Palmas – TO UFT/ABZ 24 a 28 de maio TEORES DE NITROGÊNIO URÉICO NO LEITE DE VACAS ENTRE 30 E 90 DIAS PÓS PARTO 1 2 3 Loreno Egidio Taffarel , Patricia Barcellos Costa , Francisco Araldi Junior , Maximiliane Alavarse 2 2 3 Zambom , Magali S. dos Santos Pozza , Rejane Herpich 1 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Zootecnia – Unioeste/Mal. [email protected] 2 Professores do Curso de Zootecnia – CCA / UNIOESTE -C. Rondon – PR 3 Zootecnistas C. Rondon – PR. e-mail: Resumo: O objetivo deste trabalho foi determinar os teores de uréia do leite em função da produção e do escore de condição corporal (ECC) em vacas em lactação da região Oeste do Paraná no município de Marechal Cândido Rondon. As informações foram agrupadas de acordo com a produção diária (kg de leite por dia): ≥ 25 kg, 20 - 24 kg, 15 - 19 kg e ≤ 15 kg. Os dados da pesquisa foram coletados em 12 propriedades e foram avaliados 85 animais em lactação, sadios e com estágio de lactação compreendido entre 30 e 90 dias pós-parto. A avaliação do ECC e a coleta de amostras de leite para determinação do NUL foram realizadas na ordenha da tarde em apenas um único dia destinado a cada propriedade, e o período de coleta foi entre os dias 03 de abril e 11 de maio de 2008. Os resultados do estudo demonstraram que não houve diferença entre as categorias de produção estudadas com relação aos teores de NUL e ECC, porém houve correlação negativa entre NUL e ECC, o que indica que à medida que o resultado da avaliação do ECC foi mais elevado, a tendência do resultado do NUL foi reduzir, ou o inverso. A proteína da dieta quando fornecida acima das exigências aumenta a proteína do leite, principalmente a fração não protéica e por isso este aumento é considerado marginal. Há uma alta correlação entre a amônia ruminal, a uréia sangüínea e a uréia no leite com o balanço da dieta, principalmente na proporção de proteína degradável e não degradável no rúmen. Conclui-se que a adoção, por parte dos produtores de leite, de uma dieta equilibrada, maximiza a produção de leite e mantém o NUL e ECC dentro de padrões recomendados, além de aumentar a rentabilidade da atividade. Palavras chaves: correlação, escore da condição corporal, produção de leite Abstract: the aim of this study was to determine the levels of milk urea in relation to the production and body condition score (BCS) in lactating cows in the region western Paraná, in the municipality of Rondon. Data were grouped according to daily production: ≥ 25 kg, 20-24 kg, 15-19 kg and ≤ 15 kg. The survey data were collected in 12 farms and were evaluated 85 lactating animals, healthy and stage of lactation between 30 and 90 days postpartum. The evaluation of BCS and the sampling were performed at the afternoon milking in just one day for each property, and the collection period was between days April 03 and May 11, 2008. The study results showed no difference between the categories of production studied with respect to content of MUN and BCS, but there was a negative correlation between MUN and BCS, which indicates that as the evaluation result of the BCS was higher, the trend was the results of the MUN reduce, or reverse. The protein diet when given up to the requirements increases the milk protein, especially the non-protein fraction and so this increase is considered marginal. There is a high correlation between ruminal ammonia, urea and blood urea in milk with balanced diet, especially the proportion of degradable protein and non-degradable in the rumen. It is concluded that the adoption by producers of milk, a balanced diet maximizes milk production and keeps the MUN and BCS within recommended standards, and to increase profitability. Keywords: body condition score, correlation, milk production Introdução Torrent (2000) afirma que a degradação de proteínas e nitrogênio não protéico no rúmen produz amônia que é absorvida pela parede ruminal e convertida, principalmente no fígado, em 1 Palmas – TO UFT/ABZ 24 a 28 de maio uréia. Como a uréia é uma pequena molécula orgânica e que se difunde facilmente pelos tecidos junto com água, também se difunde do sangue para o leite. Block (2000) relata que o nitrogênio ou proteína bruta do leite é composto por caseína, proteínas do soro e frações de nitrogênio não protéico (NNP) e que no leite de bovinos, a proteína verdadeira constitui 95,1% do nitrogênio total e a maior parte do NNP é uréia. A caseína constitui 87% do nitrogênio total ou 82% da proteína verdadeira, sendo a caseína e a gordura os principais determinantes da produção de queijo. Devido ao exposto, há uma tendência mundial de remunerar o leite de acordo com o percentual de proteína, e há discussões para se pagar ao invés de proteína total por teor de proteína verdadeira. O objetivo deste trabalho foi determinar os teores de uréia do leite em função da produção e do escore da condição corporal (ECC). Material e métodos As coletas de amostras de leite foram realizadas em 12 propriedades, localizadas no município de Marechal Cândido Rondon - PR, oriundas de 85 animais em lactação, sadios e com estágio de lactação compreendido entre 30 e 90 dias pós-parto. As amostras foram coletadas na ordenha da tarde em apenas um único dia destinado a cada propriedade e o período de coleta foi entre os dias 03 de abril e 11 de maio de 2008. Após a obtenção das amostras de leite, foram registradas as informações do escore da condição corporal. Os animais foram divididos em lotes conforme a produção de leite diária, da seguinte maneira: lote ≥ 25 kg; lote 20-24 kg; lote 15-19 kg e lote ≤ 15 kg. O número de animais, dentro de cada categoria, foi determinado pela disponibilidade de animais em estágio de lactação entre 30 e 90 dias pós-parto e a produção de leite diária, sendo que o lote A apresentou 49, lote B 26, lote C 6 e lote D 4 animais. As amostras individuais de leite foram transportadas até o laboratório de Nutrição Animal e Análises de Alimentos da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, onde foram processadas e em seguida determinados os teores de nitrogênio uréico no leite, através dos kits comerciais UREIA CE (Labtest Diagnóstica SA) com aplicação manual e determinação por reação urease Berthelot, seguindo o procedimento de análise conforme descrito por Magalhães (2003), através da adição de 2,5 mL de ácido tricloroacético (TCA) a 25% em 5 mL de leite, seguida de filtração e análise do filtrado. Esse método dispensa centrifugação da amostra o que agiliza o tempo de análise. A preparação das amostras para análise seguiu a metodologia recomendada pelo fabricante, que consiste em pipetar 0,01 mL de amostra filtrada depositá-la em tubo de ensaio com capacidade de 10 mL e em seguida adicionar 1,0 mL de solução urease tamponada. Os tubos com as amostras preparadas, juntamente com os tubos de solução de branco e solução padrão, foram levados ao banho maria por 5 minutos a uma temperatura de 37º C e após este tempo, os tubos foram retirados e 1,0 mL de solução oxidante de uso foi colocado em cada tubo, incluído o branco e padrão e em seguida retornaram a imersão a 37º C por mais 5 minutos.Terminados os procedimentos de preparo de amostras, estas foram levadas ao espectrofotômetro para determinação dos valores de absorbância dos testes, com a utilização de 600 nanômetros de comprimento de onda. Embora o KIT UREIA CE, possua indicações apenas para determinação de uréia em sangue e urina, mostrou-se seguro ao ser utilizado por Magalhães (2003) em amostras de leite, 2 que verificou um r de 95% entre os teores de NUL obtidos pela análise com KIT URÉIA CE e a análise automatizada em laboratórios. As leituras obtidas das amostras foram divididas pelo valor da amostra padrão e multiplicadas por 70 para a obtenção do teor de uréia, que em seguida foi multiplicado por 1,5 para descontar o efeito da diluição do volume de ácido adicionado à amostra e por 0,4667 para obtenção do valor de nitrogênio uréico. As variáveis NUL e ECC e a correlação entre elas foram submetidos ao teste T a 5% de significância, pelo programa SAS versão 8,2 (2000). Resultados e Discussão A média geral de concentração de NUL foi de 10,67 mg/dL e a amplitude está apresentada na Tabela 1. Os resultados demonstram não haver diferença entre as categorias de produção estudadas com relação aos teores de NUL. Vilela et al. (2005) avaliaram vacas leiteiras com 2 Palmas – TO UFT/ABZ 24 a 28 de maio condição corporal, estágio de lactação e produção semelhante as estudadas neste experimento, e não obtiveram variação nos teores de NUL com aumento de 100% do concentrado da dieta, evidenciando somente aumento na produção total de leite, escore corporal e significativa elevação no custo de produção. Torrent (2000) afirma que as concentrações de uréia no leite variam de rebanho para rebanho e entre vacas do mesmo rebanho o que indica a ampla variação entre a ingestão de proteína, energia e água pelos animais. Valores da uréia no leite de vacas com uma ingestão ótima de matéria seca enquadram-se tipicamente na faixa de 12 – 18 mg/dL e a faixa de variação da concentração de uréia no leite de vacas individuais que consomem as mesmas dietas é de + 6 e – 6 da média do grupo. Isto significa que se um grupo tem uma média de 12 mg/dL de uréia no leite, 95% do grupo deveria estar entre valores de 6 – 18 mg/dL de uréia no leite. O ECC não teve efeito sobre a produção de leite, o que pode ser observado na Tabela 1. A média geral do ECC foi de 2,9 pontos com amplitude de 2,02 a 4,11, o que demonstrou a recuperação de reservas corporais mobilizadas no período de transição pós parto. Rennó et al. (2006) avaliaram os efeitos do escore da condição corporal ao parto (ECCP) sobre a produção e composição do leite, a curva de lactação e o padrão de mobilização de reservas corporais em vacas da raça Holandesa e concluíram que nas vacas primíparas não houve efeitos do ECCP sobre a produção, a curva de lactação e a composição do leite, exceto para porcentagem de gordura. O mesmo resultado foi observado para vacas multíparas com ECCP inferior a 3,0. Todavia, as vacas multíparas com ECCP igual ou superior a 3,25 produziram mais leite e com maior teor de sólidos totais, e a curva da lactação apresentou pico de produção mais alto. A correlação entre ECC e NUL está apresentada na Tabela 2. O coeficiente de correlação, tanto de efeito do ECC sobre o NUL ou do NUL sobre ECC, foi negativo. Estes resultados indicam que à medida que o ECC foi avaliado como mais alto, a tendência do NUL foi ter um resultado mais baixo, ou o inverso. Conclusões Para as variáveis NUL e ECC, não houve variação entre as diferentes categorias de produção e a correlação entre ECC e NUL foi negativa, o que indica que à medida que o resultado da avaliação do ECC foi mais elevado, a tendência do resultado do NUL foi reduzir, ou o inverso. Orientar os produtores para adotarem dietas equilibradas em energia e proteína para cada categoria de produção permite manter níveis de NUL e o ECC adequados para maximizar o desempenho produtivo e reprodutivo, e aumentar a rentabilidade da atividade. Referências Bibliográficas 1 BLOCK, E. Nutrição de vacas leiteiras e composição do leite. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE QUALIDADE DO LEITE, 2., 05 a 08 nov., 2000, Curitiba. Anais... Curitiba: Setor de Ciências Agrárias – UFPR, 2000. 104 p. 2 MAGALHÃES, A. C. M. Teores de nitrogênio uréico no leite e no plasma de vacas mestiças. Viçosa, 2003. 56 p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal de Viçosa, 2003. 3 RENNÓ, F. P.; PEREIRA, J. C.; SANTOS, A. D. F. et al. Efeito da condição corporal ao parto sobre a produção e composição do leite, a curva de lactação e a mobilização de reservas corporais em vacas da raça Holandesa. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., Belo Horizonte, v. 58, n.2, p. 220-233, Abr. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/abmvz/v58n2/29664.pdf>. Acesso em: 29 mar. 2010. 4 SAS INSTITUTE. SAS/STAT Software: changes and enhancement through release 8.2. Cary, 2000. 5 TORRENT, J. Nitrogênio uréico no leite e qualidade do leite. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE QUALIDADE DO LEITE, 2., 05 a 08 nov., 2000, Curitiba. Anais... Curitiba: Setor de Ciências Agrárias – UFPR, 2000. 104 p. 6 VILELA, D.; LIMA, J. A.; REZENDE. J. C. et al. Qualidade do leite produzido por vacas holandesas mantidas em pastagem coast-cross suplementadas com concentrado. Boletim de Indústria Animal Boletim Industria Animal, v. 62, n.3, p. 221-228, 2005. 3 Palmas – TO UFT/ABZ 24 a 28 de maio Tabela 1. Médias das variáveis nitrogênio uréico no leite (NUL) e escore de condição corporal (ECC) referente às diferentes categorias de produção e respectivos intervalos de confiança da média populacional (IC) Categoria NUL (MG/dL) IC** ECC IC** ≥ 25 kg 9,01a 7,68 ≤ NUL ≤ 10,34 2,97ª 2,87 ≤ ECC ≤ 3,07 24-20 kg 10,67a 7,62 ≤ NUL ≤ 10,72 2,97ª 2,80 ≤ ECC ≤ 3,13 19-15 kg 11,32a 5,31 ≤ NUL ≤ 17,34 2,97ª 2,62 ≤ ECC ≤ 3,31 ≤ 14 kg 13,56a 6,24 ≤ NUL ≤ 20,86 3,06ª 2,02 ≤ ECC ≤ 4,11 Médias seguidas por mesma letra não diferem entre si pelo teste t, a 5 % de probabilidade; ** Intervalo de confiança da média populacional a 95% de índice de confiança. Tabela 2. Coeficiente de correlação entre as variáveis analisadas a 5% de probabilidade. r Variável ECC NUL ECC 1,0 NUL - 0,30 0,0062* - 0,30 0,0062* 1,0 *p<0,05. 4