E STA D O D E M I N A S
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T E R Ç A - F E I R A ,
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A G O S T O
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ECONOMIA
BRASIL
S/A
ANTÔNIO MACHADO
>>E-mail para esta coluna: [email protected]
Arte da paciência
Muito embora as percepções sobre a economia
continuem distantes da onda de pessimismo que voltou a contagiar a Europa e os EUA, como se constata
pela distensão das projeções do mercado financeiro
que o Banco Central compila semanalmente, o mundo
político em Brasília ferve como se o governo de Dilma
Rousseff estivesse tão emparedado quanto estão o
presidente Barack Obama e os seus colegas europeus.
Dilma é contestada pelo que fez de melhor desde
que assumiu, ao trombar com os esquemas criminosos operados em ministérios cedidos a partidos da base aliada e mandar removê-los – e pela disciplina imposta às liberações de verbas para as emendas de parlamentares. Tais ações são condenáveis se contemplarem só o efeito midiático.
Se ela age com truculência ao atribuir limites para
o acesso dos aliados aos dinheiros públicos, essa é outra questão, e certamente a menos relevante. Também
não vem ao caso se ela compactuava com esses esquemas quando cuidava do ministério no governo Lula –
que tolerou o loteamento de pedaços do Estado, depois do escândalo do mensalão, para se proteger de
chantagens políticas e governar.
A história está cheia de exemplos de herdeiros que
se insurgiram contra malfeitorias exatamente por conhecê-las. Muito pior seria manter a impostura, que
tem a idade da República mas parece ter se tornado endêmica com a perversão do senso da governabilidade.
Ela obrigaria ao eleito cercar-se de maioria parlamentar, mesmo negando seus princípios, já que aos
aliados de conveniência e não de fé importam os resultados mercantis para benefício do partido, quando não, do patrimônio
próprio e dos operadores do esquema.
É um custo alto demais imposto à sociedade para retorno tão baixo – essencialmente, a
tranquilidade do governante, não a votação de
projetos que contrariem
Contra a ira dos os lobbies, sobretudo entre os pendurados no
aliados, Dilma caixa do Estado. Até se
a razão de
não pode recuar entenderia
megacoalizões, se o governante temesse seu
nem acuar o
passado e as decisões
PMDB ou se
que viesse a tomar.
Com carreira moldaprecipitar na
da ao largo de delinquências partidárias, Dileconomia
ma não se enquadra nesse figurino, embora entre seus desafetos haja a queixa de que ela não tem agido como magistrada ao tratar questões envolvendo o
seu PT e outros partidos da base. Há jeito para isso.
Melhor que amaldiçoar faxinas feitas à revelia no
próprio quintal é cobrar mais equivalência no trato e,
no limite, denunciar o lixo dos vizinhos. A presidente
se encontra diante desse desafio.
❚ CONSUMO
Quem recorre à Farmácia Popular precisa completar receita
e clientes de planos ficam com remédio público de alto custo
Medicamento que
dá dor de cabeça
FREDERICO BOTTREL
Efeitos colaterais marcam a
expansão do mercado farmacêutico no Brasil. As cifras, que já movimentaram mais de R$ 37,7 bilhões no país, são engordadas por
distorções do programa Farmácia
Popular, do Ministério da Saúde,
que, na rede de drogarias privadas,
nem sempre entrega para o cliente a posologia completa receitada
pelo médico: com isso, as cifras
tambémaumentam,umavezque
o paciente compra parte do remédio subsidiado pelo governo e acaba bancando o restante integralmente. Estudo da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG)
também mostra que cerca de 40%
dos gastos públicos com medicamentos de alto custo em Minas
Gerais beneficiam pessoas que
têm plano privado de saúde.
Segundo o farmacêutico Rilke
Novato Públio, que traçou o mapa
da distribuição dos medicamentos considerados “excepcionais” a
partir de informações das 28 gerências regionais de saúde do estado, vale a pena rever a legislação
específica dos planos de saúde,
também nesse quesito. “Nada os
obriga a fornecer os medicamentos aos pacientes que já deixaram
o hospital. Acontece que não é
uma boa economia, já que, sem
esses medicamentos, os quadros
das pessoas podem se agravar e os
pacientes representarem ainda
mais despesas para os planos, no
futuro”, defende Públio.
O Sistema Único de Saúde
fornece cerca de 100 medicamentos considerados componentes especializados da assistência farmacêutica, em geral de
alto custo, com tratamentos
mensais entre R$ 350 e R$ 2,5 mil,
solicitados pelos usuários e distribuídos pelos estados. São geralmente medicamentos de uso
contínuo, para controle de hepatite C, colesterol alto, osteoporose, entre outros. “O estudo comprovou também que os medicamentos mais caros são justamente os desses pacientes.” A
pesquisa trabalhou com universo de 6.736 pacientes do SUS, cujos dados pudessem ser cruzados
com os dos planos de saúde. Do
total de R$ 2,1 milhões gastos
com medicamentos, no período
entre janeiro e junho de 2008, R$
783 mil foram investidos em medicamentos de pacientes de planos privados.
Outra situação controversa
que polemiza o mercado de fármacos no Brasil vem diretamente do Programa Farmácia Popular, do governo federal. É o caso
do casal Gerson e Maria Genuína
de Paula, de 54 e 53 anos, respectivamente. Moradores do Bairro
Saudade, na Região Leste de BH,
enfrentam o dilema mensalmente, diante do balcão da farmácia.
“O médico receita um remédio
com 100 miligramas por dia. Como o Farmácia Popular só fornece o de 50 miligramas, a quantidade subsidiada só dá para 15
dias, porque eu preciso tomar,
então, dois comprimidos de uma
vez. E eu vou fazer o que com o
resto do mês? Sou forçado a comprar o que falta, para completar”,
diz o motorista. “E se eu não tivesse dinheiro para comprar? Ficaria sem o medicamento?”,
questiona a telefonista.
MINISTÉRIO Segundo o Ministé-
rio da Saúde, a orientação para as
farmácias privadas é que preencham a posologia receitada, mesmo que, para isso, seja necessário
aumentar a quantidade de caixas dos medicamentos fornecidas, com subsídio, para o paciente. O ministério reconhece, contudo, que a decisão, muitas vezes, fica à mercê da administração da farmácia, sujeita a estoques e outras variáveis.
O quantitativo do medicamento solicitado deve corresponder à posologia mensal compatível com os consensos de tratamento da doença para o qual é indicado, segundo o governo, para
evitar automedicação e fraudes.
Nos casos das prescrições que ultrapassam a quantidade mensal
estabelecida, o interessado deve
enviar ao Departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde a receita contendo
seus dados (nome, endereço e
CPF) juntamente com relatório
feito pelo médico, classificando a
patologia com o seu CID, justificando dessa forma a prescrição.
FOTOS: CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS
Faxina em campo minado
O que começou num ministério entregue ao PR,
sem grande peso na base aliada, foi bater em dois do
parceiro abre-alas no Congresso – o PMDB, donatário
das pastas do Turismo, que caiu nas malhas da Polícia
Federal, e da Agricultura, atingida por denúncias anônimas e de um peemedebista que virou desafeto do
ministro Wagner Rossi.
O que o governo fizer daqui para frente estará condicionado pela atitude de Dilma diante do aliado mais
poderoso do PT. A turma do deixa-disso diz que o expresidente a aconselhou a ir devagar com o PMDB, especialmente com o vice-presidente Michel Temer, a
quem o ministro da Agricultura é ligado há anos. Ela
terá de ser hábil.
Campanha de descrédito
Gerson e Maria Genuína sofrem com restrição do programa do governo federal e precisam pagar para inteirar a dose determinada pelo médico
Classe C vai à farmácia
A ordem entre os aliados, por ora, é contemporizar
com Dilma, já que a sua cruzada pela ética, como seus
propagandistas disseram no início, ou pela eficiência
do governo, a versão mais branda agora apresentada,
bateu no muro peemedebista. Ela não tem base política própria para recrudescer, já que a unidade do PT se
orienta mais pelo pragmatismo das alianças de Lula
que pela vontade do governo.
Mas Dilma também não se pode deixar envolver
por uma campanha de descrédito, movida por relatos
de sua impaciência com subordinados e de broncas
em ministros e quem mais a contrarie. Um empreiteiro, dias atrás, teria recebido uma carraspana, segundo
testemunhas, ao questionar os dados de um projeto.
Isso cria ressentimentos.
Antes
pegávamos
(o remédio) no
posto médico,
mas agora não
compensa
Três riscos potenciais
■ Dirceu Gomes de Alckmin,
bombeiro hidráulico
Dilma precisa atentar para três riscos potenciais. O
primeiro é o de desorganização da economia, parte por
rebarba da crise externa, parte se der ouvido a conselhos de economistas próximos ao governo para que
pressione o BC a desinflar a Selic. Isso virá, mas não em
meio a incertezas. Também não pode solapar os acertos de Lula para as eleições de 2012 e 2014. Nem esperar que ele a ampare em tudo.
A força intimidadora de Lula sobre os partidos da
base aliada e a oposição está nos palanques. É cedo para exercitá-la, sob o risco de sugerir a capitulação da
presidente. Ela não pode recuar do que começou nem
estressar sua relação com o PMDB. Mas terá de ampliar
a interlocução com a sociedade e armar um ministério que respeite.
❚ PIB DA AMÉRICA LATINA
» EVOLUÇÃO DO PIB
» CRESCIMENTO DO MERCADO
4%
13,3%
(EM TRILHÕES DE DÓLARES)
entre 2006 e 2010
FARMACÊUTICO NA AL
entre 2006 e 2010
A estimativa é que o mercado latino-americano
dobre de valor nos próximos cinco anos
Com caixas e cartelas de remédios na mão, o bombeiro hidráulico Dirceu Gomes de Alckmin não
tem dúvidas. “Antes pegávamos
no posto médico, mas agora não
compensa. É melhor gastar o dinheiro e garantir que vamos resolver direito os problemas de saúde
que possam aparecer”, diz o pai de
dois adolescentes, que mora com
a família no Bairro Jardim Comerciário, de Venda Nova, em Belo
Horizonte. Dirceu representa a
tendência que aquece as expectativas do setor farmacêutico, a partir do aumento da classe C no país.
“Este ano esperávamos crescer
inicialmente10%,ejárevimosessa
meta para 15%. Medicamento vira
prioridade assim que o poder de
compraaumenta”,acreditaEdison
Tamáscia,presidentedaFederação
BrasileiradasRedesAssociativasde
Farmácias (Febrafar). A classe C representa, de acordo com a federação, aproximadamente 42% do
consumo de medicamentos.
E as estimativas do setor seguem de vento em popa. Nem o
cenárioincertodaeconomiainternacional parece ser balde de água
fria. “Neste primeiro momento
nãoteremosdesaceleraçãodaeconomia. Pode haver perda e desvalorização das empresas que têm
capital na bolsa, mas o desaqueci-
mentonãoéimediato.Nãoacredito que o varejo será afetado”, comenta o presidente da Febrafar. O
crescimento,emcomparaçãocom
2009, é de 18%. “Há quatro anos
crescemos o dobro do PIB e a tendência é que, em 2015, as pessoas
gastem 20% mais com medicamentos que hoje”, diz Tamáscia.
Enquanto o mercado de medicamentos de referência protegidos diminuiu cinco pontos percentuais nos últimos cinco anos, o
de genéricos cresceu dois pontos.
Ao mesmo tempo, estima-se que
a classe C represente 42% do consumo de medicamentos. “É um
mercado que ainda tem muito a
crescer, se compararmos com outros países, como os Estados Unidos, mas o aumento do consumo
já chama a atenção. Em cinco
anos, o mercado no geral cresce
18%; o de genéricos vai a 38%”,
destaca Waldir Eschberger Júnior,
da EMS, a maior empresa de capital exclusivamente brasileiro no
segmento de genéricos. Em Minas, as vendas da EMS cresceram
60% no último ano; no Brasil, a
média é de 30%. Trabalho focado
na classe C é a estratégia da Medley, a líder no setor, no Brasil, para
expandir os negócios, de acordo
com Messias Cavalcante, gerente
de marketing da fabricante.
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Classe C vai à farmácia