INDISCIPLINA E VIOLÊNCIA ESCOLAR Professores não têm formação para lidar com a indisciplina nas salas de aula Castigos físicos deixaram de ser socialmente aceites após o 25 de Abril. Docentes não recebem formação para lidar com mau comportamento. Diário de Notícias | 18.07.15 Professora do 1.º ciclo há 14 anos, Raquel M. deparou-se neste ano com um caso "muito grave" de indisciplina na sala de aula. "O aluno faltava-me ao respeito, desafiava-me, diziame que não mandava nele e que não o podia castigar", conta ao DN. Depois de recorrer à ajuda da psicóloga da escola, a docente continuava a sentir que lhe faltavam ferramentas para lidar com a situação, o que a levou a inscrever-se numa formação de gestão de conflitos. "Durante a licenciatura não tive nenhuma cadeira que abordasse estas questões. Quando comecei a lecionar nem sentia essa necessidade, mas cada vez sinto mais, porque os professores perderam autoridade", acrescenta. Há um défice de formação para lidar com a indisciplina em Portugal, de acordo com um estudo que está a ser desenvolvido pela Universidade do Minho e que contou com a colaboração de três mil professores. 60% dos participantes, muitos no ensino há várias décadas, afirmaram nunca ter tido qualquer formação específica para lidar com este problema, que até ao 25 de Abril de 1974 era resolvido através da aplicação de castigos severos com réguas e canas-da-índia. A situação agrava-se quando 85% dos participantes consideram que a indisciplina "aumentou significativamente, ou muito significativamente", nas salas de aula nos últimos cinco anos. Embora considerem que a indisciplina se generalizou, os docentes não referem um aumento da gravidade da mesma. "Os atos mais graves de indisciplina - agressões verbais e físicas são residuais", destaca João Lopes, coordenador do estudo. Mais de metade dos inquiridos falam sobretudo de desatenção e 27% referem intervenções fora de vez. Para os professores do ensino básico, a responsabilidade do aumento da indisciplina é sobretudo dos pais. Seguem-se as políticas educativas, os próprios alunos, os diretores dos agrupamentos e as escolas e, por fim, os professores. Nos níveis escolares seguintes, aumenta a responsabilidade do aluno. INDISCIPLINA E VIOLÊNCIA ESCOLAR Constitucionalista: Ter militares nas escolas é "ideia estapafúrdia" Diário de Notícias | 16.06.15 O constitucionalista Jorge Bacelar Gouveia qualifica como "ideia estapafúrdia" a proposta do Governo de colocar militares a fazer vigilância nas escolas e espera que ela "não venha a vingar". "Tenho as maiores dúvidas que seja possível", pois a vigilância nas escolas "não é uma função militar", argumentou o académico, numa conferência sobre o Sistema de Autoridade Marítima realizada na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. O Governo aprovou quinta-feira alterações legais para permitir que os militares das Forças Armadas na reserva possam ser recrutados para fazer vigilância nas escolas. Lembrando que os militares são treinados e formados para lutar contra "o inimigo", Bacelar Gouveia observou que neste caso da proposta governamental "eles lidam ainda por cima com crianças, [as quais] vão ser inimigos". "Acho a ideia estapafúrdia e espero que não venha a vingar", declarou o constitucionalista ligado ao PSD, enfatizando que "só em Estados autoritários é que as Forças Armadas podem desempenhar funções policiais ou na segurança interna". Quanto ao argumento economicista usado pelos defensores da solução e especificamente pelos responsáveis militares da Marinha que entendem poder exercer funções e ter competências no âmbito da Autoridade Marítima e a tutelar a Polícia Marítima, para se evitarem duplicações e gastos adicionais num Estado em crise financeira, Bacelar Gouveia disse com ironia que "é um raciocínio de café". Assinalando que estão em causa "direitos das pessoas", o académico levou aquele raciocínio ao limite: "Até se podem fundir todas as forças militares ou policiais, ou acabar com todas, que é mais barato." Em causa está o facto de os militares não poderem interpelar ou dirigir-se aos cidadãos sem estar declarado o estado de sítio. Apesar de a proposta aprovada em Conselho de Ministros abranger apenas os militares na reserva, estes continuam a ser militares em serviço nas Forças Armadas - e, portanto, não têm qualquer autoridade para exercer funções de vigilância nas escolas. Mesmo agindo subordinados à PSP e não aos diretores das escolas, que são figuras sem poder de autoridade, os militares estão obrigados a chamar um agente policial sempre que virem alguma situação anormal - entre crianças ou nas escolas - que exija intervenção das forças de segurança. INDISCIPLINA E VIOLÊNCIA ESCOLAR Militares a vigiar os recreios? Diretores escolares recusam Diário de Notícias / Lusa | 15.06.15 Governo quer militares das Forças Armadas na reserva a fazer vigilância dentro das escolas, essencialmente nos recreios. Os diretores escolares criticaram hoje a "medida avulsa" do Governo em colocar militares das Forças Armadas a vigiar os recreios, lembrando que as escolas precisam é de assistentes operacionais com formação para lidar com os alunos. O Conselho de Ministros aprovou, na passada quinta-feira, alterações a um diploma que permitem agora o recrutamento de elementos das Forças Armadas na reserva para fazer vigilância dentro das escolas. Para a Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), esta é "uma medida avulsa, que não resolve o problema das escolas". Filinto Lima, vice-presidente da ANDAEP, diz que "o ambiente nos recreios das escolas é muito diferente dos ambientes a que os militares estão habituados além de que serão selecionados militares na reserva, ou seja, pessoas mais velhas que, naturalmente, terão menos apetência para lidar com os adolescentes". Além disso, lembra, a presença de militares nas escolas não responde aos pedidos feitos nos últimos anos pelos diretores, que gostariam que fosse aberto um concurso para contratar novos assistentes operacionais (os antigos contínuos). "Esta é uma medida avulsa que nasceu do nada, porque os diretores nunca pediram nada disto. O que nós temos pedido são assistentes operacionais, que faltam nas escolas tanto em termos quantitativos como qualificativos", critica. Muitos dos funcionários que atualmente executam tarefas de vigilância, trabalham nos pavilhões, balneários, bibliotecas ou cantinas, são recrutados pelos centros de emprego. "São pessoas que estão desempregadas e que, em muitos casos, nunca trabalharam numa escola. Há casos em que podem nem ter sensibilidade para estar numa escola. São provenientes de áreas muito distintas, podem vir da restauração ou serem cabeleireiras", explica. Quando o ano letivo termina, os contratos também terminam e não podem ser renovados, mesmo quando os diretores escolares gostam do seu trabalho. Para os cofres do Estado, esta é uma opção mais barata, uma vez que além do subsídio de desemprego que já estavam a receber, ganham apenas mais uma bolsa e os subsídios de refeição e transporte que, segundo contas de Filinto Lima, rondam os 170 euros mensais. No entanto, Filinto Lima lembra que "a segurança dos alunos passa também por ter funcionários em número suficiente e com formação adequada" e por isso acusa o Ministério das Finanças de "não ligar muito às escolas e achar que os funcionários não são importantes". PCP contesta Em comunicado, o PCP já criticou esta decisão, lembrando "o perigo que envolve estas situações" e chamando a atenção para o facto de estarem a "envolver os militares em ações para que não têm formação e, por outro lado, estarem a permitir que de forma encapotada se INDISCIPLINA E VIOLÊNCIA ESCOLAR justifique a utilização dos militares num qualquer bairro chamado "problemático" ou num qualquer jogo de futebol considerado de "alto risco"". Os comunistas consideram ainda que esta alteração legislativa vai "abrir a porta à participação das Forças Armadas em missões de segurança interna ou que podem assumir essa configuração, esquecendo que um militar é sempre um militar, mesmo nas situações de reserva e reforma". Lembrando que as missões das FA estão enquadradas legalmente e que a Constituição restringe a atuação destes militares como autoridade de polícia e, mesmo em ações de cooperação com as Forças de Segurança, limita-lhes o uso da força ou outros meios de coerção, o PCP lembra que o Estatuto dos Militares das Forças Armadas "exige que o militar só possa desenvolver atividades compatíveis com a sua condição, dignidade e posto". INDISCIPLINA E VIOLÊNCIA ESCOLAR Forças Armadas vão fazer vigilância dentro das escolas Conselho de ministros aprovou alterações a um diploma que permite agora o recrutamento de elementos das Forças Armadas na reserva Lusa | 15.06.15 Ministério da Educação explicou esta segunda-feira que os militares na reserva vão "complementar" o Programa Escola Segura e não substituí-lo. Os militares das Forças Armadas na reserva vão fazer vigilância dentro das escolas, essencialmente nos recreios, com missões como impedir agressões entre elementos da comunidade escolar, explicou o Ministério da Educação e Ciência (MEC). O Conselho de Ministros aprovou, na passada quinta-feira, alterações a um diploma que permitem agora o recrutamento de elementos das Forças Armadas na reserva para fazer vigilância nas zonas escolares. Estes militares deverão "assegurar as funções de vigilância relativas ao ambiente do espaço escolar, com especial incidência nos recreios e junto das imediações da vedação escolar", explicou à Lusa fonte do gabinete do MEC. Os militares na reserva vão fazer a segurança escolar no interior das escolas e terão funções complementares ao trabalho que é atualmente desenvolvido pela PSP, ou seja, "não se substituem ao do Programa Escola Segura, pelo contrário vem complementá-lo". Os vigilantes serão colocados nos estabelecimentos escolares que, "devido à sua localização, população, dimensão e problemáticas associadas, necessitem dos mesmos para garantir a tranquilidade da comunidade escolar", acrescenta o ministério. As principais missões serão a de zelar pelo cumprimento dos regulamentos das escolas, "requerendo o auxílio de forças de segurança, sempre que for justificado". Sensibilizar os alunos para a conservação e gestão dos equipamentos das escolas e "impedir a prática de qualquer tipo de agressão, verbal ou física, entre os membros da comunidade escolar" são outras das tarefas atribuídas. O MEC sublinha ainda que as escolas poderão contar com os militares para "defender os direitos das crianças e jovens da escola onde prestam serviço, protegendo-as de qualquer forma de abuso" e para detetar ilegalidades e infrações às regras da escola. "Fiscalizar e informar do estado de conservação das infra -estruturas e equipamentos da escola, sempre que verifique que o mesmo se encontra deteriorado, danificado ou a funcionar defeituosamente" é outra das missões referidas pelo ministério. INDISCIPLINA E VIOLÊNCIA ESCOLAR Estado obrigado a indemnizar aluno agredido por colega há 12 anos em Viseu Tribunal considera que os responsáveis da escola tinham obrigação de zelar pela segurança dos alunos e que não foi cumprido o dever de vigilância. Lusa | 03.06.15 O Estado vai ter de pagar 22 mil euros de indemnização a um jovem agredido há 12 anos por um colega, na escola que frequentava no distrito de Viseu, segundo um acórdão a que a agência Lusa teve hoje acesso. A sentença aplicada em 2012 pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Viseu foi agora confirmada pelo Tribunal Central Administrativo (TCA) do Norte, que julgou improcedente o recurso jurisdicional apresentado pelo Estado. No acórdão, os juízes do TCA do Norte dizem que os responsáveis da escola tinham a obrigação de zelar pela segurança dos alunos, o que não aconteceu, tendo em conta que no momento da agressão não havia nenhum vigilante próximo dos menores. "Poder-se-á objetar que os danos se teriam verificado ainda que estivesse nessa sala um profissional a zelar por tais direitos. Mas essa prova não foi feita", pode ler-se no documento. Os juízes referem ainda que a agressão ocorreu durante um intervalo entre aulas, assinalando que nestes momentos de descompressão e em grupo "mais é de esperar, por parte de menores, comportamentos de excesso e de conflitos, em concreto as habituais brigas entre rapazes". No recurso apresentado, o Estado pedia a revogação da sentença, alegando que a instituição escolar "cumpriu integralmente o seu dever de vigilância". O Estado considerava ainda não ser razoável exigir que o estabelecimento tivesse um quadro de auxiliares em número equivalente ao dos alunos, "por forma a acompanhá-los de perto em todas as deambulações pelas instalações escolares". A agressão ocorreu no dia 21 de fevereiro de 2003, na sala de convívio de uma escola do ensino básico do distrito de Viseu. O jovem, então com 14 anos, foi agredido por um colega da mesma idade, com uma cadeira metálica na cabeça, durante um intervalo entre as aulas. A vítima, que perdeu os sentidos, foi assistida no Centro de Saúde local, com vários hematomas na cabeça e cortes no lábio superior, tendo ainda ficado sem dois dentes da frente. Mais tarde, o aluno foi transportado para o Hospital Distrital de Viseu, onde foi sujeito a tratamento no maxilar e no lábio superior, sendo-lhe aplicados vários pontos. Em consequência da referida agressão, a Escola suspendeu o aluno agressor por cinco dias. Na altura da agressão, não havia no local em que a mesma se verificou qualquer professor ou auxiliar de educação a exercer as funções de vigilância dos alunos que aí se encontravam. INDISCIPLINA E VIOLÊNCIA ESCOLAR Agressões gravadas em vídeo podem dar prisão Duas adolescentes vistas a agredir rapaz com bofetadas e murros arriscam penas diferentes. Uma, maior de 16 anos, pode ir presa. A outra, de 15 anos, arrisca centro educativo Diário de Notícias | 14.05.15 Os atos têm consequências. É o que vão aprender, da pior maneira, oito jovens, com idades dos 15 aos 17 anos, que já estão identificados pela PSP, por terem aparecido num vídeo publicado no Facebook na noite de terça-feira a espancar um jovem de 16 anos na Figueira da Foz. Dos oito identificados pela PSP em 24 horas, quatro são maiores de 16 anos e já arriscam penas de prisão. Estão indiciados pelos crimes de sequestro (porque o rapaz foi cercado e impedido de sair) e ofensa à integridade física, entre outros. Segundo disse fonte policial à Lusa, a principal agressora tem 15 anos, e a outra rapariga e um rapaz que também aparecem como agressores no vídeo já são maiores de 16 anos. Os restantes quatro suspeitos, menores de 16 anos, verão os processos correr no Tribunal de Família e Menores. Os factos já têm quase um ano mas quem publicou o vídeo - que já teve um milhão e meio de visualizações - veio lembrar o que estes jovens fizeram no verão passado, numa rua junto a um edifício residencial da zona turística do chamado Bairro Novo. O exibicionismo poderá sair caro e custar ao grupo de bullies a liberdade. Segundo apurou o DN, a polícia já sabe que há registo de outras situações de violência escolar a implicar as duas agressoras mais óbvias no vídeo, que se vão alternando a esbofetear o rapaz. O Ministério Público de Coimbra abriu um inquérito por agressões e pela divulgação das imagens, depois da queixa apresentada ontem na PSP da Figueira da Foz pela jovem vítima, que agora tem 17 anos (à data dos factos tinha 16), confirmou ao DN a Procuradoria-Geral da República. Como foram agressões em grupo, o crime tem o caráter de ofensas à integridade física qualificada, ou seja, agressões com especial censurabilidade ou perversidade, puníveis com pena até quatro anos de cadeia. Também poderão responder pelo crime de gravação e fotografias ilícitas, punido com pena de prisão até um ano ou com multa até 240 dias. Quanto aos quatro agressores menores de 16 anos - ainda não responsáveis penalmente foi aberto um inquérito tutelar educativo no Ministério Público da Figueira da Foz. Arriscam penas que vão da simples admoestação a um programa de modificação do comportamento ou ao internamento num centro educativo (antigos reformatórios). Alguns dos identificados foram ontem já ouvidos pela PSP na Figueira da Foz. O comando de Coimbra da polícia informou que estavam a ser feitas diligências por parte da PSP e em coordenação com o MP; que os factos ocorreram durante o verão passado, nas férias escolares; que alguns dos envolvidos são da Figueira da Foz e que foi formalizada a queixa por parte da vítima "que se deslocou pessoalmente às instalações policiais". Também a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens da Figueira da Foz abriu um processo de averiguação. Mãe do jovem "arrasada" Há quase um ano, o jovem "contou à sua mãe o que aconteceu mas acrescentou que o assunto estaria resolvido", contou ao DN o diretor da Escola Secundária Joaquim de Carvalho, na Figueira da Foz, onde estuda o jovem alvo de agressões. Na noite de terçafeira, quando a mãe do rapaz viu o vídeo, "ficou arrasada" e decidiu que iria ser feita queixacrime dos factos. O caso chocou também o diretor da escola, Carlos Santos. "Vi dois, três INDISCIPLINA E VIOLÊNCIA ESCOLAR minutos, do vídeo. Não consegui ver mais, fiquei extremamente chocado com o que vi." As agressoras não são alunas naquela escola. Carlos Santos adiantou que "as agressões estarão relacionadas com assuntos de namoro, pelo menos é o que os jovens aqui contaram". A vítima é "bom aluno e com excelente comportamento". Carlos Santos adiantou ainda que iria tentar falar com o jovem para perceber o tipo de apoio psicológico que precisa neste momento. O pai de uma das jovens filmadas a agredir o rapaz de 17 anos espera que o caso sirva de lição à filha, garantindo que esta está arrependida. "A minha filha está em pânico, o que só por si já é bom", disse o pai da adolescente de 15 anos.