COMISSÃO DE INTEGRAÇÃO ENERGÉTICA REGIONAL COMITÊ NACIONAL BRASILEIRO V CIERTEC - SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE GESTÃO DE PERDAS, EFICIENTIZAÇÃO ENERGÉTICA E PROTEÇÃO DA RECEITA NO SETOR ELÉTRICO Área de Distribuição e Comercialização Identificação do Trabalho: BR-77 Maceió, Brasil, Agosto de 2005 METODOLOGIA DE MAPEAMENTO DE PERDAS E DETERMINAÇÃO DO PROGRAMA EFICIENTE DE COMBATE ÀS PERDAS NÃO-TÉCNICAS Tema 1.2: Perdas Não Técnicas Autores: SEBASTIÁN BUTTO (AUTOR RESPONSÁVEL) e FELIPE PERECMANIS (CO-AUTOR) Empresa ou Entidade: SIGLASUL CONSULTORIA LTDA. PALAVRAS-CHAVE: Perdas Não Técnicas Metodologia de Cálculo de Perdas Não-Técnicas Perfil de Carga de Perdas Não-Técnicas Mapeamento Eletro-Geográfico Programa Eficiente de Combate a Perdas Modelo financeiro de avaliação de perdas DADOS DO AUTOR RESPONSÁVEL Nome: Sebastián Butto Cargo: Gerente de Projetos End: R. Visconde de Inhaúma, 58, grupo 1401, Centro, Rio de Janeiro, RJ Tel: (21) 2518-0740 Fax: (21) 2518-0740 E-Mail: [email protected] RESUMO O presente trabalho procura definir o que seria um programa eficiente de combate às perdas não-técnicas, tendo em vista o horizonte temporal relativo ao período tarifário da distribuidora para se atingir o percentual final de perdas a ele associado. A importância deste tema se deve não só por motivos de gestão eficiente das empresas como também por questões de adequação à regulação vigente. Neste sentido, ao longo do texto busca-se apresentar as ferramentas necessárias para a determinação deste programa eficiente. Inicialmente, são abordados os aspectos conceituais envolvidos na definição das perdas eficientes, tendo em conta os aportes e a recuperação de receita envolvidos no programa para se atingir seu patamar. Em seguida, são levantados os estudos e os instrumentos que são necessários para se desenhar adequadamente um programa de combate às perdas não-técnicas. Por fim, é proposto um modelo de análise econômico-financeira deste tipo de programa, com vistas a determinar seu nível de eficiência. 1. INTRODUÇÃO Este trabalho se refere ao entendimento da SIGLASUL do que seria necessário para a definição de um programa eficiente de combate às perdas não-técnicas, tendo em vista o horizonte temporal relativo ao período tarifário da distribuidora para se atingir o percentual final de perdas a ele associado. A importância deste tema se deve não só por motivos de gestão eficiente das empresas como também por questões de natureza regulatória. Desta forma, entende-se que deva existir um tratamento específico na definição das perdas eficientes, que proporcione incentivos positivos no esforço de redução do nível de perdas não-técnicas, beneficiando tanto a concessionária quanto seus consumidores. No capítulo 2, apresenta-se os aspectos conceituais envolvidos na determinação das perdas não-técnicas eficientes, tendo em conta os custos e a recuperação de receita envolvidos. No 3º capítulo, são levantados os estudos e os instrumentos a eles associados que são necessários para se desenhar adequadamente o programa de combate às perdas. Por fim, no capítulo 4, é proposto um modelo de análise econômicofinanceira do programa de combate às perdas, com vistas a determinar seu nível de eficiência. que os recursos aportados no combate às perdas não superem o valor esperado de recuperação de receita (análise custo x benefício), onerando a concessão. Desta maneira, no sentido estritamente econômico, o patamar de perdas nãotécnicas assim definido implicaria na condição de equilíbrio em que o custo marginal de combate seja igual à receita marginal recuperada o que equivale a um problema de minimização de custos. Por um lado, há de se considerar os custos de combate às perdas, que estão associados aos custos operacionais e às anuidades dos investimentos, ambos medidos por KWh recuperado, que são necessários ao plano de combate. Por outro lado, tem-se a perda de receita resultante do nível de perdas associado à implementação do plano em análise. Observa-se no gráfico abaixo que, para se atingir percentuais de perdas mais baixos, é necessário maior dispêndio no seu combate, com taxas crescentes de incremento de custo. Este fato é explicado pela produtividade decrescente dos planos de combate, na medida em que estratégias mais diretas e menos dispendiosas (regularização de medidores, recadastramento da base comercial, entre outros) são implementadas primeiramente para, em seguida, outras ações serem escolhidas. R$/kWh 2. CRITÉRIO DE EFICIÊNCIA – ASPECTOS CONCEITUAIS Entende-se que a metodologia para a definição deste programa de combate deveria respeitar o aspecto legal e regulatório de preservação do equilíbrio econômico-financeiro, baseando-se no princípio de eficiência econômica, de forma Perdas Não-Técnicas (%) Gráfico 1 - Custo do Combate às Perdas No gráfico seguinte (curva em vermelho), observa-se que, na medida em que o percentual de perdas diminui, a perda de receita a ele associada diminui mais que linearmente, com taxas decrescentes, frente à diminuição da perda não-técnica. Este fato se deve ao comportamento racional dos clientes, os quais podem mudar seu padrão de consumo, diminuindo sua utilização perdulária, pois serão cobrados pelo serviço de fornecimento de energia. A partir da soma do VPL dos custos de combate (curva azul) com o VPL da perda de receita (curva vermelha), ambos associados a cada nível de perdas que se objetiva, constrói-se a curva de custos total (curva preta, do gráfico resultante). O ponto de mínimo desta curva representa o percentual de perdas comerciais eficiente a se atingir no horizonte temporal associado: R$/kWh Perda de Receita Custo do Combate Adicionalmente, uma parcela da energia faturada, que anteriormente era fraudada não se converte em receita, devido à inadimplência dos clientes agora regularizados. Outro aspecto que contribui para que a relação entre perdas e receita associada não seja linear é a composição do mercado atingido, ou seja, o mix de consumidores e de diferentes tarifas implica em diferentes níveis de retorno. A figura abaixo esquematiza a associação entre percentual de perdas não-técnicas e perda de receita. R$/kWh Custo Total Nível Estrutural Nível Eficiente Perdas Não-Técnicas (%) Gráfico 3 - Nível Eficiente de Perdas Não-Técnicas: Minimização de Custos 3. ESTUDOS E INSTRUMENTOS NECESSÁRIOS Para implementar a metodologia exposta, é necessário o desenvolvimento de determinados estudos específicos e a implementação de ferramentas para sua execução, apresentados de forma esquemática a seguir: Estudo SócioEconômico Estudo EletroGeográfico Estudo Gestão Interna Planos-Pilotos Perdas Não-Técnicas (%) Gráfico 2 - Perda de Receita As curvas indicadas nos dois gráficos anteriores, na realidade, expressam valores presentes líquidos “VPLs” dado que as mesmas envolvem custos de planos de ação e perdas de receitas associadas a um horizonte temporal que permita atingir o nível de perdas correspondente. Determinação das Causas Perdas NãoGerenciáveis Perdas Gerenciáveis Avaliação de Programas de Combate Nível Eficiente de Perdas 3.1 ESTUDO ELETRO-GEOGRÁFICO Base cadastral atualizada O objeto deste estudo consiste em mapear e caracterizar as perdas por sub-regiões da área de concessão, através de: Necessária para complementar o sistema geo-referenciado no sentido de possibilitar a vinculação biunívoca dos clientes aos ativos da empresa (transformador MT/BT, alimentador, subestação e linha de subtransmissão). • elaboração de BALANÇOS ENERGÉTICOS por áreas elétricas, permitindo identificar os alimentadores e transformadores com maiores perdas técnicas e não-técnicas; • estimativa do PERFIL DE CARGA DOS FRAUDADORES em potencial associados aos alimentadores e transformadores com maiores níveis de perdas. Isto permitirá identificar os principais tipos de consumo responsáveis pelas perdas não-técnicas, facilitando a objetividade na implementação do programa de combate; • identificação, por áreas eletrogeográficas, das PRINCIPAIS CAUSAS ASSOCIADAS ÀS PERDAS NÃOTÉCNICAS (tipos de fraude, condições de medição etc). Software de perdas técnicas A aplicação deste software de cálculo das perdas técnicas é necessária na determinação das perdas não-técnicas, objeto deste trabalho, por diferença entre as perdas totais e as perdas técnicas. O software deve ser desenhado com base nas características técnicas do sistema elétrico da empresa. Medição nos alimentadores e subestações Torna-se imprescindível a obtenção de medições permanentes tanto da totalidade dos alimentadores quanto das subestações para a determinação de perdas por grandes áreas elétricas. 3.1.1 A fim de ser realizar este estudo, é necessária a implementação de uma série de instrumentos, dentre os quais, destaca-se: Sistema geo-referenciado É necessário para se conhecer a efetiva localização dos ativos e clientes da empresa. O mesmo deverá ser implementado por completo, nas unidades consumidoras, nos transformadores MT/BT, alimentadores MT, subestações, linhas de subtransmissão e nos pontos de conexão com a Rede Básica. BALANÇOS ENERGÉTICOS Em primeiro lugar, deve-se estimar a perda total por alimentador e subestação, como a diferença entre a energia medida na entrada da subestação ou na saída do alimentador e o consumo lido dos clientes a eles vinculados, obtidos através do sistema de faturamento. Em segundo lugar, para cada alimentador e subestação, desagrega-se as perdas totais em técnica e não-técnica através da utilização do software já citado. Cabe alertar que a montagem do balanço energético do alimentador somente é possível caso sua configuração elétrica não se altere, ou seja, que permaneça atendendo os mesmos clientes. Caso contrário, o balanço se estenderá ao conjunto de alimentadores para os quais a configuração se mantenha inalterada. Posteriormente e com base nas perdas estimadas, são selecionados aqueles alimentadores com maiores níveis de perdas não-técnicas sobre os quais se desenvolverá um estudo mais detalhado, buscando conhecer: • A desagregação das perdas não-técnicas destes alimentadores em média e baixa tensão. • Identificar os transformadores MT/BT associado a estes alimentadores, responsáveis por maior parte das perdas não-técnicas na baixa tensão. Para este fim, deverão ser medidos, de forma simultânea, todos os transformadores vinculados a cada alimentador selecionado, o no mínimo uma amostra altamente significativa. A soma das energias registradas em todos os transformadores de um mesmo alimentador possibilita estipular, o montante de energia passante para a baixa tensão. A perda total no nivel de MT, de cada alimentado, é calculada como a diferença entre a energia medida na saída do alimentador e a soma de: consumo lido dos clientes em MT a ele vinculado; e energia total dos transformadores MT/BT a ele ligados; Por outro lado, calcula-se a perda em BT do alimentador como a diferença entre a soma das energias dos seus transformadores MT/BT e o total do consumo lido dos clientes em BT ligados a este alimentador. Finalmente, procede-se à estimativa da perda por transformador, comparando sua medição com o somatório dos consumos lidos dos clientes a ele conectados. Novamente, aplica-se o software de determinação de perdas técnicas para se obter, a partir da perda total, a parcela nãotécnica em MT e BT e por transformador. Destaca-se a necessidade de realizar a medição dos alimentadores e transformadores MT/BT por um período mínimo tal que expurgue o problema de não simultaneidade destas medições em relação à medição comercial dos clientes. Isto decorre do fato de se contar com um componente sazonal no consumo dos clientes e que a leitura comercial dos clientes não é simultânea entre eles. Finalizada a etapa dos balanços energéticos e no intuito de identificar o perfil de carga das perdas não-técnicas e os tipos de consumidores potencialmente responsáveis, torna-se necessária a realização de uma campanha de medição dos clientes da empresa. 3.1.2 PERFIL DE CARGA DOS POTENCIAIS FRAUDADORES O objetivo desta parte do estudo consiste em deduzir da curva de carga do transformador, ou do alimentador medido, a curva de carga representativa dos clientes a ele vinculado, para assim determinar: O perfil de carga das perdas nãotécnicas de cada alimentador ou transformador MT/BT; A responsabilidade dos diferentes tipos de consumo nas perdas não-técnicas deste ativo. Neste sentido, deve ser realizada uma Campanha de Medição dos clientes em MT e BT, com o objetivo de estimar seus padrões de consumo característicos (curvas de carga), tomando como base as medições realizadas sobre uma amostra estatisticamente representativa do total. Clusterização – obtenção de tipologias Com base nas curvas de carga dos clientes obtidas na Campanha de Medição, procedese à estimação das tipologias representativas de seu consumo “clientes-tipo”. Para tal fim, deve-se empregar algum tipo de software de agrupamento – ou clusterização – (por exemplo, o Demand Cluster Program1), aplicado ao resultado obtido da campanha de medição. Este software permite agrupar curvas de carga, segundo sua semelhança, em curvas de cargas representativas de um conjunto (clusters), onde os clusters obtidos sintetizam as tipologias de consumo dos clientes da distribuidora. Finalmente, obtém-se os perfis de carga do fraudadores através da vinculação do perfil de carga de perdas não-técnicas de cada transformador ou alimentador aos perfis de carga típicos dos clientes a eles vinculados. Este perfis típicos são obtidos através do processo de clusterização acima mencionado. Vinculação Cliente-Perdas A vinculação permite calcular a participação de cada cliente-tipo na composição da curva de perdas não-técnicas. O procedimento consiste em combinar as curvas de carga dos clientes-tipo para reconstituir esta última. A vinculação pode ser enfocada como um 1 Desenvolvido pela Siglasul Consultoria problema de programação linear, onde as variáveis a determinar são os coeficientes de participação de cada curva de cliente na curva de perdas. A função objetivo a minimizar é o erro total de ajuste, definido como a soma da distância quadrática entre a curva de perdas nãotécnicas e a curva estimada como combinação linear das curvas dos clientestipo. 3.1.3 PRINCIPAIS CAUSAS ASSOCIADAS ÀS PERDAS NÃOTÉCNICAS Este última etapa do estudo eletrogeográfico tem por objeto estimar a participação das possíveis fontes de perdas não-técnicas. Neste sentido, para se realizar uma sólida pesquisa de campo, deve-se fazer o levantamento populacional das condições de medição (clientes com ligação direta, medidores internos, etc.),além de um levantamento amostral das causas das perdas, mediante processos de fiscalização. 3.2 ESTUDO SÓCIO-ECONÔMICO Permite identificar as variáveis sócioeconômicas explicativas das perdas nãotécnicas através de diagnósticos qualitativos e estudos econométricos. São analisadas as principais características da área de concessão, em comparação com as outras distribuidoras, e sua correlação com as perdas para, finalmente, por meio de um estudo econométrico, se estimar, quantitativamente, a parcela de responsabilidade de cada causa no percentual total das perdas não-técnicas. O objetivo final deste estudo é classificar, conceitualmente, as perdas não-técnicas em gerenciáveis e não-gerenciáveis, tendo em vista a capacidade da empresa de combatêlas: Perdas Não-Gerenciáveis: perdas cuja eliminação das causas depende da ação de outras instâncias (governo, judiciário, polícia etc). Perdas Gerenciáveis: perdas que são passíveis de combate por parte da distribuidora. Caracterizam-se pelo fato de que, mediante determinado nível de investimentos e gastos operacionais em planos de combate, consegue-se, no médio prazo, reduzir, ou até mesmo eliminá-las. A título de exemplificação, utilizando como variáveis explicativas o IDH, o Índice de Criminalidade e dois outros aspectos hipotéticos (Aspecto 3 e 4), em termos gráficos, espera-se a seguinte classificação resultante: 16,00% ESTUDO DA GESTÃO INTERNA 3.3 Parcela Gerenciável DAS PERDAS 5,40% 12,00% Para identificar os fatores gerenciáveis Perda NãoTécnica Total 2,40% administrativas, intrínsecos às perdas a Parcela 8,00% da Empresa 1,50% empresa 15,10% deverá levantar e diagnosticar os Não-Gerenciável 2,10% sistemas e processos envolvidos nas 4,00% atividades de Leitura, 3,70%Faturamento e Envio das faturas. 0,00% 3.4 Perdas Nâo-Técnicas Classificados por Causa PLANOS PILOTOS IDH Aspecto 3 Gestão Distribuidora Criminalidade Aspecto 4 Uma vez determinar as perdas não-técnicas gerenciáveis, deve-se estimar a parcela de elas que é economómicamente viavel de ser combatida. Portanto, e uma vez completados estes estudos, é importante implementar Planos Pilotos de combate às perdas, os quais irão fornecer informações imprescindíveis quanto aos seguintes aspectos: consumo recuperado por ação e taxa de inadimplência destes “novos clientes”. custos de combate; taxa de reincidência de clientes fraudulentos; Ressalta-se que estas informações são vitais na análise de viabilidade econômicofinanceira dos programas de combate. 4. PROGRAMA EFICIENTE COMBATE ÀS PERDAS DE Com base nos Planos Pilotos e nos resultados dos estudos antes ditos, formulase os programas de combate, associando investimentos e custos necessários, bem como a recuperação de receita esperada. Em seguida, elabora-se um ranking dos programas de combate às perdas, escolhendo aqueles com uma relação benefício x custo positiva a traves de um modelo econômico financeiro. Com base nos programas escolhidos pode-se definir, para o período tarifário, os seguintes aspectos: • O patamar eficiente de perdas a atingir ao final do período. • a trajetória de perdas; • a receita a se recuperar; • o plano de investimentos (Capex); • os custos associados (Opex); 4.1 Modelo da Análise EconômicoFinanceira do Combate às Perdas Na montagem deste modelo, devem ser elaborados diferentes cenários de combate às perdas não-técnicas no intuito de proceder à análise de sensibilidade dos resultados. A tal fim, foi montado um mesmo modelo de fluxo de caixa para proceder à avaliação econômico-financeira de sua implementação Inicialmente, é necessária a apresentação de um breve glossário, com algumas definições utilizadas ao longo do texto: GLOSSÁRIO • Novas Fraudes e Reincidências: reflete o comportamento dos consumidores da área de concessão no que diz respeito às fraudes de energia. Configura-se como uma espécie de “perda inercial”, ou seja, é o volume de energia que, a cada ano, caso não houvesse ações de inspeção e regularização, converter-se-iam em novas perdas nãotécnicas. Neste sentido, diz respeito, tanto às novas fraudes que, a cada ano são originadas no mercado da concessionária, quanto à reincidência daquelas já regularizadas no período anterior. • Recuperação de Perdas: é o montante total de energia que se consegue recuperar por meio dos planos de combate implementados. A fim de estimar a energia recuperada, por cada tipo de ação de combate, precisa-se manter uma base de registros com os montantes recuperados nos programas pilotos. A Recuperação de perdas, portanto, é a soma do montante em MWh recuperado por conta da neutralização de Novas Fraudes e Reincidências (que apenas mantém o percentual de perdas nãotécnicas) com o montante relativo à Redução de Perdas Não-Técnicas . • Redução de Perdas Não-Técnicas: montante (em MWh) de energia responsável por redução líquida do percentual de perdas não-técnicas da empresa. Resumidamente, é a diferença entre o volume anual de Energia Recuperada e aquele relativo a Novas fraudes e Reincidências. • Mercado Atendido: mercado cativo + suprimento regulado + livre + recuperação de perdas comerciais (ou seja, “novo mercado faturado” advindo da recuperação de perdas). O fluxo de caixa modelado para o presente estudo compreende as seguintes variáveis de entrada: 4.1.1 Recuperação de Receita Para cada cenário, este item é calculado com base na Redução de perdas comerciais anual (em MWh), valorada pela tarifa média ponderada do mercado agregado – que deve ser corrigida anualmente pelo Fator X – e, finalmente, descontando-se a inadimplência do consumo entrante. Para o cálculo da Receita Recuperada, utiliza-se os resultados obtidos nos PlanosPilotos e nos estudos já citados no capítulo anterior. 4.1.1 Custeio Evitado Pela Manutenção Representa o custo que se evita ao realizar o combate à fraude, objetivando a manutenção do índice de perdas não-técnicas. Este parâmetro é quantificado com base montante físico relativo às Novas Fraudes e Reincidências, entre: valorado pela diferença a tarifa de venda ponderada e “corrigida”, conforme apresentado no item anterior e; a tarifa media de compra de energia. Em relação às Novas fraudes e Reincidências, destaca-se que, sua projeção pode ser feita com base no percentual que seu montante físico representou historicamente, em relação ao mercado atendido. No caso dos Cenários de redução significativos de perdas, este percentual tende a aumentar, uma vez que a entrada deste novo consumo faturado se traduz em clientes potencialmente fraudadores, deteriorando, assim, a composição do mercado da empresa. 4.1.2 Desembolso Anual (Capex + Opex) Em cada cenário, obtém-se o Desembolso Anual, multiplicando-se a Recuperação de Perdas (MWh), já definida no glossário, pelo Custo Marginal de Combate (CMg) do referido ano, calculado com base no histórico de Energia Recuperada e Desembolsos associados, ambos em termos anuais. Levando-se em conta que o Desembolso anual2 necessário para proceder à Recuperação de Perdas compreende uma parcela de investimento anual (Capex) e outra de custos operacionais (Opex).. Ressalta-se que, assim como a receita recuperada, os valores de desembolso (e portanto CMg de combates) são obtidos a 2 Tanto o Desembolso quanto a Energia Recuperada e outros itens do fluxo de caixa são definidos para o ano tarifário através do cálculo pro rata de seus valores nos anos calendários. partir dos Planos-Pilotos e nos estudos implementados. 4.1.3 Depreciação: calculada, anualmente, com base na BRR bruta e com a taxa de depreciação anual. 4.1.3.1 Base de Remuneração Regulatória bruta (BRR bruta) Para fins de cálculo da BRR bruta, incorpora-se apenas uma parcela dos investimentos (Capex) realizados, tendo em vista que parte destes novos ativos irão simplesmente substituir ativos já existentes (p. ex. instalação de medidor externo e a implementação de cabos multiplex nas redes). 4.1.4 Tributos – Imposto de Renda: calculado com a alíquota de 34% sobre o EBIT. 4.1.5 Base de Regulatória Líquida Remuneração A BRR líquida resultante destes investimentos é incorporada no último ano, como uma entrada do fluxo de caixa, tendo em vista o entendimento de que seria reconhecida pela ANEEL para o período tarifário subseqüente. Desta forma, procedeu-se ao cálculo da BRR líquida como sendo a BRR bruta do último ano subtraída da depreciação acumulada. 4.1.6 Resultados do Modelo Como resultado da implementação desta metodologia de fluxo de caixa com as variáveis de entrada explicitadas nos itens anteriores e a taxa de desconto de 11,26%, referente ao WACC (depois de impostos) regulatório, obtém-se, como resultado, valores presentes líquidos (VPLs) associados a cada cenário A seguir, apresenta-se a esquematização gráfica do fluxo de caixa proposto: Fluxo de Caixa (R$) Ano-Teste RECUPERAÇÃO DE RECEITA (+) Rec1 Ano 2 Ano 3 (+) Rec2 (+) Rec3 Ano 4 (+) Rec4 Desembolso Anual (-) Des1 (-) Des2 (-) Des3 (-) Des4 Custo Evitado pela Manutenção (+) Cev1 (+) Cev2 (+) Cev3 (+) Cev4 Depreciação dos Investimentos de Combate (-) Dep1 (-) Dep2 (-) Dep3 (-) Dep4 EBIT Ebit1 Ebit2 Ebit3 Ebit4 Imposto sobre lucro (34%) (-) IR1 (-) IR2 (-) IR3 (-) IR4 Depreciação dos Investimentos de Combate (+) Dep1 Investimentos (-) Inv1 Recuperação da BRR Líquida de Perdas FLUXO DE CAIXA VPL FC1 (+) Dep2 (+) Dep3 (-) Inv2 FC2 (+) Dep4 (-) Inv3 (-) Inv4 FC3 (+) BRRL FC4 Analisando de forma analítica, tem-se a seguinte apresentação para o VPL do fluxo de caixa: ( VPL = (BRRL )× 1 1 + Wacc )+ 4 4 ( FC t × 1 1 + Wacc t =1 ) t onde FCt = Ebitt + Dept − Invt − IRt e Ebitt = Re ct − Dest + Cevt − Dept Entende-se como programas eficientes aqueles que inclui todos os projetos com VPL maior o igual a zero. O ultimo projeto a ser incluso no programa é aquele cujo VPL é zero, ou seja, onde a taxa interna de retorno (TIR) do fluxo de caixa se iguale ao WACC regulatório. . 5. CONCLUSÃO Apresentou-se neste trabalho, uma metodologia para a definição do programa eficiente de combate às perdas não-técnicas, baseando-se no princípio de manutenção do equilíbrio econômico-financeiro da distribuidora. No capítulo 2, foram discutidos os aspectos conceituais envolvidos na determinação das perdas não-técnicas eficientes. No 3º capítulo, foram levantados os estudos e os instrumentos necessários para se desenhar adequadamente um programa de combate às perdas. Por fim, no capítulo 4, foi proposto um modelo de análise econômico-financeira de programas de combate às perdas, através do qual é determinado o seu nível de eficiência.