ACTES DU XIIIe COLLOQUE PÉDAGOGIQUE DE L’ALLIANCE FRANÇAISE DE SÃO PAULO | 2012 CONFERÊNCIA “Projeto Teletandem Brasil: línguas estrangeiras para todos” – quem somos, de onde viemos, para onde estamos indo. Solange ARANHA UNESP - IBILCE - SJRP A aprendizagem de línguas em tandem envolve pares de falantes nativos de diferentes línguas trabalhando, de forma autônoma e colaborativa, para aprenderem a língua um do outro. Cada um dos membros da dupla é, ao mesmo tempo, aluno da língua estrangeira que deseja aprender (a língua de competência do seu parceiro) e professor de sua própria língua (aquela que o parceiro quer aprender). Demos o nome de teletandem quando este contexto de ensino/aprendizagem é assistido pelo computador, à distância, via comunicação síncrona, por meio da utilização dos recursos de escrita, leitura, e videoconferência que são oferecidos por aplicativos de mensageria instantânea, como o Skype, OoVoo e Windows Live Messenger. Segundo Vassalo e Telles (2009), o parceiro aprendiz recebe o apoio do parceiro falante competente para desenvolver atividades na sua LE, isto porque sua LE é a L1 ou a língua de competência do outro. O apoio dado pelo parceiro pode estender-se, também, a eventuais atividades desenvolvidas fora da sessão. O desenvolvimento do teletandem pode ser integrado às atividades curriculares de uma instituição, ou pode ser realizado de forma completamente independente. Para Cziko & Park (2003, apud TELLES, 2006, p.7), “a aprendizagem de línguas in-tandem proporciona um terceiro modo de aprender línguas estrangeiras que substitui ou complementa abordagens calcadas na gramática e nas abordagens comunicativas à aprendizagem de línguas” .Esta modalidade leva em conta os três tipos de estratégias que contribuem direta ou indiretamente para a aprendizagem de línguas, de acordo com Wenden e Rubin (1987): estratégias de aprendizagem, relacionadas ao desenvolvimento do sistema lingüístico que o aprendiz constrói; estratégias de comunicação (sobre estratégia s de aprendizagem e de comunicação no contexto 1 ACTES DU XIIIe COLLOQUE PÉDAGOGIQUE DE L’ALLIANCE FRANÇAISE DE SÃO PAULO | 2012 teletandem, vide dissertação de SILVA, 2008) que permitem ao aprendiz permanecer na conversa; e estratégias sociais, que asseguram aos aprendizes a oportunidade de estarem expostos a uma situação de interação e praticarem o que sabem. O projeto Teletandem Brasil: Línguas Estrangeiras para todos (www.teletandembrasil.org) é desenvolvido por um grupo de docentes da Universidade Estadual Paulista, atuantes nas áreas de Lingüística Aplicada, Educação e Computação, e pesquisadores-colaboradores de universidades estrangeiras. É coordenado pelo Prof. Dr. João Antonio Telles e foi apoiado financeiramente pela FAPESP (Processo 2006/03204-2) até março de 2010. Também é um dos objetivos do projeto vincular a pesquisa acadêmica da universidade a ações sócio-pedagógicas na área de ensino de línguas estrangeiras e aplicar uma nova ação pedagógica de aprendizagem de línguas à distância. Para se realizar uma sessão de teletandem são necessários: (a) uma dupla de falantes de línguas diferentes que desejem falar a língua um do outro; (b) um computador conectado a internet com o aplicativo para videoconferência e (c) uma webcam. O teletandem proporciona a jovens universitários de todo o mundo não somente o contato intercontinental e virtual com o português falado no Brasil a um baixo custo (e mediado por seus professores em seus respectivos países), mas também oportunidades de estabelecerem parcerias, amizades e trocas de informações linguisticas e culturais entre as partes. Sobre essas questões, Santos (2008) trata das características da interação e descreve o tipo de informação linguística mais recorrente. Quanto à sua fundamentação teórica, o Projeto Teletandem Brasil: Linguas estrangeiras para todos se apóia na teoria sócio-construtivista, da aprendizagem cooperativa e na aprendizagem transformativa. Segundo Vassalo (2009:26), a fundamentação teórica remete a várias ciências sociais e não apenas à educação. As questões culturais que permeiam toda e qualquer interação ultrapassam as fronteiras educacionais. Teorias sobre aquisição de língua são utilizadas e não há predominância de uma em detrimento de outras. Cada parceria é autônoma para utilizar os conceitos que melhor lhes aprouverem. Luz (2008), em seu trabalho de mestrado, trata de questões de autonomia e sobre como ela é construída durante as interações. Logo, a aquisição da língua estrangeira por meio do teletandem depende da autonomia do aprendiz em gerenciar sua própria aprendizagem e em auxiliar seu parceiro. O conceito de 2 ACTES DU XIIIe COLLOQUE PÉDAGOGIQUE DE L’ALLIANCE FRANÇAISE DE SÃO PAULO | 2012 autonomia, segundo Little (1996 apud Cavalari, 2009), “não exclui a relação entre a aprendizagem e o contexto sociocultural, uma vez que o autor considera a aprendizagem como um processo no qual o novo conhecimento e as novas habilidades são gradualmente assimilados, por meio da interação social, ao repertório de conhecimento e habilidades que já possuímos.” Um outro fator relevante para a aprendizagem em teletandem é o gerenciamento de várias competências que são ativadas, ou pelo menos, requeridas, durante o processo interacional. Mais uma vez, as competências são acionadas pelos interagentes e dependem do contexto em que ocorrem. O teletandem também tem gerado pesquisas na área de formação de professores, uma vez que muitos alunos de Letras, tanto do Campus de Assis como do Campus de São José do Rio Preto, fazem sessões de teletandem com estrangeiros não só para desenvolverem sua competência linguístico discursiva na língua estrangeira, mas também para desenvolverem sua competência linguístico-pedagógica para ensinar sua língua materna, o português, para estrangeiros. Nessa linha de pesquisa, podemos citar os trabalhos de FUNO (2011) que aborda o Teletandem e a formação continua de professores da rede pública; SALOMÃO (2007), que trata da questão das estratégias pedagógicas adotadas na mediação e o processo de formação inicial dos interagentes e KANEOYA (2008) que também aborda a prática de teletandem e seu impacto na formação inicial do futuro professor. A metodologia de pesquisa em teletandem é qualitativa e fazemos uso de métodos tais como estudos de caso, etnografias e pesquisa narrativa (histórias narradas pelos participantes). Do ponto de vista de análise dos dados, os trabalhos fazem uso de abordagens interpretativistas, análise do discurso e análise da conversação. Atualmente, há pesquisadores trabalhando na área de gêneros textuais (Aranha, 2009 e Aranha e Telles, 2011) e há vários outros trabalhos em andamento na área de transculturalidade. Referências Bibliográficas ARANHA, S. ; TELLES, J. Os gêneros e o Projeto Teletandem Brasil: relação entre compartilhamento e sucesso interacional. In: VI SIGET - Simpósio Internacional de Estudos de Gêneros Textuais, 2011, Natal. Anais do VI SIGET, 2011. 3 ACTES DU XIIIe COLLOQUE PÉDAGOGIQUE DE L’ALLIANCE FRANÇAISE DE SÃO PAULO | 2012 ARANHA, S. . Projeto Teletandem Brasil: algumas questões sobre comunidades discursivas. In: V SIGET, 2009, Caxias do Sul. Anais do V SIGET. Caxias do Sul, 2009. CAVALARI, S.M.S. A auto-avaliação em um contexto de ensino-aprendizagem de línguas em tandem via chat. Tese de Doutorado. PPG em Estudos Linguísticos, UNESP-S.J. Rio Preto, 2009 FUNO, L.B.A. Teletandem e formação contínua de professores vinculados à rede pública de ensino do interior paulista: Um estudo de caso. Dissertação de Mestrado. UNESP, P.P.G. em Estudos Linguisticos, 2011. KANEOYA, M.L.C.K. A formação inicial de professoras de línguas para/em contexto mediado pelo computador (teletandem): Um diálogo entre crenças, discurso e reflexão profissional. Tese de Doutorado. P.P.G. em Estudos Lingüísticos, UNESP, 2008 LUZ, E.B.P. A autonomia no processo de ensino e aprendizagem de línguas em ambiente virtual (teletandem). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos, UNESP – Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2009 SALOMÃO, A. C. B. Gerenciamento e estratégiaspedagógicas na mediação dos pares no teletandem e seus reflexos para as práticas pedagógicas dos interagentes. Dissertação de Mestrado. SANTOS, G.R. Características da interação no contexto de aprendizagem in-tandem. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos. SILVA, A.C. O desenvolvimento intra-interlingüístico in-tandem a distância (português e espanhol). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos. UNESP Universidade Estadual Paulista, S.J. do Rio Preto, 2008 TELLES, J.A. (Org.) Teletandem: Um contexto virtual, autônomo e colaborativo de aprendizagem de línguas estrangeiras para o século XXI. Campinas: Pontes Editores, 2009 TELLES, J. A. ; VASSALLO, Maria Luisa . Foreign language learning in-tandem: Teletandem as an alternative proposal in CALLT.. The Especialist, v. 27, p. 189-212, 2006. TELLES, J. A. . 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