ENTREVISTA: G LADYS MALUF CHAMMA “Lidamos com uma gama de sentimentos, o que aquece a causa” Por Beatriz Nantes, Bruna Lucena e Jhennifer Moisés Gladys Maluf Chamma começou como um estudante de Direito padrão: escolheu a profissão pensando em fazer justiça, começou a estagiar na época da faculdade – cursada na PUC de São Paulo em grandes escritórios e a partir de então escolheu sua especialização. Afirmando que o Direito da Família melhora o indivíduo como pessoa, por tratar de temas extremamente delicados, Gladys revela passagens de sua trajetória profissional até ter seu próprio escritório, o Chamma Advogados Associados. A advogada, há cerca de trinta anos no mercado, comenta ainda temas atuais do debate que envolve o Direito – como a atuação de Gilmar Mendes e as recentes decisões do Judiciário do país. 1- Doutora Gladys, primeiramente obrigada pela entrevista. Por que a senhora escolheu o Direito como profissão? O direito cativa a todos nós desde a infância que assistimos vários tipos de filmes ou lemos diversos romances nos quais invariavelmente torcíamos para que o “mocinho” ganhasse a batalha e Justiça fosse feita. E é exatamente isso que me encanta, a busca da verdade para que se faça justiça. 2- Qual sua formação acadêmica? “aquece” a causa; ao contrário dos ramos de direito exclusivamente patrimoniais, a diversidade de matérias do Direito de Família nos ensina, precipuamente, a lidar com o ser humano em momentos de extrema fragilidade, o que nos aprimora também a nível pessoal. 6- Passando para sua atuação profissional propriamente dita, a senhora poderia nos contar um caso que a marcou muito? Por que? Todos os casos são marcantes, porque envolvem pessoas, sentimentos fortes, amores, desamores, menores, enfim... Sou formada em Direito pela formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 1982. 3- Na época em que estava cursando a faculdade, a senhora já trabalhava na área? Como foi seu caminho até colocação profissional? Sim. O caminho foi aquele usual, de todo operador de direito: primeiro estagiando em grandes escritórios e, aos poucos, se firmando na área até ter meu próprio escritório. 4 - Há quantos anos a senhora atua no mercado? Desde a época da faculdade; há mais de 30 anos, incluindo período de estágio. 7- Quais são as maiores dificuldades de lidar nessa área? A senhora consegue separar o lado pessoal e o profissional ou acaba se envolvendo com os casos analisados? As maiores dificuldades são também os maiores incentivos. Aqui lidamos, como eu disse, com o ser humano em momento de extrema fragilidade, passando por perdas amorosas, patrimoniais, parentais. É difícil, assim, lidar com a morosidade do nosso sistema judiciário, porque as causas de Família são sempre urgentes, os direitos em jogo atingem diretamente o indivíduo, seus filhos, sua família, a desestruturação de sua vida. 5- Por que escolheu a área de Direito da Família como especialização? Sempre seguiu este caminho ou já atuou em outras áreas? 8- Com relação a casos recentes do Direito, o que pensa a respeito da recente atuação de Gilmar Mendes à frente do STF (Supremo Tribunal Federal)? Não, já atuei em outras áreas, principalmente em época de estágio, o que é comum na carreira. Escolhi Direito de Família, basicamente, porque lidamos com uma gama de sentimentos, o que Penso que nós, operadores do Direito, vivemos uma fase de modernidade do Direito que é reflexo do comando dos nossos Tribunais Superiores, como o STF. Do Ministro Gilmar Mendes pouco há a acrescentar, porque sua brilhante conduta por todos os lugares onde passou nos enriqueceu e nos enriquece sempre. 9- Como a senhora vê o crescente peso do Poder Judiciário na discussão e decisão de temas complexos como células tronco e casos políticos? Acredita que isso se deve a um Legislativo relativamente mais fraco, como apontam alguns analistas? Acredito que as grandes crises vividas pelo Poder Judiciário sempre estiveram atreladas às crises do Legislativo. A morosidade, as excessivas discussões em torno de projetos de lei que poderiam e podem agilizar o Judiciário, acabam refletindo, sem sombra de dúvida. E, por esta razão, em conseqüência de um Legislativo menos ativo, fortalecem-se as jurisprudências, os costumes, as alternativas para que a atividade jurisdicional seja prestada a contento. O legislativo fraco torna, de certa forma, o Juiz mais forte, mais combativo. 10- Com relação ao caso Sean, um dos acontecimentos recentes mais emblemáticos do Direito da Família, como a senhora vê as dificuldades posteriores da avó do menino de conseguir vê-lo? Gostou da decisão final tomada? A decisão foi tomada com amparo na Convenção de Haia, da qual o Brasil é país signatário. Outro caminho não havia, mesmo porque a Convenção de Haia existe para proteger a criança e acelerar o processo. Jersey, o descumprimento da Convenção que serviu de base legal à entrega do menor ao Pai, uma vez que ali se prevê como bem maior, o bem estar da criança que não está sendo respeitado. 11- O que a senhora pensa sobre a adoção de crianças por parte de casais homossexuais? A adoção por casais homossexuais é uma realidade jurídica cada vez mais às nossas portas. Penso que em havendo o reconhecimento –e hoje há – de que as relações afetivas entre pessoas do mesmo sexo são “entidades familiares”, com suas glórias e inglórias, o caminho mais natural é permitir a inserção, nesta entidade familiar, do menor que necessita do amparo e afeto de um lar. O que importa, para o instituto de adoção, é que a base familiar seja saudável e propicie ao adotando os meios dos quais necessite para se tornar um indivíduo íntegro sob todos os aspectos. Estes meios, alimentação, educação, saúde, lazer, se puderem ser oferecidos por uma entidade homoafetiva, têm que ser levados em consideração. 12- Por fim, como a senhora enxerga o modo como a legislação vem se adequando e modernizando às novas demandas da sociedade contemporânea. Acho que estamos ainda em evidente descompasso legislação-realidade jurídica, o que permite caminhos alternativos para a solução de problemas. Isso nem sempre é bom, porque cria instabilidade e insegurança jurídicas. A Convenção da Haia de 1980 é vigente em 78 países, incluindo o Brasil, e um dos pontos mais importantes é o respeito aos direitos das crianças. O Tratado já contribuiu para a resolução de milhares de casos de subtração ou retenção indevida de crianças, segundo o site do STF. A questão da guarda pode ser morosa e definida no país de origem, no âmbito estadual, mas a volta ou não da criança é assunto para a Justiça Federal do país onde a criança está. Este, no entanto, não pode discutir a guarda do menor. Quanto às visitas familiares, penso que há também, por parte do Tribunal de New Acredito que temas cruciais são postergados ou precariamente tratados e outros, de somenos importância “incham” o ordenamento jurídico. Vejam o exemplo das células-tronco. A Lei nº 11.105, de 24.03.2005, também conhecida como “Lei da Biossegurança” tentou regulamentar a utilização de células-tronco embrionárias para fins de pesquisa e terapia. Não obstante, pela mistura de temas tratados na referida Lei, o tema, de imensa importância, foi tratado an passant abrindo brechas que irão, ao depois, bater às portas do Judiciário.