UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO INTEGRADO ENTRE ORIENTADOR EDUCACIONAL E OS DEMAIS INTEGRANTES DA EQUIPE TÉCNICOPEDAGÓGICA POR ROSANA CARVALHO BOLLER Orientadora Profª. Maria Esther de Araújo Oliveira NITERÓI 2005 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO INTEGRADO ENTRE ORIENTADOR EDUCACIONAL E OS DEMAIS INTEGRANTES DA EQUIPE TÉCNICOPEDAGÓGICA Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Orientação Educacional. Por Rosana Carvalho Boller AGRADECIMENTOS Aos amigos e companheiros do curso, agradeço a todos pelo incentivo, pela força e pela amizade que me foram dedicados. À Simoninha, minha amiga, pela constante ajuda nas horas difíceis. Aos meus ensinam. alunos, que tanto me DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais, Pedro e Nancy que com seu carinho, incentivo, exemplo e amor, são responsáveis pelo que hoje sou. E aos meus filhos PE e Marcão, pelo prazer da convivência e por me proporcionarem alegrias nos momentos em que precisei de ânimo. “É melhor tentar e falhar, que preocupar-se em ver a vida passar. É melhor tentar, ainda que em vão, que sentar-se fazendo nada até o dia final. Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias tristes, em casa me esconder. Prefiro ser feliz, embora, louco, que em conformidade viver.” Martin Luther King RESUMO Esta monografia consiste numa análise sobre as diferentes funções exercidas pelo do orientador educacional, ao longo dos anos, sua atuação numa escola pública atual e a importância de haver um trabalho coletivo entre os integrantes da equipe técnico-pedagógica para auxiliar na construção de uma escola pública democrática, que trabalhe a favor dos alunos das classes populares, tendo como objetivo a formação da cidadania do aluno e a transformação social. SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................……………... 8 I- O ORIENTADOR EDUCACIONAL E SUAS DIFERENTES FUNÇÕES……. 10 II - O DESAFIO DE SER ORIENTADOR EDUCACIONAL NUMA ESCOLA PÚBLICA ATUAL…………………………………………………….......................16 2.1 - Conhecendo a escola pesquisada……………………………..……. 16 2.2 -A função do Orientador Educacional segundo o regimento escolar.20 III - O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A INTEGRAÇÃO ESCOLACOMUNIDADE……………………………………………………………………..... 23 IV - A UNIÃO FAZ A FORÇA: O QUE MUDA QUANDO O ORIENTADOR EDUCACIONAL E OS DEMAIS INTEGRANTES DA EQUIPE TÉCNICOPEDAGÓGICA TRABALHAM UNIDOS………………………………...……….... 32 CONCLUSÃO..................................……………………………………………..... 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………....................... 39 ANEXOS…………………..………………………………………………….……… 41 INTRODUÇÃO Tendo em vista as mudanças ocorridas em nossa sociedade, se faz necessário investir num trabalho integrado no ambiente escolar, de forma a atender integralmente o educando, formando-o para o exercício pleno de sua cidadania. O trabalho integrado entre os elementos da equipe técnico-pedagógica de uma instituição de ensino facilita a gestão participativa, o planejamento pedagógico integrado, assim como a integração escola-família-comunidade. Ao refletir criticamente, sobre sua postura a orientação educacional necessita fortalecer uma parceria entre o ambiente escolar e o extra-escolar do aluno, apontando caminhos possíveis ao redimensionamento das relações pedagógicas em busca de um ensino de melhor qualidade. Para tal é preciso se aliar a supervisores, coordenadores e todos os profissionais da escola, para que, juntando forças, se resgatem a realidade onde o aluno está inserido, efetivando assim a relação escola-comunidade, para a partir daí criar propostas que construam e desenvolvam um novo projeto educacional. Acreditando ser esse o caminho que melhor contribui para a realização efetiva do trabalho do orientador educacional, esta monografia tem o objetivo de analisar como se dá o trabalho integrado entre o orientador educacional e os demais profissionais da equipe técnico-pedagógica, de uma escola pública municipal que atende de 1ª a 8ª série do ensino fundamental, no sentido de preparar o aluno para se tornar sujeito de sua história através do exercício de sua cidadania. Para aprofundar a compreensão do trabalho observado e analisado buscar-se-á interlocutores que instrumentalizem o desenvolvimento de um diálogo prático-teorico-prático. Recorrer-se-á à interlocução com os pensamentos de Regina Leite Garcia, Paulo Freire, Eny Maia, Nilda Alves, Mirian P. S. Zippin Grispun, entre outros, para realização de um trabalho descritivo, de base empírica, analisado a partir das interlocuções e de uma pesquisa documental. Com a presente monografia pretende-se contribuir para a reflexão de professores, orientadores e demais profissionais da escola, sobre a importância do trabalho integrado da equipe técnico-pedagógica para a construção de uma escola pública democrática, de boa qualidade e que a serviço das classes populares possa tornar-se um espaço efetivo de transformação social. I - O ORIENTADOR EDUCACIONAL E SUAS DIFERENTES FUNÇÕES “A Orientação Educacional, no nosso país, percorreu um longo caminho comprometido com a educação e com as ‘políticas’ vigentes. Todo o processo da Orientação manteve, sempre, estreita relação com as tendências pedagógicas, sendo o seu trabalho desenvolvido a partir do que dela se esperava nas diversas concepções. A análise desta relação engloba diferentes aspectos e significados da prática da Orientação e de suas dimensões no cenário educacional, configurado pelos princípios e propósitos daquelas concepções.” Mírian P. S.. Zippin Grinspun (2003: 11) Desde que foi criada, na década de 20, pelo engenheiro suíço Roberto Mange a Orientação Educacional teve uma abordagem psicológica, individualizada, voltada para resolução de problemas, seleção e orientação profissional dos alunos. De acordo com Grinspun (op. cit.), quando seu enfoque era psicológico, a Orientação tinha seus objetivos muito claros, ao contrário, quando sua abordagem passou a ter enfoques sociológicos seus objetivos deixaram de ser claros. Este serviço, inspirado por modelos europeus e americanos, foi imposto às escolas, embasado num discurso liberal que entedia a escola como espaço de democratização e promoção social. A ideologia liberal entendia as desigualdades sociais como naturais, já que a desigualdade vinha dos indivíduos, que tendo aptidões diferentes eram responsáveis pelo próprio sucesso ou fracasso, esquecendo-se, assim, das influências do contexto histórico-social. Segundo Grinspun (op. cit.), o histórico da Orientação Educacional divide-se em seis períodos: implementador, institucional, transformador, disciplinador, questionador e orientador. O Período Implementador foi da sua implementação ao ano de 1941 e, como já vimos anteriormente, era associado à orientação profissional e tinha ênfase nos trabalhos de seleção e escolha profissional. O Período Institucional vai da instituição da Lei Orgânica do Ensino Industrial de 1942 a 1960. Nesse período inicia-se uma exigência legal da Orientação nas escolas e surgem os cursos de formação para o orientador. Em 1945 criou-se na PUC de Campinas o primeiro curso de formação de Orientadores Educacionais, mas o número de Orientadores formados foi inferior a necessidade das escolas. O Período Transformador vai da implementação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n.º 4024/61, até 1970. A LDB de 1961 divide a Orientação Educacional em duas modalidades: a do ensino primário e a do ensino médio. Além de se preocupar com o papel do Orientador Educacional a LDB também se preocupou com sua formação, que precisava ser bem psicologizada para que ele acreditasse na ideologia da igualdade e individualidade e servisse a classe dominante. A lei 5.564 de 1968 provê sobre o exercício da profissão do orientador educacional e confirma a função preventiva e sua linha psicológica. A década de 60 foi um marco na história do Brasil, período de crise econômica e instabilidade política. Os trabalhadores se organizavam e lutavam por melhores salários, a inflação subia, os empresários pressionavam para receber financiamentos. Neste contexto, a escola tinha um importante papel, pois se acreditava que a educação seria responsável pelo desenvolvimento do país, em contrapartida era exigido de seus profissionais uma prática de acordo com o sistema político vigente. O Período Disciplinador vai de 1970 a 1980. De acordo com Grinspun (op. cit.:19), nesse período, inspirado pelas teorias pedagógicas de Althusser, Bourdier, Passeron, uma nova leitura passa a ser feita e começa-se a compreender que o que acontece no contexto sócio cultural do aluno interfere em sua vida escolar. Então “começa-se a questionar o que faz esta escola e para que servem os serviços que estão sob sua responsabilidade”. Nesse ínterim surge a lei que obriga a profissionalização dos alunos do 2º grau. Com a industrialização coube escola preparar a mão-de-obra adequada e a Lei 5692/71 trouxe a obrigatoriedade da orientação e garantiu ao educando a formação para o trabalho, atendendo à economia nacional e à população carente que ao concluir o 2º grau já tinha uma profissão . Em 1973 surge o decreto que trata do exercício da profissão do orientador, a lei n.º 72.846, que em seu primeiro artigo diz: “Constitui o objeto da Orientação Educacional a assistência ao educando individualmente ou em grupo, no âmbito do ensino de 1º e 2º graus, visando o desenvolvimento integral e harmonioso de sua personalidade; ordenando integrando os elementos que exercem influência em sua formação e preparando-o para o exercício das opções básicas.” Grinspun afirma ainda que: “No final da década de 70 crescem as denúncias, grita-se contra a falta de compromisso da escola e de seus reais protagonistas. Tenta-se resgatar a importância da escolaridade para as estratégias de vida das camadas populares, chamando a atenção para a estrutura interna da escola como um dado significativo para o desempenho dos alunos. A Orientação estava dentro da escola e não se deu conta do seu papel.” (ibid.: 20) Em conseqüência disso, surgiu um novo período. O Período Questionador foi na década de 1980, nesse período muito se questionou a Orientação Educacional, tanto sua teoria, quanto a sua prática, o que trouxe grandes transformações para a escola e a orientação que passou a ter uma atuação mais aberta, dinâmica e política. Os estudos teóricos desta área passaram a ter uma dimensão mais crítica e consciente do contexto político e social em que se vivia e o orientador passou a desejar “trazer a realidade do aluno para dentro da escola e, portanto, começar a discutir suas práticas, seus valores, a questão do aluno trabalhador, enfim o seu ‘mundo lá fora’.” (Grinspun, 2003: 21) O Período Orientador iniciou-se em 1990, período este, de abordagem sociológica, quando o orientador passou a ser visto como colaborador do processo pedagógico, auxiliando a formação do aluno enquanto cidadão crítico capaz de participar conscientemente do mundo em que vive. Nesse período instituiu-se a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, lei n.º 9394/96, que não é muito clara quanto à orientação educacional, mas percebe-se sua presença em vários artigos, como, por exemplo, nos artigos 36 e 39. Nos princípios da educação escolar, artigo 36, 4º parágrafo, percebe-se facilmente a presença da orientação educacional: “A preparação geral para o trabalho e, facultativamente, a habilitação profissional, poderão em educação profissional, ser desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio ou em cooperação com instituições especializadas.” Em seu artigo 64, a nova LDB coloca que o orientador educacional poderá se formar em nível superior ou em pós-graduação, de acordo com a instituição de ensino, mas garantindo uma formação de base comum nacional. Acredita-se, portanto, que a nova LDB contemplou a Orientação Educacional e sua relevância para a formação do aluno enquanto sujeito consciente, crítico e participante. Atualmente não cabe mais a Orientação trabalhar individualmente com alunos problemáticos e desajustados, cabe ao orientador uma atuação dialógica, crítica, contextualizada, coletiva, comprometida com o cotidiano da escola, dos alunos e de seus pares. Competindo a ele a realização de um trabalho que engloba aspectos pessoais, políticos e sociais do cidadão. É importante que se tenha conhecimento sobre a história da Orientação Educacional no Brasil, para que se possa entender porque, ainda hoje, se tem uma visão inadequada de que o orientador educacional deve trabalhar com alunos problemáticos e indisciplinados para adequá-los a escola e a sociedade. Tudo por que consciente ou inconscientemente a orientação educacional sempre esteve a serviço de uma sociedade desigual, injusta e excludente. Apenas por tudo isso, há que se ressignificar o trabalho do orientador educacional nas escolas públicas atuais e o trabalho integrado entre o O. E. e os demais profissionais da equipe técnico-pedagógica da escola é um importante passo em direção a essa ressignificação. II - O DESAFIO DE SER ORIENTADOR EDUCACIONAL NUMA ESCOLA PÚBLICA ATUAL Para se conhecer como se dá o trabalho do Orientador Educacional na escola pesquisada, há que se conhecer primeiro a escola, seus projetos e seu regimento. 2.1 - Conhecendo a escola pesquisada: Esta pesquisa foi realizada em uma escola municipal de São Gonçalo, Estado do Rio de Janeiro. O prédio e os funcionários são da prefeitura, mas a maioria dos funcionários de apoio (auxiliares de serviços gerais, inspetores) é cooperativados, ou seja, são contratados pelo período do governo vigente. A escola, que chamaremos A, é uma escola do Ensino Fundamental, situada na periferia urbana do município e atende a mais de mil alunos, sendo grande parte deles oriundos das classes populares, em sua maioria filhos de empregadas domésticas, pedreiros e biscateiros, a partir dos seis anos de idade. É dirigida por dois diretores (geral e adjunto), auxiliados por três dirigentes de turno, um coordenador pedagógico geral e coordenadores de área, dois orientadores educacionais e uma secretária, além dos professores e dos funcionários do apoio administrativo e operacional.1 Os diretores foram indicados pela Secretaria Municipal de Educação, mas o diretor geral já era professor da casa. A Equipe Pedagógica pressupõese que seja escolhida pela direção, e essas escolhas parecem ter um componente político partidário, uns são escolhidos por competência, alguns por coleguismo e outros por falta de opção para o cargo. 1 1 De acordo com o regimento escolar do município o apoio administrativo e operacional é formado por inspetor de disciplinas, auxiliar de serviços gerais, auxiliar de secretaria e manipulador de alimentos (merendeira). A escola funciona em três turnos: 1º turno de sete h. e 15 min. às 12 horas; 2º turno de 13 h. às 17 h. e 50min.; 3º turno das 18 h. às 22 h. e 30 min. Cada turno parece uma escola diferente e as características dos profissionais têm a cara de cada turno. Os profissionais do 1º turno são muito trabalhadores e pouco questionadores. Os profissionais do 2º turno são mais questionadores, mas trabalham um pouco menos, e os do turno da noite são indiferentes. Não há integração entre os turnos e a dificuldade de realização de projetos integrados é visível. Existe também uma rivalidade ente os turnos. A escola possui um grupo de professores questionadores, dispostos a trabalhar pela melhoria da escola e que buscam visivelmente contribuir com suas ações pedagógicas para o sucesso do processo ensino-aprendizagem. Como exemplo disso pode-se citar os projetos desenvolvidos pela escola. São eles: PROJETO “MÃOS DADAS” – (CLASSE DE REORIENTAÇÃO – 1º Ciclo do 1º Segmento e Educação de Jovens e Adultos) PÚBLICO ALVO: Alunos do 2º ciclo do 1º Segmento do Ensino Fundamental. OBJETIVO: Auxiliar os alunos a superar as dificuldades nos conteúdos que são pré-requisitos para a etapa em que estão inseridos e que, consequentemente, impedem seu desenvolvimento. PROJETO: “NOSSO ALUNO É UM SUCESSO” EQUIPE: Geografia PÚBLICO ALVO: Alunos do Ensino Fundamental OBJETIVO: Proporcionar ao educando uma compreensão de sua identidade enquanto cidadão e sua participação social, política e crítica. PROJETO “VOCÊ CIDADÃO” EQUIPE: Serviço de Orientação Educacional – 1º Turno. PÚBLICO ALVO: Alunos do Ensino Fundamental OBJETIVO: Reconhecer o direito a uma vida digna como direito de todos. PROJETO DE COMBATE A DENGUE EQUIPE: Ciências, Matemática e Artes PÚBLICO ALVO: Alunos do Ensino Fundamental OBJETIVO: Possibilitar o estabelecimento de relações entre diferentes conteúdos, transformando as informações em conhecimento, através de uma problemática social e ambiental. PROJETO CULTURAL “O SABOR DA ARTE” EQUIPE: Educação Artística, Português e História PÚBLICO ALVO: Alunos do Ensino Fundamental OBJETIVO: Promover a socialização e o exercício da cidadania nas várias manifestações artísticas no espaço escolar. PROJETO INTERLER EQUIPE: Sala de Leitura PUBLICO ALVO: Alunos do Ensino Fundamental OBJETIVO: Valorizar a leitura, inserindo-a no dia-a-dia, possibilitando, através do contato com os textos apresentados, o autoconhecimento, o reconhecimento dos limites, desejos, fontes de prazer, resistência às frustrações impostas pela vida, lidar com os problemas que distanciam os objetivos do potencial a ser desenvolvido, trazendo um mundo imaginário para um mundo real. FESTIVAL DE MÚSICA HISTÓRICA EQUIPE: História e Educação Artística. PÚBLICO ALVO: Alunos do 2º Segmento do Ensino Fundamental OBJETIVO: Contribuir para que o aluno desenvolva a visão analítica, crítica e o espírito social e político participativo, sendo capaz de avaliar a sua possibilidade de participação no contexto histórico em que se insere. PROJETO RITMO É MOVIMENTO EQUIPE: Educação Artística, Educação Física e Inglês PÚBLICO ALVO: Alunos do 2º Segmento do Ensino Fundamental. OBJETIVO: Compreender e utilizar de forma criativa o código lingüístico, utilizando o movimento corporal, o ritmo, as cores e a música de forma integrada. PROJETO OLIMPÍADA MATEMÁTICA EQUIPE: Matemática PÚBLICO ALVO: Alunos do 2º Segmento do Ensino Fundamental. OBJETIVO: Desenvolver a concentração e o raciocínio através de atividades lúdicas integrando os conteúdos disciplinares. Apesar dos projetos supracitados, as ações escolares são práticas assistências, assim sendo, não existe um planejamento efetivo e contínuo. O Regimento Interno não foi estudado ou divulgado para o grupo, o Projeto Político Pedagógico ainda não está definido, o que oportuniza à ocorrência de atitudes arbitrárias e não há nenhuma participação da escola como um todo. 2.2 - A função do Orientador Educacional segundo o regimento escolar O Regimento Escolar é o documento legal da Secretaria Municipal de Educação que define as estruturas pedagógicas, administrativas e disciplinares das escolas públicas municipais. Segundo ele, em seu 33º artigo, são competências do Orientador Educacional: “I – Elaborar anualmente um plano de ação, discutindo-o com os professores e direção da Unidade Escolar; II – Atuar de forma integrada com a direção e a coordenação pedagógica em todas as atividades docentes e discentes, a fim de manter a unidade da filosofia educacional que perpassa a vida da escola; III – Participar da elaboração do projeto político-pedagógico da escola, contribuindo para o aperfeiçoamento do trabalho realizado pela escola; IV – Planejar e coordenar o processo de sondagem de interesses, aptidões e habilidades, visando despertar no educando a compreensão do mundo social e produtivo; V – Acompanhar o desenvolvimento do aluno no processo ensino-aprendizagem, visando enriquecer suas relações pessoais, com o meio ambiente e com a produção cultural, de forma a contribuir com a construção de sua cidadania; VI – Investigar e analisar a realidade vivificada pelo educando em comunidade, para que os profissionais da escola possam entender as circunstâncias que condicionam o comportamento do aluno, elaborando e executando projetos semestrais; VII – Atender individualmente aos alunos através de entrevistas, sistematizando o processo de acompanhamento, orientando-os e encaminhando-os a outros especialistas, segundo suas características e necessidades pessoais; VIII – Participar da organização das turmas; IX – Participar de forma atuante das reuniões do conselho escolar e do conselho de classe; X – Convocar e atender aos pais e responsáveis, sempre que necessário, visando à integração família / escola; XI – Estimular e promover iniciativas de participação e democratização das relações na escola; XII – Participar das reuniões pedagógicas.”. Assim como o espaço escolar o Regimento traz algumas contradições, apesar de apontar para uma Orientação Educacional mais política, participativa e coletiva, reza que O.E. deve elaborar o seu Plano de Ação e discuti-lo no coletivo, mas este deve conter as suas ações, quando o ideal seria se pensar um plano de ação para toda a equipe. A despeito do que diz o Regimento Escolar, na prática, ainda se percebe uma visão de que o orientador deve trabalhar com alunos problemas, individualmente, buscando caminhos para melhor adaptá-lo a escola. Sempre que há algum problema, alguma briga ou desacato mais grave ao professor, é ao orientador que se recorre para conversar com o aluno, seus responsáveis e solucionar a questão. O trabalho desse profissional é de suma importância, enquanto articulador de reflexões que busquem caminhos para a superação das dificuldades. Não cabe a ele a ingenuidade de achar que sozinho dará conta de resolver todos os problemas, pois a escola é um espaço de construção coletiva. E a construção é coletiva no sentido pleno da palavra. O coletivo escolar abrange todos que nela transitam: professores, alunos, diretores, orientadores, coordenadores, pais, merendeiras, vigias e etc. E as decisões devem ser tomadas com a participação de todos, que juntos devem procurar as respostas às necessidades do cotidiano escolar. No cotidiano da escola pesquisada, a coletividade já é comprometida, pois é muito difícil a realização de reuniões onde estejam todos os integrantes da equipe técnico-pedagógica, pois os profissionais têm horários diversificados e raramente se encontram. Há uma certa integração dos profissionais que trabalham no mesmo turno, mas não entre toda a escola. É necessário repensar a escola, afim de torná-la mais democrática, pois é nela que devemos vivenciar a força do coletivo, desde a Educação Infantil. A escola tem a obrigação de mostrar ao aluno que ele precisa mudar a sociedade para melhor, tornando-o um cidadão consciente de seus direitos e deveres. Para corroborar a necessidade de democratização da escola pode-se recorrer a fala da professora Regina Leite Garcia, na Aula Magna de Abertura do ano letivo de 2004, promovida pela Fundação Municipal de Educação de Niterói, no Clube Canto do Rio em 3 de fevereiro: “– A escola sintonizada com um projeto de sociedade democrática, com a democratização social é aquela que busca a transformação da sociedade, a reformulação da sociedade. E não tem revolução sem que a escola dê sua contribuição, o conhecimento é indispensável para se reformular a sociedade e é lá, na escola, que isto se dá.” É preciso, e até urgente, que se tenha na escola um orientador educacional comprometido com a escola pública brasileira, que busque, junto a seus pares, formas de tornar a escola mais digna, com um ensino de boa qualidade, que seja contrária a sociedade excludente e que busque a superação do fracasso escolar. É necessário pensar e repensar a escola afim de torná-la mais democrática e para tal a comunidade deve participar da vida escolar. É obrigação social da escola acolher a comunidade. E na escola pesquisada, será que existe algum trabalho que promova a integração escola-comunidade? III - O ORIENTADOR EDUCACIONAL E A INTEGRAÇÃO ESCOLA-COMUNIDADE “…trazer os pais à escola constitui uma das atividades do orientador. Ele faz com que eles participem do projeto dela de diferentes formas, desde o planejamento do projeto pedagógico até as decisões que a escola deve tomar.” (Grinspun, 2001: 109) É comum se ouvir professores reclamando pela falta de participação dos pais na vida escolar de seus filhos, mas será que a escola está realmente aberta a participação efetiva dos pais? Que tipo de participação é esta, que os professores reclamam? Na escola pesquisada os professores costumam reclamar que os pais não vão as reuniões bimestrais, não auxiliam seus filhos nos exercícios e trabalhos de casa e não costumam comparecer a escola quando são convocados. Mas apenas este tipo de participação não garante a construção de uma escola democrática, é preciso que a comunidade participe das discussões, das tomadas de decisão e do planejamento. Mas tal participação é impedida, pois a comunidade , de modo geral, é vista de forma negativa pelos que trabalham na escola, para eles a comunidade é carente economicamente, culturalmente e afetivamente. Como podemos perceber a partir de depoimentos de professores, da direção e dos demais funcionários, obtidos através de conversas informais: “_ Devido à baixa escolaridade dos pais, eles não dão importância à vida escolar dos filhos. _ Esses pais não cobram que os filhos tenham um comportamento adequado na escola, muito pelo contrário, tem uns que ainda ensinam os filhos a desrespeitar a gente. _ Às vezes a gente chama um responsável por mau comportamento do aluno e quando ele chega aqui é pior do que o aluno. Tem pai que ainda ameaça nos processar”. Os alunos também são visto da mesma forma, acometidos pelas mesmas carências, com o agravante de ainda serem vistos como desinteressados, bagunceiros e agressivos. Essa visão interfere efetivamente na relação escola-comunidade, pois os sujeitos da escola acabam tendo uma postura paternalista, de imposição ou de quem tem a obrigação de aturar o outro. É como se devido à condição sócioeconômica e cultural tornasse as pessoas incapazes de exercer plenamente sua cidadania. Para a verdadeira participação da escola é necessário haver a democratização dos processos pedagógicos. Ou seja, os agentes educacionais, pais, alunos e comunidade devem ser incentivados a participar das decisões relativas aos conteúdos e à metodologia, pois o saber da comunidade tem sua parcela de contribuição na fundamentação da construção do projeto político-pedagógico verdadeiro, que atenda às necessidades daquela realidade. Um dos poucos momentos em que a escola se abre a comunidade são as reuniões de pais. Mas essas reuniões que poderiam constituir-se em momentos de diálogo, trocas e decisões conjuntas são tornadas, simplesmente em momentos de se reclamar dos alunos, e o que é pior, na maioria das vezes quem ouvem são os pais cujos filhos nem problema dão. Não é difícil ouvirmos dos professores nas reuniões: “- Infelizmente os pais que precisavam ouvir isso não estão aqui…” É raro, numa reunião de pais, haver um elogio a algum aluno, na maioria das vezes o que se faz é falar mal dos alunos e das turmas, que segundo os professores: “- São bagunceiros e desinteressados. Não fazem os deveres de casa. Precisam ser mais responsáveis e estudar mais.” E os pais cujos filhos não se enquadram nos rótulos acima, ou pensam que eles também são assim ou precisam ousar perguntar: “- E o meu filho, como é? – ou – Meu filho também é assim?”: A visão depreciativa que a escola tem da comunidade acaba fazendo com que as pessoas se sintam diminuídas ou que percebam o preconceito, no entanto por um caminho ou por outro a comunidade acaba se afastando da escola. E se isso acontece, é sinal de que o orientador educacional está falhando, já que segundo Grinspun: “O orientador educacional deve procurar se envolver com a comunidade, resgatando sua realidade sócio-econômica e cultural como meio de contribuir para a adequação curricular, tendo em vista a transformação da escola e da sociedade. A organização da escola deve contemplar, através de seu próprio espaço físico, os interesses e necessidades da comunidade, fazendo que ela seja participante do projeto político-pedagógico que deseja desenvolver. A Orientação deve trabalhar com um planejamento participativo, sempre voltado para uma concepção crítica. Um diálogo entre as comunidades das disciplinas teóricas e das disciplinas práticas permitirá a busca dessa concepção crítica.” (Grinspun, 2001: 109) Para que haja uma participação coletiva efetiva é preciso que todos participem do planejamento à tomada de decisões, mas a escola não permite essa participação, a participação é permitida apenas na realização de eventos, como, por exemplo, nas festas escolares, o que demonstra a falta de um planejamento que incorpore os pais, e a comunidade a rotina da escola. A escola precisa convidar a comunidade a participar do seu cotidiano, mas ao contrário, o que se tem é uma escola gradeada e de portões fechados aos que pertence. O discurso é de que é necessário e até importante a participação dos pais ou da comunidade de modo geral, na escola, mas historicamente a participação das classes populares em qualquer setor da sociedade é mínima. A escola, por sua vez, enquanto integrante dessa sociedade, acaba reforçando essa exclusão, quando não se abre a participação efetiva dos pais. Conformados com esta não participação nas decisões sociais é natural que os pais se tornem distantes e se sintam incapazes de opinar na construção e desenvolvimento de um projeto educacional. Mas as classes populares possuem um conhecimento construído historicamente que precisa ser valorizado. A escola precisa valorizar o saber popular enquanto um saber que está no mundo, um saber legítimo que contribui para a formação da herança cultural. A participação da comunidade no trabalho desenvolvido na escola faz com que haja a descentralização do poder na escola, além de promover a socialização do conhecimento e da garantia do direito de todos à participação. Para que o projeto político-pedagógico tenha um desenvolvimento significativo é preciso a participação da comunidade na instituição escolar, pode-se inclusive dizer que se não há a participação da comunidade na escola essa escola não possui um projeto político-pedagógico, ou se o tem, não é um projeto comprometido com uma educação pública popular, democrática e de boa qualidade. A escola precisa descer do pedestal no qual tem se mantido e abrir espaço para uma democratização nas relações escolares de modo que propicie a participação coletiva da comunidade na qual está inserida e da comunidade escolar de modo geral, a fim de darem as diretrizes do trabalho que se pretende realizar. A construção de uma escola democrática é necessária e até urgente. A grande dificuldade desta democracia está na maneira de ver a sociedade e suas classes. Muitas vezes, a comunidade escolar não tem consciência do valor da união. Pais, alunos e funcionários não se percebem como pertencentes a um mesmo grupo, que pode favorecer o seu sucesso ou seu fracasso, e que, de uma maneira ou de outra, arcará com as conseqüências de seus atos ou omissões. Escola e comunidade têm interesses comuns: o desenvolvimento do aluno. No entanto, temos uma sociedade que impede o pleno desenvolvimento humano, por isso, escola e comunidade precisam estar unidas para lutarem contra a sociedade excludente que está posta. O momento histórico atual é de muitas mudanças e contradições que impõe muitos desafios. Por isso a escola necessária às crianças das classes populares é uma escola que se baseia no criticismo e no não conformismo, contribuindo para a superação da alienação. Para que se possa educar na contramão da exploração social, deve-se trabalhar de forma contextualizada com a realidade social para que o aluno possa refletir e transformar o meio em que vive. Para que isso ocorra à escola deve estar comprometida com a formação moral do educando, formando-o para respeitar as idéias dos outros e capacitando-o para dialogar e cooperar. Nessa escola, as diferenças devem ser percebidas como algo positivo que desenvolve, através do diálogo, a compreensão do outro e a solidariedade na produção do saber, a diferença representa um desafio à convivência, pois através do confronto de hipóteses se produz o saber e possibilita-se a transformação social. Repensar a escola que temos é o início da construção da escola que queremos. A clareza da função social da escola e do sujeito que se pretende formar é fundamental para realizar uma prática pedagógica competente e comprometida socialmente com os interesses das classes trabalhadoras. A escola que queremos deve oferecer, a todos, condições de exercer plenamente a cidadania, através de uma educação de boa qualidade, educação essa que deve preparar para valorizar os diferentes tipos de conhecimentos , que juntos constróem o mundo e reinventam a vida. Educar para a cidadania é dar condições para que cada um contribua na comunidade com o que sabe e fazer da diversidade, a unidade, é desenvolver a competência das boas relações onde a ética, o senso comum, a tolerância, o perdão, a solidariedade são valorizados e vivenciados no cotidiano O orientador educacional da escola que se almeja é um colaborador, articulador de discussões e ações entre toda comunidade escolar, que busque junto a seus pares promover um trabalho coletivo e criar condições dos educadores reverem a sua atuação. A escola, atualmente, encontra muitos desafios a serem superados, como a repetência, evasão escolar , entre outros. Para trabalhar com crianças oriundas das classes populares é preciso que o orientador educacional se prepare para enfrentar tudo o que pode estar associado a ela, como violência, pobreza, desorganização familiar, desemprego, bebida, roubo, droga, prostituição, deficiência mental, desinteresses etc. Lembrando-se sempre que essas crianças e seus familiares depositam na escola toda esperança de um futuro melhor. A repetência, junto à pobreza é uma das maiores causas da evasão escolar. E apesar de ser sinalizadora da ineficiência do sistema escolar, ela é vista pela comunidade escolar como algo natural, que faz parte do processo educativo. Cabe ao orientador educacional promover junto aos alunos, pais e professores debates e reflexões a fim de desmistificar essa naturalização da repetência. O maior índice de repetência está nas primeiras séries do ensino fundamental e está relacionada à ineficácia no processo de alfabetização e a falta de trabalhos que desenvolvam a auto-estima e autoconfiança do aluno. A repetência só reforça nos alunos e familiares, das classes populares, a idéia de que são incapazes de aprender, gerando as piores expectativas para o futuro, além de tudo ainda representa um grande desperdício financeiro. Na verdade, quem fracassa é a escola, que não consegue exercer efetivamente uma ação educativa de respeito e acompanhamento do desenvolvimento dos alunos e ao contrário os rotula como diferentes, inferiores e incapazes. Para reverter o quadro de repetência e evasão é preciso se repensar e reestruturar a maneira como a escola avalia , aprendendo a lidar com as diferenças individuais. Para que essa transformação ocorra, a escola precisa de uma equipe técnico-pedagógica que tenha como objetivo a construção de um projeto pedagógico mais justo e coerente com as classes populares, pessoas que garantam espaços para as discussões coletivas entre todos os envolvidos com o processo ensino-aprendizagem: pais, alunos, professores, funcionários, conselho escolar, direção, e demais interessados no trabalho da escola. Projeto este que aponte na direção da construção do conhecimento por parte dos alunos, fazendo com que estes se debrucem sobre a realidade, tentando entendê-la. Na escola, que se quer humanizante, precisa-se de orientadores educacionais e supervisores e coordenadores que invistam na articulação de todo o processo pedagógico, que mobilizem os diferentes saberes existentes na escola e fora dela e que possibilitem momentos de reflexão sobre as práticas cotidianas, como ponto de partida para possíveis alternativas de mudanças. Trabalhar com o coletivo não é uma tarefa fácil, já que muitas são as diferenças encontradas entre os membros deste coletivo. Porém só o engajamento do grupo com o projeto político-pedagógico e a consciência de sua contribuição para a transformação e crescimento do sistema educacional brasileiro, farão com que resultados sejam alcançados. Por isso, a relação escola-família-comunidade se faz necessária, e até urgente, para que haja a construção coletiva do trabalho a ser desenvolvido. Todos precisam sem mobilizados para a discussão política da prática pedagógica. Os homens precisam se unir para transformar o mundo. Neste sentido não pode haver no grupo, um que domina, mas sujeitos iguais que lutam por ideais comuns, que ouvem e são ouvidos, direcionando todo o trabalho para o aluno que aprende. Na busca por essa transformação, o orientador educacional precisa estar engajado junto a todo o coletivo da escola, pois desempenha um papel significativo na transformação da instituição escolar, a começar pela participação no processo pedagógico, procurando desvelar o currículo oculto, além de compreender o sentido político de tudo o que acontece na escola. Entre tantas atribuições, cabe ao orientador educacional promover a participação do povo na sociedade em que está inserido, para que possa buscar uma sociedade mais justa e igualitária. IV - A UNIÃO FAZ A FORÇA: O QUE MUDA QUANDO O ORIENTADOR EDUCACIONAL E OS DEMAIS INTEGRANTES DA EQUIPE TÉCNICO-PEDAGÓGICA TRABALHAM UNIDOS Como explicitado nos capítulos anteriores, na escola pesquisada não há um trabalho integrado entre o orientador educacional e os demais profissionais da equipe técnico-pedagógica, o que existem são propostas de trabalho individuais que são, no máximo, compartilhadas com os integrantes do mesmo turno. O trabalho isolado de cada profissional, com suas ações individuais, desvinculadas da escola como um todo, compromete a construção de um espaço democrático na escola. A organização do Projeto Político Pedagógico da escola é um exemplo de como a falta de ações coletivas compromete a democratização da escola, pois o mesmo acabou sendo preparado por duas profissionais que apenas recolheram as sugestões do grupo e redigiram o documento. É preciso que haja na escola a construção de um coletivo, é preciso que os profissionais se mobilizem através de reuniões onde hajam discussões, trocas, onde busquem um suporte teórico que os ajude a superar as dificuldades encontradas no cotidiano escolar. Como nos Lembra Garcia (1997: 173) “mudanças coletivas só podem se dar no coletivo. E o espaço do coletivo na escola são as reuniões pedagógicas.” Com o trabalho integrado, a equipe técnico-pedagógica da escola pode formar na escola um clima favorável às discussões coletivas, que devem priorizar a melhoria da qualidade do trabalho pedagógico. É preciso que se construa no coletivo um novo projeto pedagógico para a escola, para que mudanças importantes possam acontecer. Não se pode esperar que a mudança comece de cima e venha para a escola em forma de receitas prontas a serem reproduzidas, como se isso fosse possível. Para tornar a escola a favor da classe trabalhadora é preciso que se discuta todos os processos discriminatórios - como por exemplo, fila, reprovação, evasão, divisão de turmas, etc. – para que se busque alternativas mais democráticas para a educação. Na construção desse coletivo o orientador educacional tem uma grande responsabilidade, pois como articulador deve apoiar a todos e inseri-los nesse coletivo, promovendo um clima de confiança, tornando as reuniões em momentos de renovação de esperanças e busca de objetivos comuns. Cabe a ele estimular a participação dos alunos, de maneira crítica, em todo processo pedagógico, do planejamento a avaliação, além de favorecer a organização do grêmio estudantil como forma de participação política no espaço escolar. O orientador educacional deve colaborar com a direção, coordenação e supervisão nas tomadas de decisão, nas organizações de turmas e na reorientação curricular da escola. Junto aos professores deve colaborar e participar das reflexões sobre o trabalho pedagógico, ajudando-os, se necessário, a ressignificá-la. Como profissional das relações, deve valorizar o trabalho de todos os profissionais, trazer os pais e a comunidade a participar da vida escolar, além de agregar a realidade local ao contexto escolar. Dizer que tudo isso cabe ao orientador educacional pode parecer sobrecarregá-lo de responsabilidades, mas ele não é o único responsável, é preciso que haja um esforço conjunto em prol da educação. Como nos lembra Grinspun: “Especialistas poderão contribuir para um novo momento da escola, das Instituições agindo, coletivamente em prol de uma transformação desejada.” (2003: 92) A formação psicopedagógica, política e social, a experiência e o comprometimento do orientador educacional, favorecem a sua busca por parcerias e um melhor rendimento do seu trabalho. “A orientação educacional deve ser vista como a área que pode caminhar junto com todos que buscam uma educação de melhor qualidade e, se possível, numa dimensão mais ampla de um mundo melhor.” (Grinspun op. cit.: 93) O trabalho da orientação deve estar atrelado ao dos demais profissionais da equipe técnico-pedagógica da escola, pois a prática coletiva leva ao desenvolvimento articulado do projeto político pedagógico, além de enriquecer o ensino e aproximar a escola da comunidade. Sabe-se que a escola não transforma a sociedade, mas sem ela a transformação não se dá. Educar envolve acertar e errar. E nenhum orientador tem a receita infalível para transformar a educação, mas pode com sua humilde ação e reflexão, unida as ações e reflexões dos demais profissionais da escola ajudar a transformar a escola. Como nos lembra Freire: “A mudança do mundo implica a dialetização entre a denúncia da situação desumanizante e o anúncio de sua superação, no fundo, o nosso sonho. É a partir deste saber fundamental: mudar é difícil mas é possível , que vamos programar nossa ação político-pedagógica, não importa se o projeto como o qual nos comprometemos é de alfabetização de adultos ou de crianças, se de ação sanitária, se de evangelização, se de formação de mão-de-obra técnica.” (FREIRE, 1996: 88) O grande desafio da educação atual é repensá-la e transformá-la enquanto ela se dá, de acordo com a demanda dos seus alunos e da sociedade, criando formas de educar e ensinar coerentes com o momento histórico que vivemos, pois só assim será possível a transformação. É preciso, e até urgente, que a escola pesquisada reestruture a sua organização, buscando integrar melhor seus funcionários, através de reuniões que se desdobrem em momentos de reflexão sobre a prática e sobre o contexto escolar, construindo na escola um coletivo político e socialmente comprometido com uma educação a favor dos alunos e alunas das classes trabalhadoras. Um coletivo que tenha a ética como alicerce, que valorize e respeite todos os profissionais em sua especificidade, que busque unido melhorias tanto das condições de trabalho, quanto do processo ensino-aprendizagem, ou seja, um coletivo que torne a escola includente e comprometida com o sucesso dos alunos. CONCLUSÃO O estudo desenvolvido nesta monografia buscou analisar como se dá o trabalho do orientador educacional e dos demais integrantes da equipe técnicopedagógica em uma escola pública municipal. A partir da observação pôde-se perceber que na escola pesquisada não ocorre um trabalho integrado, o que compromete a democracia vivenciada no espaço escolar, pois se os funcionários não são unidos em um objetivo comum, não podem integrar a comunidade, a família e os alunos a vida escolar. Investigando a escola observou-se que nem a construção do projeto político pedagógico da escola constituiu-se num momento de reflexão, já que não se deu coletivamente. A união da equipe técnico-pedagógica da escola facilita a gestão democrática, o planejamento pedagógico, e a integração escola-famíliacomunidade. Atualmente não espera-se mais que o orientador educacional trabalhe individualmente, cabe a ele uma atuação dialógica, crítica, contextualizada, coletiva, comprometida com o cotidiano da escola, dos alunos e de seus pares. Sendo seu trabalho de suma importância, enquanto articulador de reflexões que busquem caminhos para a superação das dificuldades. O coletivo escolar engloba todos que nela transitam: professores, alunos, diretores, orientadores, coordenadores, pais, merendeiras, vigias e etc. E as decisões devem ser tomadas com a participação de todos, que unidos devem buscar soluções para os problemas que a escola enfrenta. No momento histórico atual é fundamental a ação conjunta e o esforço coletivo de todos os profissionais que atuam na escola, para que busquem ações que contribuam para evitar a exclusão e humanizem as relações. Sempre haverá exclusão em uma sociedade com estruturas econômicas, políticas, sociais e culturais injustas e desiguais, mas planejando de acordo com as especificidades das crianças das classes populares, para que se possa desenvolver nelas habilidades e competências que lhes são necessárias para a resolução dos problemas cotidianos, as preparando para buscar novos conhecimentos e principalmente revendo a maneira como a escola avalia e classifica os alunos, podemos tornar a escola includente e a favor das crianças que dela necessitam. É necessário repensar a escola, afim de torná-la mais democrática, pois é nela que se deve vivenciar a força do coletivo. A escola tem a obrigação de mostrar a todos que fazem parte do seu cotidiano que é preciso mudar a sociedade para melhor, tornando-os cidadãos conscientes de seus direitos e deveres. É preciso, e até urgente, que se tenha na escola um orientador educacional comprometido com a escola pública brasileira, que busque, junto a seus pares, formas de tornar a escola mais digna, com um ensino de boa qualidade, que seja contrária a sociedade excludente e que busque a superação do fracasso escolar. A participação de todos no trabalho desenvolvido na escola oportuniza a descentralização do poder e promove a socialização do conhecimento e da garantia do direito de todos à participação. Para que essa transformação ocorra, a escola precisa de uma equipe técnico-pedagógica que tenha como objetivo a construção de um projeto pedagógico mais democrático, ético, justo e coerente com as classes populares, pessoas que garantam espaços para as discussões coletivas. É certo que a escola não transforma a sociedade, mas possibilita a transformação quando trabalha unida, tendo como objetivo a formação pedagógica, política e social do aluno, enquanto cidadão consciente, crítico e participativo. Que seja essa a utopia da escola pública atual!!! REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Congresso Nacional. Decreto n.º 72.846: promulgada em 26 de setembro de 1973. Brasília,1973. _______. Congresso Nacional. Lei n.º 9.394 Diretrizes e Bases da Educação Nacional: promulgada em 20 de dezembro de 1996. São Paulo: Editora do Brasil, 1997. _______. Constituição Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988 / obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto e Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt. – 20ª ed. Atual. E ampl. – São Paulo: Saraiva,1998. _______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais. Brasília,1997. FREIRE, Paulo. 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