IDENTIFICAÇÃO DOS ESTRESSORES A QUE ESTÃO SUJEITOS OS PACIENTES ADULTOS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA Ângela Gonçalves da Silva1 Luciana Magnani Fernandes2 Solânia Durman3 Elizabeth Braz4 INTRODUÇÃO A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pode ser caracterizada como um local onde se proporciona ao paciente uma maior vigilância e controle e suas necessidades fisiológicas, isso porque os recursos humanos que possui e ainda pela tecnologia disponível para atendimento ao cliente, tendo por base uma filosofia de trabalho bem definida e atendimento de equipe multiprofissional com vistas a um mesmo objetivo, a saber, a recuperação das funções vitais do paciente. Apesar de todo aparato tecnológico de que se dispõem estas unidades atualmente, o índice de mortalidade ainda é grande, o que pode levar o paciente e seus familiares a crerem que a mesma é um local onde se internam pessoas graves sem expectativas de melhora, podendo assim contribuir para o aumento do medo – tanto do paciente quanto dos familiares - com relação à unidade e uma maior disposição deste a transtornos de ansiedade. Quando o paciente se depara com situações estressantes, instala-se o quadro de ansiedade. A ansiedade é tida como um comportamento normal do ser humano, um sistema de alerta para o organismo contra perigos ambientais, sendo considerada anormal quando se apresenta de forma desmedida podendo gerar estresse. O termo estresse remete ao estado em que estímulos provocam a perturbação emocional, disparando assim um 1 Enfermeira graduada pela UNIOESTE. Aluna do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem – Mestrado - da Universidade Federal do Paraná. Rua Visconde de Guarapuava, 2058, apto 404, Cascavel – Paraná, (45) 9926 7095, [email protected] . 2 Enfermeira. Professora Doutora do curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Campus de Cascavel. 3 Enfermeira. Professora Mestre do curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná Campus de Cascavel. 4 Enfermeira. Professora Doutora do curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná Campus de Cascavel. 1 processo de adaptação caracterizado pelo aumento da secreção de adrenalina, produzindo manifestações sistêmicas com potencial causador de distúrbios de ordem fisiológica e psicológica. A resposta a este estresse depende da característica de cada pessoa, mas pode apresentar-se como uma discrepância do meio externo e interno e a percepção que o indivíduo possui possibilitando um rápido processamento do fato para que o organismo possa reagir rapidamente em defesa. Ao nível comportamental as respostas podem ser avaliadas como enfrentamento, postura de ataque, de evitação ou de passividade, podendo ser comparada a um colapso. De acordo com a literatura o barulho que existe nos hospitais, é proveniente de dentro do próprio hospital e não de fora dele, principalmente o barulho da UTI, que é considerado por pesquisadores como sendo um dos ambientes onde mais se tem barulho no hospital, depois do Pronto Socorro. Algo que demonstra uma contradição, visto que o lugar deveria ter o mínimo de barulho possível, para uma menor estimulação auditiva do paciente internado. Outros fatores significantes para o paciente internado em UTI são: o medo da morte, da dependência do cuidado de outras pessoas, do manuseio do seu corpo, da incerteza sobre a eficácia do atendimento de emergência, do sentimento de solidão e da distância dos familiares que a sua condição impõe. Estes temores podem causar uma série de modificações comportamentais e psicológicas com relação ao tratamento, e à sua recuperação. OBJETIVO Identificar os estressores a que estão expostos os pacientes adultos admitidos em uma Unidade de Terapia Intensiva de um hospital escola do oeste do Paraná. MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa de campo descritiva de abordagem quantitativa. A coleta de dados foi realizada nas unidades de internamento de um hospital escola do oeste do Paraná entre os meses de junho a agosto de 2009. A população estudada foi todo paciente em alta da UTI para as alas do hospital. A amostra foi composta pelos pacientes que tinham mais de dezoito anos tendo condições para responder o instrumento de coleta de dados e que 2 concordaram em participar do estudo assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A coleta foi realizada com um instrumento de coleta de dados denominado “Escala de Estressores em Unidade de Terapia Intensiva – ICUESS”, com quarenta e dois itens onde as opções de respostas são: “não estressante”; pouco estressante”; “estressante” e “muito estressante”, onde respectivamente se dá um escore de um a quatro, sendo um para “não estressante” e quatro para “muito estressante”. O início da coleta de dados ocorreu após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIOESTE. RESULTADOS Durante o período de 75 dias em que a coleta de dados se deu - de maio a julho de 2009 - foram registrados na UTI estudada, 78 pacientes, dentre estes 50 (57%) responderam à pesquisa, 7 (8%) não tiveram condições de responder às perguntas por terem nível de consciência reduzido após alta devido às seqüelas por seu acometimento, 12 (13%) foram à óbito e 9 (10%) permaneciam internados na unidade. Com relação ao tempo de permanência dos pacientes na unidade tem-se que 32 (64%) pacientes permaneceram por até 3 dias, 10 (20 %) permaneceram na unidade por até 6 dias, 3 pacientes (6%) permaneceram na unidade por até 9 dias e 5 (10%) pacientes permaneceram por um tempo maior que 9 dias, de acordo com os registros da unidade. O menor tempo de internação na unidade foi de 1 dia e o maior tempo foi de 16 dias. Este período de internação variou de acordo com a gravidade do quadro clínico do paciente. Com relação à idade dos pacientes entrevistados obteve-se que 22 pacientes, o que corresponde a 45% encontravam-se na faixa etária entre 18 e 49 anos, 15 pacientes (32%) na faixa etária entre 50 e 79 anos, 12 pacientes (23%) não foi possível classificar por não haver este dado no livro de registros da unidade. No que se refere ao sexo dos obteve-se que 29 pacientes (58%), eram do sexo masculino e 21 (42%) era do sexo feminino. Se considerar as estatísticas da unidade que apontam para uma maior internação de pacientes vítimas de acidente automobilístico com diagnóstico de politraumatismo, então pode-se compreender o porque de o número de homens ser maior que o de mulheres. Os eventos destacados como sendo 3 menos estressantes para os pacientes entrevistados foram: Ter a enfermagem constantemente fazendo tarefas com 46 apontamentos; sentir que a enfermagem está mais atenta a aparelhos do que a você com 46 apontamentos; A enfermeira não se apresentar pelo nome e Sentir que a enfermeira está muito apressada com 44 apontamentos cada. É importante salientar que todos esses eventos estão relacionados à atuação da enfermagem como provedora do cuidado. Como evento mais estressante considerados pelos pacientes em primeiro lugar encontra sentir falta do marido ou esposa com 28 apontamentos, seguido de ter que ficar olhando para o teto com 22 apontamentos, ter tubos no nariz e boca com 15 apontamentos, estar amarrados por tubos com 14 apontamentos e não saber onde está e não saber que dia é hoje com 11 apontamentos cada. Eventualmente já se observou nesta unidade a presença do acompanhante junto ao paciente adulto - não que isso constitua uma rotina - mas pelo fato do caso ser avaliado individualmente e, ter-se chegado à conclusão de que neste caso se poderia agir de forma diferenciada. A Portaria Ministerial nº. 280 de 07 de abril de 1999 do Ministério da Saúde - levando em consideração a qualidade de vida do idoso - preconiza a presença de um acompanhante ou cuidador para este paciente quando em ambiente hospitalar. Não prevê especificamente na UTI, porém as novas práticas de políticas públicas e humanização da assistência caminham para esta nova realidade. Quanto aos pacientes não terem citado a intubação como sendo um fator altamente estressante acredita-se que pelo fato de a maioria destes, 35 (70%), não terem passado por intubação endotraqueal não houve experiência para que motivasse a queixa, assim sendo apenas 15 (30%) destes responderam ser altamente estressante este fator. Um outro fato que se observou foi que as pessoas que permaneceram por mais tempo na unidade, ou seja, mais que 9 dias (10%), foram as que mais pontuaram os eventos classificando a maioria destes como sendo altamente estressantes. As pessoas que permaneceram por menos tempo, até 3 dias (64%) consideraram o fato de estar na unidade não ser estressante e por este motivo foram as que menos pontuaram. 4 CONCLUSÃO Os dados encontrados podem estar revelando uma nova realidade para as UTIs, a saber, o acompanhante junto ao paciente crítico adulto, realidade que já acontece em terapia intensiva infantil, mas que com adulto não é uma realidade atualmente. Observou-se que quanto maior for o tempo de permanência do paciente na unidade, maior será sua exposição ao fator estressante o que culminará com insatisfação no que se refere ao atendimento recebido e ainda que maior sua pontuação na escala de avaliação de estressores. Além de disponibilizar dados e informações que contribuam para as discussões dos fatores que possam ser causadores de estresse neste ambiente. Esta pesquisa tem por objetivo igualmente contribuir para a implementação de ações que possam se não sanar, pelo menos amenizar os estressores a que os pacientes estão expostos. O atendimento ao paciente crítico deve contemplar o indivíduo de modo global, tratá-lo de forma holística para que o atendimento possa ser considerado efetivo e produza os efeitos esperados. O atendiemtno ético e de forma a respeitar a singularidade de cada paciente de ser uma constante, esteja ele admitido em qualquer unidade hospitalar, tendo em vista a melhoria de seu estado como um todo, para tanto conhecer quais fatores são apontados pelos pacientes como estressantes é condição sine qua non para que o processo de cuidar efetivamente aconteça. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARRA, D.C.C.; et al. Processo de humanização e a tecnologia para o paciente internado em uma unidade de terapia intensiva. Rev. Min. Enf. Minas Gerais, 2005, out/dez; 9(4):344 – 350. Rev. Latino – am Enfermagem, Ribeirão Preto, 2006, set/out; 14(5): 713 – 719 BERK, J.L.; et al. Manual de terapia intensiva. Trad. Maria A. Madail e Filipe da Cunha. São Paulo: Manole, 1979. BITENCOURT, A.G.V.; et al. Análise de estressores para o paciente em unidade de terapia intensiva. Rev. Bras. Terapia intensiva, São Paulo, 2007, jan/mar; 19(1): s/p. BITTENCOURT, F. das C.C.; JABLONSKI, S.J. Estresse: causas, sintomas e conseqüências na vida dos pacientes atendidos pelo SUS do município de Indaial. Rev. Leonardo, Santa Catarina, vol. 05, n. 03, p. 37-44, jul./ dez. 2001. 5 BRASIL. Secretaria de Estado e Saúde. Estabelece normativas para classificação de estabelecimentos de saúde. Portaria Ministerial nº 3432 de 12 de agosto de 1998. São Paulo. ________. Secretaria de vigilância sanitária. Portaria nº 466 de 04 junho de 1998. Brasília. Disponível em URL< http://www.saude.mg.gov.br/atos_normativos/deliberacoes/2008/Deliberacao% 20no%20409%20de%2017%20de%20janeiro%20de%202008.pdf> Acesso em [25-10-08] ________.Ministério da Saúde (BR). Biblioteca virtual [online]. [Acesso em: outubro de 2009. Disponível em: http:// www.saude.gov.br CASTRO, M.L.B.; GRAZIANO, K.U. Identificação dos sentimentos de pacientes conscientes em unidade de terapia intensiva quanto à sua privacidade. Rev. Cadernos: Centro Universitário São Camilo, São Paulo, vol.07, n.01, p. 27-36, jan./jun. 2001. CUNHA, E.R. da; GOMES, S.L.; ZAGO, M.M,F. A utilização de cartões como instrumentos facilitadores para a comunicação com pacientes afásicos de uma terapia intensiva. Anais do II SIBRACEn, Ribeirão Preto, 02 à 09. maio, 1990. DIAS, AT; MATTA, PO; NUNES, WA. Índices de gravidade em uma unidade de terapia intensiva adulto: avaliação clínica e trabalho da enfermagem. Rev. Brás. de Terapia Intensiva, vol.18, nº 03, julho-setembro, 2006. Disponível em URL<http://www.scielo.br/pdf/rbti/v18n3/v18n3a10.pdf. Acesso em [10-1008] DOUGLAS, C.R. Tratado de fisiologia aplicada às ciências médicas. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. FUGULIN, FMT. Sistema de classificação de pacientes: identificação do perfil assistencial dos pacientes das unidades de internação do HU – USP. Revista Latino-Am de Enfermagem, Ribeirão Preto. 2005n 13 72-78. GOIS, C.F.L.; DANTAS, R.A.S. Estressores em uma unidade pósoperatória de cirurgia torácica: avaliação da enfermagem. Ver. Latino – am Enfermagem, Ribeirão Preto, 2004, jan/fev; 12(1):s/p. HOLMES, D.S. Psicologia dos transtornos mentais. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. KOLB, L.C. Psiquiatria Clínica. 9ª ed. Trad. Sônia Regina Pacheco Alves. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980. LUNARDI FILHO, W.D. As manifestações de ansiedade em familiares de 6 pacientes internados um unidades de terapia intensiva. Rev. Família Saúde e Desenvolvimento.vol.06, n.02, p. 100-109, maio/ago. 2004. MAROSTI, CA; DANTAS, RAS. Avaliação dos pacientes sobre os estressores em uma unidade coronariana. ACTA Paulista de Enfermagem, Ribeirão Preto – SP, nº 19, vol. 02: p. 190 – 195. MAROSTI, CA; DANTAS, RAS. Relation between stressors and sociodemographic and clinical characteristics of patients hospitalized a coronary unit. Rev. Latino-am de Enfermagem, vol.14, n. 5, p. 713-719, 2006. MARGIS, R. et al. Relação entre estressores, estresse e ansiedade. Ver. de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, vol.25, sup. 01, p. 65-74, abril. 2003. MINAYO,M.C.de S., DESLANDES,S.F., Neto,O.C.,GOMES,O. Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade.13.ed. Petrópolis: Editora Vozes,1999. NAKATANI, A.Y.K. et al. O banho de leito em uma unidade de terapia intensiva: uma visão de quem recebe. Rev. Ciência, Cuidado e Saúde, Maringá vol. 03, n. 01, 2004. NASCIMENTO, A.R.; CAETANO, J.A. Pacientes de UTI: perspectivas, e sentimentos revelados. Rev. Nursing, São Paulo, vol. 57, n. 06, p. 12-17, fevereiro. 2003. OLIVEIRA, F.P.T. de; SANTOS, G.S. dos; SILVA, L.S. A percepção do paciente sobre sua permanência na unidade de terapia intensiva. Rev.Nursing, vol. 60, n. 06, p. 37-42, maio, 2003. OTENIO, M.H.; CREMER, E.; CLARO, E.A.T. Intensidade de ruído em hospital de 222 leitos na 18ª regional de saúde – PR. Rev. Bras. Otorrinolaringol., São Paulo, 2007, mar/abr; 73(2): s/p. PEREIRA, ER; BUENO SMV. Lazer - um caminho para aliviar as tensões no ambiente de trabalho em uti: uma concepção da equipe de enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem v.5 n.4 Ribeirão Preto out. 1997. PEREIRA JÚNIOR, G.A.; et al. O papel da unidade de terapia intensiva no manejo do trauma. Rev.Medicina de Ribeirão Preto, n. 32, p. 419-437, out./dez. 1999. PEREIRA, R.P.; et al. Qualificação e quantificação da exposição sonora ambiental em uma unidade de terapia intensiva geral. Rev. Bras. Otorrinolaringol., São Paulo, 2003, nov/dez; 69(6): s/p. PUPULIM, Jussara Simone Lenzi; SAWADA, Namie Okino.O cuidado de enfermagem e a invasão da privacidade do doente: uma questão ético – 7 moral. Rev. Latino-Am. Enfermagem , Ribeirão Preto, v. 10, n. 3, 2002 RIBEIRO, C. G.; SILVA, C.V.N.S.; MIRANDA, M.M. O paciente crítico em uma unidade de terapia intensiva: uma revisão da literatura. Rev. Min. Enf. Minas Gerais, 2005, out/dez; 9(4):371 – 377. SANTOS MFC, BETHANCOURT MLBT, TEDESCO MLF. Prevenção de problemas auditivos numa indústria. Hosp Adm Saúde, vol.03 nº. 16, p.137139, 1992. SECCHIN, l.de S. B. UTI: onde a vida pulsa. Rev. Epistemo-somática, Belo Horizonte, vol. 03, n. 02, dez.2006. SELIGMAN J. Efeitos não auditivos e aspectos psicossociais no indivíduo submetido a ruído intenso. Rev. Bras. Otorrinolaringologia, vol. 09 nº. 59, p. 257-259, 1993. SILVA, R.R. Psicologia e unidade de terapia intensiva. Rev. Salus, Guarapuava: vol.01, n. 01. 2007. SIMÃO, A.T. Terapia intensiva. Rio de Janeiro: Atheneu, 1976 SOUZA, M. de; POSSARI, J.F.; MUGAIAR, K.H.B. Humanização da abordagem nas unidades de terapia intensiva. Rev. Paulista de Enfermagem, São Paulo, vol.5 n.2: p.77-79, abr./jun. 1985. TRAQUITELLI, A.M.; PADILHA, K.G. Sistema de classificação de pacientes como instrumentos de gestão em unidades de terapia intensiva. Rev.EERP USP, vol.41, n.01, p. 141-146, 2007. VILA, V. S.C.; ROSSI, L.A.; O significado cultural do cuidado humanizado em unidade de terapia intensiva: muito falado e pouco vivido. Rev. Latino – am Enfermagem, Ribeirão Preto, 2002, mar/abr; 10(2): s/p. 8