos e estresse constante através de maus resultados. Faça competições com adversários da mesma categoria e faixa etária; - Desenvolva atividades lúdicas num ambiente alegre, isto favorece a motivação do grupo; - Para a criança ter sucesso no esporte é preciso associá-lo ao “esforço”, à “garra”, à “luta”, à “determinação” e não somente ao resultado final da competição; 161 Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de Iniciação Desportiva pela criança - O esporte de rendimento deve ser estímulo apenas para as crianças que têm esse interesse. Para as demais, deve-se propiciar outras formas de atividades que possam atender os seus interesses; - Proporcionar, na mesma intensidade, jogos de cooperação e de rendimento, para que se tenha um equilíbrio entre o lúdico e o agonístico do desporto; - Amenizar um pouco o controle que se faz sobre os jovens esportistas em relação à sua vida, dentro e fora do esporte, não os obrigando a levar um estilo de vida muito diferente dos demais jovens; - Novas pesquisas na área, controlando-se um maior número de variáveis, tais como: modalidades desportivas, faixa etária, amostra, entre outras; - Realizar novos estudos com ênfase na visão que tem os técnicos, dirigentes e pais. Unitermos Motivação, aderência, criança e esporte. Referências Bibliográficas BECKER JR, B. El efecto de tecnicas de imaginacion sobre patrones lectroencefalograficos, frecuencia cardiaca y en el rendimiento de practicantes de baloncesto con puntuaciones altas y bajas en el tiro libre. Tesis doctoral. 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Este estudo objetiva, através de um modelo teórico, detectar os fatores motivacionais que os levam ao abandono “burnout” das atividades. Revisando-se criticamente a literatura das teorias existentes, dos estudos realizados com o tema, observou-se que normalmente o abandono ocorre entre os 12 e 17 anos de idade em ambos os sexos. Investigou-se 221 expraticantes de 11 a 18 anos de idade. Utilizou-se um instrumento de medida para avaliar o abandono no esporte denominado Instrumento dos Fatores do Abandono (IFA). O estudo caracteriza-se por uma pesquisa descritiva comparativa e tem como objetivo investigar: a) os fatores que influem no abandono dos programas de iniciação em relação ao sexo; b) os fatores que influem no abandono dos programas de iniciação desportiva pelas crianças em relação a idade; c) os fatores que influem no abandono dos programas de iniciação desportiva pelas crianças em relação às modalidades desportivas. Os resultados indicaram que 33,93% dos sujeitos abandonaram a pratica do desporto, sendo 53,33% do sexo masculino e 46,67% do feminino. Os fatores que mais contribuíram para o “burnout” foram: “relacionamento com o técnico; falta de apoio do técnico; relacionamento com companheiros de equipe; pressão e cobrança excessiva pelo técnico e não ser tão bom quanto gostaria”. Palavras-chave: motivação, abandono, criança, esporte. Abstract It can be observed through a systemic observation of many years that a great number of children starts to participate in sports activities through sports sports introduction programs. It can also be noticed that after a determined period of time many of the children engaged in these kind of programs lose motivation and quit the activities. This study has the purpose to find out, through a theoretical framework, the motivational factors that make children to withdraw from such activities. After a careful review of the related literature it was observed that the activities withdrawal happens between the ages of 12 and 17 in both sexes. The sample of this study was composed of 221 sports participants that quitted sports activities in the ages ranging from 11 to 18 165 Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança years old. It was used an instrument to assess sport burnout called Burnout Factor Instrument (BFI). This was a comparative descriptive study whose objective was to investigate a) the factors that influence children withdrawal from sports introduction programs in relation to sex, b) the factors that influence children withdrawal from sports introduction programs in relation to age, c) the factors that influence children withdrawal from sports introduction programs in relation to the kind of sports chosen. The results indicated that of the 33.93% of the subjects who quitted sports introduction programs, 53.33% were male and 46.67% were female. The burnout factors observed in the sample were the relationship with the coach, the lack of technical support, the relationship with teammates, problems such as pressure and good results demanded by the coach, and not be a good athlete as it was wanted. Key words: motivation, quit (burnout), child sports. Introdução Através da observação assistemática de muitos anos constatou-se que um enorme contingente de crianças iniciam a participar das atividades esportivas através dos programas de iniciação desportiva. Após um determinado tempo começam a perder a motivação pela prática e passam a abandonar estas atividades. Este estudo objetiva, através de um modelo teórico, detectar os fatores motivacionais que os levam ao abandono “burnout” das atividades. Revisando-se criticamente a literatura das teorias existentes, dos estudos realizados com o tema, observou-se que normalmente o abandono ocorre entre os 12 e 17 anos de idade em ambos os sexos. Investigou-se 221 expraticantes de 11 a 18 anos de idade. Utilizou-se um instrumento de medida para avaliar o abandono no esporte denominado Instrumento dos Fatores do Abandono (IFA) Assim como é fácil entender a grande motivação pela prática das atividades esportivas, por outro lado, também existem crianças que apresentam, após algum tempo, desinteresses e uma baixa radical da mesma, que leva a um quadro chamado “burnout” (queima), caracterizado por intensos sentimentos negativos, cujo desenlace provoca o abandono do esporte. Este estudo visa proporcionar subsídios às áreas de Educação Física e de Psicologia Desportiva, a fim de responder fundamentalmente ao seguinte questionamento: Quais os fatores motivacionais que influem no abandono de programas de iniciação desportiva pelas crianças? 166 Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança Objetivos Objetivo Geral: Analisar os fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de iniciação desportiva pelas crianças na faixa etária de 11 à 18 anos de idade. Objetivos específicos: a) identificar os fatores que influem no abandono aos programas de iniciação desportiva pela criança, em relacionados ao sexo; b) identificar os fatores que influem no abandono aos programas de iniciação desportiva pela criança, relacionados à idade; c) identificar os fatores que influem no abandono aos programas de iniciação desportiva pela criança, relacionados às modalidades esportivas. Revisão de Literatura Conceito de Abandono O quadro de abandono de uma atividade profissional foi chamada, pela primeira vez, de “burnout” por Freudenberg em 1974 e conceituada por Maslach & Jackson em 1981 e 1986 (apud GARCÉS y CANTON, 1995, p.3) como: “uma síndrome tridimensional caracterizada pelo esgotamento emocional, despersonalização e reduzida realização pessoal”. Felder (apud GARCÉS y CANTON, 1995, p.4) conceitua o “burnout” no desportista como: “uma reação aos estressores da competição desportiva que estaria caracterizada pelo esgotamento emocional, atitudes impessoais para com os sujeitos do seu convívio e diminuição do rendimento desportivo”. Weinberg (apud GOULD, 1995) caracterizou cada uma das dimensões da seguinte forma: - Esgotamento, tanto físico como emocional, que se manifesta em forma de baixo conceito de si mesmo, falta de energia, de interesse e de confiança; - Insensibilidade, que vem refletida nas respostas negativas para os outros; - Sentimentos de baixa realização pessoal, baixa auto-estima, sensação de estar falhando e depressão, que se faz visível a partir de uma baixa produtividade ou de um decréscimo do nível de rendimento. Loehr (apud GARCÉS y CANTON, 1995) numa outra intenção de conceituar a síndrome, entende que a aparição da mesma, no desportista, é fruto de três fases consecutivas: a) Começa a diminuir o sentimento de entusiasmo e energia, já que as ilusões que motivaram a iniciação no desporto não seguem acompanhadas dos sentimentos positivos originais, ao cair dentro do sistema competitivo estabelecido; b) A falta de energia, que começa a manifestar-se provoca no desportista uma série de bloqueios que o afetam no treinamento e na competição, o que provoca angústia e abandonos; 167 Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança c) Se a fase anterior se prolonga por demasiado tempo, aparecerá a perda de confiança de auto-estima, depressão, alienação e abandono definitivo do esporte. Estudos demonstram que um grande número de crianças, que ingressam no esporte, interrompem o seu envolvimento. Embora muitos voltem a praticar, milhões ainda permanecem fora dos esportes. Estes dados surpreendentes têm alarmado os estudiosos, especialmente sabendo-se que os esportes infantis, quando conduzidos apropriadamente, têm efeitos benéficos sobre àqueles que os praticam (MARTENS, 1978). Hand (apud BECKER JR., 1996) enfatiza que crianças, desde os 10 anos de idade, assinam contrato profissional no esporte (através de seus pais ou responsáveis), sofrendo pressões inerentes às competições de alto nível. Numa sociedade estruturada para a competição e para o resultado, a busca incessante pela vitória nas atividades desportivas é constante. Quando esses objetivos pessoais não são alcançados, podem provocar desejos de abandonar o esporte, muitas vezes, de maneira precoce (OLIVEIRA, 1993). Fatores que influem no abandono do esporte pela criança DUDA (1989) verificou que tanto os meninos, como as meninas, preferem ter êxitos no campo esportivo do que obter em sala de aula. Nos estudos realizados por Roberts (apud OLIVEIRA, 1993) 80% das crianças americanas matriculadas em programas de esporte abandonam os mesmos entre as idades de 12 a 17 anos. Portanto, há um paradoxo. Apesar de desejar ter mais sucesso na participação desportiva, do que nos seus estudos, a grande maioria das crianças, no estudo de DUDA (1989) acaba abandonando o desporto após os 12 anos. Cientistas esportivos, estudando as razões para os conflitos geradores de “burnout” nos esportes infantis, chegaram a diferentes conclusões. Alguns autores como Orlick; Orlick & Botterill; Pooley; Feigley (apud GOULD, 1987) têm concluído que eles podem resultar de: a) uma ênfase excessiva na competição; b) desgaste por demasiado treinamento; c) organização e instrução inadequadas. Outros, ainda, como Guppy & Mckay; Gould & Horn (apud GOULD, 1987) têm concluído que a maioria das crianças não interrompem o seu envolvimento nos esportes, completamente, mas que o fazem por um curto espaço de tempo ou abandonam um esporte para entrar em outro. Dishman (apud FREITAS JR., 1994) afirma que aproximadamente 50% das pessoas, abandonam os programas de atividade física após um período que varia de 6 meses a um ano. Já Robertson & Mutrie (apud FREITAS JR., 1994) vão além e revelam que a taxa do abandono nos programas de atividades físicas alcança o índice de 168 Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança 70%. Esta alta taxa de abandono faz com que muitos estudiosos se preocupem cada vez mais em motivar e estimular as pessoas para a prática esportiva. Autores como Heyward e Gill (apud FREITAS JR., 1994) defendem a idéia de que para reverter essa situação de abandono, é necessário que o profissional crie nas pessoas uma atitude positiva em relação à atividade desportiva. Estudos Descritivos sobre o Abandono do Esporte Como principais causas para o abandono, GOULD (1984), refere-se a excessiva ênfase pela vitória, a falta de sucesso, o envolvimento em outras atividades e outros interesses - desconforto, derrota, situações constrangedoras, falta de motivação, lesões e a forma de seleção para a formação das principais equipes, também aparecem citadas de forma bastante intensa. Para ORLICK (1972) estudando 32 crianças entre 8 e 9 anos, que abandonaram os esportes juvenis, a falta de participação, o medo do fracasso, a desaprovação por colegas e o estresse psicológico foram os fatores básicos para a decisão das crianças em abandonar os esportes competitivos. Geralmente, quando ocorre este quadro é porque elas estão reagindo a um ambiente negativo, criado pelos treinadores e pela própria estrutura dos esportes. Segundo Anshel (apud OLIVEIRA, 1993) o fato de promover competições entre crianças de diferentes níveis, a falta de conhecimento de suas capacidades e a falta de motivação interna são os fatores de maior incidência encontrados entre os jovens, que abandonaram os programas desportivos. Por outro lado, Siedentop & Ramy (apud OLIVEIRA, 1993) mostraram que a persistência na motivação externa, através das premiações, leva a criança a perceber o jogo como uma forma de trabalho. Assim, a ausência de motivação interna torna-se predominantemente o maior motivo que leva ao abandono. Por sua vez, ROBERTS (1984) argumentou que a percepção de competência, que todos desenvolvem através das experiências de êxito ou de fracasso, no sentido de lucro, é o construto responsável, que determina a percepção de estresse competitivo que decidirá a continuidade ou o abandono do esporte. Orlick e Botterill (apud GOULD, 1987) entrevistaram extensivamente 60 ex-participantes de esportes com idades entre 7 e 19 anos atletas de beisebol, hockey sobre o gelo, futebol e natação. Os estudos revelaram que 40 das 60 crianças (67%) se retiraram por causa de demasiada pressão do programa. O estudo mostra que 30 dessas 40 crianças interromperam sua participação por causa da natureza competitiva do programa, citando sua falta de diversão, a seriedade do esporte e a ênfase no vencer, como os principais motivos para o abandono. Outras 10 crianças indicaram que se retiraram por causa das ações 169 Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança dos treinadores, o que incluía coisas como deixar jogadores fora dos jogos, críticas constantes aos jogadores e por exigir demais dos atletas. Na investigação de Sapp e Haubenstricker (apud GOULD, 1987) com 1.183 atletas, de ambos os sexos, entre as idades de 11 e 18 anos e pais de 418 atletas entre 6 e 10 anos, os autores fizeram um levantamento tanto dos motivos para a participação quanto dos motivos para o abandono dos esportes. Esta pesquisa foi desenvolvida em várias modalidades esportivas: golfe, futebol, tênis etc... 35% dos atletas e 24% dos pais indicaram que eles e seus filhos não pensavam em participar da temporada seguinte. Dos atletas que indicaram não participar, 64% disseram que estariam envolvidos em outras atividades, 44% que estariam trabalhando e 34% citaram o desinteresse, como os motivos principais para o abandono. Menos do que 15% citaram a falta de participação, antipatia pelo treinador, lesões, custo e antipatia por colegas como um fator importante. Os estudos de Robertson (apud GOULD, 1987) envolveram a avaliação das desistências em 405 meninos e 353 meninas com 12 anos de idade, exatletas. Os resultados revelaram que 51% dos meninos e 39% das meninas interromperam por causa do programa esportivo em si. Argumentaram que não tinha graça, que era entediante, violento ou ainda porque nunca jogavam...; 14% dos meninos e 17% das meninas citaram conflitos com a vida social (sem tempo livre, vida social, conseguiu um emprego...) e 12% dos meninos e 10% das meninas citaram outros conflitos esportivos como motivo principal para o abandono. Petlichkoff encontrou que os motivos que levam o atleta mais novo a abandonar não são os mesmos dos atletas mais velhos, pois eles citaram motivos diferentes. Assim, se descobriu que o abandono por parte dos atletas mais jovens se deve mais a fatores sociais, como o encontro de novos amigos e a conquista do reconhecimento (GOULD, 1987). Por sua vez Fry, McClements & Sefton (apud GOULD, 1987) pesquisaram entre 200 jovens de 8 a 16 anos e constataram que: 31% conflitos de interesse; 15% falta de habilidade; 14% antipatia pelo treinador; 10% violência no esporte; 10% dificuldades organizacionais e 10% outros motivos. As crianças mais novas (abaixo dos 9 anos) citaram o tédio ou a falta de divertimento e a falta de habilidade, como os fatores mais importantes. Um dos mais bem planejados estudos sobre o abandono foi realizado por Robinson & Carron (apud GOULD, 1987). Uma variedade de fatores pessoal e situacional foi selecionada. Incluíram a ansiedade competitiva, motivação para realizações, auto-motivação, auto-estima, atitudes em relação à competição etc... As variáveis foram avaliadas em 98 jogadores de futebol americano e descobriu-se que aqueles que abandonaram se sentiam menos participantes da equipe, se divertiam menos, sentiam-se menos apoiados por seus pais, e mais freqüentemente se queixavam do treinador. A investigação 170 Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança destes autores é importante porque ela sustenta a noção que o processo de atrito nos esportes juvenis é um fenômeno complexo, influenciado por uma infinidade de variáveis pessoais e situacionais. Estresse Para entender os processos emocionais e motivacionais humanos e, em concreto, o fenômeno de “burnout”, necessitamos encontrar sua base explicativa, e esta se encontra muito ligada aos processo de ansiedade, especialmente com seu componente cognitivo. Neste sentido, GARCÉS Y CANTON (1995, p.67) definem o estresse como: “o juízo cognitivo que a pessoa realiza ao avaliar seus recursos pessoais e que são incapazes de dar resposta às demandas por um acontecimento particularmente indesejável ou difícil de evitar, e que conduz a uma emoção de medo”. Fontes de estresse no esporte Num levantamento de interesses de treinadores e psicólogos na área do esporte, Gould (apud BECKER JR.,1996) verificou entre os desportistas jovens, que um dentre os três assuntos mais importantes era o estresse competitivo. Portanto, apesar dos inúmeros fatores que influenciam a criança para a prática do desporto, muitas vezes há uma situação de estresse, principalmente quando a competição é intensa e quando há uma cobrança muito grande pela vitória. O medo de errar, de falhar na execução dos gestos técnicos esportivos, ou de perder o jogo, se apresentam como fatores que tendem a propiciar o estresse de competição (OLIVEIRA, 1993). SCANLAN & SIMONS (1995) citam o estresse de competição como uma reação emocional altamente negativa para uma criança, quando sua auto-estima é ameaçada. O medo de errar é a causa mais comum da origem, que provoca o estresse de competição. Tende a aumentar com a idade, sendo bastante visível aos 12 anos, coincidindo com o período de maior índice de abandono das práticas desportivas. O receio de errar é provocado, principalmente, em função da importância que os adultos depositam sobre na vitória. Consideram sucesso somente quando o resultado final do jogo for favorável e este passa a ser o objetivo final. Há inúmeras pesquisas que identificaram as fontes que provocam o estresse e que podem influenciar na decisão da criança em abandonar o esporte. ROBERTS (1986) cita os trabalhos de Scanlan e de Passer que determinaram os seguintes elementos responsáveis pelo estresse competitivo das crianças: a) crianças com alto nível de ansiedade competitiva; b) crianças que apresentam uma baixa auto-estima; c) crianças com expectativas mais baixas de realizar bem a tarefa; d) crianças que têm medo da avaliação do treinador ou dos pais; e) crianças que percebem por parte dos pais uma 171 Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança pressão maior; f) crianças que perdem seguidamente as competições. Nestes casos, nota-se um maior nível de ansiedade nos ambientes esportivos. Acredita-se, que um dos critérios mais importantes, que leva a criança a abandonar ou a continuar na prática do desporto está diretamente ligado aos resultados, vencer ou perder. Se ela ou sua equipe vencer, se sentirá competente e gostará da experiência. Conseqüentemente, receberá pouco estresse e provavelmente continuará na atividade desportiva. Por outro lado, se ela ou sua equipe perder, se sentirá incompetente e a sua experiência será desagradável. Essa criança torna-se forte candidata ao abandono das atividades desportivas (ROBERTS, 1984). A percepção que a criança tem, sobre a sua habilidade, é fundamental para compreender sobre o seu estresse competitivo. Se as exigências desportivas são consideradas maiores do que as habilidades que possui para realizá-las, ocorre o estresse competitivo e poderá originar a ansiedade. Se a criança percebe que sua habilidade é maior do que o desporto requer, poderá resultar no seu aborrecimento. Portanto, as condutas dessas crianças mudarão de acordo com suas percepções (WINTERSTEIN, 1992). Segundo ROBERTS (1994) a criança com habilidade elevada percebe que não lhe é exigido o suficiente, além de se aborrecer poderá tornar-se exibicionista. A criança que percebe que as suas habilidades satisfazem as exigências do jogo, se esforça e se diverte demonstrando-as, em especial após os 12 anos. Estas são as crianças entusiastas que querem ter êxito e possivelmente continuarão praticando o desporto. Fases evolutivas do “burnout” Para a aparição do “burnout”, Loher (apud BECKER JR., 1996) aponta três fases evolutivas: a) Os sentimentos de entusiasmo e de energia começam a diminuir; b) A falta desta capacidade energética leva à angústia e abandonos conjunturais; c) Ao final se produz uma perda de confiança, de auto-estima, aparecimento de depressão, alienação e abandono. Os principais sintomas do “burnout” Segundo Cherniss; Pinis, Aronson & Katry; Maslach & Jackson (apud GARCÉS Y CANTON, 1995) os principais sintomas causados pelo “burnout” são: atitudes negativas, insensibilização, culpa e diversos problemas associados à fadiga, insônia, dores de cabeça, resfriados permanentes, problemas digestivos, abuso do álcool e drogas, problemas de socialização e depressão. 172 Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança Resultados e discussões Observando o "burnout" entre jovens que praticam esporte, encontrou-se que dos entrevistados, 108 rapazes (48,87%) e 113 moças (51,13%) deixaram de freqüentar o clube. Destes, 75 adolescentes realmente pararam de praticar desporto, os demais 134 responderam que já retornaram a praticar, no próprio clube ou em outro local, mas enfim estão realizando uma atividade esportiva regularmente. Dos 75 entrevistados que responderam que não estão praticando esporte, 40 (53,33%) são rapazes e 35 (46,67%) moças. Como se pode observar, não encontrou-se diferenças estatisticamente significativas, ao nível de 5%, no número de casos "burnout" entre os rapazes e as meninas. Entre os rapazes 24 (60%) responderam que gostariam de retornar e somente 16 (40%) realmente não pretendem retornar, e entre as meninas 20 (57,14%) responderam que gostariam de retornar e apenas 15 (42,86%) não gostariam. Outra informação levantada pelo instrumento foi que dos 221 expraticantes, 97 (43,89%) adolescentes não chegaram a competir e 124 (56,11%) dos adolescentes competiram pelo clube. Notou-se que muitos jovens freqüentaram mais de uma modalidade de Iniciação Desportiva, totalizando 273 vagas ocupadas. Outros dados valiosos foram levantados em relação ao número de participantes nos programas de treinamento e posteriormente nas competições. Por esses dados pôde se constatar que o esporte individual, principalmente a natação, foi a modalidade em que mais participantes ingressaram nas escolinhas (100 crianças) e destes, somente 13 atletas competiram. Portanto, foi a modalidade que apresentou a maior porcentagem de abandono, ou seja, somente 13% dos participantes, que ingressaram na iniciação da natação, chegaram a competir pela modalidade, seguidos pelo voleibol, com 41 vagas ocupadas e o tênis, com 39 vagas ocupadas. Percebe-se que o alto índice de abandono ocorre nos 3 primeiros anos de atividades esportivas. Portanto, no decorrer do trabalho vou tentar verificar quais são as causas deste índice de abandono, principalmente nos primeiros anos. Conclusões e sugestões Conclusões Com base nos resultados obtidos com este estudo, que teve como objetivo analisar os fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de iniciação desportiva pelas crianças, na faixa etária de 9 a 12 anos de idade, chegou-se às seguintes conclusões: - Entre os 221 sujeitos investigados, no grupo caracterizado de abandono burnout”da prática desportiva, na Sociedade Ginástica de Novo Hamburgo, somente 75 realmente abandonaram as atividades esportivas; 173 Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança - Na aplicação do Instrumento dos Fatores do Abandono, na Sociedade Esportiva Ginástica de Novo Hamburgo, identificou-se a ordem dos fatores que provocam o quadro do “ burnout”: a - relacionamento com o técnico; b - monotonia nos treinamento; c - falta de apoio por parte do técnico; d - relacionamento com companheiros da equipe; e - não ser tão bom como gostaria; f - pressão e cobrança excessiva por parte do técnico; g - estresse da competição. Sugestões Com o intuito de minimizar o fenômeno de “burnout” fazem-se as seguintes sugestões: - Estabelecer como meio de motivação para as crianças, objetivos e desafios realistas e atingíveis, dentro do treinamento e da própria competição; - Utilize no treinamento materiais e técnicas diversificadas e atividades dinâmicas, para evitar a monotonia do trabalho; - Detecte entre seus atletas sintomas peculiares ao fenômeno do “burnout”; - Evite frustrações, aborrecimentos e estresse constante através de maus resultados. Faça competições com adversários da mesma categoria e faixa etária; - Desenvolva atividades lúdicas num ambiente alegre, isto favorece a motivação do grupo; - Para a criança ter sucesso no esporte é preciso associá-lo ao “esforço”, à “garra”, à “luta”, à “determinação” e não somente ao resultado final da competição; - O esporte de rendimento deve ser estímulo apenas para as crianças que têm esse interesse. Para as demais, deve-se propiciar outras formas de atividades que possam atender os seus interesses; - Proporcionar, na mesma intensidade, jogos de cooperação e de rendimento, para que se tenha um equilíbrio entre o lúdico e o agonístico do desporto; - Amenizar um pouco o controle que se faz sobre os jovens esportistas em relação à sua vida, dentro e fora do esporte, não os obrigando a levar um estilo de vida muito diferente dos demais jovens; - Novas pesquisas na área, controlando-se um maior número de variáveis, tais como: modalidades desportivas, faixa etária, amostra, entre outras; - Realizar novos estudos com ênfase na visão que tem os técnicos, dirigentes e pais. Unitermos Motivação, abandono, esporte, criança. 174 Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de Iniciação Desportiva pela criança Referências bibliográficas BECKER JR, B. 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Revista Paulista de Educação Física, Jan/Jun., São Paulo: 1992. 176 Correlação de parâmetros cinemáticos angulares com velocidade linear durante corrida em esteira Leonardo Alexandre Peyré Tartaruga – INDESP – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Marcus Peikriszwili Tartaruga; Leonardo Rossato Ribas - Sociedade Ginástica Porto Alegre/SOGIPA Jefferson Fagundes Loss - INDESP – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Luiz Fernando Martins Kruel - INDESP – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Resumo A proposta deste estudo foi correlacionar parâmetros cinemáticos angulares (velocidade e deslocamento angular) de segmentos inferiores com velocidade horizontal de corrida, entre diferentes intensidades de corrida, através de análise em retratos de fase, durante corrida em esteira. Sete rapazes, corredores de meia-distância de nível nacional, foram solicitados para correr em intensidades de esforço de trote, rodagem, ritmo de 5/10km, tiros de 400/800m e tiros de 100/200m. Três passadas completas foram gravadas em vídeo. Empregou-se o método de análise de duas dimensões para analisar o movimento dos segmentos inferiores. Foi utilizado o teste de Pearson (P<0,05) para determinar a correlação entre as variáveis. Os coeficientes de correlação (r) entre velocidade linear e velocidade angular de perna e coxa foram respectivamente 0,90 e 0,91, enquanto que os valores encontrados de r entre velocidade linear e amplitude de deslocamento angular em perna e coxa foram 0,79 e 0,87 respectivamente. Os resultados revelam que todas as variáveis angulares apresentaram um alto r positivo com velocidade horizontal, isto é velocidade e deslocamento angular de perna e coxa são preditores da performance em corredores de meia-distância. Palavras-chave: corrida, meia-distância, cinemática, retratos de fase, correlação. Abstract The purpose of this study was to correlate angular kinematic parameters (angular velocity and range of motion) of lower limb versus horizontal velocity, among subjective effort intensities, through phase portrait analysis, during treadmill running. Seven male middle-distance runners of national level were requested to run in intensities of regenerative effort, long aerobic, 5/10km, 400/800m and 100/200m. Three complete running steps were recorded. Two-dimensional analysis methods were employed to analyse the lower limb movement. A Pearson Product Moment Correlation was used on the data to determine any relationship between variables. The correlation 177 Correlação de parâmetros cinemáticos angulares com velocidade linear durante corrida em esteira coefficients between horizontal velocity and angular velocity of shank and thigh were 0.90 and 0.91 respectively, while the correlation coefficients between horizontal velocity and range of motion in shank and thigh were 0.79 and 0.87, respectively. All the correlations obtained a significant index equal to or smaller than 0.0001. The results revealed that the range of motion and angular velocity of shank and thigh are performance predicters to male middledistance runners. Key words: running, middle-distance, kinematics, phase portraits, correlation. Introdução Experimentos conduzidos por Marey em 1880 demonstraram as primeiras análises cinemáticas do movimento de corrida a partir de um sistema que pudesse oferecer uma seqüência de quadros mais rápida do que nossos olhos podem observar (Douard, 1995). A cinemática inserida como uma sub-área da biomecânica têm no esporte um vasto campo de aplicação. De uma forma geral, um dos principais objetivos da pesquisa relacionada à área da biomecânica é a otimização dos movimentos humanos e a melhoria da performance no esporte (Hatze, 1976). Dentre as formas de análise mais utilizadas na biomecânica aplicada ao esporte têm-se os estudos de correlação, nos quais verificam-se relações de dependência entre variáveis. Segundo Zatziorsky apud Hay, Wilson & Dapena (1976), se um parâmetro biomecânico apresenta uma alta correlação linear com a performance desportiva e se existe uma relação lógica de causa e efeito entre as variáveis, pode-se sugerir, a melhora da performance através do aperfeiçoamento da variável biomecânica. Dentro dos diversos movimentos esportivos, a corrida é um objeto de estudo que vem recebendo a atenção, da biomecânica esportiva, ao longo das últimas décadas (Elliott & Blanksby, 1976; Nigg, et al., 1994; Wanck et al., 1998; Tartaruga et al. 1999; Tartaruga et al. 2000 e Tartaruga et al. 2001). O rendimento na modalidade de corrida é representado através do tempo utilizado para percorrer a distância ou pela velocidade média da prova. Partindo desta premissa, observa-se que a velocidade de corrida é caracterizada pelo produto do comprimento de passada vezes a freqüência de passada. Para Donati, (1995) atletas de rendimento alcançam sua máxima velocidade adotando apenas uma relação específica entre comprimento e freqüência de passada e qualquer alteração significativa no comprimento ou na freqüência de passada pode causar uma redução na velocidade. Porém, investigações mais minuciosas acerca da variação cinemática da corrida associada com o aumento da velocidade linear, têm sido realizadas com objetivo de identificar as variáveis mais significativas na eficiência da corrida. Avaliando o comportamento de segmentos corporais relacionados com a eficiência de corredores, Arnhold & McGrain (1985) afirmam que a amplitude angular do segmento coxa é a variável que mais obtêm correlação com 178 Correlação de parâmetros cinemáticos angulares com velocidade linear durante corrida em esteira 1800 160 1600 140 1400 120 1200 100 1000 80 800 60 600 40 400 20 200 0 Deslocamento Angular (º) Velocidade Angular (º/s) velocidade de corrida. Coh et al. (1998) complementam afirmando que de uma forma geral, os parâmetros cinemáticos são muito mais importantes do que as variáveis dinâmicas (força máxima no eixo X e Y, impulso na fase de amortecimento, impulso na fase de propulsão, etc) para a predição da velocidade horizontal de corrida. Além disso, no estudo desenvolvido por Tartaruga et al. (1999), avaliou-se a velocidade angular e deslocamento angular dos segmentos corporais perna e coxa, em diferentes intensidades de esforço. Neste estudo, observou-se prováveis comportamentos lineares entre variáveis cinemáticas angulares de membros inferiores e velocidades de corrida (figura 01), porém sem uma análise mais objetiva destas hipotéticas relações. Figura 01 - Gráfico de velocidade e do deslocamento angular de segmentos inferiores de corredores em diferentes intensidades de esforço (Tartaruga et al., 1999). O objetivo do presente estudo foi avaliar a relação de dependência da velocidade linear contra variáveis angulares de membros inferiores na corrida em esteira rolante. vel.ang. perna vel.ang. coxa desloc. ang. perna desloc. ang. coxa 0 trote rodagem 5\10Km 400\800m 100\200m Metodologia Participaram deste estudo, 9 corredores de meia-distância (idade: 17,8 ± 2,6 anos; massa: 66,5 ± 2,5 kg; estatura: 1,77 ± 0,05 m). Os sujeitos são corredores de elite estadual e nacional de provas de corrida de meia-distância do atletismo, todos integrantes da equipe de atletismo da Sociedade Ginástica Porto Alegre (SOGIPA) inscritos na Federação Atlética Rio-Grandense (FARG). Quadro 1 - Protocolo desenvolvido por Wilder & Brennan (1993) e modificado neste estudo. # 10 min – Aquecimento (trote) # 2 min – Ritmo de trote # 2 min – Ritmo de rodagem # 2 min – Ritmo de 5Km\10Km # 1 min – 400m\800m # 30 seg – 100m\200m # 3 min – Recuperação (6.5Km/h) Obs: Entre cada tiro há um intervalo ativo (vel=6.5 Km/h) de 30 s -1 min. 179 Correlação de parâmetros cinemáticos angulares com velocidade linear durante corrida em esteira A cinemática do movimento de corrida foi registrada por vídeo. A análise bidimensional foi realizada com uma câmera fixa, distante 3,5 m da esteira, ligada a um sistema de vídeo (Peak Performance vs 5.3), no plano sagital, com uma velocidade de aquisição de dados de 60 quadros por segundo. Para um melhor contraste dos marcadores a serem digitalizados, utilizou-se fitas reflexivas nas articulações do tornozelo, joelho e quadril. Cada indivíduo executava 10 minutos de corrida no chão para o aquecimento, ao final destes 10 minutos, o corredor se dirigia para o teste, na esteira rolante. O sujeito realizava, portanto o teste, baseado na escala de sensação subjetiva, para corredores, desenvolvida por Wilder & Brennan (1993), conforme Quadro 1. A execução da filmagem foi após os momentos de estabilização do corredor na determinada velocidade. Esta velocidade foi determinada oralmente ou gestualmente pelo próprio corredor a partir de sua sensação subjetiva ao esforço. Decodificação dos Dados Os dados de velocidade linear foram adquiridos a partir da velocidade da esteira rolante (leitura digital). Foram digitalizados três ciclos de passada para cada intensidade, onde todas as curvas foram filtradas com um filtro de passa baixa Butterworth, e freqüência de corte de 11Hz. Após os cálculos de coordenadas e parâmetros, foi realizado os gráficos de retratos de fase. Em cada sujeito, foram calculados, em três passadas contínuas, os valores médios de todas as variáveis angulares. A estatística utilizada foi do tipo correlacional. A partir dos retratos de fase, foram passados os dados de velocidade e deslocamento angular para o pacote estatístico SPSS v. 8.0, para realizar o teste Produto Momento de Pearson entre as variáveis cinemáticas angulares: deslocamento e velocidade angular contra velocidade linear. O índice de significância adotado foi de 0,05. Resultados e discussão Os resultados de correlação entre velocidade linear e amplitude angular de segmentos perna e coxa estão representados na figura 02. Os dados de amplitude angular do segmento perna e coxa foram plotados no eixo x e as respectivas velocidades de esteira no eixo y. Pode-se observar que a amplitude angular obteve uma clara relação linear positiva com a velocidade de corrida, isto é, na medida em que aumentou a amplitude angular dos segmento inferiores, houve um acréscimo linear da velocidade de corrida. Tanto a amplitude angular do segmento perna quanto a amplitude angular do segmento coxa obtiveram coeficientes de correlação altos, com um nível de significância igual a 0,0001. No segmento perna, em azul o r foi igual a 0,79, e no segmento coxa em vermelho o r foi igual a 0,87. 180 velocidade de corr ida (Km/h) Correlação de parâmetros cinemáticos angulares com velocidade linear durante corrida em esteira 30 r = 0,79 20 r = 0,87 10 segmento perna segmento c oxa 0 20 40 60 80 100 120 140 160 amplitude angular (graus) Figura 02 - Correlação linear entre velocidade de corrida e amplitude angular dos segmentos perna e coxa. velocidade de cor rida (km/h) Na Figura 03, determinou-se a velocidade angular no eixo x, enquanto que a amplitude angular dos segmentos perna e coxa foram determinadas no eixo y. Em relação a velocidade angular dos segmentos inferiores analisados neste estudo, podemos afirmar também uma clara relação linear positiva com a velocidade de corrida. O segmento perna em azul e o segmento coxa em vermelho, demonstraram r de 0,90 e 0,91, respectivamente. Com um nível de significância de 0,0001. 30 r = 0,91 20 r = 0,90 10 segmento perna 0 400 segmento c oxa 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 velocidade angular (graus/segundo) Figura 03 - Gráfico da correlação linear entre velocidade de corrida e velocidade angular dos segmentos perna e coxa. 181 Correlação de parâmetros cinemáticos angulares com velocidade linear durante corrida em esteira O maior coeficiente de correlação encontrado neste estudo foi no segmento coxa, diferente ao resultado de Arnhold & McGrain (1985), onde estes afirmam que o deslocamento angular de coxa é a variável que tem maior correlação com velocidade de corrida em esteira. Uma hipótese é de que esta diferença se deu ao fato de os autores anteriormente mencionados terem trabalhado apenas com variáveis de posição angular. Entretanto, os resultados de nosso estudo corroboram com os resultados de Coh et al. (1995) e Dillman apud Hall (1995) quando estes afirmam que a velocidade angular de membros inferiores tem grande correlação linear positiva com velocidade de corrida. Uma observação significativa neste estudo foi o fato do levantamento de novas variáveis para explicar e determinar as mudanças de velocidade. Por outro lado é importante ressaltar a limitação do estudo referente ao fato dos indivíduos executarem a corrida no ambiente de esteira rolante, determinando diferenças mínimas nos padrões de comprimento de passada e freqüência de passada em relação a corrida em terra, conforme estabelecido na literatura (Elliot & Blanksby, 1976; Nigg, et al. 1995 e Wank et al., 1998), determinando portanto, futuros estudos em terra para verificar se as correlações persistem na corrida em terra. Outra observação importante de ser levantada é a limitação do presente estudo em generalizar estes resultados para as provas específicas de meio-fundo, pois apesar de poder-se afirmar a possibilidade de predição do rendimento de corredores em uma amplitude de velocidades bastante grande como as utilizadas neste estudo (8,9 km/h a 26,0 km/h), surge a dúvida se estes parâmetros cinemáticos angulares também se correlacionam durante as provas de meio-fundo especificamente. Conclusão e sugestões O objetivo deste estudo foi correlacionar velocidade linear contra variáveis angulares de membros inferiores na corrida em esteira rolante. Os resultados do presente sugerem que as variáveis cinemáticas angulares deslocamento e velocidade são altamente correlacionáveis com velocidade horizontal, portanto preditoras da performance de corrida dentro do espectro de velocidades estudadas. Objetivando a otimização do treinamento da técnica de corrida, parecem ser necessários estudos de caráter experimental a fim de avaliar os efeitos da técnica sobre o rendimento de corredores. Referências Bibliográficas ARNHOLD, R.W. & McGRAIN, P. Selected kinematic patterns of visually impaired youth in sprint running. Adapted physical activity quarterly, v.2, n. 3, pp. 206-213, 1985. 182 Correlação de parâmetros cinemáticos angulares com velocidade linear durante corrida em esteira COH, M.; SKOF, B.; KUGOVNIK, O.; DOLENEC, A.; KAMPMILLER, T.; LACZO, E.; HOLCEK, R. & SELINGER, P. Kinematic and dynamic characteristics of maximal speed in young. Kineziologija (Zagreb) v. 27, n. 1, pp. 11-17, 1995. COH, MILAN; DOLENEC, ALES; COLJA, IZTOK; STUHEC, STANKO. Correlation between kinematic and dynamic characteristics of the maximal velocity sprinting stride of female sprinters. In: RIEHLE, H.J.; VIETEN, M.M. (Eds.) 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Silvio de Cassio Costa Telles - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ Antônio Jorge Soares - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ Resumo Este trabalho em um primeiro momento tem como objetivo dar subsídios a futuros estudos pertinentes a área que necessitem de dados a respeito das participações Olímpicas do Pólo Aquático Brasileiro nos Jogos de 1920/Antuérpia, 1932/Los Angeles, 1952 Helsinque, 1960/Roma, 1964/Toquio, 1968/México, 1984/Los Angeles. Em um segundo momento, através de entrevistas com ex-atletas integrantes de equipes olímpicas de pólo aquático, verificamos a convergência de opiniões sobre um dos possíveis motivos pelo qual as equipes brasileiras não se classificam para competições internacionais importantes ou não fizeram participações com resultados significativos. Palavras-chave: Pólo Aquático - História do Esporte - Jogos Olímpicos Abstract The aim of this work is, at first, to provide material for further studies related to the area that need data on the Brazilian olympic participation in the games of 1920/Antwerp, 1932/Los Angeles, 1952 Helsinki, 1960/Rome, 1964/ Tokyo, 1968 /Mexico, 1984/Los Angeles. Further on, by interviewing former athletes who were members of waterpolo olympic teams, we could verify that the opinions , on why the Brazilian team did not qualify for the important international competitions or did not achieve great results on those, were very similar. Key words : Water Polo - Sport History - Olympic Games Introdução O presente estudo tem por finalidade levantar dados e questões sobre a trajetória do Pólo Aquático (PA) brasileiro. O PA é uma modalidade esportiva que no Brasil conta com um número reduzido de adeptos, apesar de ter sido introduzido em nosso país nas primeiras décadas deste século. É interessante, do ponto de vista histórico e sociológico, entender como uma modalidade esportiva que conta com pouca adesão, se mantém em nosso país ao longo de quase um século quando outras surgidas no mesmo período desapareceram sem deixar rastro em nossa cultura. Não temos por intenção dar conta desta questão no escopo deste estudo, entretanto, os levantamentos iniciais que estamos realizando parecem servir como base para investimentos nesta direção. 185 A Participação do Pólo Aquático Brasileiro nos Jogos Olímpicos e sua Ausência em Competições importantes. O PA no cenário dos esportes institucionalizados é uma modalidade esportiva integrada no calendário esportivo internacional. As principais competições são as seguintes: quadrienalmente, os Jogos Olímpicos, os Campeonatos Mundiais e os Campeonatos Pan-Americanos e bienalmente, a Copa FINA (Copa realizada pela Federação internacional e Natação)1. O Pólo Aquático (PA) foi o primeiro esporte coletivo a participar da segunda edição dos Jogos Olímpicos modernos, realizados na cidade de Paris em 1900. A participação do PA no início dos Jogos Olímpicos se deu, possivelmente por causa de diversos fatores, como a institucionalização, a organização, a estandardização das regras e quem sabe, em função das articulações políticas entre os dirigentes dessa modalidade esportiva com o comitê organizador dos Jogos. No âmbito mundial, as seleções mais representativas nas principais competições são: Hungria (atual campeã Mundial), Espanha (atual campeã Olímpica), Itália, Iugoslávia, entre outras. O PA brasileiro, ainda que tenha participado destas grandes competições, não possui uma trajetória de sucesso, isto é, não figura entre as equipes mais competitivas do mundo. Nos Jogos Olímpicos participamoS das seguintes edições: Antuérpia (1920), Los Angeles (1932), Helsinque (1952), Roma (1960), Tóquio (1964) e México (1968) e Los Angeles (1984).Em 1984, nossa participação só aconteceu em função do boicote do bloco socialista, desde então não mais participamos de nenhuma edição dos Jogos. Pode-se dizer que este boicote é um dos desdobramentos da Guerra Fria que utilizou o esporte como um dos seus “palcos de batalha”. Cabe ressaltar, que embora tenhamos participado dessas edições dos Jogos jamais conseguimos resultados satisfatórios ou próximos das grandes seleções. De fato, o Brasil nessa modalidade esportiva possui mais uma história de insucesso no cenário mundial do que de sucesso propriamente dito. Entretanto, sua permanência ao longo do tempo, tendo seu apogeu entre as décadas de 1960 e 19702 e a continua adesão de novas gerações, ainda que 1 Competição que reúne as oito seleções mais bem colocadas no Campeonato Mundial de Pólo Aquático 2 Neste período considerado áureo, o pólo aquático brasileiro teve um número maior de participações nos jogos olímpicos, conquistou o seu único título pan-americano e contava com a presença de um jogador Húngaro naturalizado brasileiro chamado Aladar Szabo, que se constituiu numa lenda dentro do pólo aquático nacional. Além de nesse período ter como presidente da extinta Confederação Brasileira de Desportos(CBD), João Havelange ex-jogador de pólo aquático do Fluminense F.C e da seleção Brasileira. Talvez por isso a mídia desse mais espaço ao pólo aquático o que atraia mais a atenção da sociedade. 2 Competição que reúne as oito seleções mais bem colocadas no Campeonato Mundial de Pólo Aquático 2 Neste período considerado áureo, o pólo aquático brasileiro teve um número maior de participações nos jogos olímpicos, conquistou o seu único título pan-americano e contava com a presença de um jogador Húngaro naturalizado brasileiro chamado Aladar Szabo, que se constituiu numa lenda dentro do pólo aquático nacional. Além de nesse período ter como presidente da 186 A Participação do Pólo Aquático Brasileiro nos Jogos Olímpicos e sua Ausência em Competições importantes. modesta, a esse esporte, o torna um problema interessante no campo dos estudos culturais sobre o esporte. Nesses termos, o presente trabalho tem por objetivos (a) levantar dados sobre as participações do PA brasileiro nos Jogos Olímpicos, catalogando seus atletas e resultados; (b) mapear algumas representações e avaliações de exatletas sobre essa história de insucesso nas grandes competições mundiais. Vamos esmiuçar um pouco mais a participação do PA brasileiro nos Jogos Olímpicos, considerado como a mais importante competição ou pelo menos a que possui mais prestígio e glamour. O PA brasileiro nos Jogos Olímpicos Embora o PA já tenha sido introduzido no programa nos Jogos Olímpicos de Paris (1900), o Brasil só enviou pela primeira vez uma representação nos Jogos de 1920 (Antuérpia). Cabe ressaltar que o PA foi o primeiro esporte coletivo brasileiro a participar dos jogos, sendo que dos 24 atletas que compunham a delegação brasileira 11 eram do PA. Representaram o Brasil nessa campanha os seguintes atletas: Agostinho Sá, Abrahão Salituri, Orlando Amêndola, Edgar Leite Ribeiro, Ademar Ferreira Serpa, Angelo Grammaro, João Jório, Carlos Eulálio Lopes, Vitorino Ramos, Alcides de Barros Paiva, Roberto Trompovski (técnico). A equipe teve uma participação modesta: disputou três jogos, tendo obtido uma derrota uma vitória e um empate ficando na sexta colocação. (perdeu para a Suíça por 7 a 3, empatou com a Espanha em 1 a 1 e venceu a França por 5 a 1). Nesta edição a Inglaterra foi a campeã. (Lancelloti, 1996). A equipe brasileira tinha poucas condições de disputar com o mais avançado PA europeu. Além disso, naquela época o período de viagem era bastante dilatado e cansativo pois o percurso era feito de navio. A participação brasileira foi importante pois possibilitou um contato inicial com o que existia de mais avançado em termos táticos, técnicos e de treinamento físico na época. Os brasileiros com isso puderam sentir a distância que possuíam em relação às nações mais adiantadas esportivamente. Possivelmente nessa oportunidade podem ter surgido os primeiros contatos e/ou pelo menos a idéia de trazer ao Brasil algumas dessas equipes, talvez não por acaso uma equipe Belga tenha vindo ao Brasil ainda na década de 20, trazendo grandes contribuições para o intercâmbio do PA brasileiro. Orlando Amêndola, atleta da seleção de 1920, iria posteriormente tornar-se professor da cadeira de Desportos Aquáticos da Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD), a primeira Escola Superior de Educação Física ligada a uma Universidade (a Universidade do Brasil), fundada em 1939. extinta Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange ex-jogador de pólo aquático do Fluminense F.C e da seleção Brasileira. Talvez por isso a mídia desse mais espaço ao pólo aquático o que atraia mais a atenção da sociedade. 187 A Participação do Pólo Aquático Brasileiro nos Jogos Olímpicos e sua Ausência em Competições importantes. Amêndola foi um dos grandes incentivadores da prática do PA no interior da ENEFD. Essa instituição era uma Escola-padrão no desenvolvimento da cultura física e esportiva, por isso, deu grandes contribuições na difusão e desenvolvimento de muitos esportes, inclusive do pólo-aquático. Em 1960, por exemplo, o ENEFD organizou, a partir da iniciativa de Alencar de Carvalho (também professor da cadeira), a I Campanha de Water-Polo onde 30 universitários que não tinham contato com o esporte tiveram a oportunidade de conhecer melhor suas especificidades e regras. Na década de 80, a mesma instituição foi responsável pela formação do primeiro time de PA feminino no Rio de Janeiro. Após os Jogos da Antuérpia (1920) a equipe brasileira somente voltou a participar nos Jogos Olímpicos de Los Angeles (1932). Os jogadores que representaram o Brasil foram Luis Henrique da Silva, Mario de Lorenzo, Jefferson Maurity de Souza, Salvador Amendola, Antonio Ferreira Jacobina, Adhemar Serpa, Carlos Alberto Castelo Branco (técnico), Abrahão Salituri, Alfredo Di Blasio, Pedro Theberge e Jorge Pessoa. Mais uma vez tal participação valeu mais pela experiência do que pelos resultados. O Brasil perdeu para os Estados Unidos de 6 a 1 e para a Alemanha de 7 a 3. A seleção Húngara sagrou-se campeã. Esta participação brasileira foi marcada pela nossa desclassificação em função da agressão cometida pela equipe ao árbitro húngaro Bela Konjade (COB, 1995). O árbitro quando inquirido sobre esse episódio afirmou que a indignação dos jogadores brasileiros se deu em virtude do desconhecimento das regras do esporte. O PA brasileiro não enviou representantes aos Jogos de Berlim (1936), nem Londres (1948), somente retornando nos Jogos de Helsinque (1952). As equipes foram divididas em grupos, participando o Brasil do grupo D, juntamente com a Bélgica, a Espanha e a África do Sul. A equipe brasileira foi constituída por: José R. Haddock Lobo (técnico), Lúcio Cunha Figueiredo, Henrique Sérgio Melman, Leo Rossi, João G. Filho. Havelange, Sérgio Geraldo A. Rodrigues, Edson Perri, Samuel Scheimberg, Marvio Kelly dos Santos, Douglas Arnald de Souza Lima, Claudino Caiado de Castro, Daniel José Silli. A seleção brasileira venceu Portugal por 6 a 2 na fase da repescagem. Perdeu os outros jogos, mas já por um placar não tão dilatado, para a Espanha 3 a 2, para a Bélgica 3 a 1, para Espanha 6 a 4 e África do Sul 9 a 2, único placar mais dilatado. Observa-se que a participação brasileira melhorou significativamente em relação às participações passadas. A Hungria conquista mais um campeonato. A quarta participação brasileira foi nos Jogos de Roma (1960). A competição foi novamente dividida em grupos. O Brasil ficou na grupo B, 188 A Participação do Pólo Aquático Brasileiro nos Jogos Olímpicos e sua Ausência em Competições importantes. junto com URSS, Alemanha e Argentina. Somente duas equipes se classificariam para a próxima fase e embora o Brasil tenha empatado com a Argentina em 2 a 2 no primeiro jogo, foi eliminado por ter sido derrotado pela URSS por 8 a 2 e pela Alemanha por 6 a 3. A Itália conquista a medalha de ouro. A equipe era formada por: Edson Perri (técnico), Luis Daniel, Everardo Luiz Alves da L. Filho, Adhemar Grijó Filho, Henry John Romero Sanson, Marvio Kelly dos Santos, Hilton de Almeida, João Gonçalves Filho, Paulo Wilson Navarro de Andrade, Rolando Luiz Alvares de Cruz, Thomaz Alterthum. Em Tóquio (1964) a equipe brasileira voltaria a participar, figurando no grupo C, juntamente com EUA, Iugoslávia e Holanda. A equipe foi formada por: Luis Daniel, Osvaldo C. Filho, Rodiney Stuart Bell, Pedro Pinciroli Junior, Marvio Kelly dos Santos, João Gonçalves Filho, Aladar Szabo, Adhemar Grijó Filho, Ivo Kisselring Carotine, Ney Borges Nogueira, Paulo Kisselring Carotine. A seleção foi inicialmente derrota pela Holanda por 3 a 2 e posteriormente por placares mais dilatados para os EUA por 7 a 1 e pela Iugoslávia por 8 a 0. A seleção Húngara volta a conquistar a medalha de ouro. Cabe ressaltar, que grande parte dessa equipe sagrou-se Campeã Panamericana em São Paulo (1963) de maneira invicta, sendo essa até hoje nossa única conquista em tal competição. Segundo os ex-atletas, essa vitória teve como principal protagonista o jogador Húngaro, naturalizado brasileiro, Aladar Szabo. Szabo foi o artilheiro da equipe brasileira com larga diferença em relação aos seus companheiros. No México em 1968, o PA brasileiro participou pela sexta vez dos Jogos Olímpicos, com os seguintes jogadores: Aluisio Marcilli, Álvaro Roberto de Ávila Pires, Arnaldo Marcilli, Cláudio Rinaldi Camara Lima, Fernando Antônio S. Sandoval, Henrique Filelline, Ivo K. Carotine, João Gonçalves Filho, Marco Antonio de Vicosa Jardim, Pedro Pinciroli Junior, Hilton de Almeida (técnico). A equipe brasileira venceu a Grécia por 5 a 2 e o Egito por 5 a 3 , empatou em 6 a 6 com a Espanha e perdeu cinco jogos Estados Unidos 10 a 5, Cuba 9 a 5, Alemanha 10 a 5, Hungria 8 a 2, e URSS 8 a 2. A Iugoslávia sagrou-se campeã. A sétima e última participação olímpica do Brasil aconteceu em Los Angeles (1984). Participaram da campanha: André Campos, Carlos Eduardo Carvalho, Erik Tebbe Borges, Mário Sérgio Lotufo, Mário Eduardo Souto, Orlando Amaral Chaves, Solon dos Santos, Silvio Manfredi, Paulo Francisco Abreu, Hélio Frederico da Silva, Fernando Carsalade, Ricardo Márcio Tonieto, Roberto Borelli, Edson Perri (técnico). A campanha da equipe brasileira foi de cinco derrotas, Espanha 19 a 12, Estados Unidos 10 a 4, Itália 13 a 4, China 11 a 9, Japão 9 a 8 e de dois empates, 10 a 10 com o Canadá e 9 a 9 com a Grécia. A Iugoslávia vence os EUA na final e conquista a medalha de ouro. 189 A Participação do Pólo Aquático Brasileiro nos Jogos Olímpicos e sua Ausência em Competições importantes. Passemos aos depoimentos e/ou racionalizações dos ex-atletas brasileiros sobre essa história negativa do PA brasileiros nos Jogos Olímpicos. Relatos de Ex-Atletas sobre a Ausência e maus resultados do PA em Competições Importantes Jorge Pessoa, goleiro reserva da seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de Los Angeles (1932), relata que as equipes brasileiras de PA não realizavam intercâmbio (jogos amistosos) com as equipes européias de alto nível. Segundo o entrevistado o padrão europeu era superior ao dos brasileiros. Quanto ao conhecimento das regras do jogo bem como sua aplicação, os brasileiros demonstravam desconhecimento. Esse fato, como descrito anteriormente, teria auxiliado a gerar a agressão dos brasileiros contra o árbitro nos Jogos de 32. Aluísio Marcilli, integrante da seleção em 1968 (México), menciona que poucos Jogos amistosos realizou com equipes européias durante a sua trajetória na seleção, salvo antes dos Jogos Olímpicos que por chegarem dias antes tinham a oportunidade de treinar com algumas seleções. No aspecto técnico/tático, Marcilli sentia-se muito abaixo dos jogadores das equipes ditas de ponta como Hungria. Iugoslávia e URSS. Porém fisicamente jogava em igualdade de condições com as principais seleções. Mario Eduardo Souto e Solon dos Santos, ambos da equipe Olímpica de 1984, relatam os mesmos problemas: ausência de jogos amistosos, o que segundo eles, fez uma diferença significativa, pois lhes faltava experiência em determinados momentos da partida. Souto relata ainda, que de 1977 a 1991 (período em que atuou pela seleção brasileira de PA) a seleção Brasileira somente jogou contra outras seleções dentro de campeonatos, nunca em jogos amistosos. Atualmente em entrevista com Ricardo Perrone atleta da Seleção Brasileira que irá participar do Torneio Pré-Olímpico na Alemanha em maio do ano corrente, relata em entrevista, que o pouco intercâmbio com as principais equipes entre outros fatores, dificultam a conquista de uma vaga nas principais competições mundiais. Considerações Finais Observe-se que os dados e as avaliações dos ex-atletas sobre a participação do PA brasileiro nos Jogos Olímpicos traduz-se em uma história de insucesso ou de experiências. Os ex-atletas apontam a falta de experiência acarretada pelo pouco intercâmbio com as grandes equipes do cenário internacional, como um dos principais fatores do insucesso. O interessante do ponto de vista sociológico não é propriamente dito explicarmos o sucesso ou insucesso dos países e suas seleções no campo esportivo. O que parece interessar é como as explicações que surgem tanto no meio esportivo quanto nas esquinas, nas ruas 190 A Participação do Pólo Aquático Brasileiro nos Jogos Olímpicos e sua Ausência em Competições importantes. e nos jornais auxiliam o processo de invenção de tradições ou identidades coletivas e individuais. No caso específico do PA brasileiro, acreditamos que estes dados preliminarmente levantados gerem algumas questões para futuras pesquisas. Por exemplo, como um esporte com um número reduzido de adeptos se institucionaliza e renova os seus quadros de dirigentes e atletas no Brasil, já que mantém suas atividades por quase cem anos em nosso país? Como permanece vivo no cenário esportivo se não é um esporte que atrai a Mídia? Quais são os mecanismos de socialização nesta modalidade esportiva? Tais questões respondidas ajudariam a iniciar o processo de resgate do PA a um lugar de destaque no hall dos esportes mais conhecidos e de relevância para a sociedade no cenário esportivo Brasileiro. Referências Bibliográficas BRASIL, Comitê Olímpico Brasileiro. Jogos Olímpicos Delegações Brasileiras, Rio de Janeiro; COB, 1995. BRASIL, Confederação Brasileira de Desportos aquáticos. Modificações nas Regras de Pólo Aquático. Rio de Janeiro; CBDA, 1995. BRASIL, Confederação Brasileira de Desportos . Water Polo Regras Oficiais. Rio de Janeiro; CBD, 1950. CARDOSO, Maurício. 100 anos de Olimpíada. São Paulo; Scritta, 1996. DUARTE, Orlando. 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Editora by Jim Noris, 1980. 192 A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência Arianne Carvalhedo - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ Nelson Schneider Todt - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Resumo Quando as palavras “Olimpíadas” e “Movimento Olímpico” ecoam nos círculos de conversa entre amigos, nos campos esportivos ou mesmo nos corredores das faculdades de Educação Física do Brasil, surgem logo nas mentes as imagens vinculadas pela televisão da quebra de recordes, dos heróis Olímpicos, das medalhas conquistadas nos Jogos Olímpicos. O que poucos sabem é que por trás deste que se tornou o maior evento esportivo do planeta, existe uma filosofia secular de busca pela integração dos povos, solidariedade, paz e, principalmente, educação do homem através do esporte. Ainda que nos encontremos no meio de professores de Educação Física, raras vezes nos depararemos com profissionais que entendam a palavra Olimpismo em seus mais profundos significados. Com a intenção de promover esta filosofia e perpetuar os valores atrelados a mesma, o Comitê Olímpico Internacional criou, em 1961, um centro para estudos e pesquisas relacionadas ao Movimento Olímpico, uma instituição educacional, a Academia Olímpica Internacional. Esta por sua vez vem, desde sua criação, promovendo eventos de intercâmbio cultural para alcançar as metas supracitadas propostas por seu idealizador. Um destes eventos – e um dos mais importantes deles – é a Sessão Para Jovens Participantes que acontece todos os anos na sede da Academia em Olímpia, na Grécia. Para este Encontro o Brasil vem enviando de forma sistemática, desde 1990, dois representantes e este trabalho vêm como o relato de nossa experiência como participantes da 39a Sessão Para Jovens Participantes. Palavras-chave: Academia Olímpica Internacional; Olimpismo; Sessão Para Jovens Participantes. Abstract When the words “Olympiads” and “Olympic Movement” are heard among groups of friends, in the sports fields and even in the corridors of the Physical Education Colleges in Brazil, what immediately comes to mind is the broadcasted images on television of records broken, Olympic heroes, and the medals won in the Olympic Games. What few people know is that, underneath this great event which is nowadays the biggest sport event in the world, lies a century-old philosophy which aims at the integration of the world’s communities, solidarity, peace and, most important of all, education of 193 A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência mankind through sports. Even if we move in PE teaching circles, we will rarely encounter professionals that understand the deep meanings of Olympism. Intending to promote this philosophy and perpetuate the values attached to it, the International Olympic Committee created, in 1961, an educational center for studies and research on the Olympic Movement, the International Olympic Academy (IOA). This center, since its creation, has promoted international cultural events in order to fulfill the above mentioned goals proposed by its idealistic founder. One of these events – and one of the most important ones – is the International Session for Young Participants which takes place every year at the IOA in Olympia, Greece. For this event, Brazil has regularly sent two participants since 1990, and this paper comes as a report of our experiences as participants in the 39th Session for Young Participants. Key words: International Olympic Academy; Olympism; International Session for Young Participants. Introdução Em junho de 1961, juntamente com a cerimônia de abertura do estádio do sítio arqueológico de Olímpia, foi fundada a Academia Olímpica Internacional (IOA). Com o intuito de preservar e permitir o progresso das idéias inicialmente difundidas pelo Barão Pierre de Coubertin - principal personagem na criação dos Jogos Olímpicos (JO) da Era Moderna e do seu conseqüente Movimento Olímpico - o Comitê Olímpico Helênico (HOC) decidiu, sob os auspícios do Comitê Olímpico Internacional (IOC), a partir do modelo dos gymnasiums da antigüidade, modelar esta fundação a fim de promover os Ideais Olímpicos através da educação. Acreditando que o Movimento Olímpico, que é a expressão maior das atividades ligadas à filosofia do Olimpismo, não poderia desviar-se de seus objetivos educacionais, Pierre de Coubertin vislumbrou a criação de um centro acadêmico onde fosse possível o estudo deste. Desta forma, proteger-se e preservar-se-ia sua ideologia (filosofia). O Movimento Olímpico (MO) seria então a matriz condutora de todas as discussões dirigidas neste centro e base para todos os dados resguardados pela “academia”. Desde sua criação, a Academia Olímpica Internacional vem buscando contemplar este objetivo através de programas educacionais relacionados ao MO. Durante estes eventos o conceito e a aplicação do Olimpismo é intensamente revisto – assim como todos os assuntos relacionados a este – sob um contexto de intercâmbio cultural e troca, de forma a propiciar um melhor entendimento comum e universal sobre o MO e o Olimpismo. Em sua primeira década de existência somente a Sessão para Jovens Participantes era realizada de forma sistemática. Hoje, aproximadamente 40 diferentes eventos acontecem nas primícias da IOA. Dentre os que mais se destacam estão o Seminário Internacional de Pós-Graduação para Estudantes 194 A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência Selecionados, o Simpósio Internacional de Filosofia, o Congresso Internacional de Fair Play, a Sessão Internacional para Jornalistas Esportivos, o Encontro Internacional para Educadores e Diretores de Institutos Superiores de Educação Física, dentre outros. Resumindo o conceito e a importância da Academia Olímpica Internacional, Lambis NIKOLAOU (membro do IOC e presidente do HOC) escreveu: “A IOA constitui a expressão intelectual do Movimento Olímpico, que representa um dos mais refinados aspectos da tradição intelectual universal”. A IOA, esta instituição eminentemente educacional, vem, ao longo de seus quase 40 anos de existência, mantendo o compromisso com a proposta inicial de Pierre de Coubertin. Superando barreiras atinge hoje esferas que nem seu idealizador poderia imaginar. Seus objetivos foram ampliados tornando-se nos dias atuais um centro de excelência do “pensamento Olímpico”. A Academia busca atualmente não só experimentar, investigar e estudar o conceito de Olimpismo, mas também implementar e discutir todos os aspectos relacionados a este a partir da troca de idéias entre pessoas de diferentes culturas melhorando assim a compreensão sobre o MO e Olimpismo. Através de seus Encontros esta instituição estimula a continuidade da produção pertencente à área do desporto, preparando uma capacidade científica que venha a contribuir com a consolidação do Olimpismo. Além disso, suas atividades oportunizam o treinamento de pessoas que serão os “mensageiros” dos princípios e ideais do Olimpismo em seus respectivos países. A Sessão para Jovens Participantes e seus Objetivos Realizada todos os anos desde a inauguração da Academia Olímpica Internacional, tradicionalmente em junho ou julho e com duração aproximada de 15 dias, a Sessão para Jovens Participantes tem como objetivo atuar como um fórum internacional de troca de idéias e liberdade de expressão entre a família Olímpica, intelectuais, cientistas, atletas, administradores esportivos, educadores, artistas e jovens do mundo. Este encontro é composto de, em média, 250 pessoas, dentre elas participantes, palestrantes, membros do staff e coordenadores. Este número reflete aproximadamente a participação de 90 países, dos mais variados pontos do globo. A participação vem, contudo, aumentando ao longo dos anos, na medida em que mais países vão estabelecendo relações com o COI e criando suas Academias nacionais. Para que possamos entender melhor essa evolução basta-nos olhar para o primeiro ano de sua realização, em 1961, quando se reuniram apenas 30 estudantes de 24 países. O programa educacional da Academia Olímpica Internacional é estruturado de forma a atender pessoas dos mais diversos backgrounds e busca 195 A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência estabelecer quatro metas para que sejam atingidas pelos estudantes, sendo pois o aumento do conhecimento sobre o Movimento Olímpico, a instituição de contatos e trocas com pessoas das mais diversas culturas, o encontro com personalidades importantes ligadas ao Movimento Olímpico e a aprendizagem da história grega, antiga e contemporânea. O ponto alto deste Encontro recai sobre os grupos de discussão organizados duas vezes ao dia. Estes grupos são divididos de forma que haja um número equilibrado de homens e mulheres, ao menos um representante de cada continente e nunca dois participantes de um mesmo país. São apresentadas questões que variam de assuntos gerais sobre o Olimpismo a tópicos específicos do tema do ano. Algumas destas perguntas são colocadas a todos os grupos e outras a apenas um grupo. Assim, é possível obter uma visão mais global das opiniões dos participantes e abordar um número maior de questões. O intuito deste processo de debates é que os participantes experienciem e investiguem a fundo os muitos conceitos associados ao MO de forma crítica e construtiva, aumentando seus conhecimentos interculturais. De uma maneira geral, o maior e mais importante objetivo da Academia Olímpica Internacional com esta Sessão para Jovens Participantes é motivar a juventude do mundo a utilizar a experiência e o conhecimento adquirido na IOA produtivamente, promovendo os Ideais Olímpicos em seus respectivos países. A Seleção Os critérios para seleção dos participantes da Sessão são determinados pelas Academias e/ou Comitês Olímpicos Nacionais, seguindo determinações do Comitê Olímpico Internacional e Academia Olímpica Internacional. Estas determinações são como segue: 1) Os participantes devem ter entre 20 e 35 anos de idade; 2) Os participantes devem ser fluentes em pelo menos uma das três línguas oficiais da IOA (inglês, francês e/ou grego); 3) Os participantes devem ter interesse em assuntos Olímpicos; 4) Podem ser nomeados até 4 participantes por país. A Academia Olímpica Brasileira (AOB), vem optando por selecionar profissionais formados em educação física que, além de preencherem as qualificações acima descritas, sejam atuantes no campo prático e envolvidos diretamente com o universo acadêmico. Estes profissionais devem ter também o compromisso acadêmico de retorno e propagação dos conhecimentos adquiridos. Esta opção da AOB reflete sua política de ênfase na produção acadêmica e concentração de esforços na qualificação de seus membros, o que eleva nossa 196 A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência recém criada Academia a um status acadêmico com repercussão em termos de trabalhos efetivos que poucas outras tem conseguido. Custos e Benefícios O Comitê Olímpico Internacional, através da Solidariedade Olímpica, responsabiliza-se pelo pagamento de 50% do valor total da passagem aérea de até dois participantes por país (sendo eles um homem e uma mulher, nunca ambos do mesmo sexo). Os custos referentes à taxa de participação, transporte terrestre, alimentação, entrada nos sítios arqueológicos e museus e hospedagem durante a realização do evento, cabem à Academia Olímpica Internacional (também respeitando o máximo de dois participantes, de ambos os sexos). No caso de qualquer participante adicional, os custos ficam ao encargo da Academia e/ou Comitê Olímpico Nacional, que delegam ou não aos seus participantes – como é o caso do Brasil. A 39a Sessão Para Jovens Participantes A 39a Sessão para Jovens Participantes ocorreu durante o período de 20 de julho a 5 de agosto de 1999 em Atenas e Olímpia, na Grécia. O tema central foi o Olimpismo com enfoque especial em “O Ideal e a Cultura Olímpica na Era Global”. Nos primeiros dias, com o intuito de proporcionar aos participantes um melhor conhecimento da história e da cultura grega desde a antiguidade, visitamos em Atenas o sítio arqueológico da Acrópole, o Estádio Panatenaico (onde se realizaram os I Jogos Olímpicos da Era Moderna), o Parque Olímpico e o Centro Atlético Olímpico (onde se realizará a abertura dos Jogos Olímpicos de 2004). Na Cerimônia de Abertura, tradicionalmente realizada no Monte Pnyx, local onde nasceu a democracia grega e de onde se tem uma das mais belas vistas da Acrópole, contamos com a presença de personagens ilustres do Movimento Olímpico e do Governo Grego, como Sr. Nikos FILARETOS (presidente da Academia Olímpica Internacional e membro do Comitê Olímpico Internacional), Sr. Juan Antonio SAMARANCH (Presidente do Comitê Olímpico Internacional), Sr. Andreas FOURAS (Subsecretário Estadual de Esportes) e Sr. Dimitris AVRAMOPOULOS (Prefeito de Atenas). Outras participações que valorizaram esta cerimônia foram a da Filarmônica Ateniense e do Coro do Banco Comercial da Grécia. A grandiosidade do evento de abertura nos revela a importância dada pelo povo grego ao Movimento Olímpico. Nos dois dias que seguiram aconteceram as visitas aos sítios arqueológicos de Delphi e Olímpia além de seus respectivos museus. Cabe ressaltar aqui que todas as visitas à museus, sítios arqueológicos, etc., promovidas pela IOA no decorrer dos 15 dias de Encontro, foram lideradas 197 A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência por professores e arqueólogos que contavam-nos cada detalhe da história do povo grego da antiguidade. Desta forma a IOA busca oportunizar um melhor entendimento da história e importância dos JO na Grécia antiga e suas conseqüentes repercussões na sociedade contemporânea. Com a presença dos 5 membros do Colegiado da IOA, 14 palestrantes, 182 participantes oriundos de 89 países, 26 coordenadores, membros do staff e convidados foi realizada no dia 23 de julho, na sede da Academia em Olímpia, a Cerimônia de Abertura dos trabalhos. O ponto alto da Cerimônia foi a homenagem à Pierre de Coubertin. Esta aconteceu, como tradicionalmente ocorre, junto ao monumento que traz em seus pés o coração do educador francês. É interessante lembrar que foi seguindo um desejo do Barão, que seu coração foi enterrado na cidade onde os JO da antiguidade aconteciam, próximo ao exato local de sua realização. Foi então a partir deste desejo que estabeleceu-se na cidade de Olímpia a sede do “centro cultural de estudos Olímpicos” que este educador tanto sonhou. No dia seguinte começou então o primeiro ciclo de temas de discussão com palestras de renomados professores da área. Foram elas: • Contradições Culturais e sua Harmonização dentro do Movimento Olímpico (FILARETOS, N.); • Os Sítios Sagrados de Olímpia e Delos (YALOURIS, N.) • Preparações para os Jogos Olímpicos de Sydney – Programas Culturais e esportivos (ELPHINSTON, B.); • Olimpismo no Campo da Educação: Pense Globalmente – Aja Localmente (MÜLLER, N.); • Iniciativas Globais em Educação Olímpica (BROWNLEE, H) • Olimpismo e Educação Multicultural (TOUBA, T.); • Globalização, Multiculturalismo e Olimpismo (PARRY, J.); • Aspectos Educacionais dos Jogos Mundiais da Juventude (RODICHENKO,V.). As seguintes questões foram então levantadas para o 1º Ciclo de Debates nos diferentes grupos de discussão: • Qual a sua definição de Olimpismo?; • O Ideal Olímpico é um veículo para civilização? Discuta de que formas ele pode promover atividades culturais?; • O que é relativo e o que é absoluto no Olimpismo?; • Alguns dizem que os Jogos Olímpicos estão correndo perigo e que eles precisam ser resgatados pelo Olimpismo, outros dizem que os Jogos são fortes e que eles devem salvar o Olimpismo. Como você vê essa discussão?; • Discuta os principais objetivos da Educação Olímpica?; 198 A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência • • • • • • • • Discuta as características principais dos JO da Antiguidade?; Existe uma necessidade de se rever a definição de Olimpismo da Carta Olímpica de modo a refletir a mudança dos Jogos e da sociedade? O que deve ser mudado e o que deve ser mantido?; Os Jogos Mundiais da Juventude são uma forma de se aplicar a Educação Olímpica? Discuta a filosofia, os problemas e perspectivas desses Jogos; Discuta de que formas a educação multicultural pode ser contemplada através do Olimpismo; Como você vê a relação entre o Olimpismo e os Jogos Olímpicos modernos?; De que formas você espera que os JO de Sydney sejam diferentes de seus anteriores?; Como podemos dividir melhor a filosofia do Olimpismo entre os milhões de habitantes da terra?; É possível a criação de uma estrutura global para Educação Olímpica e se isto é possível, como você a criaria? Estas questões foram respondidas pelos participantes, auxiliados por seus coordenadores durante os cinco dias de ciclo. Em 28 de julho foram apresentadas as conclusões desta primeira fase de discussões. No dia 29 de julho iniciaram-se os trabalhos do segundo ciclo de palestras, onde foram enfocados temas como a importância do programa cultural dentro dos Jogos Olímpicos, os efeitos da globalização sobre o Movimento Olímpico, multiculturalismo, etc. As questões levadas aos grupos de discussão foram as seguintes: • Qual a importância do programa cultural nos Jogos Olímpicos e qual a importância especial do Festival de Artes das Olimpíadas de Sydney?; • Discuta a globalização e o esporte e suas consequências sociais (identidades, sociedades e civilização); • Discuta os impactos sociais da globalização nos JO; • Discuta multiculturalismo e a interpretação multidimensional do Olimpismo transmitida às pessoas comuns através de filmes esportivos e televisão; • Quais são os problemas que resultam da globalização do esporte no MO?; • Quais os impactos sofridos pela cidade, país e região que sedia os Jogos?; • Como a IOA pode desenvolver ainda mais a formação multicultural?; • Considere o doping na sociedade globalizada; • Considere os aspectos locais e globais nos JO? • Considere as manifestações culturais durante as Olimpíadas e faça recomendações; 199 A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência • • • • • • • Quais são os aspectos positivos que surgem da globalização do esporte no MO?; Discuta os principais objetivos da Solidariedade Olímpica e sua função na sociedade globalizada. As palestras proferidas durante o 2o ciclo seguem: Aspectos Locais e Globais dos JO (KANG, S.); Eventos Culturais durante as Olimpíadas. Por que? (DURRY, J.); Globalização e seu Impacto Econômico nos JO (PREUSS, H.); Interpretações Multidimensionais do Olimpismo: No caso de Filmes sobre Esportes (MASUMOTO, N.); Solidariedade Olímpica (GIRARD-SAVOY, N.). Como pudemos notar, durante o primeiro ciclo de debates as perguntas são direcionadas para assuntos Olímpicos mais gerais, enquanto no segundo estas são mais específicas ao tema do ano. No dia 3 de agosto, após a apresentação das conclusões finais dos grupos de discussão, aconteceu a Cerimônia de Encerramento. A volta para Atenas foi ao dia 4 de agosto. Neste dia tivemos a oportunidade de visitar (por iniciativa própria) o Museu Arqueológico Nacional, certamente um dos maiores e mais importantes museus de Arte da Grécia Antiga. No dia 5 de agosto os participantes começaram a regressar aos seus países de origem. É importante lembrar que durante todo o evento aconteceram atividades de caráter social, cultural e esportivo, como exibição de pintura e artes, projeção de filmes, competições esportivas, workshops de dança, literatura, noites sociais, etc. Todos com intuito de integrar e apresentar a diversidade de culturas aos participantes. Aspectos Importantes Como membros da Academia Nacional, nossa participação permitiu representar em Olímpia as principais idéias que circulam no meio acadêmico brasileiro, especialmente as que se referem aos temas olímpicos mais atuais, além de relatar a forma como o esporte brasileiro se desenvolve. Após nosso retorno, com o intuito de perpetuar o conhecimento absorvido durante todo o período da Sessão, foi elaborado um relatório completo das atividades do Encontro. Este pode ser encontrado no COB e aguarda para breve publicação, assim como o resumo de todas as palestras conferidas na Sessão. Relevante, ainda, é o fato de que os resultados das palestras e discussões são sempre editados num documento de conclusão final. Este documento 200 A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência representa, portanto as idéias e opiniões dos participantes, que recebem este em suas casas aproximadamente um ano após sua participação na Sessão. Esta iniciativa reflete a filosofia da Academia em respeitar e levar em consideração a contribuição de todos na busca de programas educacionais que contenham idéias universais e reflitam os Ideais Olímpicos. Vale ainda ressaltar que até mesmo as idéias conflitantes dos participantes são apresentadas, para que se mantenha com fidedignidade a opinião e pensamento de todos. Esse sumário é então posteriormente apresentado por um representante da IOA em Sessão Anual do Comitê Olímpico Internacional para consideração. É importante destacar que neste Encontro os diversos participantes têm a valiosa oportunidade de vivenciar fatores necessários para que alcancemos a paz e que nos permitamos a coexistência entre povos distintos, respeitando diferenças políticas, sociais e econômicas. Considerações Finais A delegação brasileira mostrou-se, mais uma vez, bastante competente na área técnica, estando presente, pontualmente, em todos os eventos, palestras, encontros, etc. A presença constante nas atividades e eventos culturais, assim como a participação ativa nas discussões, com apresentação de propostas, levantamento de questões, e principalmente ocupando a posição de secretários nos grupos de discussão (posto delegado apenas à poucos participantes) nos dá a tranqüilidade de que o nosso país foi bem representado. A busca por um lugar entre os países de excelência no Movimento Olímpico é, na nossa opinião, de imensa importância. E este lugar só será ocupado se continuarmos a perseguir os objetivos inicialmente propostos por Pierre de Coubertin quando vislumbrou a criação deste centro de estudos culturais: a perpetuação dos valores do Olimpismo. Referências Bibliográficas ABREU, N. Relato de experiências na Academia Olímpica Internacional (AOI). In: TAVARES, O., DACOSTA, L. (Eds.). Estudos olímpicos. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999. p.293-7. ABREU. N. Perceiving olympism throughout the 20th century. In:_____. Multicultural responses to olympism – an ethnographic research in ancient Olympia, Greece. Tese de doutorado, Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro: 1999. cap. IV, p. 59-100. COMISSION FOR CULTURE AND OLYMPIC EDUCATION. The [on-line]. Disponível: International Olympic Academy, www.olympic.org/ioc/e/org/culteduc/ culteduc_academy_e.html 201 A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para Jovens Participantes – Um relato de experiência GOMES, M., TAVARES, O. A contribuição da Academia Olímpica Internacional para a discussão e difusão do olimpismo. In: TAVARES, O., DACOSTA, L. (Eds.). Estudos olímpicos. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999. p. 240-81. INTERNATIONAL OLYMPIC ACADEMY. The International Olympic Academy. Olympia: Athanassiads Bros, s.d. INTERNATIONAL www.ioa.org.gr . OLYMPIC ACADEMY. [on-line]. Disponível: ACADEMIA OLÍMPICA BRASILEIRA. www9.zip.net/cob/academiaolimpicabrasileira/cfm [on-line]. Disponível: TAVARES, O. Referenciais teóricos para o conceito de “Olimpismo”. In: TAVARES, O., DACOSTA, L. (Eds.). Estudos olímpicos. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999. p. 15-49. 202 Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas* Lisiane Torres – Universidade de Santa Cruz do Sul/RS Adroaldo Gaya – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Resumo As investigações sobre os estilos de vida constituem uma abordagem recente nas ciências do desporto. Ultimamente, estudos sobre os hábitos de vida vêm despertando o interesse da comunidade científica na medida em que se faz necessário identificar os possíveis fatores de interferência no desempenho desportivo. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é descrever o perfil dos hábitos de vida em jovens atletas praticantes de desporto de rendimento, bem como identificar os possíveis efeitos relacionados ao nível socioeconômico e gênero sexual. O presente trabalho foi desenvolvido através do método de abordagem ex post facto, com procedimentos do tipo diferencial. Para a coleta de dados foi utilizado o questionário “Estilo de Vida na Infância e Adolescência” Sobral, (1982), adaptado para o contexto brasileiro através de um estudo preliminar realizado com vinte estudantes. A amostra, do tipo não probabilística voluntária, envolveu 397 atletas (239 homens e 154 mulheres), praticantes de desportos coletivos e participantes da etapa final dos Jogos da Juventude/1996. Para a análise dos dados adotou-se estatística descritiva (valores percentuais), e a estatística inferencial adotada foi o Qui-quadrado e a Prova de Fischer, além da ANOVA do tipo ONEWAY e o teste post hoc de DUNCAN. Os resultados obtidos indicam que o nível socioeconômico mostrou ser uma variável importante na prática desportiva. Por outro lado, gênero sexual exerce restrita influência no perfil dos hábitos de vidas destes atletas, uma vez que as diferenças obtidas entre os gêneros foram pontuais. Palavras-chave: hábitos de vida em jovens atletas, nível socioeconômico e práticas esportivas; gênero sexual e práticas esportivas. Abstract Investigations about life styles are a modern approach in the science of sports. Lately, studies about life habits are becoming more interesting to the scientific community, since it’s becoming necessary to identify the possible factors of interference on sports performance. In such context, the objective of this work is to describe the profile of life habits of young athletes that are practicing high performance sports, as well as to identify the possible effects related to the social and economical level and sexual genre. This present work was developed using the method ex post facto, with a differential type procedure. For experimental data it was used the questionnaire “Estilo de Vida na infância e Adolescência” (Life style in childhood and adolescence” (Sobral, 1982), 203 Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas adapted for a Brazilian context through a preliminary work realized with twenty students. The sample, a non-voluntary probabilistic type, involved 397 athletes (239 men and 154 women), all practicing collective sports with participation at the final stage of the Youth Games/1996. For the analysis of data it was adopted the descriptive statistics (percentage values) and the followings tests to inferential statistics: Q- Square and the Fischer Proof; the ANOVA of the ONEWAY type and the DUNCAN post hoc test. The results obtained shows that the social and economical level to be an important variable in sports performance. On the other side, the sexual genre is of restrict influence on the profile of the life habits of these athletes, since the differences obtained between genres were punctual. Key words: life style of young athletes; social and economic level and sport: sexual genre and sport. Introdução As investigações sobre hábitos de vida configuram-se numa abordagem recente nas ciências do desporto. Tal fato talvez possa ser justificado pela preocupação tradicional e ainda predominante, no âmbito da performance desportiva, com variáveis de cunho quase que exclusivamente biológico. Não obstante, principalmente nos estudos e investigações sobre a problemática da prospecção de talentos desportivos, hoje, cada vez mais, é dada a devida atenção ao estudo das variáveis sócio-culturais. Malina (1980), por exemplo, descreve a performance desportiva e motora como um fenômeno expresso a três dimensões: orgânica: motora e cultural, cuja expressão depende de um conjunto de predisposições e de condições que não se distribuem igualmente por todos os indivíduos, nem no mesmo indivíduo em diferentes fases de sua existência biológica. Para Sobral (1989,1992) o estudo dos hábitos de vida configura-se como importante fator para análise do fenômeno da performance desportiva uma vez que a conceitualização de performance desportiva, enquanto um fenômeno bio-cultural implica no reconhecimento da influência de fatos referentes às condições sócio-econômicas, à organização do cotidiano, às atividades físicas habituais, entre outros, em sua manifestação. Estudos como os realizados por Sallis e colaboradores (1992, 1995), Taks e colaboradores (1995), Cauley e colaboradores (1991), Van Reusel (1981), Grupta (1986), Black e Bredemeier (1988), Mao (1995), Mashiach e Dunkelman (1981) apontam para prováveis efeitos do nível sócio-econômico na performance desportiva. Já os trabalhos apresentados por Thomas e Franch (1985), Sherif e Rattray (1976); Sallis e colaboradores (1992); Lenko e Ewing (1980); Freedson e Evenson (1991); Carolyn (1992) e Brustad (1993) referem que as diferenças de gênero podem explicar, para além das determinantes biológicas, possíveis 204 Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas diferenças nas habilidades motoras entre os sexos. E autores como Mckay (1984), Colley (1986), Rosemberg (1995), Coakley e White (1992), Demo (1995), Suh (1995) e Myotin (1995) destacam as dificuldades da participação feminina no âmbito esportivo. Com a perspectiva de conhecer melhor os fenômenos que envolvem as práticas esportivas, configura-se como principal objetivo deste trabalho descrever o perfil dos hábitos de vida de jovens atletas praticantes de desporto de rendimento, bem como identificar os possíveis efeitos intervenientes do nível sócio-econômico e do gênero sexual nas atividades cotidianas por eles desenvolvidas. Esperamos, com a realização desse estudo, colaborar no sentido de se fazer conhecer melhor o cotidiano dos jovens atletas. Acreditamos que tais informações podem tornar-se relevantes na perspectiva de que o conhecimento da realidade de jovens submetidos a práticas esportivas de rendimento consubstanciam-se em indicadores importantes para a operacionalização de adequados programas de treinamento, bem como de programas de iniciação esportiva. Procedimentos Metodológicos No contexto das investigações sobre o cotidiano de jovens atletas, a indagação que se configura como o problema do presente estudo é a seguinte: serão as variáveis nível sócio-econômico e gênero sexual suficientemente fortes para influenciar na definição dos hábitos de vida em atletas na faixa etária entre 12 a 17 anos? A hipótese orientadora traçada foi a seguinte: as freqüências relativas das diversas dimensões concernentes ao perfil dos hábitos de vida de jovens atletas são significativamente influenciadas pela intervenção das variáveis nível sócioeconômico e gênero sexual. Conceitua-se operacionalmente a variável hábitos de vida considerando-a como um conjunto de atividades cotidianas mais ou menos regulares dos jovens atletas referentes principalmente à organização do cotidiano (hábitos de sono, atividades realizadas no interior e no exterior da residência), participação sócio-cultural (materiais de esporte disponíveis, locais utilizados para prática de lazer e participação em grupos sociais) e participação em práticas desportivas (organização dos programas de treino: freqüência e duração das sessões) descritas a partir das respostas ao inventário Estilo de Vida na Infância e Adolescência (EVIA), desenvolvido por Sobral (1992) e adaptado à realidade brasileira por Torres (1995). A variável nível sócio econômico foi definida pelo critério indicado pela Associação Brasileira de Pesquisa de Mercado (ABIPEME), proposto por Almeida e Wicherhauser (1991). Segundo esta associação, através da obtenção 205 Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas de uma pontuação decorrente do nível de escolaridade dos pais e dos ítens de conforto disponíveis podem ser definidas cinco classes sociais. A população do estudo foi constituída por 1028 atletas participantes de desportos coletivos dos III Jogos da Juventude, realizados em 1996 na cidade de Curitiba, no estado do Paraná. Participaram da organização deste evento as seguintes instituições: Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Instituto Nacional de Desenvolvimento do Esporte (INDESP), Governo do Estado do Paraná e Secretaria de Estado do Esporte e Turismo/Paraná Esporte. A amostra, do tipo não probabilística voluntária, foi composta por 393 atletas, (o que corresponde a 38,22% da população), de ambos os sexos (60,8% do sexo masculino e 39,2% do sexo feminino), com idades compreendidas entre 12 e 17 anos, representantes de 19 estados brasileiros nas seguintes modalidades esportivas: voleibol, basquetebol, futsal e handebol. Adotamos, para a realização do presente estudo, o método de abordagem Ex Post Facto, com procedimentos do tipo diferencial (Costa Pinto, 1990). Para a coleta dos dados foi utilizado o inventário Estilo de Vida na Infância e Adolescência -EVIA- (Sobral, 1992), adaptado para a realização deste estudo pelos próprios investigadores através de um estudo piloto realizado com 20 estudantes com idade semelhantes a da amostra investigada. Para a determinação da fidedignidade do inventário, tratando-se de um instrumento que adota, alternadamente, escalas intervalares e nominais, efetuamos um estudo de correlação entre teste e reteste com espaçamento de 10 dias. Deste modo, definimos os seguintes procedimentos: (a) correlação linear de Pearson para itens em escala ordinal tendo sido obtido um r = 0,98; (b) análise de contingência para itens em escala nominal tendo alcançado um índice médio de 0,90; (c) atribuição de valores numéricos às escalas nominais e, assumindo-as como tal aplicação do teste de correlação linear de Pearson para todo o instrumento tendo sido atingido um r = 0,98; (d) aplicação da equação de Bellack e colaboradores (1966)1, tendo sido consignado um índice médio de 98% de acordos. Para a análise dos dados em escala nominal adotou-se estatística descritiva referente a ocorrências em valores percentuais e, tratando-se de comparar freqüências, a estatística inferencial adotada foi o Qui-quadrado e Prova de Fischer2. Tratando-se de escalas binominais, quando houve diferenças entre mais de dois grupos, utilizou-se ANOVA do tipo ONEWAY e o teste post hoc de Duncan. Equação de Bellack e colaboradores para determinação da consistência entre itens em relação a teste e reteste de um instrumento de coleta de dados: % de acordos = (n° de acordos / n° de acordos + n° de desacordos) x 100. 2 O teste de Fischer será usado quando vinte por cento das células na tabela de contingência apresentarem valores de frequência esperada menor que 5. 1 206 Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas Para a análise de dados em escala intervalar adotou-se estatística descritiva referente aos valores de média e desvios padrão e, para a análise inferencial, utilizou-se a ANOVA do tipo ONEWAY e o teste post hoc de Duncan. Adotou-se, ad hoc, o índice de 0,05 com nível de significância para todas as análises estatísticas inferenciais adotadas e os dados foram tratados pelo pacote estatístico SPSS for Windows, versão 6.0. Apresentação e discussão dos resultados No que se refere ao perfil dos hábitos de vida dos jovens atletas, os dados coletados indicam que, em relação ao nível sócio-econômico, um elevado percentual dos participantes desse estudo pertencem às classes A e B, conforme ilustra o gráfico 1: Gráfico 1.Composição da amostra por nível sócio-econômico classe C 23,1% classe D 6,5% classe A 19,4% classe B 51,1% De acordo com os dados de uma pesquisa realizada em agosto de 1997 (Pesquisa Cadê?/IBOPE), a maioria da população brasileira (62%) possui uma renda familiar de até 5 salários mínimos (o que corresponde à classe E), 20% dos brasileiros pertencem às classe D, 11% à classe C, 6% à classe B e 1% à classe A. Ao compararmos, portanto, os dados do presente trabalho com os da referida pesquisa, parece-nos que é confirmada a hipótese de que o envolvimento com as práticas esportivas sofre influências do nível socioeconômico. O fato de que, aproximadamente, 70% dos participantes dos Jogos da Juventude/1996 são pertencentes às classes A e B, indica claramente que, no Brasil, a prática do desporto encontra-se restrita a uma parcela da população. Parece-nos que uma outra seleção é realizada, a priori, daquela inerente ao desporto de rendimento: a seleção econômica. Nesta perspectiva, entendemos que é preciso o desenvolvimento de estratégias, por parte das instituições de fomento ao esporte, com o objetivo de tornar o acesso às práticas esportivas 207 Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas expandido para a maioria da população brasileira. Desta forma, talvez o envolvimento de jovens atletas com o desporto de rendimento poderá ocorrer independentemente das classes sociais a que pertençam. No que se refere à organização do cotidiano, os dados coletados sugerem uma média de horas de sono diário de 9h 25min (± 1h 22min). As atividades realizadas no interior da moradia não apresentam muita diversificação. As atividades com maiores percentuais de resposta foram assistir televisão (75%), escutar música (80,5%), conversar com amigos (70,3%) e estudar/realizar tarefas escolares (83,8%). Chamou-nos atenção o baixo percentual obtido (24,7%) referente à realização de leituras de lazer. Tratando-se de atletas em idade escolar, consideramos este fato digno de preocupação. Talvez a realização de leituras esteja mais associada à realização de tarefas escolares e não tenha o status, para esses estudantes, de atividade de lazer. De qualquer modo, tratando-se da leitura enquanto forma de acesso a vários tipos de conhecimento e um hábito desejável a ser adquirido no processo de desenvolvimento humano, consideramos alarmantes os percentuais obtidos neste item. Entendemos que as instituições de ensino, assim como as famílias desses atletas, devem estar atentas a esta situação e fornecer os mais variados incentivos com o objetivo de estimular a incorporação da leitura enquanto um hábito na vida desses estudantes. Para além da frequência à escola e aos locais de treinamento, as atividades realizadas no exterior da moradia resumem-se em conversar com amigos (80%) e jogar bola (62,7%). Em relação à participação sócio-cultural, observamos que o material de esporte mais adquirido pelos participantes do estudo é a bicicleta (76,7%), seguida da bola de futebol (46,2%) e da bola de voleibol (45,5%). Interessante é o fato de que, embora a bicicleta seja um material bastante adquirido, um percentual baixo de atletas costuma andar de bicicleta (25,1%). O pequeno número de ciclovias, a quantidade de parques disponíveis que viabilizem a prática do ciclismo, os altos índices de violência urbana, entre outros, podem se consubstanciar como fatores que venham a inibir a prática do ciclismo como atividade de lazer entre estes atletas. Por outro lado, estudiosos do treinamento desportivo como, por exemplo, Matveev (1996) e Zakharov (1992), destacam a importância da vivência de atividades esportivas diversificadas até, aproximadamente, aos 14 anos de idade, no processo de formação dos atletas. E, ao analisarmos os materiais de esporte adquiridos pelos participantes do estudo, observamos a sua restrita variação. Tal fato indica a relevância da escola e do clube no que se refere a oportunização e incentivos à diversificação das práticas esportivas. Caso estas instituições não tenham como princípio garantir a formação de um amplo repertório desportivo para seus estudantes e atletas, temos uma situação bastante preocupante no que se refere à qualidade do processo de formação destes indivíduos. Por outro lado, a intenção de formar gerações olímpicas requer, na 208 Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas realidade brasileira, uma democratização do desporto e uma pedagogia desportiva que seja coerente aos processos de desenvolvimento humano. Em relação aos locais utilizados para as práticas esportivas de lazer, a quadra da escola, no turno oposto da aula, foi a opção de resposta com maior percentual de ocorrência (34,1%). E, no que se refere à participação em grupos sociais, a filiação a clubes e participação de atividades na escola, no turno oposto às aulas, foram as opções de maiores ocorrências de respostas (61,2% e 20,5%, respectivamente). Novamente nos deparamos com o indicativo da importância do clube e da instituição escolar no processo de formação desses atletas. Essas instituições, ao realizarem eventos diferenciados tais como workshops sobre temáticas diversificadas, excursões, festas, exposições artísticas, entre outros, estarão oferecendo a esses jovens oportunidade de maior diversificação de seus hábitos de lazer e de seu desenvolvimento sócio-cultural. Os dados obtidos referente à participação em práticas esportiva indicam que a média da freqüência semanal de treino é de 4, 57 (±1,46). A duração média de cada sessão de treinamento é de 2h 30min (± 51min). A variável nível sócio-econômico exerceu influências no perfil dos hábitos de vida dos atletas no que se refere à realização de atividades específicas, conforme ilustra a tabela 1. É de se salientar, entretanto, o fato de que o nível sócio-econômico da maioria dos participantes deste estudo não corresponde ao nível sócio-econômico de grande parte da população brasileira. Desta forma, talvez outra seleção seja realizada, a priori, daquela inerente ao esporte de rendimento: a seleção econômica. Sendo assim, o nível sócio-econômico caracteriza-se como uma variável importante no que se refere à realização de práticas esportivas de rendimento. Quadro 1. Ocorrência de diferenças estatisticamente significativas dos hábitos de vida de atletas nas diferentes classes sociais Hábitos Assistir Televisão Realizar tarefas Domésticas Passear de carro Grupos onde foram verificadas ocorrências de diferenças estatisticamente significativas • Atletas (sexo masc) da classe A com maiores freqüências em relação aos atletas (sexo masc) das classes B e D • Atletas (sexo fem) das classes B e C com maiores freqüências em relação às atletas da classe A (sexo fem); • Atletas (sexo fem) da classe C com maiores freqüências em relaçâo às atletas da classe B (sexo fem); • Atletas (sexo masc) da classe A com maiores freqüências em relação aos atletas (sexo masc) das classes B, C e D; • Atletas (sexo masc) da classe B com maiores freqüências em relação aos atletas (sexo masc) da classe D; • Atletas (sexo fem) da classe A com maiores freqüências em relação aos atletas (sexo fem) da classe C. 209 Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas Possuir bola de futebol Possuir bola de voleibol Possuir bola de Basquetebol Possuir bola de plástico Possuir raquete de tênis Possuir skate Utilizar o pátio de casa para práticas de lazer Utilizar campos/terrenos baldios para as práticas de lazer Filiação a clubes Esportivos e/ou sociais • Atletas (sexo masc) da classe A com maiores freqüências em relação aos atletas (sexo masc) das classes B e C; • Atletas (sexo masc) da classe A com maiores freqüências em relação aos atletas (sexo masc) das classes B, C e D; • Atletas (sexo masc) da classe B com maiores freqüências em relação aos atletas (sexo masc) das classes C e D; • Atletas (sexo fem) da classe A com maiores freqüências em relação às atletas (sexo fem) das classes C e D; • Atletas (sexo fem) da classe B com maiores freqüências em relação às atletas (sexo fem) das classes C e D; • Atletas (sexo masc) da classe A com maiores freqüências em relação aos atletas (sexo masc) das classes B, C e D; • Atletas (sexo masc) da classe A com maiores freqüências em relação aos atletas (sexo masc) das classes B, C e D; • Atletas (sexo masc) da classe A com maiores freqüências em relação aos atletas (sexo masc) das classes B, C e D; • Atletas (sexo masc) da classe B com maiores freqüências em relação aos atletas (sexo masc) da classe C. • Atletas (sexo masc) da classe A com maiores freqüências em relação aos atletas (sexo masc) das classes B e C; • Atletas (sexo masc) da classe B com maiores freqüências em relação aos atletas (sexo masc) da classe C. • Atletas (sexo masc) da classe A com maiores freqüências em relação aos atletas (sexo masc) das classes B, C e D; • Atletas (sexo masc) das classes C e D com maiores freqüências em relação aos atletas (sexo masc) das classes A e B. • Atletas (sexo masc) das classes A e B com maiores freqüências em relação aos atletas (sexo masc) da classe C. No que se refere à variável gênero sexual, os dados coletados indicam que, para amostra em questão, esta variável exerceu influências, principalmente, em relação à aquisição de materiais de esporte e ao uso de locais específicos para as práticas esportivas de lazer, conforme ilustra a tabela 2: 210 Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas Quadro 2. Ocorrência de diferenças estatisticamente significativas dos hábitos de vida de atletas de diferentes gêneros sexuais: Hábitos Assistir Televisão Realizar tarefas domésticas Andar de patins/roller Possuir bola de futebol Possuir bola de voleibol Possuir chuteiras Possuir patins Utilizar a quadra da escola, no turno oposto às aulas, para práticas de lazer Utilizar campos/terrenos baldios para as práticas de lazer Filiação a clubes esportivos e/ou sociais Grupos onde foram verificadas ocorrências de estatisticamente significativas • Atletas (sexo masc) com maiores freqüências às atletas (sexo fem) na classe B. • Atletas (sexo fem) com maiores freqüências aos atletas (sexo masc) nas classes B e C; • Atletas (sexo fem) com maiores freqüências aos atletas (sexo masc) na classe B. • Atletas (sexo masc) com maiores freqüências às atletas (sexo fem) nas classes A,B e D; • Atletas (sexo fem) com maiores freqüências aos atletas (sexo masc) na classe B. • Atletas (sexo masc) com maiores freqüências às atletas (sexo fem) nas classes A,B, C e D; • Atletas (sexo fem) com maiores freqüências aos atletas (sexo masc) nas classes A, B e C. • Atletas (sexo fem) com maiores freqüências aos atletas (sexo masc) na classe B. diferenças em relação em relação em relação em relação em relação em relação em relação em relação • Atletas (sexo masc) com maiores freqüências em relação ás atletas (sexo fem) nas classes, C e D. • Atletas (sexo fem) com maiores freqüências em relação aos atletas (sexo masc) nas classes B e C. Considerações Finais A análise realizada a partir dos dados coletados indica que o perfil dos hábitos de vida dos atletas participantes deste estudo apresenta as seguintes características principais: nível socioeconômico correspondente às classes A e B; média de horas de sono diário de 9h 25min (± 1h 22min); pouca diversidade na realização de atividades no interior e exterior da moradia (estudar, escutar música, assistir televisão e conversar com amigos dentro da moradia; e jogar bola e conversar com amigos no exterior da moradia); o material de esporte mais adquirido é a bicicleta; o local predileto para a realização de práticas esportivas de lazer é a quadra da escola, no turno oposto ao das aulas; a participação sociocultural é restrita aos clubes e a média da freqüência semanal 211 Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do nível socioeconômico e do gênero sexual no cotidiano de jovens atletas de treino é de 4,57 (± 1,46), sendo a duração média de cada sessão de treino 2h 30min (± 51 min). Considerando a inferências realizadas e tendo como orientação a hipótese geral deste estudo, conclui-se que o nível socioeconômico, apesar de exercer poucas influências nos hábitos de vida dos participantes deste estudo, configura-se como uma variável importante na prática esportiva na medida em que o acesso ao esporte de rendimento apresenta-se restrito a uma parcela economicamente privilegiada da população. Por outro lado, o gênero sexual exerce restrita influência no perfil dos hábitos de vida destes atletas, tendo em vista que as diferenças obtidas entre os gêneros foram pontuais. * Artigo elaborado a partir da dissertação de mestrado de Lisiane Torres, apresentada no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da EsEF/UFRGS, realizada sob orientação do Dr. Adroaldo Gaya. Referências Bibliográficas ALMEIDA, H. e WICHERHAUSER, P. M. O critério ABA?ABIPEME: em busca de uma atualização. São Paulo: ABIPEME, 1991. BLACK M. F. e BREDEMEIER, B. J. 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Esta atitude, além de ir de encontro aos objetivos éticos e morais dos jogos olímpicos, agride também a fisiologia humana, pondo em risco a própria saúde do atleta. Palavras-chave: Olimpismo; Doping. Abstract Olympism has the finality of placing “sports everywhere as a service of a harmonious self development” (DaCosta, 1999, p. 48). Having this as a principle of equilibrium, the idea of performance is put aside and “bringing man to perfection”, “to a self improvement” (Tavares, 1999, p. 28), becomes its’ most important task. Even though the Olympism’s philosophy is very educative, according to the IOA’s president, Prof. Nikos Filaretos (1999), the human being usually desvinculates of moral values and instead of representing its’ country to the glory’s achievement, tends to face a competition with its’ body doped. This attitude, not only goes against the moral and ethical values of the olympic games, but also damages the human physiology, putting in risks the atlete’s health. Key words: Olympism; Doping. Introdução Desde a antigüidade a educação na Grécia era associada aos elementos básicos da filosofia Olímpica. A preocupação com a saúde física, segundo Dr. Theophile Touba (1999) ocupava um lugar de destaque e esta era adquirida e mantida através de exercícios físicos. O Olimpismo na atualidade não significa apenas um físico saudável. Ele é “cultura, história, ecologia, qualidade de vida” (DeRose, 1999, p. 282). Ele partilha do espírito de paz, amizade, cooperação, respeito mútuo e de celebração (Panagiotopoulos, 1998, p. 100). A definição oficial de Olimpismo e seus objetivos podem ser encontrados nos Princípios Fundamentais da Carta 216 Doping X Olimpismo Olímpica (COI, 1997) e de acordo com o Princípio Fundamental nº2, o Olimpismo é “uma filosofia de vida que exalta e combina em equilíbrio as qualidades de corpo, espírito e mente, combinando esporte com cultura e educação. O Olimpismo visa criar um estilo de vida baseado no prazer encontrado no esforço, no valor educacional do bom exemplo e no respeito aos princípios éticos fundamentais universais” (Tavares, 1999). Na visão de Coubertin, um dos pilares básicos do Olimpismo é a questão do fair-play, sinônimo de conduta ética, integridade intelectual e força física (Tavares, 1999). Sem ele a prática desportiva pode sofrer violações de regras, normas, assim como nos seus valores morais. A História do Doping nos Jogos da Antigüidade Apesar do termo doping ter surgido no dicionário inglês em 1879, o uso de substâncias que tem o poder de potencializar a performance pode ser observado no decorrer da história do esporte. Segundo De Rose (1999), uma pintura do imperador Chinês SHENNUNG, de 2.700 a.C., é o primeiro documento que relata o uso de agentes de doping. Os jogos olímpicos da antigüidade eram realizados em Olímpia, de quatro em quatro anos desde pelo menos 776 a.C.. Com o passar dos anos a popularidade dos jogos crescia, os prêmios se tornavam cada vez mais valiosos e o vencer passou a ser motivo de status e de muitas regalias. Neste contexto, aproximadamente no ano 400 a.C. esta disputa atraiu a corrupção. Competidores estavam dispostos a ingerir qualquer substância que os possibilitassem uma melhora na performance, como por exemplo, extratos de cogumelo e sementes de plantas. Além de motivos políticos, um dos motivos que contribuiu para a desagregação dos jogos foi o uso de drogas. A História do Doping nos Jogos Olímpicos da Era Moderna Em 1896 ocorreu a primeira Olimpíada Moderna, em Atenas. Logo na virada do século o esporte retomou um lugar semelhante ao das sociedades grega e romana. Neste momento houve a pressão nos atletas de que eles deveriam ser o melhor e em conseqüência disto, o doping ressurgiu. Pierre de Coubertin, em 1923, mencionou numa palestra que “... a excessiva idolatração ao esporte levava à erronia crença de valores, brutalidade, sobretreinamento e ao doping”. Foi a partir dos anos 60 que o Conselho Europeu, composto por 21 nações européias ocidentais, instituiu uma resolução contra o uso de algumas substâncias no esporte. Em 1967 o Comitê Olímpico Internacional se envolveu nas iniciativas internacionais antidoping logo após a morte do ciclista Tommy Simpson enquanto participava do Tour de France. 217 Doping X Olimpismo O primeiro teste foi realizado em 1968 nos Jogos do México, porém o simples fato de haver um teste antidoping não garantiu a sua efetividade, pois em pouco tempo os atletas aprenderam como driblar o sistema, assim como a tecnologia inadequada da época se tornou um fator limitante. Os testes atuais se tornaram mais sofisticados, portanto mais precisos. Os testes passam por fases, e dependendo da busca, pode se tornar necessário à utilização de métodos de análise mais avançado, como por exemplo, a radioimunológica ou imunológica, cromatografia líquida e gasosa e métodos associando duas técnicas, como cromatografia com espectometria (da massa), cromatografia com detenção de emissão atômica. Porque usar anabolizantes? Há um grande número de fatores que contribuiria para que o atleta se sentisse motivado a fazer uso do doping. A droga em si poderia servir como estímulo pelo seu efeito no organismo, pelo acesso fácil à droga ou pela dependência física já instalada. Já o indivíduo poderia deixar-se influenciar pela insatisfação com o progresso do treinamento ou da performance, por não considerar o uso um problema ético ou por achar que todos utilizam deste mesmo recurso, por falta de informação a respeito de seus efeitos colaterais, por falta de confiança em si próprio. Até mesmo o próprio ambiente poderia servir como um estímulo quando o convívio com pessoas que o utilizam se torna comum; quando a pressão do técnico, familiares, amigos, do público em geral e até da mídia se faz presente; pelo prestígio, fama ou também pelo retorno financeiro. Efeitos do anabolizante sobre o organismo Os anabolizantes esteróides podem promover um aumento no volume muscular esquelético e na sua força contanto que combinado a um treino apropriado e a uma dieta rica em proteína. Ele também tem como efeito a euforia e a redução da fadiga, proporcionando assim uma maior capacidade de treinamento. Apesar dos atletas geralmente obterem resultados desejáveis sejam eles por motivos reais ou não, há vários efeitos colaterais possíveis, dentre eles estão: taxa de LDL aumentada enquanto a de HDL reduzida, hipertensão arterial, hipertrofia prostática, mudanças de comportamento, acne, ginecomastia, estria, hipotrofia testicular, infarto no miocárdio, câncer de fígado, rupturas tendíneas, infertilidade. Em uma pesquisa realizada na Inglaterra, com a participação de atletas e não-atletas, foi revelado que no caso dos atletas, eles aparentemente utilizam os esteróides anabolizantes associados a agentes não-esteróides que contém 218 Doping X Olimpismo propriedades anabólicas, tais como a insulina (57%), o hormônio do crescimento (12%) e o clenbutarol (70%). Substâncias e Métodos proibidos ou restritos I. LISTA DAS SUBSTÂNCIAS PROIBIDAS 1. Estimulantes (ex. cafeína, efedrina, anfetaminas, cocaína). 2. Narcóticos - natural ou sintético (ex. heroína, morfina). 3.1. Agentes Anabólicos: Esteróides Androgênicos (ex. testosterona, estanozol, DHEA). 3.2. Agentes Anabólicos: Não-Esteróides–Beta2 Agonista (ex. medicamentos para asma).* 4. Diuréticos. 5. Hormônio Peptídeo e glicoproteína e anlogos (ex. hCG, ACTH, EPO, hGH, insulina). * Há três exceções: Salbutamol, Salmeterol e Terbutaline, todos em forma de inalação com prescrição médica reconhecida por uma autoridade. II. MÉTODOS PROIBIDOS 1. Doping Sangüíneo. 2. Manipulação farmacológica, química ou física (ex. cateterização, substituição de urina). III. SUBSTÂNCIAS RESTRITAS 1. Álcool. 2. Beta bloqueador. 3. Corticosteróides. 4. Anestésico Local. 5. Cannabis Ativa Conclusão De acordo com os princípios básicos do Olimpismo que defende “... um estilo de vida baseado no prazer encontrado no esforço, no valor educacional do bom exemplo e no respeito aos princípios éticos fundamentais universais”, jamais deveria haver espaço para o doping nem tão pouco para qualquer corrupção referentes às leis e idealizações do Olimpismo. A beleza e a importância de tudo o que foi um dia defendido pelo Barão de Coubertin tem sido de uma certa forma ignorado por pessoas que o próprio presidente da Academia Olímpica Internacional – Nikos FILARETOS defende como estarem fazendo do esporte “um espelho de todos os fenômenos negativos de nossa sociedade”. O problema do doping tem se tornado um problema social e é um assunto importante da saúde pública. As escolas deveriam utilizar tanto o Profissional de Educação Física quantos Professores de Ciências Biológicas como 219 Doping X Olimpismo esclarecedores do malefício do doping, pois só assim, ao terem contato na adolescência / durante treinamento, poderiam ter uma opinião formada a respeito e assim reduziria a chance de se envolverem por falta de informação. Os resultados obtidos pelos atletas através do uso de anabolizantes poderiam der obtidos também na sua ausência, porém com muito mais esforço e determinação por parte do atleta. O treinamento precisaria de uma maior especificidade, o acompanhamento nutricional ininterrupto se faz obrigatório e um acompanhamento psicológico proporcionaria um suporte nos momentos em que geralmente o atleta se desmotiva e que se torna mais suscetível a se envolver com o doping. É sempre importante lembrar que até esta data não há evidência confiável de que o doping ofereça um benefício, e sim, possivelmente qualquer melhora na performance seja reflexo de um aumento na segurança pessoal e da agressividade. Referências Bibliográficas ASDA [homepage]. Australia: Australian Sports Drug Agency. Disponível na Internet: www.asda.org.au/fsdrugs.html, 1999. CNRS [homepage]. France: Centre National de la Recherche Scientifique. Disponível na Internet: www.cnrs.org/cw/en/pres/compress/dopage/dopage2.html, 1998. COMITÊ OLÍMPICO INTERNACIONAL. Olympic Charter. Lausanne: COI, 1997. DACOSTA, Lamartine. O Olimpismo e o Equilíbrio do Homem. In: TAVARES, Otávio, DACOSTA, Lamartine. Estudos Olímpicos. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999. pp. 48-67. DE ROSE, Eduardo Henrique. Problemas Médico-Esportivos do Atleta de Elite em Nossa Sociedade Moderna. In: TAVARES, Otávio, DACOSTA, Lamartine. Estudos Olímpicos. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999. pp. 280-283. 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In: TAVARES, Otávio, DACOSTA, Lamartine. Estudos Olímpicos. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999. pp. 184-204. 221 Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício entre adultos brasileiros e americanos Adriana Barni Truccolo – FAPERGS - Universidade Luterana do Brasil, Canoas/RS Eduardo Henrique De Rose – Associação Médica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Resumo O propósito desta investigação foi o de comparar as razões que levam mulheres brasileiras a praticar atividade física com as razões que levam mulheres americanas a aderirem ao exercício. A amostra foi composta de 164 indivíduos, sendo 37 brasileiros e 127 americanos. Os dois grupos eram similares em idade (na faixa de 50 a 84 anos de idade), nível sócio-econômico, e nível educacional. Um questionário, baseado na revisão de literatura, foi especialmente construído para este estudo. Os dados foram analisados usando o teste “t” para amostras independentes de tamanhos diferentes. Foram observadas diferenças significativas nas razões para aderência ao exercício entre americanas e brasileiras, com um nível de significância de 5%. Palavras-chave: Atividade física, envelhecimento, motivação. Abstract The purpose of this investigation was to identify the factors that determine an active rather than a sedentary lifestyle among the aging population. It was also object of discussion whether or not there were differences on the reasons for exercise adherence among older Brazilian and American women. The sample was comprised of 164 individuals, being 127 Americans and 37 Brazilians. Both groups were similar in age (ranging from 50 to 84 years of age), socioeconomic status, and educational level. A questionnaire, based on the review of literature, was specially designed for this study. The resulting data were analyzed using a “t” test for independent samples of unequal size. The results indicated statistically significant differences on the reasons for exercise adherence between Americans and Brazilians, at the .05 alpha level. The knowledge of the motives that influence older adults to exercise will provide health professionals the tools to design more effective and attractive exercise programs specifically for this group. Key words: Exercise adherence, older adults, aging. Introdução A atividade física regular tem sido considerada como um importante componente de um estilo de vida saudável. Recentemente, esta opinião tem sido reforçada por novas evidências científicas vinculando a atividade física 222 Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício entre adultos brasileiros e americanos regular com uma série de benefícios físicos e psicológicos (Hayflick, 1996). Pesquisas epidemiológicas têm demonstrado os efeitos da atividade física regular em doenças cardiovasculares (Moore & Korzich, 1995), hipertensão (Lombard, Lombard, & Winett, 1995), diabetes mellitus (ADA, 2000; De Rose, 1987), osteoporosis (Nóbrega et. al., 1999), câncer (Klonoff, Annechild, & Landrine, 1994), obesidade (Halpen, A. & Mancini, M. C., 1999), ansiedade e depressão (Mazzeo et. al, 1998). Segundo Sheldahl, Tristani, Hastings, Wenzler, e Levandoski (1993), considerável atenção tem sido direcionada para os potenciais benefícios da atividada física para adultos na faixa etária de 45 a 74 anos de idade, que são mais susceptíveis aos problemas acima mencionados. A aderência à atividade física, ou seja, a adoção e permanência em uma atividade física regular é difícil de ser mantida por muitos indivíduos. Embora exista um crescimento do público consciente dos benefícios fisiológicos, psicológicos, e sociais da atividade física, estimativas revelam que somente 22% dos adultos americanos estão engajados em algum tipo de atividade física diariamente, por um tempo mínimo de 30 minutos; sendo que 54% dos adultos americanos exercitam-se esparsamente, e 24% da população americana é completamente sedentária (Pate et. al., 1995). Em uma pesquisa realizada pelo Conselho Estadual do Idoso do RS (CEI) (de 1994 a 1996), juntamente com quatorze universidades gaúchas, com a intenção de traçar o perfil do idoso no estado do Rio Grande do Sul, foi encontrado que dentre 7920 idosos entrevistados, faixa etária a partir dos sessenta anos de idade, 50% não praticavam nenhuma atividade física regular; e que a outra metade praticava atividade física irregularmente (Secretaria do Trabalho, Cidadania e Assistência Social, CEI). Estudos têm observado uma tendência dos indivíduos em diminuírem a atividade física progressivamente com o passar dos anos. Comparando-se adultos na faixa etária de 25 a 44 anos de idade com adultos na terceira idade (65 - 74 anos de idade), os últimos exercitam-se com menor freqüência e escolhem atividades que requerem uma menor demanda de energia absoluta (Stephens & Caspersen, 1990). A aderência e permanência de indivíduos em programas de exercício, uma vez eles tenham iniciado tem sido freqüentemente estudada e pouco compreendida pelos pesquisadores. Pesquisas têm demonstrado que 50% dos americanos que iniciam um programa supervisionado de exercício irão desistir deste programa nos primeiros 6 meses da atividade (Duncan & McAuley, 1993) Torna-se, então, relevante o estudo das razões que motivam a outra metade da população a aderir à atividade física regular. O conhecimento e a crença dos benefícios que a atividade física promovem para a saúde podem motivar inicialmente o indivíduo à atividade física (Sharpe & Connell, 1992). Contudo, sentimentos de bem-estar e divertimento parecem ser razões mais fortes para a 223 Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício entre adultos brasileiros e americanos aderência destes indivíduos em programas de atividade física (McMurdo & Rennie, 1993). Acredita-se que um estudo aprofundado das razões que levam esta camada da população a manter-se ativa, irá fornecer os conhecimentos necessários para que programas de atividade física sejam mais bem estruturados e direcionados a este segmento da sociedade. Conseqüentemente, assegurando melhores perspectivas de engajamento e continuidade pelos adultos na terceira idade em uma atividade física regular. Métodos e Procedimentos Amostra A amostra foi compreendida por 164 voluntários, sendo 37 brasileiros e 127 americanos, do sexo feminino, com faixa etária a partir dos cinqüenta anos de idade, abaixo distribuídos (Tabela 1): Tabela 1: Amostragem em números absolutos: ____________________________________________________________ Faixa Etária Brasil (Porto Alegre) / Estados Unidos (Miami) ____________________________________________________________ Grupo 70-80 anos: 9 37 Grupo 60-69 anos: 11 29 Grupo 50-59 anos: 17 61 ____________________________________________________________ Coleta de dados Os indivíduos brasileiros que participaram desta amostra praticavam atividade física em parques, academias de ginástica, clubes e academia de yoga. Os indivíduos americanos que participaram deste estudo praticavam atividade física na ilha de Key Biscayne (ciclovia, praia, clube de golfe, clube de tênis), e no Health South Doctors’ Hospital, em Miami, FL. Instrumento e Modelo O instrumento utilizado foi um questionário desenvolvido pela autora quando da elaboração de dissertação de mestrado na Universidade Internacional da Florida (FIU), Miami, USA. O modelo utilizado foi o modelo Causa-Comparação, também referido como modelo “ex post facto”. Procedimentos Inicialmente foi realizado um teste piloto com o intuito de verificar se o questionário era auto-explanatório e bem compreendido pelos voluntários. 224 Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício entre adultos brasileiros e americanos Como nenhuma dúvida foi levantada concluiu-se que o instrumento é de fácil compreensão. Contatamos com voluntários nos lugares mencionados no item Coleta de dados, e brevemente explicamos aos indivíduos a natureza e seriedade da pesquisa. Análise dos dados O teste “t” para amostras independentes de tamanhos diferentes foi aplicado a fim de observar diferenças significativas entre as médias das razões citadas para aderir à atividade física entre a amostra de Porto Alegre e a amostra dos Estados Unidos. Resultados e Discussão Características sócio-demográficas A maioria dos respondentes eram casados (64,86% brasileiros, 79,25% americanos), de cor branca (97.30% brasileiros, 84.20% americanos), com um bom nível educacional (43% dos brasileiros com nível superior completo e 44% dos americanos com nível superior completo), e com uma renda mensal satisfatória. Razões para aderência à atividade física A Tabela 2 apresenta as médias, desvios padrões, teste “t” para amostras independentes, de tamanhos diferentes, calculados a partir da avaliação dos grupos em cada uma das razões para aderência à atividade física. O nível de significância adotado foi de 5%. Nota-se que as respostas das alternativas do tipo Likert medindo a importância das razões para exercitar em uma escala de (5) “extremamente importante” a (1) “sem nenhuma importância” entre o grupo de Porto Alegre e o grupo dos Estados Unidos mostrou significativas diferenças em algumas das razões. O controle do peso corporal foi uma razão significativamente diferente, sendo mais importante para o grupo americano (ΧUSA = 4.04) do que para o grupo brasileiro (ΧPOA = 3.30). Outras razões também significativamente diferentes, porém mais importantes para a amostra brasileira do que para a amostra americana foram: socialização (Χ POA = 3.72, Χ USA = 2.58), diminuição da ansiedade (Χ POA = 3.63, Χ USA = 3.21), diminuição da depressão (Χ POA = 3.85, Χ USA = 3.12), alívio do stress (Χ POA = 4.18, Χ USA = 3.24), melhora no humor (Χ POA = 3.80, Χ USA = 2.92), apoio do cônjuge (Χ POA = 4.08, Χ USA = 3.10), aprecia estar ao ar livre (Χ POA = 4.32, Χ USA = 3.56), e a razão ser divertido (Χ POA = 4.20, Χ USA = 3.57). 225 Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício entre adultos brasileiros e americanos As razões igualmente importantes para os dois grupos, e, portanto, não significativamente diferentes foram: melhora no condicionamento e saúde, melhora na aparência, dormir melhor, e sentir-se melhor consigo mesma. Tabela 2: Médias (Χ) e Desvios Padrões (s) das Razões para Exercitar: ____________________________________________________________ POA USA ___________ __________ Razões p/ Exercitar Χ s Χ s t p ____________________________________________________________ Melhora Cond./Saúde 4.33 0.70 4.35 0.98 0.13 >0.05 Controle do Peso 3.30 1.84 4.04 1.13 2.18 <0.05* Melhora na Aparência 3.95 0.97 3.72 1.23 -1.21 >0.05 Socialização 3.72 1.19 2.58 1.44 -4.75 <0.05* Dormir Melhor 3.74 1.51 3.24 1.31 -1.67 >0.05 Ansiedade Diminuída 3.64 0.29 3.21 1.43 -3.07 <0.05* Depressão Diminuída 3.85 0.53 3.12 1.41 -4.56 <0.05* Aliviar o Stress 4.18 1.28 3.24 1.35 -3.76 <0.05* Melhora no Humor 3.80 1.08 2.92 1.29 -4.19 <0.05* Sinto Melhor Comigo 4.20 0.90 3.92 1.15 -1.56 >0.05 Apoio do Cônjuge 4.08 1.28 3.10 1.59 -3.37 <0.05* Aprecia estar ar livre 4.32 1.02 3.56 1.45 3.45 <0.05* É divertido 4.20 0.96 3.57 1.17 -3.32 <0.05* ____________________________________________________________ Nota: * = significativamente diferente A Tabela 3 indica as médias e desvios padrões das razões para exercitar no grupo de POA e no grupo dos USA na faixa etária de 50 a 59 anos de idade, 226 Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício entre adultos brasileiros e americanos bem como teste “t” para amostras independentes de tamanhos diferentes, a um nível de significância de 5%. Como pode ser observado, houve significativa diferença nas seguintes razões: controle do peso corporal (Χ POA = 3.60, Χ USA = 4.19), mais importante para a amostra americana; socialização (Χ POA = 4.18, Χ USA = 1.97), mais importante para a amostra brasileira; apoio do cônjuge (Χ POA = 4.31, Χ USA = 3.29), mais importante para a amostra brasileira; e apreciar estar ao ar livre (Χ POA = 4.06, Χ USA = 3.20), também mais importante para a amostra brasileira. A Tabela 4 mostra as médias, desvios padrões, teste “t” para amostras independentes de tamanhos diferentes, a um nível de significância de 5%, das razões para aderência ao exercício dos grupos brasileiro e americano na faixa etária de 60 a 69 anos de idade. Como visto na Tabela 4, as razões significativamente diferentes foram mais importantes para o grupo de POA do que para o grupo dos USA, sendo as seguintes: socialização (Χ POA = 4.18, Χ USA = 2.76), dormir melhor (ΧPOA = 3.64, ΧUSA = 2.70), diminuição da ansiedade (Χ POA = 3.70, ΧUSA = 2.53), diminuição da depressão (ΧPOA =4.00, Χ USA = 2.90), meio de aliviar o stress (ΧPOA = 4.00, ΧUSA = 2.95), aprecia estar ao ar livre (Χ POA = 4.60, ΧUSA = 3.60), e ser divertido (ΧPOA = 4.60, ΧUSA = 3.80). Tabela 3: Médias (Χ) e Desvios Padrões (s) das Razões para Exercitar na Faixa Etária de 50-59 anos de idade: ____________________________________________________________ POA USA ___________ __________ Razões p/ Exercitar Χ s Χ s t p ____________________________________________________________ Melhora Cond./Saúde 4.41 0.81 4.33 0.98 0.35 >0.05 Controle do Peso 3.60 1.30 4.19 1.06 -0.20 <0.05* Melhora na Aparência 4.18 1.00 3.97 1.18 0.72 >0.05 Socialização 4.18 0.90 1.97 2.14 5.29 <0.05* Dormir Melhor 3.82 1.61 3.47 1.38 0.42 >0.05 Ansiedade Diminuída 3.65 1.88 2.69 2.27 1.23 >0.05 227 Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício entre adultos brasileiros e americanos Depressão Diminuída 3.75 1.57 3.16 1.50 1.34 >0.05 Aliviar o Stress 4.00 1.37 3.30 1.42 1.79 >0.05 Melhora no Humor 3.63 1.31 3.07 1.39 1.49 >0.05 Sinto Melhor Comigo 4.29 1.00 3.85 1.07 1.57 >0.05 Apoio do Cônjuge 4.31 1.26 3.29 1.45 2.76 <0.05* Aprecia estar ar livre 4.06 1.25 3.20 1.49 2.39 <0.05* É divertido 3.82 1.14 3.29 1.32 1.60 >0.05 ____________________________________________________________ Nota: * = significativamente diferente Tabela 4: Médias (Χ) e Desvios Padrões (s) das Razões para Exercitar na Faixa Etária de 60 - 69 anos de idade: ____________________________________________________________ POA USA ___________ __________ Razões p/ Exercitar Χ s Χ s t p ____________________________________________________________ Melhora Cond./Saúde 3.64 1.90 4.10 1.40 -0.71 >0.05 Controle do Peso 3.90 0.99 3.74 1.44 0.35 >0.05 Melhora na Aparência 3.45 1.05 3.38 1.28 0.17 >0.05 Socialização 4.18 1.09 2.76 1.48 3.09 <0.05* Dormir Melhor 3.64 1.27 2.70 1.17 2.04 <0.05* Ansiedade Diminuída 3.70 1.34 2.53 1.30 2.25 <0.05* Depressão Diminuída 4.00 1.33 2.90 1.21 2.20 <0.05* Aliviar o Stress 4.00 1.15 2.95 1.34 2.28 <0.05* 228 Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício entre adultos brasileiros e americanos Melhora no Humor 3.80 1.03 3.00 1.23 1.86 >0.05 Sinto Melhor Comigo 4.20 1.03 3.33 1.17 1.71 >0.05 Apoio do Cônjuge 3.86 1.34 3.38 1.78 0.75 >0.05 Aprecia estar ar livre 4.60 0.70 3.60 1.43 2.56 <0.05* É divertido 4.60 0.52 3.80 1.06 2.76 <0.05* ____________________________________________________________ Nota: * = significativamente diferente A Tabela 5 apresenta as médias, desvios padrões, teste “t” para amostras independentes de tamanhos diferentes, a um nível de significância de 5%, das razões para aderência ao exercício dos grupos brasileiro e americano na faixa etária de 70 a 79 anos de idade. Como pode ser observado, houve diferença significativa nas razões ansiedade diminuída (ΧPOA = 4.43, ΧUSA = 3.24), depressão diminuída (ΧPOA = 4.14, ΧUSA = 3.16), meio de aliviar o stress (ΧPOA = 4.14, ΧUSA = 3.14), apreciar estar ao ar livre (ΧPOA = 4.57, ΧUSA = 3.82), e a razão ser divertido (ΧPOA = 4.57, ΧUSA = 3.52). Analisando as médias, podemos concluir que as razões para aderir ao exercício foram mais importantes para a amostra brasileira do que para a amostra americana. Tabela 5: Médias (Χ) e Desvios Padrões (s) das Razões para Exercitar na Faixa Etária de 70 - 79 anos de idade: ____________________________________________________________ POA USA ___________ __________ Razões p/ Exercitar Χ s Χ s t p ____________________________________________________________ Melhora Cond./Saúde 4.25 0.71 4.47 0.61 -0.79 >0.05 Controle do Peso 3.43 1.13 3.89 1.32 -1.00 >0.05 Melhora na Aparência 3.22 2.96 3.56 1.42 -0.30 >0.05 Socialização 3.17 1.59 3.00 2.32 0.24 >0.05 Dormir Melhor 3.43 1.27 3.44 1.59 0.02 >0.05 229 Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício entre adultos brasileiros e americanos Ansiedade Diminuída 4.43 0.52 3.24 2.14 3.97 <0.05* Depressão Diminuída 4.14 0.71 3.16 1.93 2.80 <0.05* Aliviar o Stress 4.14 0.71 3.14 2.01 2.86 <0.05* Melhora no Humor 4.00 0.58 3.38 1.95 1.94 >0.05 Sinto Melhor Comigo 4.29 0.44 3.86 1.50 1.62 >0.05 Apoio do Cônjuge 3.75 1.50 3.85 1.53 -0.13 >0.05 Aprecia estar ar livre 4.57 0.55 3.82 1.87 2.42 <0.05* É divertido 4.57 0.80 3.52 1.94 2.84 <0.05* ____________________________________________________________ Nota: * = significativamente diferente Conclusão Atualmente, numerosas obras e artigos científicos têm sido publicados chamando atenção para o efeito benéfico da atividade física para ajudar o homem a envelhecer melhor; assegurando condições de bem estar físico, psicológico e social. É crescente a importância da promoção da saúde nas nossas sociedades, e as pessoas começam a entender o papel preventivo do exercício. O envelhecimento é um processo natural, vivenciado por todo ser humano. Cabe ao indivíduo envelhecer com dignidade, sabedoria, cuidando do seu corpo e da sua mente. A independência na velhice é algo extremamente importante. Tarefas que à primeira vista parecem simples como se levantar de uma poltrona, vestir-se, caminhar sem auxílio, tornam-se bastante difíceis para uma pessoa inativa, sem força muscular ou coordenação motora. Por isso a preocupação em desvendar os motivos que impulsionam adultos na terceira idade a praticarem exercício é importante para o investigador. A prescrição do exercício é um aspecto relevante que se encontra associado ao da aderência aos programas. Se os promotores da saúde desejam que as pessoas adiram e permaneçam nos programas propostos devem, também, promover atividades que produzam alegria, satisfação e mantenha as pessoas interessadas. Acredita-se que com o conhecimento destas razões tornar-se-á possível a elaboração de programas de atividade física que sejam atraentes e eficazes, conseguindo atingir um percentual de aderência mais elevado, por parte deste segmento da população que é cada vez maior. 230 Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício entre adultos brasileiros e americanos Neste estudo, foram determinadas as razões que impulsionam mulheres brasileiras e mulheres americanas a adotarem um estilo de vida saudável. Os resultados mostraram que os fatores mais importantes para mulheres, a partir dos cinqüenta anos de idade, residentes em Porto Alegre, RS, aderirem ao exercício são a melhora do condicionamento físico e da saúde, o fato de apreciarem estar ao ar livre, ser divertido, aumento da auto-estima e alívio do stress. Também se observou as principais causas para americanas, na mesma faixa etária, residentes em Miami, FL, aderirem à atividade física regular. As causas mencionadas foram a melhora do condicionamento físico e saúde, o controle de peso, aumento da auto-estima, melhora na aparência e ser divertido. Mesmo sabendo dos benefícios do exercício não só para a saúde física como também para a saúde mental, boa parte da população, e então nos referimos a população em geral, de jovens, adultos, e idosos, é sedentária. Nosso dever como profissionais da área da saúde é o de tentar reverter essa realidade, conscientizando as pessoas a mudarem os hábitos, a entenderem o quanto importante a atividade física é para o nosso corpo e para o nosso espírito. Como conclusão podemos afirmar que a atividade física, organizada em programas sistemáticos, dirigidos a indivíduos com funcionamento psicológico normal, tem efeitos francamente benéficos, sendo estes mais evidentes sobre variáveis afetivo-emocionais tais como humor, ansiedade e depressão. Referências Bibliográficas ADA (American Diabetes Association). Diabetes Mellitus and Exercise. Diabetes Care, 20(1), S50-4, 2000. CONSELHO ESTADUAL DO IDOSO - Os Idosos do Rio Grande do Sul: estudo multidimensional de suas condições de vida. Secretaria do Trabalho, Cidadania e Assistência Social. Porto Alegre: CEI, 1996. DE ROSE, E. H. Diabetes y Deporte. Medicina del Ejercício, 2 (1), 1987. p.21-24. DUNCAN, T. E., & MCAULEY, E. 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Como instrumento de medida utilizou-se dois questionários: um sobre a Carta do Espírito Esportivo com seus dez códigos ou artigos e o segundo sobre o espírito esportivo em situações competitivas de jogo. Com base nos resultados pudemos chegar as seguintes conclusões: Houve diferenças entre o discurso dos alunos e o comportamento que estes assumiriam em situações competitivas de jogo. Existe fundamento na hipótese de que a Carta sobre Espírito Esportivo não seja suficiente capaz de orientar o comportamento e a atitude dos alunos em competições esportivas. A situação indica outras estratégias de ensino que se acrescente à Carta para a melhor realização destes propósitos. Sugere-se que em estudos sobre fair play se considere como prioridade a hipótese de diferenças entre o discurso e prática no fair play principalmente no âmbito escolar e que se leve em consideração a questão cultural do grupo envolvido. Abstract The main purpose of this study was to survey in a group of high-school students the impact , if any, from the Fair Play Charter, having as references their perceptions in relation to sportive spirit in game’s competitive situations. The methodological option was a descriptive and analytical research. The experimental group was composed by 30 (thirty) high-school students of Technical School of Rio de Janeiro, comprising both sexes with ages 14 to 17 years old. The instrument for collecting data was a questionnaires with two versions: one focusing codes or articles from Fair Play Charter and the other emphasizing the sportive spirit in competitive situations. The results suggest that there is a meaningful difference between the discourse of students and the behavior they assume in competitive situations. Also, many evidences give support to the hypothesis that spirit sportive is not sufficiently capable to orient behavior and attitude of students in sportive competition. This conclusive assumption indicates furthermore other ways of teaching far 234 Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play) beyond the Fair Play Charter. Moreover, future studies on fair play theme may give priority to the hypothesis of difference between the discourse and practice facing codes and sportsmanship spirit. Again, adolescent and young students are the preferred target group for these proposed studies, mainly when the cultural background is taken into account. 1. Introdução Em tese, é importante nos estudos sobre comportamento e espírito esportivo verificar dados informativos que podem implicar e interferir no comportamento esportivo do aluno. Ou seja, pode haver diferenças entre o discurso e a ação do jogador que poderia comprometer muitas vezes a própria intenção. Neste sentido parece importante a compreensão dos dados referenciais que se vinculem à motivação e aos sentidos que possam ter a prática esportiva. Como nos diz Gomes (1999) “alguns comportamentos que aparecem numa partida em ambiente competitivo são regulados não somente pela concepção de jogador sobre o que é ético ou não, mas pela expectativa do técnico, dos organizadores, ou mesmo da família” (p.220). Desta forma, é importante nos estudos de cada país ou região com suas diferenças culturais verificar se existem distinções nos discursos e na ação do competidor, a fim de identificar referências culturais que possam estar associadas ao comportamento na prática esportiva. Assim é possível que se possa adquirir referências que sejam aplicáveis ao desenvolvimento e utilização de estratégias de ensino relativas ao fair play. O fair play, que na sua tradução quer dizer Jogo Limpo é um dos principais valores presentes no Movimento Olímpico e modernamente é considerada a ética que orienta as práticas esportivas competitivas. Embora o conceito de fair play esteja sendo palco para inúmeras discussões, o mais relevante é destacar que o fair play não é uma invenção da idade moderna, uma vez que aparece em diferentes culturas e contextos sociais de diferentes períodos históricos (Caillé, 1994). É importante o entendimento do fair play como um elemento que tem a sua gênese na Inglaterra e que adquiriu propagação através do Olimpismo. A idéia geral de fair play como a atitude de um bom comportamento está associada ao comportamento cavalheiresco que teve sua gênese na Inglaterra. O cavalheirismo, um comportamento social europeu existente no século XIX, significava o homem nobre, honrado e honesto (ethos cavalheiresco). Daí a forte influência do modelo social inglês na formação do “fair play”. Nesse sentido Tavares (1999) faz a seguinte observação: Isto implica que na percepção de que o ‘fair play’, enquanto conjunto de valores normativos do comportamento individual e coletivo no ambiente da competição atlética reflete a formulação de um ambiente cultural específico. Deste modo, ainda que o Olimpismo de um modo geral, e o ‘fair play’em 235 Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play) particular, tenham adquirido alguma expressão hipoteticamente universal, é altamente recomendável que se examine a significância atual do ‘fair play’ a partir de um cenário cultural multidimensional (p.178). Com estes pressupostos foi realizada uma pesquisa com alunos do ensino médio de uma Escola Técnica do Município do Rio de Janeiro, em que se examinou a relação entre duas questões: a opinião dos alunos sobre a Carta do Espírito Esportivo e a percepção dos alunos quanto ao espírito esportivo em situações simuladas de jogo. Ao verificar essa relação buscou-se gerar hipóteses para futuras pesquisas. Nestes termos, definiu-se uma investigação preliminar que pudesse dar sentido à observação entre o discurso e a ação dos competidores, algo claramente importante quanto ao fair play. Os alunos foram instruídos quanto aos códigos do Espírito Esportivo (Carta sobre o Espírito Esportivo). A partir daí a intenção foi a de verificar, através da percepção dos alunos, qual o tipo de comportamento que estes assumiriam em situações de competição, tendo em vista os conceitos aprendidos nos códigos da Carta sobre o Espírito Esportivo. Assim sendo foram elaboradas as seguintes questões a investigar: Há diferenças entre a opinião dos alunos e o comportamento assumido em situações competitivas de jogo? É possível que os conceitos e valores apresentados na Carta orientem o comportamento dos alunos? A Carta pode ser um meio pedagógico de Educação do Espírito Esportivo? 2. Conceito de Espírito Esportivo (fair play) Segundo a Câmara Municipal de Oeiras (1999) “o Espírito Esportivo, constitui uma noção difícil de definir. Não é, contudo difícil de reconhecer algumas dimensões da questão: lealdade, honestidade, aceitação das regras, respeito pelos outros e por si próprio e igualdade de oportunidades” (p. 9). O Espírito Esportivo que modernamente é entendido como fair play (ética esportiva) é um dos objetivos da Educação Olímpica. Para um melhor entendimento do conceito e significado de fair play Parry (1994) destaca três fatores fundamentais: É importante destacar três fatores fundamentais para entendermos o conceito e os significados relacionados ao Fair Play: o primeiro considera o Fair Play como uma virtude de aderência às regras, as quais todos tem o dever de tolerar; o segundo, como um compromisso de competir em tal espírito a ponto de levar as boas ações acima ou abaixo daquelas estritamente caracterizadas pelas regras, embora não sejam deveres; o terceiro, como uma atitude geral com relação ao esporte, e na própria vida, envolvendo respeito pelos outros, modéstia na vitória, serenidade na derrota e generosidade (p. 211). Portela (1999) nos dá a sua contribuição dizendo, no seu ponto de vista, os significados de fair play: “O fair play (ética esportiva), então, pode ser encarado como a idéia de educar o homem para a reciprocidade, no caso, desenvolver o 236 Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play) conceito de semelhança entre os homens, fazendo-os identificarem-se no outro, perceber a necessidade do oponente, entender que o vencedor e vencido é questão de momento” (p. 228). 3. Conceito de Percepção A percepção define-se como o processo de organizar e interpretar dados sensoriais recebidos (sensações) para desenvolvermos a consciência do ambiente que nos cerca e de nós mesmos. A percepção implica interpretação. O comportamento do outro atinge a nossa percepção. Formamos um conceito sobre o outro ou as coisas, que é influenciado por nossos preconceitos, estratégias, valores e atitudes. Segundo Davidoff (1983): Em geral, nossas expectativas provavelmente influenciam nossas percepções de maneiras diversas. Nossa tendência é dar ênfase aos aspectos dos dados de realidade que se acham em harmonia com nossas crenças. As expectativas influenciam nossas ações que, por sua vez, afetam a conduta das pessoas percebidas (p. 243). As atitudes perceptivas, então, apresentam-se como uma maneira de se interpretar o mundo e também situações de jogo, como foi proposto aos alunos. É importante lembrar que essa percepção e interpretação das situações de jogo tiveram a intenção de ser influenciada por um processo de educação na transmissão e instrução dos códigos do Espírito Esportivo (Carta sobre o Espírito Esportivo). 4. Método 4.1. Grupo Experimental As duas questões foram analisadas através da aplicação de questionários específicos. O questionário 1 - Carta sobre Espírito Esportivo; e o questionário 2 Percepção dos alunos quanto ao Espírito Esportivo em situações simuladas de jogo. Responderam ao questionário 60 alunos com idades entre 14 e 17 anos, sendo 21 rapazes e 39 moças. Os alunos pertenciam a duas turmas do Ensino Médio de uma Escola Técnica do Rio de Janeiro. 4.2. Desenvolvimento do Questionário No questionário 1 - Carta sobre o Espírito Esportivo - foram apresentados aos alunos os dez artigos da Carta. Os alunos emitiram suas opiniões acerca de cada um dos artigos da Carta. Para isto foi utilizada a escala lickert que consistiu em determinar o grau de importância e entendimento dos alunos a respeito do assunto. É importante lembrar que antes da aplicação do questionário 1 os alunos foram instruídos quanto ao conceito, a história e a evolução do fair play, a importância e o significado da Carta. 237 Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play) No questionário 2 - Percepção dos alunos quanto ao Espírito Esportivo em situações simuladas de jogo - foram apresentadas aos alunos dez situações de jogo em competição. Em cada situação de jogo foram apresentadas duas alternativas de comportamento diante da situação, e finalmente, uma delas foi sugerida aos alunos que deveriam se posicionar diante da alternativa sugerida. Cada uma das situações do questionário 2 (em anexo) correspondia a cada um dos artigos da Carta sobre o Espírito Esportivo (questionário 1), na ordem equivalente da pergunta 1 a pergunta 10. Os alunos não foram informados sobre essa correspondência, além do que responderam aos questionários 1 e 2 em dias diferentes. Considerou-se também como correspondência a resposta dadas pelos alunos na escala lickert encontrado nos dois questionários com os seguintes itens: É importante sim com certeza; Mais ou menos importante; Não entendo; Entendo mas não sei o que dizer; Não é importante com certeza. 5. Resultados e Discussão 5.1. Relação entre a opinião dos alunos a respeito da Carta sobre o Espírito Esportivo e a percepção dos alunos quanto ao Espírito Esportivo em situações simuladas de jogo: Pergunta 1: No item é importante sim com certeza 78% dos alunos responderam no questionário 1 e 23% no questionário 2, uma diferença de 55% de alunos a mais no questionário 1 para o questionário 2. Estes dados demonstram uma disposição muito mais conceitual do que prática em se respeitar o regulamento do jogo, não cometendo infração aos regulamentos. No item mais ou menos importante houve uma diferença de 7% a mais de alunos no questionário 2. Uma maior quantidade de alunos (18%) não entenderam a situação de jogo contra apenas cerca de 1% dos que não entenderam o artigo 1 da Carta. Cerca de 1% entendeu, mas não soube o que dizer no questionário 1 contra 3% no questionário 2. Já no item não é importante com certeza a maioria dos alunos se concentrou no questionário 2 numa diferença de 30% em relação ao questionário 1. Percebe-se que, na situação de jogo, a maioria dos alunos podem ser capazes de infringir o regulamento em favor da vantagem no jogo. Nesta situação os alunos parecem não estar relacionados preliminarmente com o conceito de honestidade no jogo esportivo. Assim no questionário 1 a maioria dos alunos achou o código da Carta importante sim com certeza, mas na situação simulada de jogo a maioria não achou importante com certeza assumir o comportamento de espírito esportivo preconizado pelo código. Este é um caso em que aparentemente o conceito mais amplo de fair play pode não ter a aplicabilidade prática que se espera. 238 Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play) Pergunta 2: Nesta questão 55% de alunos no questionário 1 responderam ser importante sim com certeza respeitar os árbitro, sendo a sua presença absolutamente indispensável na competição contra 21% no questionário 2. Já 40% de alunos no questionário 2 responderam contra 38% no questionário 1 no item é mais ou menos importante respeitar o árbitro e a sua presença na partida. A maioria que teve certeza de respeitar o árbitro e a sua presença com opinião ao artigo da Carta posicionou-se na dúvida ao aceitar o árbitro e a sua presença quando lhes foi colocada uma situação de jogo. Assim como na pergunta 1, também nesta pergunta, pode-se constatar uma maior quantidade de alunos que mostrou não entender a situação de jogo (10%) do que não entender o artigo da Carta (1%). O mesmo ocorreu com o item entendo, mas não sei o que dizer. Uma diferença de 5% de alunos a mais respondeu que não é importante com certeza, na situação de jogo, respeitar o árbitro e a sua presença. Pergunta 3: Na pergunta 3 responderam ser importante sim com certeza 26% na Carta contra 16% na situação de jogo. E mais ou menos importante 45% na Carta contra 43% na situação de jogo. Novamente uma maior quantidade de alunos não entende ou entende, mas não sabe o que dizer na situação de jogo do que no conceito da Carta. E uma diferença de 4% a mais do questionário 1 para o questionário 2 acham que não é importante com certeza aceitar todas as decisões do árbitro. Os alunos tendem a demonstrar maior importância ao conceito de respeitar ou não respeitar o árbitro do que isto posta na situação de jogo. Pergunta 4: Na pergunta 4 temos no item é importante sim com certeza uma diferença de 20% a mais de alunos no questionário 1 em relação ao questionário 2. A maioria dos alunos demonstrou, tanto conceitualmente como na percepção da situação de jogo, espírito esportivo em reconhecer com dignidade, na situação de vencidos, a superioridade do adversário. Um mesmo percentual de alunos, 31% respondeu no item mais ou menos importante. No item entendo, mas não sei o que dizer houve pouca concentração, 3% no questionário 1 contra 5% no questionário 2. Uma menor concentração de alunos também se verifica no item não é importante com certeza, 5% no questionário 1, e 10% no questionário 2. Pergunta 5: Novamente a maioria dos alunos concentrando suas respostas no item é importante sim com certeza, 75% no questionário 1, e 51% no questionário 2. Os alunos estão inclinados a aceitar a vitória com modéstia, sem ridicularizar ou diminuir o adversário. No item mais ou menos importante a maioria dos alunos se concentrou na situação de jogo. O fato curioso desta pergunta é que 239 Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play) nenhum aluno respondeu não entender o artigo 5 da Carta do questionário 1, no entanto 13% de alunos se posicionaram no item não entendo do questionário 2, o que mostra que há aparentemente uma tendência do aluno não saber ou não conseguir associar o conceito dos artigos nas situações de jogo. Nos últimos itens houve menor concentração de alunos e as respostas dos questionários foram aproximadas. Pergunta 6: Na pergunta 6, assim como na pergunta 5, as respostas da maioria dos alunos convergiram claramente para o item é importante sim com certeza, 58% no questionário 1, e 61% no questionário 2. A maioria dos alunos tendem a demonstrar espírito esportivo em reconhecer os bons resultados do adversário. Desta vez, uma pequena maioria de alunos, em diferença de 3%, disseram ser importante sim com certeza na percepção da situação de jogo (questionário 2) do que no conceito do artigo (questionário 1). Houve também um considerável contingente de alunos que responderam ser mais ou menos importante reconhecer os bons resultados do adversário, 28% no questionário 1, e 23% no questionário 2. Não entenderam a situação de jogo 9% a mais de alunos do que os que não entenderam o conceito do código da Carta. Um número de 3% respondeu entender, mas não saber o que dizer tanto no conceito como na situação de jogo. E, 8% no conceito contra 1% na situação de jogo disseram não ser importante com certeza. Pergunta 7 Percebe-se, na pergunta 7, um equilíbrio das respostas em todos os itens dos questionários. E mais uma vez, a maioria das respostas dos alunos se concentra no item é importante sim com certeza, 75% no questionário 1, e 70% no questionário 2. Essa maioria dos alunos tende a afirmar que mostrariam espírito esportivo competindo em igualdade de circunstâncias com o adversário, contando apenas com seu talento e as suas capacidades para alcançar a vitória. Assim, essa grande parte grupo tende a estar de acordo com o princípio da igualdade. No item mais ou menos importante temos 18% no questionário 1 e 16% no questionário 2. O restante dos alunos representando a minoria se divide nos outros itens com pequenas diferenças percentuais entre os questionários. Pergunta 8: Na pergunta 8, a grande concentração de respostas recai novamente sobre o item é importante sim com certeza, 76% no questionário 1, e 63% no questionário 2. A maioria dos alunos tendem a recusar ganhar por meios ilegais ou fraudulentos. Uma diferença de 5% acha que é mais ou menos importante na situação de jogo recusar ganhar por meios ilegais ou fraudulentos. Uma 240 Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play) maioria não entende na situação de jogo essa questão do que conceitualmente na Carta. E uma pequena diferença de 2% se apresenta no questionário 2 para o 1 no item entendo mas não sei o que dizer e do questionário 1 para o 2 no item não é importante com certeza. Pergunta 9 Na pergunta 9, os dados repetem as últimas respostas apresentadas pelos alunos , 81% no questionário 1, e 48% no questionário 2 concentraram-se no item é importante sim com certeza. A maioria disse que é importante sim com certeza mostrar espírito esportivo significando para os árbitros conhecer bem todas as regras e aplicá-las com imparcialidade. Neste caso, os alunos se colocaram na figura do árbitro para responder a essa questão. Os alunos têm o espaço na Educação Física Escolar para experimentar essa situação no papel de árbitro do jogo. Mais uma vez atenta-se para o fato da diferença das respostas nos questionários que foi uma diferença de quase o dobro do questionário 1 para o questionário 2. Assim, na situação de jogo, apesar de ser a maioria, os alunos não são na quantidade os mesmos que responderam conceitualmente (questionário 1) que na figura do árbitro do jogo conheceriam bem todas as regras aplicando-as com imparcialidade. Também uma larga diferença de 13% de alunos responderam ser mais ou menos importante na situação de jogo do que conceitualmente. Nenhum aluno diz não entender conceitualmente essa questão do espírito esportivo, entretanto no questionário 2 (Percepção na situação de jogo) 20% diz não entender. Uma porcentagem igual de 3% diz não entender nos dois questionários. E uma pequena diferença de 2% diz que não é importante com certeza na situação de jogo fazer uma arbitragem imparcial e correta dentro das regras do jogo. Pergunta 10: A maioria dos alunos, 70%, responderam no questionário 1 que é importante sim com certeza ser digno em todas as circunstâncias, demonstrando controle sobre si próprio e recusando utilizar em qualquer situação a violência física e verbal, e 38% responderam o mesmo no questionário 2. No item mais ou menos importante 26% responderam no questionário 1 e 43% responderam no questionário 2. Nenhum aluno demonstrou não entender este código da Carta, já 5% de alunos não entenderam a situação de jogo em que este código está implícito. O mesmo acontece no item entendo, mas não sei o que dizer. E no item não é importante com certeza se apresenta uma diferença de 3% do questionário 2 para o questionário 1. 241 Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play) % 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Resultados dos Questionários 1 e 2 (Q1 e Q2) É importante Mais ou Entendo, sim com menos Não entendo mas não sei o certeza importante que dizer Q1 Q2 Q1 Q2 Q1 Q2 Q1 Q2 Não é importante com certeza Q1 Q2 78,33 23,33 16,66 23,33 1,66 18,33 1,66 3,33 1,66 55 21,66 38,33 40 1,66 10 1,66 20 3,33 31,66 8,33 26,66 16,66 45 43,33 5 8,33 5 15 20 16,66 55 35 31,66 31,66 5 18,33 3,33 5 5 10 75 51,66 15 26,66 0 13,33 3,33 3,33 6,66 5 58,33 61,66 28,33 23,33 1,66 10 3,33 3,33 8,33 1,66 75 70 18,33 16,66 1,66 6,66 1,66 1,66 3,33 5 76,66 63,33 11,66 16,66 1,66 10 1,66 3,33 8,33 6,66 23,33 0 20 3,33 3,33 3,33 5 43,33 0 5 0 6,66 3,33 6,66 81,66 48,33 70 38,33 10 26 6. Conclusão Os dados analisados e interpretados puderam revelar que a opinião dos alunos quanto a Carta sobre o Espírito Esportivo foi a de praticamente concordar com os seus códigos. Então, os alunos tendem a dar um grau de importância aos conceitos descritos na Carta. Quase o mesmo se observou nas situações de jogo, pois os alunos responderam na sua maioria que assumiriam um comportamento de espírito esportivo em situações competitivas hipoteticamente propostas. Foi possível estabelecer como hipótese que há uma tendência de haver diferenças entre o discurso dos alunos representado por suas opiniões à Carta sobre o Espírito Esportivo e o comportamento que assumiriam em situações competitivas representado na percepção dos alunos quanto ao espírito esportivo em situações simuladas de jogo. Isso foi evidenciado na comparação das respostas dos dois questionários de acordo com a escala lickert. Em ultima análise, há fundamento na hipótese de que a Carta sobre o Espírito Esportivo não foi suficientemente capaz de orientar os alunos investigados quanto as suas atitudes de valorização do espírito esportivo preconizados pela Carta. Assim, a Carta sobre o Espírito Esportivo parece não se apresentar para este grupo como um eficiente e suficiente meio de Educação do Espírito Esportivo. A situação parece indicar outros meios de estratégia que se acrescente à Carta para buscar a melhor realização destes propósitos. Meios estes que possivelmente ultrapassem os limites conceituais da Carta. Assim disposto, a hipótese de diferença entre discurso e prática do fair play deve constituir uma das principais prioridades de futuras pesquisas neste tema, 242 Comportamento em Situações de Competição de Alunos do Ensino Médio instruídos quanto aos Códigos do espírito Esportivo (Fair Play) principalmente quando referenciado ao âmbito escolar e, também, ao âmbito cultural do grupo envolvido. Unitermos Espírito Esportivo; Fair Play; Situações de Competição; Ambiente Escolar. Obs.: Os questionários utilizados nesta pesquisa podem ser solicitados para consulta pelo e-mail: [email protected] . Referências Bibliográficas GOMES, Marta C. Solidariedade e Honestidade: os fundamentos do fair-play entre adolescentes escolares. In TAVARES, Otávio; DA COSTA, Lamartine (Eds.) Estudos Olímpicos. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999. CÂMARA MUNICIPAL DE OEIRAS. O Espírito Desportivo é importante. Oeiras, 1999. CAILLÉ, Alain. The Concept of Fair Play. Lausanne: IOC, 1994. DAVIDOFF, Linda. Introdução à Psicologia. São Paulo: Editora McGraw-Hill Ltda, 1983. PARRY, Jim. The moral and cultural dimensions of Olympism and their educacional application. Olympia: International Olympic Academy, 1994. PORTELA, Fernando. Contrapondo Teorias da Formação Ética e a Prática do Fair Play. In TAVARES, Otávio; DA COSTA, Lamartine (Eds.) Estudos Olímpicos. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999. 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Os resultados destas investigações indicam a existência de uma pedagogia que privilegia um modelo de ensino tradicional, que promove o esporte através do treinamento dos alunos, transformando-o em trabalho e não lazer, tendo em vista o mais alto grau de desempenho. Abstract This article refers to results obtained from pedagogical interventions used by the teachers in Programs of Initiation to Futsal. This analysis was based on the data concerning the sports model adopted by different institutions; on the contents developed during the classes and on the affective components demonstrated by the teachers. The reults of these investigations indicate the existence of pedagogy that patronizrs a pattern based on traditonal teaching, which promotes the sports through the students' training, transforming it in work and not in leisure, aiming at the highest degree of performence. Introdução A minha vivência esportiva como atleta, técnico e professor me trouxe importantes reflexões. Esta vida dedicada ao esporte e seu ensino têm me proporcionado muitas interrogações sobre o tema da Iniciação Esportiva, especialmente no que se refere aos princípios pedagógicos dos professores. Deste modo, procurando aprofundar os conhecimentos, investigou-se as Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal na sua prática de ensino. O presente estudo situado claramente na área da pedagogia do esporte, pretende analisar as intervenções pedagógicas utilizadas pelo professor. Este estudo é do tipo qualitativo e se caracteriza por uma pesquisa descritiva exploratória. Foram utilizados para a coleta de dados três locais previamente definidos: um Clube Social (POA); um Projeto de Extensão (Canoas) e uma Escolinha Particular (POA). A escolha destes locais justificouse por abranger o universo diversificado de situações referentes ao local que estão acontecendo, bem como aos fins propostos em cada programa de 244 Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal iniciação. Todos locais dispunham de boas condições físicas e materiais. Escolheu-se os professores de forma intencional, de acordo com suas disponibilidades de tempo e com seus interesses em fornecer subsídios. As sessões de aula observadas abrangeram a faixa etária dos sete aos doze anos, independente do sexo. Os instrumentos utilizados na pesquisa constaram de uma entrevista semi-estruturada e de observações feitas através de filmagens que foram registradas e, posteriormente, analisadas. Revisão de Literatura A Pedagogia no Ensino do Esporte e suas Intervenções Para orientar o processo de aprendizagem dos desportos, é importante se ter em mente que a atividade esportiva por si só não educa; seus efeitos educativos dependem da situação na qual se cria especialmente em relação aos aspectos de interação social, ao clima afetivo-emocional e motivacional existentes. Estas condições dependem de diversos fatores, entre os quais um deles nos parece fundamental: a intervenção do educador. As principais tendências pedagógicas que são expressas no âmbito da educação formal, como nos fala BALBINOTTI (1997: p.86), podem ser denominadas e definidas operacionalmente como reprodutivas e construtivistas. A concepção reprodutivista é aquela que prioriza as capacidades intelectuais, situando-as como primeiro e mais relevante objetivo na formação do homem. Seus procedimentos didáticos enfatizam processos normativos que visam uma rígida disciplina. A tônica desta concepção educativa é uma exposição de conhecimentos por parte do professor, dirigidos a educandos ouvintes e passivos; bem comportados e estáticos. Para o mesmo autor, a concepção construtivista pressupõe estratégias de intervenção pedagógica manifestadas através da integração entre educação intelectual e corporal e de um conceito de autoconstrução; ou seja, o processo de elaboração do conhecimento se dá a partir da participação e intervenção ativa do indivíduo em todas as atividades de aprendizagem. A complexidade do processo da construção do conhecimento exige que o professor exerça o papel de agente estimulador destas relações de interação onde o indivíduo passa a ser um agente ativo. Para SHIGUNOV (1993), a prática pedagógica é um problema central da ação educativa para todos os contextos sociais e fatores envolvidos, quer em nível da intervenção pedagógica, ou do conteúdo, ou da relação. A capacidade de intervenção pedagógica, como afirma Carreiro da Costa em publicação de 1988, (citado por SHIGGUNOV 1993: p.16), “... é não só uma realidade desejável como imprescindível, ela só ganha verdadeiro sentido pedagógico quando exprime uma metodologia de ensino consentânea com as características da atividade humana”. Com esta maneira de visualizar, não se determinou o lado da intervenção, pois o próprio ensino também deverá 245 Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal respeitar muitas das características que são próprias ao fenômeno da atividade educativa. Ao abordar a relação professor-aluno, para BORDENAVE e PEREIRA (1983), o problema reside no fato de que não contamos ainda com suficiente conhecimento de teoria e pesquisa para saber quais são as características pessoais que mais influem sobre a aprendizagem, e de que maneira o fazem. Enquanto não forem estudados e evidenciados os aspectos mais preponderantes da intervenção pedagógica do professor, tanto nos aspectos instrucionais como nos afetivos, devemos entender que a relação pedagógica não será promovida, nem concretizada com toda a sua força formativa. As novas tendências pedagógicas para a Educação Física Infantil, visam, hoje, proporcionar à criança experimentar várias possibilidades de movimentos corporais a partir de sua criatividade e autoconstrução. Nesta abordagem, a criança participa intensamente das decisões de todo o processo educativo. A educação a ser exercida pelo professor, segundo FINGER (1971), deverá obedecer a uma pedagogia e a uma metodologia que além de permitir a solução e a previsão de situações decorrentes da aprendizagem e da prática do jogo, respeitem os interesses da idade. Em função destas diferentes percepções de possibilidades pedagógicas, delimita-se o marco teórico deste estudo, baseando-se em dois enfoques, sob modelos de ensino desportivo, que são abordados a seguir. Modelos de Ensino Desportivo Embora se saiba que existem vários modelos de ensino, optou-se pela análise daqueles que prevalecem nos programas de iniciação ao futsal e que consideramos mais úteis para a presente investigação. Portanto, dando seguimento aos objetivos de nosso estudo, decidimos utilizar a classificação de HEINILA (apud BRAUNER, 1994) sobre o processo de ensino em educação física. Tal classificação é utilizada posteriormente no Brasil por FERREIRA (1984), onde a autora elabora e acrescenta indicadores e referenciais para um esquema conceitual, denominado matriz analítica, a fim de realizar uma crítica a realidade do ensino da educação física infantil. Para esta autora, o modelo de reprodução em Educação Física é caracterizado pela atitude acrítica, tanto da realidade interna constituída pelas experiências que o aluno adquire, quanto das condições econômicas, sociais e culturais que constituem a realidade externa. Nele, o esporte é valorizado como paradigma ideal de educação, reproduzindo os padrões sociais da classe dominante. Neste sentido, os objetivos educacionais servem para conservar e reforçar as diferenças entre as classes sociais. O modelo de reprodução também assume o esporte como foco do sistema de ensino e tem como fonte de informação as técnicas, as habilidades esportivas e o conhecimento dos mecanismos psico-fisiológicos do treinamento desportivo. Sua fonte de 246 Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal normas e sanções provém da performance e das vitórias desportivas, das competições e classificações por desempenho. O professor é visto como o controlador de atividades, treinador e técnico, preocupado em fazer do aluno um atleta em potencial, ou seja, seu objeto de treinamento. As metodologias empregadas têm sua referência em modelos ideais de execução, predominando procedimentos diretivos. Finalmente, o que diz respeito ao critério de avaliação, há um predomínio de caráter somativo. Por outro lado, o modelo de transformação é caracterizado pela atitude de reflexão da realidade, modificando a percepção que o indivíduo tem de suas experiências e do mundo que o cerca. Nesta perspectiva, a Educação Física é sempre processo, realimentado pela prática consciente dos sujeitos sobre a realidade desportiva, numa concepção dialética, favorecendo a aprendizagem e a avaliação dos resultados. Deste ponto de vista, o professor explora situações de conflito que levam o aluno a perceber a realidade de forma múltipla e a si mesmo como agente desta realidade. Assim, o foco do ensino é o educando, capaz de decifrar o mundo que o cerca. A perspectiva de transformação tem como fonte de informação o conhecimento funcional da natureza do homem e como fonte de normas e sanções um amplo processo de negociação com as crianças, partindo de seus interesses, necessidades e motivações. Conseguiria-se deste modo, articular um sistema de disciplina intrínseco ao processo. O professor, dentro deste enfoque, é visto como um facilitador e orientador das atividades, sempre preocupado em estimular uma participação maior e mais consciente dos alunos em todos os níveis. As metodologias empregadas têm um caráter mais ativo e estimulante; utilizam procedimentos diversificados, dirigidos a motivar os diferentes níveis de aspiração dos alunos, com um predomínio dos processos indiretos de ensino (iniciativa centrada no aluno). Finalmente, com relação ao principal critério de avaliação, haverá uma ênfase sobre a avaliação do tipo formativa, ou seja, a preocupação existente é a de possibilitar informações qualitativas em relação ao domínio e não aos objetivos, dispondo para ele a devida colaboração e participação crítica do próprio aluno. Mais especificamente, no que se refere aos programas de iniciação esportiva, BRAUNER (1994), desenvolveu seus estudos baseados nestes dois modelos de prática pedagógica. Identifica o perfil do professor com espectro diretivo, baseando suas ações numa prática completamente autoritária, centralizadora, embora suas idéias expressas nas entrevistas mostrassem um desejo de proporcionar ao aluno uma prática pedagógica aberta ao interesse do aluno. Os modelos citados por HEINILA e FERREIRA auxiliaram os estudos de BRAUNER (1994) para detectar as ambigüidades entre as idéias e ações educativas dos professores. Este estudo me traz grande inspiração a qual marcam as pautas do trabalho que realizo e com o qual pretendo abrir os horizontes pedagógicos. Neste sentido, a partir dos estudos de BRAUNER e 247 Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal da confrontação da minha realidade, se estabelece um plano de estudo que pretende, fundamentalmente, responder à seguinte pergunta: Como se dão as intervenções pedagógicas em programas de iniciação ao Futsal? A Iniciação ao Futsal: Uma análise da realidade em escolinhas desportivas. A partir da análise descritiva da realidade da prática observada em três Programas de Iniciação ao Futsal que compõe o universo do presente estudo, buscou-se conhecer as condições existentes em cada instituição no que se refere ao professor, seu modelo em forma de ensino, os seus conteúdos e sua relação com os alunos. Apesar deste trabalho de cunho qualitativo necessitar uma discussão com maior amplitude, optou-se somente por apresentar as tabelas dos resultados obtidos e, posteriormente, nas considerações finais, apresentar a interpretação dos dados obtidos de forma clara e sucinta que se faz necessário. O Professor De acordo com os indicadores de idade, forma de ingresso, nível de informação e de biografia desportiva, foi possível verificar que todos professores foram convidados a desenvolver seus trabalhos por diversas pessoas, colegas, coordenador de curso, sendo que em nenhum caso foi necessário que o escolhido possuísse vasta experiência anterior bem como nível de formação universitário. Isto nos leva a concluir que os requisitos acadêmicos, ou de formação específica para o trato com crianças e com o futsal não foram critérios importantes para o preenchimento da vaga. Por outro lado, todos os professores se encaminham para a profissionalização, uma vez que já são acadêmicos de Educação Física e que afirmaram ter buscado atualização na área. Finalmente, outro ponto interessante foi o de que nenhum dos professores foi atleta de futsal. Modelos Educativos e Desportivos adotados, conteúdos e relação Professor-Aluno TABELA 1. Objetivos das práticas de iniciação ao futsal das diferentes instituições. A B C • • • • • • Sociabilizar, integrar e o respeito mútuo. Trabalhar a criança como um todo. Superar as dificuldades individuais; para uns o chute, outros o cabeceio etc. Sociabilizar e formar equipes para levar a algum lugar, sair-se bem. Sociabilizar, integrar, trabalhar o espírito de grupo. Trabalhar o comportamento. 248 Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal TABELA 2. PERCENTAGEM DE INTERVENÇÕES NA CATEGORIA “ORGANIZAÇÃO DA AULA” Intervenções Total de intervenções Organização % Organização A 261 112 42.9% B 422 137 32.5% C 412 183 44.4% TABELA 3. PESO DE CADA INDICADOR NA CATEGORIA “ORGANIZAÇÃO DA AULA” Total Indicadores A B C Freq. % Objetivos 0.9% 2.2% 1.1% 06 1.4% Condicionantes 58% 70.1% 70.5% 290 67.1% Demonstração 0.9% 5 .1% 3.8% 15 3.5% Interrupção 35.7% 18.2% 24% 109 25.2% Análise 4.5% 4.4% 0.6% 12 2.8% % Total 100% 100% 100% .. Total intervenções 112 137 183 432 100% TABELA 4. PESO DE CADA INDICADOR NA CATEGORIA “FORMA DE ENSINO” Total Indicadores A B C Freq. % Detalhes. Técnicos 85.3% 95.0% 97.4% 240 93.4% Formula questões 3.3% 0% 2.6% 04 1.5% Participação 9.8% 4.2% 0% 11 4.3% Delega liderança 1.6% 0.8% 0% 02 0.8% % Total 100% 100% 100% .... .... Total intervenções. 61 119 77 257 100% TABELA 5. PESO DE CADA INDICADOR NA CATEGORIA “CONTEÚDO” Total Conteúdos A B C Freq. Exercício Físico Técnico Tático 58.3% 77.8% 90.5% 33 Jogos 16.7% 22.2% 9.5% 06 Atividades Lúdicas 25% . 0% 0% 03 % Total 100% 100% 100% .... Total intervenções. 12 09 21 42 % 78.6% 14.3% 7.1% .... 100% 249 Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal TABELA 6. DADOS GERAIS NA CATEGORIA “INTERAÇÃO PROFESSOR-ALUNOS” Total Subdimensão A B C Freq. Ânimo 34.2% 61.1% 26.7% 157 Censura 42.1% 37.6% 70.2% 183 Outros Comp. 23.7% 1.3% 3.1% 24 % Total 100% 100% 100% .... Total intervenções 76 157 131 364 % 43.1% 50.3% 6.6% .... 100% TABELA 7. PORCENTAGEM DE INTERVENÇÕES DO PROFESSOR NA CATEGORIA “ÂNIMO” Total Indicadores A B C Freq. % Elogia a atuação dos alunos 73.1% 96.9% 94.3% 145 92.4% Ajuda de ordem não técnica 26.9% 3.1% 5.7% 12 7.6% % Total 100% 100% 100% .... .... Total de Intervenções. 26 96 35 157 100% TABELA 8. PORCENTAGEM DE INTERVENÇÕES DO PROFESSOR NA CATEGORIA “CENSURA” Total Indicadores A B C Freq. % Crítica 96.9% 88.1% 95.5% 168 93.3% Castigo 3.1% 11.9% 4.5% 12 6.7% % Total 100% 100% 100% .... .... Total de Intervenções. 32 59 89 180 100% TABELA 9. PORCENTAGEM DE INTERVENÇÕES DO PROFESSOR NA CATEGORIA “OUTROS COMPORTAMENTOS” Total Indicadores A B C Freq. % Observ. Silenciosamente 77.8% 0% 50% 16 66.7% Escuta atentamente 22.2% 100% 50% 8 33.3% % Total 100% 100% 100% .... .... Total de Intervenções. 18 02 04 24 100% 250 Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal Considerações Finais Após concluídas as investigações e análises sobre as Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal, crê-se dispor de dados significativamente importantes sobre a realidade educativa existente. A combinação do suporte teórico que havia sido base do estudo com os dados recolhidos e a experiência do próprio investigador no ensino e treinamento do futsal permite a realização de inferências a respeito deste estudo. Assim sendo, acredita-se que toda pesquisa, em seu final, deverá responder a dois questionamentos básicos, eminentemente importantes: “Quais foram os resultados da pesquisa?” e “ De que forma este estudo pode contribuir para a evolução do conhecimento?”. Sobre estes aspectos foi possível identificar que os requisitos acadêmicos, formação específica para o trato com crianças e com o futsal não foram critérios importantes para contratação destes professores; o que evidencia uma despreocupação pelo perfil desejado por parte das instituições. Verificou-se também que, apesar dos professores expressarem sua vontade de não estar inseridos dentro de um modelo de desporto tradicional, suas práticas estão centradas na competição, na seletividade e em mecanismos didáticopedagógicos, onde o professor segue detendo o conhecimento de tudo que vai ser realizado. Também foi possível verificar que, nos Programas de Iniciação ao Futsal, prevalece uma metodologia diretiva, basicamente técnica, sem nenhum poder reflexivo e crítico por parte da criança. Portanto, pode-se perceber mais uma vez a evidência de um modelo de ensino desportivo tradicional. A seguir, de forma mais simplificada, são expostos os dados e indícios que referentes às conclusões feitas. • Das três instituições, somente uma delas apresentou alguma tendência ao Ensino Transformador. • Os professores mantinham uma atitude controladora em relação às atividades. • As aulas foram estruturadas pelos professores, que por sua vez, sempre estabeleceram e condicionaram as tarefas a serem executadas. • Os professores interferiram muitas vezes para explicar, corrigir, demonstrar e estabelecer normas. • Tantos os objetivos como as análises das aulas foram indicadores praticamente inexplorados dentro da organização da aula. • As atividades apresentaram alto grau de ênfase nos detalhes técnicos. • Os indicadores do modelo de ensino ativo, mais aberto, como formular questionamentos, participação das atividades juntamente com os alunos e delegar liderança obtiveram baixa incidência. 251 Análise das Intervenções Pedagógicas em Programas de Iniciação ao Futsal • Apesar de se fazer presente em todas as aulas, o jogo apresentou sempre a mesma dinâmica, onde o professor escolhia as equipes, cinco para cada lado, definia as posições e, quando sobrava algum aluno, este ficava na reserva, aguardando o momento do professor realizar a alteração. Também é interessante ressaltar que o jogo obedecia às regras do desporto federado e era sensivelmente condicionado na medida em que o mesmo era narrado e controlado pelo professor. • Os exercícios físicos, técnicos e táticos prevaleceram em detrimento das atividades lúdicas e formas jogadas. • As intervenções de censura foram mais evidenciadas que as de ânimo. • Não existiu uma correlação entre o modelo de ensino adotado pelo professor e sua relação afetiva e motivacional com os alunos. Ao finalizar, é importante ressaltar que não tive a pretensão estanque e ingênua de que estes achados poderão resolver todos os problemas que envolvem os Programas de Iniciação ao Futsal. Acredito, sim, que este estudo seja um marco inicial para que se busquem novas fórmulas frente aos enfoques atuais para que se possa, de alguma forma, despontar a preocupação com o contexto para educar. Unitermos Pedagogia do Desporto, Iniciação Desportiva, Futsal. Referências Bibliográficas BALBINOTTI, C. A. A. O Desporto de competição como um meio de educação: uma proposta metodológica construtivista aplicada ao treinamento de jovens tenistas. Revista Perfil. Porto Alegre, Ano I. nº 1, 1997. P.83-91. BORDENAVE, J. D.; PEREIRA, A. M. Estratégias de Ensino-Aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 1983. BRAUNER, M. R. G. El Profesorado en Los Programas de Iniciación al Baloncesto: Análisis Empírico Y Propuesta Pedagógica. Barcelona: Univesitat de Barcelona, 1994. FERREIRA, V. L. C. Prática da Educação Física no 1º Grau: Modelo de Reprodução ou Transformação. São Paulo: IBRASA, 1984. FINGER, A. Considerações sobre la metodologia de la enseñanza. Stadium. Buenos Aires, (25): 44-45, 1971. SHIGUNOV, V., PEREIRA, V. R. Pedagogia da Ed. Física: O Desporto Coletivo na Escola: Os componentes afetivos. São Paulo: IBRASA, 1993. 252 O Estresse e a Prática Desportiva na Sociedade Contemporânea: reflexões a partir da análise de uma equipe de futebol infantil Patrícia Weiduschadt - Universidade Federal de Pelotas/RS Valdelaine da Rosa Mendes - Universidade Federal de Pelotas/RS Resumo O presente trabalho, em andamento, tem como objetivo analisar a questão do estresse infantil na prática de atividades esportivas, sendo esta pesquisa de abordagem qualitativa. O estudo parte da análise da inter-relação do esporte e da criança e sua inserção no mundo e na sociedade. Esta análise está sendo realizada a partir de observações de aulas de uma equipe de futebol de salão num clube na cidade em Pelotas, com crianças de nove e dez anos e, entrevistas com atletas, pais e técnico. Sendo assim esta pesquisa visa esclarecer como as crianças respondem à situações de pressão e rendimento em competições esportivas, e suas relações com o os pais, técnico e companheiros. E também quais os riscos e benefícios que esta atividade poderá lhe trazer no seu desenvolvimento. Parece importante abordar este tema pois há poucos estudos na área do estresse no esporte, especialmente com crianças. Por isso o trabalho pretende contribuir com subsídios para pais e educadores e alertar o aparecimento do estresse nas crianças. Palavras-chave: estresse, esporte, criança, sociedade. Abstract The present work, in process, has as objective to analyze the subject of the infantile stress in the practice of sporting activities, being this research of qualitative board. The study part of the analysis of the relation of the sport and of the child and its insert in the world and in the society. This analysis is being accomplished starting from observations of classes of a team of living room soccer in a club in the city in Balls, with children of nine and ten years and, interviews with athletes, parents and technician. Being this research seeks like this to illuminate as the children they answer to pressure situations and revenue in sporting competitions, and its relationships with the the parents, technician and companions. It is also which the risks and benefits that this activity can bring it in its development. It seems important to approach this theme because there are few studies in the area of the stress in the sport, especially with children. That the work intends to contribute with subsidies for parents and educators and to alert the appearance of the stress in the children. Key words: stress, sport, child, society. 253 O Estresse e a Prática Desportiva na Sociedade Contemporânea: reflexões a partir da análise de uma equipe de futebol infantil Introdução Ao analisarmos a questão do estresse infantil na atividade física, especificamente nos esportes, poderemos considerá-lo como positivo ou negativo na formação e desenvolvimento das crianças. “Esporte é saúde”, diz o slogan publicitário, amplamente divulgado pelos meios de comunicação, pois nesta concepção o esporte formaria o ser humano no sentido físico e espiritual, no primeiro prevenindo doenças e no segundo compensando o trabalho desgastante das pessoas. Isto se estenderia às crianças, em que o esporte compensaria o seu sedentarismo, devido aos espaços reduzidos de lazer ou também pela pressão psicológica que ela sofreria pela escola em disciplinas eminentemente teóricas ou pela sociedade em geral. Pois ao ter que responder adequadamente com comportamentos rígidos, o esporte ajudaria extravasar suas emoções evitando manifestações agressivas e ameaçadoras das crianças à sociedade. Entretanto, podemos considerar a prática dos esportes como negativo, quando ele passa a significar para a criança uma imposição dos seus familiares e sociedade em geral, ou ainda mais uma pressão e cobrança nos resultados, especialmente no esporte sistematizado e organizado em escolinhas. Então o esporte poderia deixar de ser considerado benéfico, pois implica nas crianças distúrbios emocionais e físicos que podem ser maléficos para a sua formação. O presente trabalho pretende levantar questões e abordar temas que abrangem o estresse na prática desportiva infantil. É intenção do estudo refletir sobre a questão do estresse sob os aspectos da interação social e educacional. Aspectos estes que influenciam as relações das crianças entre si e com o mundo, e, sobretudo suas reações frente a todas as situações vivenciadas no esporte e na vida. O enfoque inicial do trabalho será o da análise das influências do mundo contemporâneo nas práticas desportivas desenvolvidas nas escolinhas de futebol. Para tanto, precisamos levar em consideração os aspectos do advento da sociedade mecanizada e industrializada, que muitas vezes vem sobrecarregando as pessoas trazendo seus malefícios na forma de pressões, rendimentos e cobranças, tornando o mundo cada vez mais competitivo. E por isto não raras vezes atingindo às crianças de forma devastadora, pois na maioria das vezes, elas é que têm maiores dificuldades em se adaptar a situações novas. Como cita Granado (1988:85): “O estresse infantil é semelhante ao dos adultos em muitos aspectos. Poucas pessoas estão preparadas para ser submetidas a competição e a ansiedade de forma contínua. O meio urbano é uma experiência 254 O Estresse e a Prática Desportiva na Sociedade Contemporânea: reflexões a partir da análise de uma equipe de futebol infantil relativamente nova para o ser humano, cuja estrutura biológica ainda não está plenamente adaptada para as pressões produzidas nesse ambiente.” A partir destes pressupostos, a ênfase do estudo procurará nos levar às causas e conseqüências das perturbações das crianças, suas dificuldades e potencialidades ao se defrontarem com situações estressantes. E como foi dito anteriormente, delimitaremos o estudo do estresse infantil no esporte como atividade em si, e também como símbolo de competitividade e sobrepujança (Kunz, 1991). Pois no esporte sistematizado e organizado, especialmente nas escolinhas, nos clubes ou ainda na escola, é que freqüentemente notamos os princípios de rendimento, mas também a socialização e o trabalho em grupo. Princípios estes que não raras vezes afetam o comportamento infantil, acarretando aspectos positivos e negativos, os quais serão questionados e problematizados neste estudo. Neste estudo, estamos analisando a forma como as atividades esportivas influenciam o comportamento infantil, a partir do acompanhamento de uma escolinha de futebol. Pois muitas vezes, a mídia que incentiva tanto os esportes, e em especial o futebol no nosso país, acaba exacerbando a massificação deste na sociedade, incutindo nas pessoas uma mentalidade de consumo, ou projeção satisfatória comum. É relevante questionar a importância do acompanhamento dos pais em competições e na prática das atividades esportivas, e como isto acaba refletindo no comportamento infantil, bem como a concepção da pratica desportiva e esporte destes sujeitos. E ainda queremos problematizar a relação das crianças com o professor ou o treinador, e suas influências na metodologia do trabalho adotado. Seguindo as orientações de uma abordagem qualitativa, o trabalho será desenvolvido até que os dados levantados aproximem as investigadoras da resposta ao problema em questão neste estudo. Aleatoriamente, foi escolhida uma turma de futebol de salão, que está sendo acompanhada desde os primeiros dias de aula do mês de março de 2000. Para analisar o grupo estão sendo utilizados os seguintes instrumentos: observação e entrevistas do tipo semi-estruturada. As observações são importantes segundo Triviños (1992:155): “pois satisfaz as necessidades principais da pesquisa qualitativa, como, por exemplo, a relevância do sujeito”. As observações estão sendo registradas no diário de campo através de anotações e transcrição de informações obtidas através de filmagens. O diário de campo será útil na coleta de dados, afim de retroalimentar a pesquisa, para aprofundar a mesma e levantar hipóteses e reflexões do observado (Triviños, 1992). 255 O Estresse e a Prática Desportiva na Sociedade Contemporânea: reflexões a partir da análise de uma equipe de futebol infantil Sendo assim vemos que este instrumento se presta perfeitamente na pesquisa qualitativa, pois as reflexões não são mensuráveis, mas sim questionadas e inseridas no contexto do estudo. Então, ao verificarmos que há uma ausência de estudos sobre este tema, sendo que também há uma carência de bibliografia específica na área do estresse infantil na atividade física. E ainda como queremos dar preferência ao enfoque social e educacional, e a maioria dos estudos referentes a este tema se encontra na área da psicologia clinica, estamos realizando esta investigação. Refletindo sobre todos estes fatores é o que nos motivou a adentrar neste assunto, por ser muito pouco explorado e até as vezes ignorado pelos estudiosos da área. Pois os profissionais da área de Educação Física, que lidam com as crianças utilizando os esportes ou atividades físicas em geral, normalmente não possuem subsídios teóricos sobre esta questão. Então se considerando todos estes fatores, é que se faz necessário estudar e analisar estas questões, problematizando e aprofundando estes conhecimentos a partir de observações e leituras sobre o comportamento infantil dentro dos esportes e as reações das crianças frente ao estresse. O Estresse no Mundo Atual O estresse tem se transformado num dos temas mais preocupantes e angustiantes atualmente. Muito se fala que o estresse seria um dos principais causadores das doenças coronárias e também do aumento da violência urbana bem como acidentes de trânsito e de trabalho. Entretanto não podemos esquecer que o estresse nem sempre está ligado a fatores negativos, já que conduz o homem a agir e tomar decisões. Tal característica conhecida por reação de “luta ou fuga”, é facilmente identificável no homem primitivo, fundamentalmente, pelas reações necessárias a manutenção da espécie e conseqüente sobrevivência. No período pós Revolução Industrial, é possível identificar uma mudança no comportamento humano, relacionada as novas relações de trabalho e processos de produção. As inovações sociais, políticas, econômicas e tecnológicas geradas pela revolução incitam uma nova distribuição do tempo. As atividades cotidianas passam a ter um novo caráter; as máquinas passam a fazer parte do processo produtivo; conduzindo o homem a um processo de adaptação e a um novo sistema de vida. Como assinala Bauck (1985, p.204) “em verdade, nossa vida é essencialmente um contínuo processo de adaptação, e podemos dizer que o segredo da saúde e da felicidade reside em nossa capacidade de ajustamento às condições deste mundo”. O estresse só passa a ser uma patologia quando ultrapassa os níveis de suportabilidade e deixa de gerar prontidão e passa a causar mal estar. 256 O Estresse e a Prática Desportiva na Sociedade Contemporânea: reflexões a partir da análise de uma equipe de futebol infantil Além das condições sociais, é preciso compreender também que o estresse, a maneira que ele se manifesta, depende muitas vezes da personalidade individual de cada indivíduo. Ou seja, há diversas maneiras de encararmos os problemas que nos surgem, as situações podem ser mais ou menos estressantes como é defendido por alguns autores: dependendo do ajustamento fisiológico e psicológico de cada pessoa. Diversas concepções para o estresse têm sido discutidas por diferentes autores, entre elas: fisiológicas e psicológicas. As primeiras nos dizem que o estresse está ligado a dois sistemas: sistema nervoso (caminho neural) e sistema de glândulas endócrinas. As últimas, sustentadas especialmente por Freud, revelam que o desencadeamento do estresse, na maioria das vezes, é resultante da relação pais e filhos, conduzindo para a ansiedade, neuroses, medos e depressões, fazendo o indivíduo criar uma defesa intrapsíquica (Samulski, Chagas e Nitsch, 1996). Nas concepções sociopsicológicas, mencionadas por Nitsch (1981) apud Samulski, Chagas e Nitsch, (1996) o estresse é determinado, muitas vezes, pelo comportamento social imposto pela sociedade, pela massificação e exigência de rendimento, pelo individualismo, pela discriminação, pelo acesso ao conhecimento e a informação. Esta concepção enfatiza que as relações sociais, construídas neste mundo capitalista, mecanizado, automatizado e consumista, vão contribuir no desencadeamento de situações estressantes negativas e fundamentalmente, na superficialização das relações humanas. A compreensão dos fenômenos sociais parece imprescindível num trabalho que se propõe a estudar a prática desportiva e a manifestação do estresse no mundo infantil, pois as pressões sociais são reproduzidas nos espaços de trabalho, de educação e de lazer. O Estresse e a Criança A preocupação com a infância se deu a partir do século XVIII, com uma visão essencialmente higienista, em que a classe médica através de seus conhecimentos científicos se apropriou de seu “status” a fim de orientar as famílias, penetrando na intimidade dos lares (Rago, 1997). Esta preocupação em adentrar no universo infantil representa uma preocupação constante em moralizar os hábitos da sociedade. Isto pode ser evidenciado, antes mesmo da Revolução Industrial, em que a defesa do trabalho e da educação infantil serviria para o adestramento e vigilância das crianças, que confinadas em espaços disciplinadores como fábricas ou escolas, fora da rua, estariam livres do ócio, de vícios e de condutas libertárias (Rago, 1997). Nas primeiras décadas deste século a população se concentrava fundamentalmente na zona rural, sendo recente a acentuada urbanização das cidades. Nesse sentido, as crianças possuíam mais espaços para desenvolverem 257 O Estresse e a Prática Desportiva na Sociedade Contemporânea: reflexões a partir da análise de uma equipe de futebol infantil suas atividades lúdicas e corporais. Paralelamente a urbanização surge o problema da violência nas cidades. Atualmente vivemos guiados por princípios de utilidade e produtividade, e assim, não raras vezes, consideramos a criança inútil, pois ela não produz nada. Pensamos na criança como um ser produtivo, como se a sua cultura corporal e lúdica não tivesse importância (Alves, 1984). E tudo isso nos remete a pensar que os nossos alunos ou filhos precisam ser preparados para o futuro, este “futurismo” foi preconizado desde o início do século com uma tendência de presentificação do futuro (Ribeiro, 1998), e em slogans do tipo: “os pequenos são os grandes de amanhã” (Rago, 1997). E com este pensamento a nossa preocupação é muitas vezes em proporcionar às crianças uma educação que vise apenas o rendimento e a performance sem se preocupar com a humanização e crescimento pessoal na infância. As crianças acabam sofrendo todo tipo de dominação sendo muitas vezes impedidas de desenvolverem o seu potencial criativo (Marcellino, 1996). Isto nos faz pensar que não há exploração só do trabalho infantil, como é visto freqüentemente nos países subdesenvolvidos, em que as crianças são submetidas ainda a trabalhos forçados, monótonos, repetitivos e exploradas de forma vergonhosa. Não respeitando sua faixa etária ela acaba se desenvolvendo em estado desigual, em constante estresse, deixando sua formação em busca da cidadania de lado (Neto, 1998). Por outro lado, a capacidade criadora e o potencial infantil podem ser aniquilados. Este aniquilamento foi sustentado por concepções moralistas e higienistas do início do século, como cita Rago (1997:123): “O poder médico recomendava o preenchimento das horas vagas com leituras selecionadas e ginástica, medida preventiva contra os vôos da imaginação e a prática oncista, característica dos jovens indolentes e fracos. A moralização do corpo pela Educação Física e a higienização da alma por atividades cientificamente orientadas e selecionadas afastariam, sobretudo nos adolescentes, o perigo das deformações físicas e da corrupção moral.” Esta orientação predominava na sociedade independente da classe social que o infante se encontrava. Estes pressupostos influenciaram significativamente o nosso sistema educacional vigente, que ainda possui resquícios das épocas passadas. Estes resquícios demonstram a ênfase também em tarefas que as crianças teriam que desempenhar, comparando resultados, favorecendo assim a competição exagerada. Não queremos dizer que a competição seria a única responsável pelo estresse, pois não podemos deixar de observar que a competição sempre esteve presente na vida humana (Huizinga, 1996). E ainda mais nas brincadeiras infantis, as quais sempre prevalece uma disputa entre as crianças, sendo a análise de sua performance, muitas vezes, a 258 O Estresse e a Prática Desportiva na Sociedade Contemporânea: reflexões a partir da análise de uma equipe de futebol infantil principal motivação delas, Thomaz (1983). Porém inexistiam as pressões e cobranças de resultados, pois as crianças não eram medidas e nem julgadas pelas suas atividades lúdicas, as brincadeiras e jogos eram um fim em si mesmo, estas não teriam uma utilidade para as suas vidas num prisma do mundo adulto, como agora na maioria das vezes as crianças estão submetidas. A preocupação em oferecer as mais diversas atividades, como matricular as crianças ao mesmo tempo em escolinhas de esportes, aulas de inglês, computação, etc., constitui uma preocupação na atualidade. A oportunidade de freqüentar diferentes cursos e aulas surge como uma possibilidade de tornar o tempo fora da escola útil. Isto normalmente se dá de forma sistematizada com o intuito de prepará-las para o futuro. Nesse sentido a infância é deixada de lado. O estresse pode afetar às crianças muitas vezes de forma tão avassaladora e prejudicial nas suas vidas. Daí a importância em respeitar as características das crianças, seus desejos, gostos, sem imposições. O Estresse, a Criança e o Esporte O esporte como fenômeno sistematizado e universal se deu no século XIX, alguns autores o consideram em relação ao passado, mas inegavelmente perdeu sua característica lúdica (Huizinga, 1993). O esporte de alto nível hoje é um fenômeno mundial, o qual mobiliza um grande número de pessoas, portanto é massificado e está centrado na exigência da performance, rendimentos e ganhos milionários em sua publicidade e organização. As crianças que praticam esportes, nas escolas ou em clubes, são influenciadas pela prática esportiva de alto nível, vinculada constantemente nos meios de comunicação. Muitas vezes são submetidas a treinamentos rigorosos e uma dose elevada de trabalho, com cobrança de pais e professores sobre sua performance. Este dado tem sido constantemente mencionada pelo técnico1 da equipe que está sendo analisada neste estudo. A participação dos pais nos treinamentos dos filhos revela uma preocupação com o rendimento dos filhos, bem como a sua participação ou não nas equipes principais do clube. Tal inquietação gera nos filhos sentimentos de ansiedade, frustração e tristeza, quando não alcançam aquilo que foi esperado pelos pais. Nas competições, conforme tem relatado o técnico, tais atitudes são mais presentes, quando os pais insatisfeitos com a performance dos filhos, passam a agredir o técnico e o próprio filho. As crianças muitas vezes não têm condições de responder a um trabalho coletivo, ou em ter condições de suportar cargas além de seu limite corporal, fisiológico ou psicológico. 1 Relatos do técnico em entrevistas realizadas no Clube. 259 O Estresse e a Prática Desportiva na Sociedade Contemporânea: reflexões a partir da análise de uma equipe de futebol infantil E também podem ser prejudicadas quando são obrigadas a ultrapassar seus limites biológicos, com riscos de lesões corporais e orgânicas, favorecendo assim o aparecimento do estresse, especialmente se a criança não possui maturidade, pois o sucesso ou fracasso poderá ser marcante em sua vida (Cratty, 1984). Mas mesmo em crianças maiores, o estresse no esporte aparece de maneira acentuada, influenciada na maioria das vezes por técnicos despreparados e pais que insistem em pressionar seus filhos, não interessando prejudicar o seu desenvolvimento pessoal. É preciso ter cuidado em colocar a criança nestas situações como afirma Samulski (1995) em que o treinamento deve ser conduzido sem a prescrição de expectativa e rendimento, o treinador deve evitar cargas excessivas e exigências psíquicas demasiadas na competição. Por outro lado, deve diferenciar bem as medidas e programas do treinamento considerando as faixas etárias, os níveis de treinamento e os níveis de rendimento e os sexos. As vantagens do esporte para as crianças consistem no desenvolvimento das disposições positivas da personalidade. Sobretudo no âmbito social, mas também desvantagens que podem resumir-se nas seguintes afirmações: “Pouco tempo para outras atividades, altas exigências, estresse emocional, impedindo o desenvolvimento nas áreas escolares, recreativas e sociais”. Então nota-se que as desvantagens podem acarretar diversos problemas nas crianças, e a preocupação dos educadores e pais precisam ser redobradas a fim de analisar as causas e conseqüências deste problema que afligem uma parcela da população infantil. *Autora do estudo e acadêmica do Curso de Graduação em Educação Física da Universidade Federal de Pelotas. **Orientadora do estudo e professora assistente da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas. Referências Bibliográficas ALVES, Rubem. Estórias de Quem Gosta de e Ensinar. São Paulo, Cortez, Autores Associados, 1984. BAUCK, Douglas Alberto. Stress. Ocupacional, 1985. p.13,50,28-36 Revista Brasileira de Saúde CRATTY, Bryant J. Psicologia do Esporte. 2 ed. Rio de Janeiro, Preantice do Brasil LTDA, 1984. DOMINGUES, José Maurício. Reorganizando a Modernidade. 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A amostra do estudo foi composta por 25.822 crianças e adolescentes do sexo masculino e feminino, de 17 escolas das zonas rural e urbana da Rede Municipal de Ensino de Santa Cruz do Sul RS/Brasil a partir dos dados coletados pelos professores da Rede Pública Municipal no Exame Biométrico realizado no período de 1993 a 1998. A intenção é apresentar o perfil de crescimento das crianças da Rede Pública Municipal de Santa Cruz do Sul comparando o com os índices do National Center Health Statistics (NCHS). Abstract The present study estimate the levels of growth from Municipal schools of Santa Cruz do Sul – RS. The comparatives investigated were: a) body weight; b)height towards age and sex. The sample of the study was composed by 25.538 children and adolescents from 6 to 18 years old, male and female, from 22 schools in contryside areas and urban areas of the Santa Cruz do Sul Municipal Education network from the datas colected by the Municipal Public network teachers in the biometric exam done in the period from 1993 to 1998. It´s intention is to present the Santa Cruz do Sul Municipal Public network children´s growth profile in comprarisson to the Nacional Center Health Statistics. 1. Introdução Na atualidade muito se fala sobre a importância da prevenção para a promoção da saúde. Saúde segundo a OMS não significa apenas a ausência de doença, mas sim apresentação de um bem-estar físico, mental e social, sentindo uma alegria de viver. Pensando nisso, uma das ações preventivas realizadas pela Secretaria Municipal de Educação de Santa Cruz do Sul foi a de incentivar a proposta do Exame Biométrico e Postural realizados anualmente nas escolas municipais, desde 1993. A cada ano, novas escolas da Rede Municipal incorporam-se ao projeto. O exame biométrico e a avaliação postural são de simples aplicação e baixos custos e, num primeiro momento, possibilitam acompanhar a realidade nutricional e o perfil de crescimento das crianças em idade escolar no intuito 262 Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul de encaminhar os casos de desnutrição e baixo crescimento a um especialista, cabendo aos professores de Educação Física a prescrição de atividades mais indicadas para cada caso detectado e orientações preventivas em relação à saúde como: a) importância de incorporar atividades físicas para toda a vida; b) adoção de hábitos alimentares saudáveis; c) proposição da necessidade de ações políticas municipais voltadas para a solução de problemas referenciados à saúde e à educação. Para Marcondes (1994), a massa corporal e estatura são os índices mais importantes para a avaliação do crescimento, embora a massa corporal seja mais suscetível a alterações podendo aumentar ou diminuir, o que já acontece com a estatura, o que a torna um indicador mais seguro. A normalidade do estado nutricional será determinada pelo equilíbrio entre o consumo ou ingesta alimentar com a necessidade ou gasto nutricional (utilização biológica de nutrientes). Nesse caso, a criança com insuficiência de consumo (carências nutricionais) apresentará: desnutrição protéico-calórica, anemia ferroprico, hipovitaminose A, bócio endêmico, cárie dental, além de outras carências nutricionais (Vasconcelos, 1995). Por outro lado, excesso ou desequilíbrio no consumo de alimentos poderão causar obesidade, o que por si só já é um quadro preocupante principalmente se estiver associado a outras doenças como a diabete militus, aterosclerose, hipertensão e outros (Vasconcelos op cit). Percebe-se que a alimentação se constitui em fator fundamental, uma vez que o crescimento das crianças é grandemente influenciado por carências nutricionais e emocionais. Além dos fatores citados anteriormente, os adultos têm papel fundamental em relação aos hábitos de higiene e alimentares das crianças na ingesta de gorduras saturadas, dieta desequilibrada principalmente em seus primeiros anos de vida, uma vez que esses hábitos serão incorporados para a vida. Ferreira (1999) cita ainda entre esses fatores os desastres ecológicos, o subdesenvolvimento e a má distribuição dos alimentos. Atualmente as grandes preocupações das autoridades de países desenvolvidos e em desenvolvimento relacionada à saúde pública, uma vez que são gastas somas milionárias com doenças da modernidade. Para Bouchard e Shephard, 1994 e Paffenbarger et al.1994, apud Gaya, 1999, existem diversos estudos epidemiológicos que comprovam a forte associação entre saúde e atividade física, podendo se incluir aí a dieta. Entre essas doenças, pode-se citar as cardiovasculares, a hipertensão arterial, a hipercolesterolemia a hiperlipidemia, a obesidade e a diabete militus tipo II. Prevenção é a melhor, mais barata e segura maneira de lidar com a questão da saúde pública. De acordo com Ferreira (1999), é preciso investir em saneamento básico que tem relação direta entre doenças infecciosas e nutrição. É preciso que haja uma perfeita harmonia entre educação e programas 263 Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul permanentes de educação em saúde, no sentido de que a população adote atitudes preventivas em relação à dieta e às atividades físicas. Cientes de que uma pesquisa não seria o suficiente para esgotar ou resolver todos os problemas de ordem nutricional e de desenvolvimento infantil, o presente artigo busca analisar os dados coletados de massa corporal e estatura pelos professores da Rede Municipal em relação à massa corporal e à estatura por sexo e idade, comparando-os com os índices apresentados pelos alunos do Colégio Mauá (escola particular de Santa Cruz do Sul) e com o percentil 50 do NCHS, aceitos e indicados pela OMS como padrão de referência mundial comparativa para crescimento e desenvolvimento nutricional. 2. Objetivo Geral O objetivo deste estudo é comparar e verificar se existe diferença significativa entre o perfil de crescimento das crianças da RMSCS com a escola particular (Colégio Mauá) e com o percentil 50 do NCHS. 3. Objetivos Específicos 3.1. Comparar dos índices de massa corporal e estatura entre as crianças do sexo masculino e feminino da RMSCS, Colégio Mauá e percentil 50 do NCHS; 3.2. Comparar a curva de estatura média para os dois sexos da população investigada, RMSCS, Colégio Mauá e percentil 50 do NCHS; 3.3. Comparar a média da massa corporal para os dois sexos das populações investigadas, RMSCS, Colégio Mauá e percentil 50 do NCHS. 4. Procedimentos Metodológicos 4.1. Sujeitos da pesquisa A amostra é intencional, sendo constituída por 25.538 crianças do sexo masculino e feminino com idade entre 6 e 18 anos da RMSCS, no período de 1993 a 1998. Quadro 1 – Sujeitos da pesquisa Idade Sexo 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Masc 303 (1) 854 1.215 1.391 1.421 1.415 1.470 1.408 1.217 1.075 Fem (2) 816 1.215 1.342 1.372 1.382 1.384 1.409 1.292 1.009 321 624 1670 2430 2673 2793 2797 2854 2817 2509 2084 16 17 18 Total 679 361 201 12.950 12 588 25.538 1288 672 327 alunos 609 311 126 264 Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul 4.2. Instrumentos e procedimentos de coleta de informações A avaliação antropométrica nutricional foi realizada por meio das medidas de massa corporal e estatura, levando em consideração a idade e o sexo. A massa corporal foi medida em quilogramas (kg), com a utilização de balanças de marca Prião e Filizola, com precisão de 500g. A estatura foi medida em centímetros (cm) com a utilização da toesa. A idade foi computada em anos completos. Essas medidas vêm sendo coletadas pelos professores de Educação Física da RMSCS, desde 1993, quando da implantação do exame biométrico e avaliação postural nas escolas municipais de Santa Cruz do Sul (Weis e Müller, 1995). Os dados são registrados em fichas coletivas por turma. Após a coleta, os dados são organizados no programa estatístico SPSS 8.0 for windows. 4.3. Tratamento das informações A normatização da curva foi obtida através do teste de Box Plot para idade e sexo (não foi possível obter uma curva normal porque os dados coletados pelos professores foram arredondados principalmente no que se refere à massa corporal). Optou-se por uma análise através da estatística descritiva, utilizando a ocorrência de freqüência em valores absolutos, média, mediana, desvio padrão e padrão da média. A curva de polinômio cubital foi a que apresentou um valor R.Square mais elevado para todas as idades e medidas analisadas. As curvas de crescimento e nível nutricional por idade e sexo foram comparadas com a média de 50 percentil do NCHS e com os dados coletados no Colégio Mauá. Foi realizada uma análise de significância 0.05 por idade e sexo, através do teste t de student para amostra única. 5. Apresentação e discussão dos resultados a) Comparação da Curva de Crescimento entre crianças dos sexos masculino e feminino da RMSCS, Colégio Mauá e com os índices do percentil 50 do NCHS. Percebe-se pelo Quadro 2, em vermelho, que as meninas da RMSCS apresentam-se com uma estatura mais elevada dos 11 aos 14 anos e, no Quadro 3, em vermelho, que o peso corporal das meninas é mais elevado dos 10 aos 14 anos. Por outro lado, se forem observados os índices apresentados pelas Crianças do Colégio Mauá, a diferença apresentada entre os dois sexos para estatura feminina superior é muito pequena nas idades entre os 11 e 13 anos, invertendo-se de forma significativa ao 14 anos, quando os meninos apresentam-se com estatura média superior. 265 Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul Já em relação ao peso corporal observado no Quadro 3, pode-se inferir que as meninas do Colégio Mauá apresentam peso médio superior aos meninos. Os índices apresentados na pesquisa de Brandt (1998) são de um estudo longitudinal, em que a amostra é de 44 alunos, sendo, desse total, 23 do sexo masculino e 21 do sexo feminino. Embora a amostra seja inferior aos dados levantados nas crianças da RMSCS e da NCHS, os resultados se equivalem. Segundo índices apresentados, as crianças norte-americanas - NCHS, do sexo feminino, apresentam estatura superior à dos meninos nas idades entre 11 aos 13 anos Porém esses resultados se invertem aos 14 anos. Em relação ao peso corporal, as meninas apresentam índices superiores nas idades de 11 aos 14 anos, mostrando pouca diferença entre as médias aos 14 anos. Quadro 2: Estatura masculino e feminino Idade 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 Idade 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 P 0,595 0,210 0,021 0,122 0,196 0,000 0,000 0,000 0,020 0,000 0,000 0,000 0,000 SCS 115,56 119,76 124,19 128,68 133,49 138,71 143,52 148,91 154,24 160,97 164,89 168,64 170,18 DP NCHS 6,47 116,10 6,91 121,70 7,07 127,00 7,34 132,20 7,54 137,50 7,92 143,30 8,26 149,70 8,90 156,50 9,71 163,10 9,59 169,00 8,80 173,50 8,38 176,20 6,86 176,80 MASCULINO DP 4,9 5,1 5,4 5,7 6,1 6,7 7,6 8,3 8,5 8,1 7,1 6,5 6,6 CMauá DP 147,20 153,40 160,30 168,90 6,1 6,0 6,3 7,1 SCS 115,27 119,34 123,53 128,23 133,87 139,86 145,16 150,65 155,32 157,67 159,14 160,12 159,77 DP 7,35 6,80 7,03 7,55 8,03 8,67 8,68 8,54 7,49 7,15 6,95 7,06 7,03 DP 4,9 5,5 6,0 6,5 6,8 7,0 6,8* 6,6 6,7* 6,8 6,7 6,4 6,0 CMauá DP 0,103 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 147,90 154,40 160,50 164,00 6,4 7,1 7,3 6,9 P NCHS 114,60 120,60 126,40 132,20 138,30 144,80 151,50 157,10 160,40 161,80 162,40 163,10 176,80 FEMININO Estatura mais elevada por idade e N 300 851 1220 1352 1432 1423 1487 1419 1228 1085 690 370 199 N 322 814 1222 1372 1412 1402 1392 1419 1300 1020 608 311 126 Estatura inferior por idade e sexo 266 Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul Quadro 3: Peso corporal masculino e feminino Idade 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 P 0,173 0,650 0,015 0,023 0,042 0,000 0,000 0,000 0,000 0,870 0,066 0,000 0,000 SCS 21,30 23,06 25,10 27,41 29,82 33,43 36,70 40,67 44,61 50,94 54,68 58,98 60,56 DP 3,54 4,05 4,75 5,59 5,90 7,20 8,19 9,56 9,82 11,42 11,45 11,96 8,94 NCHS 20,70 22,90 25,3 28,10 31,40 35,30 39,80 45,00 50,80 56,70 62,10 66,30 68,90 MASCULINO DP 2,9 2,7 3,1 3,8 4,6 5,6 6,5 7,3 8,0 8,4 8,7 8,9 9,0 CMauá DP 37,50 42,60 47,70 53,80 6,1 7,7 8,0 9,6 Idade P 0,000 0,000 0,217 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,612 SCS 21,95 23,15 24,62 26,92 30,31 34,49 38,24 43,08 47,58 50,87 53,55 54,77 56,13 DP 7,74 4,63 4,94 5,63 6,84 8,35 9,18 10,24 9,72 9,99 10,61 9,76 10,38 NCHS 19,50 21,80 24,80 28,50 32,50 37,0 41,50 46,10 50,30 53,70 55,90 56,70 56,60 FEMININO DP 2,2 2,7 3,4 4,4 5,3 6,3 7,0 7,7 8,0 8,2 8,0 7,7 7,2 CMauá DP 39,50 44,80 51,10 54,30 8,9 9,4 9,2 8,8 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 Peso corporal mais elevado por idade e sexo N 2,99 8,43 1210 1339 1402 1416 1474 1413 1223 1084 690 371 199 N 322 805 1216 1356 1406 1397 1390 1417 1298 1015 608 312 126 Peso corporal inferior por idade e sexo Os resultados obtidos com a realização do Exame Biométrico na RMSCS mostram que a estatura das crianças do sexo feminino é mais elevada se comparada com a das crianças do sexo masculino e estão de acordo com Tani e Kokubun (1985) e Ferreira (1999) que colocam que a velocidade de crescimento das crianças é mais elevada nos primeiros meses de vida, reduzindo-se entre os 10 e 13 anos, quando haverá novo aumento, conhecido por estirão, ocorrendo o pico de crescimento por volta de 11 anos em meninas e de 14 anos em meninos. Esses dados vêm comprovar que a maturação relacionada ao pico de crescimento feminino ocorre antes do masculino (11 e 14 anos respectivamente) em termos de estatura, influenciando no peso corporal, 267 Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul invertendo-se, logo após (14 anos), essa situação. Deve-se consideração, segundo Ferreira (1999), que após a Idade transformações ocorridas nos meios de produção ocasionaram mudanças no modus vivendi da população, trazendo benefícios por malefícios por outro, dentre esses, falta de espaço para brincar. levar em Média as profundas um lado e b) Comparação entre a média da estatura para o sexo masculino e feminino da RMSCS, CM, com a curva de referência do percentil 50 do NCHS. Gráfico 1- Estatura: masculino. Curvas de Estatura Masculino 190 180 170 160 Estatura (cm) 150 140 NCHS 130 SCS 120 110 6,00 CM 8,00 7,00 10,00 9,00 12,00 11,00 14,00 13,00 16,00 15,00 18,00 17,00 Idade Gráfico 2- Estatura: feminino. Curvas de Estatura Feminino 180 Estatura (cm) 170 160 SCS NCHS 150 140 MAUÁ 130 120 110 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 Idade Observa-se nos Gráficos 1 e 2 que as curvas de crescimento da RMESCS, representadas pela linha pontilhada verde, apresentam-se inferiores para ambos os sexos se comparadas com as curvas da NCHS. Nos mesmos gráficos podese observar que a curva de crescimento das crianças entre 11 e 14 de ambos os 268 Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul sexos do Colégio Mauá, representadas pela linha tracejada azul, apresentam-se superiores aos índices da NCHS. Pela análise dos dados dos Gráficos 1 e 2 observa-se que os índices de estatura apresentados pelas crianças da RMSCS estão de acordo com pesquisas realizadas por estudiosos como Frisancho et al. 1975; Spurr, 1983; Malina, 1994, e outros (apud Ferreira, 1999), que constataram que a desnutrição leve-para-moderada pode ser associada ao atraso no crescimento físico, maturação biológica, reduzida massa muscular e decréscimo na capacidade de trabalho, variando no entanto segundo Malina 1984 (apud Ferreira, 1999) de acordo com a intensidade e com o tempo de duração do estresse nutricional. Em se tratando de uma comunidade teoricamente mais carente, em função de residirem em bairros na sua grande maioria de periferia e sabendo-se que o aspecto econômico pode ser um dos fatores que intervém diretamente na vida cotidiana das pessoas, isso pode estar interferindo direta ou indiretamente no crescimento e no desenvolvimento da população estudada. No Quadro 4 observa-se que não existe diferença significativa para as crianças de 6 anos de ambos os sexos da RMSCS se comparadas aos índices da NCHS. Já a partir dos 7 anos, os índices da NCHS apresentam-se superiores e essa diferença é estatisticamente significativa, como pode ser observado no Quadro 4. Quadro 4: Estatura Corporal – Nível de Significância (ad hoc 0.05) Idade 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 P 0,155 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 SCS 115,56 119,76 124,19 128,68 133,49 138,71 143,52 148,91 154,24 160,97 164,89 168,64 170,18 DP NCHS DP N IDADE P SCS DP NCHS DP N 6,47 116,10 4,9 300 6 0,103 115,27 7,35 114,60 4,9 322 6,91 121,70 5,1 851 7 0,000 119,34 6,80 120,60 5,5 814 7,07 127,00 5,4 1220 8 0,000 123,53 7,03 126,40 6,0 1222 7,34 132,20 5,7 1352 9 0,000 128,23 7,55 132,20 6,5 1372 7,54 137,50 6,1 1432 10 0,000 133,87 8,03 138,30 6,8 1412 7,92 143,30 6,7 1423 11 0,000 139,86 8,67 144,80 7,0 1402 8,26 149,70 7,6 1487 12 0,000 145,16 8,68 151,50 6,8* 1392 8,90 156,50 8,3 1419 13 0,000 150,65 8,54 157,10 6,6 1419 9,71 163,10 8,5 1228 14 0,000 155,32 7,49 160,40 6,7* 1300 9,59 169,00 8,1 1085 15 0,000 157,67 7,15 161,80 6,8 1020 8,80 173,50 7,1 690 16 0,000 159,14 6,95 162,40 6,7 608 8,38 176,20 6,5 370 17 0,000 160,12 7,06 163,10 6,4 311 6,86 176,80 6,6 199 18 0,000 159,77 7,03 176,80 6,0 126 > ESTATURA MASCULINO ESTATURA FEMININO 0,05 Não existe diferença Existe diferença c) Comparação entre as médias de massa corporal para o sexo masculino e feminino da RMSCS, Colégio Mauá (CM), com a curva de referência do percentil 50 da NCHS. 269 Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul Gráfico 3- Massa corporal masculino C u rv a s d e P e s o M a s c u lin o 70 60 50 40 P e 30 so (K g 2 0 ) NC HS SCS 10 6 ,0 0 CM 8 ,0 0 7 ,0 0 1 0 ,0 0 9 ,0 0 1 2 ,0 0 1 1 ,0 0 1 4 ,0 0 1 3 ,0 0 1 6 ,0 0 1 5 ,0 0 1 8 ,0 0 1 7 ,0 0 Id a d e Gráfico 4 – Massa corporal feminino Curvas de Peso Corporal 60 50 40 30 Pe so (K 20 g) NCHS SCS 10 6,00 CM 8,00 7,00 10,00 9,00 12,00 11,00 14,00 13,00 16,00 15,00 18,00 17,00 IDADE A massa corporal das crianças da Rede Municipal de Ensino de Santa Cruz do Sul, (RMSCS) representado pela linha pontilhada verde dos Gráficos 3 e 4, nos mostra que os índices para o sexo masculino e feminino apresentam uma curva inferior, se comparados com os índices da NCHS. Os dados do exame biométrico coletados no estudo de Brandt (1998), em relação a massa corporal/estatura, de crianças com idade entre 11 e 14 anos numa escola particular (colégio Mauá), apresentaram índices superiores aos da NCHS. Este índice demonstra grande diferença entre o perfil das curvas de massa corporal e estatura apresentadas entre a RMSCS e o Colégio Mauá, sendo que as mesmas foram comparadas com o percentil 50 da NCHS. Essa constatação encontra respaldo em Marcondes (1994) que coloca que um dos fatores determinantes do crescimento dos escolares é o fator sócio-economico e cultural mais elevado, bem como a renda per capita, idade dos pais, número de membros que compõem a família, condições de saneamento, escolaridade e cultura dos pais. 270 Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul Em pesquisa realizada pelo Instituto da Criança de São Paulo com 1010 crianças faveladas de zero a doze anos de idade, Marcondes cita: “a devastação que as más condições sócio-econômicas de vida determinam em relação ao crescimento das crianças. Os dados referentes à altura revelam grave situação; sobretudo a partir dos dois anos de idade, a média aritmética da estatura bordeja o limite inferior da normalidade e, por outro lado, o limite inferior da população favelada mostra situação desalentadora. A situação referente ao peso é mais animadora o que sugere baixa estatura residual com eventual superação dos fenômenos da fase aguda da desnutrição” ( 1994, p.286). Observando o Quadro 5, verifica-se que a massa corporal das crianças da RMSCS apresentam-se superiores aos 6 anos para o sexo masculino e 6 e 7 anos para o sexo feminino, se comparados com os índices da NCHS. Não apresentam diferença significativa na massa corporal nas idades de 7 e 8 anos para o sexo masculino e 8 e 18 anos para o sexo feminino. Entre os 9 e 18 anos para o sexo masculino e 9 aos 17 anos para o sexo feminino, os índices da NCHS apresentaram-se superiores de forma significativa. Quadro 5: Massa Corporal – Nível de Significância (ad hoc 0.05). Idade 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 P 0,003 0,249 0,150 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 SCS DP NCHS 21,30 3,54 20,70 23,06 4,05 22,90 25,10 4,75 25,3 27,41 5,59 28,10 29,82 5,90 31,40 33,43 7,20 35,30 36,70 8,19 39,80 40,67 9,56 45,00 44,61 9,82 50,80 50,94 11,42 56,70 54,68 11,45 62,10 58,98 11,96 66,30 60,56 8,94 68,90 PESO MASCULINO DP 2,90 2,70 3,10 3,80 4,60 5,60 6,50 7,30 8,0 8,4 8,7 8,9 9,0 N IDADE P SCS DP NCHS 2,99 6 0,000 21,95 7,74 19,50 8,43 7 0,000 23,15 4,63 21,80 1210 8 0,217 24,62 4,94 24,80 1339 9 0,000 26,92 5,63 28,50 1402 10 0,000 30,31 6,84 32,50 1416 11 0,000 34,49 8,35 37,0 1474 12 0,000 38,24 9,18 41,50 1413 13 0,000 43,08 10,24 46,10 1223 14 0,000 47,58 9,72 50,30 1084 15 0,000 50,87 9,99 53,70 690 16 0,000 53,55 10,61 55,90 371 17 0,001 54,77 9,76 56,70 199 18 0,612 56,13 10,38 56,60 PESO FEMININO Não existe diferença significativa DP 2,2 2,7 3,4 4,4 5,3 6,3 7,0 7,7 8,0 8,2 8,0 7,7 7,2 Existe diferença significativa Prista (1995) sugere que os países de “terceiro mundo” evidenciam características comuns decorrentes do relativo atraso econômico. Por outro lado convergem em alguns problemas típicos de saúde e desenvolvimento, segundo ele com incidência nos efeitos da malnutrição e das más condições higiênico-sanitárias. 271 N 322 805 1216 1356 1406 1397 1390 1417 1298 1015 608 312 126 Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul Por outro lado Bouchard (1988), apud Prista (1995), diz que estudos “no âmbito genético têm evidenciado um grande dinamismo da adaptabilidade do ser humano que não nos permite generalizações absolutas nas classificações raciais”. Apresentadas algumas questões polêmicas que envolvem metodologias utilizadas nas pesquisas atuais, os autores do presente estudo não têm a pretensão de buscar generalizações, uma vez que é intenção através de novas pesquisas contemplar maior número de variáveis possíveis como nível sócioeconômico, além de aspectos culturais e étnicos para descrever essa população. 6. Considerações Finais Atendendo aos objetivos propostos neste estudo podemos considerar que existem similitudes e diferenças entre o perfil de crescimentos dos escolares do estudo com os valores apresentados pelo grupo da escola particular, Colégio Mauá e com os índices de referência apresentados pelo NCHS. Entre os três grupos observados percebeu-se semelhanças quanto ao período de estirão de crescimento para o sexo feminino entre os 10 a 14 anos, nestas idades as meninas apresentaram-se mais altas e com maior massa corporal. Esta observação confere com a literatura, que coloca, que as meninas maturam mais cedo que os meninos. O mesmo não se pode dizer sobre o perfil de crescimento para as variáveis de estatura e massa corporal. Observando-se os gráficos, visualiza-se diferença entre os três grupos estudados. Tomando-se por parâmetro o percentil 50 do NCHS, verifica-se que as crianças da RMSC apresentam sua curva de estatura e massa corporal abaixo dos valores de referência em quase todas as idades, o contrário foi observados com o perfil da curva de crescimento das crianças do Colégio Mauá, que se apresentam acima dos valores de referência para as duas variáveis analisadas. Quando realizado o teste t de student entre a RMSC e os índices de referência, para as variáveis de massa corporal e estatura, podemos observar que somente existe diferença significativa nas idades de 6, 7,8 e 18 anos. Observando os valores nos quadros 2 e 3 podemos dizer que existe diferença significativa entre os valores apresentados pelas crianças do Colégio Mauá com os índices de referências para as duas variáveis estudadas. Com isso podemos inferir que as condições peculiares destas populações estudadas de alguma forma influenciaram o perfil de crescimento dessas crianças. Embora o Brasil seja considerado um país em desenvolvimento, não se pode fazer generalizações quanto ao perfil de crescimento uma vez que a população está dividida em classes sociais economicamente distintas. 272 Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul Santa Cruz do Sul é considerada uma cidade com nível de analfabetismo baixo e a arrecadação de impostos alta, o que poderia favorecer as condições econômicas da população como um todo, o que no entanto não acontece. Observa-se neste contexto uma forte tendência entre o nível sócioeconômico e a curva de crescimento, em que as crianças da RMSCS com idades entre 6 a 18 anos de ambos os sexos apresentam aparentemente o nível sócio econômico mais baixo, assim como as curvas de crescimento inferiores se comparadas aos índices do NCHS. Por outro lado, as crianças da escola particular Mauá, com idades entre 11 e 14 anos de ambos os sexos, que aparentemente apresentam um nível sócioeconômico mais favorecido, mostram valores superiores se comparados aos 50 percentis do NCHS, ad hoc 0.05 para níveis de significância, em termos de curva de crescimento e nível nutricional. Constatou-se pelo presente estudo, que, metodologicamente, não é indicado agrupar populações com características distintas numa análise única (escola pública x escola particular), uma vez que os resultados não descreveriam de forma fidedigna da realidade. Essas estimativas nos levam a pensar que seria necessário verificar nas populações estudadas (escolas municipais), outras variáveis, como o nível sócio-econômico, cultural e étnico, além de dividir a população estudada em quadrantes, para verificar se a curva de crescimento e nível nutricional dos quadrantes confere com a curva geral do perfil de crescimento e de desenvolvimento. Referências Bibliográficas BRANDT, Lúcio André. Características do crescimento e aptidão física em escolares de 10 a 14 anos: Um estudo longitudinal. Monografia, UNISC. 1998. FERREIRA, Maria.B.R. Crescimento e Performance Motora: Um Fenômeno Biocultural. FERREIRA, Maria.B.R. Criança e Saúde um Enfoque Antropológico. Estudos da criança. Santa Maria.1999. GAYA, A. et al. Hábitos de vida, perfil nutricional, níveis de crescimento e aptidão física referenciada à saúde em crianças provenientes de família de baixa renda no município de Porto Alegre. Porto Alegre, 1999 (no prelo). GO TANI et al. Educação Física Escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EPU, 1988. 273 Perfil de Crescimento das Crianças da Rede Municipal de Santa Cruz do Sul MARCONDES, Eduardo. Desenvolvimento da Criança: desenvolvimento biológico do crescimento. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Pediatria:1994. 274 APRESENTAÇÕES EM EVENTOS INTERNACIONAIS ___ Physical Education in Brazil: an historical overview* Alberto Reinaldo Reppold Filho - University of Rio Grande do Sul, Brazil Introduction One of the most important aspects in the investigations about physical education, sport and Olympism in the last two decades has been the increasing number of sociological, historical and anthropological studies. Even more important is the fact that the traditional approaches based on somewhat naïve and romantic views on sport and Olympism has given place to more critical ones. The current investigations have pointed out many problematic aspects about the impact of the Olympism in different cultures and societies. Research also showed that sport is not a world of decency and fair play, as most people traditionally believe. For the opposite, these studies pointed out that corruption, drugs, political interests and commercialism have been part of the everyday life in modern sport and Olympics. During the last years, special attention was drawn on the different interpretations of Olympism. In the seminars of the International Olympic Academy, a number of papers were presented about this topic. Many important questions came out from these meetings. One problem that raised considerable concern was the adequacy to apply the principles of Olympism to countries where the economic, social, cultural and political backgrounds are rather different from those where it was shaped. As one of the aims of this seminar is to examine problems related to cultural interpretation of Olympism and Olympic education from the perspective of people living in different countries, this paper presents an overview of the situation in Brazil. It seemed important to address the problem from an historical perspective. Such approach allows having a better understanding of the current situation of physical education in this country. It also provides some empirical basis for discussing the possibilities and limitations of Olympism and Olympic education in countries with features similar to those of Brazil. The period considered covers from the end of 18th century to the last decades of this century. The study is based on a literature review and takes into consideration works published in the last two decades. Most of them are Master dissertations developed in Departments of Education and Physical Education in Brazilian Universities. Certainly, a historical study involving a period of almost two centuries does not allow going deep into the problems. In addition, there are few studies on the history of physical education in Brazil. The task becomes even more difficult when the focus is on Olympism. For this reason, the study must be considered as a preliminary approach. 276 Physical Education in Brazil: an historical overview The Emergence of Physical Education in Brazil In Brazil, physical education had a long development since its origin in the Colonial Period (1500-1822) until its consolidation in the middle of this century. In the first two and a half centuries of Portuguese colonization, education in Brazil was strongly influenced by the Jesuits. At this period physical activities were in a very primitive form. The first educational program was brought by the Jesuit Manoel de Nobrega and lasted up to 1570. This consisted of Portuguese language, Christian doctrine, reading and writing, singing and instrumental music, agriculture, professional learning and Latin grammar. A second plan of studies based on the Ratio Studiorum was introduced in 1570 and lasted until 1759. In both programs, there was no indication of physical activities of any sort. Despite of that, recent studies about the period have attempted to show that games and physical activities were developed in Jesuit schools. The specialized historiography presents as the first records of physical education in Brazil some publications from the end of eighteenth century. These publications related physical education to health and hygiene and were connected to medical institutions. This conception of physical education was named Hygienist.. It initially focused on the habits of the colonial agrarian elite. The concern with health and hygiene during this period had much to do with the rudimentary conditions imposed by the environment and work. This posed several sorts of hazardous and diseases for both the landlord, white European, and the black African slave. The habits of the late were considered as negative patterns when compared to the habits of the elite family. In this polarized society and austere atmosphere physical education was considered as a set of hygienic norms to prevent death and disease among the members of the elite families. The concern about physical education in Brazilian schools dates back to the beginning of nineteenth century when the country got its political autonomy. The independence from Portugal in 1822 brought the necessity to create a Constitution that fulfilled the needs and interests of the new nation. In that period, the first official manifestation in favor of Physical Education came up. In spite of this, the official beginning occurred only in 1851 with the inclusion of gymnastics in the curriculum of primary schools in the City of the Court. This was a positive step but it did not turn out as a significant advancement. Since most provinces faced serious financial shortages as well as lack of personnel to handle primary teaching, physical education as other school subjects continued to be very poor. The report of the Empire Minister published in 1883 showed that only four from the 292 schools of the City of Court and provinces had gymnastics as subject matter. It also showed that from the 10.427 students registered in these schools no more than 1,38 per cent attended the classes. (Cantarino Filho, 1982). 277 Physical Education in Brazil: an historical overview The Implementation of Physical Education in Brazil The situation changed in the final decades of nineteenth century and first decades of this one. The end of slavery, the coming of Republic and industrialization helped to build a new economic, political and social order. The economy moved from rural areas to urban centers provoking a rapid and disorganized growth of the cities. The poor living conditions facilitate the appearance and spread of several kinds of diseases and death mainly among the poorest communities. The liberal and positivistic ideology that inspired the emergent urban elite also helped to create a naturalistic conception of society. According to Soares (1991), it was in this urban and Republican atmosphere that the hygienist views presented in the discourse of leading groups during the Colonial and Imperial period could be transformed into actions. Intending to make feasible their family policy, they used physical education to develop pedagogical actions in society. The aim was to create strong, harmonious and healthy bodies in opposition to weak, flaccid and sick ones of the Colonial times. The hygienist doctors were responsible for the broad acceptance of physical education in Brazilian society and its inclusion in schools. On the basis of this conception, physical education reached an important position in the government of President Getúlio Vargas. It was included in a broader political and economic project from 1930 to 1945. Physical education was part of a program of national education with the aim to transmit the official ideas of eugenics, nationalism and national integration. The most radical part of the period was named Estado Novo (New State). It was marked by non-liberal positions and the approximation of the Brazilian Government to the ideology of National Socialism and Fascism. During Vargas Government, several organizations to develop and control the activities related to physical education were created. Some of the most important were: the Division of Physical Education (1937), the National College of Physical Education and Sports (1939), Sports National Council (1941), Brazilian Association of University Sports (1941), as well as norms and legislation about physical education in elementary and secondary schools. The Consolidation of Physical Education in Brazil After this period, a strong concern with physical education reappeared in the educational policies of the Military Government in the 1970s and 1980s. This period has been considered the most important to understand the current situation of physical education and sport in Brazil. Many legal and financial documents supporting the development of physical education in the country were introduced at this time. Some of them were still valid until quite recently. For this reason, it could be considered the period of the consolidation of physical education in Brazil. 278 Physical Education in Brazil: an historical overview An account of physical education in this period requires some previous economical and political considerations. This will help to clarify the circumstances in which physical education was involved as the part it played in the government ideology. Since the last decades of nineteenth century, the agrarian export model that based Brazilian economy until the beginning of this century was being gradually changed to an economic model based on industry. This new model took shape after the 1930 as consequence of the coffee crisis, caused by the world crisis of 1929. In this new economic context, the country had to manufacture goods that were previously imported from Europe and North America. In the beginning, industrialization came up as an element of interest to different social segments. As leaders of the process, the national entrepreneurs want to increase their economic monopoly. The foreign entrepreneurs were interested in making investments since the policy adopted by the Brazilian government was profitable for them. The middle classes saw industrialization as a way to ascend its pattern of life. The working class and leftist intellectuals considered industrial development a necessary condition for national independence. In 1960, when industrialization in Brazil was strong, many conflicts amongst these different interests came out. According Souza (1981) the critical point of the situation was the economic stagnation and high inflation rate. These conflicts created a political crisis that ended up in the 1964 coup d'état by the military forces. During the first years, the focus of attention was to stop the increasing inflation and prepare the bases for the economic development. The Military Government favored the entrance of foreign funds in order to foster the modernization of the country. This economic model progressively took on the characteristics of an associated-dependent capitalist economy. The first plans of the Military Government did not pay attention to physical education. They introduced, however, some important ideas that were later included in the policies of this sector. The Decenial Plan 1967/1976 introduced the economical conception of education. It made an anticipation of the human resources necessary to achieve an estimate BPI in 1976. The aim of the education was to carry on the ideology of human capital to accelerate the process of development. The same idea was presented in the Strategic Program of Development 1968/1970. Parallel to the plans the government was already taken measures to adapt education to its economic policy. Some examples are the pass of new legislation (Lei 4.464/65) and MEC/USAID contracts signed during 1965 and 1968. These measures conflicted with the claims of the students taking to a crisis that ended with the reform of the Brazilian universities in 1968. Within this political conflict, the Military Government put 279 Physical Education in Brazil: an historical overview forward several strategies to prevent the organization and manifestation of the political parties, labor and student associations and to exclude of the political decisions large parts of population. Saviani (1987) named these strategies authoritarian demobilization. According to some authors, physical education and moral education were used as part of these strategies. In 1971, the results of a survey sponsored by the government entitled Diagnosis of Physical Education and Sports in Brazil was published. The survey was done with the aim to develop a policy for the application of the financial resources from the Sports Lottery. The publication presented quantitative information about physical education in the beginning of 1970s. For the primary schools, the results showed a very bad situation. From 22 States and Capital District surveyed, physical education was in reasonable conditions only in seven and in 16, it was considered poor or non-existent. In the secondary schools, the picture was not different. The survey showed insufficient facilities, low salaries and high number of students per teacher. Other information about professional training, sport clubs, parks, athletes, national associations completed the survey. The conclusions presented in this document were used to subsidize the National Policy of Physical Education and Sports. The contributions of physical activities for the economic and social development were the following: prevention towards diseases and more disposition for work, health rehabilitation and therapy, adequate use of the free time and leisure, tourism increment, development of specific technology, increment of the production of sports material and circulation of goods. The most important aspect was to fit the population with the aim to increase the production. One of the most influential movements in Brazilian physical education began in the late 1970s and early 1980s. This movement was named popular physical education. It got its theoretical and methodological references in leftist pedagogy and Marxist sociology. The aim of this movement was to search for structural alterations in Brazilian society. Physical education took clearly a political connotation in opposition to the Military Government. It is important to mention that in those years Brazil was returning to democracy after more than two decades of dictatorship. The social and political situation running in the country helped to create discontentment with the model of physical education proposed by the government. With more freedom to criticize and organize their institutions physical educators started to examine and redefine their functions and roles in society. Physical education, among other social and educational practices, was considered a way to organize the poor people. A lot of work in the slums was developed. Popular culture was understood as an essential factor in this process since it worked an as strong element towards the dominant ideological inculcation. Folk games were very stimulated. The change of focus from the naturalistic to sociological 280 Physical Education in Brazil: an historical overview approaches provoked by the emergency of this new movement has been considered the turning point in Brazilian physical education and the main reason for its current crises of identity. Conclusion In this short essay, we looked at some chief points in the history of physical education in Brazil. As said before the study was based on a literature review. The work pointed out that physical education has been present in the ideology of leading groups since the Colonial times. At that time, it was a set of norms to prevent the Colonial elite family from the diseases caused by the primitive hygienic conditions. During the industrialization, Vargas Government used physical education as an instrument to develop its eugenic and nationalist ideology. In the Military Government, it appeared linked to the political interests and capitalist economical development. Finally, in the early 1980s, a new movement coming from the leftist pedagogy and Marxist sociology emerged and criticized these conceptions. These different perspectives could not find one agreement about the role of physical education in society and the best way to develop it in school. At this moment, it is possible to say that physical education is undergoing a crisis of identity. None of the mentioned perspectives presents Olympism or Olympic education as part of their concern. * Este trabalho foi apresentado no 1st International Seminar for Postgraduate Students of Physical Education and History, realizado pela Academia Olímpica Internacional, na cidade de Antiga Olímpia, Grécia, de 15 de maio a 1 de julho de 1993. Bibliography BANDEIRA, M.A.G. 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Faculty of Education, University of São Paulo, Master Dissertation, São Paulo. 282 Physical Education in Brazil: an historical overview SILVEIRA, M.C.P. Desporto e desenvolvimento econômico (Sport and economical development). Ph.D. Thesis. SOARES, C.L. (1991) O pensamento médico higienista na educação física brasileira (The hygienist doctors thought in Brazilian physical education). University of Campinas, Master Dissertation, Campinas. SOUZA, M.I.S. (1981) Os empresários e a educação: o IPES e a política educacional após 1964 (The entrepreneurs and education: IPES and the educational policy post-1964). Vozes, Petrópolis. 283 Olympism and the Pedagogical trends of Physical Education in Brazil Alberto Reinaldo Reppold Filho - University of Rio Grande do Sul, Brazil Introduction I would like to begin my presentation saying that is a great pleasure to participate in the 1st International Seminar for Postgraduate Students of Physical Education and History. I congratulate the International Olympic Academy for the initiative to organize such a seminar and thank the opportunity to study, learn and discuss physical education, sport and Olympism with students from all over the world. Human beings have the idea of transcendence and the capacity to construct utopias. In this sense, the seminar has a very special meaning for me. It represents the utopia that physical education, sport and Olympism can help to build a different world where peace, understanding, freedom, justice and equality are not formal concepts but positive facts. For this reason, I think we should set as our purpose in this seminar not only to understand the current situation of Olympism but also to point out its mistakes and try to find ways to change its course. The paper I am going to present gives a brief view of the pedagogical trends of physical education in Brazil and draws attention to some of the difficulties to apply Olympism and develop programs of Olympic education in Brazilian schools. Physical Education in Brazil: Preliminary Considerations In 1983, Oliveira published a book titled “O que é educação física? (What is physical education?). The study was a critical introduction to physical education, in particular, the way it was conceived in Brazil. In this study, the author asked questions about the nature and objectives of physical education and pointed out many aspects related to its professional, academic and educational identity. In the same year, a second book of considerable relevance was published. In that study, Medina (1983) presented a very critical view about Brazilian physical education. The author claimed that the area was undergoing a crisis of identity. He examined the professional practice and produced a classification of the pedagogical trends of physical education in the country. According to him, physical education was too much oriented towards the biological and medical sciences. This led the author to direct strong criticism at the so-called biological model of physical education and argue for a model that considers the human being as a whole. In the current discussions about physical education in Brazil, the works of Oliveira and Medina are considered landmarks. They were the first to draw 284 Olympism and the Pedagogical trends of Physical Education in Brazil attention to the problem of the identity of physical education in the country. Since the publication of these books, several meetings and seminars have been organized to discuss the role of physical education in society, particularly at school level. Other studies have published critical views about the theories and methodologies that have guided the production of knowledge in the area. At the moment, Brazilian physical education aims to establish itself as an academic discipline with its own subject of study and agenda of investigation; a subject that is not the central point of any other science. In addition, it aims to examine the principles that have been sustained scientific research and the professional practice and test their adequacy to solve the problems that it has been facing. It is possible to say that that physical education is facing a period of deep transformations in Brazil. In relation to school physical education, there are currently several trends going into different directions. Besides the traditional perspectives coming from the biological model mentioned above, there are others linked to human and social sciences as well as to new approaches on Biology and Physics. These trends could be exemplified in this way. Pedagogical Trends of Physical Education in Brazil The first pedagogical trend of physical education we would like to refer is based on Piaget's theories. The works of Freire (1989, 1991) can exemplify it. This perspective argues that that there is a strong relation between the perceptible and intelligible dimensions of the human being. The human movement is the place where it is possible to find the product of this relation. The followers of this view attempt to develop methodologies and techniques to approach this issue. For them, school physical education has the task to improve the human perceptive and intellectual capability trough out movement. The second trend is a consequence of the approximation of physical education to the current trends of Brazilian philosophy and sociology of education. It is based on the works of Libaneo and Saviani. Among the representatives of this view in Brazilian physical education are Carmo (1984) and Ghiraldelli (1990). These authors develop a Marxist theory of physical education. They use the historical materialism to analyze physical activities in underdeveloped capitalist societies. In this perspective, physical education has the aim to work together with other school subjects to make changes in society. Another perspective is linked to the study of motor development and coordination called theory of dynamic systems or ecological approach. It is based on principles of several theories coming from the fields of Physics and Biology. According Petersen (1991) this perspective sees movement as a fruit of the interaction of various subsystems that emerge from auto organized 285 Olympism and the Pedagogical trends of Physical Education in Brazil properties. The main purpose of school physical education is on motor development and learning of motor skills. Olympism in Brazil As we know, Olympism is a historical dated phenomenon originated in Europe in the end of last century. It has been gradually expanded to other social and cultural environments, and taken a worldwide characteristic. In this process, cultural, politic and economic factors were determinant for Olympism to take on the dimension and importance it has today. However, Olympism was not assimilated in the same way in all social and cultural environments. In Brazil, although Olympic sports came into the country in the beginning of this century, Olympism does not exist as a movement and very few people know its meaning. In the academic community, Olympism is a theme that brings up little interest. It is not a subject of scientific investigations, publications or debates. In some professional training courses, it is part of the discipline of history of physical education and sports. However, even in these situations it is presented as a minor theme. Except for few separate cases, it is viewed in a historically uncritical perspective and completely apart from its current challenges. In the specific case of Brazilian schools, as we saw above, none of the current trends of physical education are either based on or concerned with Olympism. Instead of these, some of them do make a point in deviating from any element that can be identified with it. Many raisons could be pointed out to explain such situation. Yet, two could be considered the most important. In Brazil, Olympism is regard as a form of ideological and politic manipulation and an element of the cultural industry. This seems to be true considering that nowadays the means of communication have carried out a fundamental role in the globalization of culture. Throughout the media, sport comes daily into people's lives all around the world and has become an object of consume. It is possible to say that sport has taken on merchandise features and used with the intent to transform the spectator in consumer. Similarly, if we analyze the development of sport, especially the Olympic Games, it is difficult to deny that sport has been used to promote political ideologies in several countries. In Brazil, because of the absence of democratic background and the low education level of the population, physical education and sport became powerful elements in the policies of authoritarian governments and in the charges of the cultural industry. 286 Olympism and the Pedagogical trends of Physical Education in Brazil Final Remarks The strong links between Olympism and authoritarian political ideologies as well as its close connection to cultural colonialism and commercialism put serious difficulties for the introduction of Olympism and Olympic education in Brazil, particularly in schools. Although this criticism is correct, it is necessary to say that physical education, sport and Olympism, as social and cultural phenomena, can also hold a critic dimension. In this sense, it is important to deviate from the concept that they are solely ideological apparatus of the State and elements of the cultural industry. This approach takes away all their possible critical and educational contents. It is important to have in mind that Olympism is part of the contemporary physical culture. It embodies a conception of life that includes a set of values and the pedagogical propose to transmit them to the future generations throughout sport. If we believe school is a place to (a) acquire systematized knowledge to understand and have a critical view about our and other cultures; (b) to build up a set of values such as justice, liberty, democracy, fraternity, and so on; and (c) to develop intellectual and physical skills that enable the use of the mind and body in a more refined way, then we have to consider the possibility to include Olympism as part of its contents. Of course, from the fact that some content is part of the contemporary culture does not necessary follow that it must be taught in school. The criteria to decide what is to be taught vary according to social decisions and in conformity with the importance that each subject receives in a specific historical and cultural context. There is no doubt, however, that sport and Olympism if critically studied from a historical, socio-anthropological and philosophical perspective can afford some interesting insights about ourselves and the world we life. * Este trabalho foi apresentado no 1st International Seminar for Postgraduate Students of Physical Education and History, realizado pela Academia Olímpica Internacional, na cidade de Antiga Olímpia, Grécia, de 15 de maio a 1 de julho de 1993. Bibliography CARMO, A.A. (1985) Educação física: competência técnica e consciência política (Physical education: technical competence and political commitment). Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia. FREIRE, J.B. (1989) Educação de corpo inteiro: teoria e prática da educação física (The education of the whole body: theory and practice of physical education). São Paulo: Scipione. 287 Olympism and the Pedagogical trends of Physical Education in Brazil FREIRE, J.B. 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Vol. 1. pp. 379-391. 288 Epistemological notes on the Theory of Sport Alberto Reinaldo Reppold Filho - University of Rio Grande do Sul, Brazil I would like to begin my presentation saying that I am very glad to be in Olympia again. In 1993, I had the opportunity to participate in the 1st International Seminar for Postgraduates as a student. Parallel to the academic activities I had the chance to make many friends and learn about other cultures. To return to Olympia after these years brings back many nice memories. For these reasons I would like to thank Professor Ingomar Weiler for the invitation to participate in his lectures and Mr. Kostas Georgiadis, Dean of the Academy, for making all the efforts to make possible my participation. I was asked to present some ideas about my topic of studies with the aim to give continuity to the discussion started in the first afternoon meeting. My presentation will be short leaving time for discussion. The topics to which I am going to direct attention are related to the process of theory building in disciplines that belong to the so called Sports Sciences, our concern in this seminar. I will make use of the conceptual framework of the philosophy of social sciences since it can help us to deal with the sort of problems we are going to examine. One of the aims of this area of investigation is the critical examination of the concepts and theories in disciplines such as sociology, anthropology, history, economics, political science and some branches of psychology, as for example, social psychology.. I would like to examine two problems that in my point of view are connected with the discussion we had some days ago concerning the theories about the origins of sport. The first one is related to the definition of sport. I would formulate the question in the following way: “Is there any sense to apply the term ‘sport’ to refer to activities such as boxing, pankration and others performed by the Greeks in the Ancient Olympic Games?” The second point I would like to pay attention is the evolutionist assumption that seems to support the arguments presented by some scholars in relation to the origins of sport. I would like to make this point because in my opinion it conflicts with some current assumptions in the field of social anthropology. Let me first look to the problem of the definition of sport. The definition of sport has been one of the central concerns of philosophy of sport during the last decades. Several scholars have attempted to establish a definition of sport. The lack of a precise definition has been presented as a barrier for the development of a theory of sport. This problem could be presented in the following manner: “Is it possible to develop any theory of sport without a proper definition of sport?” 289 Epistemological notes on the Theory of Sport There is a general agreement that a definition has two main features: intention and extension. The intention can be defined as the property or set of properties that something must posses in order to belong to the class of things covered by that definition. In other words, the intention of a definition is the criterion of inclusion in the class. Let me give you an example to illustrate this point. Suppose I ask you to go to the sports office and find a football ball. If you have no idea of what a football ball is, you will not be able to find it. Therefore, I have to give you some feature(s) of the football ball in order to allow you to identify it as such. The extension of a definition can be defined as the element or elements that belong to the class of things covered by that definition.. It is important to mention that there is an inverse relation between the intention and extension of a definition. If you ascribe to many features to the intention, you reduce the members of the class, the extension. This also works in the opposite way. Having these properties of definitions in mind, I would like to move now to two positions in relation to the definition of sport: essentialism and nonessentialism. I will not be able to elaborate in this point. However, I want to mention that the essentialist position holds the idea that there is such thing as an essence of sport. The essence of sport is understood as a property or set of properties common to all those things we call sport and without which sport stop to be what it is. The followers of this idea set as their task to find or establish these properties. The non-essentialists do not believe in such a thing as an essence of sport. For them, we arbitrarily named some things sport and this word has been used in several different contexts and with several meanings. Trying to find some common feature among them is an illusory enterprise. They also argue that the current attempts to define sport fail either because they are too broad or too narrow. Either they include things that we do not usually consider sport, or they exclude things that we usually consider sport. Some scholars have attempted to solve the problem of the definition of sport using the notion of “family resemblance” developed by Wittgenstein (1995). This philosopher denied that all definitions must be explained by specifying the necessary and sufficient conditions for the application of the definiendum. For him, the members of the extension of a definition may be united not by essential common characteristics, but by a network of overlapping but discontinuous similarities. In other words, there must be similarities between the adjacent members of a series and no similarities at all between the members in the extremes. 290 Epistemological notes on the Theory of Sport Fogelin (1972) illustrates this situation in the way below; the each type of sport is represented by E and the their properties by the letters A to H. E1 E2 E3 E4 E5 A B C D B C D E C D E F D E F G E F G H According to this figure, certain properties are common to more than one sport (E2 and E3) while others have non-common properties at all (E1 and E5). I hope this short view gives you an idea about some of the current positions and difficulties in relation to the definition of sport. I hope it also shows the problem it poses for those who argue that a proper definition of sport is a necessary condition for developing a theory of sport. Before moving to the next part, it seems important to say that there are other positions regarding the matter that would also deserve attention. There are, for example, some authors who argue that a definition only achieve its full meaning in the context of the theory it belongs. In this sense, any definition of sport is theory-dependent. The lack of time, however, does not allow me to look at them now. Maybe we can return to this point during the discussion. Let me move now to the second point. I would like to put forward the following thesis: “The current position in social anthropology puts difficulties for the development of evolutionist theories about the emergence and development of sport.” The evolutionists would say that human societies pass for different stages of evolution. A more advanced one follows each of the stages. This position is based on the 19th century ideas of evolution set forward by the British naturalist Charles Darwin. Blanchard and Cheska (1985) in their famous book ‘The Anthropology of Sport’ argue in favour of an evolutionist theory of sport. This position becomes evident by the examination of the major idea presented in the book, that is ‘the adaptive value of sport’. Sport would play some function in the adaptation of human beings to the social and environmental changes. This idea conflicts with some current positions in social anthropology. This academic discipline is deeply rooted on a cultural relativism. I would define cultural relativism as a doctrine that suggests a cultural system or any part of it can only be evaluated on its own terms. In this respect, sports and games would take distinctive forms and have distinctive significance in different societies. 291 Epistemological notes on the Theory of Sport This poses the problem of incommensurability. Because every culture is based on their own set of values and beliefs they cannot be completely understood using the set of values and beliefs of other cultures. Therefore, what would be the criteria to compare such cultures and develop a general theory of sport? The problem with evolutionist accounts of sport is that they have to develop a theory that embraces societies so geographically, temporal and culturally distinct and remote from each other as the American natives, the ancient Greeks, and the modern Europeans. Well, I will stop here. I thank you for the attention and hope these comments will help in our discussions on the theory of sport. * Este ensaio foi apresentado no 5th International Postgraduate Seminar on Olympic Studies, realizado pela Academia Olímpica Internacional, na cidade de Antiga Olímpia, Grécia, no período de 1º de maio a 15 de junho de 1997. Bibliography BLANCHARD, K. and CHESKA, A.T. (1985) Anthropology of sport: an introduction. Massachusetts, Bergin and Garvey. FOGELIN, R.J. (1972) Sport: the diversity of the concept. In: Gerber, E. Sport and the body: a philosophical symposium.. Philadelphia, Lea and Febiger. WITTGENSTEIN, L. (1995) Philosophical Investigations.. Oxford, Blackwell. 292 Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul Alberto Reinaldo Reppold Filho - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS Introdução Existem vários temas relacionados ao esporte na América do Sul que podem ser de seu interesse. Uma apresentação, contudo, coloca limites e o critério para decidir o que deve ou não ser incluído é, via de regra, uma questão de escolha pessoal. As vezes aquilo que consideramos ser essencial torna-se secundário quando olhando a partir de um outro ponto de vista. Espero que minha escolha esteja de acordo com as suas expectativas e forneça uma visão do desenvolvimento e perspectivas do esporte na América do Sul. Na primeira parte da apresentação destacamos alguns problemas que interferem do estudo do esporte na América do Sul. São feitas referências a algumas das razões que tornam a caracterização precisa do esporte nesta região uma tarefa difícil. Na segunda parte fornecemos uma visão panorâmica na história dos jogos e esportes na América do Sul. Abordamos de maneira breve três amplos períodos. O primeiro focaliza os grupos indígenas na América PréColombiana. É dirigida atenção a algumas das questões que têm interessado os pesquisadores, tais como: “Que que tipos de jogos praticavam as populações indígenas?” “Quais eram as funções destes jogos?” “Assemelhavam-se os jogos indígenas a alguma forma de jogo europeu?” O segundo período cobre os jogos e passatempos da sociedade colonial e explora questões como: “Que tipos de jogos foram introduzidos na região pelos europeus e africanos?” “Em que extensão as interações das culturas européias, indígenas e africanas produziram novas formas de jogos?” A terceira parte enfoca o período do aparecimento e desenvolvimento do esporte moderno1 na América do Sul e procura responder as seguintes questões: “Quando os esportes modernos apareceram na região?” “Como eles se disseminaram?” A parte final da apresentação concentra-se em assuntos atuais relacionados ao esporte em países sul-americanos. São focalizados aspectos econômicos e comerciais, políticas urbanas e participação de massa, esporte e currículo escolar, formação profissional, programas de pós-graduação e pesquisa, e Olimpismo e Educação Olímpica. Nesta parte, a atenção será dirigida para o Brasil, uma vez que o conhecimento e experiência do palestrante concentramse naquele país. Para o conceito de esporte moderno, ver A. Guttmann (1978) From ritual to record: the nature of modern sports. New York, Columbia University Press. 1 293 Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul 1. Problemas que afetam a pesquisa sobre o esporte na América do Sul Desde o período Pré-Colombiano, as populações que habitam as diferentes regiões da América do Sul têm experimentado formas variadas de jogos e, mais recentemente, esportes. Não obstante, a região não era até pouco tempo atrás objeto de investigação sistemática da comunidade científica tanto em nível local como internacional. Nas últimas décadas, esta situação mudou. O interesse acadêmico na região tem aumentado de maneira acentuada. Isto pode ser confirmado pelo número crescente de estudos históricos, sociológicos e antropológicos publicados desde a segunda metade da década 80. Entretanto, alguém que deseje realizar pesquisas na região enfrentará sérias dificuldades. Por um lado, a maioria dos estudos relevantes produzidos em universidades e centros de pesquisa sul-americanos não alcança a comunidade internacional. Entre os principais fatores que contribuem para tal situação encontra-se o idioma, uma vez que a maioria dos estudos publicados na América do Sul é escrita em espanhol e português. Por outro lado, uma parcela significativa das investigações feitas por pesquisadores europeus, norte-americanos e de outros locais do planeta não alcança a comunidade acadêmica da região. Isto em grande parte se deve a falta de recursos financeiros. As universidades sul-americanas trabalham com orçamentos reduzidos. Esta situação torna difícil a manutenção e atualização das bibliotecas, o financiamento para a participação em congressos internacionais e a organização de eventos científicos com a presença de pesquisadores estrangeiros de renome. As comunidades acadêmicas locais ficam assim impossibilitadas de manterem-se pare e passo com os desenvolvimentos internacionais. É verdade que existem esforços institucionais e pessoais para estabelecer vínculos mais sistemáticos e duradouros entre as comunidades acadêmicas locais e internacionais. Estes, entretanto, ainda estão restritos a algumas poucas universidades e pesquisadores. Além disso, existem problemas de comunicação em nível regional. As publicações científicas, com raras exceções, são restritas ao público interno de cada país, tornando o acesso difícil até mesmo para pesquisadores que vivem na região. O mesmo pode ser dito sobre a localização de fontes primárias para pesquisa. Existem poucos centros de documentação e o atual estado de dispersão e deteriorização de documentos e materiais relevantes para a pesquisa torna bastante difícil uma caracterização adequada dos esportes na América do Sul. 2. Retrospectiva Histórica Seguindo o caminho de pesquisadores contemporâneos, diria que a história do esporte na América do Sul é a história da adoção e difusão do esporte 294 Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul inventado e institucionalizado pelos europeus e norte-americanos1. Isto, entretanto, é apenas uma parte da história, pois os jogos nativos e africanos ainda desempenham papel relevante na vida de algumas comunidades locais. Da mesma forma, vários jogos e esportes foram transformados ou adaptados pelas comunidades locais. Um breve olhar em três amplos períodos da experiência sul-americana com jogos e esportes ilustram estes pontos. 2.1. Jogos Indígenas no Período Pré-Colombiano A visão comum, que as vezes temos, de uma população indígena estática que se viu forçada a enfrentar dinâmicos e expansivos impérios europeus está longe de ser verdade. A América Pré-Colombiana era um cenário bem mais complexo. Havia uma diversidade de grupos étnicos, idiomas e religiões. Os povos indígenas encontravam-se em diferentes estágios de desenvolvimento social, econômico e tecnológico. Alguns destes grupos, como o Incas, eram altamente desenvolvidos em termos de estrutura política, econômica e social e dominaram vastos territórios; enquanto outros eram povos semi-sedentários e nômades que viviam fora dos limites destas sofisticadas sociedades e tinham pouco e as vezes nenhum contato com tais desenvolvimentos. As evidências sugerem que os jogos faziam parte da vida de muitos destes povos, dos mais aos menos desenvolvidos. Os jogos de bola eram comuns entre os Incas e Chimus. O Araucanas, um grupo semi-sedentário que vivia na região onde é atualmente o Chile, praticava jogos com e sem tacos, varas, e bastões. Existem também descrições de competições que envolviam lutas e jogos de bola entre o Yahgan, um pequeno grupo de caçadores e catadores que habitaram as partes mais meridionais da América do Sul2. Os jogos que envolviam apostas também eram uma prática difundida entre os grupos indígenas. As pesquisas recentes demonstram que existem similaridades em concepção e formato entre vários jogos de bola praticados por indígenas tanto no continente como nas ilhas do Pacífico e Caribe. Isto dá sustentação a conjectura de uma origem comum destes jogos3. Concluindo estas notas sobre os jogos no período pré-colombiano, é importante destacar o trabalho do padre jesuíta francês, Joseph-François Ver J. L. Arbena (1995) ‘Nationalism and sport in Latin America, 1859-1990: the paradox of promoting and performing “European” sports’, The International Journal of the History of Sport, 12(2) p. 221 2 Para mais informações sobre os jogos dos Yahgan, ver K. Blanchard and A. Cheska (1985) The anthropology of sport. South Hadley, Mass. Bergin & Garvey. p. 146-150. 3 Ver W. Kramer-Mandeau (1992) ‘Tradition, transformation and taboo: European games and festival in Latin America, 1500-1900’, The International Journal of the History of Sport, 9(1)63-82. 1 295 Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul Lafitau, que em sua etnografia dos costumes dos índios americanos realizada no século XVIII já sugeria semelhanças entre os festivais e jogos fúnebres desses índios com os realizados pelos gregos antigos4. 2.2. Os Passatempos e Jogos Coloniais A chegada dos europeus e africanos provocou profundas mudanças na vida das populações indígenas. Os conquistadores portugueses e espanhóis produziram alterações na estrutura econômica e social e impuseram uma forma de religião com normas e valores estranhos aos das comunidades nativas. A vinda de escravos africanos na segunda metade do século XVI adicionou mais elementos a este cenário. Vindos de diferentes partes da África, trouxeram uma variedade de idiomas, costumes e religiões. Entre outras coisas, os africanos e europeus trouxeram várias formas de jogos e divertimentos. O encontro de índios, africanos e europeus ofereceu também a possibilidade de interação em termos de jogos e passatempos. Durante os primeiros dois séculos da colonização, os europeus transferiram seus jogos sem grandes alterações para a América do Sul. As touradas, brigas de galo e jogos de tacos eram as atrações principais. Com a diminuição da influência portuguesa e espanhola alguns destes jogos mudaram de estrutura. As touradas, por exemplo, deram lugar a uma forma de rodeio no Chile. A pelota basca, um tipo de jogo de bola, foi também modificado, assumindo vários nomes e modos de jogar5. Alguns jogos mudaram o significado e outros foram proscritos. Estas modificações aconteceram principalmente nos festivais e jogos indígenas que envolviam aspectos eróticos e combates como, por exemplo, as competições que ocorriam durante as cerimônias religiosas em Acobamba, Peru. Nestes eventos “grupos de homens batiam uns nos outros com tacos e, as mulheres recolhiam o sangue e o enterraravam na terra para promover a fertilidade”6. Finalmente, existem formas de jogos nativos que resistiram à influência européia como, por exemplo, o tinku, um festival tradicional envolvendo lutas de socos praticadas entre os índios bolivianos7. Os elementos africanos também persistiram em especial na capoeira e no maculelê, mistura de luta e Ver I. Weiler (1995) ‘Joseph-François Lafitau (1681-1746) and the beginning of comparative Sport History: some notes on Ethnography and Ancient History’, The International Journal of the History of Sport, 12(3)169-179. 5 Esta parte toma como referência principal o estudo de W. Kramer-Mandeau (1992) ‘Tradition, transformation and taboo: European games and festival in Latin America, 1500-1900’, The International Journal of the History of Sport, 9(1)63-82. 6 ibid., p. 73. 7 J. L. Arbena, (1993) ‘Sport and social change in Latin America’ in A. G. Ingham and J. W. Loy (eds.) Sport in social development: traditions, transitions and transformations. Champaign, IL, Human Kinetics. p. 107 4 296 Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul dança bastante difundida no Brasil. Os elementos cultural e religioso favoreceram a sobrevivência destes jogos. 2.3. O Esporte Moderno na América do Sul 2.3.1. A Emergência e os Primeiros Anos É difícil precisar como e quando as primeiras formas de esporte moderno apareceram nos países sul-americanos. No final do século XVIII, a presença britânica na Argentina, Chile e Uruguai era tão intensa que estes países eram considerados por alguns como parte informal do império8. Existem evidências para apoiar o argumento de que o esporte começou com a chegada britânica e desenvolveu-se sob a sua influência durante as primeiras décadas do século passado. Na Argentina, marinheiros britânicos já jogavam cricket e uma forma de futebol na virada do século XIX. A primeira manifestação de esporte organizado apareceu com a fundação de um clube de cricket por um comerciante de Yorkshire em 1819. O futebol organizado também foi um produto britânico, primeiro em Buenos Aires e, depois, expandiu-se pelo interior por influência dos trabalhadores britânicos das estradas de ferro. Em 1867, o Buenos Aires Football Club, o primeiro time no país, foi formado do britânico Buenos Aires Cricket Club. A primeira liga foi estabelecida em 1891 sob a influência da comunidade britânica que vivia em Buenos Aires e arredores. Os primeiros clubes de futebol eram quase exclusivamente para britânicos. O primeiro presidente da Association Argentina Football League foi o escocês Alexander Watson Hutton e, um dos clubes mais importantes começou a partir da equipe de uma escola secundária inglesa. A fundação de clubes de natação e golfe e a introdução de outros esportes como o rúgbi, pólo, boxe, turfe, remo, squash e tênis de campo também se devem aos britânicos9. No Uruguai e Chile, o aparecimento do esporte não foi diferente da Argentina. Os britânicos foram responsáveis pela introdução do futebol e cricket na primeira metade do século passado. Um clube de cricket foi estabelecido em Montevideo em 1842 e outros clubes se seguiram. No Brasil, o futebol foi apresentado às comunidades locais por Charles Miller, um filho de ingleses nascido no Brasil, em 1894. Entretanto, existem estudos afirmando que marinheiros já praticavam jogos deste tipo no país nas décadas de 1860 e 187010. 8 Sobre a influência Britânica na emergência do esporte na América do Sul, ver H. Perkin (1989) ‘Teaching the nations how to play: sport and society in the British Empire and Commonwealth’, The International Journal of the History of Sport, 6(2) p.148-149. 9 A. Guttmann (1994) Games and empires: modern sports and cultural imperialism. New York, Columbia University Press. p. 57. 10 Ver T. Mason (1995) Passion of the people? Football in South America. London, Verso. p. 9. 297 Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul 2.3.2. Desenvolvimentos no Século XX Na mudança do século, o esporte tinha se tornado um elemento comum na paisagem urbana sul-americana e o seu perfil estava cada vez mais próximo do modelo ocidental. O estabelecimento de organizações esportivas e de legislação específica para o esporte estão entre os fatores que levaram ao florescendo de atividades esportivas no continente. Isto também conduziu a um desempenho significativo dos países sul-americanos no cenário esportivo internacional. Na Argentina, o boxe, o pólo e o futebol estavam bastante desenvolvidos. No boxe, por exemplo, a Argentina dividiu as primeiras posições nos Jogos Olímpicos com os Estados Unidos entre 1924 e 1952, ganhando um total de 20 medalhas (7 ouro, 7 prata e 6 bronze) contra 22 dos norte-americanos. Os pugilistas argentinos obtiveram as primeiras colocações na categoria dos penas de 1924 a 1936 e nos super-pesados de 1924 a 1948 e alcançaram as rodadas finais em várias outras categorias11. A influência norte-americana pode também ser observada nas atividades desenvolvidas pela Associação Cristã de Moços (ACM) em vários países da América do Sul. Esta associação fez bastante para promover o esporte e a educação física no continente. O voleibol e basquetebol tornaram-se populares em grande parte ao seu trabalho e, depois do futebol, são os esportes mais difundidos. No Uruguai, por exemplo, a ACM estabeleceu-se em 1909. A importância desta associação no desenvolvimento de esportes como o basquetebol, pode ser notada pelos bons resultados que o país alcançou em competições internacionais. Entre 1936 e 1964, o Uruguai obteve duas medalhas de bronze nos Jogos Olímpicos e em várias outras ocasiões ficou entre as oito melhores equipes. No Brasil, o esporte e a educação física foram objetos de grande interesse de 1930 a 1945. O governo do Presidente Getúlio Vargas os incluiu em um projeto político e econômico mais abrangente. A educação física e esporte fizeram parte de um programa de educação nacional cuja meta era transmitir a ideologia da eugenia e do nacionalismo. Neste período foram criadas várias organizações para desenvolver e controlar estas atividades esportivas no país. As mais importantes foram a Divisão de Educação Física (1937), a Escola Nacional de Educação Física e Desportos (1939) e Conselho Nacional de Desportos (1941). Além disso, foram aprovadas leis e regulamentos referentes à educação física e esporte para as escolas primárias e secundárias. Na década de 70, a preocupação com os esportes reapareceu nas políticas do governo. O esporte e educação física tornaram-se mais uma vez assuntos de interesse político. Neste período, foram introduzidas leis e destinados 11 Estas informações foram retiradas de D. Wallechinsky (1996) The complete book of the olympics. London, Aurum Press. p. 275-310. 298 Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul recursos orçamentários para apoiar o desenvolvimento do esporte amador, profissional e escolar. No final dos anos 70, teve início um movimento que influenciou setores da educação física e esporte brasileiro. Este movimento estabeleceu uma crítica aos modelos de educação física e esportes vigentes no país a partir dos referencias teóricos e metodológicos das correntes de esquerda. Os seguidores deste movimento viam o esporte como um instrumento para mudanças políticas e sociais e dirigiram atenção às camadas mais carentes e marginalizadas da população. Eram enfatizados os jogos e esportes populares em razão dos fortes elementos culturais que os constituem e que eram chave na visão do movimento. 3. Situação atual e perspectivas Tendo esta breve retrospectiva histórica como pano de fundo, gostaria de mover à parte final da apresentação. Como mencionado anteriormente, pretendo nesta parte ressaltar alguns aspectos da situação atual e das perspectivas do esporte na América do Sul. 3.1. Aspectos Econômicos e Comerciais e Participação de Massa Os países sul-americanos foram integrados na economia global em diferentes ritmos e caminhos. Os estudos indicam que a área do esporte seguiu um padrão semelhante. O exame de documentos fornecidos por diferentes fontes evidencia o grande volume de capital investido em atividades esportivas e de lazer, como também o impacto das mesmas nas sociedades sulamericanas. Segundo dados de revista brasileira, existem 15 mil academias e centros esportivos espalhados pelo país. Em 1996, 200 milhões de reais foram gastos em aparelhos esportivos importadas do E.U.A.. A indústria das academias movimenta anualmente 2 bilhões de reais12. Nas últimas décadas, os rodeios se tornaram a nova moda no Brasil. Calcula-se que 24 milhões de pessoas assistiram os rodeios em 1995 e, estimava-se que 1.200 rodeios teriam sido realizados no país ano passado. Este lucrativo negócio foi calculado para gerar ao redor de 500 milhões de dólares13. A importância crescente do esporte na vida da população sul-americana também pode ser vista na extensa cobertura dada pela mídia a eventos esportivos, ao aparecimento e crescente popularidade do esporte para mulheres, idosos e pessoas com necessidades especiais, como também, pela emergência de novas formas de esporte, em especial, os chamados radicais ou de natureza. 12 13 Ver K. Pastore (1997) ‘Em busca do corpo desejado’, Veja, January 8, p. 71-72. Ver M. Margolis (1996) ‘Bikinis and boots?’, Newsweek, June 17, p. 24. 299 Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul Entretanto, as enormes desigualdades econômicas e sociais têm restringido o acesso a eventos e instalações esportivas apenas às camadas sociais mais altas da população. A maior parte da riqueza dos países concentra-se em certas regiões e num número relativamente pequeno de pessoas. Isto inibe a participação de massa e suscita questões sobre o papel do estado com relação ao esporte. Os governos de alguns países já haviam assumido a responsabilidade pela formulação de políticas nacionais para o esporte várias décadas atrás. Mais recentemente, com a rápida urbanização, as grandes cidades também começaram a estabelecer políticas de esporte e lazer. Estudos recentes realizados na cidade de Porto Alegre, Brasil, evidenciam alguns problemas críticos relacionados a este setor em áreas metropolitanas. A população e os movimentos sociais não colocam o esporte e lazer como tópicos importantes na agenda de reivindicações junto ao poder público. Ao contrário, tendem a dirigir atenção para outros problemas urbanos considerados mais prioritários como educação, transporte e habitação. 3.2. Programas e Currículos Escolares Na maioria dos países sul-americanos a educação física e os esportes são partes integrantes do currículo escolar. Porém, a insuficiência de recursos para a educação primária e secundária é responsável pelo baixo nível dos programas escolares. A maioria das escolas não possui instalações e equipamentos adequados, e em vários países é comum encontrar professores sem qualificação atuando na área. A falta de educação esportiva também é agravada pelo fato de que um grande número de crianças e jovens estudantes têm que abandonar a escola durante os primeiros anos de escolarização. A razão principal para isto é a má situação econômica de suas famílias. No Brasil, por exemplo, mais do que cinqüenta por cento das crianças e jovens abandonam a escola por necessidade de encontrar trabalho para auxiliar na renda familiar. Como conseqüência, a aprendizagem esportiva na América do Sul é mais um produto de processos informais do que da educação escolar. 3.3. Formação Profissional, Programas de Pós-graduação e Pesquisa Em geral, os países sul-americanos possuem programas de formação profissional em educação física e esporte. Alguns deles existem a mais de cinqüenta anos. No Brasil, existem atualmente mais de 130 departamentos de educação física e ciências do esporte. Estes se encontram, na grande maioria, localizados em instituições isoladas de ensino superior, com instalações esportivas precárias, pessoal trabalhando em tempo parcial e nenhum interesse em pesquisa. Muitos destes cursos enfocam apenas os aspectos técnicos da prática do esporte, não provendo uma sólida formação científica e pedagógica. 300 Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul Existem, porém, departamentos de educação física e ciências do esporte com elevados padrões de formação. Estes se encontram em sua grande maioria localizados na região centro-sul do país e fazem parte de universidades públicas. Os programas de pesquisa e pós-graduação eram escassos na região até duas décadas atrás. No caso do Brasil, a qualificação para o ensino superior e a investigação sistemática começaram com a criação dos primeiros programas de pós-graduação em 1977. A pesquisa científica recebeu impulso com a formação do primeiro programa de doutorado em 1989. Na atualidade, existem oito cursos de mestrado e quatro programas de doutorado oferecidos por departamentos de educação física e ciência de esporte. Até alguns anos atrás, a maioria do pessoal recebia o treinamento acadêmico no exterior, especialmente na América Norte e Europa, ou em departamentos de fisiologia, medicina e educação no Brasil. Além disso, existem vários periódicos científicos em circulação nacional publicados por universidades e sociedades científicas. Um dos problemas principais do desenvolvimento científico no país é a falta de apoio financeiro regular. As perspectivas não são promissoras uma vez que o governo tem reduzido o orçamento das universidades. 3.4. Olimpismo e Educação Olímpica Os países sul-americanos envolveram-se com o esporte olímpico em diferentes períodos. O Chile, Uruguai, Brasil e Argentina integraram-se nas primeiras décadas deste século, enquanto outros países iniciaram sua participação entre 1945 e 1960. Apesar do Brasil ter participado em várias edições dos Jogos Olímpicos, o Olimpismo não existe no país enquanto movimento. Em que pesem os esforços de várias pessoas, falharam até o momento as tentativas de criação da Academia Olímpica Brasileira. Na América do Sul, o Brasil é o único país sem uma instituição do gênero. Na comunidade acadêmica, o Olimpismo ainda desperta pouco interesse, não sendo objeto de investigações científicas, publicações e debates. Em alguns cursos de ensino superior, o assunto faz parte da disciplina de História de Educação Física e Esporte. Porém, mesmo nestes cursos, o Olimpismo é apresentado como um tema secundário e, via de regra, estudado numa perspectiva pouco crítica e distanciado de seus desafios atuais. O Olimpismo também não faz parte do currículo das escolas primárias e secundárias. Existem várias razões para justificar tal situação. Por um lado, existem pessoas que não dão atenção ao assunto por considerar o Olimpismo uma utopia do século passado, uma espécie de idealismo ultrapassado. Por outro lado, existem pessoas que o condenam por considerá-lo uma forma de comercialismo e imperialismo cultural. A julgar pela situação atual é possível 301 Notas sobre o desenvolvimento e perspectivas do Esporte na América do Sul afirmar que, pelo menos em curto prazo, o Olimpismo tem poucas chances de ser incluído no currículo escolar. Conclusão Ao apresentar esta visão panorâmica do esporte na América do Sul e destacar alguns de seus elementos atuais, minha intenção foi fornecer uma visão breve daquilo que em meu ponto de vista constitui uma parte importante das indagações da comunidade acadêmica nesta área. Entretanto, como sugeri no início da exposição, existem várias dificuldades que necessitam ser ultrapassadas para que se possa estabelecer um perfil mais preciso do esporte na região. Assim diria, para concluir, que estou de acordo com aqueles que afirmam que as questões mais fundamentais acerca do desenvolvimento e estado atual do esporte na América do Sul ainda estão por serem respondidas. * Este ensaio foi apresentado na reunião anual da Academia Olímpica Britânica. O encontro ocorreu de 21 a 23 de março de 1997, na Universidade de Loughborough, no Reino Unido. A versão original em inglês encontra-se publicada nos anais do evento. Referências Bibiográficas ARBENA, J. L. (1988) Sport and society in Latin America: diffusion, dependency, and the rise of mass culture. New York, Greenwood Press. ARBENA, J. L. (1990) The diffusion of modern European sport in Latin America: a case study of cultural imperialism?, South Eastern Latin Americanist, 35(4)1-8. ARBENA, J. L. (1993) International aspects of sport in Latin America: perceptions, prospects, and proposals in Dunning, E. G., Maguire, J. A. and Pearton, R. E. (eds.) 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(1995) Joseph-François Lafitau (1681-1746) and the beginning of comparative Sport History: some notes on Ethnography and Ancient History, The International Journal of the History of Sport, 12(3)169-179. 304 PROGRAMA ___________________________________________________ PROGRAMA DO FÓRUM OLÍMPICO 2000 Dia 2/6/2000 – Sexta-feira 09h00 – 12h00 Recepção dos Participantes e Entrega do Material 10h00 – 12h30 Sessões de Comunicação Oral Sala 51 – AMRIGS • Estudo longitudinal e transversal do crescimento e desenvolvimento nutricional das crianças da rede municipal de Santa Cruz do Sul Gilmar Fernando Weis (Universidade de Santa Cuz do Sul) Ursula Müller (Universidade de Santa Cuz do Sul) • Validação de instrumentos de medida na modalidade de basquetebol Christiano Guedes (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) • Perfil de variáveis de prestação desportiva em atletas juvenis da modalidade de futsal Adroaldo Gaya (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Osvaldo Donizete Siqueira (Universidade Luterana do Brasil) Marcelo Cardoso (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Lisiane Torres (Universidade de Santa Cuz do Sul) • Estrutura da performance desportiva: Um estudo referenciado ao futsal na categoria juvenil Adroaldo Gaya (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Osvaldo Donizete Siqueira (Universidade Luterana do Brasil) Marcelo Cardoso (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Lisiane Torres (Universidade de Santa Cuz do Sul) • Hábitos de vida: Um estudo exploratório sobre a influência do nível sócio-econômico e do gênero sexual no cotidiano de Jovens Atletas Lisiane Torres (Universidade de Santa Cuz do Sul) Adroaldo Gaya (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) • Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em atletas de voleibol do sexo masculino Gustavo M. Gonçalves (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Daniel Carlos Garlipp (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Marcelo Cardoso (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Adroaldo Gaya (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) • Metodologia alternativa no ensino de judô para iniciantes Clarissa B. de Carvalho (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) 306 Sala 53 – AMRIGS • A redução dos níveis de ansiedade como meio de desenvolvimento harmonioso dos atletas: um princípio do Olimpismo Maurício G. Bara Filho (Universidade Gama Filho) Luiz Scipião Ribeiro (Universidade Gama Filho) Renato Miranda (Universidade Gama Filho) Lamartine DaCosta (Universidade Gama Filho) • Coesão grupal, ansiedade pré-competitiva e o resultado dos jogos em equipes de futsal José Augusto E. Hernandez (Universidade Luterana do Brasil) Rogério da Cunha Voser (Universidade Luterana do Brasil) Roberto Mário Scalon (Universidade Luterana do Brasil) Mariele de Moraes Gomes (Universidade Luterana do Brasil) • Comparação dos fatores determinantes da aderência ao exercício entre adultos brasileiros e americanos Adriana Barni Truccolo (Universidade Luterana do Brasil) Eduardo H. De Rose (Associação Médica do Rio Grande do Sul) • Comportamento agressivo em escolares do ensino fundamental de Santa Cruz do Sul: uma abordagem através da teoria dos sistemas ecológicos Sandra Mara Mayer (Universidade de Santa Cuz do Sul) • Fatores motivacionais que influem na aderência dos programas de iniciação desportiva pela criança Roberto Mário Scalon (Universidade Luterana do Brasil). • Fatores motivacionais que influem no abandono dos programas de iniciação desportiva pela criança Roberto Mário Scalon (Universidade Luterana do Brasil) • Rendimento: uma categoria do desporto como elemento positivo para os cegos, surdos, cadeirantes e deficientes mentais Cláudio Mandarino (Universidade Luterana do Brasil) Francisco C. Netto (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Teatro – AMRIGS • A Academia Olímpica Internacional e a Sessão para jovens participantes: um relato de experiência Arianne Carvalhedo (Universidade Gama Filho) Nelson S. Todt (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) 307 • A importância do judô nos cursos de Educação Física Cíntia Brasil Cardoso (Universidade do Vale dos Sinos) Alexandre Velí Nunes (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) • Estudo de caso na recuperação pós-cirúrgica de atleta de judô visando seletiva das olimpíadas de Sydney 2000 Luciano Ferroni (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Alexandre Velí Nunes (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) • A participação do pólo-aquático brasileiro nos Jogos Olímpicos e sua ausência em competições importantes Sílvio de Cassio Costa Telles (Universidade Gama Filho) Antônio Jorge Soares (Universidade Gama Filho) • Comportamento em situações de competição de alunos do 2° Grau instruídos quanto aos códigos do espírito esportivo (Fair Play) Marcio Turini Constantino (Universidade Gama Filho) • Projeto “Educação Olímpica na Escola”: o uso da Internet para difundir a Educação Olímpica no Brasil Cristiano Mega Belém (Universidade Gama Filho) • Revisitando os Jogos Olímpicos e o Olimpismo: um texto endereçado aos alunos das graduações Fernando Portela (Universidade Gama Filho) Otávio Tavares (Universidade Federal do Espírito Santo) 12h30 Intervalo Almoço 14h00 – 15h00 Mesa Redonda – Teatro – AMRIGS Academia Olímpica Brasileira: Desafios e Perspectivas para o Próximo Milênio Lamartine DaCosta (Presidente da Academia Olímpica Brasileira) Alberto Reinaldo Reppold Filho (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Gergios Hatzidakis (Universidade Bandeirante de São Paulo) Otávio Tavares (Universidade Federal do Espírito Santo) 15h00 – 16h00 Abertura Oficial da Exposição Olímpica – Área de Exposição AMRIGS 16h15 – 18h15 Fóruns Esportivos Específicos Atletismo – Sala 51 - AMRIGS Paulo Sérgio S. dos Santos (Presidente da Federação Atlética Riograndense) Ivon Rocha Júnior (Universidade Federal de Santa Maria) Luís Fernando Moraes (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) José Aroldo Loureiro Gomes (Gerente de Esportes da SOGIPA) 308 Ginástica – Sala 53 - AMRIGS Sigfried Fischer (Vice-Presidente da Federação Internacional de Ginástica) Badminton – Ginásio - ESEF Vera Lúcia Mastrascusa (Presidente da Federação Gaúcha de Badminton) Raquel Federcini (Presidente da Federação Mineira de Badminton) Alexandre Martins (Diretor Técnico da Federação Gaúcha de Badminton) 18h15 – 19h00 Sessão de Posters – Área de Exposição – AMRIGS • A Carta do Fair Play: identificando seus valores universais Fernando Portela (Universidade Gama Filho) • Análise das intervenções pedagógicas em programas de iniciação ao Futsal Rogério da Cunha Voser (Universidade Luterana do Brasil) • Correlação de parâmetros cinemáticos angulares com velocidade linear durante corrida em esteira Leonardo P. Tartaruga (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Marcus P. Tartaruga (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Ana Carolina Larronda (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Leonardo Rossato Ribas (Sociedade Ginástica Porto Alegre) Jefferson F. Loss (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Luiz Fernando Kruel (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) • Estudo das valências físicas relevantes para o basquetebol: uma proposta de programa de avaliação para atletas da categoria Juvenil Masculino Claiton Henrique Lenz (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) • Estudo das variáveis antropométricas e motoras que determinam a performance em atletas de voleibol do sexo masculino Gustavo M. Gonçalves (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Daniel Carlos Garlipp (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Marcelo F. S. Cardoso (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Adroaldo C. A. Gaya (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) • Etapas de uma abordagem pedagógica no Basquete adaptado Lia Teresinha Hoffmann (Associação dos Amigos do CETE) Cristiana Soarez Braiyer (Associação dos Amigos do CETE) Crissia A. Hoffmann de Castro (Associação dos Amigos do CETE) • Jogos Olímpicos do Século XXI: o esporte espetáculo e o Olimpismo: a busca do equilíbrio Walter Gomes Osório 309 • Niké: a apropriação de um mito Carlos Fabre Miranda (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Mário G. Brauner (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) • Esporte no Terceiro Milênio Luciana Marins Nogueira Peil (Universidade Federal de Pelotas) • Estresse e a prática desportiva na sociedade contemporânea: reflexões a partir da análise de uma equipe de Futebol Infantil Patrícia Weiduschadt (Universidade Federal de Pelotas) Valdelaine da Rosa Mendes (Universidade Federal de Pelotas) 19h00 Sessão de Abertura do Congresso – Teatro - AMRIGS 19h30 Palestra de Abertura – Teatro - AMRIGS Sydney 2000: O Projeto Olímpico Brasileiro Carlos Arthur Nuzman (Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro) Dia 3/6/2000 – Sábado 08h30 – 10h30 Fóruns Esportivos Específicos Judô – Teatro - AMRIGS Luís Alcides Ramires Maduro (Universidade Luterana do Brasil) Eduardo Merino (Universidade Luterana do Brasil) Emerson Franchini (Universidade de São Paulo) Alexandre Nunes (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Esgrima – Sala 22 - AMRIGS Arthur Cramer Ribeiro (Presidente da Confederação Brasileira de Esgrima) Paraolímpicos – Sala 23 - AMRIGS João Batista Carvalho Silva (Presidente Comitê Paraolímpico Brasileiro) Alberto Martins Costa (Coordenador da Equipe Paraolímpica Brasileira) Nilma Garcia Pettengill (INDESP) Ruth Cidade (Presidente do SOBAMA) Florismar Oliveira Thomaz (Dir. Departamento de Desportos da SE/RS) Canoagem – Sala 53 - AMRIGS Dércio Furlanetto Ramos (Presidente da FECERGS) Márcio Tomazoni (Treinador da Seleção Gaúcha Júnior de Slalom) Álvaro Acco Koslowski (Téc. Seleção Brasileira B Canoagem Velocidade) Maurício Cramer (Pres. Dep. Médico da Conf. Brasileira de Canoagem) 310 Natação – LAPEX - ESEF Antônio Carlos Mariante (Presidente da Fed. Gaúcha de Desp. Aquáticos) Coaracy Nunes Filho (Presidente da Confed. Brasileira de Desp. Aquáticos) Luis Fernado Kruel (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Ciclismo – Sala do Pós-Graduação - ESEF Marco Giovanar (Federação Gaúcha de Ciclismo) Marcelo Ribeiro (Federação Gaúcha de Ciclismo) 10h30 Coffee Break 10h45 – 12h15 Palestra – Teatro – AMRIGS A Participação do INDESP no Desenvolvimento do Esporte Olímpico Brasileiro Antônio Carlos Garcia de Viveiros (Presidente do INDESP) 12h15 Intervalo Almoço 14h00 – 16h00 Fóruns Esportivos Específicos Basquete – Teatro - AMRIGS Antônio Carlos Barbosa (Técnico da Seleção Brasileira Adulta Feminino) Roberto Mesquita (FIBA – Solidariedade Olímpica – Técnico de Basquete) Tênis – Sala 22 - AMRIGS Juarez Muller Dias (Universidade Federal de Santa Catarina) Jorge Lacerda da Rosa (Federação Catarinense de Tênis) Carlos Alves (Federação Catarinense de Tênis) Triathlon – Sala 23 – AMRIGS Luiz Goebel (Presidente da Federação Gaúcha de Triathlon) Ricardo Assenato Wilson Roberto Ribas de Matos (Treinador de Triathlon) Roberto Melo de Lemos (Triatleta) Remo – Sala 53 - AMRIGS José Ricardo Contieri (Técnico G.N.União e Seleção Brasileira de Remo) Handebol – Sala 109 - ESEF Sílvio Rodrigues (Técnico da Seleção Brasileira Cadete Feminino) Eduardo Fonseca (Técnico da Seleção Brasileira Juvenil Masculina) 16h00 Lançamento de Livros – Área de Exposição - AMRIGS 311 16h30 – 18h30 Painel – Teatro – AMRIGS Jogos Olímpicos: Visões da História Margaret Costa (California State University, Estados Unidos) Ingomar Weiler (Universidade de Graz, Áustria) Otávio Tavares (Universidade Federal do Espírito Santo) 18h45 – 20h15 Painel – Teatro – AMRIGS Controle de Doping no Esporte Francisco Radler (LADETEC – Universidade Federal do Rio de Janeiro) Dia 4/6/2000 – Domingo 08h30 – 10h00 Painel – Teatro – AMRIGS Passado, Presente e Futuro: Conversando com Atletas Olímpicos Brasileiros Luis Onmura (Medalha de Bronze – Judô, 1984) 10:00 Coffee Break 10h15 – 12h15 Mesa Redonda – Teatro – AMRIGS Identificação de Talentos Esportivos e Formação de Jovens Atletas Adroaldo Gaya (CENESP - Universidade Federal do Rio Grande do Sul) João Paulo Medina (Sport Club Internacional) Emerson Franchini (Universidade de São Paulo) 12h15 Intervalo Almoço 14h00 – 16h00 Palestra – Teatro – AMRIGS Ética e Movimento Olímpico Jorge Olímpio Bento (Universidade do Porto, Portugal) Lamartine DaCosta (Presidente da Academia Olímpica Brasileira) 16h00 Sessão de Encerramento – Teatro – AMRIGS 312