Crónica nº 29 / EMPRESA MINEIRA DO LENA! * A "EMPRESA MINEIRA DO LENA" foi a responsável pela exploração das minas de carvão da Bezerra, no concelho de Porto de Mós (ainda distrito de Leiria), desde 1740 a meados do século XX. * Da outrora ativa linha de caminho-de-ferro da Bezerra, apenas subsistem alguns trilhos, rodeados por uma bela paisagem natural. O caminho-de-ferro servia de meio de escoamento do carvão extraido daquelas minas. * A linha de caminho-de-ferro, que ligava as minas a Porto de Mós, apresentava um trajeto bastante irregular que lhe permitia vencer a estrutura da Serra da Pevide. As Minas de Carvão da Bezerra entraram, pela primeira vez, em funcionamento no ano de 1740. No entanto, até cerca de 1876 a sua exploração foi muito inconstante. Já entre os anos de 1885 a 1888 deu-se o período de maior expansão da atividade mineira. * As Minas foram reconhecidas pela população porque a empresa proprietária foi uma das maiores do distrito até finais da Segunda Guerra Mundial (1945). Nos dias de hoje, todas as explorações no local se encontram inativas. * Buscando um pouco a sua história, temos que foi no ano de 1740 que começou a grande epopeia da Empresa Mineira do Lena que em muito contribuiu para o desenvolvimento de Porto de Mós e zonas limítrofes. As primeiras minas a serem exploradas, foram, precisamente, as da Bezerra, sendo estas as mais importantes para o historial da empresa devido à qualidade do seu carvão. Nesta altura surgiram também outras empresas ligadas a este setor ou que viriam a depender dele de forma mais ou menos direta. * Como se sabe a profissão de mineiro era bastante árdua, que exigia muito trabalho muscular nas escavações do subsolo quente e húmido. Devido ao terramoto do ano de 1755 (no reinado de Dom José) Portugal sofreu graves danos e Lisboa ficou de tal modo destruida que para a sua reconstrução tiveram que se deslocar trabalhadores de todo as partes do país. A Empresa Mineira do Lena não foi exceção e viu os seus operários partirem para a capital, onde permaneceriam durante os cinquenta anos da reconstrução da cidade. Já entre os anos de 1808 a 1811 Portugal foi alvo de invasões francesas, o que, novamente, impossibilitou o trabalho regular desta empresa. No ano de 1838 o nosso país parou a sua industrialização devido à guerra civil, afetando, uma vez mais, a Empresa. * Como Engenheiro Geólogo, o Capitão CARLOS RIBEIRO investiu nesta empresa com meios financeiros e materiais em 1885 e, já em 1876, esta empresa recebeu um enorme desenvolvimento com a entrada de capital estrangeiro. Nesta altura esta empresa era uma das mineiras portuguesas, tendo catorze (14) minas de carvão, sendo que sete (07) se localizavam dentro do concelho de Porto de Mós. Ainda neste concelho exista uma mina de prata, concretamente no Arrimal. * O progresso da exploração de carvão nesta região atingiu o seu auge entre os anos de 1885 a 1888, quando eram seus proprietários o português José António Lopes e o Barão de Duparehy (capitalista francês) que assegurou o investimento em Portugal por intermediação do Marquês de Chambourg. * No ano de 1889 foi publicado um relatório no catálogo da Exposição Industrial Portuguesa sobre os investimentos desta empresa mineira que atingiram centenas de milhares de francos; contudo os trabalhos realizados nesta exploração mineira foram obrigados a parar devido à Primeira Grande Guerra Mundial. * No reaparecimento desta empresa o engenheiro, de seu nome Inglês Aboim contribuiu em muito, durante os anos de 1914 a 1918. O engenheiro das minas - Mr. Ackermann - e escritores como Pedro Muralha e Albino Foraz Sampaio publicaram alguns registos sobre os recuros mineiros de todo o concelho de Porto de Mós. Registavam-se nesse época camadas de carvão de trinta e quarenta metros de altura. Previa-sew o esgotamento do carvãso nesta área dentro de quinhentyos anos, contando-se extrair cerca de cem toneladas diárias. À época a "Empresa Mineira do Lena" explorava as reservas nos concelhos de Porto de Mós, Batalha e Alcobaça, propriamente nas freguesias de Alcaria, Serro Ventoso, São João, São Pedro e Turquel. O carvão das minas do Lena exportava-se para as fábricas de cimento de Alhandra,para a empresa de cimentos de Leiria e de Bezerra. A CP fazia o transporte pelo caminho-de-ferro do Lena via Martingança. * Chegou a existir um projeto realizado por Carlos Bleck e Soares Franco para a continuação da linha férrea através de túnel que ligaria a Serra da Bezerra à cidade de Tomar; no entanto, isso não passou das intenções. Estes acionistas projetaram igualmente a abertura de uma mina desde o Figueiredo até à Saraça, explorando todo o solo de Serro Ventoso até Cabeça Veada, onde Soares Franco cria na existência de carvão de alta qualidade. * Como em qualquer investigação, existiram algumas explorações mineiras com resultados negativos, como foi o caso das explorações em Ferraria (perto do Tojal) onde o carvão era de péssima qualidade. Igualmente nas Alcanadas, Chão Preto, Golfeiros, Hortas, Celas e Fontes dos Marcos as explorações foram negativas, ao desperdiçar-se grandes quantidades de carvão devido à abundância de enxofre que provocava a sua combustão ao ser exposto ao ar livre. * No ano de 1925 a exploraçãode carvão, por parte desta empresa, foi de sete mil cento e quarenta toneladas, registando-se 5970 provenientes da mina de "Vale Bragadas" na Bezerra e o restante nas minas de Alcanadas e Chão Preto. Faziam parte desta empresa dois engenheiros, seis capatazes/mestres, três funcionários administrativos, três guardas e oitenta funcionários (destes dez eram mulheres). Nesse ano (1925) registou-se um ferido em acidente de trabalho. A empresa era ainda proprietária de dois motores a vapor de 35 cv cada um, quatro automóveis com 60 cv, dois compressores com 25 cv e cinco perfuradoras (registos elaborados pela Empresa Mineira do Lena). Os principais acionistas da empresa, Conde de Lousã e Dom José Pimentel, o administrador Dom José Saldanha da Gama e o engenheiro Paul Marjon resolveram - entre 1926 e 1928 - mandar construir a linha férrea da Serra da Pevide. * Posto isto, temos que no ano de 1926 o caminho de ferro apenas chegava à Batalha (concelho), alargando-se catorze quilómetros no ano de 1927. * Porto de Mós só conheceu a ferrovia no dia 09 de Setembro de 1930, construindo-se trinta e quatro quilómetros de caminho de ferro, por iniciativa de Dom José Serpa Pimentel, que não veio a assistir à sua inauguração, por haver falecido no ano anterior (1929). As linhas férreas foram demasiadamente importantes ao longo de todos estes anos, transportando não só o carvão, como também pessoas, mercadorias e informação. * Ao falar-se da EMPRESA MINEIRA DO LENA não nos podemos esquecer de referir o Senhor Joaquim Matos Correia - conhecido por Joaquim da Catraia - que durante muitos anos conduziu os comboios da linha de ferro daquela empresa e sendo o último maquinista dos comboios ferroviários do concelho de Porto de Mós, tendo falecido no ano de 2006. Write by "texasselvagem", in Gondomar (Oporto), Portugal October.2012 Publicado em 26 de fevereiro de 2013