SOBRE A INFÂNCIA DO SINTOMA*
Primeiramente, lembrarei que o sentido deste grupo e sua
originalidade é pôr à prova as teses lacanianas no registro da
psicanálise de crianças, ou, em outras palavras, tentar apreender ao
mesmo tempo em quê elas podem nos esclarecer sobre o modo
como uma criança se fabrica, se faz, e também nos dar um certo
número de meios para... mas é o que veremos no percurso, meios
para fazer o quê. Não creio que existam muitos grupos por aí que
tenham se proposto um tal objetivo. O objetivo que nos permite, de
certo modo, escapar ao que conhecemos no campo da análise de
crianças, isto é, essencialmente o empirismo, ou ainda, a
predominância das intuições, mesmo que elas sejam, por outro lado,
geniais.
A questão é tentar dar a este campo da psicanálise da criança
um método e uma ordem que pareçam compatíveis com a psicanálise,
já que, a esta altura mostrar que as crianças têm um inconsciente,
*Conferência realizada em 21/5/86, durante uma jornada de trabalho do grupo de
Psicanálise da Criança. Publicada no Bulletin de l'Association Freudienne nº 19, set.
1986. Texto não revisado pelo autor (N.R.).
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como demonstram seus desenhos, isso eu posso dizer que também
o sabemos, está provado, mas podemos estimar que esta
demonstração, esta verificação não é mais suficiente e que, entre
outros, é oportuno precisar o que esperamos da criança, o que
queremos dela, pois, como sabemos mais neste campo que em outros,
a normalidade é antes de mais nada uma questão de ética.
Não penso que possamos dar à criança uma outra perspectiva
a não ser normas éticas, e sabemos como, no interior da nossa cultura,
estas normas podem variar, quer seja de um meio social a outro, de
um meio cultural a outro... portanto, seria oportuno precisar: haveria
uma ética psicanalítica referente às crianças? O que é que nós, na
qualidade de psicanalistas, estimaríamos dever lhes convir?
O tema das próximas jornadas, que estão a cargo deste grupo,
jornadas que ocorrerão no reinício dos trabalhos, intitula-se: “A
infância do sintoma”; foi este título que ficou, apesar de seu lado
obscuro e ambíguo.
Primeira questão: como nós o entendemos aqui?
De minha parte, eu o entendo como sendo este sintoma que
surge naquele que não se acha ainda confrontado à falta da relação
sexual; teríamos que introduzir aí uma restrição, pois, como sabemos,
ele está confrontado ao que se chama geralmente de castração, mas
não se acha confrontado aí numa experiência que ele teria que assumir
em seu nome próprio. Creio que podemos reter que o fato de não
estar exposto a esta experiência, em seu nome próprio, da falta da
relação sexual, dá ao sintoma uma condição bem outra, o paradoxo
sendo o seguinte: não há sintoma senão na medida em que o sujeito
se defende contra seu desejo, como sabemos. Sabemos também que
a instauracão da fantasia originária vem acompanhada geralmente
de uma neurose, a neurose infantil. Esta cuja busca sistemática Lacan
recomendava por ocasião das entrevistas preliminares: ele dizia que,
quando se recebia um paciente, um futuro analisante, convinha buscar
sistematicamente o que se referia à neurose infantil, isto é, ver os
vestígios do que teria podido ser, nele, a uma idade determinada, 3,
4 anos, etc., a emergência de uma neurose contemporânea à
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instauração da fantasia originária. O “período de latência” quer dizer
o quê? Significa que a instauração, no pequeno falasser, de um sujeito
exposto ao desejo, vai se achar tapado, que este sujeito vai ser levado,
em regra geral – este é o sentido do período de latência – a renunciar
ao seu desejo.
O “período de latência” quer dizer que, enquanto pequeno
ser sexuado, ele renuncia. Por que renuncia? Por que esse que era o
sujeito de uma neurose infantil, isto é, de um desejo, e de um desejo
que ele combatia, pois tinha as manifestações sintomáticas de uma
neurose, o que quer dizer que ele combatia como um adulto, por
que é que esse pequeno renuncia, em geral, o mais freqüentemente?
Evidentemente, por várias razões que não são o problema essencial,
ele renuncia talvez porque não há aval social para seu desejo; seu
desejo não é recebido enquanto tal, não é admitido na circulação, no
que ele poderia socialmente proferir e que se acharia ratificado pelo
diálogo social, mas se acha tomado eventualmente no registro do
diálogo com seus coleguinhas ou suas coleguinhas, e permanece
assim no campo do brincar.
Portanto, ele renuncia na maioria das vezes, e esta neurose
infantil tomba no esquecimento, o que quer dizer que de repente ela
desaparece, se apaga.
Se seguimos esta linha, podemos dizer que a criança pequena,
quando entra no período de latência, não tem sintomas neuróticos
que responderiam ao seu desejo, já que, provisoriamente, renuncia a
ele.
Pois bem, aí surge uma questão: quais são os sintomas que
ela pode, contudo, apresentar? A quem pertencem? Pois, se ela entrou
no período de latência, não são os sintomas de sua neurose e pareceme que poderíamos, a este respeito, observar que justamente uma
categoria lacaniana é eventualmente útil, esclarece-nos, se
observarmos o seguinte: na constituição de sua neurose, a criança
se relaciona com o Outro, o grande Outro. O problema é que, em
sua vida cotidiana, ela se relaciona com outros que são Outros reais,
que são seus pais. De que modo o grande Outro, cuja relação com
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ela é geradora da neurose, já que encontrar a castração no grande
Outro vai gerar sua neurose, qual é a relação de seus Outros reais
(seus pais) com esse Outro aí, que se poderia chamar de Outro
simbólico, por exemplo, para distingui-lo desses Outros reais que
são seus pais? Será que haveria uma relação pura com esse Outro
simbólico, ou ela se daria somente por intermédio desses Outros
reais que constituem seus pais? Esta questão, creio, merece ser
colocada, pois me parece que vemos na clínica toda uma gama
diferente de respostas, isto é, que se pode ter Outros reais, pais que
de certo modo impõem uma espécie de ordem familiar, de tirania
familiar, de autarquia familiar, que vêm de certo modo ocupar o
lugar de Outro simbólico, o que significa que a criança nesses meios
familiares cerrados, fechados, voltados para dentro, vivendo um
pouco numa economia fechada, em isolamento, esta criança parece
não ter outras referências senão aquelas que seus pais instituem para
ela enquanto Outro.
Temos também às vezes a surpresa de constatar que quando
seus pais se acham, por exemplo, psicóticos, esta criança pode ser
capaz de ter uma relação direta com um Outro simbólico e, a partir
daí, exercer para com estes Outros reais uma faculdade de julgamento
e de discriminação, como já tive a ocasião de fazê-lo notar, que pode
lhe dar um aspecto de adulto precoce, isto é, é ela que se torna o pai
de seus pais, por esta referência a esse grande Outro simbólico.
Então, onde tem ela relação com esse grande Outro simbólico? Esta
questão precisa apenas ser colocada, pois é bem certo que ao ser
simplesmente tomada na língua e na medida em que fala a língua
comum, quero dizer, onde a família não lhe impõe alguma língua
privada, pois bem, ao mesmo tempo ela tem relação com esse Outro
simbólico de que há pouco eu falava. Significa que podemos ver
neste registro as funções paternas e maternas se isolarem em sua
dimensão simbólica, eu diria de modo destacável da aplicação real
que lhe dão os pais, ao ponto em que, por exemplo, uma criança
será particularmente sensível ao fato de que seus pais reais se mostrem
numa relação mais ou menos perversa, trapaceira em relação a esse
Outro simbólico, e ela terá espontaneamente um julgamento
formulado, mais ou menos explícito, mas que pode ser crítico em
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relação aos seus pais reais, na medida em que venham a faltar ao que
exigiria, ao que apela o Outro simbólico.
Isto é, se prestarmos atenção aos sintomas pelos quais
atendemos a criança e que, como vocês sabem, vocês o repetem
com muita freqüência, são sintomas que são geralmente falhas de
capacidade, e que têm a ver com a escola ou com o comportamento,
será que podemos sustentar que são realmente sintomas neuróticos,
ou será que devemos pensar no que se instituiria na relação desses
grandes Outros reais que constituem os pais, que se refeririram muito
mais a eles as marcas do que podemos chamar de uma neurose atual?
Não estariam esses sintomas deficitários essencialmente ligados
a uma neurose atual, ligada a esses Outros reais que são os pais,
ainda que, como suspeitamos, caberia pensar que a neurose atual se
acha de certo modo tecida, – tecedura que seria oportuno precisar
– com essa neurose original, essa neurose infantil constitutiva da
subjetividade da criança?
Gostaria agora de dar uma ilustração do que chamo aqui de
neurose atual. Nesta ética que é nossa, a do nosso meio, nossa cultura
em relação à criança, está claro que o que esperamos dela é a realização
de um ideal que é evidentemente negador da castração, que não
somente organiza o casal parental, mas também a própria
subjetividade da criança. Assim, esperamos dela a realização de um
impossível, é próprio do amor parental esperar isto da parte de seus
produtos, em todo caso para nós, e em nossa época. Considerando
essa exigência que vem da parte desses Outros reais que são os pais
reais, podemos imediatamente compreender como a falta de
cumprimento deste ideal é, de certo modo, o que vem manter a
criança nesse pouco de liberdade subjetiva, nessa pequena margem
que a protege de uma alienação realizada: alienação realizada já que
este ideal esperado da criança é que a mensagem que ela receberia de
seus próprios pais, ela pudesse articulá-la sob uma forma que não
seria mais invertida, como a que ela recebe do Outro, mas sob uma
forma direta, isto é, neste algo que é uma realização ao mesmo tempo
da debilidade e da psicose. Como vocês sabem, a psicose consiste
em articular a mensagem que se recebe do Outro sob uma forma
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direta e não mais invertida, e sem dúvida um dos traços da debilidade
é ser capaz de retomar a mensagem parental de modo absolutamente
direto, isto é, realizando essa anulação da subjetividade própria da
criança, razão que faz com que a debilidade seja muito bem tolerada,
como vocês sabem. Chamo a atenção de vocês para isto, para lhes
mostrar, pois, que neste tipo de instauração muito geral e esquemática
que opero, vocês vêem muito bem como uma falha na realização do
ideal, isto é, por exemplo, um déficit de capacidade, pode ser o modo
como a criança se protege, se mantém, subsiste na ocultação de uma
subjetividade de certo modo jogada na cara do meio que a cerca.
Voltemos então ao que vocês sabem: a questão do sintoma
na criança nos leva realmente, a cada vez, à necessidade de avaliar o
que diz respeito ao seu valor, sua virtude, e, portanto, não mais que
os outros sintomas do adulto, dos quais sabemos que são de certo
modo os representantes da verdade subjetiva, e que, tanto na criança
quanto no adulto eles não podem ser tratados com uma espécie de
determinação ortopédica.
“Infância do sintoma”. Como vocês vêem, tento aí, a
propósito do uso destes conceitos lacanianos de grande Outro, e
com a distinção dos Outros reais e do Outro simbólico, tento com
golpes de foice, ver se uma limpeza do terreno não é capaz de nos
esclarecer, em particular sobre o que seria nossa ética com relação à
criança. No que diz respeito ao grande Outro imaginário, penso que
ao lhes falar da criança como ideal, vocês reconheceram neste ideal
o lugar onde os pais situam o grande Outro imaginário: no nível
dessa criança, na medida em que ela seria, por sua vez, capaz – e
além disso na qualidade de assexuada, bem entendido, pois a
realização do ideal não ocorre sem essa sublimação, sem a renúncia
ao sexo – como é que enquanto Outro imaginário e, portanto,
perfeito, a criança pode funcionar para seus pais e resgatar, para
eles, sua própria mensagem.
Vemos como essa criança, que não pode se enganar, é
privilegiada nesse lugar singular onde, quer o queira, quer não,
encontra-se como a inspiradora dessa família.
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SOBRE A INFÂNCIA DO SINTOMA
Há também neste lance um elemento do qual acho que os
psicanalistas de criança teriam que falar para nos esclarecer: o papel
da função paterna, pois, como vocês sabem, a psicanálise de crianças
se acha estancada na concepção salvacionista do Édipo, tanto como
organizador de uma comportada circulação das relações na família,
quanto como instaurador de uma subjetividade satisfatória para a
criança.
Creio que é um dos pontos sobre os quais, sempre a partir
das formulações lacanianas, haveria que reinterrogar estes supostos,
estas teses e, em particular, por exemplo, saber se lhes pareceu, na
prática de vocês, que uma injeção de Édipo tivesse efeitos benéficos
ou não nos tratamentos. Nos tratamentos de adultos, já ficou claro
que a revelação do Édipo dificilmente desemboca em qualquer
resolução que seja. Seria certamente interessante saber se, nos
tratamentos que vocês realizam com crianças, ocorre diferentemente.
A rocha da castração e a inveja do pênis são os impasses da
elaboração edípica uma vez que ela foi elaborada. Que outra saída
vocês vêem, a não ser, justamente, seja uma inibição de certo modo
recomendada, seja uma reivindicação perpétua? E parece realmente
que, na análise de crianças, esta questão deveria ser de uma atualidade
particularmente quente, ardente, pois este problema não deixará de
ser encontrado em qualquer criança; é um modo de deciframento,
uma chave de interpretação das situações, onde se está seguro de
não se enganar, mas a questão é saber o que nós temos que esperar
disto na criança. E também, ao mesmo tempo, qual lugar damos à
função paterna, será que a valorizamos nessa função de guardiã
familiar, ou então, será que podemos pensar diferentemente a função
paterna no interior da família? Por isso parece-me que, a partir do
trabalho de vocês, de suas observações e de sua prática, teríamos
que esperar, nos dois sentidos do termo, as luzes que vocês queiram
nos dar sobre isto.
Há um outro tema sobre o qual gostaríamos também que os
analistas de crianças trouxessem alguma luz, e que é este enigma que
aparece em Lacan sob o título: o desejo da mãe; não a demanda, não
a pulsão, mas o desejo da mãe.
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TEXTOS DA SEGUNDA EDIÇÃO
Parece-me que, na apreciação do que seria a infância do
sintoma, em todo caso, isso que se distingue como sendo o sintoma
que surge no falasser, parece-me que alguns esclarecimentos sobre
estes dois pontos: a função paterna e o desejo da mãe, estariam em
condições de nos esclarecer e talvez de nos fazer avançar.
Fazer-nos avançar para onde? Será que isto nos permitiria
examinar esta ética dos analistas com respeito à criança? Do que
seriam suas normas, pois, digamos, nossa ética atual não se separa
da ética comum: a criança normal é a criança que não incomoda, o
que quer dizer que ela é particularmente discreta sobre tudo o que
concerne à verdade do meio familiar; não é deste lado que vamos
vê-la surgir, é uma criança bem educada e talvez isto que chamamos
de “bem educado” designe a sabedoria da criança que sabe que a
verdade do meio familiar, do casal genitor, deve ser tratada com
pudor; então acontece que existem crianças que têm sintomas de tal
sorte que a verdade escapa apesar delas e, nesse momento, elas
atrapalham, e são tanto mais insuportáveis quanto mais próximas
estão da dita verdade. Almejamos assim uma reflexão sobre o que
seria nossa ética; será que nós sustentamos também que uma criança
que sabe desse modo ser pudica em relação a essa verdade, é a criança
que convém, talvez... eu não me apressaria em todo caso em golpear
verdades que podem parecer confortáveis ou burguesas, sob o
pretexto de que teríamos melhores, e se temos melhores, teríamos
que dizer quais.
Atendi por acaso esta tarde uma mulher de uns cinqüenta
anos, que veio me procurar por causa de suas preocupações com
um de seus filhos, que presta pela terceira vez o vestibular e ela tem
razões para pensar que ele vai fracassar. Do que esta mulher fala se
depreende que o pai não pôde fazer estudos porque tinha que ganhar
a vida, que sustentar muito cedo uma família e isto faz parte dos
pesares de sua mulher: que ele tenha, na opinião dela, fracassado na
vida e não tenha podido estudar. E no que ela conta aparece bastante
bem que, ao fracassar no vestibular, esse rapaz tenta sustentar uma
identificação masculina, isto é, ele tenta se manter do lado dessa
imagem que sua mãe lhe recusa, em nome de um ideal que seria o do
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homem com quem ela gostaria de ter se casado no lugar de seu
marido e pedindo ao filho para ser o filho imaginário desse homem
mais ou menos imaginário.
Creio que a banalidade desta situação salta aos olhos, têm-se
vontade de dizer que é uma situação tão comum, mas creio que
deixa claro o seguinte: é a natureza do sintoma neste rapaz; realmente
é um rapaz inteligente, seus professores sempre disseram que ele
passaria no vestibular sem problemas, ele chega lá e... nada do trabalho
que ele fez o ano todo. Portanto, sintoma que tem valor
essencialmente identificatório.
Se tivermos que tratá-lo, como fazê-lo?
Pergunta que poderíamos formular tanto para uma criança
quanto para um rapaz de 20 anos...
Vocês vêem surgir de novo, inevitavelmente, a questão de
nossa ética, segundo a qual, se estimamos que este sintoma é um
índice de normalidade, ele deveria antes de mais nada ser respeitado;
vocês vêem como nossa ética é solicitada sem por isso estar bem
definida.
A infância do sintoma. Eu diria de bom grado que é este tipo
de questões que me parecem permitir a saída do que de outro modo
pode parecer um pouco o magma da psicanálise da criança: o fato
de que, como eu dizia há pouco, não saímos seja da vontade de
verificar a presença do inconsciente na criança, seja de ter diante
dela atitudes descontroladas. Eu acharia notável que a referência às
teses lacanianas e aos seus conceitos permitisse sair de uma
problemática que, de outro modo, corre o risco de parecer insípida,
repetitiva e aborrecida, apesar dos traços de gênio que admiro sempre
nesse ou naquele psicanalista de crianças. A psicanálise não saiu
absolutamente destes problemas, não inovou em matéria de educação,
em matéria de pedagogia, e não me parece que, em matéria de
psicanálise da criança ela tenha especialmente inovado. Mas talvez
isto não seja impensável, ou mesmo impraticável...
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Eu poderia ter mostrado como esta distinção entre Outro
real e Outro simbólico está eminentemente em jogo na adolescência;
este caráter do Outro imaginário que o adolescente, aliás, neste
momento, assume com estrondo ao rejeitar, como vocês sabem,
esses Outros reais que são seus pais, cuja dimensão justamente, nesse
momento em que a contaminação pela castração lhe parece crua
demais, evidente demais, e que ele recusa em prol de um Outro
simbólico que de bom grado, vocês sabem, os avós poderão vir a
representar. Temos freqüentemente a impressão de que o
adolescente, assim, salta uma geração e se volta diretamente para
esses Outros idealizados, esses Outros ao mesmo tempo em posição
simbólica que são os avós; e não tendo senão alergias e náuseas em
direção a esses Outros reais que são seus genitores. Portanto, aí
também esta distinção pode se mostrar operatória, mas creio que
existem muitas outras que estão esperando ser descobertas, embora
não estejam escondidas em parte alguma.
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