moça, vinha de olho no marido dela, embora por sua vez, já morasse amigada com
outro Manoel. Desconfiada, dia e mais dia, Florita (que, nos bons tempos, o esposo
chamava de Pequenina) se aconselhou com a velha Chica, centenária, moradora do
Jequitibá, e sua receita foi seguida tintim por tintim. Assim é que o Manelalmeida, em
três tempos, não foi mais homem para mulher nenhuma. Tudo com uma simpatia
simples, e se o senhor quiser saber, eu conto: pega-se uma meia, pé esquerdo (direito
não serve), já usada pelo companheiro, enfia-se nela duas agulhas (dessas fininhas
de costurar à mão) virgens, que nunca tenham sido tocadas para serviço, digo melhor,
compradinhas na loja de pouco, e coloca-se a meia embaixo do pote de água de beber.
Está amarrado o homem... Foi no caminho do cemitério, no sábado que e veio, quando
encontrou Luzia Felicidade, atentando bem para as palavras de Pequenina (ditas de
raiva, sem passar pelo coração) que o homem sentiu um frio na espinha, uma dor no
fundo da cabeça, uma tremedeira nos beiços lá dele, uma leseira pelo corpo todo, a
amiga lhe perguntou se tinha visto lobisomem. Visto não tinha, mas aí se acabou o
amor com a Luzia, com grande satisfação para o marido dela (ou companheiro, sei
bem não) que era como se diz um conformado, e também deu de dar muita tristeza
para Florita, pois não é que seu homem tomou muito nojo dela (e covardia na força de
homem) e sumiu para as bandas de Santo Eduardo. Pois foi que dele não se teve mais
notícias, até que o Brás Silva disse à Pequenina que vira ele de casa montada, no Porto,
para uma “zinha”, e tudo podia ter ficado nesse tamanho se a Florita, enrabichada, não
tivesse resolvido partir em busca do marido. Isso só foi resolvido depois de ter voltado
à companheiragem com a vizinha (que afinal não era tão má pessoa assim), a qual lhe
dissera que sendo casada nas duas leis não precisava de se matar a trabalhar na roça,
a trinta mil-réis por dia, a seco, pois o marido tinha de sustentá-la com a tal pensão. Foi
assim que, tendo conseguido uma ponga na boleia de um caminhão-tanque para chegar
até Santo Eduardo, não eram bem passados dez quilômetros, o motorista começou uma
conversa agradável, das gostosas mesmo, que fazem elogio doce que nem um mel, e
foi por causa dessa boa conversa que Florita Silvério de Almeida, vulgo Pequenina, se
viu (ela que não tinha culpa nenhuma) dormindo com o come-poeira numa pensão em
Santana, onde passado o primeiro alumbramento (aquele enjoo da viagem, indaiá-açu
farfalejando de cada lado da estrada) tinha virado, muito sem jeito, rapariga da Favica,
ela, mulher direita, conquanto pobre.
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Santana, povoação a três quilômetros de Ponta d’Areia, tem um largo, com a
capela, a escola, pensão, um bar, o posto de gasolina (bem ao centro) e a Agência
Fiscal, presença onipotente do Estado, com sua “tronqueira” a impedir a passagem
dos veículos que não tenham o beneplácito do funcionário. Era o 27 de agosto. Desde
manhãzinha, o fiscal Pim estava com gosto de guarda-chuva na boca. Na véspera se
excedera em aperitivos e cervejinhas geladas e o fígado dera o grito de alarma. O
soldado Eurídice, preto alto e valente, seu auxiliar, nem aparecera. Protegido de todos os
delegados, que o usavam quando precisavam de usar energia, devia estar comprando
“muambas” para a venda da mulher, que era mesmo dele, ficava ao lado do Posto Fiscal
e não pagava imposto. Os comerciantes matriculados tinham reclamado, mas Pim lavara
as mãos e os mandara ao coletor. Cleto Pim, o fiscal, alto e magro, barbado, três meses
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moça, vinha de olho no marido dela, embora por sua vez, já