Home > Gestão de Risco > Brasil Crise chega ao mercado de resseguro, que tem desaceleração de prêmios Relatório da Terra Brasis mostra deterioração de resultado técnico, mas investimentos financeiros salvam resultados no primeiro semestre Rodrigo Amaral – 14/10/2015 – 13:20 [email protected] Rodrigo Botti, CFO da Terra Brasis. O mercado de resseguros dá sinais de estar sofrendo com a crise econômica, mas seus resultados estão sendo salvos pela performance de investimentos financeiros, mostra estudo da resseguradora Terra Brasis. O relatório semestral preparado pela empresa com base nos dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) revela que o aumento do volume de prêmios se desacelerou nos primeiros seis meses do ano, e até houve crescimento negativo se os valores são convertidos em dólar. Mais preocupante, de acordo com a Terra Brasis, é que os níveis de sinistralidade apresentaram deterioração, com várias resseguradoras reportando patamares superiores a 100%. No lado positivo, as resseguradoras locais apresentaram maior lucro do que no mesmo período de 2014, ainda que a Terra Brasis levante dúvidas sobre a sustentabilidade dos resultados no longo prazo. A empresa observa que os lucros se devem em boa medida à contabilização de ganhos em operações de retrocessão e em investimentos financeiros, que ajudam a compensar resultados técnicos que em vários casos são negativos. “A nosso ver, no médio prazo o grande potencial do mercado ressegurador brasileiro permanece intacto”, afirma Rodrigo Botti, diretor geral e de finanças da Terra Brasis, na introdução ao estudo. “Entretanto, não nos surpreenderíamos em ter que enfrentar desafios crescentes nos próximos semestres, na medida em que o Brasil encontra soluções para as questões econômicas atuais.” Queda em dólar A exemplo do mercado de seguros, que já vinha se desacelerando como resultado da crise econômica, o setor de resseguros mostrou dados de crescimento muito inferiores nos 12 meses até junho deste ano do que no ano anterior. O volume de prêmios cresceu 3,1% em termos anuais, chegando a R$ 9,28 bilhões, comparado com 20% de aumento registrado no ano passado. Em dólares, o mercado na verdade diminuiu, de US$ 4,1 bilhões no fim de dezembro, para US$ 3,5 bilhões em junho. Por outro lado, o volume de resseguros emitidos pelas resseguradoras locais presentes no país apresentou crescimento de 32,2%, atingindo R$ 7,55 bilhões. Como resultado, a porcentagem de prêmios cedidos a resseguradoras locais, que chegou a pouco mais de 40% em 2010, agora passa de 80% do total. O volume de prêmios cedidos por cedentes brasileiras às resseguradoras locais aumentou 46% no ano até junho, e 81% no caso do IRB Brasil. Os prêmios cedidos às resseguradoras estrangeiras caíram 56%, em um reflexo da desvalorização do real. Com isso, 82% do prêmio cedido no Brasil ficou retido no mercado local. Em junho de 2014, a parcela era de 59%. Por outro lado, as resseguradoras locais brasileiras receberam R$ 210 milhões em prêmios de cedentes estrangeiras, ou 301% a mais do que em junho de 2014. Desafios A Terra Brasis observa que, pela primeira vez desde o fim de 2013, o setor ressegurador cresceu menos que o segurador primário, cuja taxa de crescimento chegou a 6% no acumulado de 12 meses até junho (contra 13,1% nos 12 meses anteriores). A proporção de prêmios de seguros cedidos ao resseguro caiu de 11% para 10,7%. Já o volume de prêmios de cosseguro caiu de R$ 2,37 bilhões em junho de 2014 para R$ 2,28 bilhões ao fim do primeiro semestre. O dado que mais preocupa a Terra Brasis, no entanto, é o aumento dos níveis de sinistralidade, que chegaram a 89% na média do mercado, contra 69% em junho de 2014. Os índices de despesa comerciais e administrativas também apresentaram piora, o que reflete o ambiente econômico mais difícil enfrentado pelo setor. Como resultado, o chamado combined ratio do setor de resseguros chegou a 101%, o que indica perdas técnicas para o setor. O resultado das resseguradoras está sendo salvo, porém, pela performance dos investimentos financeiros e ganhos obtidos em contratos de retrocessão, o que, na opinião da Terra Brasis, não configura uma situação sustentável no longo prazo. O lucro líquido do setor chegou a R$ 445 milhões em junho, comparado com R$ 305 milhões no mesmo mês de 2014. Mas isso graças a uma contribuição de R$ 700 milhões por parte dos investimentos financeiros. Empresa por empresa Sete das 16 resseguradoras locais em operação no Brasil apresentaram perda no volume de prêmios na comparação com junho de 2014. As maiores quedas foram observadas pela Mapfre Re e Markel (-37% cada), seguidas pela BTG (-30%), Munich (-24%), XL (-21%), Swiss Re e ACE (-2% cada). O IRB Brasil, que detêm cerca da metade dos prêmios no mercado local, registrou um aumento de prêmios de 88%. Outras empresas que apresentaram aumento foram a AIG (92%), Austral (88%), Zurich (51%), JMalucelli (49%), Allianz (42%) e Terra Brasis (41%). Scor e AXA, que entraram no mercado no ano passado, chegaram a junho com R$ 56 milhões e R$ 12 milhões em prêmios, respectivamente. IRB, JMalucelli, Mapfre, Austral, AIG, Zurich, Swiss, Allianz e BTG obtiveram lucro líquido superior ao de junho de 2014.