MÍDIA E ELEIÇÕES: AS COBERTURAS ELEITORAIS 2006 E 2008 NA FOLHA DE S. PAULO Isadora Ortiz de Camargo (Pibic/CNPq-UEPG) e-mail: [email protected] Emerson Urizzi Cervi (Orientador) e-mail:[email protected] Universidade Estadual de Ponta Grossa/Setor de Ciências Sociais Aplicadas - Comunicação Palavras-chave: impresso eleições presidenciais, cobertura jornalística, jornal Resumo: O período de campanha eleitoral é o momento de maior representação política da sociedade por meio do voto. É também o momento de maior visibilidade de assuntos políticos, envolvendo campanha, vida dos candidatos, propostas de governo e ações de partido. Assim, este trabalho analisa como as eleições a presidência do país (2006) e a prefeitura de São Paulo (2008) foram retratadas no mesmo jornal impresso, no caso o de maior circulação nacional do Brasil, Folha de S. Paulo. Dessa forma, verificar como se desenvolveu a cobertura jornalística através de variáveis como valência e número de citações de cada candidato. Introdução A política é um dos temas que necessitam da mídia para ter visibilidade, não só pelo interesse de seus atores políticos, mas também como parte do conjunto de informações necessárias para fortalecer o debate público. Observar a cobertura eleitoral, então, pode levar a traçar possíveis implicações políticas do país (ALDÉ, 2003) e a crescente midiatização das campanhas faz com que seja possível inferir que a sociedade se condiciona pelo circuito midiático. Munhoz (2007) considera que a mídia não só determina os assuntos a serem tratados pelo público, mas também a maneira pela qual os indivíduos os percebem, conferindo a estes assuntos certos atributos – positivos ou negativos (MUNHOZ, 2007 apud BONI e LÉLLIS, 2009). Assim, o jornalismo se qualifica como mediador da sociedade e do campo político se firmando como uma forma de representação política. Nesse caso, aplica- Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. se o conceito de agenda-setting, proposto por Mc-Combs e Shaw em 1972 (apud CERVI, 2002), que mostra que os meios de comunicação podem determinar a pauta de debate público, através da escolha de assuntos retratados nos jornais impressos, principalmente. No estudo, busca-se traçar relações entre como as eleições presidenciais de 2006 e as à prefeito de São Paulo, em 2008 ganharam visibilidade e qual caráter da cobertura do período na Folha de S. Paulo. Materiais e métodos A metodologia utilizada no trabalho é a quantitativa de análise de conteúdo, sendo possível aproximar ou contrastar modos de cobertura jornalística através do método. Pode também comparar conteúdos veiculados nos periódicos de diferentes abrangências e de diversas mídias, além de detectar tendências de cobertura dos meios (HERSCOVITZ, 2007). Para análise da pesquisa utilizam-se dados provenientes da coleta realizada por pesquisadores do Grupo de Pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais do curso de Jornalismo e Mestrado em Ciências Sociais da Universidade Estadual de Ponta Grossa para os dados de 2008. E também dados provenientes da coleta realizada por pesquisadores do Doxa Laboratório de Pesquisas em Comunicação Política e Opinião Pública do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) – para os dados de 2006 na Folha de S. Paulo. As variáveis utilizadas são: número de citações, referentes ao nome de cada candidato quando aparece no título e no corpo da matéria, contando também, as aparições em imagens e ilustrações; a valência das candidaturas, podendo ser positiva, negativa ou neutra. Delimitaram-se os candidatos a serem pesquisados, sendo selecionados aqueles de maior relevância de acordo com os resultados de votos válidos no primeiro turno. São eles: Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckimin para as eleições a presidência e Marta Suplicy (PT) e Gilberto Kassab (DEM), na disputa ao governo municipal de São Paulo. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Resultados e Discussão Nas eleições de 2006, Lula (PT) teve maior visibilidade quanto ao número de citações, 4.019 contra 3.690 de Alckmin (PSDB). Uma possível explicação é de como Lula era candidato à reeleição, as matérias antes e durante a campanha eleitoral podem estar ligadas às obras de governo do mandato 2002-2006. O candidato petista das mais de quatro mil entradas obteve 42,9% de valência neutra, porém se os valores da valência positiva (26,3%) e negativa (30,8%) resultam em uma porcentagem maior do que a neutra (57,1%). Isso remete que a cobertura da Folha em relação a Lula foi mais posicionada do que neutra, e tendeu mais para a negatividade. A Folha de S. Paulo para Alckmin denotou a valência neutra com 43,4%. Mas a soma das valências positiva e negativa ultrapassam a neutralidade das reportagens coletadas, predominando entre as duas a valência negativa para o peessedebista. Lula venceu nos dois turnos com os resultados de 48,6% contra 41,6% de Alckmin no primeiro. No segundo, 60,8% de Lula contra 39,1% de Alckmin. Em 2008 Foram coletadas 832 matérias, em que os candidatos (de maior visibilidade nesse período) Gilberto Kassab (DEM), apareceu em 595 matérias, e Marta Suplicy (PT), em 539. Mesmo sendo a valência predominante neutra para os dois, pode-se verificar que a valência negativa foi mais associada à Marta do que ao Kassab, com 15% das matérias com teor negativo para a candidata. Os dois candidatos disputaram o segundo turno, e Kassab venceu as eleições com 60,72% dos votos válidos, se tornando o primeiro prefeito de São Paulo a se reeleger nas urnas. Conclusões Em 2006, Lula e Alckmin apresentaram ao longo da campanha um crescimento em relação à visibilidade de ambos como candidatos, embora o aumento no número de aparições de Lula tenha sido maior. As valências positivas e negativas dos dois candidatos aumentaram no decorrer do processo eleitoral com a diferença de que a valência positiva de Alckmin Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. aumentou mais que a de Lula. Já a negativa de Lula aumenta em 33%, contra um aumento de 28% para Alckmin. Nas eleições presidenciais de 2006 não se nota tendenciosidade do impresso, exceto em pequenas diferenças nos valores das valências dos dois candidatos. Já em 2008, o jornal denotou uma interferência maior, e uma possível explicação é por retratar um pleito eleitoral em uma arena política na qual se está inserido, devido a localização da sede. Marta obteve menor número de citações em relação a Kassab e, mesmo assim, predominou para a candidata do PT a valência negativa. Agradecimentos Ao orientador Emerson Urizzi Cervi e aos demais pesquisadores do grupo de pesquisa em Mídia e Política da UEPG. Referências ALDÉ, Alessandra. As eleições presidenciais de 2002 nos jornais. ALCEU v.3 - n.6 - p. 93 a 121 - jan./jun. 2003 BONI, P.C. E LÉLLIS, L.C. O discurso fotográfico da Folha de S. Paulo nas Eleições 2006. In: Comunicação & Sociedade, Ano 31, n. 52, p. 127-153, jul./dez. 2009. Disponível em - https://www.metodista.br/revistas/revistasims/index.php/CSO/article/viewFile/1083/1584 CERVI, Emerson Urizzi. A cobertura da imprensa e as eleições presidenciais 2002. In: Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação. Disponível em: http://bocc.ubi.pt/pag/_texto.php3?html2=cervi-emerson-imprensa-eleicoes2002.html HERSCOVITZ, Heloíza Golbspan. Análise de Conteúdo em Jornalismo. In: LAGO & BENETTI. Metodologia de Pesquisa em Jornalismo. Editora Vozes: Petrópolis-RJ, 2007. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.