Editorial Bônus? Não, somente ônus José Otávio Costa Auler JuniorI, Paulo Manuel Pêgo-FernandesII, Benoit Jacques BibasIII Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) O Ministério da Saúde e o Ministério da Educação publicaram no Diário Oficial de 2 de setembro de 2011 a Portaria Interministerial número 2.087, que institui o “Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica”.1 O programa compreende um conjunto de medidas para “estimular” os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros e odontólogos) a trabalharem na Estratégia de Saúde da Família em localidades de difícil acesso e provimento ou de populações de maior vulnerabilidade.1 Para os médicos, além da especialização, a participação no programa renderá bonificação de até 20% nos Concursos de Residência Médica em qualquer especialidade para os que ficarem dois anos.2 Ao todo, 2.000 vagas poderão ser preenchidas a partir de fevereiro de 2012. Os bônus para a residência passam a valer a partir de novembro do mesmo ano. A ideia é acolher no programa 2.000 médicos, 1.000 enfermeiros e 700 dentistas pagos diretamente pelos municípios. Os municípios que serão contemplados com o programa serão definidos até o final do ano.2 O Conselho Nacional de Residência Médica divulgará, por meio de resolução, os índices e critérios da pontuação.2 É sabido que as áreas mais remotas do Brasil sofrem com a escassez de profissionais de saúde.2,3 Estima-se que cerca de 1.000 municípios brasileiros encontram-se, atualmente, sem médicos, o que causa um prejuízo importante para a população, que se torna vítima de desassistência.3 Atacar esse problema é um acerto do Ministério da Saúde e da Educação, e deveria ter o apoio da classe médica. Entretanto, esta medida, realizada sem o devido diálogo com as entidades e universidades médicas, traz uma série de questões que pretendemos considerar. Os médicos recém-formados, sem residência médica, e, portanto, sem treinamento, não possuem ainda qualificação, maturidade e experiência necessária na profissão, e acabarão expondo a si próprios e a seus pacientes à prática defeituosa da medicina.4 Como podem praticar a medicina de família se nunca tiveram nenhum treinamento para tal? Além do mais, nenhuma informação foi concedida sobre o destino destes médicos, como trabalharão, que tipo de supervisão terão (se terão), condições de moradia e qual será o método empregado para destinar os médicos. É reconhecida a atual situação em que os egressos dos cursos de medicina não têm optado por seguir a formação especializada em medicina de família e comunidade.3 Mesmo sendo insuficientes, as atuais vagas de residência médica nesta especialidade permanecem em grande parte ociosas. Ora, se sobram vagas de medicina de família e comunidade, de terapia intensiva, de pediatria, de medicina preventiva e social, de ginecologia e de obstetrícia etc., fica claro que os bônus não serão determinantes para quem quiser seguir essas áreas. Serão, apenas, para os que querem entrar nos programas mais concorridos, que normalmente o são por critérios de mercado que pouco têm a ver com as necessidades sociais.3 O grande trabalho seria estimular os jovens médicos a cursar essas especialidades, e incentivá-los a deixar os grandes centros em direção ao interior do país. Para tal, torna-se necessária a criação da carreira de Estado para o médico do Sistema Único de Saúde (SUS), com dedicação exclusiva, tempo integral, admissão apenas por concurso público, salário e carreira compatíveis com sua prolongada formação e elevada responsabilidade profissional.3,4 Devido à insuficiência de vagas para todos os formandos de medicina, os concursos de residência são muito disputados. O bônus compromete o pilar que sustenta os concursos públicos e universais: o mérito do conhecimento prático e teórico, neste caso adquirido após os seis anos do curso de medicina.4 A bonificação causará distorção nas seleções, reduzindo a meritocracia no acesso aos programas. O ingresso deve ocorrer segundo o mérito e a capacidade de cada um, com concursos justos, sem privilégios ou distinções entre os candidatos. Assim, parece que estamos caminhando na contramão da história. Enquanto universidades americanas procuram atrair estudantes brilhantes para seus quadros,5,6 almejando futuros líderes em seus campos, buscamos maneiras de corrigir deficiências básicas de nosso sistema educacional com medidas arbitrárias e que não almejam o alicerce da questão. Fazem somente uma correção deturpada da verdade. Não seria mais adequado chamar o programa de “Programa de DESVALORIZAÇÃO do profissional de atenção básica”? — tendo em vista que, pelo menos em relação ao profissional médico, ele deve idealmente ter uma residência, ou seja, um Professor titular da Disciplina de Anestesiologia e diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Professor associado da Disciplina de Cirurgia Torácica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Médico estagiário em Cirurgia de Traqueia e Endoscopia Respiratória Terapêutica da Disciplina de Cirurgia Torácica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). I II III Diagn Tratamento. 2012;17(3):99-100. 100 Bônus? Não, somente ônus bom treinamento na área em que ele vai atuar, o que certamente não é o caso do médico recém-formado. A valorização do profissional passa por uma boa formação médica, um adequado treinamento pós-faculdade na área em que atuará, ou seja, uma boa RESIDÊNCIA MÉDICA, e condições dignas de trabalho e de remuneração. Será que os fins justificarão os meios? REFERÊNCIAS 1. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Ministério da Saúde. Programa de valorização do profissional da atenção básica. Portaria Interministerial no 2.087, de 1o de setembro de 2011. Institui o Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica. Disponível em: http:// www.brasilsus.com.br/legislacoes/gm/109461-2087.html Acessado em 2012 (12 abr). 2. Universidade aberta do SUS - UNA-SUS. Portaria interministerial define Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica. Disponível em: http://www.unasus.gov.br/node/80. Acessado em 2012 (12 abr). 3. Moraes PN. Além dos bônus na residência médica. Disponível em: http:// www.saudecomdilma.com.br/index.php/2011/11/06/alem-dos-bonus-naresidencia-medica/. Acessado em 2012 (12 abr). 4. Auler-Júnior JOC. Jovens médicos em áreas remotas. Folha de São Paulo, de 7 de outubro 2011. Disponível em: http://www.jornaldaciencia.org.br/ Detalhe.jsp?id=79613. Acessado em 2012 (12 abr). 5. Allen JG, Weiss ES, Patel ND, et al. Inspiring medical students to pursue surgical careers: outcomes from our cardiothoracic surgery research program. Ann Thorac Surg. 2009;87(6):1816-9. 6. Gott VL, Patel ND, Yang SC, Baumgartner WA. Attracting outstanding students (premedical and medical) to a career in cardiothoracic surgery. Ann Thorac Surg. 2006;82(1):1-3. INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Paulo Manuel Pêgo-Fernandes Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 Instituto do Coração (InCor) Secretaria do Serviço de Cirurgia Torácia — bloco II — 2o andar — sala 9 Cerqueira César — São Paulo (SP) — Brasil CEP 05403-000 Tel. (+55 11) 3069-5248 E-mail: [email protected] E-mail: [email protected] Fonte de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Date of first submission: 8 de abril de 2012 Data da última modificação: 8 de abril de 2012 Data de aceitação: 19 de abril de 2012 Diagn Tratamento. 2012;17(3):99-100. Revisão narrativa da literatura Atividade física para prevenção e tratamento de obesidade em crianças: evidências das Coleções Cochrane Antonio José GrandeI, Valter SilvaII, Ana Luiza Cabrera MartimbiancoIII, Alan Pedrosa Viegas de CarvalhoI Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM) INTRODUÇÃO A obesidade é uma doença multifatorial (Classificação Internacional de Doenças-10, CID-10: E65-E68).1 Fatores fisiológicos, psicológicos, ambientais e culturais participam da complexa etiologia dessa doença.2 No Brasil, a prevalência de obesidade nas crianças com faixa etária entre 5-9 anos, em 2009, era de 16,6% nos meninos e 11,8% nas meninas. Esse número é quatro vezes maior do que os dados populacionais obtidos em 1989.3,4 Uma simples forma de diagnosticar a obesidade infantil é utilizar o índice de massa corporal (IMC), onde IMC = peso (kg)/estatura² (m).5 Em países desenvolvidos, a prevalência de excesso de peso é maior entre crianças com menores condições socioeconômicas.6 Entretanto, países em desenvolvimento têm prevalência de obesidade maior entre crianças com boas condições socioeconômicas.7 O excesso de peso pode acarretar hiperlipidemia, hipertensão arterial, resistência à insulina, além de fatores psicológicos, como a exposição e discriminação social.8-10 Uma criança com excesso de peso na infância tem, pelo menos, duas vezes mais chances de ser um adulto obeso quando comparada a indivíduos saudáveis.11 O excesso de peso é preocupação mundial e tem repercussões na saúde pública de um país. No Brasil, o custo direto relacionado a internações a obesidade é de 2 bilhões de reais/ano.4 Políticas públicas de saúde têm sido elaboradas e diferentes estratégias adotadas ressaltam a importância de promover hábitos de vida saudáveis desde a infância até a vida adulta. O estilo de vida representa uma série de condições modificáveis e classificadas no CID-10 (Z72), entre os quais estão os comportamentos relacionados à atividade física (Z72.3) e a alimen- tação (Z72.4). Ambas condições recebem maior atenção pelas implicações clínicas e de pesquisa, já que podem ser utilizadas em intervenções de prevenção e de tratamento do excesso de peso.7 Neste estudo, o foco será explorar as intervenções de atividade física para a prevenção e para o tratamento do excesso de peso em crianças e adolescentes. OBJETIVO O objetivo desta revisão foi descrever as evidências sobre intervenções de atividade física para a prevenção e tratamento de obesidade em crianças a partir de revisões sistemáticas de Coleções Cochrane que exploraram diversos locais de intervenção: escola, clubes esportivos e atividades físicas domiciliares. MATERIAIS E MÉTODOS Esta é uma revisão narrativa* da literatura sobre as revisões sistemáticas das Coleções Cochrane. Foram selecionadas revisões sistemáticas da literatura na versão full que envolvessem intervenções de atividade física para a prevenção e tratamento da obesidade em crianças. Como critério de inclusão, as revisões deveriam estar nas Coleções Especiais da The Cochrane Library12 intituladas Tratamento da Obesidade13 e Prevenção da Obesidade.14 O fluxograma dos estudos incluídos e excluídos é apresentado na Figura 1. RESULTADOS Foram incluídas todas as cinco revisões sistemáticas Cochrane que abordavam intervenções para a prevenção do excesso de peso infantil publicadas na Special Colletions Prevention of Obesity e Treatment of Obesity.12 Quatro revisões avaliaram a * Nesta revisão narrativa, não foi realizada a busca sistematizada com estratégia de busca eletrônica, pois a busca foi manual e incluiu todas as revisões sistemáticas sobre atividade física para prevenção e tratamento de obesidade infantil em adolescentes publicadas na The Cochrane Library e agrupadas nas Cochrane Special Selections Prevention of Obesity e Treatment of Obesity. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Medicina Interna e Terapêutica da Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM). Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Medicina Interna e Terapêutica da Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM). Professor da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva (FAIT). Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Medicina Interna e Terapêutica da Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM). I II III Diagn Tratamento. 2012;17(3):101-4. 102 Atividade física para prevenção e tratamento de obesidade em crianças: evidências das Coleções Cochrane Figura 1. Fluxograma de obtenção dos estudos incluídos. prática de atividade física e uma analisou o tratamento do excesso de peso em crianças e adolescentes, envolvendo atividade física e outras intervenções. Dentre as 26 coleções, há duas sobre obesidade. Uma sobre o tratamento e outra sobre a prevenção. Os parágrafos seguintes exploram cinco revisões sistemáticas publicadas nessas duas coleções. O estudo de Baker e cols.15 incluiu 25 artigos originais com delineamentos de pesquisa envolvendo ensaios clínicos randomizados (ECR), ensaios clínicos quasi-randomizados (ECQR) e de coorte prospectiva (CP) que analisaram intervenções comunitárias (atividade física, campanhas midiáticas, técnicas de divulgação específica para comunidade, abordagens de mudança ambiental, aconselhamento individual ou em grupo, instruções em sala de aula e terapia cognitiva) com o objetivo de aumentar o nível de atividade física entre as pessoas. Nessa revisão sistemática, a maioria dos estudos relata alto risco de viés. Além disso, o autor observou que essas intervenções possuem evidências limitadas, sendo os principais fatores: a falta de protocolos de atividade física e das outras estratégias, as diferentes ferramentas de mensuração do nível de atividade física, intervenções aplicadas em diferentes comunidades (dificultando a comparação). Nessa revisão,15 não foi possível realizar metanálises devido às heterogeneidades clínicas e metodológicas dos desfechos e Diagn Tratamento. 2012;17(3):101-4. Antonio José Grande | Valter Silva | Ana Luiza Cabrera Martimbianco | Alan Pedrosa Viegas de Carvalho intervenções analisadas. Apesar de as intervenções serem ideias interessantes, ainda faltam estudos com maior rigor metodológicos para dar suporte à sua continuidade. Em outra revisão sistemática, Waters e cols.16 analisaram 55 artigos originais com delineamento de pesquisa de ensaios controlados (randomizados ou não) que avaliaram intervenções (atividade física, dieta, ou ambas) de curto (≤ 12 meses) ou longo prazo (> 12 meses) com o objetivo de prevenir a obesidade em crianças (0-5, 6-12, 13-18 anos), para o desfecho IMC. A maioria dos artigos (70%) tem risco de viés não claro. Para essa revisão sistemática, metanálises foram realizadas para a avaliação da efetividade, segurança e eficácia das intervenções. Os resultados demonstraram serem a favor da intervenção, sendo segura e efetiva. Porém, os componentes das intervenções (atividade física, dieta, ou ambas) que são mais acessíveis e têm menor impacto econômico não estão claros. Assim, estudos que comparem os componentes de cada intervenção e diferentes abordagens são necessários para contribuir na prevenção da obesidade infantil. Priest e cols.,17 em sua revisão sistemática sobre intervenções esportivas para aumentar a prática de esportes, não encontraram nenhum ensaio clínico controlado (randomizado ou não) para compor sua revisão. Portanto, sugere-se que pesquisadores comecem a reflexão sobre o tema e em quais locais essa intervenção pode ser aplicada. Encontra-se na literatura correlação negativa entre a prática de atividade física e o aumento do peso corporal, ou seja, quanto maior o gasto energético, menor é a probabilidade de excesso de peso. Seguindo esse raciocínio, aumentar o nível de prática de atividade física baseando-se em programas escolares pode ser uma estratégia válida na prevenção do ganho de peso corporal em crianças. Assim, Dobbins e cols.18 incluíram 26 estudos (prospectivos, ensaio clínico, ECR) que avaliaram o tema. Os principais desfechos analisados foram atividade física no lazer, tempo em atividade física e tempo assistindo televisão. Na avaliação crítica dos artigos, 60% encontram-se com risco de viés moderado. Não foi possível a realização de metanálise em virtude das diferentes intervenções abordadas em cada escola, de combinações de intervenções diferentes e diferenças entre os grupos estudados. Mesmo assim, observou-se que tais intervenções são eficientes. Entretanto, novos estudos devem focar nos tipos de atividades desenvolvidas, tempo de atividade no lazer e no hábito de atividade física ao longo da vida. Oude Luttikhuis e cols.19 incluíram 64 ensaios clínicos randomizados com intervenções do estilo de vida (dieta, atividade física e terapia comportamental), intervenções farmacológicas (orlistat, metformina, sibutramina, rimonabant) e intervenções cirúrgicas para o tratamento da obesidade infantil. O principal desfecho analisado foi o IMC. A análise da qualidade geral das evidências foi classificada como pobre e 65% dos estudos tinham menos que 30 sujeitos, aumentando o risco de publicação de desfechos não favoráveis. A utilização da metanálise foi possível para alguns desfechos. Para as intervenções de terapia comportamental, a metanálise foi favorável à intervenção. Já para as terapias medicamentosas, o orlistat e a sibutramina foram favoráveis quando Diagn Tratamento. 2012;17(3):101-4. comparadas ao placebo na metanálise. Contudo, as interpretações dos resultados devem ser cautelosas, pois as evidências desses tratamentos são limitadas. Além disso, os efeitos dos tratamentos podem variar devido a fatores sociais, étnicos e econômicos. DISCUSSÃO As revisões sistemáticas Cochrane são conhecidas pela qualidade metodológica empregada no mapeamento das evidências para tomada de decisão clínica relacionada principalmente com a segurança, eficácia e efetividade da intervenção. A The Cochrane Collaboration por meio de sua base de dados, a The Cochrane Library, disponibilizou uma nova ferramenta no dia 24 de março de 2010. A ferramenta chamada de “Special Collections”12 é o resultado do trabalho conjunto da Colaboração Cochrane e permite agrupar as revisões sistemáticas Cochrane em coleções sobre uma mesma temática. A principal vantagem dessa ferramenta é a facilidade proporcionada para a tomada de decisão em áreas temáticas cobertas por 26 coleções que contêm 478 revisões sistemáticas. Apesar de tratar-se de assunto de interesse global, e de a Colaboração Cochrane possuir duas coleções de revisões sistemáticas sobre o tema, ainda assim parece haver pequena mobilização acadêmica e social sobre a pandemia de obesidade. Vale ressaltar que essas revisões mapearam importantes desfechos que precisam ser pesquisados de maneira mais detalhada e melhor explorados pela comunidade científica. Após descrever as evidências das intervenções de revisões sistemáticas Cochrane sobre excesso de peso infantil, observa-se cautela dos autores sobre a validade externa e recomendações em larga escala. Apesar de as evidências não serem fortes, não significa dizer que não funcionam. Há, portanto, necessidade de ensaios clínicos randomizados com rigor metodológico para responder as questões de efetividade, eficácia e segurança das intervenções, sejam para a prevenção ou para o tratamento. Estudar fenômenos complexos, como a obesidade, dificulta a extrapolação de resultados, e os principais fatores que limitaram as generalizações foram os diferentes protocolos de exercício físico, dieta e diferentes faixas etárias analisadas. Quando foi possível a realização de metanálises, houve tendências favoráveis à atividade física, dieta e terapia comportamental para a redução do peso corporal, bem como para a prevenção e manutenção do peso. CONCLUSÕES As revisões Cochrane incluídas neste estudo encorajam os profissionais da saúde a discutirem possibilidades de desenvolvimento de intervenções para a prevenção e tratamento da obesidade em conjunto com os pais das crianças e com as instituições onde as atividades serão desenvolvidas. REFERÊNCIAS 1. World Health Organization. International statistical classification of diseases and related health problems (ICD-10). 10th ed. Geneva: World Health Organization; 2010. 103 104 Atividade física para prevenção e tratamento de obesidade em crianças: evidências das Coleções Cochrane 2. Allison DB, Downey M, Atkinson RL, et al. Obesity as a disease: a white paper on evidence and arguments commissioned by the Council of The Obesity Society. Obesity (Silver Springer). 2008;16(6):1161-77. 3. Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de orçamentos familiares (POF) 20082009. Antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2010. Disponível em: http://www. ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2008_2009_ encaa/pof_20082009_encaa.pdf. Acessado em 2012 (9 mai). 4. Wang Y, Monteiro C, Popkin BM. Trends of obesity and underweight in older children and adolescents in the United States, Brazil, China, and Russia. Am J Clin Nutr. 2002;75(6):971-7. 5. Center for Desease Control and Prevention. Body mass index. Disponível em: http://www.cdc.gov/healthyweight/assessing/bmi/index.html. Acessado em 2012 (9 mai). 6. Shrewsbury V, Wardle J. Socioeconomic status and adiposity in childhood: a systematic review of cross-sectional studies 1990-2005. Obesity (Silver Spring). 2008;16(2):275-84. 7. Lobstein T, Baur L, Uauy R; IASO International Obesity TaskForce. Obesity in children and young people: a crisis in public health. Obes Rev. 2004;5 Suppl 1:4-104. 8. Dietz WH. Health consequences of obesity in youth: childhood predictors of adult disease. Paediatrics. 1998;101(3 Pt 2):518-25. 9. Puhl RM, Latner JD. Stigma, obesity, and the health of the nation’s children. Psychol Bull. 2007;133(4):557-80. 10.Tang-Péronard JL, Heitmann BL. Stigmatization of obese children and adolescents, the importance of gender. Obes Rev. 2008;9(6):522-34. 11.Singh AS, Chin A Paw MJ, Brug J, van Mechelen W. Short-term effects of school-based weight gain prevention among adolescents. Arch Pediatr Adolesc Med. 2007;161(6):565-71. 12.The Cochrane Library. About the Cochrane Library. Disponível em: http:// www.thecochranelibrary.com/view/0/AboutTheCochraneLibrary.html. Acessado em 2012 (21 mai). 13.The Cochrane Library. Treatment of obesity. Disponível em: http://www. thecochranelibrary.com/details/collection/1417685/Treatment-of-obesity. html. Acessado em 2012 (9 mai). 14.The Cochrane Library. Prevention of obesity. Disponível em: http://www. thecochranelibrary.com/details/collection/1417657/Prevention-of-obesity. html. Acessado em 2012 (9 mai). 15.Baker PR, Francis DP, Soares J, Weightman AL, Foster C. Community wide interventions for increasing physical activity. Cochrane Database Syst Rev. 2011;(4):CD008366. 16.Waters E, de Silva-Sanigorski A, Hall BJ, et al. Interventions for preventing obesity in children. Cochrane Database Syst Rev. 2011;(12):CD001871. 17.Priest N, Armstrong R, Doyle J, Waters E. Interventions implemented through sporting organisations for increasing participation in sport. Cochrane Database Syst Rev. 2008;(3):CD004812. 18.Dobbins M, De Corby K, Robeson P, Husson H, Tirilis D. School-based physical activity programs for promoting physical activity and fitness in children and adolescents aged 6-18. Cochrane Database Syst Rev. 2009;(1): CD007651. 19.Oude Luttikhuis H, Baur L, Jansen H, et al. Interventions for treating obesity in children. Cochrane Database Syst Rev. 2009;(1):CD001872. INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Valter Silva Centro Cochrane do Brasil Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Rua Pedro de Toledo, 598 Vila Clementino – São Paulo (SP) CEP 04039-001 Tel./Fax. (11) 5575-2970/5085-0248 E-mail: [email protected] Fonte de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 10 de abril de 2012 Data da última modificação: 6 de maio de 2012 Data de aceitação: 5 de junho de 2012 PALAVRAS-CHAVE: Atividade motora. Obesidade. Prevenção primária. Terapêutica. Revisão. RESUMO A obesidade é, atualmente, uma pandemia global que tem chamado a atenção da sociedade por comprometer consideravelmente a qualidade de vida de crianças e adolescentes. Existem muitos estudos clínicos sobre intervenções de prevenção e tratamento. Dentre elas, as intervenções de atividade física têm papel importante. Assim, o objetivo desta revisão foi descrever as evidências sobre intervenções de atividade física para a prevenção e tratamento de obesidade em crianças, com base nas revisões sistemáticas Cochrane. Foram selecionadas quatro revisões Cochrane sobre prevenção e uma sobre tratamento relacionando atividade física e obesidade. As evidências se mostram limitadas, entretanto, há recomendações nas revisões Cochrane para que os profissionais da saúde discutam as possibilidades de desenvolvimento de intervenções com os pais e instituições onde as atividades serão desenvolvidas. Diagn Tratamento. 2012;17(3):101-4. Relato de caso Pneumonia associada à pneumatocele e derrame pleural em pediatria é patognomônica de etiologia estafilocócica? Guilherme Lippi CiantelliI, Lívea Athayde de MoraisI, Maria Laura Hannickel PrigenziII Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (FCMS/PUC-SP) e Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS) INTRODUÇÃO As infecções de vias respiratórias, em especial a pneumonia, estão entre as principais causas de morbidade e mortalidade em pediatria. Estima-se que, nos países em desenvolvimento, ocorrem anualmente cerca de 151,8 milhões de casos/ano, dos quais 11 a 20 milhões necessitam de internação hospitalar e aproximadamente 3,5 milhões de crianças menores de cinco anos morrem anualmente em decorrência dessa entidade.1 No Brasil, entre os anos de 2002 e 2007, a pneumonia foi responsável por 2,5 milhões de óbitos em crianças até 14 anos de idade.2,3 Segundo Boletim da Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgado em 2008, o Brasil apresenta anualmente cerca de 1,8 milhão de casos de pneumonia em menores de cinco anos, o que o coloca entre os 15 países de maior incidência dessa afecção.4,5 O diagnóstico clínico da pneumonia é baseado em dados de anamnese e exame físico, tais como: taquipneia, dispneia, uso de musculatura acessória, batimento de asa de nariz, tosse, irritabilidade, gemência, tiragens, febre, diminuição do murmúrio vesicular e presença de estertores crepitantes à ausculta.6 O exame radiológico pode auxiliar o clínico no diagnóstico, bem como na decisão de conduta e terapêutica, contudo, a determinação do agente etiológico na pneumonia ainda é uma grande dificuldade para o pediatra; afinal, em cerca de 40-60% dos casos, não se consegue obter a etiologia da infecção.1,3 De acordo com a OMS, o tratamento adequado seria prescrito em apenas 30% dos casos, e devido a esse desafio diagnóstico e ao uso desenfreado de terapia antimicrobiana empírica ou muitas vezes inadequada, tem-se observado no Brasil e no mundo um crescente número de cepas bacterianas resistentes.2 Neste relato, os autores objetivam discorrer sobre um caso de pneumonia não-estafilocócica em pré-escolar associado à pneumatocele e derrame pleural, além de atualizar o leitor sobre o diagnóstico etiológico das pneumonias e o uso consciente de antibióticos. Esse projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética do Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS). DESCRIÇÃO DO CASO Paciente do sexo feminino, três anos de idade, deu entrada em hospital geral com quadro de febre alta (38,7 °C), tosse e dor abdominal há quatro dias, sendo que, nos últimos dois dias, havia tido piora importante da dor abdominal, taquicardia à ausculta (frequência cardíaca, FC = 124 bpm), com utilização de musculatura respiratória acessória, acompanhada de gemência, batimento de asa de nariz e taquipneia (frequência respiratória, FR = 44 ipm). A ausculta respiratória constatou redução do murmúrio vesicular em terço médio e superior direito e abolição em base direita, com presença de roncos difusos e estertores subcrepitantes globalmente. A paciente foi internada e iniciou-se terapia com ceftriaxona, 600 mg, de 12/12 horas (60-80 mg/kg/dia). Realizada radiografia de tórax, evidenciou-se presença de pneumatocele em lobo direito inferior e derrame pleural homolateral (Figura 1). Encaminhada para serviço terciário de referência, realizou-se ultrassonografia de tórax, que demonstrou derrame pleural de aproximadamente 500 ml em hemitórax direito, e tomografia computadorizada de tórax, no qual se confirmou a presença de pneumatocele em lobo inferior direito associado a grande derrame pleural (Figura 2). Frente aos achados dos exames de imagem e tendo em vista o quadro clínico da paciente, foi mantida a ceftriaxona e associou-se vancomicina, 225 mg, de 12/12 horas (30 mg/kg/dia), com o intuito de cobrir a principal etiologia, o Staphylococcus aureus resistente (methicillin-resistant Staphylococcus aureus, MRSA). Foram drenados aproximadamente 600 ml de líquido purulento da cavidade torácica direita e identificados cocos Gram-positivos no exame bacterioscópico; além disso, na cultura do líquido pleural, foi isolado Streptococcus pneumoniae sensível a penicilina ao antibiograma, com concentração inibitória mínima de 1,5 (S Acadêmico do sexto ano de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (FCMS/PUC-SP). Docente de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (FCMS/PUC-SP). Mestre em Pediatria pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Botucatu, São Paulo e Neonatologista do Conjunto Hospitalar de Sorocaba. I II Diagn Tratamento. 2012;17(3):105-9. 106 Pneumonia associada à pneumatocele e derrame pleural em pediatria é patognomônica de etiologia estafilocócica? Figura 1. Radiografia de tórax mostrando presença de pneumatocele em lobo inferior do pulmão direito e derrame pleural homolateral. Figura 2. Tomografia computadorizada de tórax mostrando presença de pneumatocele em lobo inferior do pulmão direito e derrame pleural homolateral. < 2). Tendo em vista esse novo achado, foi descontinuado o uso de vancomicina, mantendo-se a ceftriaxona por 14 dias, havendo melhora clínica e alta hospitalar após o término. DISCUSSÃO É importante fazer, portanto, uma ressalva sobre esse achado da cultura: durante muito tempo, difundiu-se um conceito de que pneumonia associada com derrame pleural e/ou pneumatocele indicava o Staphylococcus aureus como etiologia. Entretanto, cabe salientar que outros patógenos, como o Haemophilus influenza do tipo B e o Streptococcus pneumoniae, podem evoluir com as complicações apresentadas no caso acima, ou seja, apesar de levantar suspeitas quanto à etiologia, a presença de derrame pleural e pneumatocele não é patognomônica de Staphylococcus aureus e tal critério não deve ser adotado como fundamento único na indicação de terapêutica antimicrobiana.6-8 A pneumonia estafilocócica resulta em alta morbidade e mortalidade e, apesar de ser um agente etiológico presente em todas as idades, na faixa etária pediátrica é mais frequente em crianças menores de um ano, não sendo uma causa habitual de pneumonia em crianças hígidas. Os achados radiológicos da pneumonia estafilocócica podem ser muito variantes e incluem: consolidação alveolar única ou múltipla, cavidades isoladas ou nódulos cavitados, ou mesmo padrão miliar.2,4,6 A doença é mais frequente em pacientes internados e com doenças concomitantes, como diabetes mellitus, insuficiência renal em hemodiálise, doenças cardiovasculares e pulmonares crônicas. Além disso, sua forma, após disseminação via hematogênica, pode ser secundária à infecção de pele e tecidos moles (impetigo, abscesso, celulite, furunculose ou ferimento infectado), trato genital após aborto séptico e infecção de vias aéreas por influenza, devido à aspiração de secreção da naso-orofaringe colonizada por Staphylococcus aureus.1,6,7 Infelizmente não existe um padrão ouro para o diagnóstico etiológico das pneumonias na infância, pois em cerca de 4060% dos casos não se consegue obter a etiologia da infecção. Apesar de recursos diagnósticos como as sorologias, pesquisa de antígenos e detecção de DNA (ácido desoxirribonucleico) por reação em cadeia de polimerase (polymerase chain reaction, PCR) ou por métodos de hibridização com sondas trazerem resultados de maior acurácia e com grande rapidez, é importante salientar que esses métodos nem sempre estão disponíveis na prática clínica.8-10 Como uma das grandes dificuldades é a diferenciação entre pneumonias virais e bacterianas, a terapia empírica ainda é empregada na grande maioria dos casos, mas o crescente aumento de resistência bacteriana exige que o clínico busque sempre por uma maior acurácia do diagnóstico etiológico.10-13 Apesar de a cultura das secreções brônquica, de aspirados pleurais e de sangue não estarem sempre disponíveis e consistirem processos demorados, ainda devem ser utilizados para nortear a escolha do antibiótico específico em cada caso. A hemocultura e o exame de escarro são bastante úteis, apesar de não terem alta sensibilidade e especificidade. No exame de escarro, a contaminação pelos Staphylococcus aureus existentes na orofaringe pode trazer resultados falso-positivos, ou mesmo não permitir a distinção entre colonização autóctone ou infecção. A hemocultura deve ser solicitada naqueles pacientes que necessitarem de internação, contudo, apesar de possuir alta sensibilidade e especificidade em casos de bacteremia, não é um bom exame diagnóstico devido à grande quantidade de falso-negativos quando bacteremia não está presente. A toracocentese e a punção aspirativa pulmonar transcutânea, apesar de serem procedimentos invasivos e de custo elevado, possibilitam alta porcentagem diagnóstica.10,12,14 É importante salientar que os métodos imunológicos, como a aglutinação pelo látex, contraimunoeletroforese e Dot-ELISA Diagn Tratamento. 2012;17(3):105-9. Guilherme Lippi Ciantelli | Lívea Athayde de Morais | Maria Laura Hannickel Prigenzi Tabela 1. Resultados da busca sistematizada nas bases de dados médicas com os descritores em saúde Base de dados Embase PubMed Estratégia de busca Pneumonia and Staphylococcus aureus or Streptococcus pneumoniae and Pleural effusions and treatment Pneumonia and Staphylococcus aureus Número total de artigos 3 guidelines, 25 Lilacs SciELO 20 Pneumonia and Streptococcus pneumoniae and Staphylococcus aureus 27 (enzyme-linked immunosorbent assay) são capazes de identificar os agentes etiológicos, independentemente do uso prévio de drogas antimicrobianas, além de ter como grande vantagem a rapidez do resultado.8,13 O pneumococo tem grande importância na etiologia das pneumonias, pois está envolvido em 13-38% dos casos de origem comunitária e é responsável por aproximadamente 1,6 milhões de mortes anuais nos países em desenvolvimento como o Brasil.11,15 É importante salientar o desenvolvimento crescente de cepas resistentes à penicilina, bem como a prevenção das formas graves com a inclusão da vacina pneumocócica no calendário vacinal.16 Nos Estados Unidos, entre 1995 e 1998, foi demonstrado crescimento da taxa de pneumococos resistentes à penicilina de 21% para 25%, sendo que em algumas partes do mundo, menos de 50% das cepas são sensíveis à penicilina G e aos macrolídeos.17 No Brasil, foi demonstrado aumento de resistência à penicilina G de 0% para 20% entre os anos 19801998. Estudos recentes mostram resistência de 15,6% em São Paulo a até 49% das cepas em Fortaleza.18,19 Entre 2000 e 2005, foram isolados, pelo Projeto de Sistema Regional de Vacinas (SIREVA), 8.993 cepas de pneumococos, das quais 37,8% eram resistentes à penicilina.5,20 Em relação ao projeto SIREVA II, cabe salientar que este é um programa de vigilância das doenças invasivas causadas por Streptococcus pneumoniae, Neisseria meningitidis e Haemophilus influenzae, proposto em 1993 pela Organização Pan-Americana de Saúde/ Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS) para os países Diagn Tratamento. 2012;17(3):105-9. 6 estudos de incidência, 3 relatos de caso, 2 estudos preventivos. 15 ensaios clínicos controlados, 18 Staphylococcus aureus 9 estudos retrospectivos, 1 revisão sistemática. 8 estudos de prevalência, Pleural effusions and Pneumonia and therapeutics or therapy or treatment Pleural effusions and Pneumonia and Pneumonia and 8 ensaios clínicos controlados, 1 estudo prospectivo, and Pleural effusions Cocharane Library Estudos relacionados 3 relatos de caso, 2 revisões sistemáticas, 1 avaliação econômica de saúde. 13 estudos de incidência, 9 estudos de prevalência, 3 ensaios clínicos controlados, 2 relatos de caso. 2 revisões de casuística, 9 3 relatos de caso, 3 estudos retrospectivos, 1 estudo prospectivo. latino-americanos e da região do Caribe. No último informe regional do SIREVA II, referente ao ano de 2010, foram isoladas 807 cepas de Streptococcus pneumoniae invasivo no Brasil, sendo 22,3% causadores de pneumonia. Em crianças menores de cinco anos, os sorotipos mais frequentes foram o 6A, 6B/6D, 14 e 23F, sendo que, desses, apenas o 6A não está presente na vacina 10-valente, apesar de ser contemplado pela 13-valente, uma vacina com cobertura ampliada para os sorotipos 3, 6A e 19A. Dessas cepas, 82,7% eram sensíveis à penicilina, 17,3% apresentaram resistência intermediária e nenhuma cepa estudada possuía resistência plena à penicilina.21 É interessante observar que as características clínicas da pneumonia por pneumococo sensível ou resistente à penicilina não diferem.10 Realizou-se pesquisa sistematizada às principais bases de dados utilizando os termos pneumonia, Staphylococcus aureus, Streptococcus peneumoniae, derrame pleural (pleural effusions) e tratamento (therapeutics/therapy/treatment) conforme o Medical Subject Headings (MeSH) entre os meses de dezembro de 2011 e maio de 2012 (Tabela 1). Empregando os descritores em saúde, foram encontrados 20 estudos no PubMed, 18 no Cochrane Library, 27 no Lilacs, 9 no SciELO e 25 no Embase, incluindo relatos de caso, estudos de incidência, estudo de prevalência e ensaios clínicos controlados; não houve metanálises ou ensaios controlados randomizados encontrados. Uma vez que raramente se tem à disposição o patógeno causador da pneumonia, o tratamento é geralmente empírico. A 107 108 Pneumonia associada à pneumatocele e derrame pleural em pediatria é patognomônica de etiologia estafilocócica? escolha da antibioticoterapia deve se basear em diversos fatores como idade, epidemiologia, forma de apresentação clínica (típica ou atípica), gravidade, padrão radiológico, história vacinal e conforme o padrão de sensibilidade local pelo antibiograma, associado à presença de fatores de risco para resistência antibiótica, tais como comorbidades, convívio em creche, uso de drogas, hospitalização recente e uso de antibioticoterapia prévia.8,9,17,18 Em geral, a terapia antimicrobiana oral proporciona uma alternativa eficaz e adequada para a maioria dos quadros leves e moderados e a terapia parenteral deve ser reservada ao período neonatal e aos pacientes com pneumonia grave. Classicamente as pneumonias comunitárias em crianças devem ser tratadas com amoxicilina (25-50 mg/kg/dia) ou macrolídeos, como a azitromicina (10-30 mg/kg/dia) ou claritromicina (15 mg/kg/dia), em nível ambulatorial, ou com a associação de cefalosporinas de terceira geração com macrolídeos quando há a necessidade de internação e uso de medicação endovenosa. O tratamento da pneumonia adquirida na comunidade deve durar de 10-14 dias, sendo a ausência de febre por três dias um critério obrigatório para a suspensão do antibiótico. O tratamento da pneumonia por pneumococo com sensibilidade diminuída à penicilina pode ser feito com doses elevadas de amoxicilina (80-100 mg/kg/dia). Mesmo nos casos de pneumonias graves, o uso de oxacilina ou vancomicina raramente é necessário e, quando se utilizam estes antimicrobianos, é importante basear-se na análise das culturas com a finalidade de realizar o descalonamento antibiótico caso necessário.1,8,10,22 A vacinação é uma das formas mais importantes de prevenir as doenças invasivas pelo Streptococcus pneumoniae. A vacina conjugada 10-valente, introduzida em 2010 no Calendário Básico de Vacinação da Criança, oferece cobertura para os sete sorotipos mais prevalentes em países como Estados Unidos, Canadá e Austrália (4, 6B, 9V, 14, 18C, 19F e 23F), associada a uma cobertura adicional aos sorotipos 1, 5 e 7F, que têm alta prevalência na América Latina.5,23-25 Uma vez introduzida, o potencial de proteção seria de 79,2% e 93,8%, para crianças contidas na faixa etária de menores e maiores de dois anos, respectivamente.5 Segundo o projeto SIREVA II (2010), para os casos de doença invasiva por Streptococcus pneumoniae em menores de cinco anos, a porcentagem de sorotipos incluídos na vacina 10-valente seria de 80,4%.20 A vacina conjugada 10-valente, incluída desde 2010 no Calendário Básico de Vacinação em todo o território nacional, consiste em estratégia importante na prevenção à doença pneumocócica invasiva e deve ser amplamente divulgada e estimulada pelos profissionais da saúde. CONCLUSÃO Tendo em vista sua alta prevalência e mortalidade, a pneumonia deve ser sempre suspeitada no diagnóstico diferencial das infecções respiratórias na infância. O Streptococcus pneumoniae é o agente etiológico mais importante das pneumonias em menores de cinco anos e, apesar de os pediatras acreditarem por muito tempo que os quadros complicados com derrame pleural e pneumatocele tivessem o Staphylococcus aureus como agente etiológico, sabe-se atualmente, que essa associação não é patognomônica, o que implica na necessidade de se buscar o agente etiológico nas pneumonias invasivas pela análise do líquido pleural ou mesmo da hemocultura do paciente, apesar de sua baixa sensibilidade quando a bacteremia não está presente. REFERÊNCIAS 1. Rudan I, Tomaskovic L, Boschi-Pinto C, Campbell H; WHO Child Health Epidemiology Reference Group. Global estimate of the incidence of clinical pneumonia among children under five years of age. Bull World Health Organ. 2004;82(12):895-903. 2. 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Guilherme Lippi Ciantelli | Lívea Athayde de Morais | Maria Laura Hannickel Prigenzi 17.Whitney CG, Farley MM, Hadler J, et al. Increasing prevalence of multidrugresistant Streptococcus pneumoniae in the United States. N Eng J Med. 2000;343(26):1917-24. 18.Amsden GW. Pneumococcal resistance in perspective: how well are we combating it? Pediatr Infect Dis. 2004;23(2 Suppl):S125-8. 19.Rey LC, Wolf B, Moreira JLB, Verhoef J, Farhat CK. S. pneumoniae isolados da nasofaringe de crianças sadias e com pneumonia: taxa de colonização e suscetibilidade aos antimicrobianos [Nasopharyngeal isolates of S. pneumoniae from healthy carriers and children with pneumonia: colonization rates and antimicrobial susceptibility]. J Pediatr (Rio J). 2002;78(2):105-12. 20.Castañeda E, Agudelo CI, Regueira M, et al. Laboratory-based surveillance of Streptococcus pneumoniae invasive disease in children in 10 Latin American countries: a SIREVA II project, 2000-2005. 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De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o tratamento adequado seria prescrito em apenas 30% dos casos. Devido a esse desafio diagnóstico e ao uso desenfreado de terapia antimicrobiana empírica ou inadequada, tem-se observado no Brasil e no mundo crescente número de cepas bacterianas resistentes. Descrição do caso: Paciente do sexo feminino, três anos de idade, deu entrada em hospital geral com febre alta, tosse e dor abdominal. Diagnosticada pneumonia comunitária, foi internada e após dois dias houve piora do quadro clínico, com sinais de desconforto respiratório e presença de derrame pleural e pneumatocele à direita em radiografia e tomografia computadorizada de tórax. Foi iniciada a terapia com ceftriaxone e vancomicina com intuito de cobrir Staphylococcus aureus resistente (methicillin-resistant Staphylococcus aureus, MRSA) e drenados 600 ml de líquido purulento da cavidade torácica direita, onde foi identificado crescimento de Streptococcus pneumoniae sensível a penicilina ao antibiograma. Discussão: O principal agente etiológico nas pneumonias comunitárias em pré-escolares é o Streptococcus pneumoniae e as penicilinas ou macrolídeos devem ser os antibióticos de escolha inicial. As complicações, como pneumatocele e derrame pleural, apesar de mais frequentes na etiologia estafilocócica, não determinam a necessidade de iniciar oxacilina ou vancomicina de forma empírica. Conclusões: Apesar de alguns casos de pneumonia evoluírem com pneumatocele e derrame pleural, essa associação não é patognomônica da etiologia estafilocócica e tal critério não deve ser adotado como único fundamento na indicação de terapêutica antimicrobiana. Diagn Tratamento. 2012;17(3):105-9. 109 Dermatologia Síndrome de Gorlin Érica Cristina VieiraI, Luciana Patrícia Fernandes AbbadeII, Sílvio Alencar MarquesIII, Mariângela E. A. MarquesIV, Hamilton Ometto StolfV Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) INTRODUÇÃO A síndrome de Gorlin, também denominada síndrome Gorlin-Goltz, síndrome do nevo basocelular ou síndrome do carcinoma nevoide de células basais é desordem autossômica dominante causada por mutações no Patched (PTCH), gene supressor de tumor localizado no cromossomo 9q22.3-q31, que funciona como componente da via de sinalização Hedgehog.1,2 Diversas manifestações clínicas estão presentes e as principais são múltiplos carcinomas basocelulares que se iniciam em idade precoce, tumores odontogênicos e alterações esqueléticas. Manifestações neurológicas, oftalmológicas, endócrinas e genitais também fazem parte dessa desordem.2-4 A prevalência é de 1/57000 e a incidência varia na literatura de 1/164000 a 1/256000.1,5,6-8 Está presente em 2% dos pacientes portadores de carcinoma basocelular com menos de 45 anos de idade.9 Foi descrita pela primeira vez em 1894 por Jarish e White, mas melhor definida por Gorlin e Goltz em 1960.3,10 RELATO DO CASO Paciente do sexo masculino, 67 anos de idade, há mais de 40 anos em tratamento para exérese de múltiplos carcinomas basocelulares principalmente na face, pescoço e dorso (Figura 1), apresentou-se relatando as primeiras lesões cutâneas terem sido tratadas em outro serviço, com criocirurgia, aos 18 anos de idade. Em nosso serviço, onde o paciente já faz acompanhamento por quase 30 anos, a grande maioria das lesões cutâneas foi submetida à ressecção cirúrgica e várias outras, devido ao tamanho ou à localização, foram tratadas com 5-fluoracil, imiquimode ou terapia fotodinâmica, de acordo com a melhor indicação. Iniciou tratamento há cerca de dois anos com acitretina 30 mg por dia, porém, devido à intolerância, a dose foi reduzida para 20 mg, dose que o paciente toma atualmente. Entretanto, o paciente relata que, desde o início dessa terapêutica, não percebeu diminuição no aparecimento de novas lesões. Submeteuse a três outras cirurgias pela equipe da bucomaxilofacial para ressecção de cistos na maxila e na mandíbula (Figura 2) com histopatologia confirmando cistos ceratogênicos. Além dessas alterações descritas, o paciente também apresenta pits palmo-plantares (Figura 3), escoliose dorsal intensa com deformidade de Sprengel (Figura 4), hipertelorismo e fronte olímpica. Nega casos semelhantes na família e não é filho de pais consanguíneos. DISCUSSÃO A síndrome de Gorlin é desordem rara, com baixa incidência, que afeta igualmente ambos os sexos e predomina nos indivíduos com fototipos mais baixos.11 Quase 60% dos indivíduos acometidos não têm conhecimento de familiares afetados e 35% a 60% desses representam nova mutação,2,3,12 o que parece ser o caso do nosso paciente. A mutação é causada no gene supressor de tumor PTCH, que faz parte da via de sinalização Hedgehog. Esses genes Hedgehog codificam moléculas de sinalização, desempenhando papel chave na padronização embrionária, manutenção da hemostasia nos tecidos velhos, reparação tecidual e carcinogênese.1,2 Têm alta penetrância e expressividade fenotípica variável.13,14 O diagnóstico é feito baseado nos achados clínicos, sendo firmado na presença de dois critérios maiores ou um maior associado a dois menores (Tabela 1).1,15 O presente caso apresentava, dentre os critérios maiores, múltiplos carcinomas basocelulares, sendo o início de aparecimento antes dos 20 anos, ceratocistos odontogênicos, pits palmoplantares. E, como critérios menores, encontramos deformidade de Sprengel, hipertelorismo e macrocefalia. Os carcinomas basocelulares são os principais componentes da síndrome. Manifestam-se clinicamente entre a puberdade e os 35 anos de idade.1,11,16 Variam em número desde alguns poucos a centenas, ocorrendo em qualquer área do corpo, principalmente na pele exposta à luz solar. Qualquer tipo clínico pode estar presente, assim como ulceração, entretanto, processo invasivo e evolução para metástase são raros.17 Compromete principalmente as superfícies epiteliais torácicas e cérvico-faciais, sendo as áreas periorbitais, pálpebras, nariz, região malar e lábio superior as áreas faciais mais afetadas.2,3,4,13 Outras alterações cutâneas podem fazer parte do quadro, como cistos sebáceos e pits palmoplantares que se desenvolvem na segunda década de vida e aumentam em número com a idade.1,13 Médica residente de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Botucatu – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Doutora e professora assistente do Departamento de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Botucatu – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Doutor e professor titular do Departamento de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Botucatu – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). IV Doutora e professora livre-docente do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina de Botucatu – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). V Doutor e professor assistente do Departamento de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Botucatu – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). I II III Diagn Tratamento. 2012;17(3):110-4. Érica Cristina Vieira | Luciana Patrícia Fernandes Abbade | Sílvio Alencar Marques | Mariângela E. A. Marques | Hamilton Ometto Stolf Figura 2. Dois cistos odontogênicos na maxila esquerda destacados em vermelho. Observar à direita alteração da anatomia pela retirada de cistos prévios nesse local. Figura 1. Vários carcinomas basocelulares, cicatrizes cirúrgicas, máculas hipocrômicas pós-inflamatórias e escoliose. Também frequentes são os tumores odontogênicos que podem ser as primeiras características da síndrome, geralmente surgem durante a primeira década de vida e acometem até 75% dos pacientes.1-4 São lesões frequentemente múltiplas, radioluscentes, uni ou multiloculares na mandíbula ou maxila.7,13 Podem ocasionar dor, edema, impactação e deslocamento dos dentes. Raramente levam à fratura da mandíbula e possuem elevado índice de recidiva (até 60%) após enucleação.2,4,5,8,17 Calcificações ectópicas do sistema nervoso central podem ocorrer como calcificação foice e da tenda do cerebelo, além de ponte em sela túrcica com alterações que não resultam em nenhuma manifestação clínica, mas podem ser úteis para confirmar o diagnóstico.1,5 Anomalia esquelética está presente em quase 70% dos pacientes. A mais comum é a costela bífida, fusionada ou alargada. Alterações vertebrais surgem em até 31% dos pacientes e incluem espinha bífida oculta, cifoescoliose, defeitos de fusão, hemivértebra, além da deformidade de Sprengel, que é a elevação da escápula com rotação em direção à coluna com escoliose,1,3,5 manifestação observada neste paciente. Facies típicas, com fronte alta e larga, saliência frontal e parietal e aumento da circunferência da cabeça também podem ocorrer.18 O alargamento da base do nariz é comum e pode estar associado com hipertelorismo ocular.1 Diagn Tratamento. 2012;17(3):110-4. Figura 3. Pits nas palmas. Figura 4. Deformidade de Sprengel e carcinomas basocelulares no tronco. 111 112 Síndrome de Gorlin Tabela 1. Critérios maiores e menores para o diagnóstico da síndrome de Gorlin Critérios maiores Mais de dois carcinomas basocelulares ou um antes dos 20 anos Ceratocistos odontogênicos confirmados pela histologia Três ou mais depressões palmo-plantares Calcificação bilamelar da foice cerebral Costelas bífidas, fundidas ou achatadas Parente de primeiro grau com a síndrome Critérios menores Macrocefalia determinada após ajuste para estatura Malformações congênitas: fenda labial ou palatina, bossa frontais, fácies grosseira, hipertelorismo Alterações esqueléticas: deformidade de Sprengel, peito deformado, hemivértebras, fusão ou alongamento de corpos vertebrais, defeitos das mãos e dos pés, sindactilia, cistos ósseos em chama de vela nas mãos Pontificação da sela túrcica Fibroma ovariano Meduloblastoma Para o diagnóstico da síndrome de Gorlin é necessária presença de dois critérios maiores ou um maior e dois menores. A maxila pode ser hipoplásica e pode haver hiperplasia mandibular com variável prognatismo. Outras anomalias menos comuns incluem palato ogival, fissura de lábio palatino, má oclusão, impacção e agenesia dentária.1 Também raro, mas pode ocorrer sindactilia e polidactilia.5 Apresentação não usual, mas importante devido à causa precoce potencial de morte, é o meduloblastoma, tumor maligno da fossa posterior.19 Está presente em até 10% do pacientes sendo geralmente diagnosticado em crianças com idade média de cinco anos.13 O seu tratamento requer terapia intensiva multidisciplinar. Os melhores resultados provêm do tratamento com ressecção agressiva, quimioterapia e radioterapia. No entanto, o uso de radioterapia pode ser discutível devido à sensibilidade dos pacientes para desenvolverem centenas de carcinomas basocelulares.19-21 Manifestações menos frequentes são os cistos mesentéricos,11 os fibromas mesentéricos e mamários, os fibromas ovarianos e cardíacos.15,22 O tratamento, especificamente em relação ao carcinoma basocelular, é a exérese cirúrgica (Figura 5), entretanto, na existência de múltiplos tumores, pode-se recorrer à remoção com laser, terapia fotodinâmica e quimioterapia tópica. A Figura 5. Hemiface esquerda mostrada antes (A) e após (B) várias ressecções cirúrgicas. Observar fechamento por segunda intenção da lesão nasal ocasionando retração da asa nasal esquerda. quimioprevenção deve também ser realizada. Os retinoides podem efetuar um papel importante na prevenção ou retardar o desenvolvimento de carcinomas.23-26 Protetores solares são também úteis contra a radiação ultravioleta.13 Tabela 2. Resultado da busca sistematizada em base de dados, realizada em 11 de junho de 2012 Base de dados Estratégica de busca Número total de artigos Pubmed via National Center for Biotechnology Information “Gorlin syndrome” OR “Gorlin-Goltz syndrome” OR “basal cell nevus syndrome” OR “nevoid basal cell carcinoma syndrome” AND “case reports” Embase via Elsevier ‘Gorlin syndrome’/exp OR ‘Gorlin syndrome’ OR ‘Gorlin-Goltz syndrome’/exp ‘Gorlin-Goltz syndrome’ OR ‘basal cell nevus syndrome’/exp OR ‘basal cell nevus syndrome’ OR ‘nevoid basal cell carcinoma syndrome’/exp OR ‘nevoid basal cell carcinoma syndrome’ AND ‘case reports’ 16 Lilacs via Bireme Síndrome de Gorlin OR Síndrome do Carcinoma Nevoide Basocelular OR Síndrome de Gorlin-Goltz OR Gorlin syndrome OR Gorlin-Goltz syndrome OR basal cell nevus syndrome OR nevoid basal cell carcinoma syndrome OR Síndrome del Nevo Basocelular 59 Cochrane Library via Bireme Gorlin syndrome OR Gorlin-Goltz syndrome OR basal cell nevus syndrome OR nevoid basal cell carcinoma syndrome 12 694 Diagn Tratamento. 2012;17(3):110-4. Érica Cristina Vieira | Luciana Patrícia Fernandes Abbade | Sílvio Alencar Marques | Mariângela E. A. Marques | Hamilton Ometto Stolf A revisão da literatura foi realizada por meio de busca sistematizada, utilizando os indexadores “basal cell nevus syndrome”, “Gorlin syndrome”, “Gorlin-Goltz syndrome”, “nevoid basal cell carcinoma syndrome”. Os resultados da busca estão demonstrados na Tabela 2. CONCLUSÃO O manejo da síndrome de Gorlin deve ser feito por equipe multidisciplinar, devido ao comprometimento de vários órgãos. O diagnóstico precoce da síndrome deve ser realizado para que terapias menos agressivas sejam adotadas. O meduloblastoma tem remoção cirúrgica facilitada quando seu diagnóstico ocorre numa fase inicial. Ecocardiograma regular detecta fibromas cardíacos precoces e, nas mulheres acometidas, é importante a ultrassonografia para detecção de fibromas ovarianos. O acompanhamento dental frequente se faz relevante devido aos ceratocistos odontogênicos. E cabe ao dermatologista detectar as lesões cutâneas indicando a melhor forma de abordagem. A investigação e avaliação de todos os irmãos e filhos do paciente são importantes para que tomem conhecimento dos prováveis riscos hereditários da desordem. Portanto, torna-se mandatório o aconselhamento genético. REFERÊNCIAS 1. Kimonis VE, Goldstein AM, Pastakia B, et al. Clinical manifestations in 105 persons with nevoid basal cell carcinoma syndrome. Am J Med Genet. 1997;69(3):299-308. 2. Ortega García de Amezaga A, García Arregui O, Zepeda Nuño S, Acha Sagredo A, Aquirre Urizar JM. Gorlin-Goltz syndrome: clinicopathologic aspects. Med Oral Patol Oral Cir Bucal. 2008;13(6):E338-43. 3. Manfredi M, Vescovi P, Bonanini M, Porter S. Nevoid basal cell carcinoma syndrome: a review of the literature. Int J Oral Maxillofac Surg. 2004;33(2):117-24. 4. Neville BW, Damm DD, Allen CM, Bouquot JE. Patologia oral e maxilofacial. 2a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. 5. Lo Muzio L. Nevoid basal cell carcinoma syndrome (Gorlin syndrome). Orphanet J Rare Dis. 2008;3:32. 6. Valiati AA, Pavelecini M, Netto R, et al. Síndrome do nevo basocelular: relato de caso [Basal cell nevus syndrome: case report]. Arquivos Catarinenses de Medicina. 2009;38 Supl 1:160-2. Disponível em: http://www.acm.org.br/ revista/pdf/artigos/682.pdf. Acessado em 2012 (21 jun). 7. Shanley S, Ratcliffe J, Hockey A, et al. Nevoid basal cell carcinoma syndrome: review of 118 affected individuals. Am J Med Genet. 1994;50(3):282-90. 8. Lo Muzio L, Nocini PF, Savoia A, et al. Nevoid basal cell carcinoma syndrome. Clinical findings in 37 Italian affected individuals. Clin Genet. 1999;55(1): 34-40. 9. Rahbari H, Mehregan AH. Basal cell epithelioma (carcinoma) in children and teenagers. Cancer. 1982;49(2):350-3. 10.Gorlin RJ, Goltz RW. Multiple nevoid basal-cell epithelioma, jaw cysts and bifid rib. A syndrome. N Engl J Med. 1960;262:908-12. 11.Gorlin RJ. Nevoid basal cell carcinoma syndrome. 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(14) 3882-4922 E-mail: [email protected] E-mail: [email protected] Data de entrada: 18 de maio de 2012 Data da última modificação: 2 de julho de 2012 Data de aceitação: 3 de julho de 2012 113 114 Síndrome de Gorlin PALAVRAS-CHAVE: Carcinoma basocelular. Cistos odontogênicos. Proteínas hedgehog. Meduloblastoma. Síndrome do nevo basocelular. RESUMO Contexto: A síndrome de Gorlin ou síndrome do nevo basocelular é desordem autossômica dominante causada por mutação no gene Patched, que faz parte da via de sinalização Hedgehog. Descrição do caso: O paciente descrito tem 67 anos, apresenta múltiplos carcinomas basocelulares com início desde os 17 anos, além de cistos odontogênicos, escoliose dorsal, pits palmoplantares, hipertelorismo e macrocefalia. Discussão: A síndrome é manifestada pela tríade de múltiplos carcinomas basocelulares, tumores odontogênicos ceratocísticos e anomalias esqueléticas. Outras alterações orgânicas podem estar presentes, sendo o meduloblastoma, tumor maligno da fossa posterior, causa potencial de morte. Conclusão: O diagnóstico precoce é importante para que terapias menos agressivas sejam realizadas. O tratamento envolve equipe multidisciplinar e o aconselhamento genético é mandatório. Diagn Tratamento. 2012;17(3):110-4. Nutrologia Hortelã Hernani Pinto de Lemos JúniorI, André Luis Alves de LemosII Disciplina de Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências da Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina (Unifesp-EPM), Centro Cochrane do Brasil INTRODUÇÃO A hortelã é uma planta herbácea da família Lamiaceae com inúmeras variedades cultivadas. É originária da Ásia, atualmente cultivada em todo o mundo. É utilizada como tempero em inúmeros pratos, como planta medicinal em infusão e também fornece óleos essenciais que podem ser extraídos da planta. Na fitoterapia, é indicada informalmente como estimulante gástrico nas atonias digestivas, flatulências, vômitos, vermífugo, cólicas uterinas, expectorante, antisséptico bucal, aftas, infecções da boca (bochechos) e garganta (gargarejos), tremores nervosos e calmante. Essa amplitude de indicações informais passadas de gerações em gerações através dos séculos e mantida atualmente na época da industrialização mostra o potencial da hortelã. Entretanto, perseguindo o conceito de medicina baseada em evidências, procuramos nas bases de dados de saúde estudos de intervenção que mostrassem a efetividade da hortelã ou alguns de seus componentes no tratamento de doenças. MÉTODOS Em uma busca sistematizada da literatura, procuramos artigos que avaliassem ações medicinais da hortelã. Acessamos as bases de dados: Biblioteca Cochrane, Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e Medline (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online, via Bireme) e Medline (via PubMed). RESULTADOS Encontramos poucos estudos em humanos, na maioria relizados em experimentação animal e laboratório. Um estudo randomizado1 foi feito para verificar a ação giardicida da hortelã comparada com o secnidazol, ambos em dose única. A droga teve uma ação significantemente maior (84%) que a planta (47,8%) nas condições desse estudo. Podemos inferir que, se a hortelã foi eficaz em quase 50% dos casos em dose única, em doses múltiplas poderia ser mais eficaz e com menos efeitos colaterais. É uma excelente sugestão para um novo estudo. Atividade antifúngica dos óleos essenciais obtidos por hidrodestilação a partir das partes aéreas da hortelã (Mentha cervina) foram investigadas e avaliadas por concentrações inibitórias mínimas (CIM) e concentrações mínimas letais (minimum lethal concentration, MLC) contra Candida, Aspergillus e cepas de dermatófitos.2 A conclusão desse estudo foi que os óleos de Mentha cervina com baixo teor de pulegona (um aromático constituinte) podem ser uma alternativa como agentes antifúngicos em dermatofitose. Um estudo in vitro descreve a atividade antibacteriana, fungistática e fungicida de óleos essenciais de Mentha aquatica L., Mentha longifólia L. e Mentha piperita L.3 A ação bactericida se deu principalmente contra cepas de Escherichia coli e a cepa multirresistente de Shigella sonei. A ação fungicida foi consideravelmente maior do que a do fungicida comercial bifonazole. Os óleos essenciais de Mentha suaveolens, um tipo de hortelã que cresce em várias regiões do Marrocos, foram extraídos e sua atividade antimicrobiana avaliada. Os principais constituintes aromáticos dessa planta foram pulegona, óxido piperitenona e óxido piperitone, ocorrendo em quantidades diferentes, dependendo da subespécie. Esses constituintes, bem como uma série de outros produtos aromáticos, tais como carvona, limoneno e mentona, foram testados quanto à sua atividade antimicrobiana contra 19 bactérias, incluindo bactérias Gram-positivas e Gram-negativas e contra três fungos. Óleo essencial rico em pulegona inibiu eficientemente todos os micro-organismos testados e foi o mais eficaz.4 Um estudo alemão5 demonstrou in vitro o efeito antimicobacteriano do óleo essencial de hortelã-pimenta em doses de 300 e 600 microgramas/ml. A utilização de inalações (dois meses) como suplemento para a terapia combinada de tuberculose pulmonar mostrou o seu efeito significativamente positivo em termos de negativação do escarro. Os resultados sugerem que o óleo essencial de hortelã-pimenta pode ser utilizado junto com a terapia convencional em pacientes com tuberculose pulmonar disseminada e infiltrante. Um estudo experimental em jejuno de coelho6 procurou demonstrar a ação espasmolítica e antidiarreica da hortelã. Nesse estudo, o efeito da hortelã foi comparado ao da loperamida e com sítio de ação nos canais de cálcio, como o verapamil. Médico, mestre e doutor em Medicina Interna e Terapêutica e Medicina Baseada em Evidências da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (Unifesp-EPM). Médico pesquisador do Centro de Pesquisas em Revisões Sistemáticas do Centro Cochrane do Brasil. Médico, mestre e doutorando em Medicina Interna e Terapêutica e Medicina Baseada em Evidências da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (Unifesp-EPM). I II Diagn Tratamento. 2012;17(3):115-7. 116 Hortelã A atividade vasodilatadora da rotundifolona (ROT), um constituinte principal (63,5%) do óleo essencial de Mentha x villosa, foi testada em ratos.7 Em aneis isolados da aorta de rato, as concentrações crescentes da ROT (0,3, 1, 10, 100, 300, e 500 ug/ ml) inibiram os efeitos contrácteis da fenilefrina. Em aneis de aorta pré-contraída com fenilefrina, a atividade relaxante muscular da ROT foi inibida pela remoção do endotélio vascular. A potência da radioterapia muitas vezes é limitada pelos seus efeitos destrutivos em orgãos não doentes. Um estudo experimental em animais8 mostrou efeito radioprotetor do extrato aquoso de duas espécies de hortelã nos testículos, trato gastrointestinal e órgãos hematopoiéticos de camundongos. Um estudo9 avaliou o efeito radioprotetor de Mentha arvensis na sobrevivência de camundongos expostos a várias doses de radiação gama (6, 7, 8, 9 e 10 Gy). A dose de 10 mg/kg de extrato de hortelã foi a ideal para melhor proteção como evidenciado pelo maior número de sobreviventes no grupo 30 dias pós-irradiação. O extrato de hortelã demonstrou reduzir a gravidade dos sintomas de doença de radiação e mortalidade em todas as doses de exposição e aumento significativo na sobrevivência dos animais foi observado quando comparado com o grupo controle. O tratamento com extrato de hortelã protegeu os animais contra a morte gastrointestinal, bem como as falências da medula óssea. Outro estudo experimental feito em ratos10 demonstrou que os metabólitos neutros de mentol (monoterpeno da espécie Mentha), extraídos da urina de ratos alimentados com mentol, inibiram a reabsorção óssea in vitro. Esses resultados sugerem que não o mentol em si, mas um ou vários de seus metabólitos neutros inibem a reabsorção óssea in vivo por um mecanismo ainda desconhecido. O efeito do extrato aquoso de Mentha arvensis (EAMA) nas reações anafiláticas em estimulação imunológica e não imunológica foi estudado em ratos. O EAMA inibiu reação anafiláctica sistêmica induzida artificialmente. Quando administrado por via intraperitoneal, intravenosa ou oral, o EAMA inibiu a liberação de histamina a partir de células de ratos.11 DISCUSSÃO Como podemos sentir neste artigo, a hortelã apresenta diversidade de ações medicinais, dependentes do preparo e dos componentes extraídos. É uma unanimidade o seu uso nos distúrbios funcionais digestivos, mais por indicação informal do que por indicação médica. Seus diversos componentes, estudados em experimentação animal ou in vitro, abrem boas perspectivas para novas pesquisas em várias situações clínicas. Por isso, mesmo não encontrando trabalhos relevantes em humanos, a hortelã não decepcionou. Acreditamos que novas pesquisas em diferentes áreas estão por vir. CONCLUSÕES Não há evidências científicas clínicas que indiquem a hortelã como protagonista principal no tratamento de uma doença. Implicações para a prática Pela ausência de complicações, a hortelã pode ser utilizada em infusões nos distúrbios digestivos funcionais leves ou como coadjuvante em tratamentos mais expressivos com outras drogas. Implicações para a pesquisa Os estudos experimentais em animais e in vitro abrem inúmeras perspectivas para os pesquisadores. REFERÊNCIAS 1. Teles NS, Fechine FV, Viana FA, et al. Evaluation of the therapeutic efficacy of Mentha crispa in the treatment of giardiasis. Contemp Clin Trials. 2011;32(6):809-13. 2. Gonçalves MJ, Vicente AM, Cavaleiro C, Salgueiro L. Composition and antifungal activity of the essential oil of Mentha cervina from Portugal. Nat Prod Res. 2007;21(10):867-71. 3. Mimica-Dukic N, Bozin B, Sokovic M, Mihajlovic B, Matavulj M. Antimicrobial and antioxidant activities of three Mentha species essential oils. Planta Med. 2003;69(5):413-9 4. Oumzil H, Ghoulami S, Rhajaoui M, et al. Antibacterial and antifungal activity of essential oils of Mentha suaveolens. Phytother Res. 2002;16(8):727-31. 5. Shkurupii VA, Kazarinova NV, Ogirenko AP, et al. Effektivnost’ ispol’zovaniia ingaliatsiia éfirnogo masla miaty perechnoi legkikh. [Efficiency of the use of peppermint (Mentha piperita L) essential oil inhalations in the combined multi-drug therapy for pulmonary tuberculosis]. Probl Tuberk. 2002;(4):36-9. 6. Shah AJ, Bhulani NN, Khan SH, Ur Rehman N, Gilani AH. Calcium channel blocking activity of Mentha longifolia L. explains its medicinal use in diarrhoea and gut spasm. Phytother Res. 2010;24(9):1392-7. 7. Guedes DN, Silva DF, Barbosa-Filho JM, Medeiros IA. Calcium antagonism and the vasorelaxation of the rat aorta induced by rotundifolone. Braz J Med Biol Res. 2004;37(12):1881-7. 8. Baliga MS, Rao S. Radioprotective potential of mint: a brief review. J Cancer Res Ther. 2010;6(3):255-62. 9. Jagetia GC, Baliga MS. Influence of the leaf extract of Mentha arvensis Linn. (mint) on the survival of mice exposed to different doses of gamma radiation. Strahlenther Onkol. 2002;178(2):91-8. 10.Spichiger M, Brenneisen R, Felix R, Mühlbauer RC. The inhibition of bone resorption in rats treated with (-)-menthol is due to its metabolites. Planta Med. 2006;72(14):1290-5. 11.Shin TY. Inhibition of immunologic and nonimmunologic stimulationmediated anaphylactic reactions by the aqueous extract of Mentha arvensis. Immunopharmacol Immunotoxicol. 2003;25(2):273-83. INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Hernani Pinto de Lemos Júnior Centro Cochrane do Brasil Rua Pedro de Toledo, 598 Vila Clementino – São Paulo (SP) CEP 04039-001 Tel./Fax. (11) 5575-2970/5579-0469 E-mail: [email protected] E-mail: [email protected] Fonte de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 15 de maio de 2012 Data da última modificação: 28 de maio de 2012 Data de aceitação: 5 de junho de 2012 Diagn Tratamento. 2012;17(3):115-7. Hernani Pinto de Lemos Júnior | André Luis Alves de Lemos PALAVRAS-CHAVE: Mentha piperita. Motilidade gastrointestinal. Infecções bacterianas. Micoses. Anafilaxia. RESUMO Introdução: A hortelã é uma planta difundida mundialmente e utilizada como tempero e dita medicinal. Objetivo: Verificar as evidências e indicações do uso da hortelã na prática clínica. Métodos: Revisão sistematizada da literatura por meio do banco de dados da biblioteca virtual em saúde (Cochrane, Lilacs e Medline) e do PubMed. Resultados: Não encontramos nenhum estudo em humanos que nos dessem evidências da efetividade da hortelã em doenças. Encontramos muitos estudos experimentais e in vitro, os principais descritos no texto. Conclusões: Não há evidências científicas da efetividade da hortelã no tratamento de doenças. Ela pode ser utilizada informalmente nos distúrbios digestórios funcionais. Diagn Tratamento. 2012;17(3):115-7. 117 POEMs: Patients-oriented evidence that matters Esôfago de Barrett progride para câncer em apenas 0,12% por ano nos cinco primeiros anos Autores da tradução: Pablo Gonzáles BlascoI, Marcelo Rozenfeld LevitesII, Cauê MonacoIII Sociedade Brasileira de Medicina de Família QUESTÃO CLÍNICA Qual é a taxa de incidência anual de câncer de esôfago entre os pacientes que têm esôfago de Barrett? RESUMO Os resultados1 encontraram taxa muito baixa de progressão para o câncer entre os pacientes que têm esôfago de Barrett. A alta taxa de detecção durante o primeiro ano após o diagnóstico da metaplasia sugere uma possível utilidade em se repetir a endoscopia em seis meses ou um ano. Mas a predisposição para a vigilância generalizada e permanente de todos os pacientes com esôfago de Barrett deve ser ponderada à luz desses achados epidemiológicos. DESENHO DO ESTUDO Estudo de coorte (prospectivo). Nível de evidência: 1b.2 CASUÍSTICA Base populacional (adultos). DISCUSSÃO Estudos anteriores que abordam essa questão avaliaram somente pequenas populações selecionadas de pacientes e foram realizados, em grande parte, em centros de encaminhamento e ambientes universitários. Eles estimaram a incidência anual de câncer de esôfago entre 0,5% e 0,6% entre os pacientes com esôfago de Barrett.3,4 Já o estudo aqui analisado,1 que incluiu toda a população dinamarquesa ao longo de um período de 17 anos, fornece a melhor prova até agora em relação a essa questão. Os autores utilizaram dados do registro nacional dinamarquês de patologia para identificar pacientes que tivessem esôfago de Barrett, displasia de baixo grau ou displasia de alto grau. Eles usaram o registro oncológico da Dinamarca para identificar casos incidentes de adenocarcinoma esofágico que ocorreram posteriormente ao diagnóstico do esôfago de Barrett. Houve um total de 11.028 pacientes com esôfago de Barrett, dos quais 69% eram homens, e a idade mediana foi de 63 anos. Os pacientes foram acompanhados por uma média de 5,2 anos após o diagnóstico do esôfago de Barrett. No total, 193 neoplasias incidentes foram diagnosticadas, mas 131 delas foram detectadas durante o primeiro ano de acompanhamento (provavelmente porque já estavam presentes no momento do diagnóstico do esôfago de Barrett, mas foram ignoradas pelo examinador ou não foram detectadas na coleta da amostra para biópsia). Após o primeiro ano, a taxa de incidência de tumores malignos foi de 0,12% ao ano, muito menor do que em estudos anteriores. A taxa foi um pouco maior nos homens (0,15% versus 0,05%) e em pacientes mais velhos (0,02% em pacientes com idade entre 30 a 49 anos, 0,1% de 50 a 69 anos e 0,18% nos pacientes de 70 anos ou mais). Pacientes que apresentaram displasia de baixo grau durante a sua endoscopia inicial também apresentaram maior incidência de câncer (0,51% ao ano). Curiosamente, o uso de inibidores da bomba de prótons não resultou em menor taxa de progressão, embora o estudo tenha sido um pouco fraco para essa comparação. COMENTÁRIO Os achados desse estudo são de grande importância para a definição de diretrizes e práticas de rotina. Ela, porém, se refere a 5,2 anos de acompanhamento. Para extrairmos conclusões sobre a incidência após esse período serão necessários estudos mais longos. REFERÊNCIA 1. Hvid-Jensen F, Pedersen L, Drewes AM, Sørensen HT, Funch-Jensen P. Incidence of adenocarcinoma among patients with Barrett’s esophagus. N Engl J Med. 2011;365(15):1375-83. Médico de família, doutor em Medicina, diretor científico e membro-fundador da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Médico de família e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Médico de família, professor do curso de Medicina do Centro Universitário São Camilo, membro ativo da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). I II III Diagn Tratamento. 2012;17(3):118-9. POEMs: Patients-oriented evidence that matters Regra de decisão clínica pode ser útil no diagnóstico de síndrome coronariana aguda na atenção primária Autores da tradução: Pablo Gonzáles BlascoI, Marcelo Rozenfeld LevitesII, Cauê MonacoIII Sociedade Brasileira de Medicina de Família QUESTÃO CLÍNICA Há alguma regra de decisão clínica que possa ser útil no diagnóstico de síndromes coronarianas agudas entre os pacientes que se apresentam com dor torácica em um contexto de atenção primária? RESUMO Essa regra de decisão clínica testada em 298 pacientes de atenção primária1 identificou corretamente quatro pacientes com doença cardíaca que, de outro modo, teriam recebido alta de seus médicos. Ou seja, se sua intuição lhe disser que um paciente é de baixo risco para síndrome coronariana aguda, mas a regra de decisão clínica disser o contrário, é mais interessante confiar na regra. DESENHO DO ESTUDO Validação de regra de decisão clinica (prospectiva) Nível de evidência: 1b.2 CASUÍSTICA Pacientes ambulatoriais (adultos em contexto de atenção primária). DISCUSSÃO Os autores desenvolveram uma regra de decisão clínica simples, de quatro itens, para o diagnóstico de síndrome coronariana aguda em pacientes que se apresentam com dor torácica ao seu médico de família (na Holanda, onde o estudo foi realizado, general practitioner, ou GP): cinco pontos para sexo masculino, oito pontos de irradiação da dor, cinco pontos para náuseas ou sudorese, e dois pontos para uma história de doença arterial coronariana. Os autores compararam a estimativa de risco com base nessa regra, com a estimativa de risco avaliada pelo médico não conhecedor da regra. Os GPs tiveram uma maior área sob a curva ROC [receiver operating characteristic] (uma medida global da precisão de uma classificação) de 0,75 versus 0,66). No entanto, os médicos tendem a superestimar sistematicamente a probabilidade de síndrome coronariana aguda, classificando 70% dos pacientes como de alto risco. Os GPs e a regra de decisão clínica concordaram perfeitamente em 51% das vezes com relação aos pacientes de baixo risco (< 10%), risco moderado (10%-20%) e de alto risco (> 20%). No geral, as porcentagens de pacientes com síndrome coronariana aguda nos grupos de risco baixo, moderado e alto risco foram semelhantes entre os GPs e a regra: 8,2% versus 8,3%, 15% versus 13,4%, e 27% versus 30%, respectivamente. Discordâncias grandes (isto é, um paciente de baixo risco classificado como de alto risco ou vice-versa), ocorreram em 9% das vezes. No grupo identificado pelos GPs como de baixo risco, quatro pacientes (8,2%) tinham síndrome coronariana aguda. Esses quatro pacientes haviam sido identificados pela regra de decisão como sendo de alto risco. Dentre os 36 pacientes que foram identificados como de baixo risco pelo GP, mas como risco moderado pela regra, ou vice-versa, nenhum teve síndrome coronariana aguda. COMENTÁRIO Eis uma ferramenta bastante útil, quando utilizada no contexto adequado. Obviamente não substitui a experiência clínica, mas auxilia bastante na estimativa e decisão dos médicos em situações onde não há eletrocardiograma e/ou exames laboratoriais prontamente disponíveis. REFERÊNCIA 1. Bruins Slot MH, Rutten FH, van der Heijden GJ, et al. Diagnosing acute coronary syndrome in primary care: comparison of the physicians’ risk estimation and a clinical decision rule. Fam Pract. 2011;28(3):323-328. 2. Centre for Evidence Based Medicine. Oxford Centre for Evidence-based Medicine - Levels of Evidence (March 2009). Disponível em: http://www. cebm.net/index.aspx?o=1025. Acessado em 2012 (24 mar) EDITORES RESPONSÁVEIS POR ESTA SEÇÃO Pablo Gonzáles Blasco. Médico de família, doutor em Medicina, diretor científico e membro-fundador da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Médico de família, doutor em Medicina, diretor científico e membro-fundador da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Médico de família e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Médico de família, professor do curso de Medicina do Centro Universitário São Camilo, membro ativo da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). I II III Diagn Tratamento. 2012;17(3):120-1. Linguagens Organização Alfredo José MansurI Unidade Clínica de Ambulatório do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Diversos aspectos são causa de admiração nas diferentes culturas — a história, a cultura, a arte, o conhecimento, a solidariedade, a disciplina, o poder (atual ou passado), a tecnologia, a capacidade de inovação, a diversidade etc. Um dos aspectos reiteradamente admirado é a organização. Tenho ouvido de profissionais de diferentes áreas, que visitaram outros países a partir de 1950, comentários plenos de reverência frente ao alto grau de organização da sociedade na França, na Alemanha, na Inglaterra, nos Estados Unidos da América, no Japão, na Escandinávia, no Canadá, na Austrália, entre outros. Sociedades tidas como mais organizadas são entendidas em geral como mais avançadas e exprimem, na prática, tal organização nas relações internacionais, em índices de desenvolvimento humano e econômico, capacidade de adaptação e recuperação frente a crises e se elevam na relação com sociedades tidas como menos organizadas. Admite-se também que essa organização tenha um sentido e seja resultado de valores, educação, conhecimento, sustentabilidade, e não apenas um objeto formal em si mesmo. A organização pode ser entendida como uma instância do conhecimento, principalmente do conhecimento complexo ou elaborado; nesse sentido, tal organização ampara a edificação do pensar e a produção daí resultante. Por outro lado, também é uma instância de poder ou de disciplina e, enquanto tal, aspira ser obedecida. Prosaicos fatos cotidianos se encadearam recentemente, compondo ilustração interessante de aspectos da organização. a) Já pensaram em tudo — Visitante de um conhecido parque de diversões no hemisfério norte testemunhou um native speaker ao seu lado comentar admirado para um funcionário do parque — “Incrível, vocês já pensaram em tudo! Não precisamos pensar em nada”. Tão organizado era o parque, que dispensava a necessidade de pensar em algo, pois já havia sido pensado; bastava apenas sentir e executar as operações. b)Googleando — Em um hotel, o pedido de informação de um endereço para o cordial recepcionista (Hi, are you enjoying your stay? — Yes, thank you. — Good. May I help you?). Depois desse “diálogo”, sua resposta foi acessar o Google Maps no computador sob o balcão, e imprimir uma página e entregá-la a nós. Quando procurávamos o endereço, vimos que bastaria dizer siga até a esquina, vire à direita, e siga reto; são dois quarteirões. Não precisou ouvir, pensar, enunciar a resposta, e verificar o entendimento do outro. A falta de necessidade de pensar ou elaborar tornou desnecessário ouvir, processar a pergunta, responder, e permitir comunicação entre pessoas. No caso, se operou a máquina, sem real interação com o cliente. Respostas semelhantes foram obtidas de prestadores de serviço em nosso país em diferentes ramos de atividade, que responderam a perguntas, não tomaram em consideração o que foi perguntado, mas responderam, supostamente, “segundo o algoritmo ou segundo protocolo de atendimento”. Caberia ao cliente a obrigação de enquadrar-se (de preferência adivinhar) no “sistema”, no “algoritmo” ou no “protocolo”. Sofrem esses algoritmos e protocolos com o seu mau uso. Dispensa-se também o enunciado da ideia completa e boa parte das respostas são frases pré-moldadas e vazias. c) Segundo o protocolo — Em uma reunião multidisciplinar com importantes executivos, conversavam os presentes sobre questões de saúde e cuidados médicos recebidos por familiares. Um dos presentes indagou a narradora sobre os encaminhamentos que havia acabado de contar sobre um membro da família. Ela respondeu: preferiu-se atuar “segundo o protocolo”. Contextualizada a resposta, o encaminhamento descrito como “segundo o protocolo” foi implicitamente entendido como diferente do encaminhamento “individualizado do paciente ou da orientação da família”. d)Segundo as diretrizes — De outra feita, registrou-se a explicação “prescrevemos segundo as diretrizes”. Era um chavão compreensível, pois há forte estímulo nesse sentido e demonstra atualização. Entretanto, a questão prática em pauta era outra: a necessidade imperiosa de alívio dos sintomas do paciente. Ainda que seguindo e obedecendo as mesmas diretrizes citadas, faltava a necessária individualização e ajuste de detalhes para a situação que se apresentava. Livre-docente em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Diretor da Unidade Clínica de Ambulatório do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. I Diagn Tratamento. 2012;17(3):122-5. Alfredo José Mansur Atualmente, somos afortunados, pois, para muitas situações clínicas, o conhecimento disponível foi organizado e disponibilizado em algoritmos, protocolos, diretrizes e guidelines promulgadas por sociedades nacionais1,2 e internacionais,3-6 depois de reuniões de autoridades, que organizaram criteriosamente o conhecimento disponível, compondo o eixo pesquisa-diretrizes-disseminação do conhecimento médico.1,2,7 Em 2008, havia sido alcançado o número de 280 diretrizes no Brasil.1 Tal organização do conhecimento médico é recente (iniciado entre nós em 1999), procura se fundamentar nas demonstrações científicas segundo estudos hierarquizados de acordo com o melhor método científico,2 os quais categorizam as informações assim obtidas em níveis de evidência. Sinalizam ainda quando não há evidência científica disponível ou conclusiva sobre temas da prática clínica, pois muitas questões há que, por variadas razões, não se dispõe de estudos considerados científicos adequados (evidências). Tais protocolos, diretrizes ou guidelines costumam ser cuidadosos no seu escopo e cuidam para não atenuar a individualidade do paciente.1,2 Ainda assim, algoritmos, protocolos, diretrizes, guidelines se assentam sobre o conhecimento científico disponível e não dão conta de abarcar toda a gama dos desafios individuais que a prática clínica cotidiana propõe, pois novos hiatos de conhecimento surgem em pacientes individuais e suscitam novas pesquisas. É particularmente nesses ambientes com grau variado de fundamentação científica, do diagnóstico e da terapêutica que o médico é levado frequentemente a tomar decisões tendo como base a necessidade do paciente e a evidência disponível segundo a melhor arte e a melhor ciência médica do momento.1,2 Nesse contexto, o uso na prática da organização do conhecimento em linguagem de algoritmos, protocolos, diretrizes e guidelines cotejadas com os limites inerentes à prática clínica é campo para reflexões cotidianas. Uma delas diz respeito a esse uso como estímulo à boa prática clínica iniciada por competente história clínica, exame físico e depois orientação e auxílio na interpretação dos dados obtidos e respaldo para decisões decorrentes,1,2 ou alternativamente, se o uso é feito com o pressuposto de que a realidade que procura se desvelar no exame clínico é que deve se enquadrar na organização disponível. Fora de questão que diretrizes e guidelines explicitam com clareza que foram concebidos para dar suporte, mas não suplantar as decisões clínicas em casos individuais.1,2,8 Talvez a dificuldade seja inerente ao processo; há anos, médicos ingleses reconheceram que era mais fácil escrever necessários guidelines do que colocá-los em prática.9 Seguem algumas reflexões: a) Abrangência — é compreensível que algoritmos, protocolos, diretrizes, guidelines que reúnem o conhecimento médico e evidências disponíveis naquele momento em cada área do conhecimento não sejam capazes de reunir toda a diversidade individual da realidade clínica cotidiana. Portanto, ainda que sejam o mais completos possível para os dias atuais, em Diagn Tratamento. 2012;17(3):122-5. toda a prática clínica há situações não previstas ou fundamentadas nesse conhecimento organizado. Os hiatos de conhecimento são parte da realidade clínica, e, para lidar com eles, recorre-se à ciência e à arte médicas individualizadas em prol do paciente. Além disso, há algo de imprevisibilidade nas demandas dos pacientes que precisa ser contemplada na prática clínica. Para adotar uma linguagem contemporânea, a prática clínica pode requerer ajustes do protocolo. b)Caráter geral — protocolos, diretrizes, guidelines têm na sua linguagem caráter geral, conceitual, e não é possível acomodar toda a diversidade individual. São necessários e de grande valia para o aspecto conceitual da tradução mais científica das informações disponíveis, inclusive prestando assistência prática à necessidade de respaldo para princípios utilizados em serviços ou instituições, programas de dispensação de medicamentos, de tratamentos de doenças e até assistem nos casos tão contemporâneos que foram reunidos no neologismo “judicialização” da prática clínica. Assistem na medida em que podem tornar mais orientadas as condutas e prevenir decisões de tratamento ainda não consolidadas (particularmente em situações de suposto benefício e alto impacto econômico). c) Uso dogmático — pode ser tentadora a consideração de que protocolos, diretrizes, guidelines estejam a tal ponto desenvolvidos (como no parágrafo acima “já pensaram em tudo”), que dispensariam o pensar clínico dedicado a interpretar questões individuais dos pacientes, tanto no diagnóstico quanto na terapêutica. Seriam compatíveis com uma atividade operacional, lidando com realidades já previstas, mediante rótulos (ou carimbos) disponíveis, inaugurando pensamento estruturado a partir dessas novas categorias. As questões deveriam ser formuladas reduzindo-se ao padrão de resposta disponível (“FAQ”, ou perguntas feitas frequentemente). Do mesmo modo, perguntas originais do ponto de vista científico ou indagações não previstas poderiam não ser percebidas, acolhidas ou reconhecidas. Na introdução das diretrizes brasileiras,2 exprime-se uma cuidadosa advertência: “A relação entre qualidade de estudo e grau de recomendação e, portanto, a sua influência na decisão médica é insuficiente se utilizada de maneira absoluta e isolada, sendo esta de caráter informativo e sugestivo, cabendo ao profissional que ministra o cuidado ao paciente julgar a forma, o momento e a pertinência da utilização da diretriz”. Talvez advertências desse naipe merecessem ênfase, particularmente nos ambientes de treinamento profissional. d)Transitoriedade — inerente à própria natureza do conhecimento científico e da pesquisa, há transitoriedade nas interpretações científicas da realidade. Essa transitoriedade da orientação pode dar margem a discussões interessantes. Uma avó norte-americana, médica, compartilhou uma discussão 123 124 Organização publicada no The New Yorker 10 sobre a reversão nas diretrizes de alimentação depois de oito anos da sua publicação11. Há exemplos de diretrizes recentes de outros países que: a) não reiteram alguns testes diagnósticos;12 b) colocaram em discussão a realização de outros testes13 e, c) mudaram orientação seguida por décadas em função de novas evidências acumuladas no decorrer das últimas duas décadas.14 Esse cuidado foi tomado nas diretrizes brasileiras1,2 — leitores foram estimulados a consultar periodicamente sites com as diretrizes para ter acesso às possíveis atualizações. e) Prudência — em geral, protocolos, diretrizes e guidelines usam uma linguagem cuidadosa e prudente. Embora reconhecendo o eixo pesquisa clínica-diretrizes-implementação como eixo da disseminação do conhecimento médico, frequentemente há uma advertência, no seu início, de que a melhor decisão para um paciente é aquela que pode ser tomada pelo médico do paciente depois de examiná-lo.1,2,7 Às vezes, na rotina atarefada do cotidiano, é necessário que esse cuidado não se dissipe, e as recomendações não incorram em viés dogmático. f ) Check-lists - Protocolos, diretrizes, guidelines são diferentes de check-lists. Assim, é possível que, em algumas circunstâncias, se assim empregados, não se consiga que pacientes individuais, em função dos sintomas e da sua necessidade pessoal, tenham dificuldade em se harmonizar com diretrizes gerais. g) Discussões – um tipo de discussão que atualmente faz parte de congressos é o debate sobre o que está ou estará escrito na diretriz, muitas vezes feita pelos próprios autores ou participantes dessas diretrizes. A discussão pode ficar como uma forma de auto citação de um plano mais elevado de domínio do conhecimento, mas pessoal. Também é intrigante a possibilidade de diretrizes de diferentes sociedades ou agências darem orientação diferente para situações clínicas semelhantes, fato já verificado em outros países. h)Lapso temporal – tanto o novo conhecimento por si só como a sua disseminação, impõe um lapso temporal – o da observação no decorrer do tempo dos resultados dos novos métodos de prevenção, diagnóstico e de tratamento. Esse lapso temporal, obrigatório para se reunir evidências a respeito dos tratamentos, modificá-los, exige um tempo de latência entre o novo conhecimento e a evidência da real eficácia, para não dizer da obrigatória análise econômica na relação custo-benefício. Há muito empenho que isso seja o mais rápido possível, e em algumas circunstâncias, isso pode ser conseguido. Entretanto, nem sempre é possível e um tempo de espera sobre o tema se impõe até que surjam resultados de estudos a respeito; não é um tempo imediato. Outro lapso de tempo prático é o tempo que demora um novo conhecimento para ser escrito e divulgado ou atualizado. Finalizamos essas reflexões tendo em mente que o bom emprego da organização do conhecimento em forma de algoritmos, protocolos, diretrizes e guidelines, compondo o eixo geração de conhecimento, diretriz e disseminação, pode ser continuamente cultivada e enriquecido com a experiência de muitos colegas. REFERÊNCIAS 1. Amaral JLG, Andrade EO. Projeto diretrizes. In: Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. Projetos diretrizes. p. 1. Disponível em: http:// www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/texto_introdutorio.pdf. Acessado em 2012 (24 mai). 2. Cerri GG, Jatene FB, Nobre MRC, Bernardo WM. Metodologia empregada na elaboração. In: Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. Projeto diretrizes. p. 3-6. Disponível em: http://www.projetodiretrizes. org.br/projeto_diretrizes/texto_introdutorio.pdf. Acessado em 2012 (24 mai). 3. U.S. Department of Health & Human Services. U. S. Preventive Services Task Force. Agency for Healthcare Research and Quality. Disponível em: http:// www.ahrq.gov/clinic/uspstfix.htm. Acessado em 2012 (24 mai). 4. National Institute for Health and Clinical Excellence. What we do. Disponível em: http://www.nice.org.uk/aboutnice. Acessado em 2012 (24 mai). 5.Canadian Medical Association. CMA Infobase: Clinical Practice Guidelines (CPGs). Disponível em: http://www.cma.ca/clinicalresources/ practiceguidelines. Acessado em 2012 (24 mai). 6. Australian Medical Association. Clinical practice guidelines. Disponível em URL: http://ama.com.au/search/apachesolr_search/clinical+practice+guidelines. Acessado em 2012 (24 mai). 7. Habib G, Hoen B, Tornos P, et al. Guidelines on the prevention, diagnosis, and treatment of infective endocarditis (new version 2009): the Task Force on the Prevention, Diagnosis, and Treatment of Infective Endocarditis of the European Society of Cardiology. (ESC). Endorsed by the European Society of Clinical Microbiology and Infectious Diseases (ESCMID) and the International Society of Chemotherapy (ISC) for Infection and Cancer. Eur Heart J. 2009;30(19):2369-413. 8. Baddour LM, Wilson WR, Bayer AS, et al. Infective endocarditis: diagnosis, antimicrobial therapy, and management of complications: a statement for healthcare professionals from the Committee on Rheumatic Fever, Endocarditis, and Kawasaki Disease, Council on Cardiovascular Disease in the Young, and the Councils on Clinical Cardiology, Stroke, and Cardiovascular Surgery and Anesthesia, American Heart Association: endorsed by the Infectious Diseases Society of America. Circulation. 2005;111(23):e394-434. 9. Colvin BT, Machin SJ, Barrowcliffe TW, et al. Audit of oral anticoagulant treatment. The BCSH Haemostasis and Thrombosis Task Force of the British Society for Haematology. J Clin Pathol. 1993;46(12):1069-70. 10. Groopman J. The peanut puzzle. Could the conventional wisdom on children and allergies be wrong? Disponível em URL: http://www.newyorker.com/ reporting/2011/02/07/110207fa_fact_groopman#ixzz1tWv025i7. Acessado em 2012 (24 mai). 11.Puliti B. Food for thought: preventing food allergies. Disponível em URL: http://www.kidswithfoodallergies.org/resourcespre.php?id=108. Acessado em 2012 (24 mai). 12.U.S. Preventive Services Task Force. Screening for thyroid disease: recommendation statement. Ann Intern Med. 2004;140(2):125-7. 13.U.S. Preventive Services Task Force. Screening for prostate cancer: U.S. Preventive Services Task Force recommendation statement. Ann Intern Med. 2008;149(3):185-91. Diagn Tratamento. 2012;17(3):122-5. Alfredo José Mansur 14.Wilson W, Taubert KA, Gewitz M, et al. Prevention of infective endocarditis: guidelines from the American Heart Association: a guideline from the American Heart Association Rheumatic Fever, Endocarditis, and Kawasaki Disease Committee, Council on Cardiovascular Disease in the Young, and the Council on Clinical Cardiology, Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia, and the Quality of Care and Outcomes Research Interdisciplinary Working Group. Circulation. 2007;116(15): 1736-54. INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Unidade Clínica de Ambulatório do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 São Paulo (SP) CEP 05403-000 Tel. InCor (11) 2661-5237 Consultório: (11) 3289-7020/3289-6889 E-mail: [email protected] Fontes de fomento: nenhuma Conflito de interesse: nenhum Data de entrada: 18 de maio de 2012 Data da última modificação: 18 de maio de 2012 Data de aceitação: 28 de maio de 2012 Diagn Tratamento. 2012;17(3):122-5. 125 Residência e ensino médico Pedagogia Médica II Jorge MichalanyI Museu de História da Medicina da Associação Paulista de Medicina Não só a pesquisa e a pós-graduação depreciam o ensino da graduação. Com mais de 60 anos de experiência, considero haver duas qualidades imprescindíveis para o sucesso do ensino: vocação do docente e comportamento do aluno. 1 – Vocação: É a qualidade indispensável para o verdadeiro professor, ou seja, um educador que faz questão de o aluno aprender. O não educador, ou seja, “escarrador de matéria” pouco se importa com o porvir do futuro médico ou com alguns dos estudantes menos aplicados ou indisciplinados. Aliás, educador é como um artista de palco, não pode representar havendo conversa na plateia. 2 – Comportamento do aluno: Quando entrei na Escola Paulista de Medicina (EPM), todos os colegas eram disciplinados, para não dizer educados. Assim que o professor entrava na sala de aula, todos os alunos se levantavam, um gesto de respeito ao mestre. Eu só pude ver isso anos depois, quando fui fazer uma conferência no hospital da Aeronáutica, pois quan- do entrei na sala, todos os enfermeiros, enfermeiras e médicos levantaram-se. Eu olhei para o coronel-comandante e disse: - Coronel, há muito tempo que eu não via acontecer isso, o respeito a um professor, o que não existe mais nas escolas médicas. Meu filho Nílceo e até meu jovem neto queixam-se de que perderam o interesse em ensinar, porque os alunos de hoje ficam falando ao celular, ouvindo música, conversando com a namorada e dormindo, sem prestar a mínima atenção no que o docente está transmitindo. Quando assumi a disciplina de Anatomia Patológica na EPM em 1969, orgulho-me de ter domado uma turma da esquerda festiva, numa época de desrespeito aos professores, e, pior ainda, a um educador, a não ser usando o método da linguagem do tapa. Eu me levantava da mesa e punha o aluno perturbador fora da sala; daí a fama que deixei na EPM de professor valentão. Figura 1. Caricatura do Professor Jorge Michalany. Curador do Museu de História da Medicina da Associação Paulista de Medicina e professor titular aposentado da Escola Paulista de Medicina. I Diagn Tratamento. 2012;17(3):126-7. Jorge Michalany Até no trote eu me compadecia de uns indefesos calouros, e os veteranos, devido à minha interferência, chegaram a fazer uma caricatura na qual eu agarrava um veterano malvado (Figura 1). Por ser contra a esquerda predominante no centro acadêmico e por ter dado um curso de técnica histológica nos Estados Unidos e ser fotografado no Instituto das Forças Armadas Americanas junto com o oficial-diretor, fui alcunhado de espião da CIA (Central Intelligence Agency), mas nem todos os professores pretenderiam ser valentões tal como eu fui na EPM. Há muitos anos eu venho dizendo que o aluno de hoje não quer estudar, ele só almeja o diploma, pensando que depois de formado irá estudar na residência. Grande engano, pois é de pequenino que se torce o pepino, ou seja, de grão em grão é que a galinha enche o papo. EDITOR RESPONSÁVEL POR ESTA COLUNA Olavo Pires de Camargo. Professor titular, Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Museu da Associação Paulista de Medicina (APM) Av. Brigadeiro Luís Antônio, 278 – 5o andar Bela Vista — São Paulo (SP) CEP 01318-901 Tel. (11) 3188-4303 E-mail: [email protected] Fontes de fomento: nenhuma declarada Conflitos de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 20 de outubro de 2011 Data da última modificação: 20 de outubro de 2011 Data de aceitação: 16 de novembro de 2011 Diagn Tratamento. 2012;17(3):126-7. 127 Antonio Américo Friedmann | José Grindler | Carlos Alberto Rodrigues de Oliveira | Alfredo José da Fonseca (supradesnivelamento do segmento ST nas derivações precordiais direitas) e aos complexos QS em algumas derivações, que podem ser confundidos com área inativa.2 Assim, o BRE novo durante uma síndrome coronariana aguda é considerado sinal de alta probabilidade de IAM com supradesnível de ST.3 Todavia, alguns detalhes podem contribuir para o diagnóstico. Sgarbossa e cols.,4 em 1996, estudando um grande número de ECG de pacientes com infarto estabeleceram critérios para o diagnóstico de IAM na presença de BRE. Esses critérios têm baixa sensibilidade (50%), porém, alta especificidade (90%). Sabe-se que o BRE isoladamente determina alterações secundárias da repolarização ventricular (alterações de ST-T); o desnivelamento do segmento ST e a onda T se opõem ao QRS, isto é, o desnivelamento de ST é sempre discordante, em sentido oposto à maior polaridade do QRS. Nesse estudo, verificaram-se três alterações mais importantes que puderam diagnosticar infarto agudo na presença de BRE: • supradesnivelamento de ST concordante com o QRS maior que 1 mm; • infradesnivelamento de ST concordante com o QRS maior que 1 mm; • supradesnivelamento de ST discordante do QRS maior que 5 mm nas derivações V1 a V3. No caso apresentado, verificamos em D2 supradesnivelamento de ST concordante com o QRS de 2 mm, em V1 supradesnivelamento discordante de 5 mm e, em V3 infradesnivelamento concordante de 1 mm. Assim, os três critérios estão preenchidos. Neste ECG, todavia, o diagnóstico de infarto agudo é facilitado pelo supradesnivelamento bem evidente nas três derivações inferiores (D2, D3 e aVF). O ECG permite ainda mais algumas considerações. A elevação do segmento ST maior em D3 do que em D2 indica obstrução da artéria coronária direita e o grande supradesnível em V1, bem maior do que em V2, sugere extensão do infarto para o ventrículo direito.5 Por último, é interessante lembrar que o bloqueio do ramo direito (BRD), ao contrário do BRE, não impede o diagnóstico e não dificulta o acompanhamento evolutivo do IAM no ECG. CONCLUSÃO Como o BRE pode mascarar e também simular IAM no ECG, é importante o conhecimento mais detalhado dessa complicação do infarto. REFERÊNCIAS 1. Friedmann AA. ECG na insuficiência coronária. In: Friedmann AA, editor Eletrocardiograma em 7 aulas: temas avançados e outros métodos. São Paulo: Manole; 2010. p. 149-60. 2. Friedmann AA, Grindler J, Oliveira CAR. Diagnóstico diferencial das ondas Q. In: Friedmann AA, Grindler J, Oliveira CAR, Fonseca AJ, editores. Diagnóstico diferencial no eletrocardiograma. 2a ed. São Paulo: Manole; 2011. p. 97-110. 3. Reuben AD, Mann CJ. Simplifying thrombolysis decisions in patients with Diagn Tratamento. 2012;17(3):128-9. left bundle branch block. Emerg Med J. 2005;22(9):617-20. 4. Sgarbossa EB, Pinski SL, Barbagelata A, et al. Electrocardiographic diagnosis of evolving myocardial infarction in the presence of left bundle-branch block. GUSTO-1 (Global Utilization of Streptokinase and Tissue Plasminogen Activator for Occluded Coronary Arteries) Investigators. N Engl J Med. 1996;334(8):481-7. 5. Oliveira CAR, Friedmann AA, Grindler J. Localização do infarto no ECG. In: Friedmann AA, Grindler J, Oliveira CAR, Fonseca AJ, editores. Diagnóstico diferencial no eletrocardiograma. 2a ed. São Paulo: Manole; 2011. p. 111-24. INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Hospital das Clínicas da FMUSP Prédio dos Ambulatórios Serviço de Eletrocardiologia Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 155 São Paulo (SP) CEP 05403-000 Tel. (11) 2661-7146 Fax. (11) 2661-8239 E-mail: [email protected] Fontes de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 3 de maio de 2012 Data da última modificação: 3 de maio de 2012 Data de aceitação: 14 de maio de 2012 129 Medicina baseada em evidências Considerações sobre revisões sistemáticas de testes diagnósticos Grupo de Estudos de Revisões Sistemáticas de Estudo de Acurácia Diagnóstica do Centro Cochrane do Brasil; Andrea PuchnickI, Daniel WuII, David Carlos ShigueokaIII, Gianni dos SantosIV, Hernani Pinto de Lemos JuniorV, José Eduardo MourãoVI, Wagner IaredVII Centro Cochrane do Brasil, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) A acelerada evolução da medicina, que vinha ocorrendo desde a segunda metade do século passado, adentrou o novo milênio com força total. Os médicos e todos os profissionais que atuam na área da saúde não conseguem sobreviver se não acompanharem as constantes mudanças impostas pela tecnologia, principalmente nos grandes centros urbanos. Nas últimas décadas, a avalanche de novos medicamentos e de técnicas modernas de tratamento motivaram médicos a procurar meios mais rápidos de atualização, assim como de constatar a verdadeira eficácia dessas novas intervenções. Daí surgiu, primeiramente, a medicina baseada em evidências, depois denominada saúde baseada em evidências, quando incorporada por outros profissionais da saúde. As evidências nada mais seriam do que estudos científicos com qualidade metodológica avaliada e potencialmente reprodutíveis, ou seja, todos os dados referentes a ele descritos no trabalho. Isso foi possível em estudos de intervenção para doenças com alta prevalência nos quais havia um número grande de participantes. Entretanto, nas doenças de baixa prevalência, os resultados davam margem a dúvidas, surgindo assim, a revisão sistemática, que supria necessidade de avaliar vários estudos de intervenção. Isso é possível desde que os estudos tenham desenhos semelhantes quanto aos objetivos e intervenção e que sua qualidade metodológica possa ser avaliada. Dessa revisão sistemática, é desejável, e muitas vezes factível, obter a somatória estatística dos dados desses estudos. A isso chamamos metanálise. Mais recentemente, a mesma necessidade aflorou na área de métodos diagnósticos. A evolução dos equipamentos de diagnóstico e o surgimento de novos kits laboratoriais com promessas de diagnósticos mais rápidos, menos invasivos e mais precisos têm sido amplamente divulgados na mídia. Isso atinge a opinião dos pacientes, os governos e os responsáveis pela realização dos exames. Os primeiros, obviamente, querem ter acesso ao melhor exame, os demais querem ter certeza que esses novos exames realmente são superiores aos já existentes, justificando o investimento financeiro, eventualmente, elevado. Logo, revisões sistemáticas de estudos de acurácia diagnóstica passaram a ser realizadas. Diante da falta de consenso sobre a maneira mais adequada de proceder com esse tipo de metodologia, a colaboração Cochrane, pioneira na execução de revisões sistemáticas em estudos de intervenção, resolveu difundir e estimular a criação de revisões sistemáticas em estudos de acurácia. Tanto que criou, dentro do Review Manager (RevMan – programa que a colaboração Cochrane utiliza para orientar a elaboração das revisões e, se possível, proceder à metanálise), uma seção separada, visando unicamente revisões de estudos de acurácia diagnóstica. Foi uma iniciativa brilhante que chamou a atenção de muitos pesquisadores, estimulando-os a trabalhar nessa área. Como tudo na fase inicial, diversas questões ainda não resolvidas dificultam o trabalho. As ferramentas para avaliação da qualidade de estudos individuais de acurácia diagnóstica são diferentes daquelas usadas nos de intervenção. Isso tem gerado confusão na realização de trabalhos por parte dos pesquisadores, assim como das equipes editoriais que os avaliam. Vemos revisões sistemáticas de estudos de acurácia publicadas com termos e apresentação metodológica que seriam apropriados a estudos de intervenção. Isso, em detrimento de valores expressivos de acurácia, como sensibilidade, especificidade e valores preditivos, justamente o que se esperaria de um estudo de acurácia. Não podemos e não devemos fazer trabalhos só para os pesquisadores e burocratas lerem e avaliarem. Nosso objetivo, pau- Especialista em computação gráfica pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Coordenadora de Suporte Pedagógico e à Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo. Aluno do quarto ano de Medicina da Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina. Médico, mestre e doutor em Medicina (Radiologia Clínica). Professor adjunto do Departamento de Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal de São Paulo. IV Mestre em Estatística pela Universidade de São Paulo. Estatística da Universidade Federal de São Paulo. V Médico, mestre e doutor em Medicina Interna e Terapêutica e Medicina Baseada em Evidências da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina. Médico pesquisador do Centro de Pesquisas em Revisões Sistemáticas do Centro Cochrane do Brasil. VI Médico, mestre e doutor em Medicina (Radiologia Clínica). Professor adjunto do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Carlos. VII Médico, doutor em Ciências da Saúde. Assistente de Pesquisas do Centro Cochrane do Brasil. I II III Diagn Tratamento. 2012;17(3):130-2. Grupo de Estudos de Revisões Sistemáticas de Estudo de Acurácia Diagnóstica do Centro Cochrane do Brasil | Andrea Puchnick | Daniel Wu | David Carlos Shigueoka | Gianni dos Santos | Hernani Pinto de Lemos Junior | José Eduardo Mourão | Wagner Iared tado na honestidade dos dados apresentados, deve ser a definição de quão bom é o teste estudado e qual o seu desempenho (superior, semelhante ou inferior) em relação aos já existentes. Se tivermos que mostrar evidências, não podemos apresentar indícios percentuais inominados e deixar a cargo do leitor fazer os cálculos. Temos que dar nome e sobrenome aos dados apresentados para podermos valorizar a conclusão do trabalho com resultados expressivos e inteligíveis, e não com nossa opinião. Se uma revisão sistemática encontra dois estudos ou mais com desenhos semelhantes, avaliando a acurácia de determinado teste em um mesmo espectro de pacientes, é possível obter os resultados sumários, ou seja, a metanálise. Essa, por sua vez, deve ser expressa pelo menos em termos da sensibilidade e da especificidade do teste avaliado, com seus respectivos intervalos de confiança. Dessa forma, é possível inferir outros dados, como os valores preditivos positivo e negativo e razões de verossimilhança. Uma diferença importante das revisões sistemáticas de estudos de acurácia para as de estudos de intervenção é a avaliação da qualidade. Sacket e cols. sugeriram, para avaliar a qualidade de cada estudo, que se respondesse a quatro perguntas que avaliam se houve cegamento dos resultados entre os aplicadores do teste índex e do padrão referência; se o espectro de pacientes foi adequado; se houve independência da aplicação do padrão referência; e se o padrão foi aplicado a toda a amostra.1 Entretanto, a experiência mostrou que quatro perguntas eram insuficientes para avaliar a qualidade de muitos estudos. O QUADAS (Quality Assessment of Diagnostic Accuracy Studies) foi uma ferramenta desenvolvida para abranger outras questões pertinentes.2 O QUADAS faz uso de 14 questões, detalhando as características da seleção dos pacientes (espectro), verificação parcial (se toda a amostra foi submetida ao padrão referência), verificação diferencial (se mais de um padrão referência foi utilizado), cegamento dos resultados, características do padrão referência, características do teste índex e perdas durante o estudo. Com isso, a validade interna, validade externa e relato são avaliados. Contudo, ainda assim, havia situações em que algumas questões do QUADAS não se aplicavam, e situações em que havia necessidade da inclusão de outras. Hoje, temos o QUADAS 2, uma ferramenta que se adapta ao tipo de teste e de doença que se quer avaliar e compreende quatro domínios: 1) seleção de pacientes, 2) teste avaliado, 3) padrão referência, 4) fluxo e tempo. Esses quatro aspectos avaliam o risco de viés dos trabalhos. Os três primeiros também avaliam a aplicabilidade do estudo. Essa ferramenta, basicamente, consiste em se desenhar um modelo ideal hipotético de teste de acurácia para avaliar determinado teste para determinado espectro de pacientes. São formuladas questões pertinentes para que se possa comparar cada estudo encontrado pela estratégia de busca com o teste idealizado.3 Uma questão que sempre vem à tona quando se agrupam estudos de acurácia diagnóstica sobre uma mesma condição Diagn Tratamento. 2012;17(3):130-2. clínica e mesmo teste avaliado é a heterogeneidade dos resultados. Enquanto a heterogeneidade é uma exceção em estudos de intervenção, é uma regra em estudos de acurácia diagnóstica.4 Nem sempre fica claro o motivo da heterogeneidade. Possivelmente, o espectro de pacientes em diferentes sítios de pesquisa seja o principal fator, na maioria dos casos. Mas, é claro, os casos devem ser avaliados individualmente. Em revisões sistemáticas de estudos de intervenção, um ou poucos estudos com resultados muito heterogêneos, diante da maioria, são eventualmente excluídos da metanálise. Isso não deve ocorrer em estudos de acurácia diagnóstica, uma vez que o espectro de pacientes, condição clínica, teste avaliado e padrão referência sejam os mesmos. Posto isso, temos um impasse na melhor maneira de agrupar matematicamente os resultados de vários estudos de acurácia. Para estudos não heterogêneos, uma vez que não há randomização em estudos de acurácia de qualidade, o seu agrupamento é uma opção válida para realizar a metanálise, mas quando há heterogeneidade, esse fator deve ser levado em conta. A comparação de diferentes testes individuais de uma revisão sistemática pode ser feita visualmente em uma curva receptor operador (receiver operating characteristic, ROC), ou em um gráfico de floresta, onde temos valores de sensibilidade e especificidade com seus respectivos intervalos de confiança.4 A colaboração Cochrane sugere que se utilize o modelo de curva receptor operador hierárquica sumária (Hierarchical Summary Receiver Operating Characteristic, HSROC)5 ou o modelo bivariável,6 para a obtenção de estimativas sumárias de sensibilidade e especificidade, com seus respectivos intervalos de confiança. Aguardamos, ansiosamente, a atualização prometida do RevMan em estudos de acurácia para facilitar a realização e homogeneizar os resultados e conclusões entre os autores. REFERÊNCIAS 1.Sackett DL, Richardson WS, Rosenberg W, Haynes RB. Evidencebased medicine. How to practice and teach EBM. New York: Churchill Livingstone; 1997. 2. 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J Clin Epidemiol. 2005;58(10):982-90. 131 132 Considerações sobre revisões sistemáticas de testes diagnósticos EDITOR RESPONSÁVEL POR ESTA COLUNA Álvaro Nagib Atallah. Professor titular e chefe da Disciplina de Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências da Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina (Unifesp-EPM). Diretor do Centro Cochrane do Brasil e Diretor da Associação Paulista de Medicina (APM). E-mail: [email protected] INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Wagner Iared Centro Cochrane do Brasil Rua Pedro de Toledo, 598 Vila Clementino – São Paulo (SP) CEP 04039-001 Tel./Fax. (11) 5575-2970/5579-0469 E-mail: [email protected] Fonte de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 10 de maio de 2012 Data da última modificação: 28 de maio de 2012 Data de aceitação: 4 de junho de 2012 Diagn Tratamento. 2012;17(3):130-2. 134 Tratamento psicoterápico para disfunção sexual feminina A experiência de excitação sexual feminina não é primariamente uma experiência de vasocongestão genital e lubrificação. O modelo circular evidencia que a excitação subjetiva é fortemente modulada por emoções e cognições. Estudo que comparou dois grupos de mulheres (funcionais e disfuncionais) identificou resultados melhores nas primeiras, embora não houvesse diferença significativa entre os grupos quanto à resposta vaginal.7 Comparando a correlação entre excitação subjetiva e respectiva autoavaliação, as mulheres tendem mais que os homens a relatar falta de excitação, quando os sinais fisiológicos indicam o contrário.8 Outro aspecto essencial para a função sexual feminina, e consequentemente para o desencadeamento de disfunções, é o contexto sexual, incluindo a qualidade do estímulo e do padrão relacional do casal. A atividade sexual reflete modelos relacionais próprios do desenvolvimento do indivíduo. Refletem como a família de origem demonstra amor e afeto, experiências sexuais traumáticas anteriores, crenças religiosas, culturais e sociais sobre sexo, impacto da mídia sobre conceitos e comportamentos, exercendo função importante na etiologia e na manutenção das dificuldades sexuais. DIAGNÓSTICO DAS DISFUNÇÕES SEXUAIS A avaliação da disfunção sexual inclui fatores predisponentes, precipitantes, mantenedores e contextuais.9 Para disfunções de longa duração ou presentes desde o início da vida sexual, a história do desenvolvimento e dos relacionamentos anteriores são relevantes, enquanto para dificuldades no relacionamento atual, fatores contextuais tendem a ser mais importantes.1 A epidemiologia identificou elementos para a criação de um modelo etiológico para a compreensão da função e da disfunção sexual, dividindo-os nas seguintes categorias:9 Fatores predisponentes: constitucionais (doenças congênitas, deformidades anatômicas) e experiências prévias (vínculos problemáticos, pais negligentes ou críticos, educação restritiva, abuso físico ou sexual e violência). Caracterizam-se pela repressão à autonomia e à participação ativa e segura nos relacionamentos. Alguns indivíduos são mais resilientes a situações adversas, enquanto outros são mais susceptíveis a essas experiências estressantes. Fatores precipitantes: relacionam-se às condições de vida que podem desencadear disfunção sexual nas pessoas mais vulneráveis. Divórcio ou separação conflituosa, experiências sexuais não satisfatórias, acidente ou cirurgia mutiladora aumentam a pressão em determinados estágios da vida, o que pode configurar uma crise. Além disso, a repetição de experiências sexuais insatisfatórias pode comprometer a autoestima e, consequentemente, a saúde sexual mesmo de um indivíduo menos vulnerável. Fatores mantenedores: responsáveis por transformar fracassos sexuais eventuais em dificuldades mais sérias, evidenciando a ausência de recursos pessoais para lidar com desafios que a vida naturalmente traz. Incluem: conflitos no relacionamento, ansiedade em relação ao desempenho, culpa, informação ou estimulação sexual inadequada, perda do encanto sexual, estresse emocional, ocupacional ou pessoal, perda de autoconfiança sexual, preocupações com alterações corporais, desordens psiquiátricas, medo da intimidade, restrições em relação às preliminares e comunicação difícil. Fatores contextuais: são estressores atuais, tais como problemas financeiros graves, desemprego, fadiga devido a cuidados da prole, exigências do parceiro ou de pais idosos. Podem ser ambientais, como quando o casal trabalha em turnos diferentes e tem pouca privacidade. Mesmo quando esses fatores se iniciaram em decorrência de uma dificuldade pontual, podem se tornar crônicos.9 Tendo como referência o modelo biopsicossocial, para realizar um diagnóstico que aborde todas essas categorias de fatores de risco, o roteiro deve incluir história médica, psicossocial e sexual, assim como o desconforto associado à disfunção, abordando o contexto atual, passado e do início da dificuldade, a resposta sexual atual e a participação do parceiro.1 Algumas das dificuldades psicossociais mais frequentes relacionam-se ao medo de perder o controle, de resultados negativos ou dificuldade da mulher em permanecer atenta ao momento presente, além de ausência ou informação insuficiente sobre a resposta sexual feminina.1 O contexto atual inclui a investigação do uso de medicações e drogas, cansaço, presença de dor não sexual, assim como características e duração do relacionamento atual, valores e crenças sociais que afetam a sexualidade, contexto em que ocorre a atividade sexual (tipo de estimulação sexual, sentimentos da mulher pela parceria, segurança e privacidade). O contexto do passado inclui história médica e de desenvolvimento (relacionamento com pais e irmãos), traumas e perdas. Deve abordar experiências sexuais passadas (sozinha ou acompanhada), identificando se foram desejadas, mediante coerção ou abusiva. A investigação do início da dificuldade deve incluir detalhes médicos e psiquiátricos, características do relacionamento e os aspectos sexuais. A resposta sexual atual envolve detalhes dos efeitos da condição médica na atividade sexual, fatores de personalidade (necessidade de controle e habilidade para expressar emoções não sexuais), ciclo de resposta sexual, inclusive a ocorrência de dor.1 A TERAPÊUTICA DAS DISFUNÇÕES SEXUAIS FEMININAS A influência de questões psicológicas e relacionais na saúde sexual e no desencadeamento das disfunções sexuais torna necessária a abordagem dos aspectos biopsicossociais da mulher, do parceiro e também do casal.9 Estudos populacionais apontam que dificuldades sexuais do parceiro causam impacto no casal.10 Por essa razão, a saúde do parceiro, seu humor e saúde mental, sua reação aos problemas sexuais da mulher e seu ciclo de resposta sexual devem também ser investigados.1 Nessa perspectiva, a terapêutica deve ser orientada para o prazer dos parceiros e do casal. Implica na aceitação da função Diagn Tratamento. 2012;17(3):133-7. Heloisa Junqueira Fleury | Carmita Helena Najjar Abdo e da satisfação sexual com características variáveis e flexíveis. Para prevenir recidivas, é essencial definir expectativas sexuais positivas e realistas durante todo o processo.11 A mudança do foco para o erotismo e a satisfação sexual tem sido preconizada nas tendências atuais em terapia sexual.12 Recomenda-se uma abordagem multidisciplinar, visto que componentes psicológicos e relacionais tornam insuficiente o tratamento apenas medicamentoso.1,9 Considerando que qualquer consulta clínica envolve uma interação verbal, é importante que os profissionais de saúde atuem com potencial terapêutico, dando informações e aconselhamentos básicos, por exemplo. Também precisam conhecer alguns princípios elementares das abordagens psicoterapêuticas para fazerem os encaminhamentos necessários.13 A terapêutica inicia-se pelos aspectos mais gerais relacionados à melhora do bem-estar emocional e físico, com a identificação de sintomas de depressão e ansiedade, abuso de álcool ou uso de substâncias químicas, adequação do sono, exercícios, alimentação e uso de medicações. Na presença de doenças ou sintomas psicológicos importantes, deve-se encaminhar a profissional especializado.1 Intervenções fisioterapêuticas também podem contribuir para a capacidade orgásmica, por meio do fortalecimento do assoalho pélvico.12 No caso de vaginismo, essas intervenções são fundamentais para a capacitação ao relaxamento da musculatura vulvovaginal. O tratamento pode ter um caráter psicoeducativo, quando necessário, abordando a resposta sexual, a anatomia e a fisiologia genital básica.13 Também pode incluir orientações sobre atividades e estimulação sexual diferentes do coito e técnicas que facilitem a excitação, com ênfase no fortalecimento do estímulo e do contexto sexual.1 A terapia sexual valoriza a abordagem das influências contextuais na resposta sexual. Recomenda-se enfatizar a questão da idade e da necessidade de garantir que as expectativas sejam compatíveis com a realidade.12 Na etapa de diagnóstico, identifica-se a influência de fatores relacionados à vulnerabilidade da mulher, tais como atitudes negativas em relação a si mesma e ao seu corpo, necessidade de manter controle em situações da vida e sexuais, abuso sexual na história de vida com revivências por ocasião do encontro sexual.1 AS ABORDAGENS PSICOTERÁPICAS As intervenções psicoterápicas caracterizam-se por alguns princípios básicos: • não se contrapõem às intervenções médicas, podendo ser combinadas; • o planejamento é individualizado para cada caso, envolvendo técnicas decorrentes de diferentes abordagens teóricas; • resultam em efeitos específicos, como mudanças nos padrões cognitivos e de comportamento, conscientização de emoções e capacidade de atribuir novos significados a eventos vitais; Diagn Tratamento. 2012;17(3):133-7. • focam em características pessoais da mulher, como percepção de seu próprio corpo, sua imagem corporal, seus pensamentos, sentimentos e comportamentos sexuais, seu relacionamento sexual (parceria, casal, família) e seu contexto social e sexual, tais como, cultura e normas sexuais; • abordam a experiência e a reação da mulher como um todo; • definem uma estratégia personalizada, incluindo desde aconselhamento básico até intervenções mais especializadas.13 Como a atividade sexual é basicamente uma experiência corporal, é importante que ela desperte sensações agradáveis por todo o corpo. No entanto, a cultura ainda apoia uma educação que desestimula a mulher de conectar-se às sensações corporais, o que pode gerar vergonha dos órgãos genitais e muito frequentemente um desconhecimento sobre eles. Algumas intervenções psicoterapêuticas buscam conscientizá-la dessas sensações prazerosas e dos sinais sexuais dados pelo corpo, assim como das condições facilitadoras ou inibidoras provocadas pelas sensações de prazer. Ajudam ativamente a provocar prazer e explorar o corpo e a genitália, reconhecendo ou reativando padrões pessoais de excitação, estimulação e prazer.13 Exercícios de autoconsciência têm apresentado bons resultados.14 Fundamentam-se na discordância comum em mulheres entre a experiência subjetiva de excitação e a resposta fisiológica,8 o que tem sido relacionado à dificuldade de identificação das sensações corporais internas, ou seja, a consciência interoceptiva.15 Considera-se que julgamentos de inadequação, vergonha, culpa e ansiedade podem monopolizar os pensamentos da mulher e distanciá-la do momento presente, interferindo na consciência interoceptiva.3 As barreiras de natureza psicológica que interferem na consciência interoceptiva e consequentemente no funcionamento sexual são: atenção (dificuldade em manter o foco ou identificar as sensações corporais), autojulgamento (autoavaliação negativa ou falta de autoaceitação) e sintomas clínicos (depressão, ansiedade). Essas “distrações” deixam a mulher subjetivamente não excitada. Esses exercícios melhoram significativamente as três categorias de barreiras psicológicas (atenção, autojulgamento e sintomas clínicos) e a capacidade de identificar e diferenciar sensações corporais, diminuindo o tempo de reação ao estímulo sexual e melhorando a percepção das respostas fisiológicas ao estímulo sexual.15 Modalidades tradicionais de terapia sexual também são utilizadas. Incluem exercícios de foco sensorial, como a troca de toques físicos partindo de áreas não sexuais do corpo para as sexuais, com os parceiros se revezando e reagindo verbal e tatilmente.16,17 Terapias de tempo limitado vêm sendo propostas, devido às possibilidades comprovadas de benefícios a custo menor do que processos terapêuticos prolongados. Nessa modalidade, que pode ser aplicada para atendimento individual ou em grupo, os objetivos são estabelecidos no início, favorecendo a criação de um contexto apropriado para o tratamento. Nos grupos, os 135 136 Tratamento psicoterápico para disfunção sexual feminina participantes podem identificar rapidamente algo em comum entre si, o que pode ser intensificado por meio de alguns modelos de seleção dos participantes, como o demográfico (grupos de mulheres, grupo de adolescentes, por exemplo), o de homogeneização pela crise (grupos de vítimas de violência) ou de diagnóstico (grupos com histórico de depressão).18 No Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), o modelo de intervenção é a Psicoterapia de Grupo Tematizada e de Tempo Limitado para disfunções sexuais.19 Esse modelo consta de 16 sessões, com 90 minutos de duração cada e frequência semanal.20 Devido à interação das participantes no grupo, o potencial de apreensão de temas específicos, tais como resposta sexual feminina e orientações básicas relativas à função sexual, é amplificado nos atendimentos grupais, pela maior possibilidade de troca de vivências e experiências sexuais. Nesse sentido, a experiência grupal ganha função psicoeducativa.21 CONCLUSÕES Os estudos populacionais têm proporcionado um conhecimento cada vez mais detalhado do impacto de fatores psicossociais e relacionais sobre a vida sexual feminina, confirmando a complexidade e a diversidade de fatores relacionados. As disfunções sexuais femininas têm desafiado os estudiosos, que buscam terapêuticas medicamentosas ou técnicas psicoterapêuticas que possam atender melhor a essa condição. Muitas mulheres podem ser favorecidas com a criação de um contexto apropriado para a aquisição de informações básicas sobre seu funcionamento e resposta sexual. Outras necessitam de tratamentos medicamentosos para situações específicas e/ou exigem processos psicoterapêuticos mais complexos. A partir do crescente conhecimento sobre disfunções sexuais, o novo desafio para o profissional de saúde tem sido introduzir o tema da sexualidade nos atendimentos e elaborar um diagnóstico completo que permita intervenção multidisciplinar apropriada à singularidade de cada caso. REFERÊNCIAS 1. Basson R, Wierman ME, van Lankveld J, Brotto L. Summary of the recommendations on sexual dysfunctions in women. J Sex Med. 2010;7(1 Pt 2): 314-26. 2. Abdo CHN. Descobrimento sexual do Brasil. São Paulo: Summus; 2004. 3. Basson R. Human sex-response cycles. J Sex Marital Ther. 2001;27(1):33-43. 4. Kahr B. O sexo e a psique. Rio de Janeiro: Best Seller, 2009. 5. Carvalheira AA, Brotto LA, Leal I. Women’s motivations for sex: exploring the diagnostic and statistical manual, fourth edition, text revision criteria for hypoactive sexual desire and female sexual arousal disorders. J Sex Med. 2010;7(4 Pt 1):1454-63. 6. Risen CB. Listening to sexual stories. In: Levine SB, Risen CB, Althof SE, editors. Handbook of clinical sexuality for mental health professionals. New York: Brunner-Routledge; 2003. p. 3-18. 7. Middleton LS, Kuffel SW, Heiman JR. Effects of experimentally adopted sexual schemas on vaginal response and subjective sexual arousal: a comparison between women with sexual arousal disorder and sexually healthy women. Arch Sex Behav. 2008;37(6):950-61. 8. Chivers ML, Seto MC, Lalumière ML, Laan E, Grimbos T. Agreement of selfreported and genital measures of sexual arousal in men and women: a meta-analysis. Arch Sex Behav. 2010;39(1):5-56. 9. McCabe M, Althof SE, Assalian P, et al. Psychological and interpersonal dimensions of sexual function and dysfunction. J Sex Med. 2010;7(1 Pt 2): 327-36. 10.Hartmann U, Philippsohn S, Heiser K, Rüffer-Hesse C. Low sexual desire in midlife and older women: personality factors, psychosocial development, present sexuality. Menopause. 2004;11(6):726-40. 11. McCarthy B, McDonald D. Sex therapy failures: a crucial, yet ignored, issue. J Sex Marital Ther. 2009;35(4):320-9. 12.Meana M, Jones S. Developments and trends in sex therapy. Adv Psychosom Med. 2011;31:57-71. 13.Bitzer J, Brandenburg U. Psychotherapeutic interventions for female sexual dysfunction. Maturitas. 2009;63(2):160-3. 14.Silverstein RG, Brown AC, Roth HD, Britton WB. Effects of mindfulness training on body awareness to sexual stimuli: implications for female sexual dysfunction. Psychosom Med. 2011;73(9):817-25. 15.Salonia A, Giraldi A, Chivers ML, et al. Physiology of women’s sexual function: basic knowledge and new findings. J Sex Med. 2010;7(8):2637-60. 16.Masters WH, Johnson VE. A resposta sexual humana. São Paulo: Roca; 1984. 17.Kaplan HS. A nova terapia do sexo. 3a ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1977. 18. Fleury HJ. Grupo de mulheres. Revista Brasileira de Psicodrama. 2006;14(1):121-30. Disponível em: http://www.febrap.org.br/loja/Produto. aspx?idp=24. Acessado em 2012 (22 mai). 19.Abdo CHN. Sexualidade humana e seus transtornos. 4a ed. São Paulo: Leitura Médica; 2012. 20.Abdo CH, Afif-Abdo J, Otani F, Machado AC. Sexual satisfaction among patients with erectile dysfunction treated with counseling, sildenafil, or both. J Sex Med. 2008;5(7):1720-6. 21.Fleury HJ, Abdo CHN. Uma proposta psicoterápica para a mulher climatérica. In: Fleury HJ, Marra MM, orgs. Intervenções grupais na saúde. São Paulo: Ágora; 2005. p. 53-72. EDITOR RESPONSÁVEL POR ESTA SEÇÃO Carmita Helena Najjar Abdo. Psiquiatra, livre-docente e professora associada do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Fundadora e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Heloisa Junqueira Fleury Rua Sergipe, 401 — conjunto 309 São Paulo (SP) CEP 01243-906 Tel. (11) 3256-9928 E-mail: [email protected] Fontes de fomento: nenhuma Conflito de interesse: nenhum Data de entrada: 17 de maio de 2012 Data da última modificação: 17 de maio de 2012 Data de aceitação: 28 de maio de 2012 Diagn Tratamento. 2012;17(3):133-7. Heloisa Junqueira Fleury | Carmita Helena Najjar Abdo PALAVRAS-CHAVE: Sexualidade. Psicologia. Disfunções sexuais psicogênicas. Psicoterapia. Erotismo. RESUMO Disfunção sexual feminina refere-se à alteração do interesse pela atividade sexual, à dificuldade com a excitação subjetiva e/ou genital e em desencadear o desejo durante o envolvimento sexual, à disfunção do orgasmo e da dor à relação sexual, bem como à impossibilidade de relaxamento vaginal (para permitir a penetração). O conceito atual de função sexual valoriza o aspecto responsivo do desejo feminino, desencadeado por estímulo e contexto sexual adequados. O diagnóstico deve considerar história médica, psicossocial e sexual, contexto atual, passado e do início da dificuldade, resposta sexual atual e participação do parceiro. Medo de perder o controle, de resultados negativos, dificuldade em permanecer atenta ao momento presente e falta ou informação insuficiente sobre a resposta sexual feminina são frequentes. Para tratar as disfunções sexuais femininas, recomenda-se abordagem multidisciplinar, visto que apenas o tratamento medicamentoso é insuficiente. Inicia-se pela melhora do bem-estar emocional e físico. Seguese a abordagem da resposta sexual, anatomia e fisiologia genital básicas, orientação sobre atividades e estimulação sexual diferentes do coito e técnicas que facilitem a excitação. Idade e expectativas realistas devem ser abordadas. Algumas intervenções aumentam a conscientização das sensações prazerosas e dos sinais sexuais emitidos pelo corpo, promovem a exploração do corpo e da genitália. Exercícios de autoconsciência têm apresentado bons resultados, assim como modalidades tradicionais de terapia sexual. Terapias de tempo limitado têm mostrado eficiência a custo menor do que processos terapêuticos prolongados. Muitas mulheres podem melhorar a atividade sexual apenas com a criação de um contexto apropriado para a aquisição de informações básicas sobre o funcionamento e a resposta sexual, enquanto outras precisam de intervenções psicoterapêuticas mais complexas. Diagn Tratamento. 2012;17(3):133-7. 137 Orientações baseadas em evidências para os pacientes Distúrbios da voz – “rouquidão” Vanessa Pedrosa VieiraI Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Os problemas com a voz, popularmente conhecidos como rouquidão, são considerados fenômenos que atingem diferentes dimensões da vida do falante e limitam o bem-estar físico, social, emocional e também o desempenho profissional.1 Os sintomas mais comuns da rouquidão são: cansaço e fraqueza vocal, queimação, coceira, dor, secura e irritação na garganta, instabilidade ou tremor na voz e esforço para falar.2 Uma rouquidão com duração de mais de 15 dias exige atenção e pode ser necessária a avaliação médica otorrinolaringológica e fonoaudiológica. A avaliação da voz deve ser abrangente e incluir a identificação dos aspectos causadores da rouquidão e prováveis fatores de risco, análise do desempenho vocal diário, impacto da rouquidão na qualidade de vida do paciente e definição da hipótese diagnóstica para seguir com o tratamento mais adequado.3 Os fatores que podem ser considerados risco para a saúde vocal são: falar em alta intensidade por períodos longos e diariamente, gritar, tabagismo, bebidas alcoólicas, refluxo gastroesofágico, rinites e alergias, falar ou cantar utilizando um tom muito acima ou abaixo do padrão da voz normal, cochichar, falar com postura corporal inadequada, qualidade do ar inadequada (sujeira e umidade), condições acústicas do ambiente ineficientes que obrigam o indivíduo a falar mais alto, entre outros.4 Os profissionais com maior risco para desenvolverem rouquidão pelo uso da voz são: professores, atendentes de telemarketing, vendedores, cantores, atores, advogados, jornalistas etc. São profissionais que utilizam a voz com mais exigência e demanda e por isso precisam cuidar de aspectos de prevenção. ESTRATÉGIAS PARA CUIDAR DA VOZ E HIGIENE VOCAL A higiene vocal é um conjunto de orientações (Quadro 1) que faz parte da prevenção e reabilitação da saúde vocal e envolve: educação sobre cuidados com a voz, eliminação de abuso e mau uso vocal, redução do volume vocal, redução da quantidade de fala e gerenciamento de hidratação.5,6 Pesquisas que avaliaram a efetividade da higiene vocal como um protocolo de orientações apresentaram nível de evidência 1A.7 A classificação de evidência segue os critérios estabelecidos pelo Centre for Evidence Based Medicine de Oxford.8 Quadro 1. Orientações de higiene vocal 1.Beber água constantemente. A água hidrata o organismo e favorece uma emissão vocal com menos esforço e em melhores condições.9 Nível de evidência 1b. 2.Evitar alimentos gordurosos e condimentados antes do uso profissional da voz. Esses alimentos aumentam a produção de secreção na garganta e dificultam a produção da voz. 3.Evitar gritar ou falar em forte intensidade por longos períodos. Fazer descanso da voz após uso intenso.10 Nível de evidência 5. 4.Em caso de pigarro e tosse constante, procurar um médico para tratamento, porque esses dois fatores causam intenso atrito entre as pregas vocais. Fazer tosse e pigarro silencioso para limpar a garganta.11 Nível de evidência 5. 5.Aumentar a ingestão de líquido quando estiver em ar condicionado. 6.Não usar pastilhas, sprays, gengibre, própolis para tratar a voz. Esses produtos não tratam, apenas causam a sensação de anestesia. Porém, pioram o abuso da voz e ressecam a garganta. 7.Evitar falar muito quando estiver gripado ou em crise alérgica, pois, nesses casos, o tecido que reveste a laringe está inchado e haverá grande atrito entre pregas vocais durante a fala. 8.Evitar fumar e ingerir bebidas alcoólicas em excesso. Tais hábitos irritam os tecidos da laringe. Além disso, o cigarro aumenta consideravelmente o risco para o desenvolvimento do câncer de laringe e pulmão. 9.Evitar falar grosso ou fino demais, travar os dentes ao falar e falar muito rápido. 10.Evitar usar medicamentos sem orientação médica. O uso de anti-inflamatórios e antibióticos de forma indiscriminada pode piorar a voz. Ficar atento a medicações que causam sensação de boca seca e aumentar ingestão de água nesses casos. 11.Os profissionais da voz precisam fazer aquecimento vocal diariamente para desempenharem suas atividades profissionais. Por isso, devem procurar um fonoaudiólogo que desenvolva uma seleção de exercícios adequada à sua demanda vocal.12 Nível de evidência 3b. 12.A voz envelhece, como todo o corpo. Uma voz treinada pode retardar os sinais de envelhecimento por meio de exercícios, hábitos saudáveis e controles periódicos de saúde. Pessoas idosas podem apresentar vozes mais fracas e instáveis. O treinamento fonoaudiológico pode minimizar esses sintomas. Fonoaudióloga. Especialista em voz e mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). I Diagn Tratamento. 2012;17(3):138-9. Vanessa Pedrosa Vieira TRATAMENTO O tratamento adequado de uma rouquidão evita que os sintomas entrem em um círculo vicioso onde os fatores sociais, emocionais e profissionais, alteram e reforçam o distúrbio vocal, o quadro psicológico e a qualidade de vida.13 Esses tratamentos envolvem a identificação, a conscientização e a modificação de hábitos danosos para a voz, organização de princípios terapêuticos que trabalharão o músculo e a mucosa da prega vocal, ressonância e a aquisição de habilidades motoras e acústicas capazes de interferir em diversos sistemas fisiológicos14 e, às vezes, pode ser necessário uso de medicamentos e cirurgias. REFERÊNCIAS 1. Verdolini K Ramig LO. Review: occupational risks for voice problems. Logoped Phoniatr Vocol. 2001;26(1):37-46. 2. Mathieson L, Hirani SP, Epstein R, et al. Laryngeal manual therapy: a preliminary study to examine its treatment effects in the management of muscle tension dysphonia. J Voice. 2009;23(3):353-66. 3. Oates J. The evidence base for the management of individuals with voice disorders. In: Reilly S, Douglas J, Oates J. Evidence based practice in speech pathology. London: Whurr Publishers; 2004. p. 110-39. 4. Vilkman E. Occupational risk factors and voice disorders. Logoped Phoniatr Vocol. 1996;21(3-4):137-41. 5. Zambom F, Behlau M. Bem estar vocal. Uma nova perspectiva de cuidar da voz. 2a ed. São Paulo: Sinpro SP; 2011. 6. Thomas LB, Stemple JC. Voice therapy: does science support the art? Communicative Disorders Review. 2007;1(1):49-77. 7. Ruotsalainen JH, Sellman J, Lehto L, Jauhiainen M, Verbeek JH. Interventions for treating functional dysphonia in adults. Cochrane Database Syst Rev. 2007;18(3):CD006373. 8. Centre for Evidence Based Medicine. Oxford Centre for Evidence-based Medicine - Levels of Evidence (March 2009). Disponível em: http://www. cebm.net/index.aspx?o=1025. Acessado em 2012 (12 abr). 9. Yiu EM, Chan RM. Effect of hydration and vocal rest on the vocal fatigue in amateur karaoke singers. J Voice. 2003;17(2):216-27. 10.van der Merwe A. The voice use reduction program. Am J Speech Lang Pathol. 2004;13(3):208-18. 11. Deem J, Miller L. Manual of voice therapy. 2nd ed. Austin: TX:Pro-Ed; 2000. 12.McHenry M, Johnson J, Foshea B. The effect of specific versus combined warm-up strategies on the voice. J Voice. 2009;23(5):572-6. 13.MacKenzie K, Millar A, Wilson JA, Sellars C, Deary IJ. Is voice therapy an effective treatment for dysphonia? A randomised controlled trial. BMJ. 2001;323(7314):658-61. 14.Sandage MJ, Pascoe DD. Translating exercise science into voice care. Perspectives on Voice and Voice Disorders. 2010;20:84-9. Disponível em: http://div3perspectives.asha.org/content/20/3/84.abstract. Acessado em 2012 (12 abr). INFORMAÇÕES Esta seção é um serviço público da Revista Diagnóstico & Tratamento. As informações e recomendações contidas neste artigo são apropriadas na maioria dos casos, mas não substituem o diagnóstico do médico. Esta página pode ser fotocopiada não comercialmente por médicos e outros profissionais de saúde para compartilhar com os pacientes. Diagn Tratamento. 2012;17(3):138-9. Endereço para correspondência: Av. Ibirapuera, 2.907 — conjunto 1.704 Moema — São Paulo (SP) CEP 04729-200 Tel. (11)5093-8688/2478-4372 E-mail: [email protected] Fontes de fomento: nenhuma Conflitos de interesse: nenhum Data de entrada: 30 de março de 2012 Data da última modificação: 4 de abril de 2012 Data de aceitação: 19 de abril de 2012 139 Destaques Cochrane Profilaxia com antimicrobianos para cirurgia colorretal Autora da tradução: Rachel RieraI Autora dos comentários independentes: Angelita Habr-GamaII RESUMO Introdução: Estudos mostram que a administração profilática de antibióticos antes da cirurgia colorretal previne a infecção da ferida cirúrgica no pós-operatório. No entanto, o antibiótico mais efetivo, a duração mais adequada do tratamento e a melhor via de administração permanecem indeterminados. Objetivos: Estabelecer a eficácia da profilaxia antimicrobiana para a prevenção de infecção da ferida cirúrgica em pacientes submetidos à cirurgia colorretal. 1. Determinar se profilaxia antimicrobiana reduz o risco de infecção da ferida cirúrgica; 2. Determinar as bactérias-alvo (aeróbias e/ou anaeróbias); 3. Determinar o melhor tempo e duração da administração de antibióticos; 4. Determinar a via mais eficaz de administração de antibióticos (intravenosa, oral ou ambas); 5. Determinar se qualquer antibiótico é claramente mais eficaz do que o padrão ouro atualmente recomendado. Métodos: Revisão sistemática Cochrane, na qual foram realizadas buscas nas bases de dados Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL), Medline e Embase. Foram incluídos ensaios clínicos randomizados sobre o uso profilático de antibióticos em cirurgia colorretal eletiva e de emergência, e que incluíram infecção da ferida cirúrgica como desfecho. Resultados: Esta revisão sistemática incluiu 182 ensaios (30.880 participantes), e 50 diferentes antibióticos, incluindo 17 cefalosporinas. Muitos estudos tiveram múltiplas variáveis que diferenciavam os dois grupos comparados e por isso não foi possível compará-los com outros estudos que testaram apenas um antibiótico e que tiveram uma única variável diferenciando os dois grupos. A metanálise demonstrou uma diferença estatisticamente significativa na frequência de infecção da ferida cirúrgica no pós-operatório quando antibióticos profiláticos foram comparados com placebo ou nenhum tratamento (risco relativo, RR: 0,30; intervalo de confiança, IC de 95%: 0,22-0,41). Não houve diferença estatisticamente significativa ao comparar a duração de curto e longo prazo da profilaxia (RR 1,06, IC 95% 0,89-1,27); ou dose única versus doses múltiplas de antibióticos (RR 1,17, IC 95% 0,67-2,05). Coberturas adicionais para aeróbios ou anaeróbios mostraram melhora estatisticamente significativa na taxa de infecção da ferida cirúrgica (RR 0,41, IC 95% 0,23-0,71 e RR 0,55, IC 95% 0,35-0,85, respectivamente). Do mesmo modo, profilaxia oral combinada com intravenosa mostrou melhora estatisticamente significativa na taxa de infecção da ferida cirúrgica quando comparado com a administração intravenosa isolada (RR 0,55, IC 95% 0,41-0,74) ou oral isolada (RR 0,34, IC 95% 0,13-0,87). Esquemas considerados como padrão-ouro não foram menos efetivos que qualquer outra escolha de antibiótico. Conclusões: Antibióticos cobrindo bactérias aeróbias e anaeróbias devem ser administrados por via oral e por via intravenosa antes da cirurgia colorretal. Antibióticos administrados neste esquema reduzem o risco de infecção da ferida cirúrgica no pós-operatório em pelo menos 75%. São necessárias mais pesquisas para estabelecer o momento ideal para iniciar a profilaxia, a duração e a frequência de efeitos adversos em longo prazo, tais como a colite pseudomembranosa por Clostridium difficile. REFERÊNCIA 1. Nelson RL, Glenny AM, Song F. Antimicrobial prophylaxis for colorectal surgery. Cochrane Database Syst Rev. 2009;(1):CD001181. INFORMAÇÕES Este é um resumo de uma revisão Cochrane publicada na Cochrane Database of Systematic Reviews (CDSR) 2009, edição 1, DOI: 10.1002/14651858. CD001181.pub3 (http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858. CD001181.pub3/abstract). Para a citação completa e detalhes dos autores, veja referência 1. Tradução e adaptação: Centro Cohrane do Brasil Rua Pedro de Toledo, 598 Vila Clementino — São Paulo (SP) CEP 04039-001 Tel. (11) 5579-0469/5575-2970 E-mail: [email protected] http://www.centrocochranedobrasil.org.br/ Assistente de Pesquisa do Centro Cochrane do Brasil. Professora titular de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora do Instituto Angelita e Joaquim Gama. Membro Honorário da American Surgical Association, do American College of Surgeons e da European Surgical Association. I II Diagn Tratamento. 2012;17(3):140-1. Rachel Riera | Angelita Habr-Gama Destaques Cochrane 141 O texto completo desta revisão está disponível gratuitamente para toda a América Latina e Caribe em: http://cochrane.bvsalud.org/cochrane/main.ph p?lib=COC&searchExp=Antimicrobial%20and%20prophylaxis%20and%20 for%20and%20colorectal%20and%20surgery&lang=pt Responsável pela edição desta seção: Equipe do Centro Cochrane do Brasil COMENTÁRIOS O uso de antibióticos profiláticos na cirurgia colorretal é fortemente recomendado há pelo menos três décadas, contudo, diversos aspectos quanto à forma de realizar a profilaxia ainda são motivo de dúvidas e muito estudo. Entre elas, qual antibiótico utilizar, ou melhor, qual espectro bacteriano cobrir; por quanto tempo administrar o antibiótico profilático, quando iniciar a profilaxia, entre tantos outras. Nesta metanálise, foi revisada uma série de estudos, sendo analisada apenas uma complicação, infecção de ferida operatória. Infecção de ferida operatória é uma das complicações mais frequentes na cirurgia colorretal. Entretanto, é uma das complicações que geralmente está associada à menor morbidade se comparada a outras complicações infecciosas, como por exemplo, coleções intra-abdominais e pneumonia. Portanto, a análise dos resultados deve ser cautelosa, tendo em vista que estão relacionados apenas a essa complicação menor. A análise de apenas uma complicação faz com que o pareamento dos estudos seja possível com maior facilidade e que se avalie um maior número de pacientes. O uso de antibióticos de amplo espectro cobrindo tanto aeróbios quanto anaeróbios mostrou-se melhor que profilaxia com antibióticos de menor espectro, o que é esperado, tendo em vista a flora multibacteriana do cólon. Não existe consenso sobre o melhor momento para realizar a profilaxia cirúrgica, habitualmente realizada uma hora antes do início da cirurgia; entretanto, ainda não se tem confirmação científica frente a outros momentos de administração, principalmente no que se diz que respeito à utilização de antibióticos por via oral. Diagn Tratamento. 2012;17(3):140-1. Destaques Cochrane Radiação beta para cirurgia de glaucoma Autora da tradução: Rachel RieraI Autores dos comentários independentes: Noé Luiz Mendes de MarchiII, Rosana Cristina Sciencia da Silva PizarroIII RESUMO Introdução: O resultado da cirurgia do glaucoma pode ser afetado pela taxa de cicatrização da ferida cirúrgica. A radiação beta tem sido proposta como um tratamento rápido e simples para abrandar a resposta de cicatrização. Objetivo: Avaliar a efetividade da radiação durante a cirurgia de glaucoma (trabeculectomia). Critérios para considerar estudos para esta revisão: A busca foi realizada nas bases: Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) na Biblioteca Cochrane (que inclui Eyes and Vision Group Trials Register, Edição 4 2008), Medline (janeiro de 1966 a outubro de 2008) e Embase (janeiro de 1980 a outubro de 2008). As bases de dados foram pesquisadas pela última vez em 24 de outubro de 2008. Critérios de seleção: Foram incluídos estudos randomizados e controlados comparando trabeculectomia com radiação beta com trabeculectomia sem radiação beta. Coleta e análise dos dados: Foram coletados dados sobre falha cirúrgica (pressão intraocular > 21 mmHg), pressão intraocular e eventos adversos da cirurgia de glaucoma. Os dados foram agrupados usando um modelo de efeito fixo. Resultados principais: Foram encontrados quatro ensaios que randomizaram 551 pessoas para realizar trabeculectomia com ou sem radiação beta. Dois ensaios incluíram caucasianos (n = 126), um estudo incluiu negros africanos (n = 320) e um incluiu pacientes chineses (n = 105). Pacientes submetidos a trabeculectomia com radiação beta tiveram menor risco de falha cirúrgica em comparação com pessoas submetidas trabeculectomia sem radiação (razão de risco [RR]: 0,23; intervalo de confiança, IC 95%: 0,14 a 0,40). Radiação beta foi associada com risco aumentado de catarata (RR: 2,89; IC 95%: 1,39 a 6,0). Conclusões dos autores: Trabeculectomia com radiação beta tem menor risco de falha cirúrgica em comparação com a trabeculectomia sem radiação. Estudo avaliando radiação beta versus antimetabólico ainda é necessário. REFERÊNCIA 1. Kirwan JF, Rennie C, Evans JR. Beta radiation for glaucoma surgery. Cochrane Database Syst Rev. 2009;(2):CD003433. INFORMAÇÕES Este é um resumo de uma revisão Cochrane publicada na Cochrane Database of Systematic Reviews (CDSR) 2009, edição 2, Art. No. CD003433, DOI: 10.1002/14651858.CD003433.pub2 (http://onlinelibrary.wiley.com/ doi/10.1002/14651858.CD003433.pub2/abstract). Para citação completa e detalhes dos autores, veja referência 1. Tradução e adaptação: Centro Cohrane do Brasil Rua Pedro de Toledo, 598 Vila Clementino — São Paulo (SP) CEP 04039-001 Tel. (11) 5579-0469/5575-2970 E-mail: [email protected] http://www.centrocochranedobrasil.org.br/ O texto completo desta revisão está disponível gratuitamente para toda a América Latina e Caribe em: http://cochrane.bvsalud.org/cochrane/show.php?db=reviews&mfn=1834&i d=CD003433&lang=pt&dblang=&lib=COC&print=yes Responsável pela edição desta seção: Equipe do Centro Cochrane do Brasil COMENTÁRIOS A trabeculectomia é o procedimento cirúrgico que tem como objetivo o controle da pressão intraocular em portadores de glaucoma não respondentes a tratamento clínico. O sucesso dessa cirurgia é limitado pelo processo de cicatrização que ocorre na esclera, resultando na fibrose do retalho cirúrgico e na falência da ampola de drenagem. Um procedimento tecnicamente bem realizado, bem como o uso de anti-inflamatórios no pós-operatório, reduzindo a atividade fibroblástica, não são suficientes para aumentar a taxa de sucesso. Alguns trabalhos mostram a possibilidade de se melhorar esses resultados usando outros recursos de inibição Assistente de Pesquisa do Centro Cochrane do Brasil. Oftalmologista, Centro Oftalmológico Dr. Noé De Marchi e membro do Departamento de Oftalmologia da Associação Paulista de Medicina. Oftalmologista, Centro Oftalmológico Dr. Noé De Marchi. I II III Diagn Tratamento. 2012;17(3):142-3. Destaques Cochrane 143 Rachel Riera | Noé Luiz Mendes de Marchi | Rosana Cristina Sciencia da Silva Pizarro dos fibroblastos, como a radiação beta, geralmente aplicada por meio de uma placa de radiação no local da ampola. Sua ação é diminuir o número de fibroblastos e, consequentemente, a chance de fibrose do retalho. O trabalho apresenta um estudo randomizado comparando pacientes submetidos à cirurgia de trabeculectomia com radiação beta e trabeculectomia sem radiação beta. Assim como na literatura, ele mostra como resultado uma efetiva participação da radiação beta, melhorando o percentual de sucesso cirúrgico. Os autores estudaram um número expressivo de pacientes, porém, a análise realizada deixa alguns questionamentos por não esclarecer ou dividir os grupos com relação ao tipo de glaucoma. Também não estabeleceu uma correlação adequada entre as várias etnias estudadas. Estudou grupos de caucasianos e negros sem uma observação sobre a cicatrização em etnias diferentes e sobre se isso poderia interferir no resultado. A literatura mostra que o uso de radiação beta é eficaz no pós-operatório de trabeculectomias principalmente nos pacientes negros. O estudo relata que o aparecimento de catarata no pós-operatório nos pacientes submetidos à radiação beta não foi em quantidade expressiva. Esse dado também está de acordo com a literatura. No entanto, não aborda outros efeitos colaterais que podem surgir com radiação beta, como afinamento de esclera e até mesmo metaplasia de tecidos, necessitando de maiores estudos quanto a essas complicações. Diagn Tratamento. 2012;17(3):142-3. 146 cional baixo, e 60% dos pacientes viviam em pequenas cidades, com acesso restrito a programas de saúde pública. 40% tinham parente de primeiro grau com câncer de mama. O tipo histológico prevalente foi o carcinoma ductal infiltrativo. 90% apresentaram perfil molecular luminal A e 10% perfil molecular HER. Com relação à ginecomastia, a idade média foi de 28 anos, IMC médio de 24,88% eram provenientes de São Paulo, 67% eram solteiros e a profissão predominante era estudante. Nenhum era diabético, dois eram hipertensos, nove tabagistas e três etilistas. Em 62%, a lesão era bilateral, em 23% estava à esquerda e à direita em 15%. Conclusões: O perfil imunoistoquímico apresentou positividade para receptores de estrógeno e progesterona. Embora tenha maior mortalidade, o câncer de mama masculino não apresenta perfil imunoistoquímico que justifique tal fato, demonstrando que o diagnóstico tardio tem papel fundamental no mau prognóstico do paciente. Por outro lado, as lesões benignas acometem, com maior frequência, jovens sem antecedentes pessoais significativos; seu perfil imunoistoquímico sugere possibilidade de tratamento clínico, opção terapêutica que deve ser estudada com a realização de trabalhos voltados ao tema. Relação anatômica do nervo laríngeo recorrente (laríngeo inferior) com a artéria tireoidiana inferior Fernanda Berthier, Vanessa Souza Truda, Jacqueline Nunes Menezes, Emerson Fávero Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) Introdução: Tireoidectomias exigem conhecimento da anatomia do nervo laríngeo recorrente (NLR) objetivando evitar lesões iatrogênicas, que podem cursar com disfagia, rouquidão e paralisia das pregas vocais. A artéria tireiodiana inferior (ATI) pode ser utilizada como referência para localizar o NLR, porém, com cautela, devido às variações do NLR e da ATI. Objetivo: Relacionar anatomicamente o NLR e a ATI. Metodologia: Foram analisados 20 pacientes submetidos a tireoidectomias. A base PubMed foi utilizada para a busca por estudos visando confrontar dados com nossa amostra. Foram excluídos estudos anteriores a 2006. Resultados: Analisaram-se 40 nervos, 20 do lado esquerdo e 20 do direito. Deste lado, 75% dos pacientes apresentaram o NLR posterior à ATI e, daquele, 80% apresentaram-no na mesma condição. A análise dos sexos revelou que, do lado direito, nas mulheres, 77,8% dos NLR encontram-se posteriores à ATI, enquanto que, do lado esquerdo, essa porcentagem é de 83,3%. Nos homens, a análise em ambos os lados revelou que 50% dos nervos encontram-se anteriormente à artéria. Nas mulheres, 16,7% apresentaram diferenças anatômicas nos lados direito e esquerdo, sendo que duas apresentaram o nervo do lado direito anterior e o do lado esquerdo posterior à artéria, e uma apresentou o inverso. Discussão: O NLR é usualmente observado posteriormente aos ramos terminais da ATI do lado esquerdo, e anteriormente à artéria do lado direito. Nossa amostra revelou, entretanto, predomínio do NLR posterior à ATI em ambos os lados. A análise da literatura não revelou nenhum estudo que abordava as relações anatômicas do NLR com a ATI de acordo com o sexo dos pacientes. Observaram-se particularidades no sexo feminino, como a ocorrência do nervo sendo manifestada diferentemente em ambos os lados (16,7%), porém, nossa amostra masculina mostrou-se insuficiente, não nos permitindo constatar se o sexo está relacionado às variações anatômicas em questão. Conclusão: O reconhecimento das variações do NLR é imprescindível para garantir o sucesso das tireoidectomias e a qualidade de vida dos pacientes. É necessário realizar estudos visando estabelecer relações entre o NLR e ATI, no que diz respeito, por exemplo, a evidenciar relações entre a anatomia e o sexo do paciente. Deficiência de imunoglobulina A (IgA): avaliação e evolução clínica de 21 pacientes da cidade de Campinas Fernanda Carmona, Laura Garofalo Lopes, Isabela Simoneti Busch Hospital e Maternidade Celso Pierro, Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e clínica particular Introdução: A deficiência seletiva de imunoglobulina A (DIgA) é a mais comum das imunodeficiências primárias, tendo como quadro clínico mais frequente a maior suscetibilidade a infecções. Objetivo: Caracterizar os dados clínicos referentes à DIgA, a fim de alertar os pediatras quanto a seus sintomas, de modo a possibilitar o diagnóstico precoce e tratamento adequado. Metodologia: Foi realizado um estudo retrospectivo de 21 pacientes com diagnóstico de DIgA, com base nos dados de seus prontuários médicos. Resultados: As principais manifestações clínicas foram atopias (90,47%), infecções de repetição (71,42%), distúrbios gastrointestinais (38%) e doenças autoimunes (28,57%). Os processos atópicos mais frequentes foram rinite alérgica e asma, enquanto as infecções mais comuns acometeram as vias aéreas superiores. Conclusão: A DIgA apresenta diversas manifestações clínicas e por isso deve sempre ser considerada como diagnóstico diferencial em casos de infecções de repetição, atopias e processos autoimunes, de forma que o diagnóstico precoce seja possível. Análise dos efeitos anticaquéticos causados pela pioglitazona em ratos Wistar inoculados com tumor de Walker-256 Fernanda Kamimura, Vanessa Souza Truda, Mércia Eliane de Assis Beluzi, Miguel Luiz Batista Júnior Laboratório de Biologia do Tecido Adiposo da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) Introdução: O câncer corresponde à segunda principal causa de morte no mundo, sendo evidenciada uma relação importante com a caquexia, que corresponde a uma síndrome multifatorial caracterizada por acentuada perda de peso, anorexia, astenia e anemia, que diminui a eficácia e tolerabilidade das terapias para o câncer. Estudos demonstram que a pioglitazona, utilizada para tratamento do diabetes melito, está relacionada ao aumento da massa corporal e ao controle da evolução do câncer, por meio da desaceleração no processo de proliferação celular. Com o intuito de melhorar a expectativa de vida das pessoas acometidas por essa doença, faz-se necessário compreender de forma mais aprofundada a ação de fármacos que possam intervir positivamente nas comorbidades associadas ao câncer. Objetivos: Verificar os efeitos anticaquéticos da pioglitazona e caracterizar possíveis alterações no desenvolvimento tumoral. Método: Foram utilizados 24 ratos machos, com seis a oito semanas de idade, da linhagem Wistar (250-350 g), obtidos no biotério da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Os animais foram divididos em dois grupos experimentais: 1) tumor mais pioglitazona 5 mg/kg/dia; 2) tumor mais solução salina 1 mL, 7 e 14 dias após o início do tratamento. Resultados: Foi possível verificar que os ratos tratados com o fármaco apresentaram ganhos de peso maiores do que os do grupo controle, com exceção ao peso do tecido tumoral, que se encontra maior no grupo controle do que nos animais tratados com a pioglitazona. Com relação ao peso do tumor, o grupo tratado com pioglitazona durante sete dias apresentou média de 6,64 ± 0,67 g, enquanto que o grupo controle apresentou média de 7,31 ± 0,44 g. No experimento de 14 dias, o grupo tratado com o fármaco apresentou média de 27,47 ± 0,88 g, enquanto que o grupo controle apresentou média de 33,27 ± 2,6 g. A massa tumoral dos ratos controle apresentou aumento de 356,16%, enquanto que, nos tratados com a pioglitazona, o aumento foi de 310,44%. Conclusão: Pôde-se verificar que os animais tratados com a pioglitazona apresentaram aumento no peso corporal e redução no aumento do peso do tumor quando comparados com o grupo controle. Dando más notícias: conhecimentos e práticas Filipe de Oliveira Carvalho, Laís Orrico Di Stasi, Denise Gonçalves Priolli Universidade São Francisco, Rede Pública de Saúde da Cidade de Bragança Paulista Introdução: A expressão “más notícias” é genericamente descrita como qualquer informação de doença com prognóstico grave, fim da possibilidade de cura ou anúncio de morte iminente, que afete negativamente um indivíduo em vista do seu futuro. Assim, o momento de comunicar uma má notícia representa grande desafio na prática médica, sabendo que essa ocasião é determinante crucial na relação médico-paciente. Entretanto, os estudantes de medicina pou- Diagn Tratamento. 2012;17(3):144-51. 147 co aprendem sobre como lidar com a má notícia. Profissionais da saúde não sabem como proceder a essa comunicação, repercutindo em ansiedades para médicos, pacientes e familiares. Nesse sentido, autores têm proposto protocolos para dar más notícias, apresentando aspectos consideráveis na comunicação de doença grave ou o anúncio da morte. Um dos mais facilmente utilizados é o CLASS (Context; Listening; Acknowledge; Strategy; Summary). O acrônimo CLASS resume etapas a serem concretizadas na revelação da má notícia, a fim de proporcionar um momento mais compreensível e afetuoso entre médicos, pacientes e familiares. Metodologia: Analisaram-se as correlações entre as respostas de 42 questionários sobre atitudes e crenças na revelação de más notícias e reconhecimento de práticas protocolares (CLASS) aplicados em médicos da Rede Pública de Saúde da cidade de Bragança Paulista. Resultados e discussão: Tornou-se perceptível que o médico se baseia em sua opinião para decidir em informar seus pacientes, desconhecendo qualquer tipo de protocolo ou orientação prévia em dar más notícias. Ademais, a conduta de informar diagnósticos graves é influenciada pela opinião da família do paciente e pela tomada de decisões em equipe. Curiosamente, quando o médico é o paciente, acredita que seu assistente deva seguir o protocolo de informar seu diagnóstico, porém, ele mesmo não age dessa maneira em relação aos seus pacientes. Nota-se que a maneira de revelar a má notícia é influenciada pelo ambiente, além de o médico priorizar o conhecimento acerca do diagnóstico e as estratégias terapêuticas a serem traçadas. Conclusão: Pôde-se, a partir dos moldes deste estudo, afirmar que os profissionais desconhecem qualquer espécie de protocolo de más notícias. Além disso, a comunicação de más notícias depende da opinião pessoal dos médicos. Estudo dos neurônios do plexo submucoso imunorreativos ao receptor P2X7, a calbindina e calretinina do íleo de ratos submetidos à isquemia/ reperfusão (I/R-i) Flavio Henrique Scordamai Rodrigues, Isabelle Meloni, Kelly Palombit, Luciane Senna Simões, Patrícia Castelucci Laboratório de Disfunções Neurogastrintestinais, Departamento de Anatomia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo Introdução: O trifosfato de adenosina (ATP) é um cotransmissor e seus receptores P2X1-7 estão presentes nos neurônios entéricos do trato gastrointestinal. A literatura demonstra que, na isquemia intestinal, há morte de neurônios dos plexos mioentérico e submucoso do intestino, e que o receptor P2X7 pode estar associado à morte neuronal. Objetivo: Estudar o efeito da I/R-i sobre os neurônios do plexo submucoso imunorreativos ao receptor P2X7, calbindina (marcador de neurônios sensoriais) e calretinina (marcador de neurônios colinérgicos e vasodilatadores) com diferentes períodos de reperfusão. Metodologia: A isquemia intestinal foi obtida pela oclusão da artéria ileal por 35 minutos, com períodos de reperfusão de 24, 72 horas e uma semana, o grupo sham não sofreu I/R-i. Os tecidos foram preparados por métodos imunoistoquímicos de duplas marcações do receptor P2X7 com calbindina e calretinina. Resultados: A análise qualitativa demonstrou, nos neurônios do grupo de I/R-i, diminuição da expressão do receptor P2X7 no período de 24 horas de reperfusão. As duplas marcações demonstraram que neurônios Calb-ir colocalizaram com neurônios receptor P2X7-ir no grupo sham 77,8 ± 4,3% e no I/R-i 24 horas 86,6 ± 6,2%. Os neurônios calretinina-ir colocarizaram 100% com o receptor nos grupos sham 24 horas, 72 horas e uma semana e nos grupos I/R-i 24 horas, 72 horas e uma semana 98%. A densidade neuronal (neurônios/cm²) demonstrou: os neurônios receptores P2X7-ir do grupo I/R-i 24 horas foram 10.526 ± 1.052/cm2 e no grupo sham 11.052 ± 526/cm2; no grupo 72 horas houve aumento no grupo I/R-i (7.598 ± 1.610/cm2) quando comparado com o grupo sham (5.411 ± 420/cm2) e, nos grupos de uma semana, não houve diferenças significantes (sham 6776 ± 932/cm2; I/R-i 7401,3 ± 697/cm2). Houve uma diminuição dos neurônios Calb-ir de 50% no grupo I/R-i 24 horas (789,47 ± 131/cm2) quando comparado ao grupo sham (1.842,7 ± 236/cm2). A densidade dos neurônios Calr-ir foram, no grupo de I/R-i 24 horas (4.736,8 ± 789,1/cm2) e no grupo sham (5.000 ± 263/cm2) (P > 0,05), no grupo de 72 horas sham 6.957 ± 875/cm2 e I/R-i de 7.500 ± 1.349/cm2 e nos grupos de uma semana sham e isquêmico foi de 6.546,1 ± 699,4/cm2 e 6.825,7 ± 699,1/cm2, respectivamente. Diagn Tratamento. 2012;17(3):144-51. Conclusões: Os diferentes períodos de I/R-i afetaram o receptor P2X7 e o plexo submucoso. Os neurônios Calb-ir pareceram ser mais vulneráveis no I/R-i 24 horas quando comparados aos neurônios Calr-ir. Perfil das Ligas Acadêmicas de Medicina Paulistas sob o olhar da Associação Brasileira de Ligas Acadêmicas de Medicina (ABLAM) José Carlos Arrojo Júnior, Vanessa Souza Truda, Flávio Taniguchi, Vanessa Castilho, Arthur Hirschfeld Danila Associação Brasileira de Ligas Acadêmicas de Medicina (ABLAM) Introdução: As Ligas Acadêmicas de Medicina (LAMs) são organizações estudantis que visam complementar a formação médica por meio de atividades de ensino, pesquisa e extensão. Atualmente, a Associação Brasileira de Ligas Acadêmicas de Medicina (ABLAM), fundada em 2005, conta com cerca de 250 LAMs associadas, sendo o maior contingente do estado de São Paulo, justificando estudos direcionados às ligas paulistas. Metodologia: Coleta de dados dos 59 cadastros das ligas paulistas associadas à ABLAM. Resultados: A cidade de São Paulo apresentou a maioria dos cadastros (40,68%). As instituições de ensino predominantes foram a Universidade de São Paulo (USP) (16,94%) e a Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) (15,25%). Há preponderância das instituições privadas (69,49%). Dentre as especialidades, predominaram Clínica Médica e Cirurgia Geral (6,78% cada). O perfil mais frequente no cadastro foi o clínico (64,4%). 30,50% das LAMs utilizam avaliação teórica como critério de admissão. Em 27,11%, utiliza-se frequência e conceito para avaliar o desempenho. A maioria dos participantes cursa o segundo e terceiro anos de medicina. As atividades desenvolvidas são: teórica (100%), assistência (89,83%), pesquisa (89,83%) e extensão (54,24%). Apenas 10,16% das LAMs reservam três horas ou mais para produção científica. 42,37% delas estão organizadas em comitês ou sociedades interligas. Discussão e conclusão: As LAMs paulistas seguem, em alguns aspectos, as tendências das ligas brasileiras. São pontos convergentes: o predomínio da Cirurgia Geral e a Clínica Médica, do caráter clínico, do ingresso por avaliação teórica, da avaliação de frequência e conceito. São pontos divergentes: a concentração na capital do estado e a origem em instituições particulares. Grande parte das LAMs realiza pesquisas, porém, poucas dedicam mais de três horas à produção científica, refletindo o desinteresse e as dificuldades enfrentadas. Quanto à distribuição das atividades, observa-se dificuldade em desenvolver atividades de extensão. O predomínio de alunos de segundo e terceiro anos demonstra tanto maior avidez na aquisição de conhecimento, quanto tendência à superespecialização precoce e possível reforço a grades curriculares insuficientes. Um passo apoiado pela ABLAM é a organização em comitês ou sociedades interligas, por serem fundamentais para a congregação e troca de experiências, sem deixar de discutir questões intrínsecas que podem colaborar para a constante melhora do conceito de LAM no país. Avaliação de prognóstico e mortalidade na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário São Francisco Juliana Guimarães Lacerda, Filipe de Oliveira Carvalho, Mariana Cyrino de Oliveira, Giovana Colozza Mecatti, Denise Gonçalves Priolli Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário São Francisco Introdução: A avaliação prognóstica dos pacientes críticos é aspecto importante que merece discussão. A internação de paciente que não se beneficiará da unidade de terapia intensiva (UTI) aumenta custos e há perda de possibilidade de tratamento de outros pacientes com indicação de internação. Os médicos intensivistas sofrem constante dilema sobre quando fornecer assistência médica que prolongará o morrer e não salvará vidas. Em alguns casos, a morte é praticamente inevitável, sendo apenas retardada a um alto custo financeiro, moral e psicológico para os envolvidos. Na intenção de auxiliar os profissionais médicos quanto à necessidade de internação 148 do paciente na UTI ou manutenção do tratamento desse paciente, têm sido desenvolvidos índices de gravidade e critérios específicos de internação e alta nas UTI. Os critérios de admissão devem selecionar os pacientes que irão se beneficiar de tratamento e suporte de terapia intensiva. Pacientes que estão nos dois extremos de risco devem ser evitados (muito bem para se beneficiar ou muito mal para se beneficiar). A decisão de internação deve basear-se na relação risco-benefício e essa impressão está fortemente relacionada com o prognóstico. Objetivo: Avaliar a mortalidade de pacientes com critérios de admissão P3 e P4 na UTI, sabendo que P3 indica pacientes instáveis com baixa probabilidade de recuperação e P4 indica pacientes não elegíveis para internação em UTI. Metodologia: Realizou-se consulta em banco de dados da UTI do Hospital Universidade São Francisco, do qual foram selecionados 28 pacientes classificados com prioridade P3 e P4 de internação. Resultados: Analisando a taxa de mortalidade na UTI e a taxa de mortalidade hospitalar, encontraram-se os seguintes resultados: mortalidade P3 na UTI de 52,63%, mortalidade P4 na UTI de 77,77%, mortalidade hospitalar de P3 de 77,77% e 0% para P4. Conclusão: A UTI é um setor de assistência a pacientes que necessitam de suporte intensivo, com potencial de recuperação. Mais de 70% dos óbitos ocorrem nos hospitais e os óbitos nas UTIs são precedidos de decisões sobre a suspensão ou recusa de tratamentos inúteis. Concluímos ser necessário racionalizar uma conduta para admissão de pacientes em UTI, levando em consideração custo-benefício e aspectos éticos do morrer com dignidade. Grupo educativo em hipertensão e diabetes: experiência de alunos do primeiro ano de Medicina na atenção básica à saúde Luís Guilherme Alves de Oliveira, Graziele Cristina Palancio Morais, Giuliana Olivi Tanaka, Kauê Alvarez Sucena, Cesar Augusto Inoue Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP) e Centro de Saúde Escola Barra Funda (CSEBF) Introdução: O presente trabalho é parte integrante da disciplina desenvolvida pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para os alunos do primeiro ano de Medicina, o Pró-Saúde. Trata-se de iniciativa interministerial (Saúde e Educação), com o objetivo de aproximar a formação de graduação com as necessidades de Atenção Básica no Sistema Único de Saúde (SUS). O aumento da longevidade, associado a mudanças nos padrões alimentares e de vida, tem forte repercussão sobre morbimortalidade por doenças crônico-degenerativas, e com elevada incidência na população. Uma vez que o controle de fatores risco modificáveis – sobrepeso, dieta hipersódica, consumo de álcool, sedentarismo – tem eficácia documentada na prevenção e controle dessas doenças, o trabalho centrou-se na realização de um grupo educativo (GE) para uma comunidade atendida pela Estratégia Saúde da Família na região central de São Paulo. Metodologia: Realizou-se um GE com as seguintes atividades: orientações sobre alimentação saudável, aferição da pressão arterial (PA), glicemia capilar e dados antropométricos. Todo o processo foi supervisionado por um médico da Unidade Básica de Saúde (UBS). As informações foram registradas em ficha elaborada pelos alunos. Resultados: A descrição dos resultados foi obtida com base nos dados colhidos no GE. Nessa amostra, 29% eram do sexo masculino e 71% do sexo feminino. A faixa etária está distribuída em: 6,5%, 25-34 anos; 6,5%, 35-44 anos; 22,6%, 45-54 anos; 38,6%, 55-64 anos; 19,3%, 65-74 anos e 6,5%, mais de 75 anos. 83,9% dos participantes apresentava diagnóstico prévio de hipertensão arterial sistêmica (HAS) e 73% estavam em tratamento medicamentoso. O valor da PA estava alterado em 58% dos participantes. Em relação ao diabetes melito, 29% tinham diagnóstico da doença. A glicemia capilar (200 mg/dL) apresentava-se alterada em 25,8% da amostra. A distribuição do índice de massa corporal (IMC) foi: 29% sobrepeso, 29% obesidade grau I, 6,4% obesidade grau II. A circunferência abdominal estava alterada em 48,4% da amostra. Quanto ao tabagismo, 32,3% consumiam tabaco regularmente (média de 28 anos/maço). Conclusão: Pelo alto percentual de casos de hipertensos e diabéticos na amostra analisada, percebe-se a alta incidência dessas doenças na população. Ressaltamos a importância da realização periódica de intervenções como essa, visando o controle da saúde e envolvendo a comunidade, visando a saúde da população. Avaliação do número de mamografias realizadas pela Estratégia Saúde da Família da Área 95 da Unidade Básica de Saúde Cumbica I, Guarulhos, para os anos 2010 e 2011 Marcos Borda Albino, Vanessa Pessolato Piacenti, Alessandro Adinolfi Ito, Gerson Lopes Universidade Cidade de São Paulo, São Paulo, e Unidade Básica de Saúde, Jardim Cumbica I, Guarulhos, São Paulo Introdução: O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo, e é o mais comum entre as mulheres. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, por ano, ocorram mais de 1.050.000 novos casos em todo o mundo. O rastreamento é uma estratégia dirigida às mulheres na faixa etária mais favorável, com maior impacto na redução da mortalidade. Recomenda-se o exame clínico das mamas para todas as mulheres a partir dos 40 anos de idade, com periodicidade anual e mamografia para mulheres com idade entre 50 a 69 anos de idade com intervalo máximo de dois anos. Para as mulheres do grupo de risco, recomenda-se o exame clínico das mamas e mamografias anuais a partir dos 35 anos. Objetivo: De acordo com o exposto, propõem-se: a verificação do número de mamografias realizadas na população alvo, se as metas propostas estão sendo atingidas, bem como a interpretação crítica dos resultados e elaboração de estratégias para que a incidência, morbidade e mortalidade sejam reduzidas. Metodologia: Foram realizadas pesquisas em prontuários de famílias inscritas na Área 95 da Unidade Básica de Saúde (UBS) Cumbica I, identificando suas microáreas. Em cada família, foi observada e anotada em ficha própria a presença ou não de mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos de idade, observando a realização ou não de mamografia nos anos 2010 ou 2011. Utilizou-se para análise o indicador “razão entre exames de mamografia e total de mulheres da população alvo” estabelecido no “termo de compromisso que firma responsabilidades pactuadas entre Secretário da Saúde, Diretor da Região de Saúde Pimentas/Cumbica, Gerente e Equipe da UBS Jardim Cumbica I” para os anos de 2010 e 2011. Conclusão: Considerando o total de exames realizados pela equipe em relação à população alvo (189 mulheres), nota-se que não foram atingidas as metas propostas pelo Município (≥ 0,14 em 2010 e ≥ 0,16 em 2011) e pelo Ministério da Saúde (≥ 0,12 em 2010 e ≥ 0,16 em 2011) para os anos 2010 e 2011. Correlação de resultados de exame de imagem e anatomopatológico de fígado explantado após transplante hepático por hepatocarcinoma celular Eduardo Tomohissa Yamashita, Alisson Paulino Trevizol, Marcus Vinicius Takatsu, João Paulo Venâncio de Carvalho, João William Costa Teixeira, Tércio Genzini, Marcelo Perosa Hospital Bandeirantes, São Paulo Introdução: Os “critérios de Milão”, publicados por Mazzaferro em 1996, demonstraram sobrevida de cinco anos satisfatória em portadores de hepatocarcinoma celular (HCC) com até três tumores menores do que três centímetros ou um único tumor menor do que cinco centímetros, sem invasão vascular e sem doença extra-hepática. Esses dados anatomopatológicos passaram a ser utilizados no estadiamento por imagem como critérios de aceitação para inclusão de pacientes em lista de espera para transplantate, conferindo-lhes situação especial. Objetivo: Definir se a sensibilidade dos exames de imagem é adequada na classificação dos pacientes dentro e fora dos critérios de Milão. Metodologia: Estudo retrospectivo de 21 pacientes transplantados entre janeiro de 2009 e junho de 2011 por HCC, cujo anatomopatológico (AP) possibilitou análise comparativa com os métodos de imagem. Os casos foram classificados pelos critérios de Milão segundo tomografia computadorizada (TC) ou ressonância nuclear magnética (RNM), realizadas até seis meses antes do transplante. O número e tamanho dos nódulos foram obtidos a partir dos exames radiológicos mais próximos da data do transplante. Diagn Tratamento. 2012;17(3):144-51. 149 Resultados: Observaram-se 47 nódulos em exames de imagem. No AP, foram encontrados 61 nódulos. Desses, 25 (41%) foram identificados em TC ou RNM, mas 36 (59%) nódulos não foram encontrados nas imagens. Sete dos 21 pacientes (33%) não estavam nos critérios de Milão, segundo o AP, sendo que 6 apresentavam mais de 3 nódulos, e 1 apresentava nódulo único maior do que 5 cm. Discussão: Sete dos 21 pacientes não deveriam ter sido transplantados, de acordo com os critérios de Milão. Desses sete, seis apresentavam múltiplos nódulos menores de 2 cm, que os excluiria de acordo com os critérios. Observamos que a superestimação do tamanho do nódulo ocorreu em 68% dos casos. Isso indica que possivelmente pacientes que se encontram radiologicamente além dos critérios de Milão por tamanho podem estar sendo excluídos da lista erroneamente por superestimação do tamanho de seus nódulos nos exames de imagem. Conclusão: Os exames de imagem não são sensíveis o suficiente para serem considerados absolutos na classificação dos pacientes nos critérios de Milão, devendo-se introduzir uma margem de correção ao tamanho de nódulos encontrados ou utilizar-se de outros métodos de avaliação, como histológico. Deficiência de vitamina D em pacientes portadores de linfoma/leucemia Mariana Renata Zago, Ricardo dos Santos, Cássio Yud Miname, Adriano Antunes da Silva, Ivarne Luis dos Santos Tersariol Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), Centro Interdisciplinar de Investigação Bioquímica Introdução: Dados da literatura têm relacionado os baixos níveis de vitamina D com aumento do risco relativo para o desenvolvimento de câncer de cólon, mama e próstata. Porém, pouco se diz a respeito da relação dessa vitamina com outras neoplasias, como de tireoide e hematológicas, as quais, por esse motivo, são abordadas em nosso estudo. Objetivos: Quantificar os níveis séricos de vitamina D em pacientes portadores de neoplasias de tireoide e hematológica, para verificar se existe relação entre os níveis da vitamina e essas neoplasias. Metodologia: O nível sérico de 25-hidroxivitamina D foi quantificado em 29 amostras de soro de pacientes portadores de neoplasias, 16 de carcinoma folicular de tireoide e 13 de cânceres hematológicos (10 linfomas e 3 leucemias), por meio de ensaio de imunoeletroquimioluminescência (ECLIA), segundo normas do fabricante Roche. A significância estatística da associação entre a deficiência da vitamina e neoplasias foi verificada em tabelas de contingência pelo teste exato de Fisher, tomando-se como controle os níveis séricos normais de vitamina D da população da Grande São Paulo. Resultados: A análise dos dados mostrou que 22% (27/121) dos indivíduos da população da Grande São Paulo apresentam deficiência de vitamina D (< 50 nmol/L), enquanto a prevalência dessa deficiência em pacientes portadores de neoplasias de tireoide e hematológica foram 19% (3/16) e 54% (7/13), respectivamente. A deficiência grave de vitamina D (< 25 nmol/L) foi observada em somente 4% (5/121) dos indivíduos da população normal, enquanto foi observada em 23% (3/13) dos pacientes portadores de neoplasias hematológicas. Discussão e conclusão: Os resultados mostraram que existe forte associação entre deficiência de vitamina D e neoplasias de origem hematológica, linfomas e leucemias (P = 0,0203). Essa significância estatística persiste (P = 0,0304) se considerarmos somente valores relativos à deficiência grave. Entretanto, não foi possível estabelecer associação entre a deficiência de vitamina D e as neoplasias de tireoide (P = 1,00). Esses resultados fortemente sugerem que existe especificidade da deficiência de vitamina D em relação aos diversos processos neoplásicos, ou seja, não são todos os processos neoplásicos que podem ser associados com a deficiência de vitamina D. Projeto de controle e prevenção do tabagismo nos estudantes de medicina: fundação, objetivos e perspectivas Mario Sapede Melo, Vanessa Souza Truda, Fábio Abrahao Amanthea, Jéssica Liu, Verônica Kim, Flávio Taniguchi, Marilene Melo, Nise Yamaguchi Associação Paulista de Medicina Diagn Tratamento. 2012;17(3):144-51. Introdução: O tabagismo é um importante fator de risco para as principais doenças com os maiores índices de mortalidade no mundo. Estima-se que, em 2020, o tabagismo seja responsável por 10 milhões de mortes por ano, sendo que 70% dos casos ocorrem em países em desenvolvimento. Estima-se que, no Brasil, ocorrem mais de 200 mil mortes por ano decorrentes do tabagismo. Cerca de 25% dos médicos são fumantes, situação preocupante uma vez que eles deveriam trabalhar ativamente no controle e no tratamento nessa endemia. Com base nessa perspectiva, a Associação Brasileira das Mulheres Médicas (ABMM), em parceria com o Comitê Multidisciplinar de Acadêmicos da Associação Paulista de Medicina (CMA-APM), lançaram, em meados de 2011, o Projeto de Combate ao Tabagismo nos Estudantes de Medicina. Metodologia: O projeto surgiu de uma parceria entre a ABMM e o CMA-APM; conta com o apoio da APM, da Associação Médica Brasileira, do Conselho Federal de Medicina e do Instituto Nacional do Câncer; o apoio das entidades foi adquirido por meio de reuniões presenciais. As ações do projeto contam com palestras educativas ministradas por médicos renomados na área de combate ao tabagismo. Os palestrantes fazem parte de um Conselho Científico selecionados pelos coordenadores do projeto. Além disso, houve a aplicação de enquetes em 10% dos acadêmicos de Faculdades de Medicina da Grande São Paulo. A enquete avaliou o hábito de fumar, o grau de dependência, a opinião a respeito médico fumante e a vontade em atuar no combate ao tabagismo. Resultados: A aplicação da enquete revelou que a incidência de tabagismo é relativamente baixa (cerca de 10% a 15%) entre os estudantes de Medicina. As palestras ministradas apresentaram boa receptividade no meio acadêmico. A enquete também serviu como triagem, revelando que há necessidade de aplicarmos um questionário mais detalhado sobre o consumo de tabaco em estudantes de Medicina. Conclusões: Isso fez com que os coordenadores do projeto, em uma futura fase, alterassem o foco para a capacitação e educação dos futuros médicos. Avaliação do número de coletas de exame citopatológico de colo de útero realizados pela Estratégia Saúde da Família da área 95 da Unidade Básica de Saúde Cumbica I para os anos 2010 e 2011 Pedro Ernesto Moeckel, Carolina Fontes Montanari, Enzo Fontanetti, Gerson Lopes Universidade Cidade de São Paulo e Unidade Básica de Saúde Jardim Cumbica I Introdução: O câncer de colo de útero é o segundo tumor mais frequente na população feminina e a quarta causa de morte em mulheres por câncer no Brasil. Anualmente, faz 4.800 vítimas fatais e apresenta 18.430 novos casos. O método principal e mais amplamente utilizado para rastreamento desse tipo de câncer é o exame citopatológico do colo do útero. A importância da detecção precoce foi destacada no pacto pela saúde em 2006, por meio da inclusão de indicadores e metas a serem atingidos nos estados e municípios, visando melhoria do desempenho das ações prioritárias da Agenda Sanitária Nacional. Objetivo: De acordo com o exposto, propõem-se a verificação do número de exames realizados na população alvo, se as metas propostas estão sendo atingidas, bem como a interpretação crítica dos resultados e elaboração de estratégias para que incidência, morbidade e mortalidade sejam reduzidas. Metodologia: Foram realizadas pesquisas em prontuários de famílias inscritas na Área 95 da Unidade Básica de Saúde (UBS) Cumbica I. Em cada família, foi observada e anotada em ficha própria a presença ou não de mulheres na faixa etária de 25 a 59 anos de idade, observando a realização ou não de exame citopatológico do colo do útero nos anos 2010 ou 2011. Resultados: Utilizou-se para análise o indicador “razão entre exames citopatológicos do colo do útero e total de mulheres da população alvo” estabelecida no “termo de compromisso que firma responsabilidades pactuadas entre Secretário da Saúde, diretor da Região de Saúde Pimentas/Cumbica, gerente e equipe da UBS Jardim Cumbica I” para os anos de 2010 e 2011. Conclusões: Considerando o total de exames realizados pela equipe em relação à população alvo (1.045 mulheres), nota-se que foram atingidas as metas propostas pelo município (≥ 0,18 em 2010 e ≥ 0,19 em 2011) e pelo Ministério da Saúde (≥ 0,20 em 2010 e ≥ 0,23 em 2011) para os anos de 2010 e 2011, exceto a meta Brasil 2010. 150 Streptococcus agalactiae: incidência e fatores de risco para colonização em gestantes do terceiro trimestre em hospital quaternário Simone Santoro Angelo, Fabiana Toledo Bueno, Flávia Godoy, Marina Miyuki Maekawa, Maria Marta Martins, Rozane de Lima Bigelli Carvalho Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Introdução: Streptococcus agalactiae é o agente mais prevalente nas doenças infecciosas de neonatos (gerando complicações como sepse e meningite) e também envolvido em complicações durante a gravidez, parto ou puerpério. A incidência da colonização vaginal em gestantes pode variar de 8% na Coreia até 44% na República Dominicana, sendo a incidência no Brasil de aproximadamente 25%, variando de acordo com a região estudada. Apesar de existirem relatos de associação a fatores de risco, como frequência de relações sexuais, aborto espontâneo prévio e candidíase vaginal, há autores que negam a relação de colonização vaginal com idade, história obstétrica e outras comorbidades. Objetivos: Determinar a incidência da colonização por S. agalactiae em gestantes do terceiro trimestre atendidas no Serviço de Obstetrícia e Ginecologia de um hospital quaternário e relacioná-la com fatores de risco. Metodologia: Foram aplicados questionários, após assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, e coletadas amostras clínicas da região vaginal e da anorretal. O material foi semeado em caldo Todd-Hewitt e incubado por 24 horas. Em seguida, foi empregada a técnica do Camp Test, verificando-se presença ou ausência de área hemolítica em forma de seta, caracterizando os resultados positivos para S. agalactiae. Resultados: Foram incluídas no estudo 84 pacientes. A incidência de colonização por S. agalactiae foi de 8,3%. Caracterização da população analisada: 75% das pacientes procedentes de São Paulo, com idade média de 26,59 anos, escolaridade com predominância em ensino médio completo, idade média da primeira relação sexual aos 17,44 anos, média de 2,5 parceiros sexuais, 6% apresentavam vulvovaginite e 3,6% utilizavam creme vaginal, apresentando média de 2,14 gestações prévias. Ao diferenciar as gestantes que apresentaram positividade para colonização por S. agalactiae daquelas que não apresentaram, foi estabelecida relação estatisticamente significativa com a idade e número de partos dessas gestantes, sendo que quanto maior a idade (P = 0,043) e o número de partos (P = 0,025), maior o risco de colonização. Conclusão: A incidência de colonização por S. agalactiae nas gestantes atendidas no serviço analisado é de 8,3%. Os fatores de risco encontrados foram idade avançada da gestante e maior número de partos prévios. Perfil epidemiológico do paciente em tratamento hemodialítico no Instituto de Nefrologia de Mogi das Cruzes (INMC), São Paulo Vinicius de Abreu Mazzolin, Luiza Rangel Urizzi, Tais Rangel Urizzi, Vinicius Ayusso Corrêa Sossa, Silvana Kersouani, Jenner Cruz, Rui Alberto Gomes Instituto de Nefrologia de Mogi das Cruzes Introdução: A incidência da doença renal crônica está aumentando em escala alarmante por todo o mundo e por esse motivo é encarada como um problema de saúde pública. Na região onde foi feito o estudo, estima-se que existam 700 mil pessoas que estão sob o risco de ter essa enfermidade e em Mogi da Cruzes são 180 mil pessoas. Dessa forma, o Insituto de Nefrologia de Mogi das Cruzes (INMC) possui grande importância não só na cidade de origem como em toda a região do Alto Tietê e serve de referência no atendimento de qualidade em todo o Brasil, embora 95% dos pacientes sejam provenientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Objetivo: Descrever o perfil epidemiológico e socioeconômico dos pacientes renais crônicos submetidos à hemodiálise, atendidos no INMC. Metodologia: Foi utilizado um questionário com dados sobre idade, raça, sexo, renda, escolaridade, número de membros da família, tipo de acesso e doença de base, que foi aplicado em 251 pacientes atendidos no INMC mediante a entrevista durante a sessão de hemodiálise. A coleta de dados foi feita em maio de 2010. Utilizou-se também o banco de dados do INMC para conferência e complemento dos dados. Resultados: Quanto ao perfil social dos pacientes do INMC, destaca-se que, dos 251 estudados (100%), a maioria é do sexo masculino (61,35%). A faixa etária que se destaca (35,85%) está compreendida entre 60 e 69 anos e a raça que possui maior incidência é a caucasiana (62,15%). A doença de base com evolução para a insuficiência renal crônica predominante é a hipertensão com 111 casos (44,22%), o tipo de acesso mais utilizado é a fístula arteriovenosa (71,31%). Conclusões: Quanto ao perfil epidemiológico dos pacientes no INMC, destaca-se que, dos 251 estudados (100%), a maioria é do sexo masculino (61,35%). A faixa etária que se destaca (35,85%) está compreendida entre 60 e 69 anos e a etnia que possui maior incidência é a caucasiana (62,15%). A doença de base predominante é a hipertensão arterial (44,22%), o tipo de acesso mais utilizado é a fístula arteriovenosa (71,71%). Impacto do benefício de prestação continuada na melhora clínica do paciente renal crônico em hemodiálise Vinicius de Abreu Mazzolin, Luiza Rangel Urizzi, Tais Rangel Urizzi, Vinicius Ayusso Corrêa Sossa, Simone Almeida, Silvana Kesrouani, Jenner Cruz, Rui Alberto Gomes Institutos de Nefrologia de Mogi das Cruzes e Suzano, São Paulo Introdução: O paciente renal crônico em diálise sofre mudanças em sua qualidade de vida, provocadas pelas complicações clínicas da doença e pelas limitações impostas pelo regime do tratamento farmacológico, dietético e dialítico. Observa-se impacto negativo em sua capacidade de trabalho, acarretando dificuldade financeira. O BPC/87 (Benefício de Prestação Continuada/87) da assistência social consiste na transferência de renda, equivalente a um salário mínimo mensal, a pessoas em situação de vulnerabilidade social portadoras de deficiência ou a idosos acima de 65 anos. Renais crônicos podem se beneficiar desta renda. Objetivo: Analisar o impacto do BPC/87 no estado clínico de pacientes renais em hemodiálise. Metodologia: Avaliado grupo de pacientes beneficiados com o BPC/87 (27 pacientes) e grupo de não beneficiados (18 pacientes), mas com a mesma situação de vulnerabilidade social. Analisados resultados dos indicadores clínicos: hemoglobina (Hb), hematócrito (Ht) e albumina sérica (Alb) em ambos. Dose de alfaepoetina (EPO) administrada também analisada. Considerados os resultados imediatamente antes do início do recebimento do benefício e seis meses após. Resultados: Nos beneficiados, houve mudança positiva significante nos quatro indicadores. Nos não beneficiados, houve mudança negativa significante na albumina (piorou em seis meses). Resultados dos beneficiados: antes: Hb (mg/dL) = 10,1 ± 2,0; Ht (%) = 30,8 ± 6,4; Alb (g/dL) = 3,6 ± 0,6; EPO (UI) = 9.600 ± 4.400; depois: Hb (mg/dL) = 11,6 ± 1,9; Ht (%) = 35,1 ± 6,1; Alb (g/dL) = 3,8 ± 0,5; EPO (UI) = 8.400 ± 5.600; P: Hb = 0,0026; Ht = 0,0042; Alb = 0,0179; EPO = 0,0288. Resultados dos não beneficiados: antes: Hb (mg/ dL) = 10,2 ± 2,0; Ht (%) = 30,2 ± 5,9; Alb (g/dL) = 3,8 ± 0,5; EPO (UI) = 9.600 ± 4.400; depois: Hb (mg/dL) = 10,5 ± 2,9; Ht (%) = 31,3 ± 8,4; Alb (g/ dL) = 3,7 ± 0,5; EPO (UI) = 9.600 ± 5.600; P: Hb = 0,6510; Ht = 0,5714; Alb = 0,0432; EPO = 0,9060. Conclusão: O BPC/87 deve ser visto como importante auxílio ao paciente renal crônico. Tem impacto clínico positivo, colaborando para melhorar seu estado nutricional e seu grau de anemia. Diagn Tratamento. 2012;17(3):144-51. Instruções aos autores INDEXAÇÃO E ESCOPO A Revista Diagnóstico & Tratamento (ISSN 1413-9979) tem por objetivo oferecer atualização médica, baseada nas melhores evidências disponíveis, em artigos escritos por especialistas. Seus artigos são indexados na base de dados Lilacs (Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde). São aceitos artigos originais (ensaios clínicos, estudos coorte, estudos caso-controle, revisões sistemáticas, estudos transversais, avaliações econômicas), relatos de caso, revisões narrativas da literatura (artigos de atualização) e cartas ao editor, que devem enquadrar-se nas normas editoriais dos manuscritos submetidos a revistas biomédicas (do International Committe of Medical Journal Editors1). POLÍTICAS E PROCEDIMENTOS DA REVISTA Após o recebimento do manuscrito pelo setor de Publicações Científicas, os autores receberão um número de protocolo que servirá para manter o bom entendimento entre os autores e o setor. Em seguida, o artigo será lido pelo editor, que verificará se está de acordo com a política e o interesse da revista. Em caso afirmativo, o setor de Publicações Científicas vai verificar se o texto cumpre as normas de publicação expressas nestas Instruções para Autores. Se o texto estiver incompleto ou se não estiver organizado como exigido, os autores deverão resolver os problemas e submetê-lo novamente. Quando o formato estiver aceitável, o setor enviará o trabalho para a revisão por pares, na qual os revisores não assinarão seus veredictos e não conhecerão os nomes dos autores do trabalho. Cada manuscrito será avaliado por dois revisores: um especialista no assunto e um consultor ad hoc (que vai avaliar aspectos metodológicos do trabalho); as discordâncias serão resolvidas pelos editores. Os autores então receberão a avaliação e será solicitado que resolvam os problemas apontados. Uma vez que o setor de Publicações Científicas receba o texto novamente, o artigo será enviado ao editor científico e revisor de provas, que identificará problemas na construção de frases, ortografia, gramática, referências bibliográficas e outros. Os autores deverão providenciar todas as informações e correções solicitadas e deverão marcar , no texto, todos os pontos em que realizaram modificações, utilizando cores diferentes ou sistemas eletrônicos de marcação de alterações, de maneira que elas fiquem evidentes. Quando o texto for considerado aceitável para publicação, e só então, entrará na pauta. O setor de Publicações Científicas fornecerá uma prova, incluindo Tabelas e Figuras, para que os autores aprovem. Nenhum artigo é publicado sem este último procedimento. INSTRUÇÕES PARA AUTORES Diretriz geral: para todos os tipos de artigos Os artigos devem ser submetidos exclusivamente pela internet para o e-mail [email protected] e/ou [email protected]. O manuscrito deve ser submetido em português e deve conter um resumo e cinco palavras-chave em português, que devem ser selecionadas das listas DeCS (Descritores em Ciências da Saúde), conforme explicado em detalhes abaixo (nenhuma outra palavra-chave será aceita). Artigos submetidos devem ser originais e todos os autores precisam declarar que o texto não foi e não será submetido para publicação em outra revista. Artigos envolvendo seres humanos (individual ou coletivamente, direta ou indireta ou indiretamente, total ou parcialmente, incluindo o gerenciamento de informações e materiais) devem ser acompanhados de uma cópia da autorização do Comitê de Ética em Pesquisa da instituição onde o experimento foi realizado. Todo artigo submetido deve cumprir os padrões editoriais estabelecidos na Convenção de Vancouver (Requerimentos Uniformes para Manuscritos Submetidos a Revistas Biomédicas),1 e as diretrizes de qualidade para relatórios de estudos clínicos,2 revisões sistemáticas (com ou sem metanálises)3 e estudos observacionais.4 O estilo conhecido como “estilo Vancouver” deve ser usado não somente quanto ao formato de referências, mas para todo o texto. Os editores recomendam que os autores se familiarizem com esse estilo acessando www.icmje.org. Para a classificação dos níveis de evidência e graus de recomendação de evidências, a Revista Diagnóstico e Tratamento adota a nova classificação elaborada pelo Centro de Medicina Baseada em Evidências de Oxford (Centre for Evidence-Based Medicine - CEBM) e disponível em http://www.cebm.net/mod_product/design/ files/CEBM-Levels-of-Evidence-2.pdf Abreviações não devem ser empregadas, mesmo as que são de uso comum. Drogas ou medicações devem ser citadas usando-se os nomes genéricos, evitando-se a menção desnecessária a marcas ou nomes comerciais. Qualquer produto citado no capítulo de Métodos, tal como equipamento diagnóstico, testes, reagentes, instrumentos, utensílios, próteses, órteses e dispositivos intraoperatórios devem ser descritos juntamente como o nome do fabricante e o local (cidade e país) de produção entre parênteses. Medicamentos Diagn Tratamento. 2012;17(3):152-3. administrados devem ser descritos pelo nome genérico (não a marca), seguidos da dosagem e posologia. Para qualquer tipo de estudo, todas as afirmações no texto que não sejam resultado da pesquisa apresentada para publicação à revista Diagnóstico & Tratamento, mas sim dados de outras pesquisas já publicadas em outros locais, devem ser acompanhadas de citações da literatura pertinente. Os relatos de caso e as revisões narrativas deverão conter uma busca sistematizada (atenção: o que é diferente de uma revisão sistemática) do assunto apresentado, realizada nas principais bases de dados (Cochrane Library, Embase, Lilacs, PubMed, outras bases específicas do tema). Bolsas, apoios e qualquer suporte financeiro a estudos devem ser mencionados separadamente na última página. Agradecimentos, se necessário, devem ser colocados após as referências bibliográficas. A Diagnóstico & Tratamento apóia as políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso aberto. Sendo assim, somente serão aceitos para publicação, a partir de 2007, os artigos de pesquisa clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, cujos endereços estão disponíveis no site do ICMJE (http://www.icmje.org/). O número de identificação deverá ser registrado ao final do resumo. FORMATO Primeira página (capa) A primeira página deve conter: 1) classificação do artigo (original, revisão narrativa da literatura, relato de caso e carta ao editor); 2) o título do artigo, que deverá ser conciso, mas informativo; 3) o nome de cada autor (não abreviar), sua titulação acadêmica mais alta e a instituição onde trabalha; 4) o local onde o trabalho foi desenvolvido; Segunda página Artigos originais: a segunda página, neste caso, deve conter um resumo5 (máximo de 250 palavras) estruturado da seguinte forma: 1) contexto e objetivo; 2) desenho e local (onde o estudo se desenvolveu); 3) métodos (descritos em detalhes); 4) resultados; 5) Discussão; 6) conclusões. Relatos de caso: devem conter um resumo5 (máximo de 250 palavras) estruturado da seguinte forma: 1) contexto; 2) descrição do caso; 3) discussão; 4) conclusões. Revisão da narrativa da literatura: deve conter um resumo (máximo de 250 palavras) com formato livre. O resumo deve conter cinco palavras-chave, que devem ser escolhidas a partir dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), desenvolvidos pela Bireme, que estão disponíveis na internet (http://decs.bvs.br/).6 Referências As referências bibliográficas (no estilo “Vancouver”, como indicado pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Biomédicas, ICMJE) devem ser dispostas na parte final do artigo e numeradas de acordo com a ordem de citação. Os números das citações devem ser inseridos após pontos finais ou vírgulas nas frases, e sobrescritos (sem parênteses ou colchetes). Referências citadas nas legendas de Tabelas e Figuras devem manter a sequência com as referências citadas no texto. Todos os autores devem ser citados se houver menos de seis; se houver mais de seis autores, os primeiros três devem ser citados seguidos de “et al.” Para livros, a cidade de publicação e o nome da editora são indispensáveis. Para textos publicados na internet, a fonte localizadora completa (URL) ou endereço completo é necessário (não apenas a página principal ou link), de maneira que, copiando o endereço completo em seus programas para navegação na internet, os leitores possam ser levados diretamente ao documento citado, e não a um site geral. A seguir estão dispostos alguns exemplos dos tipos mais comuns de referências: Artigo em periódico • Lahita R, Kluger J, Drayer DE, Koffler D, Reidenberg MM. Antibodies to nuclear Instruções aos autores antigens in patients treated with procainamide or acetylprocainamide. N Engl J Med. 1979;301(25):1382-5. Livro • Styne DM, Brook CGD. Current concepts in pediatric endocrinology. New York: Elsevier; 1987. Capítulo de livro • Reppert SM. Circadian rhythms: basic aspects and pediatric implications. In: Styne DM, Brook CGD, editors. Current concepts in pediatric endocrinology. New York: Elsevier; 1987. p. 91-125. Texto na internet • World Health Organization. WHO calls for protection of women and girls from tobacco. Disponível em: http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2010/ women_tobacco_20100528/en/index.html. Acessado em 2010 (8 jun). Dissertações e teses • Neves SRB. Distribuição da proteína IMPACT em encéfalos de camundongos, ratos e saguis. [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo; 2009. Última página A última página deve conter: 1) a data e o local do evento no qual o artigo foi apresentado, se aplicável, como congressos ou defesas de dissertações ou teses; 2) fontes de apoio na forma de suporte financeiro, equipamentos ou drogas e número do protocolo; 3) descrição de qualquer conflito de interesse por parte dos autores; 4) endereço completo, e-mail e telefone do autor a ser contatado quanto à publicação na revista. Figuras e tabelas As imagens devem ter boa resolução (mínimo de 300 DPI) e ser gravadas em formato “.jpg” ou “.tif”. Imagens não devem ser incluídas em documentos do Microsoft PowerPoint. Se as fotografias forem inseridas num documento Microsoft Word, as imagens também devem ser enviadas separadamente. Gráficos devem ser preparados com o Microsoft Excel (não devem ser enviados como imagem) e devem ser acompanhados das tabelas de dados a partir dos quais foram gerados. O número de ilustrações não deve exceder o número total de páginas menos um. Todas as figuras e tabelas devem conter legendas ou títulos que descrevam precisamente seu conteúdo e o contexto ou amostra a partir da qual a informação foi obtida (por exemplo, quais foram os resultados apresentados e qual foi o tipo de amostra e local). A legenda ou título devem ser curtos, mas compreensíveis independentemente da leitura do artigo. O MANUSCRITO # Relatos de caso devem conter Introdução, Descrição do Caso, Discussão (contendo a busca sistematizada sobre o tema) e Conclusão. # Artigos originais e revisões narrativas devem ser estruturados de maneira que contenham as seguintes partes: Introdução, Objetivo, Método, Resultados, Discussão e Conclusão. A Revista publica revisões narrativas desde que contenham busca sistematizada da literatura. O texto não deve exceder 2.200 palavras (excluindo tabelas, figuras e referências), da introdução até o final da conclusão. A estrutura do documento deve seguir o formato abaixo: 1. Introdução: as razões para que o estudo fosse realizado devem ser explicitadas, descrevendo-se o atual estado da arte do assunto. Deve ser descrito o contexto, o que se sabe a respeito. Aqui não devem ser inseridos resultados ou conclusões do estudo. No último parágrafo, deve ser especificada a principal questão do estudo e a principal hipótese, se houver. Não se deve fazer discussões sobre a literatura na introdução; a seção de introdução deve ser curta. 2. Objetivo: deve ser descrito o principal objetivo do estudo, brevemente. Hipóteses pré-estabelecidas devem ser descritas claramente. De preferência deve-se estruturar a pergunta do estudo no formato “PICO”, onde P é a população ou problema, I é intervenção ou fator de risco, C é o grupo controle e O vem de “outcome”, ou desfecho. 3. Métodos 3.1. Tipo de estudo: deve-se descrever o desenho do estudo, adequado para responder a pergunta, e especificando, se apropriado, o tipo de randomização, cegamento, padrões de testes diagnósticos e a direção temporal (se retrospectivo ou prospectivo). Por exemplo: “estudo clínico randomizado”, “estudo clínico duplo-cego controlado por placebo”, “estudo de acurácia”, “relato de caso” 3.2. Local: deve ser indicado o local onde o estudo foi desenvolvido, o tipo de instituição: se primária ou terciária, se hospital público ou privado. Deve-se evitar o nome da instituição onde o estudo foi desenvolvido (para cegamento do texto para revisão): apenas o tipo de instituição deve ficar claro. Por exemplo: hospital universitário público. 3.3. Amostra, participantes ou pacientes: devem ser descritos os critérios de elegibilidade para os participantes (de inclusão e exclusão), as fontes e os procedimentos de seleção ou recrutamento. Em estudos de caso-controle, a lógica de distribuição de casos como casos e controles como controles deve ser descrita, assim como a forma de pareamento. O número de participantes no início e no final do estudo (após exclusões) deve ficar claro. 3.4. Tamanho de amostra e análise estatística: descrever o cálculo do tamanho da amostra, a análise estatística planejada, os testes utilizados e o nível de significância, e também qualquer análise post hoc. Descrever os métodos usados para o controle de variáveis e fatores de confusão, como se lidou com dados faltantes (“missing data”) e como se lidou com casos cujo acompanhamento foi perdido (“loss from follow-up”). 3.5. Randomização: descrever qual foi o método usado para implementação da alocação de sequência aleatória (por exemplo, “envelopes selados contendo sequências aleatórias de números gerados por computador”). Adicionalmente, descrever quem gerou a sequência aleatória, quem alocou participantes nos grupos (no caso de estudos controlados) e quem os recrutou. 3.6. Procedimentos de intervenção, teste diagnóstico ou exposição: descrever quais as principais características da intervenção, incluindo o método, o período e a duração de sua administração ou de coleta de dados. Descrever as diferenças nas intervenções administradas a cada grupo (se a pesquisa é controlada). 3.7. Principais medidas, variáveis e desfecho: descrever o método de medida do principal resultado, da maneira pela qual foi planejado antes da coleta de dados. Afirmar quais são os desfechos primário e secundário esperados. Para cada variável de interesse, detalhar os métodos de avaliação. Se a hipótese do estudo foi formulada durante ou após a coleta de dados (não antes), isso deve ser declarado. Descrever os métodos utilizados para melhorar a qualidade das medidas (por exemplo, múltiplos observadores, treinamento etc.). Explicar como se lidou com as variáveis quantitativas na análise. 4. Resultados: descrever os principais achados. Se possível, estes devem conter os intervalos de confiança de 95% e o exato nível de significância estatística. Para estudos comparativos, o intervalo de confiança para as diferenças deve ser afirmado. 4.1. Fluxo de participantes: descreva o fluxo dos participantes em cada fase do estudo (inclusões e exclusões), o período de acompanhamento e o número de participantes que concluiu o estudo (ou com acompanhamento perdido). Considerar usar um fluxograma. Se houver análise do tipo “intenção de tratar”, esta deve ser descrita. 4.2. Desvios: se houve qualquer desvio do protocolo, fora do que foi inicialmente planejado, ele deve ser descrito, assim como as razões para o acontecimento. 4.3. Efeitos adversos: devem ser descritos quaisquer efeitos ou eventos adversos ou complicações. 5. Discussão: deve seguir a sequência: começar com um resumo dos objetivos e das conclusões mais relevantes; comparar métodos e resultados com a literatura; enfatizar os pontos fortes da metodologia aplicada; explicar possíveis pontos fracos e vieses; incluir implicações para a prática clínica e implicações para pesquisas futuras. 6. Conclusões: especificar apenas as conclusões que podem ser sustentadas, junto com a significância clínica (evitando excessiva generalização). Tirar conclusões baseadas nos objetivos e hipóteses do estudo. A mesma ênfase deve ser dada a estudos com resultados negativos ou positivos. CARTAS AO EDITOR É uma parte da revista destinada à recepção de comentários e críticas e/ou sugestões sobre assuntos abordados na revista ou outros que mereçam destaque. Tem formato livre e não segue as recomendações anteriores destinadas aos artigos originais, relatos de casos e revisão da literatura. Documentos citados 1. International Committee of Medical Journal Editors. Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals. Disponível em: http://www.icmje. org/urm_main.html. Acessado em 2010 (7 jun). 2. CONSORT Transparent Reporting of Trials. Welcome to the CONSORT statement website. Disponível em: http://www.consort-statement.org. Acessado em 2010 (7 jun). 3. Moher D, Cook DJ, Eastwood S, Olkin I, Rennie D, Stroup DF. Improving the quality of reports of meta-analyses of randomised controlled trials: the QUOROM statement. Quality of Reporting of Meta-analyses. Lancet. 1999;354(9193):1896900. 4. STROBE Statement Strengthening the reporting of observational studies in epidemiology. Checklist on items that should be included in reports of observational studies. Disponível em:: http://www.strobe-statement.org/index. php?eID=tx_nawsecuredl&u=0&file=fileadmin/Strobe/uploads/checklists/STROBE_checklist_v4_combined.pdf&t=1257007091&hash=7713ea8f7f2662b288689 b3dab40c1cb. Acessado em 2010 (7 jun). 5. Haynes RB, Mulrow CD, Huth EJ, Altman DG, Gardner MJ. More informative abstracts revisited. Ann Intern Med. 1990;113(1):69-76. 6. BVS Biblioteca Virtual em Saúde. Descritores em Ciências da Saúde. Disponível em:: http://decs.bvs.br/. Acessado em 2010 (7 jun). Diagn Tratamento. 2012;17(3):152-3.