XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
A UTILIZAÇÃO DA FERRAMENTA
ÁRVORE DA REALIDADE ATUAL (ARA)
PARA A IDENTIFICAÇÃO DOS
PROBLEMAS PRESENTES NO
PROCESSO DE CAPTAÇÃO DE ÓRGÃOS
E TECIDOS PARA TRANSPLANTE
Amanda Costa da Silva (CEFET )
[email protected]
Vanessa Winter Bayao (CEFET )
[email protected]
Rafael Paim Cunha Santos (CEFET )
[email protected]
O artigo objetivou evidenciar a aplicabilidade de uma ferramenta da
Engenharia de Produção em um sistema de produção complexo como o
do processo de doação de órgãos e tecidos para fins de transplante. A
implementação da Árvore da Realidade Atual (ARA) possibilitou a
identificação dos problemas-raízes do processo de doação e a
proposição de soluções que contribuam para a melhoria do
desempenho do Estado do Rio de Janeiro. A metodologia utilizada
consistiu em pesquisa bibliográfica, entrevistas com coordenadores
estaduais e nacionais de transplantes e com outros profissionais
envolvidos no processo, além de visitas a hospitais e centrais de
transplante. A partir da implementação da ARA, foi possível identificar
os problemas-raízes do processo e evidenciar as boas práticas
adotadas nas localidades que apresentam desempenho desejável no
setor. Concluiu-se que a Engenharia de Produção auxilia a gestão de
sistemas de saúde e que a melhoria no sistema de doação e transplante
ocorrerá a partir da implementação de um modelo de gestão, onde os
pontos positivos dos modelos de excelência serão aplicados a
realidade do estado.
Palavras-chaves: Árvore da Realidade Atual, Desempenho, Doação de
Órgãos, Transplante
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1. A relevância da aplicação da engenharia de produção para identificação de problemas
do processo de doação de órgãos e tecidos para fins de transplantes
O transplante de órgãos e tecidos é considerado o tratamento mais eficaz para as pessoas que
sofrem de deficiências, doenças graves e anomalias que afetam a saúde de forma a
impossibilitarem um modo de vida adequado. Com a propagação desta terapia, a demanda por
órgãos não acompanha a oferta, e a fila de transplantes cresce em ritmo acelerado (RECH &
RODRIGUES, 2007; ASSIS, 2009).
A escassez de órgãos para transplante reflete diretamente no tempo em que um paciente
aguarda na fila de espera. Os resultados obtidos em Marinho (2006) indicam tempos de espera
que, mesmo em um modelo otimista, quase sempre ultrapassam um ano e nos casos de espera
por fígado, chegam a nove anos e quase onze anos para rim. Esses dados se tornam ainda mais
relevantes ao observar o grande número de potenciais doadores que não são aproveitados para
doação de órgãos em função das perdas existentes no processo de doação.
No Brasil, apenas um quinto dos potenciais doadores que chegam às Unidades de Terapia
Intensiva tornam-se efetivos. Estima-se que até 100 pacientes por ano em cada milhão de
habitantes desenvolvam morte encefálica como consequência de acidentes ou de hemorragia
intracerebral, condição em que a doação pode ser efetivada (CAMPOS 2000).
O Brasil, em 2012, apresentou uma taxa de 12,6 doadores por milhão de população (pmp),
maior média atingida pelo país ao longo dos anos (RBT, 2012). No entanto, essa taxa não
reflete a real situação de seus estados. Enquanto Santa Catarina apresentou índice de
referência de 25,6 doadores pmp, o Rio de Janeiro apresentou apenas 13,8 doadores pmp em
2012 (RBT, 2012).
Vale ressaltar ainda que, segundo dados do Registro Internacional de Doação e Transplantes
de Órgãos (IRODAT), há países como a Espanha que possuem desempenho três vezes
superior ao do Brasil.
A temática abordada neste artigo é de significativo interesse da sociedade, uma vez que todos
são potenciais ofertantes ou demandantes de órgãos. A doação de órgãos para fins de
transplantes tem relevância não só para salvar ou melhorar a qualidade de vida daqueles que
estão à espera de um órgão, mas tem um efeito simbólico na sociedade e nos sistemas de
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produção de saúde (ASSIS, 2009). “O sistema de doação e transplante é um termômetro do
desempenho do sistema de saúde de um estado: Se está bem é porque o sistema está bem.”
(ANDRADE, 2010).
O tema da doação de órgãos é complexo porque trata da vida e da morte como experiências
humanas diferenciadas em que a morte precede e proporciona a vida (SADALA, 2004).
De acordo com Boni (s.d.), para que a morte salve e/ou proporcione qualidade de vida, é
necessário que se cumpra uma série de etapas sequencialmente organizadas. Estas vão desde a
identificação do potencial doador, passam pelo diagnóstico da morte encefálica (ME), pela
manutenção clínica e farmacológica, pelo consentimento familiar, pela alocação dos órgãos e
tecidos doados, pelas cirurgias de retirada e podem chegar até a realização dos transplantes e,
assim, resultarem em uma doação efetiva. Esta sequência deve ocorrer de modo que a
complexidade, decorrente da imprevisibilidade do processo, não, inviabilize a conversão de
um potencial doador em um doador efetivo de órgãos e tecidos.
Este trabalho apresenta os resultados da implementação da ferramenta Árvore da Realidade
Atual (ARA) no processo de doação de órgãos e tecidos para transplante. Ferramenta esta
proveniente da Teoria das Restrições (TOC - Theory of Constraints) (DETTMER, 2007).
O trabalho resultou em propostas de soluções capazes de aumentar o desempenho do sistema
de doação de órgãos e tecidos como um todo. Foram identificados e analisados Efeitos
Indesejáveis (EI) e Desejáveis (ED) do sistema por meio da Árvore de Realidade Atual, com a
finalidade de resultar na Árvore de Realidade Futura.
A ARA foi desenvolvida a fim de identificar as causas fundamentais que comprometem a
efetividade do processo de doação no Estado do Rio de Janeiro, evidenciada pelas baixas
taxas de doadores efetivos comparadas a outros estados do Brasil e a países considerados
referências no assunto.
A pesquisa bibliográfica nas bases de dados de revistas e jornais científicos, assim como no
Portal de Periódicos Capes, suscitou outra relevância do artigo, pois quase não foram
encontrados estudos que aplicassem técnicas da Engenharia de Produção a um sistema
produtivo como o da doação e transplante de órgãos. Vale ressaltar também, a falta de artigos
que abordem especificamente o sistema de doação e transplante do Estado do Rio de Janeiro.
O trabalho está estruturado em quatro partes. Além desta introdução, este artigo é composto
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pelo item metodologia, no qual foram apresentadas as etapas e técnicas para coleta de
evidências que contribuíram para o desenvolvimento da pesquisa e validade das afirmativas.
No item seguinte, foram apresentados o referencial teórico para a implementação da
ferramenta. O quarto item apresentou a aplicação da ferramenta no processo de doação e as
possíveis soluções advindas das realidades de Santa Catarina, Portugal e Espanha. Por fim, as
considerações finais e a continuidade do estudo foram apresentadas.
2. Metodologia
A metodologia dividiu-se em três etapas. Na primeira fase foi realizada uma leitura
exploratória, com a seleção de material de referência, a fim de recuperar estudos anteriores,
compreender a utilização da ferramenta e sua forma de aplicação e contextualizar a
problemática da doação de órgãos no Estado.
A segunda fase consistiu na investigação mais incisiva das localidades que apresentam um
bom desempenho no processo de doação.
No terceiro momento, foram visitadas algumas instalações que dão suporte ao processo de
doação e transplante, nos estados Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina.
2.1. Pesquisa bibliográfica
A pesquisa bibliográfica foi a primeira etapa utilizada para a implementação da ARA. Foi
dedicada atenção na busca de artigos, dissertações, teses, materiais em geral que
evidenciassem os principais problemas do processo de doação e conceituassem a ferramenta.
A busca concentrou-se nas principais bases de dados do país, tais como MEDLINE,
Biblioteca Virtual em Saúde, Portal de Periódicos Capes, Biblioteca Eletrônica Scielo,
Revistas e jornais científicos da área e consultas on-line às estatísticas da Associação
Brasileira de Transplante de Órgãos, como também ao portal online do Ministério da Saúde e
livros.
Após o levantamento teórico, as referências encontradas foram refinadas, a fim de identificar
os principais problemas do processo e evidenciar as boas práticas adotadas nas localidades
estudadas. Foi, também, a partir da busca bibliográfica que os passos para a aplicação da
ARA no processo foram definidos.
2.2. Entrevistas com coordenadores
As entrevistas com os profissionais que exercem a função de coordenação dos transplantes foi
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o instrumento utilizado para esclarecer dúvidas advindas da leitura dos artigos. Além disso,
outra relevância desta ferramenta foi poder relacionar a teoria com a realidade do sistema de
doação, através das experiências e relatos dos profissionais.
Para realização das entrevistas foi elaborado um questionário padrão abrangendo os seguintes
tópicos: a política de transplantes, o processo e seus problemas dos transplantes, as possíveis
soluções e a forma de implantação das propostas de melhoria.
Sempre se buscou perceber, questões específicas de acordo com a localidade abordada para
verificar se os problemas e as soluções seriam generalizáveis e, assim, multiplicáveis para
outras localidades.
Nesta etapa, os entrevistados foram Dr. Joel Andrade, coordenador de transplantes do Estado
de Santa Catarina, Dr. Luiz Augusto Pereira, coordenador de transplantes do Estado de São
Paulo, Dr. Eduardo Rocha, coordenador de transplantes do Estado do Rio de Janeiro na época
da entrevista, Dr. André Albuquerque, coordenador da comissão intra-hospitalar de
transplantes do Hospital Quinta D’Or. e Dra. Maria João Aguiar, coordenadora nacional das
unidades de captação de órgãos de Portugal.
Houve, com todos, contatos presenciais, e algumas entrevistas foram realizadas por telefone
ou vídeo conferência. No caso de Portugal, o primeiro contato foi presencial durante o
encontro Luso Brasileiro de Transplante, na cidade do Porto.
Além destes, mais vinte e cinco profissionais entre eles médicos, enfermeiros e assistentes
sociais, foram entrevistados durante as visitas realizadas a fim de compreender os principais
problemas do processo de doação.
2.3. Visitas aos hospitais e centrais de transplantes
Um aspecto importante para enriquecimento da pesquisa foi visitar algumas instalações onde
as etapas do processo de doação ocorrem, pois transpassa o âmbito do conhecimento teórico
proporcionando uma visão mais prática do assunto. Ao percorrer os locais, foi possível
observar quem são os funcionários envolvidos, o ambiente em que trabalham, os recursos
disponíveis, entre outros pontos.
Desta forma, no Rio de Janeiro, visitas foram realizadas na Central de Notificação, Captação e
Distribuição de Órgãos (CNCDO) do Estado e na Comissão Intra-Hospitalar de Doação e
Transplante de Órgãos e Tecidos (CIHDOTT) do Hospital Quinta D’Or, do Hospital Adão
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Pereira Nunes e a do Hospital Estadual Getúlio Vargas. Já no Estado de São Paulo, os locais
visitados foram a CNCDO e alguns hospitais como a Santa Casa de São Paulo e o Hospital
Cruz Azul, onde uma cirurgia de captação foi acompanhada. Em Santa Catarina, a visita se
concentrou na CNCDO e uma cirurgia de captação foi acompanhada.
3. Teoria das Restrições
A Teoria das Restrições foi criada e popularizada no romance “A Meta”, por Eliyahu
Goldratt. Nesta obra, o autor apresenta um método sistemático de organização da produção,
caracterizado como um Processo de Raciocínio, com base em um software – OPT (Optimized
Production Technology) - desenvolvido para gerar melhorias no planejamento da produção.
Para Dettmer (2007), com o aprimoramento de tecnologias e análises mais profundas sobre
processos produtivos, a Teoria das Restrições deixou de ser uma teoria de otimização da
produção para se tornar uma nova filosofia de gerenciamento.
Ainda de acordo com Dettmer (2007: p.21), “The Theory of Constraints is considerably more
than just a theory. In effect, it’s a paradigm, a pattern or model that includes not only
concepts, guiding principles, and prescriptions, but tools and applications as well.”
Baseando-se na relação causa-efeito, para identificar, analisar e resolver algum problema
apontado em uma organização, os métodos relativos ao Thinking Process da TOC são: Árvore
de Realidade Atual (ARA), Diagrama de Dispersão de Nuvens (DDN), Árvore de PréRequisitos (APR), Árvore de Transição (AT), Árvore de Realidade Futura (ARF).
3.1. Árvore da realidade atual
A ARA é utilizada para que se possa obter uma relação de causa-efeito que busca identificar
quais Efeitos Indesejáveis (EIs) ocorrem, objetivando a localização da causa destes Efeitos
Indesejáveis, o denominado problema-raiz (NETO & BORNIA, s.d.).
Segundo Souza et al. (1997 : p.2), “a proposta da ARA é a de diagnosticar uma organização,
extraindo desta análise as verdadeiras causas (problemas-raízes) responsáveis pela maioria
dos sintomas observados (efeitos indesejáveis ou EIs)”.
Portanto, a causa dos Efeitos Indesejáveis nada mais é do que a restrição do sistema que
impede a organização de atingir a sua meta (NETO & BORNIA, s.d.).
A ARA baseia-se na relação-chave lógica: SE... ENTÃO e deve ser lida a partir do SE, em
direção ao ENTÃO.
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A inserção de injeções (propostas de melhorias) possibilita a construção da Árvore de
Realidade Futura (ARF), em que os efeitos indesejáveis do processo são transformados em
efeitos desejáveis.
4. A ferramenta árvore da realidade atual aplicada ao processo de doação de órgãos e
tecidos
Este trabalho define o processo de doação de órgãos e tecidos para fins de transplante como
um conjunto de ações e procedimentos que conseguem transformar um potencial doador em
um doador efetivo a fim de disponibilizar órgãos e/ou tecidos que possibilitem sobrevida e/ou
qualidade de vida aos que aguardam na lista de espera por um transplante.
No entanto, para que esta transformação ocorra é necessário que os envolvidos tenham uma
percepção consolidada do processo, de modo a identificar problemas e solucioná-los,
garantindo a ele requisitos como capacidade de seguir padrões, flexibilidade, confiabilidade e
agilidade.
A utilização da ferramenta Árvore da Realidade Atual objetivou identificar os problemasraízes do processo de doação de órgãos e tecidos para fins de transplante.
A ARA possibilitou caracterizar, primeiro, a complexidade do processo; depois, apontar as
causas das baixas taxas de doação identificadas no Estado do Rio de Janeiro, em especial no
período compreendido entre 2004 e 2011, quando o estado ficou com taxas abaixo de oito
doadores pmp.
Os passos para a elaboração da ARA seguiram a proposta de Dettmer descrita no livro The
Logical Thinking Process. O primeiro passo para a elaboração da Árvore consistiu em realizar
um brainstorming listando todos os efeitos indesejáveis relatados durante entrevistas com
profissionais atuantes no processo de doação e os EIs identificados durante a realização de
visitas, cursos, simpósios e pesquisa bibliográfica.
As entrevistas asseguraram que as causas do baixo desempenho fossem retratadas por quem
vivencia a realidade da doação e do transplante diariamente em suas atividades profissionais.
Foram ouvidos 25 profissionais, entre eles médicos, enfermeiros e assistentes sociais, além
dos profissionais mencionados no item metodologia.
Além disso, as visitas aos hospitais e às Centrais de Transplantes foram realizadas a fim de
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observar e acompanhar o funcionamento do processo e do sistema de doação. A pesquisa
bibliográfica também contribuiu de forma bastante significativa.
A elaboração da lista dos EIs auxiliou na identificação das causas fundamentais dos
problemas levantados e, consequentemente, na proposição de soluções para eliminá-los de
modo a converter os efeitos indesejáveis em efeitos desejáveis.
Após a enumeração dos EIs, foi possível estabelecer uma relação de causa e efeito entre eles
de modo a relacioná-los como pode ser observado na figura 1.
A leitura da Árvore de Realidade Atual deve ser realizada de baixo para cima, respeitando a
relação de causa e efeito entre os EIs. Por exemplo, se o EI 24 acontece, então o EI 17 e o EI
22 também ocorrem.
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Figura 1: ARA aplicada ao processo de doação de órgãos e tecidos
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EI 2
Baixa credibilidade do
sistema
EI 10
Alto número de notícias
negativas veiculas pela
imprensa
EI 1
Alto índice de
mortalidade na fila
EI 6
Baixo número de
transplantes realizados
EI 25
Aumento dos custos
EI 8
Alta indisponibilidade de
órgãos para transplante
EI 26
Menor disponibilidade de
leitos para outros
pacientes
EI 34
Aumento da
necessidade de
retransplante
EI 18
Elevada perda de
órgãos
EI 19
Baixo
aproveitamento dos
órgãos (utilização)
EI 28
Baixa disponibilidade de
recursos externos ao
hospital (transporte,
equipes de retirada)
EI 21
Altas taxas de não
aproveitamento dos
órgãos
EI 9
Aumento do número de
pacientes ocupando
leitos
desnecessariamente
EI 4
Pouco consentimento
familiar
EI 27
Baixo índice de
esclarecimento sobre a
abertura do protocolo de
ME
EI 3
Baixo número de
notificações de ME
EI 12
Aumento no
sofrimento familiar
EI 31
Demora na
comunicação entre
hospital com potencial
doador e CNCDO
EI 17
Pouco interesse dos
profissionais em
diagnosticar ME/Manter
Potencial Doador
EI 15
Baixo número de
profissionais com perfil
adequado para coord.
hospitalar
EI 24
Baixa disponibilidade de
recursos para manter
potencial doador
(ventilador, leito etc.)
EI 23
Baixo nível de
capacitação dos
intensivistas para
manutenção do potencial
doador
EI 32
Baixa capacitação
dos profissionais
para realizar
entrevista familiar
EI 7
Alto índice de atraso no
diagnóstico de ME
EI 14
Poucos coordenadores
hospitalares atuando de
forma efetiva
EI 33
Demora entre
fechamento do
protocolo e início da
captação
EI 30
Demora na
comunicação entre
CNCDO e o hospital
transplantador
EI 11
Aumento das taxas de
negativa familiar
EI 20
Mau
aproveitamento dos
órgãos (qualidade)
EI 22
Manutenção
inadequada do
potencial doador
EI 29
Demora na
comunicação entre
CNCDO e receptor
EI 16
Pouco incentivo aos
profissionais
(remuneração)
EI 13
Baixa disponibilidade de
equipamentos e
profissionais
complementares para
realizar exames ME
EI 5
Baixo nível de
capacitação dos médicos
para diagnosticar ME
EI 35
Pouco incentivo aos
profissionais
(capacitação)
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Ao analisar a ARA, é possível observar peculiaridades da complexidade do processo de
doação. Para Érdi (2008: p.7), “[…] are some characteristic properties of complex systems:
circular casuality, feedback loops, logical paradoxes and strange loops; small change in the
cause implies dramatic effects and emergence and unprecdictability.”
O primeiro grupo de características definida por Érdi pode ser exemplificado através da
relação de causa e efeito estabelecida pela ARA. O EI 17 (Pouco interesse dos profissionais
em diagnosticar a morte encefálica e/ou manter potencial doador), por exemplo, é responsável
por uma sequência de causas e efeitos que culmina por provocar um ciclo de efeitos
indesejáveis, comprometendo de forma bastante significativa todo o processo.
A segunda característica proposta por Èrdi, que consiste em pequenas mudanças nas causas
serem capazes de provocar efeitos dramáticos, pode ser exemplificada pelas conversões dos
EIs em EDs, através de soluções encontradas para os problemas-raízes analisados na ARA.
Pode-se notar a influência que estas soluções exercem sobre os efeitos indesejáveis originados
nos problemas-raízes que serão explicitados a seguir.
A emergência e a imprevisibilidade, características da terceira categoria, também estão
diretamente relacionadas à efetividade do processo de doação. Ambas são ocasionadas pela
multiplicidade de interações inerentes ao processo, tais como a identificação do potencial
doador, a coordenação do processo junto à Central de Transplantes, a qualificação dos
profissionais, o consentimento familiar entre outros fatores.
O processo de captação de órgãos e tecidos se caracteriza pela imprevisibilidade das situações
relacionadas a cada fase, isto significa dizer que o fato de existirem etapas finitas no processo
não garante que as circunstâncias durante estas etapas aconteçam sempre da mesma forma.
Portanto, pode-se entender que a complexidade do sistema não está relacionada somente à
quantidade de etapas nele presentes, mas, sim, com as relações entre os fatores externos e
internos do processo.
Como mencionado, a análise da ARA contribui, também, para identificar os problemas-raízes
do processo de doação. Considerando as relações estabelecidas no diagrama, é possível
observar que os efeitos indesejáveis de onde apenas partem setas, ou seja, os que não são
efeitos, mas somente causas, podem ser identificados como problemas-raízes, pois constituem
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a base (origem), afetando de forma direta e indireta todos os outros efeitos.
São eles: o EI 5 ( Baixo nível de capacitação dos médicos para diagnosticar ME), EI 13
(Baixa disponibilidade de equipamentos e profissionais capacitados para realizar exames
complementares ME), EI 16 (Pouco incentivo aos profissionais - remuneração), EI 24 (Baixa
disponibilidade de recursos para manter potencial doador), EI 28 (Baixa disponibilidade de
recursos externos aos hospitais), EI 29 (Demora na comunicação entre CNCDO e receptor),
EI 30 (Demora na comunicação entre CNCDO e hospital/equipe transplantador), EI 32 (Baixa
capacitação dos profissionais para realizar entrevista familiar) e o EI 35 (Pouco incentivo aos
profissionais - capacitação).
A análise destes EI's permite agrupá-los em três categorias distintas que podem ser
denominadas como: Comunicação, Incentivos e Recursos. Os efeitos 29 e 30 estão
relacionados à categoria Comunicação. Os EIs 5, 16, 32 e 35 relacionam-se à categoria
Incentivos e os efeitos 13, 24 e 28 à categoria Recursos.
A categoria Comunicação é constituída por efeitos diretamente relacionados à coordenação
das atividades da CNCDO. É possível ainda destacar que estes EIs são responsáveis pela
mesma sequência de efeitos indesejáveis, que de forma direta/indireta causam 44 dos 65
efeitos representados na ARA, ou seja, aproximadamente 68% dos efeitos indesejáveis.
A categoria Incentivos foi assim denominada por agrupar efeitos relacionados ao
reconhecimento e à recompensa dos profissionais que atuam no processo de doação. Esta
categoria mostrou-se bastante relevante, pois é integrada pelo maior quantitativo de
problemas-raízes.
Dentre eles encontram-se os EIs responsáveis por um percentual significativo de efeitos
diretos/indiretos da Árvore. O EI 5 causa 46 efeitos (71% do total de EIs da ARA), o EI 16
causa 44(68%), o EI 23 causa 45(69%), o EI 32 causa 43(66%) e o EI 35 causa 45(69%).
Por fim, a categoria Recursos representa a disponibilidade de recursos físicos e humanos
necessários à realização das etapas constituintes do processo de doação. São integrantes desta
categoria o EI 13, responsável por 46 efeitos, o EI 24, responsável por 45 e o EI 28,
responsável por 44. Vale destacar que todos os efeitos desta categoria estão relacionados à
mesma sequência de alguns efeitos pertencentes às outras categorias. O EI 13 possui a mesma
sequência do EI 5 (pertencente à categoria Incentivos), o EI 24 possui a mesma sequência a
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do EI 23 (também integrante da categoria Incentivos) e o EI 28 possui a mesma sequência do
EI 29 (pertencente à categoria Recursos).
É importante notar que os EIs constituintes das três categorias representaram um alto
percentual de efeitos indesejáveis ao processo de doação de órgãos e tecidos, variando entre
66% e 71% do total de efeitos representados na ARA. Estes percentuais evidenciam a
necessidade de estabelecer para o Estado do Rio de Janeiro um conjunto de ações que
interfiram nos problemas-raízes, de modo a minimizá-los ou eliminá-los, convertendo-os em
efeitos desejáveis.
Neste artigo, foram destacadas algumas das boas práticas adotadas em estados e países que
apresentam alto desempenho no processo de doação, como o Estado de Santa Catarina e
países como Espanha e Portugal, que interferem diretamente nas categorias em que os efeitos
indesejáveis foram classificados.
O Modelo Espanhol foi introduzido em 1989 e em apenas três anos a Espanha se tornou o
primeiro país do mundo em doação de órgãos e tecidos, posição que ocupa até os dias atuais.
Este modelo consiste na presença de um coordenador intra-hospitalar de doação em Unidades
de Terapia Intensiva. É um modelo descentralizado, que congrega uma organização nacional
com coordenações regionais e em cada hospital existe um ou mais coordenadores de doação.
Na Espanha, o coordenador hospitalar é o responsável por fazer o processo de doação ocorrer
de forma eficiente. Além de ser o responsável por dirigir o processo e facilitar as tarefas dos
outros profissionais envolvidos, ele deve atender os familiares do doador. Estes profissionais
são capacitados e se dedicam em tempo parcial para esta função.
Em Portugal, o Modelo Espanhol é incorporado de modo que há uma preocupação com a
escolha dos profissionais para exercerem a função de coordenação hospitalar e com a
profissionalização dos mesmos. Os profissionais que possuem perfil de liderança são
selecionados, capacitados e recebem um acréscimo de 300 a 1000 euros em sua remuneração
(AGUIAR, 2010).
No Estado de Santa Catarina, a exemplo do modelo espanhol, os coordenadores hospitalares
são capacitados periodicamente (ANDRADE, 2013). Mais de 50% do número de capacitações
já realizadas no Estado ocorreram em 2011 e 2012, anos em que Santa Catarina alcançou as
maiores taxas de notificações e doadores efetivos já apresentadas em sua história.
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As boas práticas evidenciadas possibilitaram à Espanha atingir 40 doadores pmp. Portugal,
em 2009, atingiu 31 doadores pmp (IRODAT, 2012). O Estado de Santa Catarina salta de
uma taxa de 11,9 doadores pmp, em 2005, para 25,6 doadores pmp em 2012. O Rio de
Janeiro, em sua maior média já alcançada obteve 13,8 doadores pmp (RBT, 2012).
4. Considerações finais
A implementação da ferramenta Árvore da Realidade Atual no processo de doação de órgãos
e tecidos para fins de transplante possibilitou a identificação dos problemas-raízes e
evidenciou a aplicabilidade da Engenharia de Produção em sistemas de produção complexos.
A partir da comparação dos problemas-raízes analisados com as boas práticas identificadas
nas localidades estudadas, foi possível evidenciar a profissionalização dos envolvidos no
processo de doação como a principal solução para a melhoria do processo.
A profissionalização contempla as três categorias em que os problemas foram classificados,
pois envolve a capacitação e remuneração dos profissionais, a disponibilização de recursos
necessários ao processo e facilita a coordenação e comunicação da Central de Transplantes
com os envolvidos no processo.
Em um olhar para o futuro, relativo à continuidade e ampliação do estudo, cabe destacar que
estão em andamento pesquisas conduzidas por esta mesma equipe sobre a aplicação de outras
ferramentas da Engenharia de Produção, o que irá contribuir significativamente para melhoria
do processo de doação de órgãos e tecidos no Rio de Janeiro.
Referências bibliográficas
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AGUIAR, MARIA J, Registro de entrevista realizada com a coordenadora geral de transplantes de
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