JUL / AGO / SET 2010 • No 3 • ANO XXXIV Quem somos e para onde vamos O balanço da gestão 2008-2010 e os objetivos da gestão 2010-2012 SBR_corrigido.pmd 1 27/09/2010, 13:25 Editorial Ao que veio e ao que vai chegar N um tom mais de comemoração do que de despedida, esta edição, a última da gestão 2008-2010, traz uma retrospectiva das conquistas que nós, reumatologistas de todo o Brasil, pudemos experimentar com os projetos implementados e lançados pela equipe liderada por Ieda Laurindo nestes dois anos. Ao lado desse balanço, você vai conhecer também os planos da nova gestão na entrevista com Geraldo Castelar, que acaba de assumir a presidência da SBR no XXVIII Congresso Brasileiro de Reumatologia, realizado de 18 a 22 de setembro, em Porto Alegre. Além disso, nossa capa homena- Entre os marcos do presente e os projetos do futuro, muitos já em andamento, o fato é que, tanto no discurso de Ieda quanto no de Geraldo, fica a certeza de que a SBR atingiu um patamar sem volta, marcado pelo crescimento e pela evolução da especialidade. Com isso, a entidade vem garantindo um maior espaço para o exercício da nossa profissão na prática clínica, no ensino e na pesquisa, sempre com vistas à melhoria da qualidade de vida dos milhões de pacientes reumáticos existentes em nosso país. Leia, comemore com a gente e espere ainda mais! Um forte abraço, geia o grande Rio Grande do Sul com o pintor gaúcho Iberê Camargo. Marcelo Pinheiro, Fábio Jennings e Kaline Medeiros SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA Diretoria Executiva SBR – Biênio 2008-2010 Presidente Ieda Maria Magalhães Laurindo – SP Tesoureiro Manoel Barros Bertolo – SP Secretária-geral Claudia Goldenstein Schainberg – SP Vice-tesoureiro Célio Roberto Gonçalves – SP Primeiro-secretário Gilberto Santos Novaes – SP Diretor científico Eduardo Ferreira Borba Neto – SP Segundo-secretário Francisco José Fernandes Vieira – CE Presidente eleito Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro – RJ Boletim da Sociedade Brasileira de Reumatologia Av. Brig. Luís Antônio, 2.466, conjuntos 93 e 94 01402-000 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3289-7165 / 3266-3986 www.reumatologia.com.br @ [email protected] Índice 4 8 12 14 15 18 22 Entrevista O melhor do Brasil Primeira fila Notas Coluna Seda Dia a dia Jornalista responsável Solange Arruda (Mtb 45.848) Coordenação editorial Diretoria Executiva Conselho editorial Marcelo de Medeiros Pinheiro – SP Martin Fábio Jennings Simões – SP Kaline Medeiros Costa Pereira – SP Colaborador: Plínio José do Amaral – SP Layout Sergio Brito Impressão Sistema Gráfico SJS Tiragem: 2.000 exemplares BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 SBR_corrigido.pmd Balanço 2008-2010 3 3 27/09/2010, 13:25 Balanço 2008-2010 Uma gestão marcada por transparência e continuidade Em dois anos de trabalho intenso, a equipe conduzida por Ieda Laurindo implementou os grandes projetos que já haviam sido deflagrados na gestão anterior e lançou mão de dezenas de novas iniciativas, entre elas cursos inéditos, campanhas de esclarecimento à população e a tão esperada retomada do processo de indexação da RBR. Confira (quase) tudo que foi feito nesse biênio, sempre com a participação determinante de colegas de vários Estados. T udo começou muito antes de 2008, mas foi em agosto daquele ano que, após termos conversado com o então presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), Fernando Neubarth, realizamos uma primeira reunião com as indústrias farmacêuticas, na qual delineamos o que seriam as características desta gestão, as jornadas, os congressos e os eventos planejados, assim como os principais projetos a serem discutidos e ratificados na reunião de planejamento estratégico que viria a seguir, em outubro, com a participação da Diretoria Executiva, dos vice-presidentes, dos presidentes de comissões, das assessorias e dos representantes da SBR em entidades médicas nacionais e internacionais. Nessas duas ocasiões, afirmamos nossas intenções de conduzir a SBR com transparência e de dar prosseguimento aos projetos e programas já existentes, definindo, portanto, transparência e continuidade como os pontos-chave da nos- sa gestão. Dessa forma, definimos, discutimos e aprovamos metas e projetos na referida reunião de planejamento. O primeiro, e certamente um dos mais importantes assuntos discutidos, foi a indexação da Revista Brasileira de Reumatologia, a RBR. Como consequência desse debate, sob o comando dos editores científicos, Ricardo Fuller e Mittermayer Santiago, e a orientação da nova editora escolhida, a Elsevier, pudemos dar corpo ao desejo antigo de indexar a RBR no Medline, aceitando o aumento de custo envolvido. O projeto ficou es- Ieda Laurindo e Cristina Lana na XVII Jornada Centro-Oeste e IV Jornada Mineira de Reumatologia, em Ouro Preto. Abertura do XII Conosur, em Curitiba. BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 4 SBR_corrigido.pmd Dr. Hilton Seda e Dra. Nafice Araujo durante a 18ª Jornada Rio-São Paulo de Reumatologia, em Angra dos Reis. 4 27/09/2010, 13:25 Eventos promovidos pela SBR na gestão 2008-2010 • XII Congresso Internacional de Reumatologia do Cone Sul (Conosur) De 5 a 7 de março de 2009, em Curitiba (PR) • XX Jornada Brasileira de Reumatologia De 17 a 20 de abril de 2009, em Natal (RN) • Celebração dos 60 anos da SBR 15 de julho de 2009, no Rio de Janeiro • XVII Jornada Centro-Oeste e IV Jornada Mineira de Reumatologia De 6 a 8 de agosto de 2009, em Ouro Preto (MG) • XVII Jornada de Reumatologia do Cone Sul De 3 a 5 de setembro de 2009, em Maringá (PR) • XVIII Jornada Rio-São Paulo de Reumatologia De 3 a 6 de dezembro de 2009, em Angra dos Reis (RJ) • XVI Congresso Pan-Americano de Reumatologia De 25 a 28 de abril, em Santiago, Chile, com 212 brasileiros • II Fórum de Novos Recursos em Reumatologia – Centro de Infusão 16 e 17 de julho de 2010, em São Paulo (SP) Eventos das comissões da SBR • I Encontro do Registro Brasileiro de Espondiloartrites / II Revisão das Recomendações para Diagnóstico e Tratamento De 25 a 27 de março de 2010 • Epifibromialgia – Estudo Epidemiológico da Fibromialgia no Brasil 1º de agosto de 2010 • Cursos de Ultrassonografia • II Curso de Ultrassonografia para Reumatologistas (certificado pela Eular) – Nível Básico: realizado antes da Jornada Brasileira de Reumatologia, em Natal, em 2009, com a presença dos professores George Bruyn (Holanda), Richard Wakefield (Leeds, Inglaterra), Walter Grassi (Ancona, Itália) e Wolfgang Schmidt (Alemanha) • III Curso de Ultrassonografia para Reumatologistas (certificado pela Eular) – Níveis Básico e Intermediário: promovido em São Paulo, de 4 a 7 de setembro de 2010, com a participação de professores pioneiros no uso da ultrassonografia na Reumatologia, autores de livros e trabalhos fundamentais nessa área, que nunca tinham se reunido antes para um curso fora da Europa. O grupo era formado por George Bruyn (Holanda), Luca di Geso (Ancona, Itália), Maria Antonietta D´Agostino (Paris, França), Marina Bachaus (Berlim, Alemanha), Marwin Gutierrez (Ancona, Itália), Richard Wakefield (Leeds, Inglaterra), Walter Grassi (Ancona, Itália) e Wolfgang Shmidt (Alemanha) • I Curso de Ultrassonografia da Sociedade Cearense de Reumatologia e da SBR, com a presença de Marwin Gutierrez (Ancona, Itália) • Quatro pequenos cursos voltados para reumatologistas com alguma experiência em exames de ultrassom, a fim de promover aperfeiçoamento na identificação das doenças reumatológicas: 1) Curso de mãos: padronização de técnicas e identificação de enfermidades inflamatórias, com o professor Marcin Szudareck (Copenhague, Dinamarca) 2) Curso de mãos: padronização de técnicas e mão reumatoide, com o professor Marwin Gutierrez (Ancona, Itália) 3) Curso de tornozelos e pés, em julho de 2010, com a professora Sibel Aydin (Leeds, Inglaterra) 4) Curso de ombros, a ser realizado em dezembro de 2010, com o professor Yohan Michaud (Canadá) tabelecido com a meta de submissão prevista para o fim de 2010. Contudo, o apoio recebido das instituições universitárias, do corpo editorial, dos revisores e dos associados foi de tal ordem que desencadeamos esse processo já no primeiro semestre de 2010 e aguardamos agora uma resposta neste último trimestre. Independentemente do resultado final, acreditamos ser unânime o reconhecimento do excelente nível gráfico e científico alcançado por nossa publicação, agora em inglês e português. Uma de nossas maiores preocupações, durante esse período, foi promover uma maior abrangência para o Boletim Informativo da SBR, mas sem que houvesse perda de sua característica fundamental: o caráter informal e familiar, no qual as mais importantes notícias da família da Reumatologia são compartilhadas por todos os associados. E acho que conseguimos atingir esse propósito! Aliás, aproveitamos a presente oportunidade para parabenizar os incríveis editores do BI, Marcelo Pinheiro, Fábio Jennings e Kaline Medeiros. Quanto ao site, procuramos impor um maior dinamismo a esse veículo de comunicação, primeiramente com o auxílio de Werner Tadeu Mulller e, mais recentemente, da colega Maria Roseli Callado, sempre com a participação de nosso webmaster Mathias Freire de Carvalho. Dessa maneira, acredito que estamos nos aproximando de nosso objetivo. Graças à dedicação de várias comissões ao longo do tempo, nosso site atualmente dispõe de um material bastante útil ao dia a dia do reumatologista >> BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 SBR_corrigido.pmd 5 5 27/09/2010, 13:25 Balanço 2008-2010 >> – a aquisição mais recente são os formulários de consentimento informado referentes às mais diferentes medicações. Os resultados desse intenso trabalho, em parte já implementado, ficarão ainda mais evidentes em breve. Acompanhe! XX Jornada Brasileira de Reumatologia, em Natal. Aperfeiçoamento em imagem Nossa gestão privilegiou a educação continuada em Imagem em Reumatologia, particularmente a ultrassonografia, com a instituição de uma Comissão de Imagem. Assim, realizamos vários cursos com esse tema para reumatologistas, sempre com professores da Eular, pioneiros na aplicação da técnica na avaliação das doenças reumatológicas (veja tabela na pág. 5). Finalmente, após o desenvolvimento provisório de um e-mail para trocas de informações e discussão de imagens ultrassonográficas, lançamos, durante o Congresso Brasileiro de Reumatologia, em Porto Alegre, o site de ultrassonografia, um projeto em que a Dra. Karine Rodrigues da Luz e o Dr. José Alexandre Mendonça se desdobraram. Acreditamos ter despertado o gosto por esse método de imagem em muitos reumatologistas brasileiros. Ademais, demonstramos, com essas iniciativas, a capacidade de a SBR organizar e promover cursos reconhecidos internacionalmente. Outro desafio que tivemos foi implementar o Registro Brasileiro de Monitorização de Terapias Biológicas em Doenças Reumáticas, dando continuidade ao projeto já definido por Fernando Neubarth. Em 2008, quando iniciamos esta gestão, o registro estava muito bem elaborado em termos teóricos, como parte de um grande projeto da Panlar – BiobadAmérica, e começava sua fase de implementação. Um ano depois, contávamos com seis centros e 250 pacientes e, hoje, ao fazermos o balanço da nossa gestão, contabilizamos nada menos que 28 centros em 15 Estados e 1.473 pacientes incluídos. Impossível deixar de mencionar o coordenador do BiobadaBrasil, o incansável David Titton, e o “Grupo dos Cinco” – cinco investigadores, de cinco diferentes Estados, que muito têm se dedicado para implantar o BiobadaBrasil: André Hayata (São Paulo - SP), Helen Carvalho (Brasília - DF), Inês Silveira (Porto Alegre - RS), Lucila Rezende (Curitiba - PR) e Roberto Ranza (Uberlândia - MG). Além desse projeto, os medicamentos biológicos mereceram um fórum de discussão voltado para as questões relacionadas ao centro de infusão e ao reumatologista, cujas conclusões foram apresentadas durante nosso congresso, em Porto Alegre. Trabalhar junto Na área de divulgação da especialidade, continuamos com a iniciativa do Dia Mundial de Conscientização da Artrite, tendo a artrite reumatoide como nosso modelo de doença. A SBR é responsável pela campanha de 2010 e uma vez mais vai procurar levar a toda população conhecimentos sobre a afecção e, sobretudo, sobre a importância do diagnóstico e do tratamento precoces. Este ano também estamos trabalhando mais próximos das sociedades regionais, definindo, em conjunto, as atividades a serem desenvolvidas, assim como seus locais e horários. A propósito, o mote da atual campanha é justamente “trabalhar junto” ou, ainda, “work together”. Esperamos que a iniciativa venha a ser um grande evento, proporcional ao envolvimento de dez capitais, de Manaus a Porto Alegre! Do ponto de vista administrativo, houve também continuidade, mantendo-se o seguro-acidente para os sócios, e al- BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 6 SBR_corrigido.pmd Ieda Laurindo e Geraldo Castelar no Congresso Português de Reumatologia, entre os brasileiros que presenciaram a posse de Rubem Lederman (ao centro) como professor emérito. 6 27/09/2010, 13:25 Comemoração dos 60 anos de fundação da SBR, na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. guma inovação, com a disponibilização de um prontuário eletrônico para os associados. Promovemos ainda um curso para secretárias de consultório dos nossos sócios reumatologistas, um teste-piloto aplicado em São Paulo e muito bem aceito pelas participantes. Não é possível deixar de mencionar a honra e o orgulho de termos conduzido a gestão em que a SBR fez 60 anos. Comemoramos nossa fundação com um jantar no Rio de Janeiro e uma pequena cerimônia exatamente no dia – 15 de julho – e local – Santa Casa de Misericórdia – onde surgiu a entidade em 1949, dividindo esse sentimento com os ex-presidentes e presidentes das regionais. Agradecemos ao colega Washington Bianchi sua disponibilidade e inestimável auxílio para que essa conquista fosse possível. Além desse evento em comemoração aos 60 anos, nas diferentes jornadas realizadas no ano passado, pude- RBR em destaque no 73º Encontro Científico Anual do American College of Rheumatology, o ACR 2009, na Filadélfia (EUA). Mesa de abertura do XVI Congresso Pan-Americano de Reumatologia, em Santiago, no Chile. mos homenagear os pioneiros da Reumatologia de cada Estado, o que constituiu uma experiência absolutamente incrível, compartilhada com os colegas reumatologistas presentes. Ainda tivemos diverPainel da campanha da SBR, veiculado no Rio de Janeiro, sos encontros, elaborapara conscientizar a população leiga sobre a importância do diagnóstico correto das doenças reumáticas. ção de diretrizes, orientações para médicos e pacientes, materiais para o site, fascícu- gionais. Nesse encontro, orientados por los, telemedicina e projetos epide- profissionais da área, discutimos de formiológicos como o de fibromialgia e o ma madura e abrangente a situação da de tratamento do lúpus eritematoso SBR, com seus problemas e suas qualidasistêmico, além da continuidade do re- des, e conseguimos elaborar, ainda que gistro de espondiloartrites (RBE) e da provisoriamente, o que seria nossa misesclerose sistêmica (Gepro), bem são como sociedade. É com esse texto, como a implementação do registro de extremamente orgulhosos do que foi possível presenciar naquela reunião em terfibromialgia. O fato é que nos parece quase impossí- mos de maturidade e engajamento, de vel mencionar aqui todas as comissões e participação ativa de todos os presentes, todo o trabalho desenvolvido por elas. Por que encerramos o presente relato. isso, com o pedido de desculpas do muito que não foi dito e dos muitos que não foram nomeados e nominalmente agradeMissão da SBR cidos, gostaria de terminar mencionando uma das mais maravilhosas experiências “Promover a excelência da que um presidente de sociedade pode ter. Reumatologia, mediante incentivo ao ensino, à pesquisa e à assistência, Foi em Santiago! Como se não fosse suficiente a alegria de assistir à posse do exe contribuir para a formulação de políticas públicas, visando presidente da SBR Antonio Ximenes na presidência da Panlar, participamos de à saúde e ao bem-estar do uma verdadeira reunião de planejamenpaciente reumático.” to estratégico e definição de metas, com “Congregar os reumatologistas a presença da Diretoria Executiva, dos e promover, divulgar e ampliar presidentes das comissões e assessorias, a abrangência do exercício dos representantes da SBR e de nossos da especialidade”. vice-presidentes, os presidentes das re- BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 SBR_corrigido.pmd 7 7 27/09/2010, 13:25 Entrevista - Geraldo Castelar A vez da profissionalização Não há quem não conheça Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro em nosso meio. Como seu pai, o saudoso Geraldo Castelar Pinheiro, responsável pela formação de diversos dos especialistas que hoje atuam e ensinam, o filho também é um ícone da Reumatologia: está presente em todos os grandes acontecimentos que cercam a especialidade, circula bem em todos os serviços e escolas e é sempre requisitado para dar aulas em eventos nacionais e internacionais, assim como para opinar a respeito de questões relevantes ou até polêmicas. Chegar à presidência da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), portanto, é uma consequência natural de uma vida dedicada à Reumatologia e, mais do que isso, um fato esperado por todos que o conhecem e acompanham sua trajetória. À frente da gestão 2010-2012, Geraldo tem, como meta, padronizar algumas atividades básicas da entidade, tanto que anuncia a criação de assessorias nas áreas jurídica, de eventos e de imprensa/ marketing. Além disso, pretende iniciar um levantamento de dados epidemiológicos e de custos a respeito das principais enfermidades reumáticas. Na entrevista a seguir, o novo presidente fala sobre esses e outros projetos e mostra como a SBR pretende abordar os inúmeros desafios que vêm por aí. Quais serão as primeiras providências da nova administração e o foco da gestão 2010-2012? Como tem ocorrido nos últimos anos, pretendo reunir as futuras comissões e assessorias para discutirmos os projetos que vamos desenvolver nos próximos anos. Será, na realidade, a primeira oportunidade de trabalharmos com os resultados obtidos na reunião de planejamento estratégico da SBR, realizada no dia 24 de abril deste ano, durante o congresso da Panlar. A próxima gestão terá, como foco, a padronização de algumas das atividades básicas da nossa entidade, como a criação de assessorias profissionais nas áreas de eventos, para estabelecer critérios para a escolha das cidades-sede, o planejamento e o gerenciamento dos nossos eventos oficiais; de imprensa/marketing, para otimizar a divulgação de notícias relacionadas com a especialidade e com a SBR, assim como para coordenar as campanhas de divulgação sobre as enfermidades reumáticas para a população, sempre que possível com a participação das associações de pacientes; e jurídica, para dar suporte técnico à rediscussão do nosso estatuto e regimento interno, além de padronizar os contratos envolvendo a entidade. Se o senhor pudesse resumir numa palavra o rumo da SBR daqui para diante, qual seria essa palavra? Profissionalização. BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 8 SBR_corrigido.pmd 8 27/09/2010, 13:25 “ A grande disposição de trabalhar dos membros que irão compor a nova diretoria da SBR dá-me a certeza de que poderemos melhorar ainda mais a nossa sociedade. Não é fácil assumir os destinos de uma entidade bem-sucedida, uma vez que se espera não apenas que o nível de qualidade seja mantido, mas superado. Como a SBR vai poder exceder as expectativas? De fato, devido ao reconhecido esforço realizado pelas últimas diretorias, muita coisa boa foi feita nos últimos anos. Em decorrência dele, alguns resultados parciais já estão sendo divulgados, como o nosso registro de imunobiológicos (BiobadaBrasil), e outros ainda estão por acontecer, como a tão esperada indexação da nossa revista e a criação da Câmara Técnica de Reumatologia no Ministério da Saúde. A grande disposição de trabalhar dos membros que irão compor a nova diretoria da SBR dá-me a certeza de que poderemos melhorar ainda mais a nossa sociedade. Na sua opinião, do que a Reumatologia mais precisa atualmente no Brasil? De mais profissionais, de equipamentos e infraestrutura para diagnósticos, de acesso aos novos medicamentos, de atualização? Acredito que, em prol dos pacientes reumáticos em geral, a SBR deve focar, prioritariamente, os seguintes aspectos: educar a população em relação às principais doenças reumáticas, com ênfase na importância do diagnóstico e do tratamento precoces; capacitar os médicos da atenção primária para a identificação das enfermidades reumáticas mais prevalentes, em especial as inflamatórias, com propensão para a cronicidade; defender o acesso irrestrito e precoce desses pacientes aos exames complementares necessários e a um reumatologista, para um correto diagnóstico e orientação terapêutica; lutar pela disponibilização de todos os medicamentos convencionais e intervenções não farmacológicas, a exemplo da cinesioterapia e das órteses, indicados para >> BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 SBR_corrigido.pmd 9 9 27/09/2010, 13:25 Entrevista “ >> A SBR buscará participar da elaboração e da atualização das diretrizes de tratamento das doenças reumáticas, visando à inclusão e ao uso racional de todas as alternativas medicamentosas, de eficácia comprovada, na abordagem das enfermidades envolvidas. tratar de forma correta essas doenças. Paralelamente, a SBR buscará participar da elaboração e da atualização das diretrizes de tratamento das doenças reumáticas, visando à inclusão e ao uso racional de todas as alternativas medicamentosas, de eficácia comprovada, no tratamento das enfermidades envolvidas. Como a SBR pode ajudar a suprir essas demandas? Pressionando e reivindicando, em conjunto com as associações de pacientes, bem como “unindo forças“ com os gestores de saúde para a criação de um programa específico para as doenças reumáticas. A grande procura por um reumatologista no serviço público de saúde é um enorme e crônico problema da população. Como a SBR tem visto esse assunto e como pode ajudar? Pretendemos, inicialmente, criar um canal de comunicação mais dinâmico e eficiente junto aos gestores de saúde. Em seguida, a partir de estudos epidemiológicos bem desenhados, queremos mostrar a elevada e crescente prevalência das enfermidades reumáticas, bem como salientar seu impacto socioeconômico. Acreditamos, com isso, poder cobrar uma maior participação do reumatologista no sistema de saúde. No seu entender, qual é o papel da SBR como promotora da melhoria de qualidade de vida dos mais de 30 milhões de reumáticos que existem no Brasil? O que sua gestão pretende fazer nesse sentido? Como ficou claro na reunião de planejamento estratégico da SBR, a nossa missão é promover a excelência da Reumatologia, mediante incentivo ao Conheça o novo presidente da SBR Nome: Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro Nascimento: 5 de dezembro de 1956, em Coimbra (Portugal) Esposa: Maria Fernanda Filhos: André e Marcela Formação acadêmica: Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, residência em Clínica Médica e Reumatologia no HospitalGeral de Bonsucesso (RJ), mestrado/doutorado em Reumatologia pela Unifesp e fellow em Imunologia/Biologia Molecular no Lahey Clinic Medical Center Atuação vigente: Professor adjunto e coordenador da Disciplina de Reumatologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro Linha de pesquisa: Avaliação de características genéticas, laboratoriais e clínicas na artrite reumatoide e na gota Hobbies: Música e atividades ao ar livre (corrida) BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 10 SBR_corrigido.pmd Como novo presidente da entidade, o que espera dos associados e das regionais para atingir esses objetivos? Além de sugestões sobre como melhorar a nossa entidade, conto com a participação dos associados nos eventos oficiais da SBR e dos responsáveis pelas regionais no apoio aos projetos de divulgação da especialidade, na interação com as associações de pacientes locais e nos levantamentos epidemiológicos programados. 10 27/09/2010, 13:25 ensino, à pesquisa e à assistência, e contribuir para a formulação de políticas públicas, visando à saúde e ao bem-estar do paciente reumático. Nessa direção, além de continuar lutando para que sejamos ouvidos pelos gestores de saúde na formulação de políticas públicas relacionadas com a nossa especialidade, pretendo iniciar um projeto de levantamento de dados epidemiológicos e de custos envolvendo as principais enfermidades reumáticas – “informação é poder”. “ Não tenho dúvida de que meu pai veria este momento com muito orgulho e desejo de colaborar. Até porque ele era um sonhador. mento, a SBR terá dificuldade de sensibilizar os gestores de saúde para esse tema. Pretendo, entretanto, ficar atento às oportunidades de divulgar, para a população e para os médicos, a importância dos exercícios físicos na prevenção e no tratamento de algumas doenças reumáticas. Como a SBR vê o reumatologista nos próximos dez anos? Um clínico diferenciado, em busca de uma identidade profissional mais bem definida e de uma remuneração mais condizente com sua formação. Acredito, sinceramente, tratar-se de uma especialidade médica em crescimento, não apenas em número, mas também em importância. O senhor é um reconhecido esportista e grande incentivador das atividades físicas e da melhoria da qualidade de vida entre seus pares. Existe alguma ideia de promover o esporte na Reumatologia, em conjunto com o governo municipal, por exemplo? Apesar de, pessoalmente, reconhecer que a prática de atividades físicas é uma forma efetiva e barata de promover saúde, infelizmente percebo que, no mo- Geraldo Castelar Pinheiro Quais foram os principais ensinamentos que o senhor aprendeu com seu pai, um ilustre reumatologista, um dos patronos e um dos fundadores da nossa especialidade no País? Como ele se sentiria vendo seu filho chegar ao posto máximo de liderança reumatológica nacional? Certamente que a influência do meu pai foi fundamental para que eu tivesse escolhido a Reumatologia como especialidade. Seu gosto pelo estudo e entusiasmo pelo ensino serviram de referência para a minha atuação profissional. Não tenho dúvida de que meu pai veria este momento com muito orgulho e desejo de colaborar. Até porque ele era um sonhador. BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 SBR_corrigido.pmd 11 11 27/09/2010, 13:25 Notícias das regionais O melhor do Brasil Rio Grande do Norte União de esforços entre entidades garante sucesso do módulo de Reumatologia do Educost N os dias 16 e 17 de julho, a capital potiguar foi palco de um módulo do Educost 2010, o Fórum Interuniversitário de Atualização Terapêutica, sob a coordenação do professor João Francisco Marques Neto, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e das presidentes das Sociedades de Osteoporose e de Reumatologia do Rio Gran- de do Norte, Ana Maria Coutinho de Lima e Maria de Fátima Fernandes Dantas, respectivamente. O encontro, que reuniu 25 profissionais, abordou doenças inflamatórias crônicas e doenças osteometabólicas. Vale lembrar que, neste ano, o Educost também teve um bom número de participantes nas áreas de Endocrinologia e Ginecologia. Rio Grande do Norte / Ceará Com elevada adesão, 3º encontro entre regionais entra na agenda científica anual dos dois Estados O utro exemplo de parceria bemsucedida também vem do Nordeste. A Sociedade de Reumatologia do Rio Grande do Norte e a Sociedade Cearense de Reumatologia promoveram, nos dias 7 e 8 de agosto, o III Encontro Ceará-Rio Grande do Norte de Reumatologia, na cidade de Mossoró (RN). A iniciativa, organizada por Maria de Fátima Dantas e Francisco Alves Neto, do Rio Grande do Norte, e por Max Vitor Carioca, José Gerardo e Eduardo Gonçalves, do Ceará, foi muito prestigiada pelos colegas dos dois Estados – somou 50 participantes! – e se mostrou bastante proveitosa cientificamente, segundo o grupo. A oportunidade abriu espaço para a abordagem e a discussão de temas em osteoartrose, artrite reumatoide e ombro doloroso, além de ter servido para a apresentação das teses de mestrado e doutorado dos colegas Roseli Callado, Leonardo Cavalcante e Francisco Saraiva. “Pelo sucesso, ficou acertado que esse encontro será repetido periodicamente, passando a fazer parte da agenda científica dos dois Estados”, revela Maria de Fátima Dantas. BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 12 SBR_corrigido.pmd 12 27/09/2010, 13:25 Notícias das regionais O melhor do Brasil São Paulo Federal de São Carlos tem sua primeira jornada de Reumatologia A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) organizou, no último dia 28 de agosto, a I Jornada de Reumatologia São Carlos – Araraquara, com o apoio da Sociedade Paulista de Reumatologia. O evento contou com aulas dos professores Roger Levy, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, de João Francisco Marques Neto, da Unicamp, e de Jamil Natour, da Unifesp, além de Stela Márcia e Daniel Cruz, respectivamente docentes da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional da UFSCar. Essa foi a segunda grande iniciativa da escola em prol da Reumatologia neste ano. A primeira ficou a cargo da estruturação de um serviço nessa especialidade, batizado de Complexo Multiprofissional de Atenção ao Paciente Reumatológico, ou Comapre. Coordenado por Mirhelen Abreu, o complexo conta com profissionais de São Carlos e Araraquara, incluindo cinco reumatologistas e um clínico geral, além de professores dos Departamentos de Medicina, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFSCar. Uma ótima notícia para os clínicos e pacientes da região! Rio de Janeiro / Minas Gerais / Espírito Santo Evento em Petrópolis vai reunir reumatologistas do Sudeste A Sociedade de Reumatologia do Rio de Janeiro (SRRJ), a Sociedade Mineira de Reumatologia e a Sociedade de Reumatologia do Espírito Santo (Sorem) se uniram neste segundo semestre para promover, entre 21 e 23 de outubro, a Jornada Rio, Minas e Espírito Santo de Reumatologia. O evento vai ocorrer em Petrópolis, no Hotel Vale Real – Itaipava, em paralelo à 2ª Jornada Anual da SRRJ. Para obter mais informações, ligue agora mesmo para (21) 2549-4114. Vá prestigiar! Rio de Janeiro ReumaRio 2010 atrai 210 reumatologistas N ão é à toa que a SRRJ está preparando sua segunda jornada de atualização. Afinal, a primeira, a ReumaRio 2010, foi um grande sucesso, com 210 participantes. Esse grupo compareceu ao Hotel Pestana nos dias 6 e 7 de agosto para discutir dois temas centrais: a síndrome de Sjögren e a artrite reumatoide. As aulas e os debates contemplaram as questões mais relevantes na abordagem dessas doenças, da epidemiologia e do diagnóstico até o tratamento, incluindo associações com outras enfermidades. A ReumaRio foi conduzida por reumatologistas do Rio de Janeiro e ainda contou com a participação de Paulo Lousada, de São Paulo, e Mittermayer Santiago, da Bahia, além do colombiano Juan-Manuel Anaya. BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 SBR_corrigido.pmd 13 13 27/09/2010, 13:25 O que nossos colegas andam estudando Primeira fila Pesquisa clínica Imagem de ressonância magnética de artropatia de Jaccoud em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico* Daniel Sá Ribeiro1 Mittermayer Santiago2 Verena Galvão, João Luiz Fernandes, César de Araújo Neto e Fernando D’Almeida3 Objetivo Os autores analisaram o desempenho da ressonância magnética (RM) de 1,5 T para a avaliação das mãos de 20 pacientes com deformidades típicas da artropatia de Jaccoud secundária ao lúpus eritematoso sistêmico (LES). Método O protocolo do estudo incluiu a aquisição de imagens em cortes coronais, sagitais e axiais em sequências T1 e T2, antes e depois da administração de contraste paramagnético. A presença de sinovite, edema, erosões, cistos e tenossinovite carpometacárpica, metacarpofalângica e interfalângica proximais foi quantificada de acordo com as recomendações das medidas modificadas de desfechos em Reumatologia (Omeract). Resultados A maioria dos pacientes era do sexo feminino (19:1), com medianas de idade, de duração da doença e de tempo de artrite de 44,7 anos (20-76 anos), 14,7 anos (5-26 anos) e 13,7 anos (4-26 anos), respectivamente. Das 300 articulações avaliadas, 202 (67,3%) tinham algum grau de sinovite. Observaram-se também pequenas erosões em metade dos avaliados. Da mesma forma, foi encontrado edema ósseo subcondral em oito dos 20 pacientes (40%), ou em oito de 18 articulações (6%). Quatro dos 20 indivíduos estudados apresentavam ainda cistos ósseos. No total, o trabalho envolveu o estudo de 200 compartimentos tendinosos, dos quais 77 (38,5%) com alterações. Conclusão Os autores concluíram que a RM parece ser um método não invasivo para o diagnóstico de pacientes com artropatia de Jaccoud secundária ao LES, podendo contribuir para a compreensão dos mecanismos envolvidos no desenvolvimento dessa deformidade. (*) Dissertação apresentada à Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP) para a obtenção de título de mestre em Ciências, com o apoio da Fundação para o Desenvolvimento das Ciências, em Salvador, BA. Aluno do mestrado 2 Orientador da tese 3 Coautores da tese BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 14 SBR_corrigido.pmd 1 14 27/09/2010, 13:25 Notas XIII Reciclagem da Reumato-Unifesp marca 25 anos de encontros entre egressos D e 13 a 15 de agosto, a Reumatologia da Unifesp-Escola Paulista de Medicina (EPM) realizou a XIII Reciclagem da Escola na cidade de Jarinu, interior de São Paulo. Promovido a cada dois anos de modo ininterrupto desde 1985, o encontro é o mais esperado pelos atuais membros da disciplina e pelos antigos alunos da EPM. Como forma de comemorar essas “bodas de prata”, a reciclagem foi marcada por diversas surpresas, com distribuição de camisetas e de CD das principais baladas tocadas na festa de confraternização, presença de DJ personalizado especialmente para o evento – a Dra. Ana Cecília Diniz –, bolo comemorativo dos 25 anos e, o ponto alto, um emocionante vídeo que contou a história da Reumatologia da Unifesp, desde a sua fundação pelo professor doutor Edgard Atra, há 32 anos, com imagens de todas as gerações que por lá passaram. O fato é que, na prática, a intenção original do fundador, também o primeiro grande idealizador desse tipo de evento em todo o País, foi revivida, garantindo a unidade dos egressos, ou seja, daqueles que se formaram na Unifesp-EPM. “Ele pretendia confraternizar com as pessoas, reencontrá-las e, sobretudo, celebrar as novas conquistas de seus alunos”, conta Marcelo Pinheiro, um dos organizadores da última reciclagem. Com uma caneca de café em uma mão e o cigarro em outra, sentava-se com cada um dos antigos alunos, a fim de saber como estavam se sentindo e o que estavam fazendo ao retornar para sua cidade natal. “O espírito contagiante da reciclagem existe desde o princípio e perdura até os dias de hoje, especialmente com a intenção de mesclar temas de atualização de nossa especialidade com Da esq. para a dir., Daniel Feldman, Emília Sato, Marcelo Pinheiro, Cristiane Kayser, Neusa Pereira, Alexandre Wagner, Luís Eduardo Andrade, Rita Furtado, Vera Szejnfeld, Jamil Natour e Charlles Castro. Reumatologistas formados pela Escola Paulista de Medicina na XIII Reciclagem. descontração, bom humor e elevado nível científico, mas sem se esquecer do reencontro, da integração e da lembrança de fatos e histórias, assim como fazemos quando estamos em família”, sintetiza o chefe da Disciplina de Reumatologia da Unifesp, Luís Eduardo C. Andrade. O professor Edgard, com o qual muitos conviveram e do qual muitos outros certamente ouviram falar, deve estar bastante orgulhoso desses 25 anos de encontros. Certamente diria, aos antigos integrantes, “como é bom vê-los novamente” e receberia os novos com um sincero e sonoro “bem-vindos”. Parabéns à Reumato-Unifesp, que, por dar a devida importância a iniciativas dessa natureza, ajuda a construir não só a história da disciplina, como também da própria especialidade. “Os homens passam, mas a instituição fica”. BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 SBR_corrigido.pmd 15 Edgard Atra 15 27/09/2010, 13:25 Notas SBR promove curso para secretárias de consultório C om base numa ideia da reumatologista Cristina Ellert Salomão, da Assessoria de Gestão/Demanda de Consultórios e Procedimentos da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), a entidade promoveu, no dia 24 de julho, em São Paulo, seu primeiro curso para secretárias. “Nosso objetivo foi dar ênfase à posição ocupada por essas profissionais dentro do consultório, de modo que percebam quanto são importantes não apenas para o médico, mas também para o paciente”, resume a secretária da SBR, Ana Maria Salvatore, que participou tanto da organização do curso quanto da programação oficial. Afinal, coube a ela fazer a abertura do evento para as 38 secretárias presentes, que também assisti- ram a palestras da psicóloga Claudia Regina da Silva, da administradora hospitalar Cristiane Regina dos Santos, da empresária Roberta Paraízo, do doutor em Informática Médica Paulo Lísias Salomão e da própria Cristina Salomão. A secretária da SBR ficou bem impressionada com o interesse das participantes pelos assuntos abordados, tanto no que se referiu à parte de marketing pessoal quanto no que disse respeito aos aspectos eminentemente profissionais do cargo. “Além disso, a experiência foi ótima porque tivemos a oportunidade de dar “rosto” às vozes que escutamos, às vezes, por anos ao telefone”, conta. “Houve um estreitamento de laços entre as profissionais”, resume Ana Maria. Merece bis, não merece? Uma visão histórica da gota Nosso professor Hilton Seda e o colega Mário Viana de Queiroz, de Lisboa, acabam de lançar mais uma obra digna de colecionador: História da gota e de gotosos famosos. Publicado pela editora portuguesa Lidel, o livro traz, em nada menos que 330 páginas, a história da doença e sua presença na literatura universal, além da biografia de personalidades mundiais importantes, todas gotosas, ligadas à política, à realeza, à literatura, à pintura, à música e às artes em geral, em textos de extensão adequada que tornam a leitura agradável e proveitosa. O Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Reumatologia parabeniza os autores e espera que continuem contribuindo cada vez mais no cenário histórico da Reumatologia. A “febre do ultrassom” que tomou conta da Reumatologia na Europa atravessou o Atlântico. Tanto é assim que, neste ano, o Congresso Americano de Reumatologia vai dedicar o espaço nobre do curso précongresso ao ensino desse método de imagem. No Brasil, também estamos caminhando de forma rápida e ordenada. Graças a uma proveitosa parceria com a Eular, a SBR tem realizado aqui cursos de aprendizado de qualidade internacional. Neste ano, foram dois eventos simultâneos para os níveis básico e intermediário, que ocorreram de 4 a 7 setembro, em São Paulo, com a presença de 45 participantes. À frente das aulas, os mais renomados professores de todo o mundo, entre os quais George Bruyn, da Holanda, Luca di Geso, Walter Grassi e Marwin Gutierrez, da Itália, Maria Antonietta D´Agostino, da França, Marina Bachaus e Wolfgang Shmidt, da Alemanha, e Richard Wakefield, da Inglaterra. Esse grupo abordou, no curso básico, temas que foram do funcionamento do equipamento de ultrassom ao detalhamento das doenças que acometem mãos, pulsos e joelhos. No intermediário, por sua vez, o foco ficou com a pesquisa de fraturas e osteomielites, além da avaliação de próteses. BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 16 SBR_corrigido.pmd Em parceria com a Eular, SBR realiza mais um bem-sucedido curso de ultrassonografia 16 27/09/2010, 13:25 Notas Unifesp prepara a 2ª edição de seu curso de infiltrações A Disciplina de Reumatologia da Unifesp vai realizar, nos dias 22 e 23 de outubro, a segunda edição do Curso de Infiltrações em Reumatologia. Conduzido por Jamil Natour, Rita Furtado e Monique S. Konai, o evento terá pouco mais de duas horas de teoria, com aulas sobre indicações e contraindicações do tratamento, fármacos e técnicas empregadas e uso de métodos de imagem para guiar as infiltrações. Todo o restante do tempo será dedicado à prática, no primeiro dia em esqueleto e peças anatômicas e, no segundo, em pacientes selecionados do Serviço de Reumatologia da Escola Paulista de Medicina. Para mais detalhes e pré-inscrições, basta acessar www.cursoinfiltracao.com.br. Da esq. para a dir., Nádia Aikawa, Bernadete Liphaus, Lucia Campos, Adriana Jesus, Clóvis Silva e Adriana Sallum. Equipe de Reumatologia Pediátrica da FMUSP brilha em congresso canadense Durante o 9º Congresso Internacional de Lúpus Eritematoso Sistêmico, realizado em Vancouver, no Canadá, de 24 a 27 de julho, um grupo de médicosassistentes da Unidade de Reumatologia Pediátrica do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP (ICrHC-FMUSP) apresentou nove trabalhos, um deles como tema livre oral. Fórum de novos recursos em Reumatologia traz panorama completo sobre biológicos N os dias 16 e 17 de julho, a SBR promoveu, em São Paulo, o II Fórum de Novos Recursos em Reumatologia, que, dessa vez, focou o centro de infusão. O evento, que teve 98 inscritos, reuniu, entre os palestrantes, a chefe do Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da FMUSP, Eloisa Bonfá, o diretor técnico do Centro de Infusão de Biológicos de Mato Grosso, Vander Fernandes, o presidente da Sociedade de Reumatologia do Rio de Janeiro, Reno Martins Coelho, o coordenador técnico do Programa Diretrizes da Associação Médica Brasileira, Wanderley Marques Bernardo, o presidente da Comissão de Ética e Defesa Profissional da SBR, José Marques Filho, o conselheiro do CRM Marco Tadeu Moreira de Moraes, a representante da Anvisa Clarice Alegre Petramale, o assessor de Economia da Saúde da SBR, Sérgio Candido Kowaslki, o coordenador-geral do BiobadaBrasil, David Cezar Titton, a assessora do BiobadaBrasil, Inês Guimarães Silveira, e, claro, a presidente da SBR, Ieda Laurindo. Em dois dias de aulas e debates, esse grupo de profissionais colocou em pauta as novidades sobre o BiobadaBrasil, a portaria e a dispensação de biológicos, os aspectos farmacoeconômicos dessas terapêuticas, o papel da ANS, a visão da operadora de saúde, o funcionamento de um centro de infusão em ambiente público e privado, a responsabilidade médica e civil da prescrição e da execução do procedimento, a posição do CRM sobre os novos recursos, as questões éticas envolvidas e as recomendações da SBR quanto ao uso de agentes biológicos. Bem completo, do jeito que o assunto exige. Coordenado por Clóvis Silva, o grupo do instituto é formado por Nádia Aikawa, Bernadete Liphaus, Lucia Campos, Adriana Sallum e Adriana Almeida de Jesus, a quem coube a apresentação oral do trabalho Primary immunodeficiencies in juvenile systemic lupus erythematosus patients. Uma representação e tanto! PROGRAME-SE Que tal uma atualização em Istambul? Boa oportunidade para conhecer um lugar bem diferente e se atualizar em nossa área. Entre 17 e 19 de fevereiro de 2011, haverá, em Istambul, o evento Excellence in Rheumatology, que vai se desenvolver num formato diferente dos tradicionais congressos. Em um dia, abordará a artrite inflamatória, em outro, as doenças autoimunes e, em outro, as comorbidades que acompanham as afecções reumatológicas. Os organizadores abriram um número limitado de vagas para a iniciativa, que pode receber até 1.500 pessoas. Para mais informações, visite o site: www.excellence-in-rheumatology.org. BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 SBR_corrigido.pmd 17 17 27/09/2010, 13:25 Coluna Seda Crise de gota em momento particularmente inoportuno em dois grandes compositores Hilton Seda Dois importantes compositores de música erudita, sofredores de gota, o alemão Johann Adolf Hasse e o brasileiro Heitor Villa-Lobos, sofreram ataques agudos da doença em momento bastante inconveniente. Hasse: aprovado por Bach e Mozart J ohann Adolf Hasse descendia de uma família de músicos. Nasceu em Bergedorf, pequena cidade próxima a Hamburgo, na região da Baixa Saxônia, no dia 25 de março de 1699. Foi um dos mestres da ópera séria. Estudou com os italianos Nicola Porpora (1686-1768), professor e compositor de canto, e Alessandro Scarlatti (1660-1725), considerado por muitos como um dos fundadores da escola napolitana de ópera. Scarlatti muito o estimava e o tratava como filho. Com essa formação, era de esperar que iniciasse sua carreira na ópera. E assim foi. Começou como tenor nas óperas de Hamburgo e Brunswick, em 1722. Fruto do convívio no meio teatral, casou com a soprano italiana Faustina Bordoni (17001781) em 1730, com quem teve três filhos. Embora se dedicasse especialmente à criação de óperas, Hasse também compôs em outros gêneros; fez oratórios, música eclesiástica e de câmera. Muitas de suas obras, entretanto, se perderam quando a cidade de Dresden foi bombardeada, em 1760, pelas forças de Frederico II (1712-1786), rei da Prússia, as quais destruíram edifícios públicos e a casa do compositor, onde estavam guardados os manuscritos de suas obras, à espera de uma inédita publicação completa. Apesar de tudo, como havia cópias de seus trabalhos mais importantes, ainda restaram 63 óperas, 12 oratórios, cerca de 20 BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 18 SBR_corrigido.pmd 18 27/09/2010, 13:25 missas e réquiens, 90 cantatas e centenas de outros trabalhos. A maioria das óperas de Hasse foi escrita com base em textos de Pietro Metastacio (1698-1782), poeta italiano cujos libretos foram musicados por inúmeros compositores importantes, mas que o preferia, dentre todos os que trabalhavam sobre suas obras1-5. Johann Adolf Hasse foi apreciado e valorizado por figuras exponenciais da música, como Johann Sebastian Bach (16851750) e Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). Este, ao visitá-lo quando estava em Milão, em 1771, ficou impressionado com sua musicalidade1-5. Antioco, a primeira ópera de Hasse, foi apresentada em 1721. Em 1726, veio Sesostrate, a inicial de uma série de sete que fez para a ópera real, representada no Teatro San Bartolomeo. Em 1729, ocupava o posto de maestro sopranumerario della Real Capela di Napoli. Seu oratório Daniello foi levado pela primeira vez a Viena em 1731, para Carlos VI (1685-1740), imperador germânico, rei da Hungria e da Sicília, da dinastia dos Habsburgos. A partir de 1744, suas óperas passaram a ser feitas sobre libretos de Metastasio: Antígono, Ipermestra e outras1-5. Hasse viveu em Viena de 1764 a 1773, ano em que resolveu aposentar-se e morar em Veneza, cidade onde compôs cantatas e música religiosa e passou a ensinar. Sua última composição foi uma missa em sol menor, em 1783, dois anos depois de ter sua esposa falecida1-5. Villa-Lobos: o gênio musical nacionalista Heitor Villa-Lobos foi o “consolidador de toda a experiência histórica deixada por seus antecessores”. “(...) Rebelde às regras convencionais da composição musical, sua música expressa toda a força desordenada da natureza brasileira”6. Com ele, nasceu nossa “primeira geração nacionalista”7. O compositor nasceu na Rua Ipiranga, em Laranjeiras, no Rio de Janeiro, no dia 5 de março de 18872,7-9. Seus pais se haviam casado em 1884 e tiveram oito filhos. Sua mãe, Noêmia Umbelina Santos Monteiro, era filha do compositor popular Antônio José dos Santos Monteiro, autor de uma quadrilha, a Quadrilha das Moças, que se tornou famosa e era dançada no paço e nos saraus da Marquesa de Santos. Ela faleceu em 1946. Seu pai, Raul Villa-Lobos, era funcionário da Biblioteca Nacional e devotado a estudos históricos e didáticos; criou cerca de 30 trabalhos >> BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 SBR_corrigido.pmd 19 19 27/09/2010, 13:25 Coluna Seda >> de valor, entre eles alguns geográficos, como corografias, e compêndios de matemática. Organizou também a biblioteca do Senado Federal. Acima de tudo, tinha grande paixão pela música, tendo fundado o primeiro clube sinfônico, ou seja, a Sociedade de Concertos Sinfônicos do Rio de Janeiro. Em sua casa, fazia-se boa música. Com o pai, Heitor, desde os 6 anos de idade, aprendeu a tocar violoncelo em uma viola especialmente adaptada para essa finalidade. Estudou, depois, violão, saxofone e clarinete. Raul Villa-Lobos morreu aos 37 anos, em 1899, quando o filho estava com 12 anos2,7,9. Villa-Lobos sempre teve especial interesse pela música popular. Sentia particular atração pela intensa musicalidade dos “chorões”, músicos populares da classe média do Rio de Janeiro do fim do século XIX e início do XX, frequentemente contratados para tocar em festas, os quais executavam suas músicas de uma maneira chorada – daí o nome “choro”, dado a esses conjuntos, e o de “chorão”, aos seus integrantes. Depois da morte do pai, aproximou-se dos “chorões” e passou a tocar violoncelo em teatros, cafés e bailes. Nessa época, aumentou seus conhecimentos de violão. Ainda assim, estudou no Colégio de São Bento e matriculou-se em um curso de preparação para a faculdade de medicina, mas não ingressou na carreira. Aos 16 anos, deixou sua casa e foi morar com a tia Fifina para poder se dedicar à música com maior liberdade. Tocou no Teatro Recreio, em programas diversos: óperas, operetas e zarzuelas, uma forma dramático-musical espanhola. Do mesmo modo, atuou no Cinema Odéon e em bares, hotéis e cabarés. Nesse período, manteve contato com personalidades musicais importantes e interessou-se por adquirir uma noção clara de todos os instrumentos que integram a orquestra, o que lhe foi, posteriormente, de grande utilidade para compor2,6,7. Em 1905, contando 18 anos, Villa-Lobos deixou o Rio de Janeiro e viajou para o Norte do Brasil, com recursos que obteve vendendo alguns livros raros herdados de seu pai, para aprender coisas novas. Esteve no Espírito Santo, na Bahia e em Pernambuco, colhendo elementos do folclore do País que lhe serviram para produzir obra musical verdadeiramente brasileira. Em 1906, ao ter um problema com a polícia no Rio de Janeiro, foi para Paranaguá, no Paraná, onde trabalhou durante seis meses em empresa marítima. O material colhido no sul agradou-lhe menos que o colhido no norte. Voltou ao Rio de Janeiro em 1907, quando se dedicou a estudar harmonia com Frederico Nascimento, como aluno particular. Teve também lições com Agnelo Gonçalves Viana Fran- BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 20 SBR_corrigido.pmd ça. Daí em diante, tornou-se autodidata. Em 1911, participou da companhia de operetas Luiz Moreira, que seguiu até Manaus. Um fato inusitado: quando voltou ao Rio, ficou surpreso ao saber que sua mãe, por julgá-lo morto, mandara rezar uma missa por sua alma2,7,9. No dia 12 de novembro de 1913, Villa-Lobos casou com Lucília Guimarães, pianista, regente de coro e compositora, principalmente de peças corais. Viveram em rua próxima à Praça da Cruz Vermelha com enormes dificuldades financeiras, pois havia grande resistência ao seu modo inovador de compor. Os recursos do casal vinham, basicamente, das aulas de piano que Lucila dava e do trabalho de Villa-Lobos, que tocava à tarde na Confeitaria Colombo e à noite no Restaurante Assírius. Eles viveram juntos durante 22 anos. A separação se deu porque Villa-Lobos se apaixonou por Arminda Neves de Almeida, conhecida como Arminda Villa-Lobos, violinista com quem passou a viver a partir de 1936. Arminda exerceu papel fundamental na divulgação da obra do companheiro, tendo criado o Museu VillaLobos, que dirigiu até morrer2,7. Villa-Lobos escreveu sua primeira composição aos 13 anos, uma peça para violão intitulada Panqueca11. Seus primeiros concertos, com obras próprias, foram dados no Rio de Janeiro a partir de 1915. O famoso pianista Arthur Rubinstein (1887-1982) e o escritor José Pereira Graça Aranha (18681931) tiveram grande influência em sua carreira, pois esta- 20 27/09/2010, 13:25 vam entre os que mais insistiram para que o industrial Carlos Guinle patrocinasse Villa-Lobos e lhe fornecesse os recursos necessários para que ele fosse à Europa divulgar suas obras2,7. O compositor recebeu também, com essa mesma finalidade, uma subvenção do Congresso Brasileiro. Em 1923, seguiu para a Europa para exibir suas composições. Fez seu primeiro concerto em Paris, em maio de 1924, numa apresentação histórica, da qual participaram Arthur Rubinstein e a soprano brasileira Vera Janacópulos (1892-1955). A reação do público não foi muito favorável a essa música inovadora, mas o pianista Jean Wiener (1896-1982), reconhecendo o valor das composições, contratou Villa-Lobos para novas apresentações. Por se terem esgotado a verba oficial e os subsídios dos amigos, o compositor teve de retornar para o Rio de Janeiro antes do término de 1924. No ano seguinte à sua volta ao País, passou a dar vários concertos no Brasil e no exterior7,9,11. Voltou a Paris em 1927, tendo recebido, dessa feita, o reconhecimento da imprensa francesa. Villa-Lobos exerceu cargos importantes, como superintendente de educação musical e artística do Distrito Federal e diretor do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico (1942), em cuja função desenvolveu, durante anos, um trabalho educativo nas escolas públicas, com especial destaque para o canto orfeônico. Em 1944, foi pela primeira vez aos Estados Unidos da América, onde regeu as melhores orquestras do país. Desse ano em diante, teve oportunidade de reger orquestras importantes da Europa, da América do Sul e da América Central9. As primeiras composições de Villa-Lobos mostram influência de Richard Wagner (18131883) e Giacomo Puccini (1858-1924). A partir de Danças Características Africanas (1914), passou a usar características próprias, que se consolidaram nos bailados Amazonas e Uirapuru (1917). Por volta de 1925, suas obras já estavam totalmente nacionalizadas. A produção do compositor foi copiosa, contando mais de mil músicas, que vão da harmonia singela à mais alta complexidade9. Conforme acentua Vasco Mariz: “Se Carlos Gomes foi o maior compositor das Américas no século XIX, Heitor Villa-Lobos é considerado o gênio musical de sua época no Novo Mundo”7. Na hora errada Como foi inicialmente dito, esses dois grandes compositores sofreram ataques de gota em momentos absolutamente inoportunos, se é que existe algum momento oportuno para ter uma crise da doença. Os primeiros sintomas da gota manifestaram-se em Hasse aos 32 anos. A crise que lhe criou o primeiro grande problema veio em 1731, quando ele se encontrava em Viena, com a finalidade de apresentar seu oratório Daniello. Esse ataque foi prolongado e o fez permanecer na cidade até julho, quando pretendia deixá-la em junho. Pior foi o que ocorreu em 1771. Trabalhava, então, em sua última ópera, Ruggiero, Ovvero L’Eroica Gratitudine, por encomenda da imperatriz Maria Thereza, e só pôde prosseguir em seu trabalho com a ajuda de sua filha Pepina, para quem ditava os textos2,4,5. Para que isso acontecesse, é muito provável que tenha tido uma crise poliarticular com comprometimento das mãos. Johann Adolf Hasse faleceu em 16 de dezembro de 1783, segundo dizem, de uma “inflamação do tórax”, precedida de um grave ataque de gota2,4,5. Já o que aconteceu com Heitor Villa-Lobos foi cômico, hilário. No Museu Villa-Lobos, não há mais informações sobre suas doenças. Sabe-se, entretanto, que sofria de gota. Quando nosso compositor maior participou da Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922, recebeu uma tremenda vaia, desencadeada, acredita-se, pelo fato de ter-se apresentado no palco vestido de maneira grotesca: de casaca, com sapato em um dos pés e chinelo no outro, o que teria sido interpretado, pela plateia, como uma provocação. Na realidade, o que o fez assim se apresentar foi um ataque agudo da doença. Comentário de Villa-Lobos sobre o incidente: “O auditório é quase sempre formado de elites sociais que, na maioria das vezes, não gostam de música, e, sim, do gênero, do estilo do autor que está em moda”10. Heitor Villa-Lobos faleceu de câncer de bexiga no dia 17 de novembro de 1959 e seu mausoléu está no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro. Referências 1 Dicionário Enciclopédico Ilustrado Larousse, Editora Abril, São Paulo, 2006. 2 Dicionário Grove de Música, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1994. 3 http//www.2.nau.edu/-tas3/hasse. 4 http//www.classical.net/music/comp.Ist/acc/hasse.php. 5 Queiroz MV, Seda H: História da gota e de gotosos famosos, Lidel, Lisboa, 2010. 6 Araújo M: Rapsódia Brasileira, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 1994. 7 Mariz V: A Música Clássica Brasileira, Andrea Jakobsson Estúdio Editorial Ltda., Rio de Janeiro, 2002. 8 Andrade M: Pequena História da Música, Livraria Martins Editora. 9 Villa-Lobos H: Museu Villa-Lobos, Dados Biográficos, Rio de Janeiro, 1971. 10 http//www.e-educador.com/índex.php/educultura/4096-heitor. 11 Pahlen K: História Universal da Música, Edições Melhoramentos, São Paulo. BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 SBR_corrigido.pmd 21 21 27/09/2010, 13:25 Dia a dia Por que indicar a vacina anti-influenza A/H1N1 sem adjuvante para portadores de doença autoimune? Tatiana Tourinho O uso de adjuvante MF59 na vacina contra a gripe A/H1N1 pode reativar a doença em portadores de afecções autoimunes, uma vez que essa associação aumenta a imunogenicidade dos pacientes e ativa seu sistema imune, indo, portanto, na direção oposta à do tratamento para o controle da doença imunológica. Essa reação foi observada em alguns indivíduos reumáticos que receberam a vacina com o MF59, resultando, assim, na recomendação de que esse grupo de pacientes, tal qual o das gestantes, receba a versão monovalente sem o adjuvante. A indicação também toma por base um artigo publicado no New England Journal of Medicine, em setembro de 2009, cujo resumo traduzido é reproduzido abaixo, que mostrou justamente que a adição do adjuvante à vacina induz a formação de anticorpos eficazes e de longa duração por reação cruzada. Vacina monovalente anti-influenza com adjuvante MF59 Clark TW, Pareek M, Hoschler K, Dillon H, Nicholson KG, Groth N, Stephenson I O vírus influenza A/H1N1-2009 é um potencial causador de doença, morte e crise socioeconômica, embora a imunização possa reduzir seu efeito. No entanto, a demanda pela vacina anti-H1N1 deverá exceder a oferta, caso se mantenha o método atualmente disponível para produzi-la, isto é, a reprodução em ovos. A cultura de células é uma técnica alternativa para a produção em larga escala, justamente em períodos de maior procura. A vacina convencional, preparada com cepas de influenza aviário, tem baixa eficácia para o combate ao A/H1N1, mes- BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • No 3 • jul/ago/set/2010 22 SBR_corrigido.pmd mo se aplicada em duas doses, com intervalos de 21 a 28 dias, pois não há evidências de que anticorpos cruzados do imunizante sazonal possam conferir proteção contra o H1N1. A associação de adjuvante oleoso em emulsão aquosa estimula a imunogenicidade, induzindo anticorpos eficazes contra variantes antigênicos, por reação cruzada, e potencializando seu efeito sobre o vírus. Esse foi o fator determinante para que a Organização Mundial de Saúde recomendasse a vacina com o MF59, um adjuvante de petróleo que foi licenciado para uso em imunizantes contra a gripe 22 27/09/2010, 13:25 sazonal em 1997. Apesar disso, o efeito dessa associação sobre o vírus H1N12009 ainda não é conhecido. O presente relatório preliminar apresenta os perfis de imunogenicidade e eventos clínicos associados à vacina monovalente anti-influenza A/H1N12009 com adjuvante MF59, na dose de 7,5 μg, administrada a adultos por meio de dois esquemas da imunização: duas doses de 3,75 μg aplicadas simultaneamente, uma em cada braço, no mesmo dia, e duas doses de 3,75 μg aplicadas com intervalo de 7 ou 14 dias. Por sua vez, a vacina sem adjuvante também teve quatro esquemas diferentes de administração, mas os resultados dessa parte do estudo não são relatados neste trabalho. A vacina produzida com derivados da cultura de células MDCK demonstrou soroproteção contra o vírus H1N1 em duas semanas após a administração de 7,5 μg em dose única, do que se conclui que a adição do adjuvante MF59 é es- sencial na indução de anticorpos eficazes e de longa duração, por reação cruzada. Na prática, mais de 16 mil doses foram administradas em ensaios clínicos e, para ter uma ideia, somente a Europa recebeu mais de 40 milhões de doses. Apesar de as vacinas contra a gripe sazonal terem perfil de segurança bem estabelecido, houve relatos de reações incomuns, incluindo manifestações como vasculites. Por conta disso, é igualmente importante assegurar a vigilância pós-comercialização durante a utilização em massa da vacina antivírus de pandemia, seja ela feita com ou sem adjuvante. N Eng J Med / Sep10,2009;361. Referências 1. Novel Swine-Origin Influenza A (H1N1) Virus Investigation Team. Emergence of a novel swine-origin influenza A (H1N1) virus in humans. N Engl J Med 2009;360:265-15. 2. Perez-Padilla R, de la Rosa-Zamboni D, Ponce de Leon S, et al. Pneumonia and respiratory failure from swine-origin influenza A (H1N1) in Mexico. N Engl J Med 2009;361:680-9. 3. Kelly H, Grant K. 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