COMISSÃO DE INTEGRAÇÃO ENERGÉTICA REGIONAL
COMITÊ NACIONAL BRASILEIRO
V CIERTEC - SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE GESTÃO DE PERDAS,
EFICIENTIZAÇÃO ENERGÉTICA E PROTEÇÃO DA RECEITA NO SETOR ELÉTRICO
Área de Distribuição e Comercialização
Identificação do Trabalho: BR-77
Maceió, Brasil, Agosto de 2005
METODOLOGIA DE MAPEAMENTO DE PERDAS E DETERMINAÇÃO DO PROGRAMA
EFICIENTE DE COMBATE ÀS PERDAS NÃO-TÉCNICAS
Tema 1.2: Perdas Não Técnicas
Autores: SEBASTIÁN BUTTO (AUTOR RESPONSÁVEL) e FELIPE PERECMANIS (CO-AUTOR)
Empresa ou Entidade: SIGLASUL CONSULTORIA LTDA.
PALAVRAS-CHAVE:
Perdas Não Técnicas
Metodologia de Cálculo de Perdas Não-Técnicas
Perfil de Carga de Perdas Não-Técnicas
Mapeamento Eletro-Geográfico
Programa Eficiente de Combate a Perdas
Modelo financeiro de avaliação de perdas
DADOS DO AUTOR RESPONSÁVEL
Nome: Sebastián Butto
Cargo: Gerente de Projetos
End: R. Visconde de Inhaúma, 58, grupo
1401, Centro, Rio de Janeiro, RJ
Tel: (21) 2518-0740
Fax: (21) 2518-0740
E-Mail: [email protected]
RESUMO
O presente trabalho procura definir o que
seria um programa eficiente de combate às
perdas não-técnicas, tendo em vista o
horizonte temporal relativo ao período
tarifário da distribuidora para se atingir o
percentual final de perdas a ele associado.
A importância deste tema se deve não só por
motivos de gestão eficiente das empresas
como também por questões de adequação à
regulação vigente.
Neste sentido, ao longo do texto busca-se
apresentar as ferramentas necessárias para a
determinação deste programa eficiente.
Inicialmente, são abordados os aspectos
conceituais envolvidos na definição das
perdas eficientes, tendo em conta os aportes
e a recuperação de receita envolvidos no
programa para se atingir seu patamar.
Em seguida, são levantados os estudos e os
instrumentos que são necessários para se
desenhar adequadamente um programa de
combate às perdas não-técnicas.
Por fim, é proposto um modelo de análise
econômico-financeira
deste
tipo
de
programa, com vistas a determinar seu nível
de eficiência.
1.
INTRODUÇÃO
Este trabalho se refere ao entendimento da
SIGLASUL do que seria necessário para a
definição de um programa eficiente de
combate às perdas não-técnicas, tendo em
vista o horizonte temporal relativo ao
período tarifário da distribuidora para se
atingir o percentual final de perdas a ele
associado.
A importância deste tema se deve não só
por motivos de gestão eficiente das
empresas como também por questões de
natureza regulatória.
Desta forma, entende-se que deva existir um
tratamento específico na definição das
perdas eficientes, que proporcione incentivos
positivos no esforço de redução do nível de
perdas não-técnicas, beneficiando tanto a
concessionária quanto seus consumidores.
No capítulo 2, apresenta-se os aspectos
conceituais envolvidos na determinação das
perdas não-técnicas eficientes, tendo em
conta os custos e a recuperação de receita
envolvidos. No 3º capítulo, são levantados
os estudos e os instrumentos a eles
associados que são necessários para se
desenhar adequadamente o programa de
combate às perdas. Por fim, no capítulo 4, é
proposto um modelo de análise econômicofinanceira do programa de combate às
perdas, com vistas a determinar seu nível de
eficiência.
que os recursos aportados no combate às
perdas não superem o valor esperado de
recuperação de receita (análise custo x
benefício), onerando a concessão.
Desta maneira, no sentido estritamente
econômico, o patamar de perdas nãotécnicas assim definido implicaria na
condição de equilíbrio em que o custo
marginal de combate seja igual à receita
marginal recuperada o que equivale a um
problema de minimização de custos.
Por um lado, há de se considerar os custos
de combate às perdas, que estão associados
aos custos operacionais e às anuidades dos
investimentos, ambos medidos por KWh
recuperado, que são necessários ao plano de
combate. Por outro lado, tem-se a perda de
receita resultante do nível de perdas
associado à implementação do plano em
análise.
Observa-se no gráfico abaixo que, para se
atingir percentuais de perdas mais baixos, é
necessário maior dispêndio no seu combate,
com taxas crescentes de incremento de
custo. Este fato é explicado pela
produtividade decrescente dos planos de
combate, na medida em que estratégias mais
diretas e menos dispendiosas (regularização
de medidores, recadastramento da base
comercial, entre outros) são implementadas
primeiramente para, em seguida, outras
ações serem escolhidas.
R$/kWh
2.
CRITÉRIO DE EFICIÊNCIA –
ASPECTOS CONCEITUAIS
Entende-se que a metodologia para a
definição deste programa de combate
deveria respeitar o aspecto legal e
regulatório de preservação do equilíbrio
econômico-financeiro,
baseando-se
no
princípio de eficiência econômica, de forma
Perdas Não-Técnicas (%)
Gráfico 1 - Custo do Combate às Perdas
No gráfico seguinte (curva em vermelho),
observa-se que, na medida em que o
percentual de perdas diminui, a perda de
receita a ele associada diminui mais que
linearmente, com taxas decrescentes, frente à
diminuição da perda não-técnica.
Este fato se deve ao comportamento racional
dos clientes, os quais podem mudar seu
padrão de consumo, diminuindo sua
utilização perdulária, pois serão cobrados
pelo serviço de fornecimento de energia.
A partir da soma do VPL dos custos de
combate (curva azul) com o VPL da perda
de receita (curva vermelha), ambos
associados a cada nível de perdas que se
objetiva, constrói-se a curva de custos total
(curva preta, do gráfico resultante). O ponto
de mínimo desta curva representa o
percentual de perdas comerciais eficiente a
se atingir no horizonte temporal associado:
R$/kWh
Perda de Receita
Custo do Combate
Adicionalmente, uma parcela da energia
faturada, que anteriormente era fraudada não
se converte em receita, devido à
inadimplência
dos
clientes
agora
regularizados.
Outro aspecto que contribui para que a
relação entre perdas e receita associada não
seja linear é a composição do mercado
atingido, ou seja, o mix de consumidores e
de diferentes tarifas implica em diferentes
níveis de retorno. A figura abaixo
esquematiza a associação entre percentual de
perdas não-técnicas e perda de receita.
R$/kWh
Custo Total
Nível Estrutural
Nível Eficiente
Perdas Não-Técnicas (%)
Gráfico 3 - Nível Eficiente de Perdas Não-Técnicas: Minimização de Custos
3. ESTUDOS E INSTRUMENTOS
NECESSÁRIOS
Para implementar a metodologia exposta, é
necessário
o
desenvolvimento
de
determinados estudos específicos e a
implementação de ferramentas para sua
execução,
apresentados
de
forma
esquemática a seguir:
Estudo
SócioEconômico
Estudo
EletroGeográfico
Estudo
Gestão
Interna
Planos-Pilotos
Perdas Não-Técnicas (%)
Gráfico 2 - Perda de Receita
As curvas indicadas nos dois gráficos
anteriores, na realidade, expressam valores
presentes líquidos “VPLs” dado que as
mesmas envolvem custos de planos de ação
e perdas de receitas associadas a um
horizonte temporal que permita atingir o
nível de perdas correspondente.
Determinação das Causas
Perdas NãoGerenciáveis
Perdas
Gerenciáveis
Avaliação de
Programas de Combate
Nível Eficiente de Perdas
3.1 ESTUDO ELETRO-GEOGRÁFICO
Base cadastral atualizada
O objeto deste estudo consiste em mapear e
caracterizar as perdas por sub-regiões da
área de concessão, através de:
Necessária para complementar o sistema
geo-referenciado no sentido de possibilitar a
vinculação biunívoca dos clientes aos ativos
da
empresa
(transformador
MT/BT,
alimentador, subestação e linha de
subtransmissão).
• elaboração
de
BALANÇOS
ENERGÉTICOS por áreas elétricas,
permitindo identificar os alimentadores e
transformadores com maiores perdas
técnicas e não-técnicas;
• estimativa do PERFIL DE CARGA
DOS FRAUDADORES em potencial
associados
aos
alimentadores
e
transformadores com maiores níveis de
perdas. Isto permitirá identificar os
principais tipos de consumo responsáveis
pelas perdas não-técnicas, facilitando a
objetividade na implementação do
programa de combate;
• identificação, por áreas eletrogeográficas, das PRINCIPAIS CAUSAS
ASSOCIADAS ÀS PERDAS NÃOTÉCNICAS (tipos de fraude, condições
de medição etc).
Software de perdas técnicas
A aplicação deste software de cálculo das
perdas técnicas é necessária na determinação
das perdas não-técnicas, objeto deste
trabalho, por diferença entre as perdas totais
e as perdas técnicas. O software deve ser
desenhado com base nas características
técnicas do sistema elétrico da empresa.
Medição nos alimentadores e subestações
Torna-se imprescindível a obtenção de
medições permanentes tanto da totalidade
dos alimentadores quanto das subestações
para a determinação de perdas por grandes
áreas elétricas.
3.1.1
A fim de ser realizar este estudo, é
necessária a implementação de uma série de
instrumentos, dentre os quais, destaca-se:
Sistema geo-referenciado
É necessário para se conhecer a efetiva
localização dos ativos e clientes da empresa.
O mesmo deverá ser implementado por
completo, nas unidades consumidoras, nos
transformadores MT/BT, alimentadores MT,
subestações, linhas de subtransmissão e nos
pontos de conexão com a Rede Básica.
BALANÇOS ENERGÉTICOS
Em primeiro lugar, deve-se estimar a perda
total por alimentador e subestação, como a
diferença entre a energia medida na entrada
da subestação ou na saída do alimentador e o
consumo lido dos clientes a eles vinculados,
obtidos através do sistema de faturamento.
Em segundo lugar, para cada alimentador e
subestação, desagrega-se as perdas totais em
técnica e não-técnica através da utilização do
software já citado.
Cabe alertar que a montagem do balanço
energético do alimentador somente é
possível caso sua configuração elétrica não
se altere, ou seja, que permaneça atendendo
os mesmos clientes. Caso contrário, o
balanço se estenderá ao conjunto de
alimentadores para os quais a configuração
se mantenha inalterada.
Posteriormente e com base nas perdas
estimadas,
são selecionados aqueles
alimentadores com maiores níveis de perdas
não-técnicas sobre os quais se desenvolverá
um estudo mais detalhado, buscando
conhecer:
• A desagregação das perdas não-técnicas
destes alimentadores em média e baixa
tensão.
• Identificar os transformadores MT/BT
associado a estes alimentadores,
responsáveis por maior parte das perdas
não-técnicas na baixa tensão.
Para este fim, deverão ser medidos, de forma
simultânea, todos os transformadores
vinculados a cada alimentador selecionado,
o no mínimo uma amostra altamente
significativa.
A soma das energias registradas em todos os
transformadores de um mesmo alimentador
possibilita estipular, o montante de energia
passante para a baixa tensão.
A perda total no nivel de MT, de cada
alimentado, é calculada como a diferença
entre a energia medida na saída do
alimentador e a soma de:
consumo lido dos clientes em MT a
ele vinculado; e
energia total dos transformadores
MT/BT a ele ligados;
Por outro lado, calcula-se a perda em BT do
alimentador como a diferença entre a soma
das energias dos seus transformadores
MT/BT e o total do consumo lido dos
clientes em BT ligados a este alimentador.
Finalmente, procede-se à estimativa da perda
por transformador, comparando sua medição
com o somatório dos consumos lidos dos
clientes a ele conectados.
Novamente, aplica-se o software de
determinação de perdas técnicas para se
obter, a partir da perda total, a parcela nãotécnica em MT e BT e por transformador.
Destaca-se a necessidade de realizar a
medição
dos
alimentadores
e
transformadores MT/BT por um período
mínimo tal que expurgue o problema de não
simultaneidade destas medições em relação à
medição comercial dos clientes. Isto decorre
do fato de se contar com um componente
sazonal no consumo dos clientes e que a
leitura comercial dos clientes não é
simultânea entre eles.
Finalizada a etapa dos balanços energéticos
e no intuito de identificar o perfil de carga
das perdas não-técnicas e os tipos de
consumidores potencialmente responsáveis,
torna-se necessária a realização de uma
campanha de medição dos clientes da
empresa.
3.1.2
PERFIL DE CARGA DOS
POTENCIAIS FRAUDADORES
O objetivo desta parte do estudo consiste em
deduzir da curva de carga do transformador,
ou do alimentador medido, a curva de carga
representativa dos clientes a ele vinculado,
para assim determinar:
O perfil de carga das perdas nãotécnicas de cada alimentador ou
transformador MT/BT;
A responsabilidade dos diferentes tipos
de consumo nas perdas não-técnicas
deste ativo.
Neste sentido, deve ser realizada uma
Campanha de Medição dos clientes em
MT e BT, com o objetivo de estimar seus
padrões de consumo característicos (curvas
de carga), tomando como base as medições
realizadas
sobre
uma
amostra
estatisticamente representativa do total.
Clusterização – obtenção de tipologias
Com base nas curvas de carga dos clientes
obtidas na Campanha de Medição, procedese à estimação das tipologias representativas
de seu consumo “clientes-tipo”. Para tal fim,
deve-se empregar algum tipo de software de
agrupamento – ou clusterização – (por
exemplo, o Demand Cluster Program1),
aplicado ao resultado obtido da campanha de
medição.
Este software permite agrupar curvas de
carga, segundo sua semelhança, em curvas
de cargas representativas de um conjunto
(clusters), onde os clusters obtidos
sintetizam as tipologias de consumo dos
clientes da distribuidora.
Finalmente, obtém-se os perfis de carga do
fraudadores através da vinculação do perfil
de carga de perdas não-técnicas de cada
transformador ou alimentador aos perfis de
carga típicos dos clientes a eles vinculados.
Este perfis típicos são obtidos através do
processo
de
clusterização
acima
mencionado.
Vinculação Cliente-Perdas
A vinculação permite calcular a participação
de cada cliente-tipo na composição da curva
de perdas não-técnicas. O procedimento
consiste em combinar as curvas de carga dos
clientes-tipo para reconstituir esta última. A
vinculação pode ser enfocada como um
1
Desenvolvido pela Siglasul Consultoria
problema de programação linear, onde as
variáveis a determinar são os coeficientes de
participação de cada curva de cliente na
curva de perdas.
A função objetivo a minimizar é o erro total
de ajuste, definido como a soma da distância
quadrática entre a curva de perdas nãotécnicas e a curva estimada como
combinação linear das curvas dos clientestipo.
3.1.3
PRINCIPAIS
CAUSAS
ASSOCIADAS ÀS PERDAS NÃOTÉCNICAS
Este última
etapa do estudo eletrogeográfico tem por objeto estimar a
participação das possíveis fontes de perdas
não-técnicas. Neste sentido, para se realizar
uma sólida pesquisa de campo, deve-se fazer
o levantamento populacional das condições
de medição (clientes com ligação direta,
medidores internos, etc.),além de um
levantamento amostral das causas das
perdas, mediante processos de fiscalização.
3.2 ESTUDO SÓCIO-ECONÔMICO
Permite identificar as variáveis sócioeconômicas explicativas das perdas nãotécnicas através de diagnósticos qualitativos
e estudos econométricos.
São analisadas as principais características
da área de concessão, em comparação com
as outras distribuidoras, e sua correlação
com as perdas para, finalmente, por meio de
um estudo econométrico, se estimar,
quantitativamente,
a
parcela
de
responsabilidade de cada causa no
percentual total das perdas não-técnicas.
O objetivo final deste estudo é classificar,
conceitualmente, as perdas não-técnicas em
gerenciáveis e não-gerenciáveis, tendo em
vista a capacidade da empresa de combatêlas:
Perdas Não-Gerenciáveis: perdas cuja
eliminação das causas depende da ação
de outras instâncias (governo, judiciário,
polícia etc).
Perdas Gerenciáveis: perdas que são
passíveis de combate por parte da
distribuidora. Caracterizam-se pelo fato
de que, mediante determinado nível de
investimentos e gastos operacionais em
planos de combate, consegue-se, no
médio prazo, reduzir, ou até mesmo
eliminá-las.
A título de exemplificação, utilizando como
variáveis explicativas o IDH, o Índice de
Criminalidade e dois outros aspectos
hipotéticos (Aspecto 3 e 4), em termos
gráficos, espera-se a seguinte classificação
resultante:
16,00% ESTUDO DA GESTÃO INTERNA
3.3
Parcela
Gerenciável
DAS PERDAS
5,40%
12,00%
Para
identificar
os fatores gerenciáveis
Perda NãoTécnica
Total
2,40% administrativas,
intrínsecos
às perdas
a
Parcela
8,00% da Empresa
1,50%
empresa 15,10%
deverá levantar
e diagnosticar
os
Não-Gerenciável
2,10%
sistemas e processos
envolvidos nas
4,00%
atividades
de Leitura,
3,70%Faturamento e Envio
das faturas.
0,00%
3.4
Perdas Nâo-Técnicas Classificados por Causa
PLANOS PILOTOS
IDH
Aspecto 3
Gestão Distribuidora
Criminalidade
Aspecto 4
Uma vez determinar as perdas não-técnicas
gerenciáveis, deve-se estimar a parcela de
elas que é economómicamente viavel de ser
combatida.
Portanto, e uma vez completados estes
estudos, é importante implementar Planos
Pilotos de combate às perdas, os quais irão
fornecer informações imprescindíveis quanto
aos seguintes aspectos:
consumo recuperado por ação e
taxa de inadimplência destes “novos
clientes”.
custos de combate;
taxa de reincidência de clientes
fraudulentos;
Ressalta-se que estas informações são vitais
na análise de viabilidade econômicofinanceira dos programas de combate.
4. PROGRAMA
EFICIENTE
COMBATE ÀS PERDAS
DE
Com base nos Planos Pilotos e nos
resultados dos estudos antes ditos, formulase os programas de combate, associando
investimentos e custos necessários, bem
como a recuperação de receita esperada.
Em seguida, elabora-se um ranking dos
programas de combate às perdas, escolhendo
aqueles com uma relação benefício x custo
positiva a traves de um modelo econômico
financeiro. Com base nos programas
escolhidos pode-se definir, para o período
tarifário, os seguintes aspectos:
•
O patamar eficiente de perdas a
atingir ao final do período.
•
a trajetória de perdas;
•
a receita a se recuperar;
•
o plano de investimentos (Capex);
•
os custos associados (Opex);
4.1
Modelo da Análise EconômicoFinanceira do Combate às Perdas
Na montagem deste modelo, devem ser
elaborados diferentes cenários de combate às
perdas não-técnicas no intuito de proceder à
análise de sensibilidade dos resultados.
A tal fim, foi montado um mesmo modelo de
fluxo de caixa para proceder à avaliação
econômico-financeira de sua implementação
Inicialmente, é necessária a apresentação de
um breve glossário, com algumas definições
utilizadas ao longo do texto:
GLOSSÁRIO
• Novas Fraudes e Reincidências: reflete o
comportamento dos consumidores da área de
concessão no que diz respeito às fraudes de
energia. Configura-se como uma espécie de
“perda inercial”, ou seja, é o volume de
energia que, a cada ano, caso não houvesse
ações de inspeção e regularização,
converter-se-iam em novas perdas nãotécnicas. Neste sentido, diz respeito, tanto às
novas fraudes que, a cada ano são originadas
no mercado da concessionária, quanto à
reincidência daquelas já regularizadas no
período anterior.
• Recuperação de Perdas: é o montante
total de energia que se consegue recuperar
por meio dos planos de combate
implementados. A fim de estimar a energia
recuperada, por cada tipo de ação de
combate, precisa-se manter uma base de
registros com os montantes recuperados nos
programas pilotos. A Recuperação de
perdas, portanto, é a soma do montante em
MWh recuperado por conta da neutralização
de Novas Fraudes e Reincidências (que
apenas mantém o percentual de perdas nãotécnicas) com o montante relativo à
Redução de Perdas Não-Técnicas .
• Redução de Perdas Não-Técnicas:
montante (em MWh) de energia responsável
por redução líquida do percentual de perdas
não-técnicas da empresa. Resumidamente, é
a diferença entre o volume anual de Energia
Recuperada e aquele relativo a Novas
fraudes e Reincidências.
• Mercado Atendido: mercado cativo +
suprimento regulado + livre + recuperação
de perdas comerciais (ou seja, “novo
mercado faturado” advindo da recuperação
de perdas).
O fluxo de caixa modelado para o presente
estudo compreende as seguintes variáveis de
entrada:
4.1.1
Recuperação de Receita
Para cada cenário, este item é calculado com
base na Redução de perdas comerciais anual
(em MWh), valorada pela tarifa média
ponderada do mercado agregado – que deve
ser corrigida anualmente pelo Fator X – e,
finalmente, descontando-se a inadimplência
do consumo entrante.
Para o cálculo da Receita Recuperada,
utiliza-se os resultados obtidos nos PlanosPilotos e nos estudos já citados no capítulo
anterior.
4.1.1 Custeio Evitado Pela Manutenção
Representa o custo que se evita ao realizar o
combate à fraude, objetivando a manutenção
do índice de perdas não-técnicas. Este
parâmetro é quantificado com base montante
físico relativo às Novas Fraudes e
Reincidências,
entre:
valorado
pela
diferença
a tarifa de venda ponderada e
“corrigida”, conforme apresentado no
item anterior e;
a tarifa media de compra de energia.
Em relação às Novas fraudes e
Reincidências, destaca-se que, sua projeção
pode ser feita com base no percentual que
seu
montante
físico
representou
historicamente, em relação ao mercado
atendido.
No caso dos Cenários de redução
significativos de perdas, este percentual
tende a aumentar, uma vez que a entrada
deste novo consumo faturado se traduz em
clientes
potencialmente
fraudadores,
deteriorando, assim, a composição do
mercado da empresa.
4.1.2 Desembolso Anual (Capex + Opex)
Em cada cenário, obtém-se o Desembolso
Anual, multiplicando-se a Recuperação de
Perdas (MWh), já definida no glossário,
pelo Custo Marginal de Combate (CMg)
do referido ano, calculado com base no
histórico de Energia Recuperada e
Desembolsos associados, ambos em termos
anuais.
Levando-se em conta que o Desembolso
anual2 necessário para proceder à
Recuperação de Perdas compreende uma
parcela de investimento anual (Capex) e
outra de custos operacionais (Opex)..
Ressalta-se que, assim como a receita
recuperada, os valores de desembolso (e
portanto CMg de combates) são obtidos a
2
Tanto o Desembolso quanto a Energia Recuperada e
outros itens do fluxo de caixa são definidos para o
ano tarifário através do cálculo pro rata de seus
valores nos anos calendários.
partir dos Planos-Pilotos e nos estudos
implementados.
4.1.3 Depreciação: calculada, anualmente,
com base na BRR bruta e com a taxa de
depreciação anual.
4.1.3.1 Base de Remuneração Regulatória
bruta (BRR bruta)
Para fins de cálculo da BRR bruta,
incorpora-se apenas uma parcela dos
investimentos (Capex) realizados, tendo em
vista que parte destes novos ativos irão
simplesmente substituir ativos já existentes
(p. ex. instalação de medidor externo e a
implementação de cabos multiplex nas
redes).
4.1.4
Tributos – Imposto de Renda:
calculado com a alíquota de 34% sobre o
EBIT.
4.1.5
Base
de
Regulatória Líquida
Remuneração
A
BRR
líquida
resultante
destes
investimentos é incorporada no último ano,
como uma entrada do fluxo de caixa, tendo
em vista o entendimento de que seria
reconhecida pela ANEEL para o período
tarifário
subseqüente.
Desta
forma,
procedeu-se ao cálculo da BRR líquida
como sendo a BRR bruta do último ano
subtraída da depreciação acumulada.
4.1.6
Resultados do Modelo
Como resultado da implementação desta
metodologia de fluxo de caixa com as
variáveis de entrada explicitadas nos itens
anteriores e a taxa de desconto de 11,26%,
referente ao WACC (depois de impostos)
regulatório, obtém-se, como resultado,
valores presentes líquidos (VPLs) associados
a cada cenário
A seguir, apresenta-se a esquematização
gráfica do fluxo de caixa proposto:
Fluxo de Caixa (R$)
Ano-Teste
RECUPERAÇÃO DE RECEITA
(+) Rec1
Ano 2
Ano 3
(+) Rec2 (+) Rec3
Ano 4
(+) Rec4
Desembolso Anual
(-) Des1
(-) Des2
(-) Des3
(-) Des4
Custo Evitado pela Manutenção
(+) Cev1
(+) Cev2 (+) Cev3
(+) Cev4
Depreciação dos Investimentos de Combate
(-) Dep1
(-) Dep2
(-) Dep3
(-) Dep4
EBIT
Ebit1
Ebit2
Ebit3
Ebit4
Imposto sobre lucro (34%)
(-) IR1
(-) IR2
(-) IR3
(-) IR4
Depreciação dos Investimentos de Combate
(+) Dep1
Investimentos
(-) Inv1
Recuperação da BRR Líquida de Perdas
FLUXO DE CAIXA
VPL
FC1
(+) Dep2 (+) Dep3
(-) Inv2
FC2
(+) Dep4
(-) Inv3
(-) Inv4
FC3
(+) BRRL
FC4
Analisando de forma analítica, tem-se a
seguinte apresentação para o VPL do fluxo
de caixa:
(
VPL = (BRRL )× 1
1 + Wacc
)+
4
4
(
FC t × 1
1 + Wacc
t =1
)
t
onde
FCt = Ebitt + Dept − Invt − IRt
e
Ebitt = Re ct − Dest + Cevt − Dept
Entende-se como programas eficientes
aqueles que inclui todos os projetos com
VPL maior o igual a zero. O ultimo projeto
a ser incluso no programa é aquele cujo VPL
é zero, ou seja, onde a taxa interna de
retorno (TIR) do fluxo de caixa se iguale ao
WACC regulatório. .
5.
CONCLUSÃO
Apresentou-se
neste
trabalho,
uma
metodologia para a definição do programa
eficiente de combate às perdas não-técnicas,
baseando-se no princípio de manutenção do
equilíbrio
econômico-financeiro
da
distribuidora.
No capítulo 2, foram discutidos os aspectos
conceituais envolvidos na determinação das
perdas não-técnicas eficientes.
No 3º capítulo, foram levantados os estudos
e os instrumentos necessários para se
desenhar adequadamente um programa de
combate às perdas.
Por fim, no capítulo 4, foi proposto um
modelo de análise econômico-financeira de
programas de combate às perdas, através do
qual é determinado o seu nível de eficiência.
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1 RESUMO O presente trabalho procura definir o que seria um