CENTENÁRIO DA IT 1911 - 2011 SÃO PEDRO POVEDA, “Intuição profética” A Instituição Teresiana e o papel dos leigos no mundo Thelma Palabrica Consultora educativa e pesquisadora, Filipinas Ao conhecer a Instituição Teresiana em Roma, em 1934, o insigne jesuíta Pedro Vidal, Consultor das congregações vaticanas do Concílio e dos Religiosos não pode menos que comentar: “A Obra é tão necessária que, se não existisse, seria preciso fundá-la”. E doze anos antes, o eminente filósofo-teólogo-pedagogo espanhol Juán Zaragueta se assombrava, em 1922, da “originalidade do fim, procedimento e estrutura orgânica” da Associação iniciada pelo sacerdote diocesano Pedro Poveda. Estas avaliações da então recém fundada associação de profissionais leigos, exemplificam o impacto que produziu o caráter pioneiro de sua natureza, fim e estilo de atuar no mundo eclesial e na sociedade civil em princípios do século XX. Quando, em 1911, a Instituição Teresiana apareceu no cenário social, marcado por uma forte onda de modernismo laicista e de confrontação ideológica, era uma proposta educativo-cultural inédita, atrevida, relevante e dialogante. Assim a perceberam seus contemporâneos. Anos depois, quando esta associação de leigos já estava extendida em 30 países dos quatro continentes, o Papa João Paulo II a qualificou de “intuição profética” duas vezes: em 1989, durante sua visita ao Santuário Mariano de Covadonga, nas Astúrias, Espanha, e no dia 23 de novembro de 1990, durante uma audiência, em sua biblioteca particular, com o Conselho de Governo da Instituição Teresiana. Foi em Covadonga, lendo atentamente os sinais de seu tempo e olhando a Imagem da “Santina”, onde o jovem cônego Pedro Poveda recebeu a inspiração de organizar o primeiro movimento de fiéis leigos, com uma missão e características então originais e ao mesmo tempo enraizadas no estilo e no espírito dos primeiros cristãos. Em 1990, durante sua visita a Covadonga, João Paulo II disse em sua homilia: “Aqui nasceu esta Obra, aos pés da “Santina”... uma intuição profética inspirada por Maria...”. Qualificar a Instituição Teresiana como “intuição profética” remete necessariamente a seu Fundador que, situado em seu contexto e seu tempo, demonstrou um caráter inovador e profético. Em 1911, o sacerdote Pedro Poveda tinha 37 anos. Havia chegado a Covadonga em 1906, carregado da experiência sócio-educativa-pastoral – já inovadora em seu tempo – com os habitantes marginalizados das grutas de Guadix, ao sul da Espanha. “Sob o olhar da ‘Santina’ se orou, se pensou, se planejou...”, escreveu Poveda anos depois. Em 1917, seu novo projeto educativo recebia aprovação diocesana em Jaén. Em 1924, o Papa Pio XI lhe outorgava a aprovação pontifícia. Em 1934, o próprio Pedro Poveda reconhecia: “Inauguramos um caminho novo...”. E, em seguida, expunha sua exigência radical: “... Para esta Obra audaz, atrevidíssima, se vale a frase – quase temerária – necessita-se extraordinária vocação, santa loucura pela perfeição, desejo de delicadeza espiritual, têmpera de mártir, zelo de apóstolo, monomania de ciência, obsessão de edificação”. Poveda concebeu este “caminho novo” com a intuição profética da vocação e missão dos fiéis leigos na Igreja e no mundo, então praticamente ignorado e 50 anos mais tarde, proclamado pelo Concílio Vaticano II. Este grande acontecimento renovador eclesial de princípios da década de 1960 declarou contundentemente que todos os batizados estão chamados à santidade e que todos os fiéis leigos são agentes corresponsáveis da missão cristã de anunciar a Boa Nova. Poveda antecipou esta declaração eclesial de modo prático, ao inaugurar meio século antes, um “caminho novo” para os fiéis leigos. Refletindo e fazendo uma leitura a partir da fé de seu contexto sócio-culturalpolítico,Poveda viu e compreendeu a potencialidade dos leigos como catalisadores de mudança e transformação no tecido de seus próprios trabalhos e profissões. E o fariam com seu modo próprio e específico: ao modo inadvertido, mas eficazmente transformador do fermento e, como o “sal”, que possui força de dar sabor e curar ali onde está presente. A este modo de ser e estar chamou-o Pedro Poveda “a Encarnação bem entendida”, ou seja, a espiritualidade de encarnação, “toda de Deus, eminentemente humana” ao estilo de Santa Teresa de Jesus. Assim configurou Poveda o novo movimento eclesial com missão transformadora por meio da educação e da cultura. Para seus associados, Pedro Poveda também antecipou os perfis de uma pessoa que na atualidade se qualifica como “transformacional”. SEven Covey o descreve em seu livro “Los Siete Hábitos de las Personas Efectivas” (1989). Em seu próprio ser fazer e educar, 87 anos antes, as pessoas convocadas por Poveda viviam este perfil e essas qualidades “transformacionais” de Covey, a partir de uma força de um carisma. Assim é a Instituição Teresiana a “intuição profética” de Pedro Poveda sobre o papel e missão dos leigos na Igreja e no mundo de hoje.