ESTUDO DE CINÉTICA DE CRISTALIZAÇÃO DE MULITA N. F. Nascimento (IC), N.T. Silva (PG), G. P. Thim (PQ). Instituto Tecnológico de Aeronáutica, Departamento de Química, 12228-901 – São José dos Campos – SP – Brasil [email protected] RESUMO Os parâmetros cinéticos da cristalização da mulita proveniente de um gel foram calculados através de um método de analise térmica diferencial não-isotérmica. O gel foi obtido a partir de soluções aquosas contendo ácido silícico, nitratos de alumínio e uréia. A energia de ativação, Ea = 526,5 kJ/mol; o expoente de Avrami, n = 1,76, e o fator de freqüência, k0 = 7,61x1027s-1, foram obtidos pela aplicação do método matemático de R.A. Ligero. ABSTRACT The kinetics parameters of mullite crystallization from a gel were measured using a non-isothermal differential thermal analysis method. The gel was obtained from aqueous solutions containing silic acid, aluminum nitrate and urea. The activation energy, Ea = 526,5 kJ/mol; the Avrami expoent, , n = 1,76, and the frequency factor, k0 = 7,61x1027s-1, were computed using R.A. Ligero mathematical method. 1. INTRODUÇÃO O modelo cinético desenvolvido por Johnson-Mehl-Avrami-Kolmogorov (JMAK) descreve como a extensão da transformação de fase de um dado material ocorre em função do tempo e da temperatura. Os parâmetros cinéticos podem ser obtidos através da análise físico-química das constantes presentes no modelo matemático. Este modelo cinético pode ser estudado através de transformações de fases isotérmicas e não isotérmicas. Dentre os diversos métodos de análises cinética de processos de transformação de fases não isotérmicos pode-se citar: Kissinger, Owasa, Ligero, etc. A cinética da cristalização é interpretada a partir do modelo de crescimento de núcleos e cristalização formulado por Avrami. Este modelo descreve a dependência temporal da fração cristalizada (x) da seguinte forma: ( x = 1 − exp − (kt ) n ) (1) Onde, t é o tempo efetivo, n é o expoente de Avrami e K é uma dependência da constante de velocidade de Arrhenius com a temperatura: − Ec K = K 0 exp RT (2) Onde, K0 é o fator de freqüência, EC é a energia de ativação e T é a temperatura. A equação da velocidade de cristalização pode ser obtida pela diferenciação com relação ao tempo da equação 1: dx = kn(1 − x)[− ln(1 − x)] dt n −1 n (3) A equação 3 é chamada de equação de JMAK e é freqüentemente usada para a descrição formal dos dados da análise térmica da cristalização. Deve-se, porém, enfatizar que a validade da equação de JMAK é baseada nas seguintes suposições: • • • Condições isotérmicas de cristalização; Nucleação homogênea ou heterogênea distribuída de forma aleatória; Velocidade de crescimento da nova fase é dependente da temperatura e independente do tempo. Além disso, para um processo de cristalização não isotérmico, é essencial que a velocidade de cristalização(dx/dt) seja proporcional ao fluxo de calor dividido pela massa da amostra (φ): dx Φ = dt ∆H C (4) Onde ∆HC corresponde à entalpia total trocada durante o processo de cristalização. Neste trabalho a cinética de cristalização de mulita é estudada por processos não isotérmicos, utilizando o modelo desenvolvido por Ligero. Serão determinados para a energia de ativação, o expoente de Avrami e o fator de freqüência para a cristalização não isotérmica de cordierita. 2. EXPERIMENTAL O ácido silícico foi obtido ao se passar metasilicato de sódio (Na2SiO3 . 5H2O) em solução aquosa por uma coluna com uma resina para troca de cátions. Nitratos de alumínio sólido foi adicionado à solução aquosa de ácido silícico de forma a se manter uma razão molar Si:Al igual a 1:6.Uréia sólida foi adicionada à solução aquosa de ácido silícico de forma a se manter uma razão molar uréia:Al igual a 1:3. Desta forma, obteve-se um pH de 3 e este sol foi coberto por um vidro de relógio e mantido a temperatura ambiente até a formação do gel, o que ocorreu em 10 dias . O gel formado foi desidratado à 50 0C por 30 dias para se tornar um xerogel. O material resultante foi triturado, peneirado e dividido. A determinação dos parâmetros cinética de cristalização foi realizada por Análise Térmica Diferencial (DTA) (TA Instruments Model TA 5100-1600). As amostras foram analisadas em atmosfera de ar sintético, partindo da temperatura ambiente até 1100 °C, nas seguintes velocidades de aquecimento (β): 10, 15, 20 e 30 graus por minuto.Para a analise de XRD, foi usada uma radiação do tipo CoKα numa temperatura ambiente de 1350 0C à uma taxa de aquecimento de 8 0C por minuto As curvas obtidas foram utilizadas para obtenção dos parâmetros cinéticos pelo Método Ligero. 3. RESULTADOS A Figura 1 mostra os diagramas obtidos pela técnica de DTA, quando as amostras precursoras de mulita foram calcinadas nas velocidades de aquecimento de 10, 15, 20 e 30 graus por minuto. Os picos exotérmicos analisados encontram-se entre 1176.22-1303.40 0C. 1,2 0 10 C/min 0,8 0,6 0,4 0 30 C/min 0,2 0,0 -0,2 0 20 C/min -0,4 Diferença de Temperatura Diferença de Temperatura -3,08 1,0 -3,10 -3,12 -3,14 0 15 C/min -3,16 -3,18 -0,6 -3,20 -0,8 -1,0 1160 1180 1200 1220 1240 1260 0 Temperatura ( C) 1280 1300 1320 -3,22 1160 1180 1200 1220 1240 1260 1280 1300 Temperatura Figura 1. Picos analisados dos DTAs para as velocidades de aquecimento de (β): 10, 15, 20, e 30 °C/min. 200 500 Intensidade(u.a.) Intensidade (u.a.) δ 400 300 δ 200 δ δ δ 150 δ 100 δ 50 100 0 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 0 90 10 20 40 50 60 70 80 90 70 80 90 700 500 Intensidade (u.a.) 600 Intensidade (u.a) 30 Ângulo de Difração Ângulo de Difração 400 300 200 δ 100 M 500 M 400 M 300 M M 200 M δM δ 100 0 0 -100 0 10 20 30 40 50 60 70 80 0 90 10 20 Ângulo de Difração 30 40 50 60 Ângulo de Difração Figura 2 – XRD da mulita analisada no estudo (δ - Al2O3, M – Mulita) A figura 2 mostra os difratogramas de raio X obtidos à 1100, 1193, 1276, 1518 0C para a mulita produzida neste experimento. A Figura 3 mostra a variação da fração cristalizada pela temperatura para os picos analisados. Para a determinação da fração x é razoável se considerar que a entalpia do processo de cristalização é diretamente proporcional à área do pico da reação exotérmica na curva do DTA, e que o volume de fração cristalizada é diretamente proporcional à entalpia. Desta forma o volume da fração cristalizada numa certa temperatura pode ser escrito da seguinte forma: x= AT A (5) Onde AT é a área do pico da curva de DTA até a temperatura T e A é a área total do pico da curva de DTA. 1,0 0,8 x 0,6 0,4 0,2 0,0 -0,2 1160 1180 1200 1220 1240 1260 1280 1300 1320 0 Temperatura ( C) Figura 3- Relação entre a fração cristalizada e a temperatura. 4. DISCUSSÃO 0,35 0,20 0,18 0,30 0,16 0,25 0,14 dx/dt dx/dt 0,12 0,10 0,20 0,15 0,08 0,06 0,10 0,04 0,05 0,02 0,00 0,00 8 10 12 14 16 18 7 20 8 9 10 11 12 13 tempo (s) tempo (s) b) a) 0,5 0,6 0,4 0,5 0,4 dx/dt dx/dt 0,3 0,2 0,3 0,2 0,1 0,1 0,0 0,0 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0 9,5 10,0 10,5 3,0 3,5 4,0 tempo (s) c) 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 tempo (s) d) Figura 4 – Gráficos de dx/dt em função do tempo para diversos valores de β. (a) 10 graus/min, (b) 15 graus/min, (c) 20 graus/min e (d) 30 graus/min. R.A. Ligero propôs um tratamento matemático para técnicas não isotérmicas onde a velocidade de cristalização, mostradas na figura 4, pode ser expressa por: − EC dx ) f ( x) , = kf ( x) = k 0 exp( RT dt (6) onde EC é a energia de ativação tanto para a nucleação como para o crescimento de grãos. Das equações 1 e 6, temos que f(x) pode ser expresso como: f ( x) = n(1 − x)[− ln(1 − x)] n −1 n (7) Aplicando-se o logaritmo neperiano na equação 6, obtêm-se: ln( E dx ) = ln[k 0 f ( x)] − C RT dt -0,4 -0,6 ln(dx/dt)máx -0,8 -1,0 -1,2 -1,4 -1,6 R= -0.97 -1,8 0,000795 0,000800 0,000805 0,000810 1/T Figura 5- Relação entre ln(dx/dt) e 1/T (8) A equação 8 mostra que existe uma relação linear entre ln(dx/dt) e 1/T. Desta forma o coeficiente angular desta reta nos fornece um valor da energia de ativação. Como uma primeira aproximação este valor foi obtido plotando valores de ln(dx/dt) versus 1/T para o valor de 50 % de fração cristalizada. O valor obtido é inserido na equação 8 e calculado o valor de ln[K0f(x)]. Este valor é plotado em função de x e determinado qual a faixa de fração cristalizada que ln[K0f(x)] é constante. A seguir é feito um novo gráfico de valores de ln(dx/dt) versus 1/T (figura 5), e determinado o novo valor de energia de ativação, agora muito próximo do valor esperado. Utilizando este valor de energia de ativação, determina-se novamente a faixa de fração cristalizada que ln[K0f(x)] é constante e novamente se calcula o valor da energia de ativação. Este procedimento é repetido até que o valor da faixa de fração cristalizada em que ln[K0f(x)] é constante não mais varie. 66 66 65 65 ln(k0f(x)) ln(k0f(x)) 64 63 62 64 63 62 61 60 61 59 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 0,0 1,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 x x b) a) 66 69 68 65 66 Ln(k0f(x)) Ln(k0f(x)) 67 64 63 62 65 64 63 62 61 61 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 0,0 0,2 0,4 x c) 0,6 0,8 1,0 x d) Figura 6 – Gráficos de ln(k0f(x)) em função de x para diversos valores de β. (a) 10 graus/min, (b) 15 graus/min, (c) 20 graus/min e (d) 30 graus/min. A Figura 6 mostra o gráfico de ln[k0f(x)] em função de x podemos obter diversos valores de velocidade de aquecimento. Pode-se observar que ln[k0f(x)] é constante para todas as curvas na faixa de fração cristalizada de 0,25 a 0,45. Utilizando os valores extremos da faixa de fração cristalizada que satisfaça a constância de ln[k0f(x)], e substituindo na equação 9, ln[k 0 f ( x1 )] = ln[k 0 f ( x 2 )] (9) Substituindo-se nesta equação f(x), equação 7, pode-se calcular o expoente de Avrami por: n= ln(1 − x 2 ) ln(1 − x1 ) (1 − x 2 ) ln(1 − x 2 ) ln (1 − x1 )n(1 − x1 ) (10) Finalmente, o fator de freqüência K0 pode ser calculado pela equação conhecendo-se o valor de ln[k0f(x)] e o valor de f(x). A Tabela 1 fornece os valores obtidos para o expoente de Avrami (n), fator de freqüência (K0) e energia de ativação para o processo de cristalização (Ea). Tabela 1 – Dados dos resultados obtidos. n k0 (1/s) Ea (kJ/mol) Valores obtidos neste trabalho 1,76 7,6 x 1027 526,5 21 Valores obtidos por Campos [6] 1,6 1,8 x 10 730,0 5. CONCLUSÃO Os parâmetros cinéticos, energia de ativação de cristalização, fator de freqüência e o expoente de Avrami foram calculados para o processo de cristalização de mulita obtida pelo método sol-gel. Estes parâmetros foram obtidos através de método não isotérmico, usando como metodologia de cálculo o de Ligero. Os valores obtidos estão bastante próximos daqueles obtidos por outros autores, sendo que a diferença esta dentro do erro experimental. A energia de ativação do processo de cristalização foi igual a 526,5 kJ/mol, o fator de freqüência 7,6 x 1027 e o expoente de Avrami igual a 1,76. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 1 - Wei, P.; Rongit, L. Materials Science and Engineering. 1999, A271,298. 2 – Malek, J. Thermochimica Acta. 2000 355, 239. 3 - Faleiros, A.C.;. Rabelo, T.N.; Thim, G.P.; Oliveira, M.A.S. 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