JUL / AGO / SET 2010 • No 3 • ANO XXXIV
Quem somos e para onde vamos
O balanço da gestão 2008-2010 e os objetivos da gestão 2010-2012
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Editorial
Ao que veio e ao que vai chegar
N
um tom mais de comemoração do que de
despedida, esta edição, a última da gestão
2008-2010, traz uma retrospectiva das conquistas que nós, reumatologistas de todo o Brasil,
pudemos experimentar com os projetos implementados e lançados pela equipe liderada por Ieda
Laurindo nestes dois anos.
Ao lado desse balanço, você vai conhecer também os planos da nova gestão na entrevista com
Geraldo Castelar, que acaba de assumir a presidência da SBR no XXVIII Congresso Brasileiro de
Reumatologia, realizado de 18 a 22 de setembro,
em Porto Alegre. Além disso, nossa capa homena-
Entre os marcos do presente e os projetos do futuro, muitos já em andamento, o fato é que, tanto no
discurso de Ieda quanto no de Geraldo, fica a certeza
de que a SBR atingiu um patamar sem volta, marcado pelo crescimento e pela evolução da especialidade.
Com isso, a entidade vem garantindo um maior espaço para o exercício da nossa profissão na prática clínica, no ensino e na pesquisa, sempre com vistas à
melhoria da qualidade de vida dos milhões de pacientes reumáticos existentes em nosso país.
Leia, comemore com a gente e espere ainda mais!
Um forte abraço,
geia o grande Rio Grande do Sul com o pintor gaúcho Iberê Camargo.
Marcelo Pinheiro, Fábio Jennings e
Kaline Medeiros
SOCIEDADE
BRASILEIRA DE
REUMATOLOGIA
Diretoria Executiva SBR – Biênio 2008-2010
Presidente
Ieda Maria Magalhães Laurindo – SP
Tesoureiro
Manoel Barros Bertolo – SP
Secretária-geral
Claudia Goldenstein Schainberg – SP
Vice-tesoureiro
Célio Roberto Gonçalves – SP
Primeiro-secretário
Gilberto Santos Novaes – SP
Diretor científico
Eduardo Ferreira Borba Neto – SP
Segundo-secretário
Francisco José Fernandes Vieira – CE
Presidente eleito
Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro – RJ
Boletim da Sociedade Brasileira de Reumatologia
Av. Brig. Luís Antônio, 2.466, conjuntos 93 e 94
01402-000 – São Paulo – SP
Tel.: (11) 3289-7165 / 3266-3986
www.reumatologia.com.br
@ [email protected]
Índice
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15
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Entrevista
O melhor do Brasil
Primeira fila
Notas
Coluna Seda
Dia a dia
Jornalista responsável
Solange Arruda (Mtb 45.848)
Coordenação editorial
Diretoria Executiva
Conselho editorial
Marcelo de Medeiros Pinheiro – SP
Martin Fábio Jennings Simões – SP
Kaline Medeiros Costa Pereira – SP
Colaborador: Plínio José do Amaral – SP
Layout
Sergio Brito
Impressão
Sistema Gráfico SJS
Tiragem: 2.000 exemplares
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Balanço 2008-2010
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Balanço 2008-2010
Uma gestão marcada por
transparência e continuidade
Em dois anos de trabalho
intenso, a equipe
conduzida por Ieda
Laurindo implementou
os grandes projetos que já
haviam sido deflagrados
na gestão anterior e lançou
mão de dezenas de novas
iniciativas, entre elas
cursos inéditos, campanhas
de esclarecimento à
população e a tão esperada
retomada do processo
de indexação da RBR.
Confira (quase) tudo que
foi feito nesse biênio,
sempre com a participação
determinante de colegas
de vários Estados.
T
udo começou muito antes de 2008,
mas foi em agosto daquele ano que,
após termos conversado com o então
presidente da Sociedade Brasileira de
Reumatologia (SBR), Fernando Neubarth, realizamos uma primeira reunião
com as indústrias farmacêuticas, na qual
delineamos o que seriam as características desta gestão, as jornadas, os congressos e os eventos planejados, assim como
os principais projetos a serem discutidos
e ratificados na reunião de planejamento estratégico que viria a seguir, em outubro, com a participação da Diretoria
Executiva, dos vice-presidentes, dos presidentes de comissões, das assessorias e
dos representantes da SBR em entidades médicas nacionais e internacionais.
Nessas duas ocasiões, afirmamos nossas intenções de conduzir a SBR com
transparência e de dar prosseguimento
aos projetos e programas já existentes,
definindo, portanto, transparência e continuidade como os pontos-chave da nos-
sa gestão. Dessa forma, definimos, discutimos e aprovamos metas e projetos
na referida reunião de planejamento.
O primeiro, e certamente um dos mais
importantes assuntos discutidos, foi a
indexação da Revista Brasileira de Reumatologia, a RBR. Como consequência
desse debate, sob o comando dos editores científicos, Ricardo Fuller e Mittermayer Santiago, e a orientação da nova
editora escolhida, a Elsevier, pudemos
dar corpo ao desejo antigo de indexar a
RBR no Medline, aceitando o aumento
de custo envolvido. O projeto ficou es-
Ieda Laurindo e Cristina Lana na
XVII Jornada Centro-Oeste e IV Jornada
Mineira de Reumatologia, em Ouro Preto.
Abertura do XII Conosur, em Curitiba.
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Dr. Hilton Seda e Dra. Nafice Araujo durante a 18ª Jornada
Rio-São Paulo de Reumatologia, em Angra dos Reis.
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Eventos promovidos pela SBR na gestão 2008-2010
• XII Congresso Internacional de Reumatologia do Cone Sul (Conosur)
De 5 a 7 de março de 2009, em Curitiba (PR)
• XX Jornada Brasileira de Reumatologia
De 17 a 20 de abril de 2009, em Natal (RN)
• Celebração dos 60 anos da SBR
15 de julho de 2009, no Rio de Janeiro
• XVII Jornada Centro-Oeste e IV Jornada Mineira de Reumatologia
De 6 a 8 de agosto de 2009, em Ouro Preto (MG)
• XVII Jornada de Reumatologia do Cone Sul
De 3 a 5 de setembro de 2009, em Maringá (PR)
• XVIII Jornada Rio-São Paulo de Reumatologia
De 3 a 6 de dezembro de 2009, em Angra dos Reis (RJ)
• XVI Congresso Pan-Americano de Reumatologia
De 25 a 28 de abril, em Santiago, Chile, com 212 brasileiros
• II Fórum de Novos Recursos em Reumatologia – Centro de Infusão
16 e 17 de julho de 2010, em São Paulo (SP)
Eventos das comissões da SBR
• I Encontro do Registro Brasileiro de Espondiloartrites /
II Revisão das Recomendações para Diagnóstico e Tratamento
De 25 a 27 de março de 2010
• Epifibromialgia – Estudo Epidemiológico da Fibromialgia no Brasil
1º de agosto de 2010
• Cursos de Ultrassonografia
• II Curso de Ultrassonografia para Reumatologistas (certificado pela Eular) –
Nível Básico: realizado antes da Jornada Brasileira de Reumatologia, em Natal,
em 2009, com a presença dos professores George Bruyn (Holanda),
Richard Wakefield (Leeds, Inglaterra), Walter Grassi (Ancona, Itália) e
Wolfgang Schmidt (Alemanha)
• III Curso de Ultrassonografia para Reumatologistas (certificado pela Eular) –
Níveis Básico e Intermediário: promovido em São Paulo, de 4 a 7 de setembro
de 2010, com a participação de professores pioneiros no uso da ultrassonografia
na Reumatologia, autores de livros e trabalhos fundamentais nessa área,
que nunca tinham se reunido antes para um curso fora da Europa.
O grupo era formado por George Bruyn (Holanda), Luca di Geso (Ancona, Itália),
Maria Antonietta D´Agostino (Paris, França), Marina Bachaus (Berlim, Alemanha),
Marwin Gutierrez (Ancona, Itália), Richard Wakefield (Leeds, Inglaterra),
Walter Grassi (Ancona, Itália) e Wolfgang Shmidt (Alemanha)
• I Curso de Ultrassonografia da Sociedade Cearense de Reumatologia e da SBR,
com a presença de Marwin Gutierrez (Ancona, Itália)
• Quatro pequenos cursos voltados para reumatologistas com alguma
experiência em exames de ultrassom, a fim de promover aperfeiçoamento
na identificação das doenças reumatológicas:
1) Curso de mãos: padronização de técnicas e identificação de enfermidades
inflamatórias, com o professor Marcin Szudareck (Copenhague, Dinamarca)
2) Curso de mãos: padronização de técnicas e mão reumatoide, com o
professor Marwin Gutierrez (Ancona, Itália)
3) Curso de tornozelos e pés, em julho de 2010, com a professora
Sibel Aydin (Leeds, Inglaterra)
4) Curso de ombros, a ser realizado em dezembro de 2010,
com o professor Yohan Michaud (Canadá)
tabelecido com a meta de submissão prevista para o fim de 2010. Contudo, o
apoio recebido das instituições universitárias, do corpo editorial, dos revisores e
dos associados foi de tal ordem que desencadeamos esse processo já no primeiro semestre de 2010 e aguardamos agora uma resposta neste último trimestre.
Independentemente do resultado final,
acreditamos ser unânime o reconhecimento do excelente nível gráfico e científico alcançado por nossa publicação,
agora em inglês e português.
Uma de nossas maiores preocupações,
durante esse período, foi promover uma
maior abrangência para o Boletim Informativo da SBR, mas sem que houvesse
perda de sua característica fundamental:
o caráter informal e familiar, no qual as
mais importantes notícias da família da
Reumatologia são compartilhadas por
todos os associados. E acho que conseguimos atingir esse propósito! Aliás,
aproveitamos a presente oportunidade
para parabenizar os incríveis editores do
BI, Marcelo Pinheiro, Fábio Jennings e
Kaline Medeiros.
Quanto ao site, procuramos impor um
maior dinamismo a esse veículo de comunicação, primeiramente com o auxílio de Werner Tadeu Mulller e, mais recentemente, da colega Maria Roseli
Callado, sempre com a participação de
nosso webmaster Mathias Freire de Carvalho. Dessa maneira, acredito que
estamos nos aproximando de nosso objetivo. Graças à dedicação de várias comissões ao longo do tempo, nosso site
atualmente dispõe de um material bastante útil ao dia a dia do reumatologista >>
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Balanço 2008-2010
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– a aquisição mais recente são os formulários de consentimento informado
referentes às mais diferentes medicações.
Os resultados desse intenso trabalho, em
parte já implementado, ficarão ainda
mais evidentes em breve. Acompanhe!
XX Jornada Brasileira de Reumatologia, em Natal.
Aperfeiçoamento em imagem
Nossa gestão privilegiou a educação
continuada em Imagem em Reumatologia, particularmente a ultrassonografia,
com a instituição de uma Comissão de
Imagem. Assim, realizamos vários cursos com esse tema para reumatologistas,
sempre com professores da Eular, pioneiros na aplicação da técnica na avaliação das doenças reumatológicas (veja tabela na pág. 5).
Finalmente, após o desenvolvimento
provisório de um e-mail para trocas de
informações e discussão de imagens
ultrassonográficas, lançamos, durante o
Congresso Brasileiro de Reumatologia,
em Porto Alegre, o site de ultrassonografia, um projeto em que a Dra.
Karine Rodrigues da Luz e o Dr. José
Alexandre Mendonça se desdobraram.
Acreditamos ter despertado o gosto
por esse método de imagem em muitos reumatologistas brasileiros. Ademais, demonstramos, com essas iniciativas, a capacidade de a SBR organizar e promover cursos reconhecidos
internacionalmente.
Outro desafio que tivemos foi implementar o Registro Brasileiro de Monitorização de Terapias Biológicas em
Doenças Reumáticas, dando continuidade ao projeto já definido por Fernando Neubarth. Em 2008, quando iniciamos esta gestão, o registro estava muito bem elaborado em termos teóricos,
como parte de um grande projeto da
Panlar – BiobadAmérica, e começava sua
fase de implementação. Um ano depois,
contávamos com seis centros e 250 pacientes e, hoje, ao fazermos o balanço da
nossa gestão, contabilizamos nada menos
que 28 centros em 15 Estados e 1.473
pacientes incluídos. Impossível deixar de
mencionar o coordenador do BiobadaBrasil, o incansável David Titton, e o
“Grupo dos Cinco” – cinco investigadores, de cinco diferentes Estados, que muito
têm se dedicado para implantar o
BiobadaBrasil: André Hayata (São Paulo
- SP), Helen Carvalho (Brasília - DF),
Inês Silveira (Porto Alegre - RS), Lucila
Rezende (Curitiba - PR) e Roberto Ranza
(Uberlândia - MG). Além desse projeto,
os medicamentos biológicos mereceram
um fórum de discussão voltado para as
questões relacionadas ao centro de infusão e ao reumatologista, cujas conclusões
foram apresentadas durante nosso congresso, em Porto Alegre.
Trabalhar junto
Na área de divulgação da especialidade, continuamos com a iniciativa do Dia
Mundial de Conscientização da Artrite,
tendo a artrite reumatoide como nosso
modelo de doença. A SBR é responsável
pela campanha de 2010 e uma vez mais
vai procurar levar a toda população conhecimentos sobre a afecção e, sobretudo, sobre a importância do diagnóstico
e do tratamento precoces. Este ano também estamos trabalhando mais próximos
das sociedades regionais, definindo, em
conjunto, as atividades a serem desenvolvidas, assim como seus locais e horários. A propósito, o mote da atual campanha é justamente “trabalhar junto”
ou, ainda, “work together”. Esperamos que a iniciativa venha a ser um
grande evento, proporcional ao envolvimento de dez capitais, de Manaus a
Porto Alegre!
Do ponto de vista administrativo, houve também continuidade, mantendo-se
o seguro-acidente para os sócios, e al-
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Ieda Laurindo e
Geraldo Castelar no
Congresso Português
de Reumatologia,
entre os brasileiros
que presenciaram
a posse de
Rubem Lederman
(ao centro) como
professor emérito.
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Comemoração dos 60 anos de fundação da SBR,
na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro.
guma inovação, com a disponibilização
de um prontuário eletrônico para os associados. Promovemos ainda um curso
para secretárias de consultório dos nossos sócios reumatologistas, um teste-piloto aplicado em São Paulo e muito bem
aceito pelas participantes.
Não é possível deixar de mencionar a
honra e o orgulho de termos conduzido
a gestão em que a SBR fez 60 anos. Comemoramos nossa fundação com um
jantar no Rio de Janeiro e uma pequena
cerimônia exatamente no dia – 15 de
julho – e local – Santa Casa de Misericórdia – onde surgiu a entidade em 1949,
dividindo esse sentimento com os ex-presidentes e presidentes das regionais.
Agradecemos ao colega Washington
Bianchi sua disponibilidade e inestimável auxílio para que essa conquista fosse
possível. Além desse evento em comemoração aos 60 anos, nas diferentes jornadas realizadas no ano passado, pude-
RBR em destaque no 73º Encontro Científico
Anual do American College of Rheumatology,
o ACR 2009, na Filadélfia (EUA).
Mesa de abertura do XVI Congresso Pan-Americano
de Reumatologia, em Santiago, no Chile.
mos homenagear os pioneiros da Reumatologia
de cada Estado, o que
constituiu uma experiência absolutamente incrível, compartilhada com
os colegas reumatologistas presentes.
Ainda tivemos diverPainel da campanha da SBR, veiculado no Rio de Janeiro,
sos encontros, elaborapara conscientizar a população leiga sobre a importância
do diagnóstico correto das doenças reumáticas.
ção de diretrizes, orientações para médicos e
pacientes, materiais para o site, fascícu- gionais. Nesse encontro, orientados por
los, telemedicina e projetos epide- profissionais da área, discutimos de formiológicos como o de fibromialgia e o ma madura e abrangente a situação da
de tratamento do lúpus eritematoso SBR, com seus problemas e suas qualidasistêmico, além da continuidade do re- des, e conseguimos elaborar, ainda que
gistro de espondiloartrites (RBE) e da provisoriamente, o que seria nossa misesclerose sistêmica (Gepro), bem são como sociedade. É com esse texto,
como a implementação do registro de extremamente orgulhosos do que foi possível presenciar naquela reunião em terfibromialgia.
O fato é que nos parece quase impossí- mos de maturidade e engajamento, de
vel mencionar aqui todas as comissões e participação ativa de todos os presentes,
todo o trabalho desenvolvido por elas. Por que encerramos o presente relato.
isso, com o pedido de desculpas do muito
que não foi dito e dos muitos que não foram nomeados e nominalmente agradeMissão da SBR
cidos, gostaria de terminar mencionando
uma das mais maravilhosas experiências
“Promover a excelência da
que um presidente de sociedade pode ter.
Reumatologia, mediante incentivo
ao ensino, à pesquisa e à assistência,
Foi em Santiago! Como se não fosse suficiente a alegria de assistir à posse do exe contribuir para a formulação
de políticas públicas, visando
presidente da SBR Antonio Ximenes na
presidência da Panlar, participamos de
à saúde e ao bem-estar do
uma verdadeira reunião de planejamenpaciente reumático.”
to estratégico e definição de metas, com
“Congregar os reumatologistas
a presença da Diretoria Executiva, dos
e promover, divulgar e ampliar
presidentes das comissões e assessorias,
a abrangência do exercício
dos representantes da SBR e de nossos
da especialidade”.
vice-presidentes, os presidentes das re-
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Entrevista - Geraldo Castelar
A vez da
profissionalização
Não há quem não conheça Geraldo da Rocha
Castelar Pinheiro em nosso meio. Como seu pai, o
saudoso Geraldo Castelar Pinheiro, responsável pela
formação de diversos dos especialistas que hoje
atuam e ensinam, o filho também é um ícone da
Reumatologia: está presente em todos os grandes
acontecimentos que cercam a especialidade, circula
bem em todos os serviços e escolas e é sempre
requisitado para dar aulas em eventos nacionais e
internacionais, assim como para opinar a respeito de
questões relevantes ou até polêmicas.
Chegar à presidência da Sociedade Brasileira de
Reumatologia (SBR), portanto, é uma consequência
natural de uma vida dedicada à Reumatologia e,
mais do que isso, um fato esperado por todos
que o conhecem e acompanham sua trajetória.
À frente da gestão 2010-2012, Geraldo tem, como
meta, padronizar algumas atividades básicas da
entidade, tanto que anuncia a criação de assessorias
nas áreas jurídica, de eventos e de imprensa/
marketing. Além disso, pretende iniciar um
levantamento de dados epidemiológicos e de custos a
respeito das principais enfermidades reumáticas.
Na entrevista a seguir, o novo presidente fala sobre
esses e outros projetos e mostra como a SBR pretende
abordar os inúmeros desafios que vêm por aí.
Quais serão as primeiras
providências da nova administração
e o foco da gestão 2010-2012?
Como tem ocorrido nos últimos anos,
pretendo reunir as futuras comissões e
assessorias para discutirmos os projetos que vamos desenvolver nos próximos anos. Será, na realidade, a primeira oportunidade de trabalharmos com
os resultados obtidos na reunião de planejamento estratégico da SBR, realizada no dia 24 de abril deste ano, durante
o congresso da Panlar. A próxima gestão terá, como foco, a padronização de
algumas das atividades básicas da nossa entidade, como a criação de assessorias profissionais nas áreas de eventos, para estabelecer critérios para a escolha das cidades-sede, o planejamento e o gerenciamento dos nossos eventos oficiais; de imprensa/marketing,
para otimizar a divulgação de notícias
relacionadas com a especialidade e com
a SBR, assim como para coordenar as
campanhas de divulgação sobre as enfermidades reumáticas para a população, sempre que possível com a participação das associações de pacientes; e
jurídica, para dar suporte técnico à
rediscussão do nosso estatuto e regimento interno, além de padronizar os
contratos envolvendo a entidade.
Se o senhor pudesse resumir numa
palavra o rumo da SBR daqui para
diante, qual seria essa palavra?
Profissionalização.
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“
A grande disposição de
trabalhar dos membros que
irão compor a nova diretoria
da SBR dá-me a certeza de que
poderemos melhorar ainda
mais a nossa sociedade.
Não é fácil assumir os destinos
de uma entidade bem-sucedida,
uma vez que se espera não apenas
que o nível de qualidade seja
mantido, mas superado.
Como a SBR vai poder exceder
as expectativas?
De fato, devido ao reconhecido esforço realizado pelas últimas diretorias,
muita coisa boa foi feita nos últimos
anos. Em decorrência dele, alguns resultados parciais já estão sendo divulgados, como o nosso registro de
imunobiológicos (BiobadaBrasil), e outros ainda estão por acontecer, como a
tão esperada indexação da nossa revista e a criação da Câmara Técnica de
Reumatologia no Ministério da Saúde.
A grande disposição de trabalhar dos
membros que irão compor a nova diretoria da SBR dá-me a certeza de que
poderemos melhorar ainda mais a nossa sociedade.
Na sua opinião, do que a
Reumatologia mais precisa
atualmente no Brasil? De mais
profissionais, de equipamentos
e infraestrutura para diagnósticos,
de acesso aos novos
medicamentos, de atualização?
Acredito que, em prol dos pacientes
reumáticos em geral, a SBR deve focar,
prioritariamente, os seguintes aspectos:
educar a população em relação às principais doenças reumáticas, com ênfase
na importância do diagnóstico e do tratamento precoces; capacitar os médicos da atenção primária para a identificação das enfermidades reumáticas
mais prevalentes, em especial as inflamatórias, com propensão para a cronicidade; defender o acesso irrestrito e
precoce desses pacientes aos exames
complementares necessários e a um
reumatologista, para um correto diagnóstico e orientação terapêutica; lutar
pela disponibilização de todos os medicamentos convencionais e intervenções
não farmacológicas, a exemplo da cinesioterapia e das órteses, indicados para >>
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Entrevista
“
>>
A SBR buscará participar da elaboração e da atualização das
diretrizes de tratamento das doenças reumáticas, visando à inclusão
e ao uso racional de todas as alternativas medicamentosas, de
eficácia comprovada, na abordagem das enfermidades envolvidas.
tratar de forma correta essas doenças.
Paralelamente, a SBR buscará participar da elaboração e da atualização
das diretrizes de tratamento das doenças reumáticas, visando à inclusão e
ao uso racional de todas as alternativas medicamentosas, de eficácia comprovada, no tratamento das enfermidades envolvidas.
Como a SBR pode ajudar
a suprir essas demandas?
Pressionando e reivindicando, em
conjunto com as associações de pacientes, bem como “unindo forças“
com os gestores de saúde para a criação de um programa específico para
as doenças reumáticas.
A grande procura por um
reumatologista no serviço público
de saúde é um enorme e crônico
problema da população.
Como a SBR tem visto esse
assunto e como pode ajudar?
Pretendemos, inicialmente, criar um
canal de comunicação mais dinâmico e
eficiente junto aos gestores de saúde.
Em seguida, a partir de estudos epidemiológicos bem desenhados, queremos
mostrar a elevada e crescente prevalência das enfermidades reumáticas, bem
como salientar seu impacto socioeconômico. Acreditamos, com isso, poder
cobrar uma maior participação do
reumatologista no sistema de saúde.
No seu entender, qual é o papel
da SBR como promotora
da melhoria de qualidade de vida
dos mais de 30 milhões de
reumáticos que existem no Brasil?
O que sua gestão pretende fazer
nesse sentido?
Como ficou claro na reunião de planejamento estratégico da SBR, a nossa
missão é promover a excelência da
Reumatologia, mediante incentivo ao
Conheça o novo presidente da SBR
Nome:
Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro
Nascimento:
5 de dezembro de 1956, em Coimbra (Portugal)
Esposa:
Maria Fernanda
Filhos:
André e Marcela
Formação
acadêmica:
Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro, residência em Clínica Médica e Reumatologia no HospitalGeral de Bonsucesso (RJ), mestrado/doutorado em Reumatologia
pela Unifesp e fellow em Imunologia/Biologia Molecular no Lahey
Clinic Medical Center
Atuação
vigente:
Professor adjunto e coordenador da Disciplina de Reumatologia
da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual
do Rio de Janeiro
Linha de
pesquisa:
Avaliação de características genéticas, laboratoriais e clínicas
na artrite reumatoide e na gota
Hobbies:
Música e atividades ao ar livre (corrida)
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Como novo presidente da
entidade, o que espera dos
associados e das regionais para
atingir esses objetivos?
Além de sugestões sobre como melhorar a nossa entidade, conto com a
participação dos associados nos eventos oficiais da SBR e dos responsáveis pelas regionais no apoio aos projetos de divulgação da especialidade,
na interação com as associações de
pacientes locais e nos levantamentos
epidemiológicos programados.
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ensino, à pesquisa e à assistência, e contribuir para a formulação de políticas públicas, visando à saúde e ao bem-estar
do paciente reumático. Nessa direção,
além de continuar lutando para que
sejamos ouvidos pelos gestores de
saúde na formulação de políticas públicas relacionadas com a nossa especialidade, pretendo iniciar um projeto de levantamento de dados epidemiológicos e de custos envolvendo as
principais enfermidades reumáticas –
“informação é poder”.
“
Não tenho dúvida de que
meu pai veria este momento com
muito orgulho e desejo de colaborar.
Até porque ele era um sonhador.
mento, a SBR terá dificuldade de sensibilizar os gestores de saúde para esse
tema. Pretendo, entretanto, ficar atento às oportunidades de divulgar, para a
população e para os médicos, a importância dos exercícios físicos na prevenção e no tratamento de algumas doenças reumáticas.
Como a SBR vê o reumatologista
nos próximos dez anos?
Um clínico diferenciado, em busca de
uma identidade profissional mais bem
definida e de uma remuneração mais
condizente com sua formação. Acredito, sinceramente, tratar-se de uma especialidade médica em crescimento, não
apenas em número, mas também em
importância.
O senhor é um reconhecido
esportista e grande incentivador das
atividades físicas e da melhoria da
qualidade de vida entre seus pares.
Existe alguma ideia de promover
o esporte na Reumatologia,
em conjunto com o governo
municipal, por exemplo?
Apesar de, pessoalmente, reconhecer
que a prática de atividades físicas é uma
forma efetiva e barata de promover saúde, infelizmente percebo que, no mo-
Geraldo Castelar Pinheiro
Quais foram os principais
ensinamentos que o senhor
aprendeu com seu pai, um ilustre
reumatologista, um dos patronos
e um dos fundadores da nossa
especialidade no País?
Como ele se sentiria vendo seu
filho chegar ao posto máximo de
liderança reumatológica nacional?
Certamente que a influência do meu
pai foi fundamental para que eu tivesse
escolhido a Reumatologia como especialidade. Seu gosto pelo estudo e entusiasmo pelo ensino serviram de referência para a minha atuação profissional. Não tenho dúvida de que meu pai
veria este momento com muito orgulho e desejo de colaborar. Até porque
ele era um sonhador.
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Notícias das regionais
O melhor do Brasil
Rio Grande do Norte
União de esforços entre entidades garante
sucesso do módulo de Reumatologia do Educost
N
os dias 16 e 17 de julho, a capital potiguar foi palco
de um módulo do Educost 2010, o Fórum Interuniversitário de Atualização Terapêutica, sob a coordenação
do professor João Francisco Marques Neto, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e das presidentes das
Sociedades de Osteoporose e de Reumatologia do Rio Gran-
de do Norte, Ana Maria Coutinho de Lima e Maria de Fátima Fernandes Dantas, respectivamente. O encontro, que
reuniu 25 profissionais, abordou doenças inflamatórias crônicas e doenças osteometabólicas. Vale lembrar que, neste
ano, o Educost também teve um bom número de participantes nas áreas de Endocrinologia e Ginecologia.
Rio Grande do Norte / Ceará
Com elevada adesão, 3º encontro entre regionais
entra na agenda científica anual dos dois Estados
O
utro exemplo de parceria bemsucedida também vem do Nordeste. A Sociedade de Reumatologia do
Rio Grande do Norte e a Sociedade
Cearense de Reumatologia promoveram, nos dias 7 e 8 de agosto, o III Encontro Ceará-Rio Grande do Norte de
Reumatologia, na cidade de Mossoró
(RN). A iniciativa, organizada por Maria de Fátima Dantas e Francisco Alves
Neto, do Rio Grande do Norte, e por
Max Vitor Carioca, José Gerardo e
Eduardo Gonçalves, do Ceará, foi muito prestigiada pelos colegas dos dois Estados – somou 50 participantes! – e se
mostrou bastante proveitosa cientificamente, segundo o grupo. A oportunidade abriu espaço para a abordagem e
a discussão de temas em osteoartrose,
artrite reumatoide e ombro doloroso,
além de ter servido para a apresentação das teses de mestrado e doutorado
dos colegas Roseli Callado, Leonardo
Cavalcante e Francisco Saraiva. “Pelo
sucesso, ficou acertado que esse encontro será repetido periodicamente, passando a fazer parte da agenda científica dos dois Estados”, revela Maria de
Fátima Dantas.
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Notícias das regionais
O melhor do Brasil
São Paulo
Federal de São Carlos tem
sua primeira jornada de Reumatologia
A
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) organizou, no último dia 28 de agosto, a I Jornada
de Reumatologia São Carlos – Araraquara, com o apoio
da Sociedade Paulista de Reumatologia. O evento contou com aulas dos professores Roger Levy, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, de João Francisco
Marques Neto, da Unicamp, e de Jamil Natour, da
Unifesp, além de Stela Márcia e Daniel Cruz, respectivamente docentes da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional da UFSCar. Essa foi a segunda grande iniciativa
da escola em prol da Reumatologia neste ano. A primeira ficou a cargo da estruturação de um serviço nessa
especialidade, batizado de Complexo Multiprofissional
de Atenção ao Paciente Reumatológico, ou Comapre.
Coordenado por Mirhelen Abreu, o complexo conta com
profissionais de São Carlos e Araraquara, incluindo cinco reumatologistas e um clínico geral, além de professores dos Departamentos de Medicina, Fisioterapia
e Terapia Ocupacional da UFSCar. Uma ótima notícia
para os clínicos e pacientes da região!
Rio de Janeiro / Minas Gerais / Espírito Santo
Evento em
Petrópolis vai reunir
reumatologistas
do Sudeste
A
Sociedade de Reumatologia do Rio de Janeiro (SRRJ), a Sociedade
Mineira de Reumatologia e a Sociedade de Reumatologia do Espírito Santo (Sorem) se uniram neste segundo semestre para promover,
entre 21 e 23 de outubro, a Jornada Rio, Minas e Espírito Santo de
Reumatologia. O evento vai ocorrer em Petrópolis, no Hotel Vale Real –
Itaipava, em paralelo à 2ª Jornada Anual da SRRJ. Para obter mais informações, ligue agora mesmo para (21) 2549-4114. Vá prestigiar!
Rio de Janeiro
ReumaRio 2010 atrai 210 reumatologistas
N
ão é à toa que a SRRJ está preparando
sua segunda jornada de atualização. Afinal, a primeira, a ReumaRio 2010, foi um grande sucesso, com 210 participantes. Esse grupo
compareceu ao Hotel Pestana nos dias 6 e 7 de
agosto para discutir dois temas centrais: a
síndrome de Sjögren e a artrite reumatoide. As
aulas e os debates contemplaram as questões
mais relevantes na abordagem dessas doenças,
da epidemiologia e do diagnóstico até o tratamento, incluindo associações com outras enfermidades. A ReumaRio foi conduzida por
reumatologistas do Rio de Janeiro e ainda contou com a participação de Paulo Lousada, de
São Paulo, e Mittermayer Santiago, da Bahia,
além do colombiano Juan-Manuel Anaya.
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O que nossos colegas andam estudando
Primeira fila
Pesquisa clínica
Imagem de ressonância magnética
de artropatia de Jaccoud em pacientes
com lúpus eritematoso sistêmico*
Daniel Sá Ribeiro1
Mittermayer Santiago2
Verena Galvão, João Luiz Fernandes, César de Araújo Neto e Fernando D’Almeida3
Objetivo
Os autores analisaram o desempenho da ressonância magnética (RM) de 1,5 T para a avaliação das
mãos de 20 pacientes com deformidades típicas da artropatia de Jaccoud secundária ao lúpus
eritematoso sistêmico (LES).
Método
O protocolo do estudo incluiu a aquisição de imagens em cortes coronais, sagitais e axiais em
sequências T1 e T2, antes e depois da administração de contraste paramagnético. A presença de
sinovite, edema, erosões, cistos e tenossinovite carpometacárpica, metacarpofalângica e interfalângica
proximais foi quantificada de acordo com as recomendações das medidas modificadas de desfechos
em Reumatologia (Omeract).
Resultados
A maioria dos pacientes era do sexo feminino (19:1), com medianas de idade, de duração da doença
e de tempo de artrite de 44,7 anos (20-76 anos), 14,7 anos (5-26 anos) e 13,7 anos (4-26 anos),
respectivamente. Das 300 articulações avaliadas, 202 (67,3%) tinham algum grau de sinovite. Observaram-se também pequenas erosões em metade dos avaliados. Da mesma forma, foi encontrado
edema ósseo subcondral em oito dos 20 pacientes (40%), ou em oito de 18 articulações (6%).
Quatro dos 20 indivíduos estudados apresentavam ainda cistos ósseos. No total, o trabalho envolveu
o estudo de 200 compartimentos tendinosos, dos quais 77 (38,5%) com alterações.
Conclusão
Os autores concluíram que a RM parece ser um método não invasivo para o diagnóstico de pacientes
com artropatia de Jaccoud secundária ao LES, podendo contribuir para a compreensão dos mecanismos envolvidos no desenvolvimento dessa deformidade.
(*) Dissertação apresentada à Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública
(EBMSP) para a obtenção de título de mestre em Ciências, com o apoio da
Fundação para o Desenvolvimento das Ciências, em Salvador, BA.
Aluno do mestrado
2
Orientador da tese
3
Coautores da tese
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Notas
XIII Reciclagem da Reumato-Unifesp
marca 25 anos de encontros entre egressos
D
e 13 a 15 de agosto, a Reumatologia da Unifesp-Escola Paulista
de Medicina (EPM) realizou a XIII
Reciclagem da Escola na cidade de
Jarinu, interior de São Paulo. Promovido a cada dois anos de modo ininterrupto desde 1985, o encontro é o
mais esperado pelos atuais membros da
disciplina e pelos antigos alunos da
EPM. Como forma de comemorar essas “bodas de prata”, a reciclagem foi
marcada por diversas surpresas, com
distribuição de camisetas e de CD das
principais baladas tocadas na festa de
confraternização, presença de DJ personalizado especialmente para o evento – a Dra. Ana Cecília Diniz –, bolo
comemorativo dos 25 anos e, o ponto
alto, um emocionante vídeo que contou a história da Reumatologia da
Unifesp, desde a sua fundação pelo professor doutor Edgard Atra, há 32 anos,
com imagens de todas as gerações que
por lá passaram. O fato é que, na prática, a intenção original do fundador,
também o primeiro grande idealizador
desse tipo de evento em todo o País, foi
revivida, garantindo a unidade dos
egressos, ou seja, daqueles que se formaram na Unifesp-EPM. “Ele pretendia confraternizar com as pessoas,
reencontrá-las e, sobretudo, celebrar as
novas conquistas de seus alunos”, conta Marcelo Pinheiro, um dos organizadores da última reciclagem. Com uma
caneca de café em uma mão e o cigarro
em outra, sentava-se com cada um dos
antigos alunos, a fim de saber como estavam se sentindo e o que estavam fazendo ao retornar para sua cidade natal. “O espírito contagiante da reciclagem existe desde o princípio e perdura até os dias de hoje, especialmente
com a intenção de mesclar temas de
atualização de nossa especialidade com
Da esq. para a dir., Daniel Feldman, Emília Sato, Marcelo Pinheiro,
Cristiane Kayser, Neusa Pereira, Alexandre Wagner, Luís Eduardo Andrade,
Rita Furtado, Vera Szejnfeld, Jamil Natour e Charlles Castro.
Reumatologistas formados pela Escola Paulista de Medicina na XIII Reciclagem.
descontração, bom humor e elevado
nível científico, mas sem se esquecer do
reencontro, da integração e da lembrança de fatos e histórias, assim como fazemos quando estamos em família”, sintetiza o chefe da Disciplina de Reumatologia da Unifesp, Luís Eduardo C.
Andrade. O professor Edgard, com o
qual muitos conviveram e do qual muitos outros certamente ouviram falar,
deve estar bastante orgulhoso desses 25
anos de encontros. Certamente diria,
aos antigos integrantes, “como é bom
vê-los novamente” e receberia os novos
com um sincero e sonoro “bem-vindos”.
Parabéns à Reumato-Unifesp, que, por
dar a devida importância a iniciativas
dessa natureza, ajuda a construir não
só a história da disciplina, como também da própria especialidade.
“Os homens passam,
mas a instituição fica”.
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Edgard Atra
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Notas
SBR promove curso para secretárias de consultório
C
om base numa ideia da reumatologista Cristina Ellert Salomão, da
Assessoria de Gestão/Demanda de Consultórios e Procedimentos da Sociedade
Brasileira de Reumatologia (SBR), a entidade promoveu, no dia 24 de julho, em
São Paulo, seu primeiro curso para secretárias. “Nosso objetivo foi dar ênfase
à posição ocupada por essas profissionais dentro do consultório, de modo que
percebam quanto são importantes não
apenas para o médico, mas também para
o paciente”, resume a secretária da SBR,
Ana Maria Salvatore, que participou tanto da organização do curso quanto da
programação oficial. Afinal, coube a ela
fazer a abertura do evento para as 38 secretárias presentes, que também assisti-
ram a palestras da psicóloga Claudia Regina da Silva, da administradora hospitalar Cristiane Regina dos Santos, da empresária Roberta Paraízo, do doutor em
Informática Médica Paulo Lísias Salomão
e da própria Cristina Salomão. A secretária da SBR ficou bem impressionada com
o interesse das participantes pelos assuntos abordados, tanto no que se referiu à
parte de marketing pessoal quanto no que
disse respeito aos aspectos eminentemente
profissionais do cargo. “Além disso, a experiência foi ótima porque tivemos a oportunidade de dar “rosto” às vozes que escutamos, às vezes, por anos ao telefone”,
conta. “Houve um estreitamento de laços
entre as profissionais”, resume Ana Maria. Merece bis, não merece?
Uma visão histórica da gota
Nosso professor Hilton Seda e o colega Mário Viana de Queiroz, de Lisboa, acabam de
lançar mais uma obra digna de colecionador:
História da gota e de gotosos famosos. Publicado pela editora portuguesa Lidel, o livro traz,
em nada menos que 330 páginas, a história da
doença e sua presença na literatura universal,
além da biografia de personalidades mundiais
importantes, todas gotosas, ligadas à política, à realeza, à literatura, à pintura, à música
e às artes em geral, em textos de extensão
adequada que tornam a leitura agradável e
proveitosa. O Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Reumatologia parabeniza os autores e espera que continuem
contribuindo cada vez mais no cenário histórico da Reumatologia.
A “febre do ultrassom” que tomou conta da Reumatologia na Europa atravessou
o Atlântico. Tanto é assim que, neste ano,
o Congresso Americano de Reumatologia
vai dedicar o espaço nobre do curso précongresso ao ensino desse método de imagem. No Brasil, também estamos caminhando de forma rápida e ordenada. Graças a uma proveitosa parceria com a Eular,
a SBR tem realizado aqui cursos de aprendizado de qualidade internacional. Neste
ano, foram dois eventos simultâneos para
os níveis básico e intermediário, que ocorreram de 4 a 7 setembro, em São Paulo,
com a presença de 45 participantes. À
frente das aulas, os mais renomados professores de todo o mundo, entre os quais
George Bruyn, da Holanda, Luca di Geso,
Walter Grassi e Marwin Gutierrez, da Itália, Maria Antonietta D´Agostino, da França, Marina Bachaus e Wolfgang Shmidt,
da Alemanha, e Richard Wakefield, da Inglaterra. Esse grupo abordou, no curso básico, temas que foram do funcionamento
do equipamento de ultrassom ao detalhamento das doenças que acometem mãos,
pulsos e joelhos. No intermediário, por sua
vez, o foco ficou com a pesquisa de fraturas e osteomielites, além da avaliação de
próteses.
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Em parceria com
a Eular, SBR realiza
mais um bem-sucedido
curso de ultrassonografia
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Notas
Unifesp prepara a
2ª edição de seu
curso de infiltrações
A Disciplina de Reumatologia da
Unifesp vai realizar, nos dias 22 e 23
de outubro, a segunda edição do Curso de Infiltrações em Reumatologia.
Conduzido por Jamil Natour, Rita Furtado e Monique S. Konai, o evento terá
pouco mais de duas horas de teoria,
com aulas sobre indicações e contraindicações do tratamento, fármacos
e técnicas empregadas e uso de métodos de imagem para guiar as infiltrações. Todo o restante do tempo será
dedicado à prática, no primeiro dia em
esqueleto e peças anatômicas e, no
segundo, em pacientes selecionados do
Serviço de Reumatologia da Escola
Paulista de Medicina. Para mais detalhes e pré-inscrições, basta acessar
www.cursoinfiltracao.com.br.
Da esq. para a dir., Nádia Aikawa, Bernadete Liphaus,
Lucia Campos, Adriana Jesus, Clóvis Silva e Adriana Sallum.
Equipe de Reumatologia Pediátrica
da FMUSP brilha em congresso canadense
Durante o 9º Congresso Internacional de Lúpus Eritematoso Sistêmico,
realizado em Vancouver, no Canadá, de
24 a 27 de julho, um grupo de médicosassistentes da Unidade de Reumatologia
Pediátrica do Instituto da Criança do
Hospital das Clínicas da FMUSP (ICrHC-FMUSP) apresentou nove trabalhos, um deles como tema livre oral.
Fórum de novos recursos em Reumatologia
traz panorama completo sobre biológicos
N
os dias 16 e 17 de julho, a SBR
promoveu, em São Paulo, o II
Fórum de Novos Recursos em Reumatologia, que, dessa vez, focou o centro
de infusão. O evento, que teve 98 inscritos, reuniu, entre os palestrantes, a chefe do Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da FMUSP, Eloisa
Bonfá, o diretor técnico do Centro de
Infusão de Biológicos de Mato Grosso,
Vander Fernandes, o presidente da Sociedade de Reumatologia do Rio de Janeiro, Reno Martins Coelho, o coordenador técnico do Programa Diretrizes da
Associação Médica Brasileira, Wanderley
Marques Bernardo, o presidente da Comissão de Ética e Defesa Profissional da
SBR, José Marques Filho, o conselheiro
do CRM Marco Tadeu Moreira de
Moraes, a representante da Anvisa
Clarice Alegre Petramale, o assessor de
Economia da Saúde da SBR, Sérgio
Candido Kowaslki, o coordenador-geral
do BiobadaBrasil, David Cezar Titton, a
assessora do BiobadaBrasil, Inês Guimarães Silveira, e, claro, a presidente da
SBR, Ieda Laurindo. Em dois dias de
aulas e debates, esse grupo de profissionais colocou em pauta as novidades sobre o BiobadaBrasil, a portaria e a dispensação de biológicos, os aspectos farmacoeconômicos dessas terapêuticas, o
papel da ANS, a visão da operadora de
saúde, o funcionamento de um centro de
infusão em ambiente público e privado,
a responsabilidade médica e civil da prescrição e da execução do procedimento,
a posição do CRM sobre os novos recursos, as questões éticas envolvidas e
as recomendações da SBR quanto ao uso
de agentes biológicos. Bem completo, do
jeito que o assunto exige.
Coordenado por Clóvis Silva, o grupo do instituto é formado por Nádia
Aikawa, Bernadete Liphaus, Lucia Campos, Adriana Sallum e Adriana Almeida
de Jesus, a quem coube a apresentação oral do trabalho Primary immunodeficiencies in juvenile systemic lupus
erythematosus patients. Uma representação e tanto!
PROGRAME-SE
Que tal
uma atualização
em Istambul?
Boa oportunidade para conhecer um
lugar bem diferente e se atualizar em
nossa área. Entre 17 e 19 de fevereiro
de 2011, haverá, em Istambul, o evento Excellence in Rheumatology, que vai
se desenvolver num formato diferente
dos tradicionais congressos. Em um dia,
abordará a artrite inflamatória, em outro, as doenças autoimunes e, em outro, as comorbidades que acompanham
as afecções reumatológicas. Os organizadores abriram um número limitado de vagas para a iniciativa, que pode
receber até 1.500 pessoas. Para mais
informações, visite o site:
www.excellence-in-rheumatology.org.
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Coluna Seda
Crise de gota em momento
particularmente inoportuno em
dois grandes compositores
Hilton Seda
Dois importantes compositores de música erudita, sofredores de gota,
o alemão Johann Adolf Hasse e o brasileiro Heitor Villa-Lobos, sofreram
ataques agudos da doença em momento bastante inconveniente.
Hasse: aprovado por Bach e Mozart
J
ohann Adolf Hasse descendia de uma família de músicos.
Nasceu em Bergedorf, pequena cidade próxima a Hamburgo, na região da Baixa Saxônia, no dia 25 de março de
1699. Foi um dos mestres da ópera séria. Estudou com os
italianos Nicola Porpora (1686-1768), professor e compositor de canto, e Alessandro Scarlatti (1660-1725), considerado por muitos como um dos fundadores da escola napolitana
de ópera. Scarlatti muito o estimava e o tratava como filho.
Com essa formação, era de esperar que iniciasse sua carreira
na ópera. E assim foi. Começou como tenor nas óperas de
Hamburgo e Brunswick, em 1722. Fruto do convívio no meio
teatral, casou com a soprano italiana Faustina Bordoni (17001781) em 1730, com quem teve três filhos.
Embora se dedicasse especialmente à criação de óperas,
Hasse também compôs em outros gêneros; fez oratórios,
música eclesiástica e de câmera. Muitas de suas obras, entretanto, se perderam quando a cidade de Dresden foi bombardeada, em 1760, pelas forças de Frederico II (1712-1786),
rei da Prússia, as quais destruíram edifícios públicos e a casa
do compositor, onde estavam guardados os manuscritos de
suas obras, à espera de uma inédita publicação completa. Apesar de tudo, como havia cópias de seus trabalhos mais importantes, ainda restaram 63 óperas, 12 oratórios, cerca de 20
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missas e réquiens, 90 cantatas e centenas de outros trabalhos. A maioria das óperas de Hasse foi escrita com base em
textos de Pietro Metastacio (1698-1782), poeta italiano cujos
libretos foram musicados por inúmeros compositores importantes, mas que o preferia, dentre todos os que trabalhavam
sobre suas obras1-5.
Johann Adolf Hasse foi apreciado e valorizado por figuras
exponenciais da música, como Johann Sebastian Bach (16851750) e Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). Este, ao
visitá-lo quando estava em Milão, em 1771, ficou impressionado com sua musicalidade1-5.
Antioco, a primeira ópera de Hasse, foi apresentada em
1721. Em 1726, veio Sesostrate, a inicial de uma série de sete
que fez para a ópera real, representada no Teatro San
Bartolomeo. Em 1729, ocupava o posto de maestro sopranumerario della Real Capela di Napoli. Seu oratório Daniello
foi levado pela primeira vez a Viena em 1731, para Carlos VI
(1685-1740), imperador germânico, rei da Hungria e da
Sicília, da dinastia dos Habsburgos. A partir de 1744, suas
óperas passaram a ser feitas sobre libretos de Metastasio:
Antígono, Ipermestra e outras1-5.
Hasse viveu em Viena de 1764 a 1773, ano em que resolveu aposentar-se e morar em Veneza, cidade onde compôs
cantatas e música religiosa e passou a ensinar. Sua última
composição foi uma missa em sol menor, em 1783, dois anos
depois de ter sua esposa falecida1-5.
Villa-Lobos:
o gênio musical nacionalista
Heitor Villa-Lobos foi o “consolidador de toda a experiência histórica
deixada por seus antecessores”. “(...)
Rebelde às regras convencionais da
composição musical, sua música expressa toda a força desordenada da natureza brasileira”6. Com ele, nasceu nossa
“primeira geração nacionalista”7.
O compositor nasceu na Rua Ipiranga, em Laranjeiras, no Rio de Janeiro, no dia 5 de março de 18872,7-9. Seus
pais se haviam casado em 1884 e tiveram oito filhos. Sua mãe, Noêmia Umbelina Santos Monteiro, era filha do
compositor popular Antônio José dos
Santos Monteiro, autor de uma quadrilha, a Quadrilha das Moças, que se tornou famosa e era dançada no paço e nos
saraus da Marquesa de Santos. Ela faleceu em 1946. Seu pai, Raul Villa-Lobos, era funcionário da Biblioteca Nacional e devotado a estudos históricos e
didáticos; criou cerca de 30 trabalhos
>>
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Coluna Seda
>>
de valor, entre eles alguns geográficos, como corografias, e
compêndios de matemática. Organizou também a biblioteca
do Senado Federal. Acima de tudo, tinha grande paixão pela
música, tendo fundado o primeiro clube sinfônico, ou seja, a
Sociedade de Concertos Sinfônicos do Rio de Janeiro. Em
sua casa, fazia-se boa música. Com o pai, Heitor, desde os 6
anos de idade, aprendeu a tocar violoncelo em uma viola especialmente adaptada para essa finalidade. Estudou, depois,
violão, saxofone e clarinete. Raul Villa-Lobos morreu aos 37
anos, em 1899, quando o filho estava com 12 anos2,7,9.
Villa-Lobos sempre teve especial interesse pela música
popular. Sentia particular atração pela intensa musicalidade
dos “chorões”, músicos populares da classe média do Rio de
Janeiro do fim do século XIX e início do XX, frequentemente
contratados para tocar em festas, os quais executavam suas
músicas de uma maneira chorada – daí o nome “choro”, dado
a esses conjuntos, e o de “chorão”, aos seus integrantes. Depois da morte do pai, aproximou-se dos “chorões” e passou a
tocar violoncelo em teatros, cafés e bailes. Nessa época, aumentou seus conhecimentos de violão. Ainda assim, estudou
no Colégio de São Bento e matriculou-se em um curso de
preparação para a faculdade de medicina, mas não ingressou
na carreira. Aos 16 anos, deixou sua casa e foi morar com a
tia Fifina para poder se dedicar à música com maior liberdade. Tocou no Teatro Recreio, em programas diversos: óperas,
operetas e zarzuelas, uma forma dramático-musical espanhola.
Do mesmo modo, atuou no Cinema Odéon e
em bares, hotéis e cabarés. Nesse período, manteve contato com personalidades musicais importantes e interessou-se por adquirir uma noção clara de todos os instrumentos que integram a orquestra, o que lhe foi, posteriormente, de grande utilidade para compor2,6,7.
Em 1905, contando 18 anos, Villa-Lobos
deixou o Rio de Janeiro e viajou para o Norte
do Brasil, com recursos que obteve vendendo
alguns livros raros herdados de seu pai, para
aprender coisas novas. Esteve no Espírito Santo, na Bahia e em Pernambuco, colhendo elementos do folclore do País que lhe serviram
para produzir obra musical verdadeiramente
brasileira. Em 1906, ao ter um problema com
a polícia no Rio de Janeiro, foi para Paranaguá,
no Paraná, onde trabalhou durante seis meses
em empresa marítima. O material colhido no
sul agradou-lhe menos que o colhido no norte.
Voltou ao Rio de Janeiro em 1907, quando se
dedicou a estudar harmonia com Frederico
Nascimento, como aluno particular. Teve também lições com Agnelo Gonçalves Viana Fran-
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ça. Daí em diante, tornou-se autodidata. Em 1911, participou da companhia de operetas Luiz Moreira, que seguiu até
Manaus. Um fato inusitado: quando voltou ao Rio, ficou surpreso ao saber que sua mãe, por julgá-lo morto, mandara
rezar uma missa por sua alma2,7,9.
No dia 12 de novembro de 1913, Villa-Lobos casou com
Lucília Guimarães, pianista, regente de coro e compositora,
principalmente de peças corais. Viveram em rua próxima à
Praça da Cruz Vermelha com enormes dificuldades financeiras, pois havia grande resistência ao seu modo inovador de
compor. Os recursos do casal vinham, basicamente, das aulas de piano que Lucila dava e do trabalho de Villa-Lobos,
que tocava à tarde na Confeitaria Colombo e à noite no Restaurante Assírius. Eles viveram juntos durante 22 anos. A
separação se deu porque Villa-Lobos se apaixonou por
Arminda Neves de Almeida, conhecida como Arminda
Villa-Lobos, violinista com quem passou a viver a partir
de 1936. Arminda exerceu papel fundamental na divulgação da obra do companheiro, tendo criado o Museu VillaLobos, que dirigiu até morrer2,7.
Villa-Lobos escreveu sua primeira composição aos 13 anos,
uma peça para violão intitulada Panqueca11. Seus primeiros
concertos, com obras próprias, foram dados no Rio de Janeiro a partir de 1915. O famoso pianista Arthur Rubinstein
(1887-1982) e o escritor José Pereira Graça Aranha (18681931) tiveram grande influência em sua carreira, pois esta-
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vam entre os que mais insistiram para que o industrial Carlos
Guinle patrocinasse Villa-Lobos e lhe fornecesse os recursos
necessários para que ele fosse à Europa divulgar suas obras2,7.
O compositor recebeu também, com essa mesma finalidade,
uma subvenção do Congresso Brasileiro. Em 1923, seguiu
para a Europa para exibir suas composições. Fez seu primeiro concerto em Paris, em maio de 1924, numa apresentação
histórica, da qual participaram Arthur Rubinstein e a soprano
brasileira Vera Janacópulos (1892-1955). A reação do público não foi muito favorável a essa música inovadora, mas o
pianista Jean Wiener (1896-1982), reconhecendo o valor das
composições, contratou Villa-Lobos para novas apresentações. Por se terem esgotado a verba oficial e os subsídios dos
amigos, o compositor teve de retornar para o Rio de Janeiro
antes do término de 1924. No ano seguinte à sua volta ao
País, passou a dar vários concertos no Brasil e no exterior7,9,11.
Voltou a Paris em 1927, tendo recebido, dessa feita, o reconhecimento da imprensa francesa.
Villa-Lobos exerceu cargos importantes, como superintendente de educação musical e artística do Distrito Federal e
diretor do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico
(1942), em cuja função desenvolveu, durante anos, um trabalho educativo nas escolas públicas, com especial destaque
para o canto orfeônico. Em 1944, foi pela primeira vez aos
Estados Unidos da América, onde regeu as melhores orquestras do país. Desse ano em diante, teve oportunidade de reger orquestras importantes da Europa, da América do Sul e da América Central9.
As primeiras composições de Villa-Lobos
mostram influência de Richard Wagner (18131883) e Giacomo Puccini (1858-1924). A partir de Danças Características Africanas (1914),
passou a usar características próprias, que se consolidaram nos bailados Amazonas e Uirapuru
(1917). Por volta de 1925, suas obras já estavam
totalmente nacionalizadas. A produção do compositor foi copiosa, contando mais de mil músicas, que vão da harmonia singela à mais alta complexidade9. Conforme acentua Vasco Mariz: “Se
Carlos Gomes foi o maior compositor das Américas no século XIX, Heitor Villa-Lobos é considerado o gênio musical de sua época no Novo
Mundo”7.
Na hora errada
Como foi inicialmente dito, esses dois grandes compositores sofreram ataques de gota em
momentos absolutamente inoportunos, se é que
existe algum momento oportuno para ter uma
crise da doença.
Os primeiros sintomas da gota manifestaram-se em Hasse
aos 32 anos. A crise que lhe criou o primeiro grande problema veio em 1731, quando ele se encontrava em Viena, com a
finalidade de apresentar seu oratório Daniello. Esse ataque
foi prolongado e o fez permanecer na cidade até julho, quando pretendia deixá-la em junho. Pior foi o que ocorreu em
1771. Trabalhava, então, em sua última ópera, Ruggiero,
Ovvero L’Eroica Gratitudine, por encomenda da imperatriz
Maria Thereza, e só pôde prosseguir em seu trabalho com a
ajuda de sua filha Pepina, para quem ditava os textos2,4,5. Para
que isso acontecesse, é muito provável que tenha tido uma
crise poliarticular com comprometimento das mãos.
Johann Adolf Hasse faleceu em 16 de dezembro de 1783,
segundo dizem, de uma “inflamação do tórax”, precedida de
um grave ataque de gota2,4,5.
Já o que aconteceu com Heitor Villa-Lobos foi cômico,
hilário. No Museu Villa-Lobos, não há mais informações sobre suas doenças. Sabe-se, entretanto, que sofria de gota.
Quando nosso compositor maior participou da Semana de
Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922, recebeu
uma tremenda vaia, desencadeada, acredita-se, pelo fato de
ter-se apresentado no palco vestido de maneira grotesca: de
casaca, com sapato em um dos pés e chinelo no outro, o que
teria sido interpretado, pela plateia, como uma provocação.
Na realidade, o que o fez assim se apresentar foi um ataque
agudo da doença. Comentário de Villa-Lobos sobre o incidente: “O auditório é quase sempre formado de elites sociais
que, na maioria das vezes, não gostam de música, e, sim, do
gênero, do estilo do autor que está em moda”10.
Heitor Villa-Lobos faleceu de câncer de bexiga no dia 17
de novembro de 1959 e seu mausoléu está no Cemitério de
São João Batista, no Rio de Janeiro.
Referências
1
Dicionário Enciclopédico Ilustrado Larousse, Editora Abril,
São Paulo, 2006.
2
Dicionário Grove de Música, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1994.
3
http//www.2.nau.edu/-tas3/hasse.
4
http//www.classical.net/music/comp.Ist/acc/hasse.php.
5
Queiroz MV, Seda H: História da gota e de gotosos famosos,
Lidel, Lisboa, 2010.
6
Araújo M: Rapsódia Brasileira, Universidade Estadual do Ceará,
Fortaleza, 1994.
7
Mariz V: A Música Clássica Brasileira, Andrea Jakobsson Estúdio
Editorial Ltda., Rio de Janeiro, 2002.
8
Andrade M: Pequena História da Música, Livraria Martins Editora.
9
Villa-Lobos H: Museu Villa-Lobos, Dados Biográficos,
Rio de Janeiro, 1971.
10
http//www.e-educador.com/índex.php/educultura/4096-heitor.
11
Pahlen K: História Universal da Música, Edições Melhoramentos,
São Paulo.
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Dia a dia
Por que indicar a vacina anti-influenza
A/H1N1 sem adjuvante para
portadores de doença autoimune?
Tatiana Tourinho
O uso de adjuvante MF59 na vacina contra a
gripe A/H1N1 pode reativar a doença em
portadores de afecções autoimunes, uma vez que
essa associação aumenta a imunogenicidade dos
pacientes e ativa seu sistema imune, indo,
portanto, na direção oposta à do tratamento para
o controle da doença imunológica.
Essa reação foi observada em alguns indivíduos
reumáticos que receberam a vacina com o MF59,
resultando, assim, na recomendação de que esse
grupo de pacientes, tal qual o das gestantes,
receba a versão monovalente sem o adjuvante.
A indicação também toma por base um artigo
publicado no New England Journal of
Medicine, em setembro de 2009, cujo resumo
traduzido é reproduzido abaixo, que mostrou
justamente que a adição do adjuvante à vacina
induz a formação de anticorpos eficazes e de
longa duração por reação cruzada.
Vacina monovalente
anti-influenza com
adjuvante MF59
Clark TW, Pareek M, Hoschler K, Dillon H, Nicholson KG, Groth N, Stephenson I
O
vírus influenza A/H1N1-2009 é
um potencial causador de doença, morte e crise socioeconômica, embora a imunização possa reduzir seu efeito. No entanto, a demanda pela vacina
anti-H1N1 deverá exceder a oferta, caso
se mantenha o método atualmente disponível para produzi-la, isto é, a reprodução em ovos. A cultura de células é
uma técnica alternativa para a produção
em larga escala, justamente em períodos
de maior procura.
A vacina convencional, preparada com
cepas de influenza aviário, tem baixa eficácia para o combate ao A/H1N1, mes-
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mo se aplicada em duas doses, com intervalos de 21 a 28 dias, pois não há evidências de que anticorpos cruzados do
imunizante sazonal possam conferir proteção contra o H1N1. A associação de
adjuvante oleoso em emulsão aquosa estimula a imunogenicidade, induzindo anticorpos eficazes contra variantes antigênicos, por reação cruzada, e potencializando seu efeito sobre o vírus.
Esse foi o fator determinante para que
a Organização Mundial de Saúde recomendasse a vacina com o MF59, um
adjuvante de petróleo que foi licenciado
para uso em imunizantes contra a gripe
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sazonal em 1997. Apesar disso, o efeito
dessa associação sobre o vírus H1N12009 ainda não é conhecido.
O presente relatório preliminar apresenta os perfis de imunogenicidade e
eventos clínicos associados à vacina
monovalente anti-influenza A/H1N12009 com adjuvante MF59, na dose de
7,5 μg, administrada a adultos por meio
de dois esquemas da imunização: duas
doses de 3,75 μg aplicadas simultaneamente, uma em cada braço, no mesmo
dia, e duas doses de 3,75 μg aplicadas
com intervalo de 7 ou 14 dias. Por sua
vez, a vacina sem adjuvante também teve
quatro esquemas diferentes de administração, mas os resultados dessa parte do
estudo não são relatados neste trabalho.
A vacina produzida com derivados da
cultura de células MDCK demonstrou
soroproteção contra o vírus H1N1 em
duas semanas após a administração de
7,5 μg em dose única, do que se conclui
que a adição do adjuvante MF59 é es-
sencial na indução de anticorpos eficazes e de longa duração, por reação cruzada.
Na prática, mais de 16 mil doses foram administradas em ensaios clínicos
e, para ter uma ideia, somente a Europa
recebeu mais de 40 milhões de doses.
Apesar de as vacinas contra a gripe
sazonal terem perfil de segurança bem
estabelecido, houve relatos de reações
incomuns, incluindo manifestações
como vasculites.
Por conta disso, é igualmente importante assegurar a vigilância pós-comercialização durante a utilização em massa da vacina antivírus de pandemia, seja
ela feita com ou sem adjuvante.
N Eng J Med / Sep10,2009;361.
Referências
1. Novel Swine-Origin Influenza A (H1N1) Virus
Investigation Team. Emergence of a novel
swine-origin influenza A (H1N1) virus in
humans. N Engl J Med 2009;360:265-15.
2. Perez-Padilla R, de la Rosa-Zamboni D, Ponce
de Leon S, et al. Pneumonia and respiratory
failure from swine-origin influenza A (H1N1)
in Mexico. N Engl J Med 2009;361:680-9.
3. Kelly H, Grant K. Interim analysis of pandemic
influenza (H1N1) 2009 in Australia:
surveillance trends, age of infection and
effectiveness of seasonal vaccination
(http://www.eurosurveillance.org/
ViewArticle.aspx?ArticleId=19288).
4. Atmar RL, Keitel WA, Patel SM, et al. Safety
and immunogenicity of nonadjuvanted and
MF59-adjuvanted influenza A/ H9N2 vaccine
preparations. Clin Infect Dis 2006;43:1135-42.
5. Global alert and response: WHO
recommendations on pandemic (H1N1) 2009
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2009. Accessed sept 2009 at (http://
www.who.int/csr/disease/swineflu/notes/
h1n1_vaccine_20090713/en/index.html).
6. Stephenson I, Heath A, Major D, et al.
Reproducibility of serologic assays for influenza
virus A (H5N1). Emerg Infect Dis 2009 Aug
(Epub ahead of print).
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