TEMPO JOVEM
Os jovens rezam
texto Teresa Carvalho foto Ana Paula
Os jovens não são ateus! Os jovens acreditam. Às vezes não sabem bem em quê.
Andam à procura de perceber quais os
valores que querem assumir como sendo
os seus, quais as crenças que vão ao
encontro das suas múltiplas questões e
indefinições. Precisam de, num primeiro
momento, pôr em questão quase tudo
o que lhes foi transmitido como sendo
a verdade, o valor, a norma. Ficam
então num quase vazio feito de crítica
e rejeição daquilo que anteriormente
aceitavam como fundamental para o
entendimento da Vida e do seu sentido.
Este estado, aos olhos de quem os observa e por vezes dele próprio, aparenta
uma anulação da vida espiritual, num
“desinteresse absoluto” pelo que não é
palpável, pelo transcendente.
Do vazio à construção
O momento de aparente vazio é apenas um momento que possibilita uma
construção fundamentada e cons-
ciente dos princípios e dos valores
que orientam a sua identidade, a sua
vontade e a sua esperança.
É hoje posto em relevo o valor que a
“inteligência espiritual” tem no desenvolvimento e na qualidade de vida da
pessoa: a capacidade para aceitar e integrar a sua ligação ao divino e a influência que o divino tem na sua vida, desenvolvem uma tranquilidade, uma certeza
de apoio, de esperança e um bem-estar,
mesmo quando as circunstâncias de vida
são adversas.
Na inteligência espiritual, estão incluídas
a certeza de caminhos de felicidade sólida e plena. A certeza do seu valor único,
na relação próxima e amorosa com uma
entidade divina. A certeza de que a sua
história de vida tem um inequívoco sentido de dignidade e está orientada para
uma aprendizagem do AMOR. A certeza
de que nunca se está só, numa experiência de comunicação permanente, onde
Deus é presente, é disponível, é atento,
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é parte de si próprio, é colo, é ausência
de crítica, é perdão, é incentivo sempre renovado, é proposta de caminho.
Sobretudo é AMOR.
Estas certezas oferecem competências
pessoais capazes de vencer mais facilmente os medos, os desânimos, os pensamentos e as emoções que derrubam a
alegria e que fragilizam a confiança na
capacidade de construir uma vida em
crescimento para o Amor, e por isso,
FELIZ.
Com base nestes conhecimentos, podemos dizer que a educação da criança ou
do jovem que assume como importante a
espiritualidade, oferece um eficaz instrumento para a construção da felicidade.
Propostas a oferecer
Como educar os jovens na dimensão
espiritual, se eles próprios rejeitam a
aprendizagem destas formas de entender
e enquadrar a Vida? Apetece-me dizer
que faz sentido esquecer que temos
diferente
ensinamentos a transmitir, para perceber
que a espiritualidade tem sobretudo propostas de vida a oferecer.
Assim, precisamos, num primeiro momento, de escutar as dúvidas,
de entender as novas verdades e os
novos desafios que os jovens começam
a ensaiar. Precisamos de aprender as
razões das suas descrenças e das suas
batalhas. Só depois, em conjunto e numa
reflexão integradora, podemos remontar
aos significados que se apresentam como
as respostas que a busca e a realidade do
jovem exigem.
Por outro lado, a vida, as aprendizagens
e o crescimento não se confinam a
um determinado momento. Acontecem
“num continuum", segundo as oportunidades, as experiências, os encontros, os
tempos e ritmos de cada um.
A tranquilidade na espera, oferece ao jovem
a liberdade de sentir, de questionar, de
procurar, de decidir, para depois encontrar
a sua identidade, também ela em mudança.
Onde fica a Oração do Jovem? Será
correcto dizer que o jovem reza com
a “Questão”? Poder-se-à dizer que a
Acção é a sua forma de rezar? Ou, que
reza quando vive? Ou simplesmente, que
não reza (e afirma-o claramente como
forma de afirmação da sua adequação
aos novos tempos)? Ou ainda, que reza
de um modo muito particular e íntimo,
desrespeitando muitas vezes as convenções e o instituído, mas… buscando o
encontro com o Deus em que acredita,
por entre o reboliço dos seus desejos, ou
no ruído das suas dúvidas e receios?
Criação de novos ritmos
A oração aprendida como fruto da criação de outros e os ritos instituídos são
pouco procurados pelo jovem, talvez
porque não é sentida como parte integrante da sua realidade.
O jovem, até pelo seu sentido do “novo”,
exige criatividade. Uma oração feita
de canção; uma oração traduzida em
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dança, em poesia, nascida da esperança e da construção activa, geradora de
movimento transformador, que percorre
o sentir, o querer, o desejar, o desbravar,
o sofrer, o lutar e o conquistar, presentes
na vida do jovem; entranha-se na sua
identidade e, então, pode ser livremente
aceite e integrada no seu EU, inovando e
criando transformação.
É sinónimo de vazio a rejeição do estabelecido e fixado?
É vazio a ausência de questões!
É doentio mergulhar no barulho da
alegria?
É destrutivo abandonar-se ao silêncio
ensurdecedor da existência passiva!
É empobrecedor não rezar?
É empobrecedor não procurar!
É libertador rezar?
É transformador rezar a vida, viver em
comunhão, numa aprendizagem do divino, em si!
O Jovem que procura, reza! Nesta oração, cresce em direcção ao Amor.
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Do vazio à construção Propostas a oferecer