A preservação da natureza da informação em
tempos modernos
*Por Patrícia Brum
Natureza. Informação. Preservação. Três conceitos que, se entendidos separadamente, podem se
interrelacionar de formas a garantir a história das civilizações geração após geração bem como as
evoluções de suas identidades.
O que se pode entender da natureza de algo ou alguém? Por ser um conceito amplo, vamos, aqui
neste breve artigo, abrir mão dos juízos de valor e nos ater àquilo que foi fixado como de
conhecimento geral para, então, compreendermos como a preservação da informação pode
alterar a evolução de toda uma geração.
Natureza. s. f.
Conjunto de coisas que existem realmente.
Mundo físico.
Condição própria, essência dos seres.
Organização de cada animal: a natureza do peixe é viver na água.
Conjunto de caracteres particulares, de disposições que distinguem um indivíduo.
Espécie, tipo: objetos de natureza diferente.
Teologia cat. Estado de natureza, estado natural do homem.(Dic. Aurélio Eletrônico vers.9)
Com base na definição de natureza, exposta acima, é possível entender por “natureza da
informação” o princípio de “algo” que realmente existe e, mais do que isso, que possui essência
própria, não sendo, portanto, nenhum tipo de derivação, mas sim a origem. Ainda pode ser
entendida como detentora de um cerne físico, organizado e singular.
Num primeiro momento pode parecer um contra-senso entender a informação, elemento abstrato,
como algo físico e de condição própria que é, ao mesmo tempo, organizado. Para desfazer essa
trama, vamos considerar a definição mais comum da palavra “informação”, dada pelo fundador da
ciência que estuda a Teoria da Informação, Claude Shannon. Para ele, a “transmissão de
qualquer sinal de lugar para o outro” trata-se da transmissão de uma informação.
Nesse sentido, a informação em si já existe antes que obtenhamos conhecimento sobre ela, daí a
sua condição própria. O que altera a sua natureza é a transmissão dela por meio de algum sinal
que pode chegar por qualquer um dos cinco sentidos humanos: visão, audição, paladar, tato ou
olfato. Apesar de abstrata em sua origem, a informação se torna física no momento em que é
expressada, transmitida ou por que não dizer organizada? Mesmo que não seja pela melhor forma
de organização, qualquer sentido utilizado na emissão e/ou recepção da transmissão da
informação precisa de critérios para se tornar algo concreto, que realmente exista.
Em uma evolução natural da inteligência humana e da formação de suas civilizações, o
surgimento de fatos e sua transmissão também evoluíram em diferentes formas, o que não só
alterou como intensificou, ao longo dos anos, a transformação diária da natureza da informação.
Em outras palavras, não se entenda por natureza da informação os dados ligados aos primórdios
da civilização ou às primeiras formas de comunicação (transmissão dos fatos/sinais). Mas sim
todo e qualquer conjunto de características particulares que determinem elementos materiais ou
imateriais (ex.: fatos, objetos ou seres). Mesmo que um desses seja descoberto apenas no século
XXI, ainda assim sua essência terá tido condição própria e organizada.
A magnitude da informação está exatamente nessa autosuficiência tão desejada pelos homens.
Que poder maior poderia haver? Desde as formas mais antigas de vida, acreditava-se (e temiase) algum tipo de poder superior, proveniente da informação que se obtinha por um dos cinco
sentidos humanos. E se a comunicação com esses deuses/Deus foi/é dada por sinais, foi através
deles que a humanidade descobriu o poder da informação, cada vez mais disputado pelos
chamados detentores do conhecimento. Daí a máxima de que “conhecimento é poder”.
Em uma análise mais profunda, o conhecimento pode ser entendido como aquilo que é
conservado por alguém por meio da vivência/práxis. Estamos falando de uma sistemática que
extrapola a natureza da informação, passando a transformá-la, conservá-la (registrá-la) por meio
de progressivos instrumentos disponíveis ao registro da experiência vivida a partir da informação.
Sem o registro, a informação não pode ser preservada e sem preservação não há conhecimento,
o que coloca em xeque a sobrevivência da nossa história, identidade e evolução. Que os
cientistas da informação possam garantir o gerenciamento do tempo, da energia e dos recursos
necessários para tal preservação, mantendo-a a salvo da obsolência.
*Patrícia Brum é jornalista e pós-graduanda em Gerenciamento Estratégico da Informação
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