i 01082013 Periodicidade: Diária Temática: Saúde Classe: Informação Geral Dimensão: 254 Âmbito: Nacional Imagem: S/Cor Tiragem: 80000 Página (s): 12 Uma receita para os todos os males Nem sempre a redução dos números se traduz naquilo que realmente interessa doentes que se sentem melhor e que vivem mais tempo temente o benefício em saúde obtido após se atingir um objectivo numérico depende em grande parte de como se chegou lá Ema Paulino Na semana passada foi publicado um artigo no New England Journal of Medi cine que explorava o tema da prescri ção médica responsável Mais precisa mente o termo utilizado no artigo é accountable que pressupõe muito mais do que simples responsabilidade Está lhe assim subjacente a necessida de de prestar contas ou seja que a pes soa que desenvolve uma certa activida de deve ser capaz de explicar regular mente o que anda a fazer como o faz por que o faz quanto custa e o que pla neia fazer a seguir A mensagem transmitida pelo artigo é a de que os médicos passam muito tempo a tratar números pressão arte rial níveis de colesterol hemoglobina glicosilada etc baseados na convicção de que o sucesso está dependente da sua redução Aliás todas as mensagens que são veiculadas por normas profis sionais marketing farmacêutico e cam panhas de saúde assim o indiciam Con tudo nem sempre a redução dos núme ros se traduz naquilo que realmente interessa doentes que se sentem melhor e que vivem mais tempo Muito frequen Por exemplo os autores do artigo rele vam o facto de que a medicação é nor malmente a forma mais rápida e fácil de atingir um determinado objectivo e que as estratégias com impacto na alte ração dos estilos de vida acabam por ser preteridas O mesmo se pode afirmar quanto à utilização de medicamentos mais caros em detrimento de outros mais baratos mesmo quando a investi gação mais recente sugere que estes últimos além de mais eficazes do pon to de vista dos resultados em saúde que podem ser diferentes dos números são também mais seguros E dão como exem plo dois medicamentos distintos que contribuem para a redução do nível de colesterol total mas em que só um deles demonstrou que diminui o risco de enfar te do miocárdio Neste caso o medica mento mais barato No fundo este artigo vem chamar a atenção para o facto de que nem sem pre a fixação de objectivos e a sua pro moção é por si só garantia de melho res resultados Tanto em termos clíni cos como em termos económicos E aquilo que se sugere neste artigo tanto se pode aplicar à prática da prescrição médica como a todas as actividades que são desenvolvidas pelos vários profis sionais de saúde Dispensar um medi camento sem aconselhamento não pro duz o mesmo resultado do que quando a dispensa é acompanhada de informa ção específica que vise a promoção da adesão à terapêutica e a sua toma res ponsável e segura Há um risco em se estabelecer metas sem atender ao que é feito e como é fei to para se lá chegar E a melhor receita para este risco é o compromisso por parte dos profissio nais de saúde em basearem a sua prá tica profissional na mais recente evidên cia clínica e custo efectividade associa da Para tal é necessário que esta informação seja disponibilizada de for ma isenta e atempada A este respeito há que realçar a criação recente das Comissões de Farmácia e Terapêutica regionais e da Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica assim como o desenvolvimento de ferramentas infor máticas de suporte à prática clínica Mas esta receita tal como as culiná rias também necessita de alguns ingre dientes adicionais Um maior investi mento na promoção da literacia em saú de da população em geral e uma maior comunicação e articulação entre os diver sos profissionais de saúde Que dentro das suas competências específicas se devem apoiar mutuamente para a ava liação selecção e disponibilização das melhores tecnologias de saúde existen tes Não para atingir objectivos numé ricos mas para contribuir efectivamen te para que os cidadãos tenham uma saúde melhor e assim vivam bem duran te mais tempo Farmacêutica Escreve à quinta feira