Editorial Laranjeiras Questões para ... PROF.EDSON SAAD Por , Ademir Batista da Cunha O Prof. Edson Saad, um cardiologista de renome nacional , titular da disciplina de cardiologia da Universidade Federal do Rio do Janeiro, pesquisador e autor de inúmeros trabalhos científicos, cativa os pacientes desde os mais humildes até os mais aristocráticos, exercendo um fascínio entre os incontáveis alunos que já passaram pela sua disciplina conduzindo-os geralmente até a tese de mestrado e doutorado na maioria das vezes, é o nosso convidado nessa página que se destina a trazer a experiência e a opinião daqueles que podemos considerar um modelo de profissional na área da cardiologia. Foi dele que ouvi a máxima e inesquecível lição: Julgando que suas dificuldades em relação à disponibilidade de tempo fossem muito grandes, deixei para procurar a sua orientação quando um de nossos trabalhos já estava bastante adiantado, e lhe expliquei a razão dessa demora, ao que ele me respondeu: “Meu caro, quando necessitares de um favor ou da ajuda de alguém , procure aquele que for mais ocupado , que ele certamente lhe ajudará”. 3. A presença forte da tecnologia, a penetração da internet entre alunos e professores mudou a direção da atividade de ensino no mundo, ou a relação professor/ aluno ainda tem o lugar de fascínio que a sua geração ocupou? Prof. Edson Saad – Mudou a relação-aluno entre aquele que sabe tudo e aquele que não sabe nada, para dois iguais em busca de sua própria educação continuada. Isto não reduziu o papel do professor. O lugar de fascínio em outras gerações como o meu caro Ademir menciona, depende do professor, de sua dedicação, do seu saber, da maneira de comportar-se com os enfermos, de raciocinar, e isto não desapareceu nos dias de hoje, antes são mais requeridas e apreciadas pelos alunos. O que não tem mais lugar nos dias de hoje é para o professor sabe-tudo, cujo saber é contemporâneo da investidura, e que se conquista pela autoridade não pela capacidade do educar propriamente dita. 4. O que representou para o Sr. O período em que foi o responsável pela disciplina de cardiologia da UFRJ? 1. Repensando a sua atividade profissional, o que representou o ensino da cardiologia e a prática assistencial da cardiologia em sua vida? Prof. Edson Saad – Após poucos meses na chefia de Cardiologia passei anos como chefe da Unidade de Serviços Clínicos. Retornando por vontade própria, tive um período de atividade intensa, mas já encontrei uma Universidade corroída por penúria de recursos e hierarquicamente destruída. Prof. Edson Saad – O ensino da cardiologia e a prática assistencial da cardiologia representaram absolutamente tudo. Associada a dedicação à família elas representaram a minha razão de viver. Tão precoces foram que teFoi a época das “eleições” que desnho a impressão que nasceram comigo truiu o que havia de bom e estabelecido “O cam inho... é ainda o do coração!” desde o dia que me ligaram o cordão como se fosse possível eleger o comanumbelical! Foi paixão e a um tempo pradante de um avião no dizer do nosso quezer. Nada mais gratificante que ver um rido Halley Pacheco de Oliveira. seu aluno crescer, subir e ter sucesso na vida. Lembro Creio que para muitos esta “democratização” da aqui versos de Catulo da Paixão Cearence: Universidade era um bem, mas resultou na escolha de “O que é belo e sempre novo é “políticos” e não de preparados para o cargo. A idéia de ver o filho do povo nascer, crescer que cada um pode ocupar qualquer cargo foi nefasta e e subir para galgar o galarium fez acabar a figura do Professor. Os que resultaram exercer o Magistério com fascínio ainda permaneceram, mas da glória, passar ao Pantheon da já sem liderança e sem poder criar uma Escola. CriouHistória e conquistar o Porvir” se, assim, a figura do professor-pedinte que, ainda que Mister é ainda reconhecer que esta atitude dos proresponsável pela disciplina devia pedir como colaborafessores – satisfação com o crescimento dos discípulos ção e não obrigação. – é mesmo fundamental a sua sobrevivência. Ninguém Nesta época recebemos a visita do Prof. Paul Taylor, sobrevive sem magnanimidade!! de Farmacologia Clínica da Universidade de Londres, trazido pelo nosso mestre Solero. Apresentamos-lhe muitos colegas: Prof. Fulano, Prof. Ciclano, etc... No domingo, no 2. Em qual dessas atividades o coração do almoço em minha residência, ainda em Santa Teresa, cardiologista bateu mais forte? ouvi dele o seguinte comentário: “Universidade estranha a sua, onde todos são “Professores”. Venho do país que Prof. Edson Saad – Aparentemente de modo igual, mais presa a liberdade, e que também é o país em que a mas perscrutando lá nas profundezas da minha alma o liberdade é mais defendida. Tenho muita gente ilustre no ensino e a educação médica ocupam o lugar de primazia. meu Departamento. Nós os chamamos de “lectures”, 1 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 1 2/1/2001, 07:44 Editorial Laranjeiras “Sênior lectures”. Reader, mas Professor sou eu, e sou eu é que mando”. vas e as utilizava profusamente nos seus pacientes. Nelson Botellho Reis foi um cérebro privilegiado, dotado de notável sentimento crítico – como ele mesmo dizia, “com independência intelectual”. Transmitiu essas qualidades aos seus discípulos, mas não era um homem disciplinado ou disciplinador. Tive a honra de concorrer com Prof. Carvalho Azevedo pela Cadeira de Cardiologia da Universidade Federal Fluminense e quase tive a honra de tê-lo outra vez como contendor na Universidade Federal do Rio de Janeiro, a que ele desistiu para manter-se fiel a uma única Instituição. Nelson Botelho Reis fazia parte do staff da Clínica do Prof. Magalhães Gomes, quando eu ali assumi as minhas funções. Deixou exemplos indeléveis do raciocínio clínico, do saber sem falsa modéstia, sem arrogância, deixou um exemplo de dedicação extremada à Medicina. Não se deixou levar pelo fascínio da economia, e dos quais tenho, portanto, a recordação a mais agradável. Assim, o período em que fui responsável pela disciplina de cardiologia foi muito difícil, mas não perdi o entusiasmo e dei continuidade aos esforços para fundar o Instituto de Cardiologia. 5. Como o Sr. descreveria a partida da Escola de Medicina da Universidade do Brasil na Praia Vermelha, para a Ilha do Fundão? Prof. Edson Saad – Isso já foi feito com maestria pelo Prof. José de Paula Lopes Pontes – “nós nos mudamos de um palácio para uma casa de cômodos”. Muitos, eu inclusive, aceitamos essa mudança com uma certa tristeza, como se nós abandonássemos a casa materna, mas com alegria de passar a contar o Hospital de Clínicas, à época, na linha de frente da assistência médica e de equipamentos, realização indelével e inesquecível do meu grande mestre Prof. Clementino Fraga Filho. Na época houve também um sentimento de desvalorização, porque perdeu-se o nome “Universidade do Brasil”. Isto era desnecessário e uma tendência ao nivelamento por baixo, que predominou em tudo nesse país na época pósrevolução. Certo é que perdemos a individualidade, deixou de haver a agregação em torno de mestres de profundo saber, e estabeleceu-se mesmo a idéia de que o Fundão era muito longe (um grande mestre dizia que “entre o Fundão e a Escola de Medicina, existia a Avenida Brasil”). Creio que este sentimento de separação entre os grupos que vieram persiste ainda hoje sem que se tivesse encontrado um denominador comum para o mesmo. 8. Na sua opinião, qual o papel da cardiologia do Rio de Janeiro no cenário das pesquisas nacionais e, quais as suas possibilidades em relação a uma produção científica que possa contribuir para evolução da cardiologia brasileira? Prof. Edson Saad – Vivemos numa época de propaganda e marketing. É hábito agora afirmar que a cardiologia do Rio de Janeiro “é isso ... e aquilo ...” esquecendo-se de que só um trabalho intenso leva a algum resultado e que para uma boa pesquisa é necessário disciplina intelectual. Nos dias de hoje é ainda necessário independência da indústria farmacêutica ou da indústria de equipamentos e assim a cardiologia do Rio de Janeiro, poderá contribuir muito mais com a evolução da cardiologia brasileira do que com a propaganda de que a cardiologia carioca “é isso... etc, etc”. 6. O Sr. Poderia apontar caminhos para o jovem cardiologista, indeciso entre a prática clínica ou a definição pela superespecialização em um método complementar? 9. Os Congressos da especialidade representam verdadeiramente um avanço a cada ano ou inovações poderiam ser feitas, visando propiciar esse avanço, sobretudo na área das pesquisas de base? Prof. Edson Saad - O caminho… é ainda o do coração! Para ao jovem aquilo para o que sente ser maior vocação. Este aspecto da cardiologia é característico do mundo de hoje, especialmente determinado pela atividade cruel dos Seguros Saúde. A remuneração da especialidade por consulta médica é ridícula. Ridículo também é o pagamento por métodos complementares, mas muito mais economicamente gratificante para os médicos. Há também a questão do modelo. O superespecialista ganha rápida e tem hoje modelos predominantemente especialistas de métodos, e por isso a escolha deve ser orientada por razões de vocação e não econômicas ou de conveniência. Prof. Edson Saad – Por várias vezes, na Sociedade de Cardiologia, tive ocasião de defender que os Congressos das especialidades deveriam ser de 2 em 2 anos. Mais do que nunca isto hoje é verdadeiro. O custo do comparecimento ao Congresso é perverso e pune os menos favorecidos. Para os mais favorecidos, eles serão convidados completamente financiados pelos Congressos, quando a grande maioria que necessita atualizar seus conhecimentos e amplia-los os custeia pessoalmente. Há que se questionar hoje nos Congressos Nacionais e mesmo nos Internacionais, na era da Internet, a sabedoria de Congressos anuais. Há, contudo uma estrutura por trás disto tudo econômico/ financeira que é um show-room para os Laboratórios farmacêuticos, para indústrias de equipamentos e para algumas instituições. Mais valeria uma atualização de 2 em 2 anos em que houvesse de tudo para os experientes naquelas áreas: pesquisa básica, pesquisa clínica, clínica cardiológica, etc.. 7. Duas personalidades são marcantes na história da cardiologia carioca: Arthur Carvalho de Azevedo e Nelson Botelho Reis. Como o Sr. as definiria? Prof. Edson Saad – Dois grandes mestres, completos e acabados. Carvalho Azevedo foi, sobretudo, um disciplinador. Um homem profundamente dedicado ao ensino, de pós-graduação, onde introduziu técnicas no- 2 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 2 2/1/2001, 07:44 Editorial Laranjeiras 10. Considerando que o antigo Hospital de Cardiologia de Laranjeiras passa a Instituto Nacional de Cardiologia, com inúmeras atribuições, entre elas a geração de programas de prevenção e linhas terapêuticas normativas para o Ministério da Saúde com repercussão nacional, como as Universidades poderiam participar desse processo com sua imensurável experiência de ensino e pesquisa? Prof. Edson Saad – O Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras já nasceu maduro, já nasceu com capacidade própria de pesquisa. Pessoalmente, sou contra atividades normativas que são contra a liberdade individual; pode haver, isso sim, aconselhamento, de melhor qualidade dada que as chamadas diretrizes atuais têm limitações consideráveis. As Universidades poderiam participar por programas conjuntos, onde somaria a sua experiência de ensino e pesquisa. Isto seria provavelmente bom para o Instituto e ótimo para a Universidade. Estamos à espera desta associação e muito felizes com o que leio seja a intenção do Instituto. 3 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 3 2/1/2001, 07:44 Editorial Laranjeiras 4 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 4 2/1/2001, 07:44 Editorial Laranjeiras Vol. 1, No 3, Novembro 2003 S U M Á R I O AS BASES DO CONHECIMENTO CARDIOVASCULAR ANATOMIA CARDÍACA - PARTE 2 IDENTIFICAÇÃO DAS CAVIDADES CARDÍACAS NORMAIS Adriana Innocenzi, Viviane Brito, Raquel Pulstinik, Ana Helena J L Dorigo, Fabio Bergman, Walter Peixoto, Paulo Renato Travancas, Renata M Bernardes, Érika Moura e Luiz Carlos Simões. Opinião HÁ EVIDÊNCIAS QUE JUSTIFIQUEM A ADOÇÃO DE UMA ESTRATÉGIA INVASIVA PRECOCE NAS SÍNDROMES ISQUÊMICAS AGUDAS SEM SUPRADESNIVELAMENTO 8 DO ST ? Antônio Sérgio Cordeiro da Rocha, Paulo Roberto Dutra da Silva FATORES PSICOSSOCIAIS DE RISCO PARA DOENÇAS CARDIO VASCULARES Mauricio Lougon Artigos originais EXTRA-SÍSTOLES VENTRICULARES COMPLEXAS E A PRESERVAÇÃO DA ATIVIDADE PARASSIMPÁTICA NA CARDIOPATIA CHAGÁSICA CRÔNICA Ademir B. Cunha, Delma M. Cunha, Roberto C. Pedrosa Daniel A. Kopiler, Roberto M.da Silva Sá 10 INFLUÊNCIA DO DIABETES MELLITUS NA MORBIMORTALIDADE HOSPITALAR DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO Marco Antonio de Mattos, Daniele Gusmão Toledo, Carlos Eduardo de Mattos, Marcelo Heitor Vieira Assad, Gilson Almeida, Rafael Abtibol, Diego Nery Benevides Gadelha, Bráulio dos Santos, Bernardo Rangel Tura 18 ANÁLISE DA ATIVAÇÃO VENTRICULAR UTILIZANDO O MAPEAMENTO DA FUNÇÃO DE COERÊNCIA ESPECTRAL QUADRÁTICA P. R. B. Barbosa, L.C. Bernardino Jr, J. Barbosa-Filho, I. Cordovil, J. Nadal 21 DILATAÇÃO ESTÁTICA POR VIA PERCUTÂNEA NAS LESÕES OBSTRUTIVAS GRAVES DO CORAÇÃO ESQUERDO Marco Aurélio Santos. Vitor Manuel Pereira Azevedo. ANGINA INSTÁVEL x ANGINA ESTÁVEL - RESULTADOS IMEDIATOS E TARDIOS APÓS IMPLANTE DE STENT CORONÁRIO Paulo Sergio de Oliveira, Marta Labrunie, Waldir Malheiros, Leonardo Duarte, Norival Romão, Sergio Leandro, André Pessanha, Marcelo Lemos, Marcio Macri, Maria da Conceição Alves, Rodrigo Guerreiro, Fabio Mota. “ANEURISMA DO SEIO DE VALSALVA” INSTITUTO NACIONAL DE CARDIOLOGIA LARANJEIRAS José Oscar R. Brito, Helena Martino, Darteson Gutierres, Marco A. Cunha, Cesar Nascimento, Vitor Salles, Rita Villela DRENAGEM VENOSA SISTÊMICA ANÔMALA AO ATRIO ESQUERDO – UM RARO DIAGNÓSTICO Luiz Carlos Simões, Adriana Innocenzi, Paulo Renato Travancas, Erika Moura, Viviane Brito, Raquel Pulstinik, Ana Helena J L Dorigo, Fabio Bergman, Walter Peixoto, Renata M Bernardes, Vitor Seixas. 25 30 34 44 5 75 79 ANOMALIA DE ARTÉRIA CORONÁRIA Caso clínico da Unidade Cardio-Intensiva Clínica Divisão de Terapia Intensiva INCL Cynthia K. Magalhães, Wagner de A.Alves, Fernanda Sampaio, Paulo S. Oliveira, Myriam S. P. Bueno, Rogério B. Chaves, Ari Medeiros, Clécio M.Gouvêa, Berdj A. Meguerian, Áureo C. Filho, Daniel Kasal, Luciana da R. Ferreira 81 CARDIOPATIA CONGÊNITA MÚLTIPLA NA IDADE ADULTA - DESAFIO TERAPÊUTICO Helena F. Martino, Áureo Carmo Filho, Hugo Pinto, Míriam Gaze, Yacy Nunes, Rita Villela. 86 ANEURISMA ANULAR MITRO-AÓRTICO CONGÊNITO E/ OU ADQUIRIDO NA ERA DA ECOCARDIOGRAFIA TRANSESOFÁGICA Cesar A. S. Nascimento, José Oscar R. Brito, Helena F. Martino, Luciana da R. Ferreira, Flávio R. Gouvêa, Rita Villela, Navin C. Nanda, Odilon N. Barbosa, Luciano J. Belém, Luís H. Weitzel 91 Metodologia Científica NOÇÕES RELEVANTES PARA SE TER EM MENTE AO REDIGIR. Mauricio Lougon 111 História 48 NAS LEMBRANÇAS DA “TURMA DOS 30”, A HISTÓRIA DO INCL Flávia Werlang 53 113 Ponto de Vista 58 O INSTITUTO NACIONAL DE CARDIOLOGIA LARANJEIRAS E A MEMÓRIA DA MEDICINA BRASILEIRA Marcio Arnaldo da Silva Gomes 116 Capa 60 BRINCAR ENSINA A VIVER A Função da Atividade Lúdica na Criança Submetida a Procedimentos Invasivos Lenira Akcelrud Finkel 5 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 72 Relato de Caso Em foco: Cardiopatias Congênitas Artigos de Revisão NECESSIDADES DE CIRURGIA CARDÍACA Regina Maria Aquino Xavier SÍNDROME CORONÁRIA ISQUÊMICA AGUDA INJÚRIA MIOCÁRDICA,INFLAMAÇÃO E ATIVIDADE PRÓ- TROMBÓTICA Cynthia K Magalhães, José Geraldo C Amino A APLICABILIDADE DA ECOCARDIOGRAFIA SOB ESTRESSE NA DOENÇA VALVAR E SUA UTILIDADE PRÁTICA Ana Cristina Camarozano, Luis Henrique Weitzel CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA E PERVIEDADE DOS ENXERTOS Felipe José Monassa Pittella A JUNÇÃO ATRIOVENTRICULAR - UMA ESTRUTURA MULTIFUNCIONAL Roberto Luiz M. da Silva Sá, Márcio L.A Fagundes, Fernando E. dos S.Cruz .F.º, Angela C. B. Valverde, Luiz H. Loyola, Raphael Zeratti M. da Silva, Rafael L. Fagundes, Thiago do S. da Silva Sá, Maria Elisa E. Matiello, e Vinícius M. Rodrigues CINTILOGRAFIA DE PERFUSÃO MIOCÁRDICA NA INVESTIGAÇÃO DE ISQUEMIA, SEM RECORRER AO ESTRESSE Dr Berdj A. Meguerian 62 2/1/2001, 07:44 119 Editorial Laranjeiras 6 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 6 2/1/2001, 07:44 Editorial Laranjeiras EDITORIAL LARANJEIRAS Vol. 1, No 3, Novembro 2003 REVISTA DO INSTITUTO DE REVISTA DO INSTITUTO NACIONALNACIONAL DE CARDIOLOGIA RIODE DEJANEIRO-RJ JANEIRO-RJ CARDIOLOGIALARANJEIRAS LARANJEIRAS-RIO EDITORES: Ademir Batista da Cunha Daniel Arkader Kopiler Luis Carlos Simões CONSELHO EDITORIAL Ademir Batista da Cunha, Daniel Arkader Kopiler, Carlos Scherr, Augusto Bozza, Jose Geraldo Amino, Paulo Sérgio de Oliveira, Antônio Sérgio C. Rocha, Paulo Roberto Dutra, Luis Carlos Simões, Helena F. Martino, Clara Weksler, Marco Aurélio dos Santos, Renato Vieira Gomes, Marco Antônio Mattos, Luis Henrique Weitzel, Walmir Barzam, Berdj Meguerian, Luis Eduardo Tessarolo, Roberto Sá, Lílian Faertes Nascimento, Paulo Moura, Ivan Luiz Cordovil de Oliveira, Jose Barbosa Filho, Cynthia Karla Magalhães, Paulo José de Andrade, Ana Carolina Gurgel Câmara, Renato Dias Barreiro Filho, Marcelo Viana Barros. Assessoria: Ayrton Seixas Jr. Editoração em Inglês e revisão de português: Paulina Becher A REVISTA EDITORIAL LARANJEIRAS é editada trimestralmente pelo Centro de Estudos do Instituto Nacional de Cardiologia, Rua das Laranjeiras 374, 12o andar, CEP 22240002 – Rio de Janeiro, RJ. Tel. (21) 2557-0894/Fax: (21) 22055097 E-mail: [email protected] Impressão: Grafica e Editora La Salle Tiragem: 1.500 exemplares Distribuição Dirigida Capa: Vanessa Beatriz Passos Espíndola CAPA 7 6 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 7 2/1/2001, 07:44 Opinião Editorial Laranjeiras Há Evidências que Justifiquem a Adoção de uma Estratégia Invasiva Precoce nas Síndromes Isquêmicas Agudas sem Supradesnivelamento do ST ? Rio de Janeiro - RJ Antônio Sérgio Cordeiro da Rocha*, Paulo Roberto Dutra da Silva** CKMB ultrapassavam o percentil 99 do normal, a incidência de IAM foi idêntica em ambas as estratégias, conservadora e invasiva. Na verdade, não há motivo plausível para a adoção de critérios diferentes para o diagnóstico de IAM espontâneo e do que ocorre após intervenções percutâneas. Desse modo, no estudo TACTICS, a incidência de IAM foi “reduzida” protocolarmente nos pacientes do grupo invasivo. A melhor resposta para essa indagação é: depende. Depende, basicamente, do objetivo terapêutico almejado. Os resultados dos ensaios terapêuticos comparativos entre a estratégia invasiva precoce e a conservadora revelaram resultados divergentes quanto à incidência de morte, IAM e necessidade de revascularização miocárdica (1-5). Desse modo, se o objetivo terapêutico for redução da mortalidade, o estudo VANQWISH demonstra que houve maior mortalidade no grupo de estratégia invasiva, comparada à conservadora. Na realidade, o aumento nesse desfecho ocorreu devido à mortalidade excessiva no grupo submetido à cirurgia de revascularização miocárdica mais precoce (1). Por outro lado, no estudo FRISC II, apesar da redução do risco absoluto ser de apenas 1,7%, a mortalidade foi estatisticamente maior na estratégia conservadora (2). Ainda nesse estudo, verifica-se que os critérios de indicação de cinecoronariografia na estratégia conservadora foram baseados na demonstração de isquemia grave em teste de esforço, sintoma limitante ou desenvolvimento de angina refratária ou recorrente na vigência de tratamento médico máximo. Portanto, essa conduta impôs uma desvantagem para os pacientes nessas condições. Nos outros estudos, TIMI 3B (3), TACTICS TIMI 18 (4) e RITA 3 (5), não houve diferença na mortalidade entre ambas as estratégias. Se, por outro lado, o objetivo terapêutico for ainda a redução dos episódios de angina refratária ao tratamento antiisquêmico ou recorrente, ou de angina que necessite de revascularização miocárdica ou re-hospitalização, todos os estudos comparativos têm demonstrado que a estratégia invasiva diminui esse risco em relação à conservadora (1-5). A adoção de conduta invasiva precoce sempre aumenta a chance da realização de revascularização miocárdica. Entretanto, com freqüência, existe dúvida quanto à identificação da lesão culpada pela síndrome isquêmica aguda (SIA). Os dados colhidos do estudo VANQWISH (7) mostram que uma ou mais lesões culpadas são identificadas em tão somente 63% dos casos de IAM sem Q. Portanto, em cerca de 37% dos casos, nenhuma lesão culpada pode ser encontrada. Estudos com ultra-som intravascular e em necrópsias de pacientes com SIA têm demonstrado que as lesões coronárias, particularmente após a rotura de placas, são complexas, com luz distorcida e difíceis de serem avaliadas com a angiografia convencional (8). Essas constatações tornam pouco sustentável a argumentação favorável à estratégia invasiva precoce em todos os casos de SIA. Sabe-se, também, que a trombose intraluminal contribui para a gravidade das lesões visibilizadas na cinecoronariografia nas SIA e que, quando esta é realizada um pouco mais tardiamente, com freqüência, observam-se lesões menos graves, por conta da resolução dos trombos. Na maioria dos ensaios terapêuticos, a demora na realização da cinecoronariografia resulta em redução do número de revascularizações percutâneas (8). Se o objetivo terapêutico for a redução da incidência de IAM não fatal, os estudos também mostram resultados contraditórios. Nos estudos TIMI 3B (3), VANQWISH (1) e RITA 3 (5), nenhuma diferença foi notada entre as estratégias, enquanto no FRISC II e TACTICS TIMI 18 (4) houve maior incidência de IAM não fatal no grupo conservador. Explicar tais diferenças é difícil, mas uma análise cuidadosa dos dados nos mostram que, por exemplo, no estudo FRISC II, os pacientes tratados de modo conservador, como mencionado anteriormente, necessitavam de altos graus de isquemia para serem investigados através da coronariografia. No estudo TACTICS, os pacientes do grupo conservador, submetidos à revascularização percutânea, foram tratados de modo diferente dos pacientes do grupo invasivo, isto é, apenas 59% deles usaram inibidor da glicoproteína 2b/3a contra 94% do grupo invasivo. Isto, com certeza, contribuiu para reduzir a incidência de IAM no grupo invasivo. Além disso, nesse mesmo estudo, o critério usado para o diagnóstico de IAM sem Q foi o adotado pela Sociedade Européia de Cardiologia e pelo Colégio Americano de Cardiologia (6). Esse critério implicava uma elevação de três vezes nos níveis da CKMB para ser firmado o diagnóstico de IAM após revascularização percutânea e elevação acima dos níveis normais nos tratados com estratégia conservadora. No estudo RITA 3, no qual IAM sem Q era diagnosticado toda vez que os níveis de Os ensaios terapêuticos randomizados (1,3-5) que analisaram a influência da estratégia invasiva versus a conservadora, segundo a estratificação do risco pelo escore do estudo TIMI (9), têm demonstrado que a primeira reduz o risco de eventos compostos (morte, IAM não fatal e angina recorrente ou refratária ou com necessidade de revascularização) em pacientes de alto risco, em comparação com a segunda. Já nos pacientes de baixo risco, a adoção de estratégia conservadora determina menor risco de eventos, enquanto nos pacientes de risco intermediário os resultados são indefinidos. Na verdade, quanto maior o risco avaliado pelo es- *Chefe da Divisão de Doença Coronária do INCL ** Médico da Divisão de Doença Coronária do INCL e Hospital Pró-Cardíaco 8 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 8 2/1/2001, 07:44 Editorial Laranjeiras 4. Cannon CP, Weintraub WS, Demopoulos LA, Vicari R, Frey MJ, Lakkis N, Neumann FJ, Robertson DH, DeLucca PT, DiBattiste PM, Gibson CM, Brunwald E, for the TACTICS Thrombolysis in Myocardial Infarction 18 Investigators. Comparison of early invasive and conservative strategies in patients with unstable coronary syndromes treated with the glycoprotein IIb/IIIa inhibitor tirofiban. N Engl J Med 2001; 344: 1879-87. core do TIMI ou pela positividade dos marcadores de necrose miocárdica, ou ainda pela presença de infradesnivelamento do segmento ST, maiores são as chances dos pacientes serem portadores de doença multivascular ou lesão do tronco da coronária esquerda e apresentarem trombos intraluminais ou fração de ejeção do VE mais baixa (10,11). Nos últimos anos, os pesquisadores têm chamado a atenção para a presença, nos pacientes com SIA, de um maior número de placas instáveis ou vulneráveis no mesmo vaso ou em vasos diferentes, em comparação aos pacientes estáveis. Esses achados, em conjunto com a presença de marcadores séricos de inflamação (12,13), têm reforçado o conceito de que nas SIA. haveria um verdadeiro ”estado inflamatório vascular”, fazendo-nos supor que um tratamento sistêmico e não local (revascularização de um ou mais vasos) traria um benefício maior para os pacientes. 5.Fox KAA, Poole-Wilson RA, Clayton TC, Chamberlain DA, Shaw TRD, Wheatley DJ, Pocock SJ, for the Randomised Intervention Trial of unstable angina (RITA) Investigators. Interventional versus conservative treatment for patients with unstable angina or non-ST-elevation myocardial infarction: the British Heart Foundation RITA 3 randomised trial, Lancet 2002; 360: 743-51 6. Myocardial infarction redefined – a consensus document of The Joint European Society of Cardiology/American College of Cardiology Committee for the definition of myocardial infarction. J Am Coll Cardiol 2000:36:959-69 Levando-se em consideração todas essas “evidências”, podemos chegar a algumas conclusões: 7. Kerensky RA, Wade M, Deedwania P, Belm WE, Pepine CJ. Revisiting the culprit lesion in non-Q-wave myocardial infarction. J Am Coll Cardiol 2002; 39:1456-63 Se o objetivo do tratamento for a diminuição da mortalidade, qualquer estratégia, invasiva ou conservadora, pode ser adotada. 8. Nissen SE. Pathobiology, not angiography should guide management in acute coronary syndrome/non-STsegment elevation myocardial infarction. J Am Coll Cardiol 2003; 41: 103S – 112S. Se o objetivo for, também, evitar IAM não fatal. qualquer estratégia pode ser adotada. Se o objetivo for reduzir angina ou isquemia recorrente ou refratária ou a necessidade de revascularização ou rehospitalização, a estratégia invasiva deve ser adotada. 9. Antman EM, Cohen M, Bernink PJLM, McCabe CH, Horacek T, Papuchis G, Mautner B, Corbalan R, Radley D, Braunwald E. The TIMI risk score for unstable angina/nonST elevation MI. A method for prognostication and therapeutic decision making. JAMA 2000; 284:835-842. Se os pacientes forem de alto risco, pelo escore do estudo TIMI, a estratégia invasiva é a mais adequada. 10. Samaha FF, Kimmel SE, Kiser JR, Goyal A, Wade M, Boden WE. Usefulness of the TIMI risk score in predicting both short- and long-term outcomes in the Veterans Affairs Non-Q-Wave Myocardial Infarction strategies in-hospital (VANQWISH) trial. Am J Cardiol 2002; 90:922-26. Se o paciente for de baixo risco, a estratégia conservadora deve ser adotada. Se o paciente for de risco intermediário, a melhor estratégia é avaliar o sucesso da terapêutica clínica inicial e levar em consideração a idade; a presença de diabetes; a função ventricular; a presença de doença coronária previamente conhecida – especialmente se algum tipo de revascularização foi realizado – outras comorbidades, etc, para definir se a estratégia deva ser conservadora ou invasiva. 11. Goodman SG, Barr A, Sobtchowk A, Cohen M, Fromell GJ, Laperrièrre L, Hill C, Langer A. Low molecular weight heparin decreases rebound ischemia in unstable angina or non-Q-wave myocardial infarction: the Canadian ESSENCE monitoring substudy. J Am Coll Cardiol 2000; 36: 1507-13. 12. Biasucci LM, Liuzzo G, Fantuzzi G, Caligiuri G, Rebuzzi AG, Ginnetti F, Dinarello CA, Maseri A. Increasing levels of interleukin (IL)-1Ra and IL-6 during the first days of hospitalization in unstable angina associated with increased risk of in-hospital coronary events. Circulation 1999; 99: 2079-84 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Boden WE, O´Rourke RA, Crawford MH, Blaustein AS, Deedwania PC, Zoble RG, Wexler LF, Kleiger RE, Pepine CJ, Ferry DR, Chow BK, Lavori PW for the Veterans Affairs Non-Q-Wave Infarction Strategies in Hospital (VANQWISH) Trial Investigators. Outcome in patients with acute non-Q-wave myocardial infarction randomly assigned to an invasive as compared with a conservative management strategy. N Engl J Med 1998; 338:1785-92. 13. Buffon A, Biasucci LM, Liuzzo G, D´Unofrio G, Crea F, Maseri A. Widespread coronary inflamation in unstable angina. N Engl J Med 2002;347:5-12. 14. Goldstein JA, Demetriou Dm Grines CL, Dicá H, Shoulfen M, O’Neill WW. Multiple complex coronary plaques in patients with acute myocardial infarction. N Engl J Med 2000; 343:915-22 2. Wallentin L, Lagenqvist B, Husted S, Kontny F, Stäble E, Swahn E, for the FRISC I Investigators. Outcome at 1 year after an invasive compared with a non-invasive strategy in unstable coronary-artery disease: the FRISC II invasive randomised trial. Lancet 2000; 356: 9-16. 15. Arbustini E, Grasso M, Diegolo M, Pucci A, Bramerio M, Ardíssino D, Angoli L, Servi S Bramucci E, Mussini A, Mingioni G, Vigano M, Specchia G. Coronary atherosclerotic plaques with and without thrombus in ischemic heart syndromes: a morphologic, immunohistochemical, and biochemical study. Am J Cardiol 1999; 68 (suppl) 36B50B. 3. The TIMI IIIB Investigators. Effects of tissue plasminogen activator and a comparison of early invasive and conservative strategies in unstable angina and non-Q-wave myocardial infarction. Results of the TIMI Trial. Circulation 1994; 89:1545-56. 9 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 9 2/1/2001, 07:44 Artigos Originais Editorial Laranjeiras Extra-sístoles Ventriculares Complexas e a Preservação da Atividade Parassimpática na Cardiopatia Chagásica Crônica Rio de Janeiro - RJ Ademir B. Cunha*, Delma M. Cunha**, Roberto C. Pedrosa*** Daniel A. Kopiler**** Roberto M.da Silva Sá***** (p=0,009 e p=0,02, respectivamente) sugerindo predomínio vagal em portadores de arritmias complexas na cardiopatia chagásica crônica. Palavras –chave: doença de Chagas, extra-sístoles ventriculares e sistema nervoso autônomo. RESUMO ABSTRACT O comprometimento do sistema nervoso autônomo (SNA) na doença de Chagas tem sido objeto de inúmeros estudos, que se intensificaram após o pioneirismo de Köberle nos anos cinqüenta, comprovando a destruição parcial ou total dos neurônios cardíacos. Extensa investigação tem sido feita nessa linha, porém o exato papel do SNA na patogênese da cardiopatia chagásica crônica permanece desconhecido. The involvement of the autonomic nervous system (ANS) in Chagas’ disease has been subject to innumerable studies, which have become more intensive after Köberle’s pioneer work in the fifties (in 1959), showing partial or total destruction of cardiac neurons. However, despite extensive investigation along this line the exact role of ANS in the Chagasic cardiac pathogenesis still remains unknown. In order to investigate the relation between the premature ventricular beats ( PVB) and the ANS in chronic Chagasic cardiopathy, seventy-five patients in that condition were examined and distributed into four groups, according to Los Andes’ classification: I-A, I-B, II and III. Group I-A and I-B included patients in an early stage of cardiac involvement; group II, patients in an advanced stage but without heart failure (HF); and group III, patients in an advanced stage with heart failure. Com o objetivo de avaliar a relação das extra-sístoles ventriculares (ESV) com o SNA na cardiopatia chagásica crônica, analisamos setenta e cinco pacientes nessa condição, distribuindo-os através da classificação de Los Andes em quatro grupos: I-A, I-B, II e III, encontrando-se os grupos I-A e I-B em fase inicial de comprometimento cardíaco; o grupo II,em fase avançada, mas sem insuficiência cardíaca (IC); e o grupo III, em fase avançada com IC. Realizou-se o Holter-24h em cinquenta e seis pacientes (74,6%) para análise da variabilidade da freqüência cardíaca (VFC) em domínio do tempo e das ESV. Os parâmetros da VFC foram analisados e distribuídos de acordo com a classificação de Los Andes e relacionados com as extra-sístoles ventriculares , as quais foram agrupadas na classificação de Lown,, e esta, por sua vez, subdividida em Lown I (formas leves) e Lown II (formas avançadas). Observou-se uma associação significativa (p<0,0001) entre os grupos da classificação de Los Andes e os da classificação de Lown. Os grupos I-A e I-B (Los Andes) apresentaram uma proporção maior da categoria Lown-I do que os grupos II e III. Portanto, podemos afirmar que a gravidade expressa pela classificação de Lown se correlaciona com a gravidade do comprometimento cardíaco expresso pela classificação de Los Andes, pois os pacientes incluídos na categoria Lown-II localizam-se nos grupos II e III de Los Andes. Procurando correlacionar a gravidade das ESV, refletida pelos graus da classificação de Lown com os parâmetros de VFC, realizamos comparações entre as categorias Lown-I, Lown-II e esses parâmetros. Os níveis de NNs-noite e NNNs-noite na categoria Lown-I apresentaram-se significatiamente maiores do que os níveis registrados na categoria Lown-II para ambas as variáveis (p=0,02). Também os níveis de rMSSD-dia e rMSSD-noite na categoria Lown-II mostraram-se significativamente maiores do que os níveis observados na categoria Lown-I The 24-hour Holter was performed in fifty-six patients (74,6%) to assess both the heart rate variability (HRV) in time domain and the PVB. The HRV parameters were analyzed and distributed according to Los Andes’ classification and related to premature ventricular beats cases, which had been grouped following Lown’s classification and divided into Lown I (light form) and Lown II (severe form). A significant association was observed between the groups in the Lown classification and the groups in the Los Andes classification. Groups I-A and I-B (Los Andes) presented a higher proportion of the Lown I category than groups II and III. Thus we can conclude that a severe condition in the Lown classification relates to a severe condition of cardiac involvement as shown in the Los Andes classification because groups II and III of the Los Andes classification include patients of the Lown II category. To establish the correlation between the PVB shown in the two different Lown categories, and the HRV parameters, we compared the Lown I and II categories to these parameters. We also observed that the levels of NN-night and NNNs-night in the Lown I category were significantly higher than the levels in the Lown II category (p=0.02). The levels of rMSSD-day and rMSSD-night in the Lown II category were significantly higher than the levels observed in the Lown I *Prof. Adjunto / Cardiologia / UFF **Médica Ecocardiografista do Centro Médico Copacabana ***Chefe do ambulatório de cárdio-chagas da UFRJ ****Coordenador da residência médica do INC *****Chefe do departamento de arritmias do INC 10 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 10 2/1/2001, 07:44 Editorial Laranjeiras category (p=0.009 and p=0.002, respectively), suggesting a vagal predominance in chronic Chagasic patients with complex arrhythmias. importantes; 4- utilização prévia do tratamento específico para doença de Chagas; Para a avaliação sorológica da doença de Chagas, considerou-se o teste de imunofluorescência indireta, realizado conforme procedimentos já descritos pela técnica de Camargo (4) e a hemaglutinação indireta, conforme técnica padronizada pelo laboratório do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo (5). Para a imunofluorescência indireta, a reação foi considerada positiva quando a diluição do soro foi maior ou igual a 1:20 e, para a hemaglutinação indireta, quando maior ou igual a 1:64. O paciente foi considerado soro positivo quando os dois testes sorológicos para anticorpos Trypanosoma cruzi resultaram positivos. Key words: Chagas’ disease, premature ventricular beats, autonomic nervous system. INTRODUÇÃO A doença de Chagas é considerada uma importante endemia na América Latina e se expressa em números que constituem uma forte preocupação, pois atinge de 16 a 18 milhões de indivíduos e coloca sob risco de contaminação mais de 90 milhões de pessoas, conforme estimativas da Organização Mundial de Saúde, WHO (1). A análise da variabilidade da freqüência cardíaca (VFC), por ser um método não invasivo e de fácil realização técnica, tem se popularizado como forma indireta de medir o controle autonômico. Entretanto, a facilidade técnica referida pode ser apenas aparente, pois trata-se de um exame com várias medidas, cuja interpretação correta é mais complexa do que se pensava inicialmente. A partir dessas considerações, ocorreu um fato marcante na evolução dos estudos de VFC quando a European Society of Cardiology e a North American Society of Pacing and Electrophysiology (2) constituíram uma força tarefa com o objetivo de desenvolver padrões adequados de VFC, padronizar a nomenclatura utilizada, definir termos e especificar métodos de medidas. Com a homogeinização dos parâmetros de VFC e o estabelecimento de critérios padronizados de interpretação definidos pela força tarefa, os trabalhos sobre VFC passaram a constituir uma rotina de investigação do controle autonômico em patologias como a doença arterial coronária, diabetes mellitus e miocardiopatias. As alterações eletrocardiográficas foram classificadas conforme os critérios da NYHA, utilizando-se o código de Minnesota (6), modificado para a cardiopatia chagásica (7), a fim de padronizar a interpretação do eletrocardiograma. Para realizar a distribuição dos pacientes de acordo com a classificação de Los Andes, foi feita rigorosa avaliação clínica, visando a detectar a presença ou não de sinais clínicos de IC, detectados através de um score clínico adotado por Schoken et al. (8); um ecocardiograma modo M, bidimensional e Doppler, visando à avaliação da função ventricular, da contratilidade segmentar ou quaisquer alterações compatíveis com cardiopatia chagásica; e um teste ergométrico máximo, conforme descrito por Jones e Campbell (9), para afastar o diagnóstico de isquemia miocárdica concomitante. Em seguida, os pacientes foram distribuídos de acordo com a classificação de Los Andes. Foram tomados todos os cuidados devidos e dadas aos pacientes, em linguagem clara, as explicações cabíveis, , tendo sido o termo de consentimento aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da instituição. Com relação à incidência de eventos graves como taquicardia ventricular sustentada e morte súbita em pacientes chagásicos, Figueiredo et al. (3) observaram que esses ocorriam nos chagásicos com menores índices de pNN50 e rMSSD. Esse estudo tem o objetivo de traçar a relação das ESV com os parâmetros de VFC. Eletrocardiografia ambulatorial contínua (Holter) Todos os pacientes realizaram a monitorização eletrocardiográfica ambulatorial contínua por 24 h (Holter) em períodos consecutivos, que variaram de 23 horas e 05 minutos a 25 horas e 45 minutos (média de 24 horas e 15 minutos), períodos em que se mantiveram em suas atividades habituais. Utilizamos, para o procedimento, o sistema de gravação TT1000 A HOLTER SYSTEM-SPACE LABS INC, com registro de duas derivações simultâneas (CM5 e CM1) em fita cassete. MÉTODOS Os pacientes selecionados, retrospectivamente, para este estudo pertencem ao Ambulatório de Cardiopatia Chagásica do Serviço de Cardiologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto Nacional de Cardiologia, Rio de Janeiro. Foram adotados os seguintes critérios de inclusão: Para análise da gravação, empregamos um módulo de análise de arritmia em um microcomputador SPACE LABS acoplado ao analisador Soft-Ware Package para qualificação e impressão de dados, depois interpretados pelo investigador principal, que emitia um laudo descritivo e determinava a orientação terapêutica das arritmias. 1-homens ou mulheres com idade entre 21 e 75 anos; 2-sorologia positiva para doença de Chagas; Critérios de exclusão: Foi realizada pelo investigador cuidadosa edição batimento a batimento e estabelecido para consideração do traçado o mínimo de 22 horas e o máximo de 26 horas. Essa nova leitura da fita foi realizada por ocasião do início do estudo, feito retrospectivamente.. 1-presença de outras patologias concomitantes tais como : hipertensão arterial, diabetes mellitus, coronariopatia, doenças orovalvulares, cardiomiopatia não chagásica, febre reumática, doenças do colágeno, doença tireoidiana, ou quaisquer co-morbidades detectadas pelos exames propostos com a finalidade de afastá-las; Avaliação dos índices de variabilidade da freqüência cardíaca 2-impossibilidade técnica de realizar o Holter-24h; Analisamos o Holter-24h dos setenta e cinco paci- 3- achados de laboratório anormais e clinicamente 11 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 11 2/1/2001, 07:44 Editorial Laranjeiras entes selecionados para o estudo, eliminando os portadores de fibrilação atrial, marca-passo definitivo, bloqueios átrio-ventriculares de 2º e 3º grau e disfunção do nó sinusal, pois tais resultados comprometem tecnicamente a análise da variabilidade da freqüência cardíaca (VFC). de Lown. Procurando correlacionar a gravidade das ESV, refletida pelos graus da classificação de Lown com os parâmetros de VFC, realizamos comparações entre as categorias Lown-I, Lown-II e esses parâmetros. Para a comparação dos parâmetros de VFC (NN, NNs, NNNs, pNN50, rMSSD, SDANN, SDNN e SDNN-I) com as categorias Lown-I e Lown-II, usamos os valores absolutos de cada parâmetro. A análise foi realizada para o período dia, noite e variação absoluta (dia-noite). Foram, portanto, selecionados cinqüenta e seis exames para estudo da VFC, realizado através de um software específico inserido no programa do Holter, o DMI (Diagnostic Medical Instruments). Este software determina a VFC por períodos de cinco minutos, somente considerando os dados quando existem no mínimo cem ciclos sinusais sucessivos e desprezando os ciclos com variações súbitas maiores que 25% em relação a um precedente, como forma de abolir as alterações conseqüentes às ectopias supraventriculares e ventriculares, constituindo-se, assim, um sistema semiautomático em que o investigador, através de análise cuidadosa, podia eliminar as extra-sístoles que por ventura interferiam na análise. Neste estudo utilizamos, para análise da VFC, o método de domínio de tempo. Através dessas comparações, verificamos que os níveis de NNs-noite e NNNs-noite na categoria Lown-I são significativamente maiores do que os níveis registrados na categoria Lown-II para ambas as variáveis (p=0,02). Há uma tendência de os níveis NNs-dia e NNNs-dia na categoria Lown-I serem maiores do que os níveis observados na categoria Lown-II (p=0,09 e p=0,06, respectivamente). (Gráficos 1 e 2). Nota-se uma tendência do nível de NN-noite na categoria Lown-II apresentar-se maior do que na categoria Lown I (p=0,07) (Gráfico 3). Observamos também que os níveis de rMSSD-dia e rMSSD-noite na categoria Lown-II são significativamente maiores do que os níveis observados na categoria Lown-I (p=0,009 e p=0,02, respectivamente) (Grafico 4). RESULTADOS Extra-sístoles ventriculares (Lown) e comprometimento cardíaco (Los Andes) DISCUSSÃO Examinamos a relação entre as extra-sístoles ventriculares agrupadas na classificação de Lown e o grau de comprometimento cardíaco dos pacientes. Essa análise constou de cinqüenta e cinco pacientes. Extra-sístoles ventriculares e classificação de Los Andes- Observe através da Tabela 1 a distribuição dos pacientes chagásicos crônicos pela classificação de Los Andes. Entre os cinqüenta e seis pacientes cujos holteres foram analisados, apenas um (1,78%) não obteve a graduação de Lown, por motivos técnicos, portanto o número para essa análise constou de cinquenta e cinco pacientes. Quando analisamos a relação entre a gravidade das ESV e a classe funcional dos pacientes chagásicos, encontramos uma associação significativa (p < 0,0001) entre os grupos da classificação de Los Andes e grau de ESV da classificação de Lown. Os pacientes da categoria Lown-I concentraram-se em maior proporção nos grupos I-A e I-B do que nos grupos II e III, e os pacientes da categoria Lown-II concentraram-se em maior proporção nos grupos II e III. Barreto et al. (10) analisaram a relação entre a incidência de arritmia ventricular e a função ventricular em seiscentos e vinte e nove pacientes chagásicos classificados em três grupos pelo ecocardiograma, de acordo com a fração de ejeção, verificando a incidência de ESV pelo eletrocardiograma convencional. Observaram aumento da incidência de ESV dependendo da gravidade da função ventricular. Carrasco e cols. (11) também encontraram um predomínio significativo de pacientes da categoria Lown-II nas classes funcionais II e III de Los Andes, correlacionando pior grau de função ventricular com arritmias ventriculares mais graves. Como a classificação de Lown é constituída por oito categorias, a distribuição dos pacientes por cada categoria tornou-se inviável pelo reduzido número de casos em algumas categorias; assim, com a finalidade de análise estatística, reunimos as oito categorias de Lown em apenas duas : Lown I e Lown II. A categoria Lown I reuniu os pacientes com graus 0, 1-A, 1-B e 2, categoria que considera as ESV apenas pela incidência de zero à alta freqüência (mais de trinta/hora). A categoria Lown II reuniu pacientes com graus 3, 4A, 4-B e 5, não se apresentando nenhuma incidência no grau 5. Esta categoria inclui ESV multifocais em pares e salvas de três ou mais ESV. Observando a distribuição das categorias Lown-I e Lown-II conforme a classificação de Los Andes, notamos uma associação significativa (p<0,0001) entre os grupos da classificação de Los Andes e os da classificação de Lown. Os grupos I-A e I-B (Los Andes) apresentam uma proporção maior da categoria Lown-I do que os grupos II e III. Portanto, podemos afirmar que a gravidade expressa pela classificação de Lown se correlaciona com a gravidade do comprometimento cardíaco expresso pela classificação de Los Andes, pois os pacientes incluídos na categoria Lown-II localizam-se nos grupos II e III de Los Andes. Pedrosa (12) relatou um grupo específico de pacientes chagásicos crônicos portadores de arritmias ventriculares complexas e cardiopatia chagásica. O soro desses pacientes possuía anticorpos capazes de diminuir a freqüência cardíaca e/ou induzir bloqueio na condução átrio-ventricular através de um modelo experimental de coração de mamífero. Nesse mesmo estudo, o soro de pacientes chagásicos crônicos sem arritmias complexas e sem dilatação ventricular não produziu os efeitos no sistema de condução observados no grupo chagásico com arritmias complexas e dilatação ventricular. Essas evidências deixam claras as relações entre arritmias ventriculares complexas e provável presença de Procedemos à análise descritiva dos parâmetros de VFC no período diurno e noturno, segundo a classificação 12 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 12 2/1/2001, 07:44 Editorial Laranjeiras anticorpos com ação colinérgica. Huikuri et al. (13) observaram que a taquicardia ventricular sustentada é precedida por diminuição da VFC em domínio de freqüência, quando comparada à taquiarritmia ventricular não-sustentada, porém os autores não encontraram, antes do início da taquicardia ventricular, alteração temporal súbita da VFC que pudesse sustentar a hipótese de que a alteração do sistema nervoso autônomo está ligada ao processo fisiopatológico do início de uma arritmia fatal. Variabilidade da freqüência cardíaca e arritmias ventricularesNossos resultados expressaram interessantes achados quando promovemos a comparação entre as categorias Lown-I, Lown-II e os índices de VFC. Em nosso estudo, os pacientes chagásicos com arritmias complexas tinham pior função ventricular e aumento de um parâmetro de VFC que refletia a flutuação vagal , o rMSSD. Ao utilizarmos os valores absolutos dos parâmetros de VFC, observamos que o nível dos parâmetros NNsnoite e NNNs-noite foram significativamente maiores nos pacientes da categoria Lown-I do que naqueles da categoria Lown-II (p=0,02), com uma tendência dos níveis NNsdia e NNNs-dia serem significativamente maiores nos pacientes da categoria Lown-I do que naqueles da categoria Lown-II (p=0,09 e p=0,06, respectivamente). Boven e cols. (14) demonstraram que pacientes com taquicardia ventricular não-sustentada ao Holter-24h e sem isquemia miocárdica, apesar de serem portadores de significante doença arterial coronária, apresentaram maiores valores de parâmetros da VFC expressos pelo rMSSD e HF, quando comparados a pacientes coronarianos com isquemia miocárdica, os quais mostravam níveis significativamente menores de rMSSD e HF. Diversos estudos, Bigger et al., (15); Myers et al., (16) têm relacionado a diminuição dos parâmetros de VFC refletindo atividade vagal a um pior prognóstico . Isto equivale a dizer que o número de intervalos p-p considerados normais (NNs) e o número de intervalos normais adjacentes durante o registro (NNNs), respectivamente, foram maiores nos indivíduos da categoria LownI em relação àqueles da categoria Lown-II, o que nos parece coerente, considerando que os indivíduos da categoria Lown-I apresentavam as arritmias ventriculares mais benignas. A perda dos reflexos vagais protetores parece associar-se com uma incidência aumentada de taquiarritmias malignas e, para verificar essa associação, Hohnloser et al. (17) analisaram vinte e oito pacientes após infarto agudo do miocárdio, divididos em dois grupos distintos: o grupo I, formado por pacientes que apresentaram pelo menos um episódio de taquicardia ventricular sustentada ou fibrilação ventricular; e o grupo II, constituído por pacientes que não apresentaram eventos arrítmicos após infarto. A sensibilidade baro-reflexa e a VFC foram os meios de avaliação do SNA. Esse estudo mostrou que os pacientes do grupo I, com taquiarritmias malígnas, comparados com os pacientes sem arritmias, apresentaram valores médios de sensibildade baro-reflexa de 1,75 + 1,63 ms/mmHg contra 9,17 + 5,40 ms/mmHg, respectivamente. O parâmetro NN-noite apresentou um nível com tendência a ser significativamente maior (p=0,07) nos pacientes da categoria Lown-II do que nos da categoria LownI, o que mostra que a média de todos os ciclos cardíacos avaliados, representando a freqüência cardíaca média no período de registro (ms), apresentou uma tendência a ser significativamente maior nas formas mais graves de arritmia em pacientes da categoria Lown-II. Sendo o NN um parâmetro obtido em ms, para transformar ciclo em freqüência, divide-se sessenta mil pelo NN em ms, obtendo-se a freqüência cardíaca média. Assim quanto maior o NN, menor a freqüência cardíaca média, o que quer dizer que os pacientes da categoria Lown-II mostraram uma tendência de apresentar uma freqüência cardíaca significativamente menor do que aqueles da categoria Lown-I. O estudo concluiu que os pacientes com taquiarritmias malignas diferem fortemente dos pacientes sem arritmias em termos de sensibilidade baro-reflexa, porém não em termos de VFC. Quando analisamos o parâmetro rMSSD-dia e noite, observamos que seus níveis foram significativamente maiores nos pacientes da categoria Lown-II do que nos da categoria Lown I. Isto significa dizer que o índice que reflete de forma bastante adequada a flutuação vagal está mais concentrado nos pacientes da categoria LownII, aqueles portadores de arritmias complexas. Figueiredo e cols. (3) encontraram maiores valores de rMSSD em pacientes chagásicos com TVNS em relação àqueles com TVS e observaram que as taxas de eventos graves como TVS e morte súbita foram maiores nos pacientes com pNN50 menor que 10. Esses achados reforçam a idéia de “proteção” conferida pela presença dos índices que refletem o sistema parassimpático em níveis normais. Resumindo, a análise dos parâmetros da VFC em domínio de tempo, em relação à classificação de Lown, mostra que os parâmetros que refletem os números de intervalos p-p normais e o número de intervalos normais adjacentes durante o registro predominam nos pacientes da categoria Lown-I, e os parâmetros que refletem uma menor freqüência cardíaca média e um predomínio vagal correlacionam-se com os pacientes da categoria Lown-II. Dessa forma, acreditamos que o aumento do tônus vagal de nossos pacientes com arritmia complexa, refletido pelo rMSSD, pode significar um efeito protetor. O seu papel em relação a prognóstico nesses pacientes ultrapassa os objetivos deste estudo, constituindo um caminho para futuras pesquisas em nosso ambulatório. A aplicação mais importante da VFC em clínica cardiológica é na avaliação após o infarto agudo do miocárdio pela já demonstrada relação com mortalidade cardíaca; entretanto, a ligação entre VFC e o desencadeamento de taquiarritmias fatais ainda não está devidamente esclarecida. CONCLUSÕES 1. A gravidade das arritmias ventriculares, definida de acordo com a classificação de Lown, correlaciona-se 13 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 13 2/1/2001, 07:44 Editorial Laranjeiras de forma estatisticamente significativa com o comprometimento cardíaco na cardiopatia chagásica crônica, expresso pela classificação de Los Andes. (p < 0,0001). 2. Os níveis dos parâmetros de VFC, NNs e NNNs (noite) são significativamente maiores na categoria Lown-I do que os níveis observados na categoria Lown-II (p=0,02). 3. Os níveis do parâmetro rMSSD (dia e noite) da categoria Lown-II são significativamente maiores do que aqueles observados na categoria Lown-I. Aplicabilidade clínica. Ao traçarmos o perfil do paciente chagásico no que diz respeito à VFC, encontramos fortes evidências de que os pacientes com arritmias ventriculares complexas apresentam aumento de um parâmetro que reflete o sistema nervoso parassimpático (rMSSD). Pedrosa (12) demonstrou a presença de anticorpos (IgG) no soro de pacientes chagásicos crônicos, portadores de arritmias ventriculares complexas capazes de induzir bradicardia e distúrbio de condução AV, estabelecendo uma nítida relação entre auto-anticorpos muscarínicos e arritmias ventriculares complexas. A presença de elevação dos parâmetros de VFC, que reflete um aumento do parassimpático nos chagásicos com arritmias complexas, e os achados de Pedrosa (12) de que pacientes com essas características apresentaram anticorpos anti-receptores muscarínicos, apontam para a necessidade de um estudo prospectivo, incluindo outras provas de avaliação do SNA (VFC por análise espectral, teste de Tilt) visando a estabelecer o verdadeiro papel do SNA, sobretudo o sistema parassimpático, na patogênese da cardiopatia chagásica crônica. Limitações do estudo 1. A análise da VFC dos pacientes chagásicos crônicos não contou com um grupo controle para comparação, o que nos levou a traçar o perfil de nossos pacientes chagásicos correlacionando-os com a literatura sobre o assunto. 2. Todas as provas autonômicas realizadas representam medidas indiretas do controle cardíaco. 3. As possíveis implicações prognósticas desses resultados serão motivo de trabalhos posteriores. TABELA 1 Distribuição da classificação de Lown segundo a classificação de Los Andes. 14 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 14 2/1/2001, 07:44 Editorial Laranjeiras GRÁFICO 1 NNs segundo a classificação de Lown, avaliado nos períodos dia e noite GRÁFICO 2 NNNs segundo a classificação de Lown, avaliado nos períodos dia e noite 15 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 15 2/1/2001, 07:45 Editorial Laranjeiras GRÁFICO 3 NN segundo a classificação de Lown, avaliado nos períodos dia e noite GRÁFICO 4 rMSSD segundo a classificação de Lown, avaliado nos períodos dia e noite 16 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 16 2/1/2001, 07:45 Editorial Laranjeiras REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. WHO expert committee. Geneva.: World health organization control of Chagas’ desease.1991; Report series n.º 811 2. Task force of the european society of cardiology and the north american society of pacing and electrophysiology. Heart rate variability standards of measurement, physiological interpretation, and clinical use. Circulation 1996; 93 : 1043-1065. 3. Figueiredo E, De Paola AAV, Silva RMFL, Távora MZP & Martinez EF. Variabilidade da freqüência cardíaca como predictor de taquicardia ventricular sustentada e morte súbita na cardiopatia chagásica crônica. Arq Bras Cardiol 1996; 66 : 317. 4. Camargo ME & Takeda GKF. Diagnóstico de laboratório. In Z. Brener & Z. Andrade (Orgs.) Trypanosoma cruzi e Doença de Chagas 1979; (pp 173). Rio de Janeiro : Guanabara Koogan. 5. Rassi A , Amato Neto V & Siqueira AF. Comportamento evolutivo da reação de fixação de complemento na fase crônica da moléstia de Chagas. Rev Inst Med Trop São Paulo 1969;11: 430435. 6. Rose G , Blackburn H, Gillium RF & Prineas RJ. Cardiovascular survey methods.1982; World Health Organization Monograph Series nº 56. 7. Maguire JH , Mott KE , Souza JAA , Almeida EC , Ramos NB & Guimarães AC. Eletrocardiographic classification and abbreviated lead system for population basead studies of Chagas’ Disease. Bull Pan Am Health Organ 1982; 16: 47-58. 8. Schoken DD , Arrieta MI , Leaverton PE & Ross EA. Prevalence and mortality rate of congestive heart failure in the United States. J Am Coll Cardiol 1992; 20: 301-306. 9. Jones N L & Campbell E JM . Clinical exercise testing. Philadelphia.1975; WB Saunders. 10. Barretto, ACP, Mady, C, Ianni, BM., Arteaga, E, Cardoso, RHA, Luz, PL & Pileggi, F. Relação entre arritmia ventricular e função cardíaca na doença de Chagas. 1995 Arq Bras Cardiol 64:533535. 11. Carrasco Guerra HA , Jugo D , Medina R , Castilo C & Miranda P . Electrocardiograma de alta resolución y variabilidad de la frecuencia cardiaca en pacientes chagásicos crónicos. Arch Inst Cardiol Méx 1997; 67: 277-285. 12. Pedrosa,CR. Contribuição ao estudo da etiopatogenia do distúrbio de condução e da eletrogênese na cardiopatia chagásica crônica. Efeitos de anticorpos IgG de pacientes chagásicos crônicos na eletrogênese e no sistema de condução do coração isolado de mamíferos. Tese de Doutorado, Faculdade de Medicina, UFRJ, Rio de Janeiro. 13. Huikuri HV , Valkama JO & Airaksinen KEJ et al. Frequency domain measures of heart rate variability before the onset of nonsustained and sustained ventricular tachycardia in patients with coronary artery disease. Circulation 1993; 87: 1220-1228. 14. Boven AJV, Jukema, JW , Crijns HJGM & Lie KI (1995). Heart rate variability profiles in symptomatic coronary artery disease and preserved left ventricular function: Relation to ventricular tachycardia and transient myocardial ischemia. Am.Heart J. 1995;130: 1020-1025 15. Bigger JT, Fleiss JL, Rolnitzky LM & Steinman RC. (1993). Frequency domain measures of heart period variability to assess risk late after myocardial infarction. J. Am. Coll. Cardiol. 1993;21: 729-736. 16. Myers GA, Martin GJ, Magid NM, Barnett PS, Schaad JW, Weiss JS, Lesch M & Singer DH. Power spectral analysis of heart rate variability in sudden cardiac death : comparison to other methods. IEEE Transaction Biomedical Engeneering 1986;12: 1149-1156. 17. Hohnloser SH, Klingenheben T, Loo AV, Hablawetz E, Just H & Shwartz PJ. Reflex versus tonic vagal activity as a prognostic parameter in patients with sustained ventricular tachycardia or ventricular fibrillation. Circulation 1994; 89: 1068-1073. 17 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 17 2/1/2001, 07:45 Artigos Originais Editorial Laranjeiras INFLUÊNCIA DO DIABETES MELLITUS NA MORBIMORTALIDADE HOSPITALAR DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO Rio de Janeiro - RJ *Marco Antonio de Mattos, Daniele Gusmão Toledo, Carlos Eduardo de Mattos, Marcelo Heitor Vieira Assad, Gilson Almeida, Rafael Abtibol, Diego Nery Benevides Gadelha, Bráulio dos Santos, Bernardo Rangel Tura Fundamento: O diabetes mellitus (DM) é um fator de risco (FR) que contribui para o pior prognóstico dos pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM). Abstract Background: Diabetes Mellitus (DM) is a risk factor contributing to bad prognosis of patients with acute myocardial infarction. (AMI) Objetivos: Avaliar a influência do DM na letalidade e complicações durante a fase aguda do infarto do miocárdio. Objectives: To access the influence of DM on patients´ mortality and on complications occurring during the acute phase of myocardial infarction. Materiais e Métodos: Realizou-se um estudo coorte incluindo 658 pacientes com IAM, internados entre janeiro de 1994 e dezembro de 2000 na Unidade Coronariana (UC). As variáveis analisadas foram: idade, sexo, localização do IAM, dislipidemia (Disl), tabagismo (TAB), IAM prévio, hipertensão arterial sistêmica (HAS), história familiar (HF), insuficiência cardíaca (classe Killip >2), angina pósIAM (AngPos), extensão do IAM (EXTIAM), fibrilação atrial (FA) e óbito. Para a análise estatística foram empregados o teste t-Student , o qui-quadrado, o exato de Fisher e, para analisar a influência de duas ou mais variáveis na letalidade, utilizamos também o cálculo do Odds ratio pelo método de Mantel –Haenstzel. Materials and Methods: A cohort study involving 658 AMI patients admitted to the Coronay Unit was carried out from January 1999 to December 2000. Several variables were analyzed: age, sex, location of AMI, dyslipidemia, smoking, previous AMI, systemic arterial hypertension (SAH), family history, heart failure (Killip class >2), postAMI angina, extension of AMI, atrial fibrillation and mortality rate. A statistical analysis was performed using Student ttest, chi-square test, and Fisher´s exact test. The odd-ratio calculation following Mantel-Haenszel method was used to analyze the influence of two or more variables on mortality .rate. Results: Out of 658 patients, 153 were DM and 505 non-DM, mean age 64.04 ± 9.8 and 61.60 ± 12.18 ), respectively, (p=0.02). There were 80 males and 544 females in the DM group and 367 males and 138 females in the non-DM group. The anterior wall was the most involved in 50 DM patients and 210 non-DM (p<0,05). SAH and previous AMI (p<0.01) were the risk factors most related to DM (p<0.01). DM patients developed more heart failure, arrthymias, and recurring ischaemia episodes than nonDM (p<0.0042, p<0.001, p<.0.05, respectively). Thirty DM patients (23.5%) and 60 non-DM (1,09%) died, cardiogenic shock being the main cause of death: 25 cases (p<0;001) Resultados: Dos 658 pacientes, 153 eram DM e 505 não diabéticos (NDM), com idade média, de 64,04 ± 9,8 anos e 61,60 ±12,18 (p=0,02), respectivamente. Dos DM, 89 eram homens e 64, mulheres; dos NDM, 367 eram homens e 138, mulheres. A parede mais envolvida foi a anterior, em 50 DM e 210 NDM (p<0,05). HAS foi o FR mais relacionado ao DM (p<0,01), concomitante a IAM prévio (p<0,01). Os DM evoluíram com mais IC, arritmias e isquemia recorrente que os NDM (p<0,0042,p<0,001,p<0,05, respectivamente). Ocorreram 30 óbitos para os DM (23,5%) e 60 para os NDM(11,09%), o choque cardiogênico constituindo a principal causa: 25 casos-(p<0,001). Conclusion:. Mortality rate is higher in infarcted patients with DM than in those with non-DM. Coexistence of previous AMI, SAH, old age, anterior location of AMI and DM contribute to a worse prognostic. Conclusão: Os pacientes infartados com DM têm maior taxa de morbimortalidade que os NDM. A coexistência de IAM prévio, HAS, idade avançada, localização anterior e o DM pioram o prognóstico. Key words: acute myocardial infarction, diabetes mellitus, in-hospital mortality. Introdução Palavras-chave: infarto agudo do miocárdio; diabetes mellitus; letalidade hospitalar. A prevalência do DM nas Américas, no ano 2000, era de 40 milhões de indivíduos, estimando-se para 60 milhões em 2025. O DM afeta quase 6% da população norteamericana, estando presente em 30% dos pacientes admitidos com síndromes coronarianas miocárdicas agu*Mestre em Cardiologia, Chefe da Unidade Coronariana do Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras. Rua das Laranjeiras, 374 – 10 andar e-mail: [email protected] 18 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 18 2/1/2001, 07:45 Editorial Laranjeiras das1,2. Sabe-se que os pacientes com DM apresentam maior taxa de letalidade durante a fase aguda do infarto do miocárdio, assim como maior morbidade após a alta hospitalar. Antes do advento das Unidades Coronarianas (UC0), a letalidade hospitalar entre diabéticos infartados atingia 40%, quase o dobro do pacientes não diabéticos3. O tratamento atual do IAM reduziu drasticamente a letalidade tanto em diabéticos como em não diabéticos, porém no grupo DM ainda permanece o dobro3. Segundo dados do Ministério da Saúde, o DM é a sexta causa mais freqüente de internação hospitalar, contribuindo significativamente (30-50%) para o desenvolvimento de outras causas de hospitalização, tais como, IAM, acidente vascular cerebral (AVC), etc. No Brasil, os diabéticos são responsáveis por 30% das internações nas UC devido à dor precordial 4. pital. Apenas a partir de 1998, a ATC P tornou-se disponível na instituição. Os critérios de elegibilidade são classicamente conhecidos: dor precordial com duração maior que 30min e alteração eletrocardiográfica (supradesnível do segmento ST maior que 2mm em precordial e 1mm em periféricas ou bloqueio de ramo esquerdo (presumidamente novo) até 12h do início dos sintomas. As contraindicações para trombólise química eram as descritas na literatura mundial. A terapia adjuvante foi iniciada, independentemente da presença de DM, com aspirina 200mg/dia, betabloqueadores por via intravenosa (metoprolol 5mg até 15 mg, em intervalos de 5 minutos) em caso de dor precordial à admissão e hipercinesia, e mantida com propranolol oral até a dose máxima de 400mg/dia. A nitroglicerina (NTG) foi utilizada de rotina em todos os pacientes, durante as primeiras 48h, por via intravenosa (IV) e na ausência de hipotensão arterial, iniciando-se com 10 microgramas/min e titulando-se até obter melhora da dor e não reduzir a pressão arterial sistólica em normotensos em mais de 10% ou 30% em hipertensos. Na ausência de isquemia recorrente ou silenciosa, era substituída por dinitratato de isossorbida 60 mg/dia. Os inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA) eram iniciados, na presença de estabilidade hemodinâmica, com PAS de no mínimo 100mmHg, nas primeiras 24h, nos pacientes com infarto de parede anterior, nos com insuficiência cardíaca ou disfunção sistólica do VE assintomática e, preferencialmente, nos pacientes com hipertensão arterial sistêmica (HAS). Há uma série de condições inerentes aos pacientes diabéticos, que os fazem apresentar maior taxa de letalidade e de complicações a curto e a longo prazo, quando acometidos por IAM. As principais causas estão relacionadas ao perfil clínico e aos fatores de risco cardiovascular (idade mais avançada, predomínio do sexo feminino e história de hipertensão arterial sistêmica), ao perfil angiográfico (doença mais difusa, maior predomínio de lesões proximais, menor fração de ejeção do ventrículo esquerdo, menor fluxo TIMI e desenvolvimento de circulação colateral) e ao tratamento não otimizado (menos terapia trombolítica, menos betabloqueadores)5,6. O objetivo deste estudo foi avaliar a influência do DM na letalidade e a ocorrência de complicações nos pacientes durante a hospitalização por IAM. Durante a internação na UC, foram encaminhados para cateterismo cardíaco aqueles pacientes que evoluíram com angina pós-infarto, isquemia miocárdica silenciosa ao eletrocardiograma, os com IC e em choque cardiogênico, quando possível. A decisão de realizar angioplastia ou cirurgia de revascularização miocárdica baseou-se na presença de doença univascular ou multivascular, função ventricular esquerda e comorbidades. Considerou-se falência da estreptoquinase se, após 90min do início da infusão, as alterações eletrocardiográficas iniciais se mantivessem e, então, os pacientes eram encaminhados para angioplastia de resgate. Casuística e Métodos Foram avaliados, retrospectivamente, todos os pacientes internados, consecutivamente, na unidade coronariana do Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras, com infarto agudo do miocárdio, no período de janeiro de 1994 a dezembro de 2000. Os dados clínicos obtidos à admissão e durante a hospitalização na UC foram inseridos no banco de dados e avaliados posteriormente. Para o diagnóstico de IAM, o critério utilizado foi a presença de duas das três seguintes alterações: quadro clínico sugestivo, alteração eletrocardiográfica e alteração enzimática. Foram incluídos os pacientes com elevação ou não do segmento ST-T. Para a análise estatística foram utilizados o quiquadrado com o fim de determinar a significância de diferenças entre proporções. Para analisar a influência de duas ou mais variáveis na mortalidade, utilizamos o cálculo do Odds ratio pelo método de Mantel –Haenszel. O teste t-Student foi empregado para determinar a significância de diferenças entre médias. Considerou-se diabético o paciente com diagnóstico confirmado previamente ou em uso de hipoglicemiante oral e/ou insulinoterapia, independentemente do tempo de evolução da doença. Durante os primeiros dias de internação e até a estabilização hemodinâmica, foi suspensa a medicação utilizada e iniciada dieta hipocalórica associada à administração de insulina regular subcutânea, caso a glicemia capilar ultrapassasse 200mg%. Naqueles pacientes com níveis extremamente elevados de glicemia, houve necessidade de insulinização intravenosa, em bomba infusora, para controle rígido da glicemia. Resultados Dos 658 pacientes avaliados, 23%(153) eram portadores de DM e 77% (505), NDM. Os DM eram mais idosos (64 anos) que os NDM (61 anos), havendo um predomínio do sexo masculino nos NDM (73%) e do sexo feminino nos DM (42%). A parede mais frequentemente envolvida pelo infarto foi a anterior, com 50 casos (32%) em diabéticos e 210 (41%) em NDM (p<0,05). Entre os FR, a HAS foi encontrada em 71,6% vs 47%, o infarto do miocárdio prévio em 32% dos diabéticos vs 21,6%, com significância estatística (p<0,01 e p<0,01, respectivamente). Os DM foram admitidos e/ou evoluíram em classe Killip Os pacientes foram tratados com terapia de reperfusão miocárdica, isto é, estreptoquinase intravenosa ou angioplastia primária (ATC P), de acordo com critérios de elegibibilidade e condições de disponibilidade do hos19 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 19 2/1/2001, 07:45 Editorial Laranjeiras > 2 em 35,8% vs 26,2% e angina pós-IAM em 21,6% vs 15%, comparados aos não diabéticos (p<0,0042 e p<0,001, respectivamente). Em relação ao óbito hospitalar, observou-se maior proporção para os DM (30/23,5%) que para os NDM (60/11,09%), tendo o choque cardiogênico como a sua principal causa: 25 casos(p<0,001). IAM prévio, HAS, idade avançada, localização anterior e o DM pioram o prognóstico. Referências Bibliográficas 1- ARONSON, D., RAYFIELD, E., CHESEBORO, J. Mechanisms determining course and outcome of diabetic patients who have had acute myocardial infarction. Ann. Intern. Med., Philadelphia, v.126, p.296-306, 1997. 2- JACOBY, R., NESTO, R. Acute myocardial infarction in the diabetic patient: pathophysiology, clinical course and prognosis. J. Am. Coll. Cardiol., Bethesda, v.20,n.3, p.736-744, 1992. 3- PARTAMIAN, J., BRADLEY, R. Acute myocardial infarction in 258 cases of diabetes. N. Engl. J. Med., Boston, v.273, n.9, p.456-461, 1965. 4- Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM/DATASUS. http:// www.datasus.gov.br. 5- ABACI, A., OGUZHAN, A., KAHRAMAN, S. Et al. Effect of diabetes mellitus on formation of coronary collateral vessels. Circulation, Baltimore, v.99, p.2239-2242, 1999. 6- HASDAI, D., GRANGER, C.B., SRIVATSA, S.S., et al. Diabetes mellitus and outcome after primary coronary angioplasty for acute myocardial infarction: lessons from the GUSTO-IIb angioplasty substudy. J. Am. Coll. Cardiol., Bethesda, v.35, p.1502-1512, 2000. 7- MORENO, R., GARCIA, E., SORIANO, J. et al. Angiographic and clinical reasons for the higher in-hospital mortality in diabetic patients with acute myocardial infarction treated with primary angioplasty. Eur. Heart J., London, v. 20(Abstr Suppl):615. 8- SAVAGE, M.P., KROLEWSKI, A., KEMIEN, G., et al. Acute myocardial infarction in diabetes mellitus and significance of congestive heart failure as a prognostic factor. Am. J. Cardiol., New York, v. 62, p. 665-669, 1988. 9- TANSEY, M., OPIE, L. KENNELLY, B. High mortality in obese women diabetes with acute myocardial infarction. Br. Med. J., London, v. 1, p.1624-1626, 1977. 10- CZYZK, A., KROLEWSKI, A., SZABLOWSKA, S. Clinical course of myocardial infarction among diabetic patients. Diabetes Care, v. 4, p. 526- 529, 1980. 11- SINGER, D., MOULTON, A., NATHAN, D. Diabetic myocardial infarction in 258 cases of diabetes with other preinfarction risk factor. Diabetes, v. 38, p. 350-357, 1989. 12- HANDS, M., RUTHERFORD, J., MULLER, J. et al. The in-hospital development of cardiogenic shock after myocardial infarction: incidence, predictors of occurrence, outcome and prognostic factors. J. Am. Coll. Cardiol, Bethesda, v. 14, p.40-46, 1989. 13- RYTTER, L., TROELSEN, S., BECK-NIELSEN, H. Prevalence and mortality of acute myocardial infarction in patients with diabetes. Diabetes Care, v. 8, p.230-234, 1985. 14- STONE,P., MU\ller, J., HARTWELL, T., et al. The effect of diabetes mellitus on prognosis and serial left ventricular function after acute myocardial infarction: contribution of both coronary disease and left ventricular dysfunction to the adverse prognosis. J. Am. Coll. Cardiol., Bethesda, v.14, p.49-57, 1989. O risco relativo de óbito correspondeu a 1,6 com IC 95% (1,189-2,109), sendo que os diabéticos com acometimento da parede anterior apresentaram uma chance de óbito de 1,9 vezes maior que os NDM. Entre os DM que evoluíram com insuficiência cardíaca, a razão de chance de óbito foi de 1,6 vezes, se a parede anterior estivesse acometida; e de 1,7, se o paciente fosse hipertenso prévio. Discussão Na fase aguda do infarto do miocárdio, a mortalidade é especialmente elevada. Savage et al. 8 , em artigo publicado em 1998, já haviam demonstrado uma letalidade hospitalar de 28%, para os diabéticos, dos quais 18% se apresentavam com o primeiro infarto e 41% com infarto prévio. Moreno et al.7 avaliando 713 pacientes com IAM – 23% portadores de DM – submetidos a ATC primária, encontraram uma taxa de letalidade hospitalar muito mais alta nos DM do que nos NDM (21% vs 11%, p=0.002), independentemente da idade e do sexo. A principal razão para essa letalidade foi a prevalência de pior classe Killip à admissão hospitalar. No presente estudo, encontramos letalidade hospitalar para os DM de 23% contra 11% para os NDM, verificando-se que os diabéticos evoluíram com mais IC que os NDM. Níveis semelhantes são encontrados na literatura 9, 10, 11. Os DM evoluem com mais complicações hospitalares após o IAM que os NDM, entre as quais estão infarto recorrente, bloqueio atrioventricular e distúrbios da condução intraventricular, IC, choque cardiogênico e ruptura miocárdica 12,13,14. Mesmo não tendo sido avaliadas as complicações arrítmicas neste estudo, demonstramos que classe Killip > 2 esteve presente em 35,8% dos DM contra 26,2% dos NDM (p< 0,0004), assim como também maior prevalência de angina pós-IAM (21,6% vs 15%, p<0,001). Savage et al 8 relataram que a IC se desenvolveu em 44% das mulheres e em 25% dos homens diabéticos, sendo responsável por 22% e 6%, respectivamente, das mortes hospitalares. Essa maior prevalência é vista mesmo em infartos de mesmo tamanho e com igual fração de ejeção e, provavelmente, está relacionada à presença de HAS, que altera a função sistólica ou diastólica, ou ambas, assim como a maior extensão da doença coronariana, a qual pode limitar o fluxo colateral para a área do infarto 14. Outro fato interessante é o maior acometimento da parede anterior nos DM desta amostra (32%), o que poderia explicar parcialmente o pior prognóstico, destacando-se como a principal causa de óbito o choque cardiogênico (25 casos/15%). Estudos prévios também demonstraram prevalências similares 13,14. Em conclusão, demonstramos que os pacientes com DM, quando acometidos por IAM, evoluem com maior freqüência de complicações hospitalares, comparados aos não diabéticos, assim como apresentam maior letalidade . Verificamos também que a coexistência de 20 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 20 2/1/2001, 07:45 Artigos Originais Editorial Laranjeiras Análise da Ativação Ventricular Utilizando o Mapeamento da Função de Coerência Espectral Quadrática Rio de Janeiro - RJ P. R. B. Barbosa* **, L.C. Bernardino Jr**, J. Barbosa-Filho**, I. Cordovil** ***, J. Nadal* Resumo eletrocardiograma (ECG), os potenciais tardios ventriculares (PTV) indicam presença de fragmentação miocárdica no ECG e são utilizados para estratificação clínica de arritmias. Entretanto, as técnicas atualmente empregadas para a análise de PTV demonstram baixo valor preditivo positivo (< 15% em um ano) tanto no domínio do tempo quanto no da freqüência (Breithardt et al., 1992). Esse quadro reduz potencialmente o interesse clínico e justifica que se desenvolva a investigação da atividade elétrica no miocárdio, visando à identificação de parâmetros que quantifiquem a atividade elétrica anormal. A atividade elétrica fragmentada em regiões miocárdicas cicatriciais representa uma forma de atividade elétrica instável, decorrente em parte da dispersão das constantes de tempo de propagação. Para analisar a propagação elétrica no miocárdio foi desenvolvido um modelo linear unidimensional da transmissão da frente de onda, empregando mapeamento tempo-freqüência da função de magnitude da coerência espectral quadrática (MCQ) durante a ativação ventricular (AV) em pacientes com taquicardia, ventricular (TV) e em voluntários normais. Os indivíduos normais mostraram estimativas elevadas do MCQ, principalmente no início da AV. Em indivíduos com TV, observou-se redução da estimativa do MCQ durante toda a AV, principalmente em sua região terminal, refletindo variações nas estimativas espectrais sucessivas. Esses achados indicam a presença de flutuação na velocidade da propagação da ativação ventricular no miocárdio lesado. Responsáveis por arritmias ventriculares, os circuitos de reentrada formam-se quando a presença de fibrose intercalada com fibras miocárdicas viáveis induzem tanto a redução da velocidade de propagação do estímulo elétrico quanto a propagação em “saltos” entre locais de ativação. Conseqüentemente, observam-se alterações nas constantes de tempo e na orientação da frente de onda de propagação, provocando alterações dinâmicas nas características espectrais do ECG de superfície. Por outro lado, na ativação ventricular (AV) do miocárdio normal, as constantes de tempo de propagação mantêm-se praticamente inalteradas, fazendo com que a propagação seja suave. Palavras-chave: Arritmia ventricular, Coerência espectral quadrática, Potenciais tardios ventriculares Abstract Fractionated activity in damaged myocardium represents unstable electrical conduction, probably due to dispersion in propagation time-constants. A onedimensional linear model of continuous velocity waveform transmission is proposed, and a time-frequency magnitude squared-coherence (MSC) mapping of the ventricular activation (VA) of patients with ventricular tachycardia (VT) and normal volunteers was studied. Normal subjects showed high MSC estimates, mainly at start and terminal VA. Reduction of MSC estimate throughout VA was observed in VT, which reflects variation in the successive spectral estimates. This finding indicates fluctuation in propagation velocity of the ventricular activation due to damaged myocardium. O objetivo deste estudo foi avaliar se mudanças nas características espectrais da frente de onda da AV permitem separar pacientes com história de taquicardia ventricular e indivíduos normais, durante ritmo sinusal. Modelo da Ativação Ventricular Para o desenvolvimento do presente estudo, foi proposto um modelo da AV tal que, em um instante de tempo arbitrário da ativação normal, o deslocamento da frente de onda é linearmente relacionado à atividade imediatamente precedente (Figura 1), conforme a expressão: Y ( w , τ ) = H ( w ,τ ) ⋅ X ( w , τ ) Key-words: Magnitude squared coherence, Ventricular arrhythmia, Ventricular late potentials (1) onde X ( w , τ ) = ℑ f ( t − τ ) ⋅ x ( t ) , Y ( w , τ ) = ℑ f ( t − τ ) ⋅ x ( t ) ; H ( w , τ ) é a função de transferência da AV incidente na região do miocárdio no instante τ; x (t ) e y ( t ) = x ( t + ∆t ) , respectivamente, as funções representativas das frentes de onda incidente e emergente daquela região, com tempo de trânsito ∆t; e f (t ) a função janela que define o instante central para decomposição espectral do sinal. Valores elevados de magnitude quadrática da coerência (eq. 2) são esperados durante a AV em condições normais, Introdução A atividade elétrica fragmentada no miocárdio lesado representa um marcador para o risco de desenvolvimento de arritmias potencialmente fatais. Detectados por técnicas de média coerente e amplificação de sinais no * Programa de Engenharia Biomédica – COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro Caixa Postal 68.510, 21945-970 - Rio de Janeiro - RJ, BRASIL. ** Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, Brasil *** Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras – MS, Rio de Janeiro, Brasil [email protected], [email protected] 21 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 21 2/1/2001, 07:45 Editorial Laranjeiras em decorrência da forma estável de propagação do estímulo elétrico. M C Q ( w ,τ) = intervalos RR normais, somente os batimentos de menor duração (classe pré-modal) foram selecionados para a média coerente visando a obter complexos QRS com durações semelhantes e com menores tempos de AV (Barbosa et al., 1999, 2000). 2 Yˆ ( w , τ ) ⋅ Xˆ * ( w , τ ) 2 Yˆ ( w , τ ) ⋅ Xˆ ( w , τ ) (2) 2 Na presença de áreas de lesão no miocárdio, as constantes de tempo de propagação da frente de onda seriam alteradas, afetando a estabilidade dos harmônicos espectrais do sinal de ECG ao longo do tempo e reduzindo a coerência. Tabela 1. Constituição dos grupos de indivíduos: dados demográficos, antropométricos e clínicos G ru po 1 49,3±13 ,4 S exo (F/M ) 7/8 A ltura (m ) 1,63±0,09 P eso (kg) 71,7±14 ,5 ** D T (cm ) 22,3 ±2,1 PA S (m m H g) *** 130 ,3 ±1 6,5 82,2±9,0 PA D (m m H g) *** **** F E (% ) 71,7±6,8 F C (bp m ) 63,5±11 ,4 D ura çã o P (m s) 101 ,3 ±8 ,3 D ura çã o Q R S (m s) 91,7±8,8 1,55±0,21 R M S 40 Lnt (µV ) = == 28,1±7,1 LAS40 (m s) PTV positivos 0 Idade (anos) Propagação do estímulo elétrico no miocárdio normal ventricular M io cárdio Fre nte d e o nd a incid en te Fo to m icrog rafia d o te cid o m io cá rdico Fre nte d e o nd a e m itid a [H (w , τ)] E letrodo explorador y(t) x(t) ∆t P otencial elétrico registrado a partir do eletrodo explorador t e n s ã o * x(t) x(t+∆t) tem po 57,3±13 ,5 3 / 12 1,67±0,09 67,8±10,2 22,6±1,7 132 ,6 ±2 7,3 79,4±14 ,5 53,2±13 ,0 61,5±10 ,0 122 ,8 ±2 3,5 119 ,2±1 7,9 1,17±0,43 0,13 0,12 0,40 0,31 0,99 0,74 0,49 <0 ,01 0,85 0,01 <0 ,01 0,03 43,7±19 ,4 8 0,03 - O batimento médio de cada indivíduo, com duração de 512 ms, foi numericamente diferenciado para enfatizar o conteúdo em altas freqüências e analisado em segmentos de 64 ms, separados em passos (Dt) de 4 ms. Cada segmento foi ainda decomposto em subsegmentos de 16 ms (16 amostras) com 50% de sobreposição ao subsegmento adjacente. Antes da análise espectral de cada subsegmento, estimada via FFT, foram realizados a remoção da média e o grampeamento com uma janela Hanning. As estimativas das funções de densidade autoespectrais e espectrais cruzadas de segmentos sucessivos foram usadas para calcular a magnitude da coerência espectral quadrática (MCQ) e respectivos intervalos de confiança, de acordo com Miranda de Sá et al. (1994). Para cada par de segmentos, x(t) e y(t)=x(t+4), a função MCQ foi calculada conforme o modelo proposto (Figura 1), e a estimativa da função MCQ média (MCQm) das três derivações foi mapeada no domínio tempo-freqüência durante toda a extensão do batimento médio. Casuística e Métodos População. A população do estudo compreende 30 indivíduos, divididos em dois grupos, ajustados para idade, sexo e índices antropométricos. (Tabela I): Grupo 1 (G1) - 15 voluntários normais; e Grupo 2 (G2) - 15 pacientes com taquicardia ventricular (TV). Todos estavam em ritmo sinusal, e nenhum apresentava bloqueio completo de ramo. O protocolo de estudo foi aprovado pelo Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras (INCL) e todos os indivíduos foram admitidos após autorização escrita livre e esclarecida. Aquisição e processamento dos sinais. Os sinais de ECG de alta resolução foram coletados empregando as derivações XYZ de Frank, com taxa de amostragem de 1000 Hz e 14 bits de resolução, seguindo um protocolo previamente descrito (Barbosa et al., 1999). Para enfatizar os potenciais anômalos e minimizar os efeitos das interferências sobre o processamento, os batimentos foram alinhados pelo complexo QRS e efetuada a média coerente até atingir-se um ruído final <0,6 mV. Para assegurar uma sincronização adequada da AV entre todos os indivíduos de ambos os grupos, os batimentos foram sincronizados pelo ponto no ramo inicial do complexo QRS, correspondente à metade de sua amplitude máxima, o qual definiu o início da AV. Empregando o histograma de Medidas ecocardiográficas, de pressão arterial e antropométricas foram realizadas de acordo com os protocolos de rotina do INCL. Os PTV foram analisados de acordo com consenso do American College of Cardiology (Cain et al., 1996). As medias agrupadas das funções MCQ das três derivações do G1 (MCQ1m) e do G2 (MCQ2m) foram calculadas usando a transformação de Fisher e comparadas pelo teste z entre os dois grupos, para cada segmento 22 22 p * Média±DP; **Diâmetro torácico ântero-posterior, ***Pressão arterial sistólica (S) e diastólica (D), ****Fração de ejeção do ventrículo esquerdo; =Lnt-transformação logarítmica, RMS40– voltagem terminal da ativação ventricular; ==LAS40– duração dos potenciais abaixo de 40 µV na região terminal da ativação ventricular. Figura 1: Modelo linear de espalhamento da frente de onda no miocárdio: uma onda de entrada x (t ) captada por eletrodo explorador, ao atravessar região do tecido, está linearmente relacionada ao componente de saída y(t)=x(t+∆t); H(w,τ) é a função de transferência . REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 G ru po 2 2/1/2001, 07:45 Editorial Laranjeiras tempo-freqüência. Testes estatísticos adicionais (Tabela 1) empregaram testes t de Student e c² (Sexo). O erro alfa foi fixado em 0,05. Resultados Os mapas tempo-freqüência dos pacientes do G2 apresentaram padrão semelhante ao G1 (Figura 2), exceto em pequenas regiões de baixa freqüência nas regiões inícial e terminal da AV, o que é confirmado pelo mapeamento dos resultados dos testes estatísticos durante a AV (Figura 3). Figura 2 - MCQm de indivíduos do Grupo 1 (esquerda) e Grupo 2 (direita). Note redução significativa das estimativas MCQ, principalmente na porção terminal da ativação ventricular. Figura 3 – Mapeamento tempo-freqüência dos resultados dos testes estatísticos da comparação das estimativas das funções MCQav entre os Grupos 1 e 2 ( esquerda) e o gráfico da ativação ventricular de referência (direita). O nível de significância (p< 0.05) é apresentado em cinza claro. Note a redução da MCQ nos limites da ativação ventricular (setas). Discussão do, à condução normal (Grupo 1) correspondem estimativas elevadas de MCQm tanto no início quanto na região terminal da AV. Por outro lado, evidências de substrato anômalo de condução no miocárdio lesado (Grupo 2) estão associadas à redução das estimativas da MCQm nas regiões inicial e terminal da AV. A análise do ECG de superfície empregando um modelo linear unidimensional de espalhamento da AV apóia o conceito de que flutuações locais das propriedades elétricas do miocárdio lesado alteram o conteúdo espectral da frente de onda de ativação. Esse resultado corrobora os achados de Barbosa et al. (1998, 2001), que investigaram as correlações entre estimativas espectrais sucessivas ao longo do complexo QRS (Barbosa et al., 1998) e da onda P (Barbosa et al., 2001). Como espera- A magnitude da coerência espectral quadrática entre trechos sucessivos do mapeamento tempo-freqüência da ativação ventricular permite identificar a existência 23 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 23 2/1/2001, 07:45 Editorial Laranjeiras de distúrbios da condução elétrica no miocárdio. Agradecimentos Este trabalho contou com auxílio do Ministério da Ciência e Tecnologia (CNPq e Pronex) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Referências Bibliográficas Barbosa, E.C., Barbosa, P.R.B., Ginefra, P., AlbanesiFilho, F.M. (1998), “High resolution electrocardiogram in frequency domain. Use of statistical techniques of spectral correlation for identification of patients with sustained monomorphic ventricular tachycardia”, Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 71, n. 4, p. 595-599. Barbosa, P.R.B., Barbosa-Filho, J., de Sá, C.A.M., Nadal, J. (1999), “Assessment of the Ventricular Late Potentials in HIV Positive Patients based on the RR Interval Histogram.” Computers in Cardiology, v. 26, p. 327-330. Barbosa, P.R.B., Barbosa-Filho, J., Nadal, J. (2000), “Analysis of the Correlation between Ventricular Depolarization Events and Heart Rate in Normal Subjects Using Signal-Averaged ECG”, Computers in Cardiology, v. 27, p. 723-726. Barbosa, E.C., Barbosa, P.R.B., Ginefra, P., Bomfim, A., Boghossian, S.H.C., Albanesi-Filho, F.M. (2001), “The frequency analysis of the signal-averaged ECG of the Pwave is a good predictor of the efficacy of class III antiarrhythmic drugs to maintain the sinus rhythm in patients with recurrent idiopathic atrial fibrillation”, Annals of Noninvasive Electrocardiology, v. 6, n. 1, p. 43-49. Breithardt, G., Borggrefe, M., Martinez-Rubio, A. (1992), “Late Potentials in Post-Infarction Period: Prognostic Significance”, In: N. El-Sherif, G. Turitto (Eds) High Resolution Electrocardiography, New York: Futura, p. 405425. Cain, M.E., Anderson, J.L., Arnsdorf, M.F, Mason, J.W., Sheinman, M.M., Waldo, A.L. (1996), “Signal-averaged Electrocardiography”, Journal of the American College of Cardiology; v. 27, n. 1, p. 238-2 49. Miranda de Sá, A.M.L.F., Simpson, D.M., Infantosi, A.F.C. (1994), “Estudo da Função de Coerência Aplicada a Sinais de EEG”, Revista Brasileira de Engenharia - Caderno de Engenharia Biomédica, v. 10, n. 2, p. 39-56. 24 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 24 2/1/2001, 07:45 Artigos Originais Editorial Laranjeiras Dilatação Estática por Via Percutânea nas Lesões Obstrutivas Graves do Coração Esquerdo Rio de Janeiro - RJ Marco Aurélio Santos.* Vitor Manuel Pereira Azevedo. ** Resumo atresia and double outlet of the right ventricle. Objetivo – Avaliar a possibilidade de dilatação estática por via percutânea do ductus arteriosus (DA) e do forâmen oval (FO) nas lesões obstrutivas graves do coração esquerdo. Results – The patient with aortic coarctation and hypoplastic of the aortic arch, after dilatation of ductus arteriosus with balloon, had his pressure gradient between descending aorta and pulmonary artery decreased(11.0/ 1.5 mmHg); pH (7.03/7.48). One of the four patients with hypoplastic left heart syndrome showed some improvement with stent implantation in the ductus arteriosus, but he died with very high pulmonary blood flow and venous pulmonary hypertension. Two patients with mitral atresia had some improvement with balloon dilatation of foramen oval. The mean gradient between left and right atrium decreased from 9.4 to 1.8 mmHg and the diameter of forâmen oval increased from 1.8 to 4.8 mm. Métodos – Sete lactentes, idade 4-35 dias e peso 2,5-3,8 Kg, apresentavam lesões obstrutivas graves do coração esquerdo. Todos apresentavam ainda acidose metabólica grave e oligúria. Esse conjunto era composto por um paciente portador de coarctação de aorta crítica e hipoplasia do arco aórtico (CoAo + HAAo), quatro com hipoplasia do coração esquerdo (HCE) e dois com atresia mitral e dupla saída do ventrículo direito (AM + DSVD). Resultados – O paciente com CoAo + HAAo, após dilatação do DA com cateter- balão, teve o gradiente de pressão diminuído entre aorta descendente e artéria pulmonar (11,0/1,5 mmHg), elevação do pH (7,03/7,48) e déficit de base reduzido (-22,0/-8,0). Somente 1 dos 4 pacientes portadores de HCE obteve algum benefício com a colocação de stent no DA, muito embora tenha ido ao óbito por fluxo pulmonar torrencial e hipertensão venosa pulmonar intratável. Os dois pacientes com AM + DSVD obtiveram benefício fugaz com a dilatação do FO restritivo. O gradiente médio entre o átrio esquerdo e direito passou de 9,4 para 1,8 mmHg e o diâmetro do FO de 1,8 para 4,8mm. Conclusion – The static dilatation of the ductus arteriosus and of the foramen oval with balloon catheter is an easy procedure but of short effectiveness. The dilatation of the ductus arteriosus with stent implantation has a longer effectiveness. However, the development of venous pulmonary hypertension remains a major limitation of this procedure.. Key words: Severe left hear obstruction, balloon, stents Introdução: Conclusão – A dilatação estática com cateter-balão do DA e do FO é um procedimento de fácil execução, porém de eficácia pouco duradoura. Já a dilatação do DA com stent apresenta efetividade prolongada. A limitação decorrente do procedimento está na instalação de quadro de hipertensão venosa pulmonar intratável. A persistência prolongada do ductus arteriosus e do forâmen oval é vital para a sobrevida dos pacientes portadores de lesões obstrutivas graves do coração esquerdo (coarctação da aorta e estenose aórtica críticas, interrupção do arco aórtico e hipoplasia do coração esquerdo )1. Apesar da extraordinária ação da prostaglandina E1 (PGE1), no sentido de manter o ductus arteriosus aberto, muitas vezes há necessidade da administração de drogas para combater o baixo débito cardíaco, a acidose e a oligúria. Palavras-chave: obstrução grave do coração esquerdo, balões, stents. Abstract A atrioseptostomia com cateter-balão 2 (técnica de Rashkind e Miller) não tem se mostrado ser método tão eficaz nessas patologias obstrutivas como na transposição dos grandes vasos da base, por exemplo. Com o objetivo de procurar prolongar a vida desses pacientes, passamos a utilizar por via percutânea cateter-balão e stents na tentativa de dilatar o ductus arteriosus e ampliar o forâmen oval restritivo de pacientes portadores de lesões obstrutivas graves do coração esquerdo. Objective – To evaluate the possibility of percutaneous static dilatation of the ductus arteriosus and foramen oval in left ventricular outflow tract obstruction. Methods – Seven infants, age 4-35 days, weight 2.53.8 Kg, had severe left ventricular outflow tract obstruction. All of them presented severe metabolic acidosis and oliguria. This cohort of patients included one with critical coarctation of the aorta and hypoplastic aortic arch, four with hypoplastic left heart syndrome, and two with mitral * Mestre em Cardiologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisador do Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras. ** Mestre em Cardiologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Cardiopediatra da Divisão de Cardiologia da Criança e do Adolescente. Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras. 25 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 25 2/1/2001, 07:45 Editorial Laranjeiras Métodos: opacificação do arco aórtico hipoplásico e da artéria subclávia antes visualizados. Imediatamente após o procedimento. as condições clínicas do paciente melhoraram sensivelmente. Houve aumento da perfusão periférica com pulsos femurais de boa amplitude e diurese adequada. Entretanto, a melhora foi fugaz, retornando o paciente ao seu quadro original por constrição do ductus arteriosus com conseqüente óbito. Sete lactentes com idade entre 4 e 35 dias e peso entre 2,5 e 3,8 Kg fazem parte deste estudo. Um era portador de coarctação crítica e hipoplasia grave do arco aórtico; quatro apresentaram hipoplasia do coração esquerdo; e dois, atresia da válvula mitral com dupla saída do ventrículo direito. Todos os pacientes se apresentaram com acidose metabólica grave (pH < 7,1) e oligúria (débito urinário < 0,5 ml/Kg/hora). Nenhum dos quatro pacientes portadores de hipoplasia do coração esquerdo sobreviveu mais do que uma semana. No primeiro caso, o estado clínico do paciente era tão crítico, que foi ao óbito na indução anestésica. No segundo paciente, a sua má evolução foi atribuída ao mau posicionamento do stent, não tendo sido possível dilatar o óstio pulmonar do ductus arteriosus. No terceiro paciente, por motivos técnicos. atribuídos ao stent, não se conseguiu a sua total expansão e, em conseüência, houve deterioração imediata do quadro clínico e metabólico com óbito ainda na sala de hemodinâmica. No quarto paciente, o posicionamento do stent no ductus arteriosus foi correto, obtendo-se dilatação do óstio pulmonar e aórtico (figura 2A e 2B). Entretanto, o paciente permaneceu muito instável com fluxo pulmonar torrencial e forâmen oval restritivo, indo ao óbito em decorrência dessas complicações (quadro de hipertensão veno-capilar intratável) 5 . No paciente portador de coarctação aórtica crítica e hipoplasia grave do arco aórtico, a dilatação do ductus arteriosus foi realizada usando-se a técnica de punção percutânea da veia femural 3. Um balão de 8mm de diâmetro foi passado através da porção arterial do ductus arteriosus sobre uma guia de 0,025mm posicionada na aorta descendente. Foram realizadas duas insuflações com contraste diluído. Os seguintes procedimentos foram realizados antes e após a angioplastia: aortografia com a técnica de oclusão por balão da aorta descendente, medida do gradiente de pressão entre a artéria pulmonar e aorta descendente, e gasometrias. Em dois dos quatro pacientes com hipoplasia do coração esquerdo, utilizamos para manter o ductus arteriosus patente, o tipo wallstent auto-expansivo, de boa radiopacidade, com diâmetro de 4 a 8mm e comprimento de 14 a 21mm. No quarto paciente, o stent utilizado foi o de Palmaz Schatz, de menor radiopacidade, não auto-expansivo, com 6mm de diâmetro e 14mm de comprimento. Detalhes técnicos de implantação de stents já foram previamente descritos 4. Os pacientes com atresia mitral associada à dupla via de saída do ventrículo direito e forâmen oval restritivo apresentaram, sob o ponto de vista angiográfico, aumento do diâmetro do forâmen oval imediatamente após a dilatação estática com cateter- balão (figura 3A-3D). Assim, o diâmetro médio da comunicação interatrial passou de 1,8mm para 4,8mm após o procedimento. Também houve uma queda importante do gradiente entre os átrios esquerdo e direito, passando de 9,4mmHg para 1,8mmHg. Essas alterações foram responsáveis pela elevação na saturação sistêmica de oxigênio, que aumentou de 40,9% para 68% em seguida ao procedimento. Nos dois pacientes portadores de atresia mitral com dupla saída do ventrículo direito, a primeira dificuldade encontrada para a dilatação estática com cateter-balão foi alcançar o átrio esquerdo em função da extrema redução do diâmetro do forâmen oval e pela acentuada curvatura do septo atrial. que se encontrava deslocado do átrio esquerdo para o átrio direito. Em segundo lugar, em função das dimensões reduzidas do átrio esquerdo, foi encontrada dificuldade no correto posicionamento do balão no septo atrial, o qual foi expelido do átrio esquerdo durante a insuflação máxima. No sentido de contornar essa situação, encunhava-se a guia e a ponta do cateter-balão na veia pulmonar superior esquerda, obtendo-se assim um posicionamento correto. Foram utilizados cateteres-balão do tipo Tyshak, de rápida insuflação/desinsuflação e de diâmetros crescentes de balão, até no máximo de 8mm de diâmetro. Discussão: O ductus arteriosus na coarctação da aorta funciona como uma estrutura vascular que, através de sua ampola, reorienta o fluxo sangüíneo da aorta ascendente para a aorta descendente, contornando assim o obstáculo imposto pela coarctação. A sua constrição abrupta impõe ao ventrículo esquerdo um aumento súbito da pós-carga, levando ao quadro de falência aguda dessa cavidade. Isto acontece em decorrência da falta de adaptação do ventrículo esquerdo ao obstáculo que lhe foi subitamente imposto pela constrição ductal. Resultados: Com a introdução de métodos percutâneos para a dilatação de válvulas e com a efetividade por eles alcançados, pensou-se na possibilidade de utilização desse método como mais uma opção no tratamento das cardiopatias congênitas ductus arteriosus dependentes, especialmente naqueles pacientes criticamente enfermos. Teoricamente, trata-se de procedimento de fácil execução, isento de complicações vasculares, principalmente arteriais, e de resultados imediatos aceitáveis. Seu maior problema está na duração de sua efetividade, já que o ductus arteriosus apresenta, na sua estrutura, diferenças histológicas em relação às demais estruturas vasculares. Assim, sua camada média é formada principalmente de O paciente portador de coarctação de aorta crítica e hipoplasia do arco aórtico apresentou imediatamente resultados clínicos hemodinâmicos e bioquímicos bastante satisfatórios. O gradiente de pressão entre a artéria pulmonar e a aorta descendente diminuiu de 11,0 mmHg para 1,5 mmHg, logo após o procedimento. O pH e o déficit de base passaram de 7,03 para 7,48 e de –22 para –8, respectivamente. Em decorrência do aumento imediato do calibre do ductus arteriosus, demonstrado angiograficamente, houve opacificação maciça do tronco e dos ramos pulmonares (figura 1) pelo refluxo de contraste da aorta descendente para a artéria pulmonar via ductus arteriosus. Esse roubo de fluxo impediu a 26 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 26 2/1/2001, 07:45 Editorial Laranjeiras fibras musculares, a íntima é mais espessa, com predominância de camada endotelial e tecido conjuntivo frouxo. A reatividade das células ductais a qualquer estímulo é muito superior à de qualquer outro vaso 5. em nosso meio, muito embora na nossa casuística tenha se apresentado bastante efetivo. A simplicidade e a experiência acumulada com os cateteres-balão levaram alguns investigadores a utilizar a dilatação estática com esses cateteres, no sentido de ampliar a comunicação entre os átrios esquerdo e direito. Os resultados imediatos foram bastante aceitáveis, porém de curta duração, levando-se em conta, principalmente, o tempo de espera para a realização de uma terapêutica mais duradoura. É possível que, com a utilização de cateteres-balão de diâmetros maiores (10mm), possamos obter uma efetividade mais duradoura. Entretanto, nessas circunstâncias, o risco de ruptura do ductus arteriosus e tamponamento cardíaco é muito grande, bem como as complicações vasculares como ruptura e trombose da veia femural. Conclusão Os portadores de hipoplasia do coração esquerdo necessitam da persistência do ductus arteriosus para manutenção do débito cardíaco. A tentativa de dilatar o ductus arteriosus com cateter-balão não demonstrou uma efetividade prolongada, já que, logo após o procedimento, o ductus arteriosus encontrava-se ocluído ou com acentuada constrição. A implantação de um stent no ductus arteriosus seria uma terapêutica de potencial valor nesse tipo de situação. Para a sua correta aplicação, existem, entretanto, algumas implicações importantes: nas doenças ateroscleróticas, por exemplo, os stents são consideravelmente mais longos do que a própria lesão em si, não sendo imprescindível um perfeito alinhamento do centro da lesão com o centro do stent. A utilização de um stent no ductus arteriosus requer uma maior precisão no sentido de englobar todo o vaso e os seus dois óstios, o pulmonar e o aórtico. Assim, os stents mais curtos do que o ductus arteriosus podem ser eficazes, desde que stents adicionais possam ser colocados adjacentes a eles. Por outro lado, os stents mais longos avançam na aorta ou na artéria pulmonar. São pré-requisitos para a correta colocação de stent no ductus arteriosus o seu comprimento bem definido, bem como sua boa radiopacidade. Com a colocação de um stent no ductus arteriosus de um paciente com hipoplasia do coração esquerdo, fica estabelecido o débito sistêmico pela continuidade de fluxo da artéria pulmonar para a aorta descendente e ascendente, passando o fluxo pulmonar a ser regulado pela resistência sistêmica. Com a queda natural da resistência pulmonar, haverá fluxo torrencial para os pulmões. Nessa situação, é imprescindível a presença de uma comunicação interatrial ou um forâmen oval não restritivo, que permita o livre fluxo de sangue do átrio esquerdo para o átrio direito, evitando a congestão venosa pulmonar e o aumento das pressões no átrio esquerdo. Esse quadro, teoricamente, poderá ser evitado pela limitação do fluxo pulmonar através da realização de uma bandagem das artérias pulmonares juntamente com uma atrioseptostomia. Este procedimento é bastante atraente, porém na prática, desapontador, exatamente porque é muito difícil controlar o fluxo pulmonar, mesmo quando as artérias pulmonares são bandadas posteriormente 6. A dilatação estática percutânea nas obstruções críticas do coração esquerdo, pelo que se pode observar, parece-nos ser um método seguro, de técnica fácil, porém de efetividade pouco duradoura, exceto no que diz respeito à utilização de stents . É possível que essa efetividade pouco duradoura, quando utilizamos cateterbalão para dilatar o ductus arteriosus e ampliar as dimensões da fossa oval, esteja na dependência do diâmetro do cateter-balão utilizado. Entretanto, a utilização de balões de 10mm ou maiores, poderá ser responsável pela ruptura de ductus arteriosus como também de estruturas vasculares (ruptura e trombose de veia femural). No que diz respeito à colocação de stents no ductus arteriosus, o maior problema está não na colocação adequada do stent englobando o óstio pulmonar e o aórtico mas, principalmente, na correta regulação do fluxo pulmonar que passa a ser torrencial com a queda da resistência vascular pulmonar. Figuras Na atresia mitral, os pacientes necessitam, para sobreviver, de uma comunicação adequada entre os átrios esquerdo e direito. Quando isto não ocorre, é imprescindível a realização de uma atrioseptostomia. Acontece que, na maioria desses pacientes, o septo interatrial é mais espesso, não oferecendo a técnica de Rashkind os mesmos resultados que os obtidos em outras cardiopatias como, por exemplo, a transposição dos grandes vasos da base. Em função dessas observações, passou-se a utilizar a atrioseptostomia com o cateter-lâmina desenvolvido por Park. Este método, entretanto, ganhou pouca difusão Figura 1 – Aortografia por oclusão da aorta descendente realizada com cateter-balão (Berman). Existe opacificação retrógrada com visualização da zona crítica da coarctação, da artéria subclávia e da hipoplasia do arco aórtico. O ductus arteriosus encontra-se praticamente ocluído, não sendo possível a sua visualização bem como a da artéria pulmonar. 27 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 27 2/1/2001, 07:45 Editorial Laranjeiras Figura 2A – Arteriografia da artéria pulmonar demonstrando a continuidade existente entre essa estrutura vascular e a aorta descendente estabelecida pelo ductus arteriosus dilatado com um stent de Palmaz-Schatz. Figura 3: A – Injeção de contraste no átrio esquerdo, quase não sendo possível a visualização do átrio direito por um forâmen oval praticamente fechado. Observa-se um pequeno jato de contraste de calibre inferior ao cateter 5F. B – Dilatação com cateter-balão de 4mm. C- Dilatação com cateter-balão de 8mm. Observa-se que o guia e a ponta do cateter-balão já não mais estão encunhados na veia pulmonar superior esquerda. D – Após última dilatação, é nítida a ampliação do diâmetro do forâmen oval com nítida opacificação do átrio direito. O septo atrial permanece deslocado da esquerda para a direita. Figura 2B – Demonstração do correto posicionamento do stent englobando o óstio pulmonar e o aórtico. 28 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 28 2/1/2001, 07:45 Editorial Laranjeiras Referências Bibliográficas 1. Rudolph AM. The changes in the circulation after birth. Circulation 1970; 41: 343-50. 2. Rashkind WJ, Miller WW. Creation of an atrial septal defect without thoracotomy. A palliative approach to complete transposition of the great arteries. JAMA 1970; 196: 991-7. 3. Rosenthal E, Qureshi SA, Kakadekar AP, Tabatabaie AH, Baker EJ, Tynan M. Comparison of stent implantation with balloon dilatation for maintenance of ductus arteriosus patency. J Am Coll Cardiol 1992; 19 (Suppl A): 25A. 4. Rosenthal E, Qureshi SA, Tabatabaie AH, Persaud DSNR, Kakadekar AP, Baker EJ, Tynan M. Medium-term results of experimental stent implantation into the ductus arteriosus. Am Heart J 1996; 132: 657-63. 5. Clyman RI, Goetzman BW, Chen YQ, Mawray F, Kramer RH, Pytela R, Schnapp LM. Changes in endothelial cell and smooth muscle cell integrin expression during closure of the ductus arteriosus: an immunohisto-chemical comparison of the fetal, pre-term newborn and fullterm newborn rhesus monkey ductus. Pediatr Res 1996; 40: 198-208. 6. Gibbs Jl, Wren C, Watterson KG, Hunter S, Hamilton JRL. Stenting of the arterial duct combined with banding of the pulmonary arteries and atrial septectomy or septostomy: a new approach to palliation for the hyppoplastic left heart syndrome. Br Heart J 1993; 69: 551-5. 29 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 29 2/1/2001, 07:45 Artigos Originais Editorial Laranjeiras ANGINA INSTÁVEL x ANGINA ESTÁVEL - RESULTADOS IMEDIATOS E TARDIOS APÓS IMPLANTE DE STENT CORONÁRIO Rio de Janeiro - RJ Paulo Sergio de Oliveira*, Marta Labrunie, Waldir Malheiros, Leonardo Duarte, Norival Romão, Sergio Leandro, André Pessanha, Marcelo Lemos, Marcio Macri, Maria da Conceição Alves, Rodrigo Guerreiro, Fabio Mota. Resumo was larger than 10mm in 63.9% in SA group and in 70.9% in UA group (p=0.006). Procedure immediate success was 99.1% in SA group and 97% in UA group (p=0.005). Hospital mortality rate was 0.3% in SA group and 0.96% in UA group (p=0.2). The incidence of MACE in 6 months was 10% in SA group and 20.7% in UA group (p=0.0005), and after 12 months was 19.6% in SA group and 35.9% in UA group (p=0.001). Conclusion: Patients presenting unstable angina had a worse outcome after coronary angioplasty, even with the use of stents; however we still consider coronary angioplasty an efficient method to treat unstable angina. Os autores analisam os resultados imediatos e tardios da angioplastia coronária com implante de stent, realizada em 672 pacientes com quadro de angina estável (Grupo AE) e em 626 pacientes com angina instável (Grupo AI). O objetivo do trabalho é comparar os índices de sucesso do procedimento e de eventos coronários maiores (infarto do miocárdio, cirurgia de revascularização, óbito e nova angioplastia na lesão alvo) após 6 e 12 meses de evolução. Os dois grupos foram semelhantes quanto a sexo e idade. Os pacientes do grupo AI foram considerados mais graves, apresentando um maior índice de cirurgia de revascularização prévia (p=0,005) e de grave disfunção ventricular esquerda (p=0,01). Não houve diferença quanto ao número de vasos tratados e de stents utilizados por paciente. As características angiográficas das lesões tratadas apresentavam trombos em 12,1% dos pacientes no grupo AE e 30,4% no grupo AI (p=0,006), cálcio em 47,4% no grupo AE e 40,3% no grupo AI (p=0,008), e extensão maior que 10mm em 63,9% no grupo AE e 70,9% no grupo AI (p=0,006). O sucesso imediato do procedimento foi de 99,1% no grupo AE e 97% no grupo AI (p=0,005). A mortalidade hospitalar foi de 0,3% no grupo AE e 0,96% no grupo AI (p=0,2). A incidência de eventos coronários em 6 meses de evolução foi de 10% no grupo AE e 20,7% no grupo AI (p=0,0005) e, após 12 meses, foi de 19,6% no grupo AE e 35,9% no grupo AI (p=0,001). Conclusão: Os pacientes com angina instável apresentaram piores resultados imediatos e tardios quando submetidos à angioplastia coronária, mesmo com implante de stent. Apesar dos piores resultados encontrados, avaliamos que a angioplastia coronária é um método eficiente para o tratamento da angina instável. Introdução A partir de 1976, Gruentzig1 criou uma nova terapêutica, que mudou os rumos do tratamento da aterosclerose coronária. Através dos trabalhos de Hartzler2 e, posteriormente, através de grandes estudos, a angioplastia coronária com balão avançou muito rapidamente, estabelecendo-se como tratamento efetivo do infarto agudo do miocárdio. Não temos dúvidas quanto à indicação de angioplastia coronária nos pacientes com angina estável, porém ainda existem dúvidas quanto à sua indicação naqueles que apresentam angina instável. Algumas discussões têm surgido, possivelmente porque o termo angina instável engloba pacientes com distintas gravidades. Outro fato discutível é a intervenção numa placa rota ou fraturada. Quando só dispúnhamos do balão para realizar angioplastia, discutíamos qual seria a conseqüência do trauma causado sobre a placa instável e sua interferência nos resultados dos procedimentos. Trabalhos de Leeman3 , Timmis4 , Kamp5 , Perry6 e De Feyter7 demonstraram uma incidência de até 8% de infarto agudo do miocárdio como complicação das angioplastias realizadas em pacientes com angina instável. ABSTRACT The authors compared the immediate and late results of stent implantation in 672 patients presenting stable angina (SA group) and 626 patients with unstable angina (UA group). The end points were the procedure success rate and the occurrence of major cardiac events (MACE) after 6 and 12 months. The 2 groups were similar in mean age and sex. Patients from UA group presented more unfavorable conditions such as previous myocardial revascularization surgery (p=0.005), and severe left ventricular dysfunction (p=0.01). There was no difference in the number of treated vessels and of stents used per patient. Lesion angiographic characteristics showed the presence of thrombus in 12.1% of the patients in SA group and 30.4% in UA group (p=0.006); of calcium in 47.4% in SA group and 40.3% in UA group (0.008). Lesion length O surgimento do stent revolucionou o resultado da angioplastia coronária, e, conseqüentemente, novas perspectivas surgiram para o tratamento de pacientes com angina instável. Os stents revestidos com drogas constituem mais um avanço no tratamento da doença coronária por angioplastia e certamente terâo um grande impacto nos pacientes com angina instável. Nosso trabalho é um estudo retrospectivo em que analisamos os resultados imediatos e tardios da angioplastia coronária com implante de stent e comparamos aqueles obtidos em pacientes com quadro de angi- *Chefe do Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do INC 30 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 30 2/1/2001, 07:45 Editorial Laranjeiras na estável com os que apresentavam angina instável. O nosso objetivo foi saber se os pacientes com angina estável e os com angina instável apresentaram, no procedimento, o mesmo índice de sucesso imediato e de eventos coronários após 6 e 12 meses de evolução. Consideramos como eventos coronários: óbito, infarto agudo do miocárdio, cirurgia de revascularização e nova angioplastia da lesão alvo. Casuística e Métodos No período de fevereiro de 1998 a fevereiro de 2003 tratamos, com implante de stent, 672 pacientes com angina estável (grupo AE) e 626 pacientes com angina instável (grupo AI). As características clínicas dos dois grupos estão relacionadas na Tabela 1. Os fatores de risco para doença coronária estão relacionados na Tabela 2. A extensão da doença e a função ventricular esquerda constam na Tabela 3. A média do número de vasos tratados por paciente foi de 1,2±0,4 no grupo AE, e 1,1±0,4 no grupo AI (p=0,20). O grau das lesões tratadas foi 91,60±5,69% no grupo AE, e 92,34±8,83% no grupo AI (p=0,61). A média do número de lesões tratadas por paciente foi de 1,3±0,5 no grupo AE e 1,2±0,4 no grupo AI (p=0,01). A distribuição dos vasos tratados encontra-se na Tabela 4. As características das lesões foram do tipo A em 9,5% dos pacientes no grupo AE e 4,7% no grupo AI (p=0,0006); do tipo B1 em 27,4% no grupo AE e 25,6% no grupo AI (p=0,4); do tipo B2 em 37,2% no grupo AE e 39,5% no grupo AI (p=0,4); e do tipo C em 25,9% do grupo AE e 30,3% no grupo AI (p=0,07). Havia trombos visíveis à angiografia nas lesões em 12,1% no grupo AE e em 30,4% no grupo AI (p=0,006). O comprimento das lesões era maior que 10mm em 63,9% no grupo AE e em 70,9% no grupo AI (p=0,006). A angiografia também mostrou calcificações visíveis em 47,4% das lesões no grupo AE e em 40,3% no grupo AI (p=0,008). Eram lesões ulceradas em 10,7% no grupo AE e em 12,1% no grupo AI (p=0,4). A maioria dos pacientes estava em uso prévio de ácido acetil salicílico (AAS) (200mg/dia) e ticlopidina (500mg/dia) ou clopidogrel (75mg/dia). Nos pacientes que não vinham em uso dessa medicação, o que ocorreu principalmente nos casos de emergência, foi administrado AAS 200mg e clopidogrel 300mg no procedimento. Foi utilizado inibidor das glicoproteínas IIb/IIIa em 3,8% dos pacientes no grupo AE e em 12,1% no grupo AI (p=0). A média de stents implantados por paciente foi de 1,14±0,37 no grupo AE e 1,16±0,40 no grupo AI (p=0,3). O diâmetro médio dos stents utilizados foi de 3,18±0,37mm no grupo AE e 3,19±0,36mm no grupo AI (p=0,6). O comprimento médio dos stents foi de 16,41±5,37mm no grupo AE e 17,07±5,14mm no grupo AI (p=0,02). O diâmetro luminal de referência no vaso tratado foi de 2,93±0,52mm no grupo AE e 2,90±0,65mm no grupo AI (p=0,35). O diâmetro luminal mínimo da lesão foi de 0,75±0,62mm no grupo AE e 0,59±0,52mm no grupo AI (p=0,001). A extensão média da lesão foi de 12,33±5,06mm no grupo AE e 12,72±4,79mm no grupo AI (p=0,15). Utilizamos a técnica do implante do stent sem pré-dilatação em 27,2% dos casos no grupo AE e em 22,1% no grupo AI (p=0,03). Os dados foram analisados estatisticamente através do teste do Chi-quadrado ou teste t de Student. Foi considerado como significativo o valor de p menor ou igual a 0,05. Tabela 1: Características Clínicas GRUPO AE Número de pacientes Sexo Masculino Idade Média Cir. Revasc. Prévia Angioplastia Prévia 672 GRUPO AI p 626 65,9% 59,9±10,4 65,3% 59,02±10,95 0,82 0,82 7,2% 14,8% 11,6% 16,3% 0,005 0,43 Cir. Revasc. Prévia = Cirurgia de Revascularização do Miocárdio Prévia Tabela 2: Fatores de Risco para doença coronária GRUPO AE GRUPO AI p Tabagismo Diabetes Mellitus 48,8% 22,4% 49,3% 21,5% 0,84 0,69 Hipertensão Arterial Dislipidemia 78,7% 59,2% 72,0% 58,8% 0,005 0,87 História Familiar Obesidade 48,4% 22,8% 38,5% 19,6% 0,0003 0,16 31 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 31 2/1/2001, 07:45 Editorial Laranjeiras Tabela 3: Extensão da Doença coronária e Função Ventricular Esquerda GRUPO AE GRUPO AI p Univasculares Bivasculares 56,4% 31,5% 53,8% 31,1% 0,35 0,87 Trivasculares Tronco de Cor.Esq. 11,8% 0,4% 14,7% 0,4% 0,11 0,24 Função Normal Discreta disfunção Moderada disfunção 28,8% 46,7% 20,8% 21,9% 35,7% 35,7% 0,003 0,00004 0,005 3,8% 6,8% Grave disfunção 0,01 Tronco de Cor. Esq.=Tronco de coronária esquerda Tabela 4: Vasos Tratados GRUPO AE GRUPO AI p Coronária Direita Art. Desc. Anterior 28,6% 51,4% 29,1% 51,7% 0,84 0,88 Art. Circunflexa 13,5% 12,5% 0,56 Art. Marg. Esquerda 3,7% 2,7% 0,30 Art. Diagonal Ponte de Safena 1,7% 0,5% 2,2% 0,8% 0,43 0,51 Art. Desc. Anterior=Artéria Descendente Anterior, Art. Circunflexa=Artéria Circunflexa, Art. Marg. Esquerda=Artéria Marginal Esquerda, Art. Diagonal=Artéria Diagonal Resultados Obtivemos sucesso em 99,1% dos procedimentos no grupo AE e em 97% no grupo AI (p= 0,005). A mortalidade hospitalar foi de 0,3% no grupo AE e 0,96% no grupo AI (p=0,2). Obtivemos “follow-up” clínico de 61,7% dos pacientes e os resultados imediatos estão na Tabela 5. Tabela 5: Resultados Imediatos GRUPO AE Sucesso 99,1% GRUPO AI p 97,0% 0,99 DLR Pós (mm) DLM Pós (mm) 3,05±0,46 3,04±0,44 3,08±0,54 3,02±0,66 0,21 0,05 Oclusão Aguda Mortalidade Hospitalar 0,15% 0,30% 0,46% 0,96% 0,5 0,2 Cirurgia de Emergência 0,30% 0% 0,2 DLR Pós=Diâmetro Luminar de Referência Pós-procedimento DLM Pós=Diâmetro Luminar Mínimo Pós-procedimento, 32 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 32 2/1/2001, 07:45 Editorial Laranjeiras Tabela 6: Resultados Tardios GRUPO AE Follow-up MACE 6 meses Cir. de revasc. IAM Óbito Angioplastia MACE 12 meses GRUPO AI p 42%3 10% 39,1% 20,7% 1 3 1 23 4 2 6 38 0,2 0,5 0,06 0,04 35,9% 0,001 19,6% 0,70 0,0005 MACE=Eventos Cardíacos Maiores, Cir. de revasc.=Cirurgia de Revascularização Miocárdica, IAM=Infarto Agudo do Miocárdio Discussão apresentassem um maior número de complicações, caso se optasse pelo tratamento clínico. Quando a angioplastia coronária era realizada apenas com cateter-balão, muito se discutiu sobre o efeito traumático deste sobre as placas ateroscleróticas rotas ou fissuradas, que desencadeavam o quadro de angina instável. Alguns autores preconizavam o “esfriamento“ do quadro agudo para que se pudesse realizar a angioplastia coronária com a placa mais estável. Porém, nessa espera, muitos pacientes não tiveram seu quadro controlado e evoluíram para o infarto agudo do miocárdio. Avaliando os resultados tardios, observamos que os eventos coronários foram significativamente mais freqüentes no grupo AI, tanto após 6 meses quanto ao fim de um ano. Atribuímos essa diferença ao fato de os resultados imediatos terem sido piores no grupo AI, o que levou à necessidade de novas angioplastias e à maior incidência de óbito. A introdução dos stents na técnica da angioplastia coronária mudou os conceitos. O stent aprisiona a placa aterosclerótica em suas hastes metálicas, praticamente eliminando o risco de nova ruptura ou de oclusão do vaso. É evidente que o quadro de angina instável não se restringe somente à placa aterosclerótica, pois existe um miocárdio isquêmico envolvido e outras conseqüências sistêmicas que podem interferir no resultado do tratamento tanto no aspecto clínico como no procedimento percutâneo transluminal. Conclusão Os pacientes com angina instável apresentaram piores resultados imediatos e tardios quando submetidos à angioplastia coronária, mesmo com implante de stent. Apesar dos piores resultados encontrados, avaliamos que a angioplastia coronária é um método eficiente para o tratamento da angina instável. Referências Bibliográficas Comparando as características demográficas dos dois grupos, observamos que não havia diferença quanto à idade e o sexo. Quanto aos fatores de risco para doença coronária, o grupo estável apresentava maior índice de hipertensão arterial e história familiar da doença. Os pacientes do grupo AI eram muito mais graves, pois apresentavam maior índice de cirurgia de revascularização miocárdica prévia e maior grau de disfunção miocárdica. Com relação à placa aterosclerótica, o grupo AI também apresentava maior gravidade, com maior incidência de placas do tipo C e menor incidência das do tipo A. Além disso, as placas eram mais obstrutivas no grupo AI. Utilizaram-se stents mais longos no grupo AI, e optou-se mais pela pré-dilatação da lesão antes do implante do stent, o que demonstra uma maior preocupação com a manipulação da placa nos pacientes com quadro de angina instável. 1. Gruentzig, A.R., Senning, A, and Siegenthaler, W.E.: Non-operative dilatation of coronary artery stenosis – percutaneous transluminal coronary angioplasty. N. Engl. J. Med. 301:61, 1979. 2. Hartzler GO, Rutherford BD, Mc Conahay DR, Johnson WL, Mac Callister BD, Gura GM et al. Percutaneous transluminal coronary angioplasty with and without thrombolytic therapy for treatment os acute myocardial infarction. Am Heart J 1983;106:965-973. 3. Leeman, D.E., MacCabe, C.H., Faxon, D.P., e cols. Use of percutaneous transluminal coronary angioplasty and the bypass surgery despite improved medical therapy for unstable angina pectoris. Am. J. Cardiol. 61:38G, 1988. 4. Timmis, A.D., Griffin, B., Crick, J.C., and Sowton, E.: Early percutaneous transluminal coronary angioplasty in the management of unstable angina. Int. J. Cardiol. 14:25, 1987. 5. Kamp, O., Beatt, K.J., De Feyter, P.J., e cols. Short, Medium, and long-term follow-up after percutaneous transluminal coronary angioplasty for unstable angina pectoris. Am. Heart J. 117:991, 1989. 6. Perry, R.A., Seth, A., Hunt, A., and Shiu, M.F. Coronary angioplasty in unstable angina and stable angina. A Comparison of success and complications. Br. Heart J. 60:367, 1988. 7. De Feyter, P.J., Suryapranata, H., Serruys P. W., et al. Coronary angioplasty for unstable angina: immediate and late results in 200 consecutive patients with identification risk factors for unfavorable early and late outcome. J. Am. Col. Cardiol.12:324, 1988. O sucesso imediato, conseqüentemente, foi maior no grupo AE. Tivemos 18 casos de insucesso no grupo AI, sendo 11 por não conseguirmos ultrapassar a lesão com o guia ou com o balão. Isto se deveu possivelmente à maior complexidade da placa aterosclerótica nesses pacientes. A incidência de óbito também foi maior no grupo AI, porém era de se esperar que esses pacientes também 33 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 33 2/1/2001, 07:45 Artigos de Revisão Editorial Laranjeiras Necessidades de Cirurgia Cardíaca Rio de Janeiro - RJ Regina Maria Aquino Xavier* Resumo Abstract O artigo busca fazer uma revisão sobre demanda de cirurgia cardíaca no Brasil e da importância de estimar a taxa de cirurgias necessárias para uma dada população. A avaliação da necessidade de cirurgia de revascularização coronária exige medidas precisas, mas na sua ausência, resta aos planejadores confiar em vários derivativos e indicadores indiretos. Embora possamos ter a expectativa de que a utilização seja o espelho das necessidades, este não é o caso. Com base nos dados fornecidos pelo SIH/DATASUS foram criadas tabelas( 1 12) para diversos procedimentos em cirurgia cardíaca para os anos de 1993 a 2002. Foi observado um aumento progressivo na demanda para estes procedimentos. This article makes an overview of cardiac surgery demand in Brazil and the importance of estimate surgery assessment in a given population. To measure the need for coronary artery bypass graft an accurate model is necessary, but in its absence, some derivatives and indirect makers are used by health planners. Although we expect that the use reflects the need, this is not the case. The SIH/ DATASUS database were used to construct tables(1 - 12) for cardiac surgery procedures in the years of 1993 to 2002. Was observed a growing demand for this procedures. Os parâmetros para cálculo da demanda dessas cirurgias no Brasil não estão bem definidos. Em outros países, embora as necessidades deste procedimento terapêutico também não estejam bem quantificadas, muitos estudos têm sido realizados. * Diretora Geral INCL 34 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 34 2/1/2001, 07:45 Editorial Laranjeiras De acordo com os dados fornecidos pelo Ministério da Saúde a maioria das cirurgias para tratamento das cardiopatias tanto no Estado de São Paulo como no Estado do Rio de Janeiro, são realizadas através do Sistema Único de Saúde. Selecionamos, no sistema de informações da DATASUS, para elaboração das tabelas( 1 a 12)1 os seguintes procedimentos: revascularização miocárdica com uso de extra-corpórea, angioplastia coronariana, implante de prótese valvar, correção cirúrgica da cardiopatia congênita, valvuloplastias, valvuloplastia mitral, correção da persistência canal arterial, valvoplastia, pericardiectomia, ressecção da coarctação da aorta com ou sem enxerto, aortoplastia de coartação, valvoplastia aórtica, valvulotomia cardíaca sem uso de circulação extra-corpórea, infartectomia ou aneurismectomia. Podemos verificar que houve um aumento na produção de 12650 cirurgias revascularização miocárdica com uso de extra-corpórea em 1992 para 16015 em 2002. O implante de prótese valvular seguiu a mesma tendência com uma freqüência de 7458 para o ano de 1992 e 9492 para o ano de 2002. O mesmo aconteceu com a correção cirúrgica da cardiopatia congênita, em 1992 foram realizadas 4384 e após aumentos progressivos, no ano de 2002 foram produzidas 3632. 35 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 35 2/1/2001, 07:45 Editorial Laranjeiras As tabelas 1 a 12 apresentam a freqüência dos mesmos procedimentos, no período de 1992 a 2002, por unidade federada 1 . Pode-se observar que tanto o Estado do Rio de Janeiro como o de São Paulo, realizaram todos os procedimentos selecionados durante o período apresentado, e que o mesmo não ocorreu com outros estados da federação. O estado de São Paulo manteve sempre a maior freqüência em todos os procedimentos para todos os anos selecionados. 36 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 36 2/1/2001, 07:45 Editorial Laranjeiras 1 Foram excluídas as UF que não produziram no período apresentado. Em 1999 no Estado de São Paulo, foram produzidas 6641 CRVM (Cirurgia de Revascularização do Miocárdio), representando uma cobertura de 185 cirurgias por 1milhão de habitantes, enquanto no Rio de Janeiro o mesmo tipo de procedimento teve uma freqüência de 1049 CRVM, representando uma cobertura de 76 cirurgias por 1milhão de habitantes. Devemos considerar que embora estejamos utilizando a população dos dois estados como denominadores para estas proporções, nas duas localidades e principalmente na primeira citada, são tratados pacientes de outros estados. Outra consideração a ser feita é que aqui não foram consideradas as CRVM realizadas na população coberta por seguros e planos de saúde, que no país, representa cerca de 25%. 37 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 37 2/1/2001, 07:46 Editorial Laranjeiras 38 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 38 2/1/2001, 07:46 Editorial Laranjeiras Seria afirmar o óbvio dizer que a necessidade é que deve determinar a oferta de um tipo de procedimento. Kravitz e Laouri 1 , em 1997, definem um procedimento como necessidade caso ele venha “provavelmente se converter em benefício e se um competente e escrupuloso médico insistir em oferecer tal procedimento”. E, ainda, “se teoricamente o estado de saúde da população poderia ser maximizado ao serem fornecidos todos os procedimentos necessários e nenhum inapropriado”. A avaliação da necessidade de cirurgia de revascularização coronária em uma população exige medidas precisas, mas na sua ausência, resta aos planejadores confiar em vários derivativos e indicadores indiretos. Os estudos encontrados na literatura baseiam-se em demanda, utilização, características epidemiológicas e demográficas e presença de fatores de risco socio-econômicos e fisiológicos, onde são encontrados uma diversidade de resultados. Tais estudos diferem, encontrando-se taxas de utilização que independem das necessidades, enquanto avaliadas por indicadores indiretos. Embora possamos ter a expectativa de que a utilização seja o espelho das necessidades, este não é o caso. Diversos são os fatores que influenciam tal utilização, como por exemplo a facilidade de acesso, a disponibilidade de serviços diagnósticos, o sistema de remuneração presente. Em um sistema público, como o do Canadá, a alocação de recursos para o diagnóstico irá depender das prioridades de investimento nas diversas regiões. Como a prevalência de doença arterial coronária é muito alta, taxas de tratamento são associadas com as disponibilidades de especialistas e facilidades de diagnóstico. O resultante aumento da utilização deste procedimento não deve ser visto como uma utilização imprópria deste recurso. Mais do que isso, pode revelar um aumento da possibilidade de identificar a doença que poderia, por outro lado, passar despercebida. Naylor (1997)1 dizia que “qualquer região que agressivamente procure a doença arterial coronária com altas taxas de cineangiocoronariorafia, provavelmente encontrará mais candidatos à cirurgia de revascularização miocárdica”. 39 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 39 2/1/2001, 07:46 Editorial Laranjeiras 40 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 40 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras Documentos recentes1 2 3 aqui citados permitiram elaborar um gráfico mostrando que dentre as taxas de cirurgia de revascularização miocárdica, em diversos países, as referentes aos EUA, apresentam um grande afastamento da média dos demais países.(Gráfico 1) Fonte: Can Cardiol vol 16 No 6 de junho de 2000. Todos os dados se referem ao ano de 1995 com exceção do Canadá que se refere a 1993. Gráfico 1 Na tentativa de estabelecer metas, consideradas aceitáveis para atender as necessidades pré-determinadas, Ontário no Canadá adotou um padrão mínimo de 1000 procedimentos de revascularização cirúrgica das coronárias por cada milhão de adultos (maiores de 20 anos). quando ajustadas por incidência de doença arterial coronariana, tem taxas muito mais baixas do que as taxas esperadas (tabela 13). Se forem ajustadas taxas de ponte de safena de artéria coronária para incidência de doença arterial coronária nós podemos ver que a França, Suíça e Bélgica têm taxas mais altas do que poderia ser esperado, enquanto a Finlândia, Irlanda e a República Tcheca têm taxas muitas mais baixas (tabela 13). Na Inglaterra, em 1987, autoridades do National Health Service (NHS) estabeleceram como meta nacional a realização de 300 cirurgias de revascularização do miocárdio para cada 1 milhão de habitantes. Para o biênio 1990 - 1991, o patamar atingido foi de 239 cirurgias de revascularização do miocárdio, em todas as idades, por milhão de habitantes. Assumindo que não existe método para se estimar a taxa de cirurgias necessárias para uma dada população, dois estudiosos ingleses, da Leicester University, a partir desses dados e baseados na premissa de que a taxa de mortalidade padronizada para a doença isquêmica do coração (DIC) é um indicador da necessidade de cirurgia de revascularização do miocárdio, desenvolveram um método para avaliar o parâmetro definido pelo NHS. Os dois pesquisadores utilizaram um modelo de regressão linear, com as taxas de mortalidade padronizadas e as taxas de hospitalização por DIC de um determinado distrito, definiram os objetivos por distritos, procurando atingir a taxa média da região de 300 por milhão de habitantes. Como resultado obtiveram valores menores do que as taxas já existentes de cirurgia em três distritos provedores de cirurgias de revascularização do miocárdio e em dois distritos, vizinhos do maior provedor destas cirurgias. Nos demais distritos, com exceção de um, os valores definidos, eram maiores do que o número de cirurgias realizadas. O National Health Service Plan, da Inglaterra, em julho de 2000 estabelece como meta 750 procedimentos por cada milhão de habitantes. Estas diferenças, frente ao nível de necessidades, de um procedimento que representa hoje, isoladamente, o maior gasto de internação em diversos países desenvolvidos, aponta-nos para a necessidade de aprofundar tais estudos de necessidades, incluindo neles emergentes técnicas de tratamento que certamente acarretarão grande impacto nos custos e nas freqüências de realização. O número de cirurgias de revascularização do miocárdio mais que dobrou nos últimos anos no Reino Unido1 : mais de 28.000 cirurgias deste tipo são realizadas anualmente (tabela 13). As taxas de cirurgia variam na Europa. Em geral países europeus Centrais e Orientais têm taxas de cirurgia mais baixas do que países do norte, sulistas e ocidentais. Dentro dos países europeus do norte, sulistas e ocidentais não há nenhum padrão geográfico consistente, mas alguns países têm um padrão alto de taxas de todos os procedimentos e alguns países têm baixo. Por exemplo a França tem taxas mais altas para implantação de marcapasso, angioplastias, angioplastias com stent coronário, ponte de safena de artéria coronária e cirurgia de válvula e o Reino Unido tem taxas mais baixas de todos estes procedimentos (tabela 13). No Reino Unido, as cirurgias de revascularização, 41 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 41 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras Tabela 13 Esta avaliação levou os autores do estudo à conclusão de que existe uma grande variação do índice de cirurgias por habitante, entre os distritos da região estudada. Concluíram também que o acesso às cirurgias de revascularização do miocárdio parece depender da proximidade do distrito provedor 1 . Diversos outros estudos têm demonstrado essas diferenças regionais 2 e, ainda, procurado explicar as razões para tais variações 3 . Em 1996 foi estudado, comparando-se os períodos 87/88 e 94/95, o impacto das reformas do NHS sobre a oferta, utilização e tempo de espera para cirurgia de revascularização do miocárdio e para angioplastia coronária transluminal percutânea 4 . Na França, um estudo realizado a partir de dados de 1994, para o planejamento do Ministério da Saúde sobre cirurgias cardíacas, mostrou uma importante variação de recursos alocados para cada região do país. Para promover a equidade vertical é importante assegurar que os recursos sejam alocados de forma proporcional às necessidades de cada grupo populacional 5 . No entanto, não dispomos de informações para afirmar que este seja o caso no estudo apresentado. O número de intervenções naquele país triplicou em 15 anos (de 13.000 para 38.000 por ano). A proporção por diferentes indicações foi constante (doença coronária 53%; valvulopatia 36%; cardiopatia congênita 8%). O índice de intervenções por regiões da França variou entre 45 até mais de 80 por cada 100.000 habitantes. De acordo com este estudo, concluiu-se que a cirurgia cardíaca na França é, de fato, organizada de acordo com um nível multiregional e que os índices regionais de intervenção não estão correlacionados com a mortalidade ou com índices demográficos 6 . No Canadá, quando da reestruturação do sistema de saúde de Quebec, a partir da demanda de cortes no orçamento de hospitais, os membros do departamento de cirurgia do Instituto de Cirurgia de Montreal (Quebec), realizaram um estudo retrospectivo usando dados da província de Quebec, em 1994, de pacientes que foram submetidos a cirurgia de revascularização do miocárdio. Este estudo mostrou que o índice de cirurgias realizadas em Quebec é similar ao índice do Canadá como um todo. O número de pacientes submetidos a este tipo de cirurgia cresceu 6,5% ao ano, durante os cinco anos que precederam o ano de 1994, no qual ocorreram 5.000 cirurgias de revascularização do miocárdio. Com esta taxa de crescimento mantida, são estimadas 7.000 intervenções no ano de 2000. Existem 12 centros realizando cirurgias cardíacas em Quebec, na proporção de 1 centro para cada 600.000 habitantes e 3,4 cirurgiões por centro, comparado com 1 centro por 800.000 habitantes e 3,7 cirurgiões por centro do total do Canadá. Para o ano 2000, utilizando esses parâmetros, foi estimada a necessidade da realização de 7.000 cirurgias, 18 centros de cirurgia cardíaca, produzindo 300 cirurgias por centro ou 9 centros produzindo 700 cirurgias por centro. A conclusão do estudo, realizada pelos cirurgiões, é que cada centro deveria otimizar o potencial de recursos humanos e físicos 42 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 42 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras alocados em cada centro de cirurgia cardíaca na província de Quebec 7 . Nos EUA para uma população estimada (junho/96) de 264,965 milhões de habitantes 8 , foram realizadas 759.000 cirurgias, classificadas pelo Control Disease Center (CDC) como “open heart surgery”, que inclui todas as cirurgias de peito aberto ( “by pass”, válvulas e 8.200 outras cirurgias)9 . Isto significa 2.864,52 cirurgias para cada 1 milhão de habitantes. Referências Bibliográficas 1 - SIH/DATASUS; http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/sih/pimap.htm 2 - KRAVITZ R.; LAOURI M. Measuring and averting underuse of necessary cardiac procedures: a sumary of results and future directions. Jt Comm J Qual Improv, v. 23, 5, p. 268-276, May 1997. 3 - NAYLOR, C. D.; JAGLAL, S. B. Regional revascularization patterns after miocardial infarctacion in Ontario. Can J. Cardiol, v.11, n.8, p.670-674, Sep. 1995. 4 - CANADIAN Cardiovascular Society Consensus Conference on Indications for and Access to Revascularization 1995 ( Revised June 1997). Can J Cardiol, v. 13, s. D, p.1D–72D, Dec. 1997. 5 - SEWARD, W. F. At a glance: the Hospital Industry . Bull Am Coll Surg, v.83, n.1, p.15-16, Jan. 1998. 6 - CARDIAC CARE NETWORK OF ONTARIO. Statistical summary for 1995/96. Toronto : Cardiac Care Network of Ontario, 1996 7 - BRITISH HEART FOUNDATION. British Heart Foundation statistics database: coronary heart disease statistics. London: Sophie Petersen , Mike Rayner and Vivienne Press, 2000. 8 - PAIN, C.H.; FRANKOVITCH, F.; COOK, G. Setting targets for CABG surgery in the north western region. J Public Health Med (England), v. 18, n. 4, p.449-456, Dec 1996. 9 - BLACK, N.; LANGHAM, S.; PETTICREW, M. Trends in in the age and Sex of patients undergoing coronary revascularisation in the United Kingdom 1987 – 93. Br. Heart J, v.72, n.4, p.317-320, Oct.1994. 10 - BLACK, N.; LANGHAM, S.; PETTICREW, N. Coronary revascularisation : Why do rates vary geographically in the UK ?. J Epidemiol Community Health, v.49, n.4, p.408-412, Aug. 1995. 11 - BLACK, N.; LANGHAM, S.; COSHALL, C.; PARKER, J. Impact of the 1991 NHS reforms on the availability and use of coronary revascularisation in the UK ( 1987 – 1995 ) [ published erratum appears in Heart v. 78, n. 1, p. 96, Jul. 1997]. Heart, v.76, s. 4, p. 1-31, Dec. 1996. 12 - ROBINSON, J.; ELKAN, R. Health needa assessment: theory and practice. London: Churchill Livingstone, 1999. 250 p. 13 - MINO, J.C.; BOURGUEIL, Y.; BAUBEAU, D.; CHAILLET, M.P.; CONG, W.H.; HOFMANN, G.; RUELLE, S.; VIBET, M.N. La chirurgie cardiaque en France ( offre, activite et reponse aux besoins): une enquete nationale. Sante Publique, v. 9, n.4, p.447-461, 1997. 14 - CARRIER, M.; PELLETIER, L.C. Cardiac surgery in Quebec: Do we have too many centers? Too many surgeons? Too many patients? Can J Cardiol (Canada), v. 13, n. 2, p. 136-140, Feb 1997. 15 - UNITED STATES. Population Division. Population Estimates Program. Washington, DC: Population Division, [1996?]. 16 - AMERICAN HEART ASSOCIATION. Heart and Stroke Statistical Update. [S. l.]: AHA, 1999. 43 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 43 2/1/2001, 07:47 Artigos de Revisão Editorial Laranjeiras SÍNDROME CORONÁRIA ISQUÊMICA AGUDA Injúria miocárdica,Inflamação e Atividade pró- trombótica Rio de Janeiro- RJ Cynthia K Magalhães*,José Geraldo C Amino** Resumo Conceitualmente, o termo aterosclerose traduz a presença de placas compostas por dois achados histológicos: o ateroma e a esclerose (2). O componente ateromatoso é rico em lipídeos e ocupa o núcleo da placa; enquanto o componente esclerótico é rico em colágeno, tem consistência endurecida e predomina na periferia. A lesão aterosclerótica é resultado de complexa interação entre o fluxo sanguíneo, os componentes do sangue e a parede vascular. Os processos histopatológicos da lesão incluem (2): As síndromes coronarianas agudas têm como substrato processos inflamatórios, trombóticos e de injúria miocárdica. Com isso, busca- se, no mundo inteiro, marcadores de tais processos com implicações clínicas e prognósticas. Os autores realizaram uma revisão da literatura sobre as Síndromes Coronarianas Agudas e o processo inflamatório, com enfoque também para os marcadores de trombose e injúria miocárdica. Palavras chave: Síndromes coronarianas agudas, inflamação, trombose ,injúria miocárdica. a) Inflamação - com aumento da permeabilidade endotelial, ativação endotelial e recrutamento de monócitos (4,5); Abstract b) Crescimento - com proliferação e migração de células musculares lisas e síntese da matriz extracelular; Acute coronary syndromes are related to inflammatory, thrombotic and myocardial injury mechanisms. This explains why cardiologists search for the biochemical markers of these mechanisms, and their clinical and prognostic implications. c) Degeneração – com acúmulo lipídico; d) Necrose – possivelmente decorrente de efeitos citotóxicos de lípides oxidados. e) Calcificação; The authors reviewed the literature on Acute Coronary Syndromes and on markers of inflammation, thrombosis and myocardial injury. f) Trombose – com recrutamento plaquetário e formação de fibrina. A trombose, é usualmente considerada uma complicação do processo aterosclerótico. Key words: Acute coronary syndromes ,inflammation, thrombosis, myocardial injury. Nesse sentido, a aterosclerose não representa um simples processo de acumulação lipídica e sim uma inflamação crônica precipitada e perpetuada em resposta a uma lesão à parede vascular. O cenário da aterosclerose contém todos os elementos celulares que a caracterizam como uma resposta inflamatória e fibroproliferativa secundária a uma lesão parietal (4,6,7). As células endoteliais, as musculares lisas, os monócitos e os linfócitos T são elementos ativamente envolvidos em todo esse processo de formação da placa aterosclerótica. A grande presença de linfócitos T e de macrófagos na lesão indica que a aterogênese representa tanto uma reação inflamatória quanto uma resposta imune adaptativa, mediada por células (3,8,9,10). A aterosclerose é conhecida desde os tempos antigos, em que manuscritos datados de 2.600 AC a descreviam em múmias egípcias e na população grega helenística. Em 1856, Virchow et al, apud Fuster, já haviam sugerido que a aterosclerose resultava de trauma à parede arterial, com inflamação local (1,2). Cem anos depois, uma versão modernizada do trabalho de Virchow et al, apud Fuster, foi proposta por French et al, apud Fuster, que associaram a presença de células mononucleares à lesão de aterosclerose (1,2). A aterosclerose é o principal substrato das manifestações clínicas de insuficiência coronariana e de doença vascular cerebral e periférica. Apenas nos Estados Unidos da América, as doenças cardiovasculares são responsáveis por aproximadamente um milhão de mortes ao ano. Estima-se que a aterosclerose seja a principal causa de óbito no mundo industrializado, destacando-se como um grave problema de saúde pública no mundo ocidental (3). 2) As Síndromes isquêmicas agudas e a inflamação : Pacientes portadores de angina instável (AI) e infarto do miocárdio sem supra desnível do segmento ST (IAM sem supra ST) apresentam pequena perda de miocárdio, mas possuem significativa massa muscular viável e isquêmica, o que os classifica como de alto risco para eventos cardíacos futuros (11). 1) A aterosclerose e o processo inflamatório : *Chefe da Unidade Cardio Intensiva Clínica do INCL / Mestre em Cardiologia UFRJ **Coordenador de pesquisa do INCL Endereço para correspondência: Rua das Laranjeiras 374 – sexto andar- UCIC E mail:[email protected] 44 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 44 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras A AI é uma síndrome clínica cujo espectro varia desde a angina em crescendo até aquela em repouso, incluindo, portanto, pacientes com quadros de gravidades distintas e diferentes prognósticos. Devido às semelhanças na fisiopatologia e no prognóstico, mais recentemente a AI tem sido estudada em conjunto com o IAM sem supra de ST. primária e não um acontecimento secundário à sua ruptura. Após a ruptura da placa, a exposição do colágeno subjacente produz a adesão imediata de plaquetas com a conseqüente ativação, seguida de agregação dessas plaquetas.. Com isso, é deflagrada a ativação da cascata da coagulação, gerando a trombina e transformando o trombo plaquetário em trombo de fibrina, que produz obstrução luminal súbita com maior ou menor grau de oclusão, dependendo da intensidade da ruptura da placa, da ocorrência de vasoespasmo , da hemorragia intraplaca ou da tendência trombótica própria do paciente (23). A estratificação de risco para novos eventos isquêmicos ou óbito se faz necessária, a fim de que se possa individualizar as condutas diagnósticas e terapêuticas . Diversos indicadores prognósticos têm sido descritos, partindo de dados de história e exame físico, passando por exames complementares simples, como o eletrocardiograma, e incluindo até a dosagem de marcadores séricos e o estudo da anatomia coronariana por meio de métodos invasivos (12,13). A obstrução relacionada ao evento é habitualmente dinâmica, causando estenose intermitente do fluxo coronariano. O equilíbrio entre propriedades anti e prócoagulantes/fibrinolíticas e antifibrinolíticas intrínsecas determina as conseqüências trombóticas da placa rota. A apresentação clínica e a evolução da doença dependem diretamente da gravidade e da duração da isquemia miocárdica. O interesse sobre os marcadores de inflamação surgiu a partir do conhecimento da estrutura da placa aterosclerótica, conforme descrito anteriormente. A natureza episódica das síndromes coronarianas isquêmicas agudas e a freqüente falta de correlação entre extensão/gravidade da estenose e a instabilidade clínica aumentam a possibilidade de que alterações cíclicas na atividade do processo aterosclerótico possam estar envolvidas. 3) As Síndromes isquêmicas e os marcadores de inflamação, trombose e injúria miocárdica : 3a) Proteína creativa (PCR) e interleucinas. Os fatores que se associam a maior risco de óbito ou IAM não fatal, diante de pacientes com síndrome isquêmica aguda sem supra desnível de segmento ST, são: histórias de sintoma acelerado nas últimas 48 horas, dor em repouso prolongado (>20min), evidência de insuficiência cardíaca congestiva, idade>75 anos, alterações de segmento ST e elevação de marcadores cardíacos(23). Achados recentes reconsideram os conceitos fisiopatológicos tradicionais da angina instável e do infarto agudo do miocárdio. A estenose obstrutiva grave,decorrente do crescimento do ateroma não é mais a causa principal dos eventos clínicos agudos. Ao contrário, a ruptura de uma placa discreta ou moderadamente estenótica na qual o conteúdo lipídico predomina sobre uma fina camada fibrótica é o substrasto da maioria das síndromes isquêmicas agudas (60 a 70% dos casos) (14). Por outro lado, sabe-se mais recentemente que o percentual restante se deve a mero desnudamento isolado numa placa com predomínio de camada fibrótica sobre a camada lipídica, em que o componente trombótico exacerbado também exerce papel fundamental (15). A PCR é uma proteína imunologicamente anômala, que costuma surgir no soro durante a evolução de numerosos processos inflamatórios, especialmente naqueles de caráter agudo, daí a denominação de “proteína de fase aguda”. Representa indicador sensível de inflamação (24) Pacientes de AI complicada por alterações isquêmicas de segmento ST e/ou onda T no eletrocardiograma tendem a apresentar maiores valores de PCR, quando comparados àqueles sem as referidas alterações eletrocardiográficas. Esse achado sugere que o componente inflamatório na AI tem relação direta com a expressão clínica da doença e com a presença de vasoespasmo e trombose (16,25). Os macrófagos, que são elementos chave da exacerbação do processo inflamatório, são capazes de degradar a matriz extracelular por fagocitose direta ou através de secreção de enzimas que podem digerir os componentes de matriz da capa fibrosa, causando o seu afilamento e predispondo-a à ruptura (16,17). A espessura da capa fibrosa e a quantidade de colágeno nela presente são importantes fatores para sua estabilidade e resistência: quanto mais fina a capa fibrosa, mais enfraquecida e vulnerável à ruptura é a placa. Haverkate et al demonstraram que pacientes admitidos no hospital com o diagnóstico de AI e PCR>0,5 mg/ dl apresentavam pior prognóstico, mesmo que não houvesse outro marcador de gravidade presente (26). Além disso, na AI, a PCR pode permanecer elevada por mais de três meses após o início dos sintomas e está associada à recorrência de instabilidade (estímulo inflamatório persistente?) (27). Capas fibrosas rotas contêm menos células musculares lisas e colágeno que capas intactas, e esse tipo celular habitualmente está ausente no ponto exato da ruptura (18). Além disso, as regiões de transição (ricas em macrófagos) entre a placa e a parte sã do vaso são histologicamente enfraquecidas e também pontos onde fatores biomecânicos e hemodinâmicos se concentram (19,20). Dessa maneira, a ruptura da placa é provavelmente o resultado de interação dinâmica entre mudanças intrínsecas (vulnerabilidade) e forças extrínsecas (gatilho) impostas à placa aterosclerótica: a vulnerabilidade predisporia a placa à ruptura, enquanto o componente mecânico poderia precipitá-la (21,22). Nesse contexto, o processo inflamatório na placa de aterosclerose é a causa A PCR elevada de pacientes com AI ou IAM sem supra ST, na admissão, correlacionou-se à maior mortalidade em 14 dias, mesmo naqueles pacientes com Troponina T negativa (28). O papel das interleucinas pró- e antiinflamatórias na angina estável e nas síndromes isquêmicas agudas tem sido tema de investigação. Recentes publicações apontam elevação de interleucinas pró-inflamatórias (IL-6, IL-8 e IL-1R) nas síndromes isquêmicas agudas (29). A IL-6 é uma citocina multifuncional reguladora da resposta imu45 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 45 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras ne humoral e celular, desempenhando papel central na inflamação, nos mecanismos de defesa contra infecção e em trauma ou lesão tecidual (30,31). Essa citocina é sintetizada e secretada por monócitos/macrófagos, fibroblastos, células endoteliais e linfócitos T, especialmente quando ativados, e tem seu papel já demonstrado. O complexo troponina é composto por três subunidades protéicas: troponina I (TN-I), troponina T (TNT) e troponina C (TN-C). A TN-I está presente apenas no tecido muscular cardíaco, entretanto, a sua detecção no sangue não significa necessariamente uma síndrome cardíaca isquêmica. A célula muscular cardíaca pode extravasar seus componentes como resposta à injúria. Existe múltiplas causas de injúria muscular cardíaca: evento coronariano agudo; miocardite, cardiomiopatia; insuficiência cardíaca congestiva;, sepse; embolia pulmonar; rabdomiólise; contusão torácica; embolia coronária decorrente de endocardite infecciosa; trombo mural; válvulas protéticas; processos inflamatórios, incluindo infecções virais; anormalidades congênitas das coronárias; síndrome de Hurley, homocistinúria; artrite reumatóide; lupus eritematoso sistêmico; e ainda procedimentos terapêuticos tais como angioplastia coronária, ablação eletrofisiológica ou cardioversão elétrica. Além disso, níveis elevados de troponina já foram evidenciados em maratonistas e em usuários de cocaína (39). Em recente publicação, Ridker et al., estudando indivíduos sadios no período de três anos, descrevem a PCR e a IL-6 como fatores preditores de risco cardiovascular primário (morte, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e necessidade de revascularização miocárdica) (32). Um outro importante estudo analisou portadores de AI e mostrou que a elevação sanguínea das IL-IR e IL-6 nos primeiros dias de internação hospitalar se relacionou à maior probabilidade de infarto do miocárdio e morte (33). 3b) Fibrinogênio. O fibrinogênio é o principal fator da cascata da coagulação encontrado no plasma e importante determinante da viscosidade sangüínea. Além disso, pode agir como cofator na agregação plaquetária. É, por isso, considerado bom indicador de processos inflamatório-trombóticos. Em pacientes portadores de insuficiência renal severa, as troponinas I e T podem estar elevadas no sangue sem concomitância de injúria miocárdica. As razões para tal elevação ainda não estão claramente definidas, mas estima-se que a perda de integridade de membrana celular com liberação do conteúdo de troponina do citosol possa estar envolvida no caso, associada à menor depuração renal. Tal fato é concordante com a maior elevação da TN-T em relação à TN-I nos pacientes renais crônicos, uma vez que a TN-T dispõe de maior peso molecular e maior concentração citosólica em relação à TN-I (40). Por ser o fibrinogênio componente essencial da hemostasia, espera-se que sua elevação sérica se correlacione à trombose patológica. Superfícies lipídicas ateromatosas hidrofóbicas, particularmente aquelas ricas em ésteres de colesterol, são predispostas à trombose devido à sua inerente capacidade de ligação com o fibrinogênio. Níveis séricos de fibrinogênio, maiores ou iguais a 300mg/dl, em pacientes portadores de AI (prognóstico desfavorável) e com níveis elevados desse marcador. correlacionam-se a risco aumentado de óbito, infarto do miocárdio ou isquemia espontânea, e assim como a PCR, estão associados à pior evolução de pacientes com coronariopatia instável (34,35,36). A utilidade clínica da TN-I para o diagnóstico de injúria miocárdica já foi demonstrada em vários estudos clínicos, com especificidade superior aos demais marcadores bioquímicos. A injúria, nesse caso, expressa não somente o diagnóstico de necrose miocárdica, como também o prognóstico da doença, independentemente do tipo de síndrome isquêmica aguda (41). Vários estudos epidemiológicos prospectivos já demonstraram associação entre níveis plasmáticos elevados de fibrinogênio e risco de isquemia miocárdica ou acidente vascular cerebral. Em um estudo europeu, o nível sérico de fibrinogênio foi preditor independente de infarto do miocárdio e morte súbita, com significância estatística (37). Os estudos demonstram que níveis elevados de TNI são detectados no sangue dentro de 4 a 6 horas após o início dos sintomas, atingindo concentrações máximas com 12 horas e permanecendo elevados por 3 a 10 dias após o IAM (42,43). Lindahl et al., em análise de pacientes portadores de doença coronariana instável, correlacionaram níveis de fibrinogênio e ocorrência de morte por causa cardíaca em seguimento médio de 37 meses. Tal estudo demonstrou maior número de óbitos no grupo de pacientes com nível sérico de fibrinogênio entre 340 e 390mg/dl nas primeiras 24 horas da admissão hospitalar, com significância estatística, quando comparado ao grupo com fibrinogênio inferior a 340mg/dl (38). Em estudo prospectivo correlacionando níveis de TNI e eventos isquêmicos precoces e tardios em pacientes admitidos na emergência com dor torácica de origem cardíaca, demonstrou-se que níveis serícos de TNI superiores a 0,2ng/ml se relacionaram à maior prevalência de óbito, IAM, angina instável e necessidade de procedimento de revascularização miocárdica, com significância estatística. Entretanto, não houve a mesma correlação no acompanhamento de 6 meses. Com isso, tal estudo reafirmou o valor prognóstico da TN-I como marcador preditor de eventos cardíacos isquêmicos adversos e precoces (na primeira semana da admissão hospitalar) no grupo de pacientes que se apresentaram com dor torácica cardíaca na sala de emergência (44). 3c) Troponinas A unidade contrátil da fibra muscular estriada denominada sarcômero é composta de dois tipos de filamentos: fino e espesso. O filamento espesso é basicamente composto de miosina, enquanto o fino é composto de actina, tropomiosina e troponina. A contração muscular ocorre quando os dois filamentos deslizam entre si, gerando o encurtamento do sarcômero, e a interação entre tais filamentos é regulada pelo complexo troponina do filamento fino (39). Da mesma forma, outros estudos também demonstraram que a elevação sérica da TN-I, na admissão, em pacientes com dor torácica, correlacionou-se a menor período de tempo livre de eventos coronarianos maiores (óbitos, IAM e revascularização miocárdica) (45,46,47). 46 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 46 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras distribution on fissuring of coronary atherosclerotic plaques. Lancet, 1989; 2:941-4. 20- Cheng, G. C.; Loree, H. M.; Kamm, R. D.; Fishbein, M. C.; Lee, R. T.; Distribution of circunferencial stress in ruptured and stable atherosclerotic lisions. Circulation, 1993; 87:117987. 21- Falk, E.; Shah, P. K.; Fuster, V. Coronary plaque disruption. Circulation, 1995; 92-657-71. 22- Kodama, K.; Sakura, M.; Ueda, Y.; Yamaguchi, O; Hirayama, A. The role of plaque rupture in the development of acute coronary syndrome evaluated by the coronary angioscopy. Intern Med, 2000. 39:333-5. 23- Cannon C.P., Turpie AG. Unstable Angina and nom ST elevation myocardial infartion – Initial Antithrombotic therapy and early invasive strategy. Circulation, 2003;107:2640-45. 24- Mach F. Lovis C., Gaspoz IM. – C reactive protein as a marker for acute coronary syndromes. Eur Heart J, 1997; 18:1897-1902. 25- Oltrona L. Ardissino D., Mirlini PA – C reactive protein elevation and early outcome in patients with unstable angina pectoris. Am J Cardiol, 1997; 80:1002-6. 26- Haverkate, F., Thompson SG, Pyke SDM, Gallimore JR. Prodution of C reactive protein and risk of coronary events in stable and unstable angina. Lancet, 1997; 349:462-66. 27- Biasucci LM, Liuzzo G., Grillo R. Elevated levels of C reactive protein at discharge in patients with restable angina predict recurrent instability. Circulation, 1999; 23:855-60. 28- Morrow F, Lovis C., Gaspoz JM. C reactive protein is a potent predictor of mortality independently of and in combination with Troponin T in acute coronary syndromes a TIMI 11A substudy. J Am Coll Cardiol, 1998; 31:1460-5 29- Liuzzo, G; Vallejo, AN; Kopecky, SL; Frye, R.L.; Holmes, DR; Goronzy, J. J . Molecular fingerprint of interferon – gama signaling in unstable angina. Circulation, 2001; 103:1509-14. 30- Hirano, T.; A Kira, S.; Taga, T., Kishimoto, T. Biological and clinical aspects of interleukin 6. Immunol. Today, 1990; 11:443-9. 31- Merrone, G; Ciliberto, G.; Oliviero, S.; Arcore, R., Dente, L.; Content, J; Cortese, R. Recombinant interleukin – 6 regulates the transcriptional activation of a set of human acute phase genes. J. Biol. Chem, 1998; 263:12554-8. 32- Ridker, P. M; Hennekens, C. H., Buring, JE; Rifai, N. C reactive protein and other markers of inflammation in the prediction of cardiovascular discase in women. N Engl J. Med, 2000; 342:836-43. 33- Biasucci, LM; Liuzzo, G.; Fantuzzi, G.; Caligiuri, G. Rebuzzi, A G; Ginnetti, F., Dinarello, C. A. Increasing levels of interleukin (IL-1Ra) and IL-6 during the first 2 days of hospitalization in unstable angina are with associated increased risk in-hospital coronary events – Circulation, 1999; 99:2079-84. 34- Toss, H Lin dahl, B.; Sieg bahn A. Prognostic influence of increased fibrinogen and C reactive protein levels in unstable coronary artery disease. Circulation, 1997; 96: 4204-9. 35- Woodward M, Lowe GD, Rumby A. Fibrinogen as a risk factor for coronary heart disease and mortality in middle aged men and womem. The Scottish Heart health study. Eur Heart J, 1998; 19:55-62. 36- Zimmerman J, From R, Meyer D. Diagnostic marker cooperative study for the diagnosis of myocardial infarction. Circulation, 1999; 6:1671-76. 37- Bolibar I, von Eckardstein A, Assmann G, T hompson S. ECAT European Concerted Action on Thombosis and disabilities. Considerations about plasma jibrinogen concentration and the cardiovascular risk. Am J Cardiol, 1996 ; 78(3):380-1. 38- Lindahl, B; Toss, H.; Siegbahn, A.; Vengi, P.; Wallentin, L. Markers of myocardial damage and inflammation in relation to long., term mortality in unstable coronary artery disease. N Engl J. Med, 2000; 343:1139-47. 39- Khan, IA; Tun, A.; Wattanasauwan, N. Elevation of serum cardiac troponin in noncardiac and cardiac diseases other than acute coronary syndromes. Am J Emerg Med, 1999; 17:225-29. 40- Hamm, CW; Giannitsis, E.; Katus, H A. Cardiac troponin elevations in patients without acute coronary syndrome. Circulation, 2002; 106:2871-72. 41- .Wu, AHB;Abbas,AS;Green,S;Pearsall,L;Azar ,R;Waters,RG.Prognostic value of cardiac troponin in unstable angina pectoris.Clin Biochem 1994;27:113-21. 42- Apple, FS; christenson, RH. Simultaneous rapid measurement of whole blood myglobin, creatine kinase MB and cardiac troponin by the triage cardiac panel for detection of myocardial infarction. Clin Chem, 1999; 45(2):199-205. 43- Kost GJ; Kirk JD, Omand K. A strategy for the use of cardiac injury markers (troponin I and T, creatine kinase MB mass and isoforms, and myoglobin), in the diagnosis of acute myocardial infarction. Arch Pathol Lab Med, 1998; 122(3):245-5. 44- Sonel A, Sassen BM, Fineberg S., Bang N Wilensky RL Prospective study correlating Fibrinopeptide A, Troponin T, myoglobin and myosin light chain levels with larly and late ischemic events in consective patients presenting to the emergency departament with chest pain. Circulation, 2000; 102:1107-1113. 45- Galvani M, Ottani F, Ferrini D, Ladenson JM, Destro A, Baccos D. Prognostic influence of elevated values of cardiac troponin I in patients with unstable angina. Circulation, 1997; 95(8):205358. 46- Hamm CW, Ravkilde J, Gerhardt W, Jorgensen P, Peheim E ,Goldmann B, Katus HA. The prognostic value of serum troponin T in unstable angina N Engl J Med, 1992; 327:146-50. 47- Lindahl B, Venge P, Wallentin L. for the FRISC study group. Relation between troponin T and risk of subsequent cardiac events in unstable coronary artery disease. Circulation, 1996; 93:16511657. 48- Benamer H, Steg P, Benessiano J. Elevated cardiac troponin I predicts a high risk angiographic anatomy of the culprit lesion in unstable angina. Am Heart J, 1999; 137:815-20. 49- The Joint European Society of Cardiology / American College of Cardiology Committee. Myocardial infarction redefined. Eur Heart J, 2000; 21:1502-13. Lindahl et al demonstraram que o risco de eventos isquêmicos em pacientes admitidos com síndrome coronariana instável permanece elevado por pelo menos 3 a 4 anos naqueles pacientes com elevação sérica de TN-I ou TN-T e atribuíram tal associação à maior prevalência de trombo intracoronário, lesões complexas e fluxo insatisfatório na artéria coronária acometida. Além disso, em pacientes com níveis séricos de TN-T superiores a 2,8 mcg/l, havia também necrose miocárdica suficiente para comprometer a função sistólica do ventrículo esquerdo e identificar aqueles pacientes com fração de ejeção inferior a 40% (47). Estudo publicado em 1999 demonstrou que, em pacientes portadores de AI e doença coronariana angiograficamente comprovada (no mínimo uma estenose maior ou igual a 50% da luz vascular), níveis elevados de TNI nas doze horas após a admissão hospitalar, associaram-se à maior complexidade da lesão alvo (traduzida por maior percentual de lesões do tipo C, presença de trombo intra coronário e fluxo TIMI desfavorável), o que correlaciona tal elevação à pior evolução clínica desse grupo de pacientes (48). Recentemente, a partir de consenso que reuniu as sociedades de cardiologia européia e americana, pacientes outrora diagnosticados como AI de alto risco passaram a ser considerados como IAM sem supra ST, com base no princípio de que, além da dor torácica e das alterações eletrocardiográficas, a presença de injúria miocárdica (traduzida pela elevação dos níveis de troponina no sangue), ainda que transitória, deveria ser identificada como uma autêntica necrose miocárdica (49). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- Virchow, R. Phologose und thrombose im gefassystem In: Virchow R, ed gesammelte Abhandlungen zur Wissenschaftlichen Medicin. Berlin: Meidinger Sohn and Co, 1856; 458-63. 2- Fuster, V.R; R; Topol, E. J. Atherosclerosis and Coronary Artery Disease. 1. ed. Lippincott Raven ,1996; 1:832. 3- Braunwald, E. Heart Disease A textbook of Cardiovascular Medicine. 5. Ed. Philadelphia, W. B. Saunders Company, 1997;1996. 4- Ross, R. The pathogenesis of atherosclerosis – an update. N. Engl. J. Med, 1986; 314:488500. 5- Ross, R. Atherosclerosis: an inflammatory disease. N. Engl. J. Med, 1999; 340:115-26. 6- Da Luz, P. L.; Favorato, D. Chronic Coronary Artery Disease Arq. Bras. Cardiol, 1999; 72:22-38. 7- Pasceri, V.; Yeh, E. T. H. A tale of two diseases. Atherosclerosis and rheumathoid arthritis. Circulation, 1999; 100:2124-26. 8- Miller, D. D., Craig, F.E; Dressler, F.A.; Aguirre, F. V.; Farrar, M. A.; Breland, C. M. ; Donohue, T. J.; Kern, M. J.; Bach, R. G. Immunohistochemical characterization of immune cell composition and cytokine receptor expression in human coronary atherectomy tissue. Coron. Artery Dis., 1995; 6:965-72. 9- Phipps, R.P. Atherosclerosis: The emerging role of inflammation and the CD- 40 ligand system PNSA, 2000; 97:6930-2. 10- Gown, A. M.; Tsukada, T.; Ross, R. Human atherosclerosis. Am. J. Pathol.; 1986; 125:191207. 11- Zaacks S., Liebson P. R., Calvin J. E. Unstable Angina and non – Q wave infarction. Does the clinical diagnosis have therapeutic implications? J. Am. Coll. Cardiol, 1999; 33:107-18. 12- Held C., Hj emdahl P., Rehnqvist N., Haemostatic markers, inflammatory parameters and lipids in male and female patients in the angina prognosis study in Stockholm (APSIS). A Comparison with health controls. J. Intern. Med, 1997; 241:56-69. 13- Klein W. L., Calvin J. E. Unstable Angina: Pathogenitic mechanisms, coronary angiographic observation, risk stratification and therapeutic implications. Heart Disease, 1999; 1:52-510. 14- Ambrose, J. A.; Israel, D. H. angiography in unstable angina. Am J Cardiol, 1991; 68:78B84B. 15- Van der Wal AC, Becker AE, van der Loos CM. Site of intimal rupture or erosion of thrombosed coronary atherosclerotic plagues is characterized by na inflammatory process irrespective of the dominant plaque morfology Circulation, 1994; 89:36-44. 16- Berk B. C, Weintraub W. S., Alexander R. W. Elevation of C reactive protein in “active” coronary artery disease. Am J Cardiol, 1990; 65:168-72. 17- Sato T., Takebayashi S., Kohchik., Increased subendothelial infitration of the coronary arteries with monocytes/mocrophages in patients with unstable angina. Histological data en 14 autopsied patients. Atherosclerosis, 1987; 68:191-97. 18- Loree, H., Kamm R. D.; Stringfellow R. G., Effects of fibrons cap thickness on peak circunferencial stress in model atherosclerosis vessels. Circ. Res., 1992: 71-850-8. 19- Richardson, P. D.; Davis ,M.J.;Born G. V. R; Influence of plaque configuration and stress 47 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 47 2/1/2001, 07:47 Artigos de Revisão Editorial Laranjeiras A Aplicabilidade da Ecocardiografia sob Estresse na Doença Valvar e sua Utilidade Prática Rio de Janeiro - RJ Ana Cristina Camarozano *, Luis Henrique Weitzel ** Introdução A estenose aórtica (EA) torna-se mais prevalente com o avançar da idade, e geralmente resulta da degeneração e calcificação dos folhetos valvares. É provável que a lesão endotelial causada pelo estresse mecânico desencadeie um processo inflamatório ativo semelhante à aterosclerose2. As doenças valvares ocasionam um trabalho adicional ao ventrículo esquerdo, direito, ou ambos, que inicialmente é tolerado pelos mecanismos compensatórios do organismo, mas num segundo momento, a sobrecarga hemodinâmica pode levar à disfunção muscular, à insuficiência cardíaca, e em um estágio mais avançado, à morte súbita1. As principais causas de EA de acordo com a faixa etária e conforme a estatística americana, são descritas abaixo (nossa estatística difere em relação à incidência de febre reumática – pós inflamatória): Uma questão torna-se bastante relevante neste contexto: -Qual o melhor tratamento e o melhor tempo de intervenção cirúrgica para minimizar ou eliminar a morbimortalidade desses pacientes? Em condições de repouso essa resposta pode ser bastante difícil, mas sob estresse existe a possibilidade de se definir com maior clareza a significância da patologia valvar. Tabela I Valva / Idade Apesar da ecocardiografia sob estresse ter se tornado um método amplamente aceito na abordagem da doença arterial coronária, infelizmente seu uso na doença valvar ainda é limitado, muito provavelmente pela falta de “familiaridade” com o método e com as informações que ele pode fornecer, bem como por conceitos mais arcaicos que consideram essa modalidade contra-indicada. < 70 anos > 70 anos Bicúspide 50% 27% Pós-Inflamatória 25% 23% Degenerativa 18% 48% 7% 2% Outras Mayo Clin Proc 1987 62:1193 Os pacientes com EA cursam um longo período sem sintomas, mesmo nos casos graves. Porém, o aparecimento do primeiro sintoma revela uma sobrevida menor que 4-5 anos, sendo a disfunção do ventrículo esquerdo a mais representativa de pior prognóstico1. Neste artigo discutiremos os reais benefícios da ecocardiografia sob estresse nos envolvimentos valvares. Abstract Sabemos que a indicação da troca da válvula é para aqueles que apresentam área valvar inferior a 0,75cm2 e que têm sintomas decorrentes da EA (dispnéia, síncope ou angina)4. Nos casos de indivíduos assintomáticos que evoluem com disfunção ventricular progressiva e hipotensão ao exercício, o procedimento cirúrgico também está indicado. The valvular heart disease cause an additional work to the left, right or both ventricle, that is permissible by compensatory mechanisms initially, but in the second moment the hemodynamic overload can take myocardial dysfunction, heart failure, and in advance stage, sudden death. One question is realy relevant in this context: -What the better treatment and the best time to the surgical intervention for reduce or abolish the morbidity and mortality in this patients? At rest conditions this answer can be difficult, but under stress there is more clean to define the valvular pathology. Outro fator importante é a freqüente associação desta doença com doença arterial coronariana (DAC); sendo que os pacientes assintomáticos do ponto de vista da EA que serão submetidos à revascularização miocárdica, têm indicação de troca valvar concomitante se a velocidade do jato aórtico ao ecocardiograma for acima de 4,0m/s, que equivale a um gradiente transvalvar máximo de 64mmHg. Nesta situação, o aparecimento dos sintomas valvares ocorrem numa proporção de 40% ao ano1. Although the stress echocardiography has became accept very well and established in coronary artery disease investigation, it is quite limited to valvular heart disease evaluate, probably because there is low “familiarity” with this method and its informations as old concepts that considered forbid this modality of image in this cases. Embora a presença ou ausência de sintomas sejam fatores determinantes no manuseio desses pacientes, nem sempre nos deparamos com um quadro clínico clássico da doença, de modo que não infrequentemente as queixas são muito subjetivas pela dificuldade de obtenção de uma história clínica adequada, e sintomas vagos ou “mascarados” pela auto-limitação do paciente. Além disso, a presença de DAC pode se tornar um fator In this article we discussed the real advantagens of stress echocardiography in patients with valvular heart disease. O Ecocardiograma sob Estresse na Estenose Aórtica *Médica do Serviço de Ecocardiografia do INC ** Chefe do Serviço de Ecocardiografia do INC 48 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 48 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras de confusão na avaliação desses casos e deve ser melhor esclarecida. Em situações como estas, um teste sob estresse pode fornecer dados mais objetivos, principalmente se houver dissociação clínico-ecocardiográfica, e deve ser indicado quando queremos saber se a presença de sintomas reflete um nível crítico de obstrução isolada ou um déficit de reserva contrátil, o que é de grande ajuda na diferenciação entre EA fixa significativa causando disfunção ventricular, e grave disfunção ventricular coexistente com EA não-significativa5. não tem grande aplicabilidade nesse grupo, principalmente quando se intenciona investigar isquemia miocárdica concomitante, pois resulta em maior número de testes falso-positivos decorrentes do aumento de massa e sobrecarga pressórica intra-ventricular associada à propriedades farmacocinéticas do medicamento vasodilatador10. O Ecocardiograma sob Estresse na Estenose Mitral A estenose mitral (EM) é uma das formas de apresentação mais freqüentes de cardiopatia reumática, atingindo mais as mulheres do que os homens. É uma doença progressiva e os pacientes podem permanecer assintomáticos por vários anos. Embora os sintomas são aqueles da insuficiência cardíaca, a contratilidade do ventrículo esquerdo na lesão valvar isolada, geralmente é normal, apesar de estar reduzida em pequeno número de casos devido a excessiva pós-carga secundária ao aumento da resistência vascular periférica. Do primeiro surto de febre reumática até o diagnóstico de EM pode haver um intervalo de cerca de 20 a 40 anos2. Pacientes assintomáticos ou com sintomas vagos, podem ser submetidos ao ecocardiograma sob esforço. Porém, em se tratando de idade avançada, limitação física ao exercício, ou má “janela” torácica para a realização do exame (que frequentemente esses pacientes apresentam), o estresse farmacológico tem uma indicação mais adequada com resultados tão satisfatórios quanto o esforço6. Pacientes com sintomas de insuficiência cardíaca e reduzida “performance” sistólica, que têm baixo gradiente transvalvar (secundário à disfunção ventricular), requerem uma atenção especial. Estudos neste subgrupo de pacientes têm mostrado alta mortalidade operatória e persistência dos sintomas após a cirurgia em alguns casos, não estando claro quais destes exibirão melhora no pósoperatório. Contudo, publicações recentes16 demonstram que casos desse tipo, quando conduzidos com base nos achados do ecocardiograma sob estresse, encerram melhores resultados. O saldo da cirurgia é favorável naqueles que aumentam o débito cardíaco e o gradiente transvalvar após um estímulo inotrópico ou à administração de nitroprussiato, ou seja, quando se identifica EA severa e reserva contrátil preservada. Enquanto que os casos em que há aumento do débito cardíaco, mas não do gradiente transvalvar, correspondem a um grupo de pacientes com EA leve ou moderada, a qual não é a causa primária da disfunção ventricular esquerda. Esse grupo não parece se beneficiar da troca valvar, sendo melhor conduzido de forma conservadora7. Nos casos em que a EM é moderada ou importante (área valvar menor do que 1,5 cm2) e a pressão arterial pulmonar é maior do que 50mmHg, é prudente avaliar a classe funcional real e os parâmetros hemodinâmicos ao exercício. Se ao esforço o gradiente de pressão transvalvar mitral médio for maior do que 15mmHg e a pressão sistólica pulmonar maior do que 60mmHg, a indicação de valvoplastia com balão toma seu lugar para os pouco sintomáticos (classe funcional II), e assintomáticos2. Para os pacientes com CF III ou IV e EM importante, o prognóstico é ruim se não forem tratados por algum procedimento intervencionista; assim, deve-se proceder a valvoplastia com balão, a comissurotomia cirúrgica ou a cirurgia de troca valvar, dependendo do escore de Block dado pelo ecocardiograma. Em casos de discordância entre os sintomas e os achados hemodinâmicos da lesão valvar, ou seja, EM leve ou moderada com intensa sintomatologia, deve-se considerar a avaliação ecocardiográfica sob esforço (esteira)2. Porém, conforme demonstrado por Hecker6, a dobutamina é uma droga eficaz, que deve ser utilizada naqueles pacientes que não podem realizar exercício, com resultados equivalentes 6,11. Outra vantagem do estresse farmacológico está na possibilidade de fazer análises hemodinâmicas de modo mais adequado, uma vez que o incremento da dose da dobutamina é gradativo e a obtenção das imagens é contínua, o que não ocorre com o exercício em esteira. Neste, todas as medidas devem ser feitas primeiro em repouso e depois imediatamente após o pico do esforço. São candidatos à intervenção aqueles que como descrito anteriormente, apresentam gradiente médio > 15mmHg e/ou pressão arterial pulmonar > 60mmHg 2. Tunick e col.12, demonstraram uma menor tolerância ao esforço e maiores níveis de pressão arterial pulmonar (PASP) nos pacientes que desenvolveram dispnéia ao ecocardiograma sob esforço, tendo o resultado do teste afetado a conduta em 84% dos casos. A figura 1, abaixo(da esquerda) denota o aumento da PSAP sob exercício, em pacientes com EM moderada, definindo uma conduta intervencionista nesses doentes. Um novo ecocardiograma sob estresse feito após a cirurgia evidencia marcada redução da pressão arterial pulmonar13(figura 1, do lado direito). DeFillipe8 realizou ecocardiograma com dobutamina em 18 pacientes com área valvar < 0,5cm2/m2, baixo gradiente médio (<30mmHg), e disfunção ventricular esquerda (fração de ejeção < 45%). O autor encontrou três diferentes respostas na EA, dividindo-a em estenose fixa e nãofixa: a) Aumento de 20% no escore de motilidade parietal com aumento no gradiente médio e na resistência valvar, sem mudança na área da valva. Esses achados corresponderam a um grupo com reserva contrátil e estenose fixa; b) Aumento no escore de motilidade parietal com aumento da área valvar e manutenção do gradiente médio ou resistência valvar. Correspondeu a um grupo com reserva contrátil e ausência de EA grave, sendo a disfunção miocárdica primária, portanto não dependente da EA; c) Ausência de aumento no escore de motilidade parietal independente das alterações na dinâmica valvar. Denotou um grupo sem reserva contrátil que cursou com maior morbi-mortalidade e pior prognóstico. O teste com dobutamina é bem tolerado por esses pacientes, e apesar da maior incidência de efeitos colaterais (arritmias e hipotensão) é um método seguro e eficaz9,15,inclusive quando o objetivo é a investigação de coronariopatia associada, e está presente em cerca de 30% desses pacientes. Já o estresse com dipiridamol 49 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 49 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras Figura 1 de disfunção ventricular (diâmetro sistólico do VE > 45mm e/ou fração de ejeção < 60%) também devem ser selecionados para tratamento cirúrgico visando não comprometer a sobrevida. Quando a fração de ejeção (FE) cai abaixo de 30% a maioria considera a manutenção do tratamento clínico a melhor conduta, pelo alto risco operatório desses doentes1. No que diz respeito à análise da área, em condições de mudanças hemodinâmicas (como é o caso do teste de estresse) a avaliação da área valvar pela equação de continuidade é preferível ao “pressure half-time” (PHT), por este último sofrer alterações do fluxo e da freqüência cardíaca elevada14. De um modo geral, os pacientes que exibem gradientes e área valvar intermediários em condições de repouso, merecem uma avaliação mais minuciosa sob estresse, no intuito de identificar a severidade hemodinâmica da EM e hipertensão pulmonar reversível29. Na IM a ecocardiografia sob estresse também tem grande aplicabilidade, e é capaz de predizer disfunção ventricular latente antes da intervenção cirúrgica. A resposta hemodinâmica esperada em pacientes com IM grave e crônica, assintomáticos e com boa fração de ejeção (FE), é uma melhora da FE sob exercício com aumento do débito cardíaco (o que é comparável aos indivíduos normais). Porém, Leung e col.18, estudando pacientes com função sistólica normal em repouso e IM isolada, com mínimo ou nenhum sintoma, evidenciaram que um quarto destes tinham fração de ejeção <50% após o procedimento cirúrgico, e na análise multivariada o volume diastólico final (VDF) indexado >25cm/m e a FE <68% ao exercício, foram preditores independentes de pior prognóstico no pós-operatório. Eles concluíram que IM grave em pacientes pouco sintomáticos ou mesmos assintomáticos, pode apresentar limitada reserva contrátil, a qual é manifestada sob estresse com um inadequado aumento na FE e um elevado volume sistólico e diastólico final. O Ecocardiograma sob Estresse na Insuficiência Mitral A insuficiência mitral (IM) tem como causas mais comuns a febre reumática, a endocardite infecciosa, e o prolapso com degeneração mixomatosa. A regurgitação mitral crônica é compensada pelo desenvolvimento de hipertrofia excêntrica e dilatação das cavidades cardíacas, e uma vez iniciados esses mecanismos adaptativos, mesmo com o excesso de volume imposto, a reserva inotrópica do ventrículo esquerdo (VE) é mantida. O átrio esquerdo também aumenta gradativamente para acomodar o excesso de volume que retorna a cada sístole, o que impede grandes aumentos na pressão atrial esquerda. Os principais resultados hemodinâmicos são: pré-carga aumentada, pós-carga reduzida (pelo retorno de sangue para o átrio), volume sistólico total aumentado (somando o volume regurgitante), e volume ejetado normal. Este quadro define a IM compensada, e a função ventricular ainda se mantém normal ou aparentemente normal (pois sua função é superestimada pela pós-carga reduzida). Com o tempo, sobrevêm a disfunção ventricular que resulta em diminuição do volume sistólico, aumento do volume residual e aumento da pressão diastólica final do VE. A cirurgia para correção ou troca valvar deve ser realizada antes que ocorra a disfunção ventricular para não comprometer os resultados2,17. A presença de IM induzida ao esforço também parece ter implicações sobre a morbidade dos pacientes, este fato foi demonstrado por Tischler e col.19 em pacientes portadores de prolapso valvar mitral. Na investigação da insuficiência mitral isquêmica, Heinle20 realizou um ecocardiograma com dobutamina em pacientes portadores de DAC conhecida ou suspeitada. O autor observou que os pacientes com teste positivo para DAC não apresentaram nova ou piora da IM, sugerindo que o benefício hemodinâmico da dobutamina pode exceder a carga isquêmica dos músculos papilares. Contudo, quando a carga isquêmica é acentuada, a piora da IM em um teste sob estresse positivo para DAC é notável21. Ao contrário das lesões estenóticas, as lesões regurgitantes podem progredir insidiosamente causando dano ventricular antes dos sintomas. Os primeiros sintomas da IM importante vão surgir 15 a 20 anos após o diagnóstico, sendo que após seu início a sobrevida diminui de maneira expressiva se os pacientes não forem operados, com uma sobrevida média de 45% em 5 anos . Os pacientes assintomáticos que denotam sinais O Ecocardiograma sob Estresse na Insuficiência Aórtica A insuficiência aórtica (IA) pode ser causada por doenças que envolvem os folhetos valvares e/ou a parede da raiz aórtica; e pode ser definida como um fluxo retrógrado através da valva aórtica durante a diástole, resultando no aumento da pré-carga e da pós carga, uma vez que a 50 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 50 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras elevação do volume sistólico leva ao aumento da pressão de pulso, hipertensão sistólica e aumento da impedância da aorta2. b) aqueles que não alteram a FE; e c) aqueles que apresentam redução da FE sob estresse. Este último grupo apresenta pior prognóstico por ser de maior gravidade26. A despeito da tentativa orgânica compensatória levar à hipertrofia excêntrica e concêntrica do VE, a combinação de sobrecarga pressórica e sobrecarga volumétrica que se desenvolvem na IA, podem resultar em dano miocárdico com conseqüente disfunção contrátil22. O ecocardiograma sob estresse tem importante papel, por ser capaz de induzir a disfunção ventricular que está latente, antes que o DSF atinja 55mm ou a FE tornese <55%, especialmente tendo conhecimento de que a duração da disfunção no período pré-operatório é um fator determinante na reversibilidade da função contrátil. Um aumento da FE de no mínimo 5% correlaciona-se com preservada função sistólica (reserva contrátil), enquanto que uma diminuição na FE ou elevação menor que este valor é indicativo de elevado estresse parietal e déficit contrátil27. Os sintomas podem estar ausentes até a disfunção ventricular tornar-se avançada, e os pacientes com regurgitação aórtica crônica grave e função de VE normal que permanecem assintomáticos, precisam de acompanhamento em intervalos de 6 meses com avaliação ecocardiográfica seriada, focando os diâmetros do VE e a FE. A cirurgia deve ser cogitada quando a FE cai para menos de 55%, a fração de encurtamento fica abaixo de 27% ou o diâmetro sistólico final excede 55mm 1,23. O momento cirúrgico dessa doença parece ser aquele em que a hipertrofia não compensa a sobrecarga hemodinâmica, e a FE ainda apresenta-se normal. Nesse momento, a mortalidade cirúrgica é baixa e o procedimento pode mudar a história natural da doença30. Do mesmo modo que na IM, a IA passa a ter pior prognóstico na vigência de disfunção ventricular, e a cirurgia deve ser realizada antes da ocorrência de disfunção miocárdica grave e irreversível. Contudo, as maiores dúvidas existem quando lidamos com pacientes que apresentam mínimos sintomas e função ventricular preservada, ou são assintomáticos com função ventricular discretamente comprometida. Conclusão Apesar da utilização comedida na doença valvular, atualmente a ecocardiografia sob estresse deixa de ser um exame “proibitivo” para ser um método de auxílio na tomada de decisão dessa entidade clínico-cirúrgica. A melhora significativa da FE após a troca valvar de pacientes que cursam com função ventricular pouco comprometida é mostrada na figura 2, abaixo: A definição de uma estenóse aórtica verdadeiramente crítica na vigência de disfunção ventricular, a detecção de reserva contrátil nas lesões regurgitantes, e a indução de hipertensão arterial pulmonar na estenose mitral, são dados que podem ser obtidos pelo ecocardiograma sob estresse, permitindo ao clínico uma visão diferente e mais objetiva de seu doente, tornando assim, a conduta mais clara, segura e eficiente. Referências Bibliográficas 1 – Carabello BA, Crawford FA – Valvular heart disease. N Engl J Med. 337(1):32-40, 1997 2 – Stefanini E, Povoa R – Doenças Valvares. Revista Compacta: temas em cardiologia. IV(1):521, 2002 3 – Passik CS – Temporal changes in the causes of aortic stenosis: a surgical pathologic study of 646 cases. Mayo Clin Proc 62:119, 1987 4 – Oh JK, Seward JB, Tajik AJ – The Echo Manual. Mayo Clinic. MEDSI Editora médica e científica Ltda, 1999, pg.88 5 – Gasior Z, Plonska E – Stress echocardiography with dobutamine in patients with aortic stenosis. Przegl Lek 59(8):665-667, 2002 6 – Hecker SL, Zabalgoitia M, Ashline P, et al. – Comparison of exercise and dobutamine stress echocardiography in assessing mitral stenosis. Am J Cardiol 80:1374-1377, 1997 7 – Schwammenthal E, Vered Z, Moshkowitz Y et al. – Dobutamine echocardiography in patients with aortic stenosis and left ventricular dysfunction. Chest 119:1766-1777, 2001 8 – DeFellipe CR, Willett DL, Brickner ME et al – Usefulness of dobutamine echocardiography in distinguishing severe from nonsevere valvular aortic stenosis in patients with depressed left ventricular funcion an low transvalvular gradients. Am J Cardiol 75:191, 1995 9 – Plonska E, Szyszka A, Kasprzak J et al.- Side effects during dobutamine stress echocardiography in patients with aortic stenosis. Pol Merkuriusz Lek 11(65):406-410, 2001 10 – Baroni M, Maffei S, Terrazi M et al.- Mechanisms of regional ischaemic changes during dipyridamole echocardiography in patients with severe aortic valve stenosis and normal coronary arteries. Heart 75:492-497, 1996 11 – Hwang MH, Pacold I, Piao ZE, et al – The usefulness of dobutamine in the assessment of the severity of mitral stenosis. Am Heart J 111:312-316, 1986 12 – Tunick PA, Freedberg RS, Gargiulo A, et al – Exercise Doppler echocardiography as an aid to clinical decision making in mitral valve disease. J Am Soc Echocardiogr 5:225-230, 2001 13 – Sagar KB, Wann LS, Paulson WJ, et al. – Role of exercise Doppler echocardiography in isolated mitral stenosis. Chest 92:27-30, 1987 14 – Braverman AC, Thomas JD, Lee RT – Doppler echocardiographic estimation of mitral valve area during changing hemodynamic conditions. Am J Cardiol 68:1485-1490, 1991 15 – Plonska E, Gaior Z, Szyszka A, et al.- Safety of stress echocardiography with dobutamine used in patients with aortic stenosis and left ventricular dysfunction. Przegl Lek 59(8):668-671, 2002 16 – Monin JL, Monchi M, Gest V, et al.- Aortic stenosis with severe left ventricular dysfunction and low transvalvular pressure gradients: risk stratification by low-dose dobutamine echocardiography. J Am Coll Cardiol 37(8):2101-2107, 2001 17 – Otto CM – Evaluation and management of chronic mitral regurgitation. N Engl J Méd 345(10):740-746, 2001 18 – Leung DY, Griffin BP, Stewart WJ, et al.- Left ventricular function after valve repair for chronic Bonow e col.24 Figura 2 Bonow24 também mostrou ser a gravidade dos sintomas pré-operatórios e a tolerância ao exercício os maiores preditores do resultado cirúrgico; enquanto que as mudanças no diâmetro sistólico final (DSF) e na FE, foram preditores do desenvolvimento dos sintomas e da necessidade de intervenção. Na análise de pacientes com IA moderada e grave que se submeteram a ecocardiografia sob estresse, Wahi25 identificou de forma mais precoce um grupo de pacientes com disfunção ventricular latente, através daqueles que não apresentaram reserva contrátil ao esforço. Nesse estudo, a redução da FE e da reserva contrátil foram preditores independentes da descompensação cardíaca. Na abordagem da IA pelo ecocardiograma sob estresse, em geral podemos identificar 3 subgrupos de pacientes: a) aqueles que aumentam a FE sob estresse; 51 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 51 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras mitral regurgitation: predictive value of preoperative assessment of contractile reserve by exercise echocardiography. J Am Coll Cardiol 28:1198-1205, 1996 19 – Tischler MD, Battle RW, Ashikaga T, et al.- Effects of exercise on left ventricular performance determined by echocardiography in chronic, severe mitral regurgitation secondary to mitral valve prolapse. Am J Cardiol 77:397-402, 1996 20 – Heinle SK, Tice FD, Kisslo J. Effect of dobutamine stress echocardiography on mitral regurgitation. J Am Coll Cardiol 25:122-127, 1995 21 – Orsinelli DA, Daniels CJ. – Pharmacologic stress echocardiography: dobutamine and arbutamine stress testing. Cardiol Clin North Am 17(3):461-479, 1999 22 – Decena BF, Tischler MD. – Stress echocardiography in valvular heart disease. Cardiol Clin North Am 17(3):555-572, 1999 23 – Bonow RO, Lakatos E, Maron BJ et al. – Serial long-term assessment of the natural history of asymptomatic patients with chronic aortic regurgitation and normal left ventricular systolic function. Circulation 84:1625-1635, 1991 24 – Bonow RO, Rosing DR, Maron BJ, et al. – Reversal of left ventricular dysfunction after aortic valve replacement for chronic aortic regurgitation: influence of duration of preoperative left ventricular dysfunction. Circulation 70:570-579, 1984 25 – Wahi S, Hakuska BA, Armstrong GP, et al. – Exercise echo predicts outcome in asymptomatic patients with severe aortic regurgitation. Circulation 98(SI):91, 1998 26 – Picano E. – Stress echocardiography. Copyright by Springer-Verlag Berlin Heidelberg. Livraria e editora Revinter. pg273, 2000 27 – Otto CM. – Valvular Heart Disease. W.B. Saunders Company. Philadelphia, Pennsylvania, pg 73, 1999 28 – Leavitt JI, Coats MH, Falk RH. – Effects of exercise on transmitral gradient and pulmonary artery pressure in patients with mitral stenosis or a prosthetic mitral valve: a Doppler echocardiographic study. J Am Coll Cardiol 17:1520-1526, 1991 29 – Voelker W, Jacksch R, Dittmann H, et al. – Validation of continuous-wave Doppler measurements of mitral valve gradients during exercise: a simultaneous Doppler-catheter study. Eur Heart J 10:737-746, 1989 30 – Guadalajara JF, Gual J, Martinez SC, et al. – Myocardioal hypertrophy in aortic insufficiency as a compensation mechanism. Implications for surgical indicaton. Arch Inst Cardiol Mex 62:351360, 1998 52 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 52 2/1/2001, 07:47 Artigos de Revisão Editorial Laranjeiras CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA E PERVIEDADE DOS ENXERTOS Rio de Janeiro - RJ Felipe José Monassa Pittella * Resumo O aparecimento de isquemia miocárdica após a CRM pode resultar de lesões que afetam os próprios enxertos (má técnica, fluxo inadequado, estenose e oclusão) ou a circulação nativa (revascularização incompleta ou novas lesões). A doença dos enxertos venosos é um importante problema na prática cardiológica, e compreende três processos patológicos distintos, porém inter-relacionados: trombose, hiperplasia da íntima e aterosclerose. Embora os fatores de risco que predispõe à aterosclerose dos enxertos venosos sejam semelhantes aos do vaso nativo, o seu efeito patogênico é ampliado devido às deficiências do conduto quando colocado na circulação arterial coronariana. O autor aborda os fatores que influenciam a perviedade dos enxertos, e os aspectos funcionais relacionados com a avaliação dos pacientes revascularizados cirurgicamente. ENXERTO VENOSO A ponte de veia safena é o enxerto mais utilizado na cirurgia de revascularização do miocárdio. (9) Entretanto, as limitações da revascularização do miocárdio com pontes de safena ficaram evidentes com o aumento do número de pacientes operados que voltavam a apresentar angina ou síndrome isquêmica aguda. Abstract A angina ocorre em 20% dos pacientes durante o primeiro ano após a CRM com enxertos de safena e, anualmente, em 4% dos pacientes num período de um a seis anos. (10) O prognóstico com relação à mortalidade é significativamente pior para os pacientes com síndrome isquêmica aguda e CRM prévia. Quando comparados com os pacientes sem CRM, aqueles com CRM têm significativamente mais vasos ocluídos, com menor TIMI fluxo e pior função ventricular esquerda. (14-17) Vein graft disease is an important problem in cardiology practice. It involves three different but interrelated pathologic processes: thrombosis, intimal hyperplasia and atherosclerosis. The risk factors predisposing to vein grafts atherosclerosis are similar to those of the native vein; however their pathogenic effect is much greater due to deficiencies related to conduit insertion in the coronary arterial circulation. The author discusses the factors influencing graft patency and the functional aspects related to assessment of patients that underwent surgical revascularization. Durante o primeiro ano após a CRM, 15% dos enxertos de safena estão ocluídos e, entre um e seis anos, a taxa é de 1 a 2% ao ano. Após 10 anos, somente 60% dos enxertos estão pérvios e apenas a metade está livre de estenose significativa.(11-13) No primeiro mês, cerca de 3 a 12% dos enxertos venosos ocluem com ou sem sintomas, e o principal mecanismo responsável por essa oclusão é a trombose. (10-18) A propensão à oclusão precoce é resultado do efeito pró-trombótico, decorrente da menor produção de oxido nítrico, prostaciclinas e sulfato de heparina nos enxertos venosos, quando comparados com os arteriais.(18-19) Mesmo quando utilizado sob condições ótimas, o condutor venoso está associado com alterações da camada endotelial. Essa disfunção endotelial resulta em acúmulo de fibrina, aderências de plaquetas e neutrófilos, e redução na produção do ativador do plasminogênio tecidual (t-PA).(20-23) A propensão à oclusão dos enxertos pode ser ainda aumentada por fatores técnicos, como a redução do fluxo devido ao estreitamento anastomótico e à implantação do enxerto proximal ao segmento com aterosclerose. As doenças cardiovasculares, especialmente a miocardiopatia isquêmica, constituem as mais importantes causas de mortalidade na sociedade moderna.(1) Nos últimos anos, temos observado a queda do coeficiente de mortalidade por doenças cardiovasculares como conseqüência do controle dos principais fatores de risco. (2) Paralelamente a esse controle, a experiência acumulada com o tratamento clínico e o progresso do tratamento cirúrgico nas últimas três décadas colaboraram para a diminuição da mortalidade e melhora da qualidade de vida dos pacientes com doenças coronarianas ( DAC ). (3) O prognóstico dos pacientes após cirurgia de revascularização miocárdica (CRM), porém, depende de vários fatores, principalmente da perviedade dos enxertos e da função ventricular esquerda (6-8). Estudos têm determinado que a isquemia miocárdica após CRM pode ocorrer espontaneamente ou ser precipitada por teste de esforço em 33-35% dos pacientes. (5) A sua presença, acompanhada ou não de angina, tem efeito adverso no prognóstico a médio e longo prazo.(4,5) A hiperplasia da íntima, definida por migração e proliferação das células da musculatura lisa vascular, seguidas de síntese e depósito da matriz extracelular, é o processo que acontece entre um mês e um ano após o implante do enxerto venoso.(24) Esse processo raramente produz estenose significativa (máximo de 25% da redu- *Médico da Divisão de Doença Coronária do Instituto Nacional de Cardiologia.( INC) Mestrando em Cardiologia pela Universidade Federal Fluminense ( UFF ) 53 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 53 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras ção do lúmen), representando a base para o desenvolvimento posterior de aterosclerose.(25) Após o primeiro ano, aterosclerose é o processo dominante nos enxertos venosos e a causa da recorrência dos sintomas. Embora a progressão da doença no vaso nativo seja também importante na recorrência dos sintomas, estudos angiográficos indicam que em pacientes que se apresentam com síndrome isquêmica aguda depois da CRM, a lesão aterosclerótica culpada em 70 a 85% dos casos é a do enxerto venoso, freqüentemente com trombo aderido.(26) Em função desses achados, é necessário que os pacientes pós-CRM recebam tratamento agressivo na redução dos lipídios, a fim de preservar a perviedade dos enxertos. Hipertensão arterial Estudos não têm evidenciado a associação entre hipertensão arterial e oclusão precoce ou tardia dos enxertos venosos; entretanto, eles têm implicado a hipertensão arterial como fator de risco para hiperplasia da íntima, que representa a base para o desenvolvimento de aterosclerose nos enxertos venosos. (11, 18, 25, 28, 33,38 ). FATORES QUE INFLUENCIAM A PERVIEDADE DOS ENXERTOS: Diabetes Mellitus Diâmetro do vaso nativo É um importante fator de risco para aumento da mortalidade após a CRM. (39) Roth e colaboradores observaram que a perviedade em um ano foi de 90% para vasos com diâmetros >1,5mm e somente de 65% para vasos < 1,5mm. (27). No registro CASS. o diabetes mellitus foi um preditor da recorrência de angina no segundo ano após a CRM e também na progressão da doença nos vasos nativos cinco anos após a CRM. (14,15) Apesar dessas evidências, não existem estudos consistentes que demostrem ser o diabetes mellitus um fator de risco para o desenvolvimento de aterosclerose nos enxertos venosos.(11, 33,34). Vaso revascularizado Cataldo e colaboradores observaram que a taxa de patência para artéria descendente anterior foi significativamente maior que para CD e CX. (28). Sexo Gravidade da estenose proximal Dados do registro CASS mostram maior taxa de angina recorrente nas mulheres após o primeiro ano de CRM (10). Loop e col. observaram que a perviedade dos enxertos venosos, em dois anos, foi significativamente menor nas mulheres (76,4%) do que nos homens (82,1%) p<0,001. (40) Roth e colaboradores descobriram patência angiográfica de 90% em um ano para veias anastomosadas em artérias com estenose > 70%, mas somente de 80% para as com estenoses < 70% (p = 0.05).(27) A redução da patência precoce em mulheres parece ser atribuída ao menor diâmetro dos vasos. Tabagismo Estudos têm implicado o cigarro como um importante fator de risco para o desenvolvimento de aterosclerose precoce e tardia nos enxertos de safena. (30-32) Resultados do Coronary Artery Surgery Study (CASS) mostrou que o índice de sobreviventes em 10 anos após a CRM foi de 77% entre os 312 fumantes, comparados com o de 82% entre os 468 não fumantes ( p = 0,0025). (29) Drogas antiplaquetárias Metanálise de estudos revelam uma relação inversa entre a patência dos enxertos e o número de dias de inicio do tratamento com drogas antiplaquetárias após a CRM. Quanto mais precoce o início do tratamento, maior a patência dos enxertos.(41) Estudos mostraram ser o ácido acetil salicílico (AAS ) eficaz em melhorar a patência dos enxertos somente se iniciado não mais do que um dia após a CRM, tornando-se a droga ineficaz se iniciada mais do que 48 horas após a CRM.(42-44) Hiperlipidemia Estudos demonstram ser a hiperlipidemia um fator de risco para o desenvolvimento de aterosclerose tanto nos vasos nativos quanto nos enxertos venosos (11-3336). Aqueles com hiperlipidemia têm uma alta incidência de eventos clínicos tardios ,como infarto agudo do miocárdio, e necessitam de nova RVM (30-33,34). O AAS reduz significativamente a oclusão dos enxertos venosos no primeiro ano após a CRM, porém o efeito sobre os enxertos arteriais não foi demonstrado. (46) A ticlopidina também é eficaz, porém não oferece vantagens sobre o AAS, sendo usada nos casos de contra-indicação deste.último. (45) Solymoss e col. demostraram que pacientes com índice de Castelli I e II elevados eram mais propensos à trombose tardia dos enxertos venosos. (30) O clopidogrel oferece a vantagem de poucos efeitos colaterais, quando comparado com a ticlopidina, constituindo uma alternativa como droga antiplaquetária. A combinação de hipertrigliceridemia e HDL-C baixo é também um importante preditor de aumento da morbidade e mortalidade após a CRM. (37) O Post Coronary Bypass Study (POST-CABG) avaliou 1351 pacientes e demonstrou que o tratamento agressivo com lovastatina (objetivo era LDL-C entre 60 e 85 mg/) resultou em uma menor progressão das lesões, do percentual de oclusões dos enxertos. bem como da necessidade de nova revascularização.(35) Em resumo, a estratégia para melhora da patência dos enxertos venosos deve incluir a melhora da preservação endotelial durante a CRM, o uso dos agentes antiplaquetários tão logo quanto possível e uma estratégia agressiva na redução dos fatores de risco. 54 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 54 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras Vários métodos estão disponíveis para a detecção de isquemia miocárdica após a CRM, porém devemos ter cautela na avaliação dos resultados dos exames porque vários fatores podem influenciá-los. Os fatores mais importantes são: uso de drogas, freqüência cardíaca atingida, porte do vaso tratado, revascularização completa ou não, presença de infarto prévio e situações que falseiam o resultado do teste ergométrico, como hipertrofia ventricular esquerda e bloqueios de ramos. (66,67) Estudos realizados com o teste ergométrico (TE) mostram uma pobre correlação com os achados angiográficos após a CRM. Nos pacientes com fluxo coronariano adequado, 30% ou mais do TE foram anormais e, naqueles em que a angiografia indicava compromimento do fluxo vascular, 50% ou mais dos exames foram negativos.(68,69 ) ENXERTOS ARTERIAIS Dados do registro CASS mostram que pacientes com enxertos de artéria torácica interna (ATI) tiveram melhor sobrevida em 15 anos, quando comparados àqueles com enxertos exclusivamente venosos. (52,54-57) Os enxertos arteriais, particularmente os da ATI, têm demonstrado elevada taxa de perviedade a médio e longo prazo. (49) A superioridade da artéria descendente anterior sobre a veia safena, com perviedade tardia (>10 anos) da artéria acima de 90% contra menos de 60% para as veias safenas, tem reforçado o conceito de se realizar a revascularização com maior número de enxertos arteriais, a fim de reduzir o número de reoperações, determinar maior sobrevida e diminuir o número de eventos cardiovasculares. (58,59) Entretanto, a presença de determinadas alterações no TE sugere oclusão dos enxertos e/ou progressão da aterosclerose, como, por exemplo: a) exame positivo para dor especialmente se for o caso de revascularização completa ou se esse sintoma estiver ausente de exames prévios; b) testes seriados com piora progressiva; c) testes positivos em baixa carga; d) indução de arritmias graves com o esforço.(70) Estudo recente mostrou, em angiografia realizada em média 10,8 dias após a CRM, que a ATI esquerda estava amplamente pérvia em 91% dos casos, apresentava obstrução entre 50% e 90% em 7,8%, e estava ocluída em 1,3% dos casos.(59) Propriedades físicas e estruturais da ATI conferem maior resistência à aterosclerose, quando comparada à veia safena.(18,60) Pode ocorrer isquemia miocárdica no território do enxerto da ATI devido ao desenvolvimento de doença aterosclerótica distalmente ao sitio da anastomose.(38) Menos comumente, a estenose ocorre na própria ATI, usualmente na anastomose distal, como resultado da hiperplasia intimal e por problemas técnicos na realização da anastomose .(61) Quando comparado com o teste ergométrico, o ecocardiograma de estresse com esforço tem sensibilidade e especificidade superior (98% vs 41% e 92% vs 67%, respectivamente). Este último método fornece informação rigorosa do segmento deficientemente revascularizado, com alta acurácia para a detecção de estenoses significativas.(68,69) A artéria radial começou a ser utilizada na década de 70, porém foi abandonada pelo alto índice de espasmo e de oclusão precoce. (62) Com o aprimoramento das técnicas operatórias, além do uso da solução de papaverina e dos bloqueadores dos canais de cálcio, a artéria radial voltou a ser utilizada na década de 90.(63) Atualmente é o segundo enxerto mais utilizado, quando não se pode utilizar ambas as ATI.(64) Nos pacientes inabilitados para o exercício (cerca de 30% da população que requer prova funcional ) e naqueles com fatores que potencialmente gerem falso positivo, podemos realizar a cintilografia miocárdica (CM) com Tálio 201 ou Mibi e o ecocardiograma de estresse com dobutamina ( ESD). Na CM, o achado de alterações isquêmicas expressivas, nas áreas supridas por enxertos, sugere fortemente oclusão ou progressão da aterosclerose nesses condutos, enquanto achados similares em regiões não revascularizadas indicam progressão da doença na circulação nativa.(71 ) Recentes avaliações angiográficas têm relatado taxa de patência em 12 meses de 95,7% e de 88,9% em 11 meses.(66) A artéria epigástrica inferior começou a ser utilizada em 1990 e tem demonstrado bons resultados, porém seu uso é limitado pelo seu pequeno comprimento.(65) Estudos angiográficos têm mostrado taxa de patência de 97% em 11 dias e em torno de 90% em 8,5 meses (67). Achados de estudos com ESD após a CRM demonstram que o método tem alta especificidade (89%) e sensibilidade (78%) para detectar isquemia miocárdica em territórios com comprometimento vascular. (72) Tais resultados são comparáveis a estudos em pacientes sem CRM, mostrando a ausência de limitações desse método nessa população. A artéria gastroepiplóica direita vem sendo utilizada desde 1984 e vem ganhando aceitação após estudos clínicos que apesentaram 95% de perviedade em 5 anos.(68) Portanto, em vista do maior benefício dos enxertos arteriais sobre os venosos na diminuição da morbidade e da mortalidade precoce e tardia, devemos sempre realizar a RVM com o maior número de enxertos arteriais. Enfim, todas essas provas funcionais detectoras de isquemia miocárdica, quando mostrarem alterações que sugiram grandes áreas de miocárdio em risco, indicarão necessidade de nova cinecoronariografia no período precoce ou tardio da revascularização miocárdica, para avaliação dos enxertos e da circulação nativa. Uma vez que as oclusões das pontes de safena podem ocorrer sem angina e como a perviedade dos enxertos e a presença de isquemia miocárdica são fatores determinantes no prognostico após a CRM, existe a necessidade de provas funcionais no acompanhamento dos pacientes submetidos a enxerto de veia safena. Referências Bibliográficas 1. Brasil . Ministério da Saúde .Fundação Nacional de Saúde.Mortalidade Brasil -1994,Brasília: CENEPI / FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 1997 PG 326 2. Berglehle R. Medical Management and the decline in mortality from Coronary Heart Disease. BR MED J 1986; 292-.33 PROVAS FUNCIONAIS DETECTORAS DE ISQUEMIA MIOCÁRDICA 3. Cosgrove DM, Loop FE , Lytie BW , Baillot R , Gill CC , Goldingle LA, et al. .Primary 55 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 55 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras Myocardial Revascularization : Trends in Surgical Mortality. J THORAC CARDIOVASC SURG 1984; 88 : 673 – 84. 27. Roth JÁ , Cukingnass RA , Brown BG , Gocka E , Carey J S. Factors influencing patency of saphenous vein grafts. ANN THORAC SURG 1979;28 : 176 – 183. 4. Rahimtoola SH / 1982. Coronary Bypass Sugery for Chronic Angina – 1981. a perspective. CIRCULATION 1982 ; 65 : 225- 41. 28. Cataldo G , Braga M , Pirotta N, Lavezzari M. Factors influencing patency of saphenous vein grafts. Studio Indobufene nel Bypass Aortocoronarico (SINBA) . CIRCULATION 1993; 88 (SUPPL II) : II-93-II-98. 5. Weiner DA , Ryant J , Prsgns L, Fisher L. D , Chaitran BR , Sheffield L.T and , Tristani F E (1991) .Prevalence and Prognostic Significance of Silent and Symptomatic Ischemia after coronary bypass sugery. A report from the Coronary Surgery Study (CASS) . randomised population JACC 1991, 18 : 343 -48 29. Carvender JB , Rogers WJ, Fisher LD , Gersh BJ . Effects of smoking on survival and morbidity in patients randomized to medical of surgical therapy in the Coronary Artery Surgery Study (CASS) : 10 years follow – up. JACC 1992; 20: 287 –294. 30. Solymoss BC , Nadeau P ,Millette D . Late trombosis of saphenous vein coronary bypass grafts related to risk factors . CIRCULATION 1998; 78 (SUPPL I) : I- 140-I-143. 6. Tyras DH, Kaiser G. C , Barner HB , Penninoton DG, Cood JE , Willman VL . Global left ventricular impairment and myocardial revascularization: determinants of survival. ANN THORAC SURG 1984 ; 37 : 47- 51 31. Fitzgibbon GM, Leach AJ, Kafka HP . Atherosclerose of coronary artery bypass grafts and smoking .CAN MED ASSOC J; 1987 ; 136: 45- 47. 7. Lipton MG , Takaro T , Clayman J , Maley T. Factors associated with long- term graft patency after coronary artery bypass graft surgery . PROG CARDIOVASC DIS 1986;28 : 310-18. 32. Bosch X, Perez –Villa F , Sanz G . Effect of Smoking .habits on the preventive effect of aspirina and Dipyridamole on early aortocoronary bypass occlusion . EUR HEART J 1991 ;12 ;170. Abstract . 8. Loof FD , Cosgrove DM . Repeat coronary by pass surgery :selection of cases surgical risks , and long – term outlook . MOD CONCEPTS CARDIOVASC DIS 1986; 55:31-6. 33. Neitzel GF , Barboriak JJ , Pintar K. Atherosclerosis in aortocoronary bypass grafts : morphologic study and risk factor anaalysis 6 to 12 years after surgery. ARTERIOSCLEROSIS 1986; 6: 594 – 600. 9. Favarolo RG . Saphenous vein graft in the sugical treatment of coronary artery disease : Operative technique . THORAC CARDIOVASC SURG 1969;58 : 178- 85. 10. Cameron AA , Davis KB , Rogers WJ . Recurrence of angina after coronary artery bypass surgery : predictors and prognosis (CASS Registry). JACC 1995; 4: 895 – 899. 34. Fox MH , Gruchou AW, Borboriak JJ , Anderson AJ . Risk factors among patient undergoing repeat aorta – coronary bypass procedures. J THORAC CARDIOVASC SURG 1987; 93 : 5661. 11. Campeau L , Enjalbert M, Lesperance J , Bourassa MG , Kwerterovich PJr, Wacholder S , Sniderman A. The relation of risk factors to the development of atheros clerosis in saphenous vein bypass grafts and the progression of disease in the native circulation : a study 10 years after aortocoronary bypass surgery. N ENGL J MED 1984; 311: 1329 – 32. 35. Post CABG Investigators . The effect of aggressive lowering of low density lipoprotein cholesterol levels and low dose anticoagulation on obstructive changes in saphenous vein coronary artery bypass grafts. N ENGL J MED 1997; 336: 153-162 12. Bourassa MG.Fate of venous grafts : The past , the present and the future .JACC 1991; 5 : 1081 -83 . 36. Lie JT, Lawarie GM, Morris GC. Aortocoronary bypass saphenous vein graft atherosclerosis: anatomic study of 99 vein grafts from normal and hyperliproteinemic patients up to 75 months postoperatively. AM J CARDIOL 1997; 40: 906-914 13. Fitzgibbon GM , Kafka HP , Leach AJ , Keon WJ , Hooper D, Burton JR . Coronary bypass graft fate and patient outcome : angiographic follow -up of 5.065 grafts related to survival and reoperation in 1.388 patients during 25 years . JACC 1996; 28 : 616 – 26. 37. Naguyen HC, Grossi EA, Streinberg BM, Rifkin DB. Mamary artery versus saphenous vein grafts: assessment of basis fibroblasts growth factor receptors. Ann THORAC SURG 1994; 58: 308-311 14. Labinaz M, Sketch MHJr, Ellis S, et al. Outcome of acute ST- segment elevation myocardial infarction in patients with prior coronary artery bypass surgery receiving thrombolytic therapy . AM HEART J 2001; 141 : 469- 477. 38. Atkinson JB, Forman MB, Vaughn Wk, Robinowitz M. Morphologic changes in long term saphenous vein bypass grafts. CHEST 1985; 88: 341-348 15. Leek , Woodlief L, Topol E , et al. Predictors of 30 day mortality in the era of reperfusion for acute myocardial Infarction : results from an international trial of 41.021 patients . GUSTO –I Investigators. CIRCULATION 1995; 91:1659 – 68. 39. Morris JJ, Smith LR, Jones RH, Glower DD, Morris PB. Influence of diabetes and mammary artery grafting on survival after coronary bypass. CIRCULTAION 1991; 84 (SUPPL III). III - 275 -III – 284 16. Califf R , Pieper K , Leek . Prediction of 1 year survival after trombolysis for acute myocardial infarction in the global utitilization of streptokinase and TPA for occluded coronary arteries trial. CIRCULATION 2000;101: 2231 – 38. 40. Loop FD , Golding LR , MacMillon JP , Lytle BW . Coronary artery surgery in women compared with men : analyses of risks and long- term results. JACC 1983; 1 :383- 90. 41. Henderson W, Goldman S , Copeland J , Moriz TE , Harker L. Antiplatelet or anticoagulant therapy after coronary artery bypass surgery : A Meta- analysis of clinical trials. ANN INT MED 1989; 111: 743- 750 17. Kleiman NS , Anderson HV , Rogers W J , et al. Comparison of outcome of patients with and with unstable angina and non- Q wave acute myocardial infarction with and without prior coronary artery bypass grafting ( Thrombolysis in Myocardial Ischemia III Registry ). AM J CARDIOL 1996; 77: 227 – 31. 42. Goldman S, Copeland J , Moriz T, Henderson W .Improvement in early saphenous vein grafts patency after coronary artery bypass surgery with antiplatelet therapy : results of a Veterans Administration Cooperative Study .CIRCULATION 1988; 6: 1324- 32. 18. Cox JL , Chiasson DA , Gotlieb AL . Stranger in a strange land : the pathogenesis of saphenous vein graft stenosis with emphasis on structural and functional differences between veins and arteries . PROG CARDIOVASC DIS 1991;34 : 45- 68. 43. Goldman S , Copeland J , Moritz T, Henderson W. Saphenous vein graft patency 1 years after coronary bypass surgery and effects of antiplatelet therapy : results of a Veterans Adminstration Cooperative Study. CIRCULATION 1989; 80: 1190- 1197. 19. Angelini GD, Christie MI , Bryan AJ , Lewis MJ .Surgical preparation impairs release of endothelium- derived relaxing factor from human saphenous vein .ANN THORAC SURG 1989; 48 : 417-20. 44. Stein PD , Dolen JE, Godman S, Schwartz L. Antithrombotic therapy in patients with saphenous vein and internal mammary artery bypass grafts . CHEST 1995; 108 : 4245 -4305. 20. Roubos N, Rosenfeldt FL, Richards SM , Conyers RAJ, Davis BB. Improved preservation of saphenous vein grafts by the use of Glyceryl trinitrate – verapamil solution during harvesting. CIRCULATION 1995; 92 (SUPPL II):II-31-II-36 45. Limet R , David J L , Magotteaux P , Rigo p. Prevention of aorta- coronary bypass grafts occlussion : beneficial effect of ticlopidine on early and late patency rates of venous coronary bypass grafts : A double – blind study . J THORAC CARDIOVASC Surg 1987; 94: 773 – 83 . 21. Verrier ED , Boyle EM Jr . Endothelial cell injury in cardiovascular surgery. ANN THORAC SURG 1996; 62 : 915- 22. 46. Sethi GK , Copeland JG , Goldman S, Moritz T .Implications of preoperative administration of aspirin in patients undergoing coronary artery bypass grafting : Department of Veterans Affairs Cooperative Study on Antiplatelet Therapy. .JACC 1990;15: 15- 20. 22. Dilley R J , Mc Geachie J K , Tennant M . Vein to artery grafs : A morphological and histochemical study of the histogenesis of intimal hiperplasia. AUST N Z J SURG 1992; 62 : 297303. 47. Dallan LA , Oliveira S , Lisboa LA , Janete F. Revascularização completa do miocárdio com uso exclusivo de enxertos arteriais .REV BRAS CIR CARDIOVASC 1998; 13:187- 93 23. Nachaman RL , Silvertein R. Hypercoagulable States . ANN INTERN MED 1993; 119: 81927. 48. Lisboa LA , Oliveira SA, Dallan LA, Janete AD. Exclusive use of arterial grafts in complete myocardial revascularization for triple vessel disease (Abstract).JACC 1998;31 / SUPPL: 375 C. 24. Thiene G , Miazzi P, Valsecchi M , Valente M, Bortoloti U, Casarotto D, Galluci V. . Histological survey of the saphenous vein before its use as autologous aortocoronary bypass graft .THORAX 1980; 35 : 519- 22. 49. Cameron A, Green GE, Brogno DA, Thornton J. Internal thoracic artery grafts : 20 years clinical follow- up .JACC 1995;25 :188-92. 25. Chesebro JM , Fuster X . Platelet – inhibitor drugs before and after coronary bypass surgery and coronary angioplasty : the basis of their use data from animal studies,clinical trial data and current recommendations .CARDIOLOGY 1986; 73 : 292- 305. 50. Green GE .Internal mammary artery –to- coronary artery anastomosis : three year experience with 165 patients .ANN THORAC SURG 1972; 14: 260- 71 . 26. Chen L , Theroux P, Lesperance J , Shabani F, Thibault B , De Guise P . Angiographic features of vein grafs versus ungrafted coronary arteries in patients with unstable angina and previous bypass surgery . JACC 1996;28 : 1493-99. 51. Barner HB, Standeven JW, Reese J. Twelve year experience with internal mammary artery for coronary artery bypass .J THORAC CARDIOVASC SURG 1985; 90 : 668 – 675. 56 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 56 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras 52. Grondin CM, Campeau L, Lesperance J, et al. Comparison of late changes in internal mammary artery and saphenous vein grafts in two consecutive series of patients 10 years after operation .CIRCULATION 1984; 70:I- 208-I-212. 53. Lytle BW, Loop FD, Cosgrove DM, et al. Long –term (5 to 12 years) serial studies of internal mammary artery and saphenous vein coronary bypass grafts. J THORAC CARDIOVASC SURG 1985;89: 248- 258. 54. Gardner TJ, Greene PS, Rykiel MF, et al .Routine use of the left internal mammary artery graft in the elderly . ANN THORAC SURG 1990 ; 49 :188- 94. 55. Cameron A,Davis KB , Green G, et al . Coronary bypass surgery with internal –thoracic _artery grafts : effects on survival over a 15 year period .N ENGL J MED 1996; 334 : 216- 219. 56. Loop FD, Lytle BW, Cosgrove DM, et al .Influence of the internal mammary artery grafts of 10 years survival and other cardiac events. N ENGL J MED 1986; 314 : 1- 6. 57. Berger PB, Alderman EL, Nadel A, Schoff HV. Frequency of early occlusion and stenosis in a left internal mammary artery to left anterior descendent artery bypass graft after surgery through a medion sternotomy on conventional bypass. CIRCULATION 1999; 100: 2353- 2358. 58. Douglas JS. Percutaneous approaches to recurrent myocardial ischemia in patients with prior surgical revascularization. SEMIN THORAC CARDIOVASC SURG 1994; 6:98- 108 59. Carpentier A, Guermonprez JL, Deloche. The aorta -to -coronary radial artery bypass grafting: a technique avoiding pathological changes in grafts. ANN THORAC SURG 1973; 16:111-21 60. Acar C, Jebara VA, Portoghese M, Beyssen B. Revival of the radial artery for coronary byposs grafting. ANN THORAC SURG 1992;54:652-60. 61. Weinschelbaum EE, Gabe ED, Macchia A. Total myocardial revascularization with arterial conduits: radial artery combined with internal thoracic arteries. J THORAC CARDIOVASC SURG 1997; 114: 911-16 62. Puig LB, Ciongoliw W, Cividanes GL. Inferior epigastric artery as a free graft for myocardial revascularization. J THORAC CARDIOVASC SRUG 1990; 99: 251-5 63. Manasse E, Sperti G, Suma H, Canosa C. Use of the radial artery for myocardial revascularization. Ann Thorac Surg 1996; 62: 1076-1083 64. Buche M, Schroeder E, Gurne O, Chenu P. Coronary artery bypass grafting with the inferior epigastric artery. J THORAC CARDIOVASC SRUG 1995; 109:553-60 65. Suma H, Wanifuchi Y, Teracla Y, Fukuda S. The right gastroepiploic artery graft. Clinical and angiographic midterm results in 200 patients. J THORAC CARDIOVASC SURG 1993; 105:615-23 66. Ryan TJ, Bouman WB, King SB, Smith SC et al. Guidelines for percutaneous trasluminal coronary angioplasty. JACC 1993;22:2033-45. 67. Tanajura LFL, Mattos LAP, Feres F, Souza JEMR. Angioplastia coronária e novas intervenções não cirúrgicas no tratamento da insuficiência coronária.In:Pereira Barreto AC, Souza AGMR, eds. Cardiologia: Atualização e Reciclagem. São Paulo: Atheneu, 1994:330-45 68. Crouse LJ, Valcek JL, Beauchamp GD, Porter CB. Exercise Echocardiography after coronary artery bypass grafting. AM J CARDIOL 1992; 70:572-76 69. Kafka H, Leach AJ, Fitzgibbon GM. Exercise Echocardiography after coronary artery bypass surgery: correlation with coronary angiography. JACC 1995; 25:1019-23 70. Ellestad MH ed. Prova de esforço: Rio de Janeiro: Cultura médica:231-57 71. Beller GA, Myocardial perfusion imaging with Thalium 201. In:Marcus ML, SchelbertHR, Skorton DJ, Wolf GL, eds. Cardiac Imaging. Philadelphia:WB Saunders, 1991:1047-73 72. Elhendy A, Geleijnse ML, Roelandt JRT, Cornel JH. Assessment of patients after coronary artery bypass grafting by dobutamine Stress Echocardiograpthy. AM J CARDIOLOGY 1996; 77:1234-1237 57 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 57 2/1/2001, 07:47 Artigos de Revisão Editorial Laranjeiras A Junção Atrioventricular - Uma Estrutura Multifuncional Rio de Janeiro - RJ Roberto Luiz M. da Silva Sá,* Márcio L.A Fagundes,* Fernando E. dos S.Cruz .F.º,* Angela C. B. Valverde,* Luiz H. Loyola,* Raphael Zeratti M. da Silva,+ Rafael L. Fagundes,** Thiago do S. da Silva Sá,°° Maria Elisa E. Matiello,° e Vinícius M. Rodrigues,° RESUMO coronário e o anexo do folheto septal da válvula tricúspide. É geralmente aceito que a junção AV possa ser subdividida em: componentes atriais do NAV: o NAV propriamente dito e o feixe AV (5). O nódulo AV representa a única conexão elétrica normal entre os átrios e os ventrículos. Essa localização estratégica juntamente com o conjunto de propriedades eletrofisiológicas extremamente complexas e o fino controle autonômico fazem dessa estrutura um dos principais elos da corrente do sistema de condução. As abordagens atriais do sistema de condução, apesar de ainda vagamente definidas, são importantes, pois determinam o padrão particular de engajamento átrio-nodal AV e representam o alvo dos procedimentos clínicos de modificação nodal AV (ablação do circuito das taquicardias paroxísticas supraventriculares por reentrada nodal AV). Nesta revisão, fornecemos um apanhado dos mais importantes princípios morfológicos e eletrofisiológicos relacionados à junção atrioventricular Palavras chaves: Morfologia . eletrofisiologia . nódulo atrioventricular, dupla via AV Pouco tempo após ter lido os trabalhos de Tawara confirmando a existência da condução nodal AV, Keith deu sua própria notável contribuição: a descoberta do nódulo sinusal (6,7). Não levou muito tempo para que Thorel (8) sugerisse a existência de vias especiais que poderiam percorrer o miocárdio atrial, especificamente ao longo da crista terminalis, propiciando comunicação muscular direta do nódulo sinusal (NS) até o NAV. ABSTRACT The AV node is the only normal electrical connection between the atria and the ventricles. This strategic location, along with the array of amazingly complex electrophysiological properties and fine autonomic control, makes it one of the most important links in the conduction chain. Estudos conduzidos com extremo rigor, avaliando o miocárdio atrial direito como um todo (bloco único de tecido), têm falhado em revelar a presença de tratos isolados histologicamente de tecido especializado de condução entre os nódulos sinusal e AV (9). Em vez disso, esses estudos e outros (10) demonstraram que alinhamentos anisotrópicos não uniformes de bandas celulares miocárdicas são os responsáveis pela condução preferencial no miocárdio atrial. In this review, we provide an account of the main morphological and electrophysiological principles related to the atrioventricular junction. Key words: Morphology . electrophysiology . atrioventricular node . dual AV pathways. Desde sua primeira descrição histológica detalhada, feita por Tawara (1) em 1906, o nódulo atrioventricular (NAV) tem sido objeto de intensa pesquisa básica e clínica. Esse fato, sem dúvida, é indicativo da importância fisiológica do NAV e da extrema complexidade da sua estrutura e função. A divisão da região ou junção NAV em diversas zonas representa uma simplificação conveniente, que geralmente compreende três sub-regiões morfologicamente justapostas: região transicional, médio-nodal e inferior. Essas sub-regiões apresentam três subtipos de células, designadas AN (atrionodal), N (nodal) e NH (nodal-His), respectivamente, como descrito originalmente por Paes de Carvalho e De Almeida em 1960 (11). Infelizmente, essas subdivisões não são baseadas em especificidades morfológicas e têm aceitação apenas no coração de coelhos. O NAV representa a única conexão elétrica normal entre os átrios e os ventrículos. Essa localização estratégica juntamente com o conjunto de propriedades eletrofisiológicas extremamente complexas e o fino controle autonômico fazem dessa estrutura um dos principais elos na corrente do sistema de condução do coração. Desde os estudos de Tawara (1) e outros (12), as fronteiras anatômicas do nódulo compacto não são claramente definidas. Do mesmo modo, as respostas elétricas das células nodais não são uniformes. Apesar de ainda estarmos em busca de uma descrição morfo-histológica ideal para o NAV, algumas verdades já são bem definidas e aceitas: o NAV está localizado na parte baixa do septo atrial, dentro da área triangular descrita por Koch (2,3), com os seguintes limites anatômicos gerais, a saber: o tendão de Todaro (comissura fibrosa das válvulas na abertura do seio coronário e a veia cava inferior) (3), o orifício do seio A exata organização da propagação das frentes de onda, provenientes das vias atriais através das regiões transicional e compacta do NAV e atingindo o feixe de His. permanece um mistério não esclarecido da condução nodal AV. *Serviço de Arritmia e Eletrofisiologia Clínica do INC +Médico Formado pela UFF **Médico do Curso de Pós-Graduação Cardiologia / Univercidade - INC °°Acadêmico de Medicina UGF, Estagiário da Uni-Coronariana do INC °Médicos R3 do Serv. de Arritmia do INC 58 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 58 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras A função mais simples do NAV durante condução anterógrada pode ser definida como a produção de retardo de condução na propagação do estímulo proveniente dos atrios até a sua chegada ao feixe de His. A mesma propriedade aplica-se à condução retrógrada (2). ablação dessa via; a via rápida, supostamente, começa na região ântero-superior do septo interatrial. CONCLUSÕES Como se pode constatar, o conhecimento das intimidadas histológicas bem como dos aspectos funcionais têm permitido entender e atuar na junção AV, no sentido de definir parâmetros eletrofisiológicos e realizar procedimentos curativos de diversos distúrbios do ritmo cardíaco. Ainda persistem dificuldades, pois, apesar de o estudo das propriedades elétricas de células isoladas do NAV vir sendo efetuado (23), a região exata de onde essas células são colhidas permanece, muitas vezes, de caracterização imprecisa. Estamos, com toda a certeza, caminhando a passos largos no esclarecimento progressivo das diversas lacunas do conhecimento dessa estrutura multifuncional. O retardo na condução nodal AV é inversamente dependente da prematuridade atrial. Essa relação funcional provém de protocolos de estimulação cardíaca nos quais um determinado número de estímulos básicos, S1 com intervalos S1-S1 ligeiramente mais curtos de que o ciclo espontâneo sinusal, são seguidos por estímulos prematuros S2, com S1 S2 menores do que S1-S1. O retardo da condução nodal AV é medido entre o estímulo correspondente e o feixe de His (espícula H). A função S2 H2 (S1S2) é conhecida como a curva de condução nodal AV (2). Protocolos mais sofisticados de estimulação têm sido desenvolvidos e as propriedades de recuperação e facilitação vêm sendo intensamente estudadas (13). Ficou demostrado que essas propriedades, quando avaliadas em conjunto, permitem caracterizar satisfatoriamente a condução nodal AV em uma variedade de ritmos regulares e irregulares (14). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Tawara S: D Reizleitungssystem des Saugetierherzens: Eine anatomisch-histologische Studie uber das Atrioventrikularbundel und die Purkinjeschen Faden. Jena, Gustav Fischer, 1906. Apud Maagalev TN, Wagoner DRV, Efimov IR: Mechanisms of AV Nodal Excitability and Propagation. In Zipes DP, Jalife J (eds): Cardiac Electrophysiology: From Cell Bedside. Chap. 23pp 196-205. Philalphia . WB Saunders 2000. Moe e colaboradores (15) forneceram evidências para o que descreveram como sistema de dupla-condução no coração de cães e coelhos. Esse conceito foi logo aplicado ao coração humano (16). 2. Maagalev TN, Wagoner DRV, Efimov IR: Mechanisms of AV Nodal Exitability and Propagation. In Zipes DP, Jalife J (eds): Cardia Electrophysiology: From Cell Bedside. Chap. 23pp 196-205. Philalphia . WB Saunders 2000. 3. Koch W: Weiter Mitteilungen uber den Sinusknoten des Herzens. Verh Ditsch Ges Pathol 13:85-92, 1909. Apud bibiografia 2. Dependendo da prematuridade atrial (extra-sístole atrial) e em vigência de pré-requisitos funcionais específicos, tais como bloqueio unidirecional e condução lenta, o conceito de dupla-via introduz os mecanismos básicos para o entendimento da dissociação longitudinal da condução e para a manutenção da taquicardia reentrante que envolve o miocárdio atrial na alça de reentrada (17) ou usa um circuito reentrante restrito exclusivamente ao NAV (18), (19). Demonstração direta de reentrada intranodal por mapeamento de alta-resolução no coração canino durante batimentos de eco ventricular foi apresentada recentemente por Loh e col. (19) 4. Sanchez-Quintana D, Wyn Davies D, Ho sy, etal: Architecture of the atrial musculature in and around the triangle of Kock: Its potential relevance to atrioventricular nodal reentry. J Cardiovasc Electrophysiol 8: 1396-1407, 1997. 5. Meijler FL, Janse MJ: Morphology and electrophysiology of the mammalian atrioventricular node (review). Physiol Ver G8: 608-647,1988. 6. Mazgalev TN, Ho SY, Anderson RH: Anatomic-Electrophysiological Correlations Concerning the Pathways for Atrioventricular Conduction Circulation 103: 2660-2667,2001. 7. Keith A, Flack MW. The form and nature of the muscular connection between the primary divisions of the vertebrate heart. J Anat Physiol. 41:172-189, 1907. Apud bibliografia 6. 8. Thorel C. Uber den Aufbau des Sinusknoter und seine Verbindung mit der cava superior und den Wenckerbachscher Bundel. Munch Med Wochenschr 57:183-190, 1910. Apud bibliografia 6. 9. Janse MJ, Anderson RH. Specialized internodal atrial patthways: factor fiction? Eur J Cardiol. 2: 117-136, 1974. 10. Spach Ms, Miller W T III, Dolber Pc et al. The functional role of structural complexities in the propagation of depolarization in the atrium of the dog: cardiac conduction discontinuities of effective axial resistivity. Circ Res 50: 175-191, 1982. Apesar de os componentes especializados do NAV se comunicarem com o miocardio atrial através de conexões que correm virtualmente em todas as direções (20), duas vias principais têm sido especificamente descritas como tendo importância funcional. 11. Paes de Carvalho A, de Almeida DF. Spread of activity through the atrioventricular node. Circ Res 8: 801-809, 1960. 12. Waki K, Kim JS, Becker AE. Morphology of the human atrioventricular node is age-dependent: a feature of potential clinical significance. J Cardiovasc Electrophysiol. 11: 1144-1151, 2000. 13. Billette J, Nattel S: Dynamic behavior of the atrioventricular node: A functional model of interaction between recovery, facilitation, and fatigue [review]. J Cardiovasc Electrophysiol 5: 90-102, 1994. Os últimos anos têm testemunhado o desenvolvimento do extraordinário sucesso com técnicas ablativas para o tratamento de taquicardia paroxística supraventricular por reentrada nodal AV (TRNAV) (21). As bases teóricas para essas técnicas são dadas pelo conceito de dupla via nodal AV, referente aos experimentos detalhados pelos estudos de Moe e cols (15) citados acima. Os experimentos preliminares demonstraram que durante protocolos de estimulação elétrica prematura em cães, a curva de recuperação (V1V2 versus A1A2) exibe algumas vezes uma descontinuidade abrupta (“Jump”). Tal fenômeno foi atribuído como sendo resultante de uma mudança de condução entre duas vias distintas com períodos refratários diferentes, e isso tornou-se o mecanismo de explicação da TRNAV (2). Os termos via lenta e via rápida foram adotados para indicar velocidades diferentes de condução (22). Essas vias apresentam localizações distintas no átrio: a via lenta tem uma posição predominantemente póstero-inferior, entre o óstio do seio coronário e o folheto septal da válvula tricúspide, o que permite uma abordagem seletiva no procedimento de 14. Talajic M, Papadatos D, Villemaire C, et al: A unified model of atrioventricular nodal conduction predicts dynamic changes in Wenckebach periodicity - Circ Res 68: 1280-1293, 1991. 15. Moe GK, Preston JB, Burlington H. Physiologic evidence for a dual A-V trnasmission system. Cir Res 4: 357-375, 1956. Apud bibliografia 6. 16. Schvilenburg RM, Durrer D. Atrial echo beats in the human heart elicited by induced atrial premature beats. Circulation 37: 680-693, 1968. 17. McGuire MA, Lav KC, Johnson DC, et al. Patients with types of atrioventricular junctional (AV nodal) reentrant tachycardia: evidence that a common pathway of nodal tissue is not present above the reentrant circuit. Circulation. 183: 1232-1246, 1991. 18. Josephson ME, Kastor JÁ. Paroxysmal supraventricular tachycardia: is the atrium a necessary link? Circulation. 54: 430-435, 1976. 19. Loh P, de Bakker JM, Hocini M, et al. Reentrant pathway during ventricular echoes is confined to the atrioventricular node: high-resolution mapping and dissection of the triangle of Koch in isolated, perfused canine hearts. Circulation. 100: 1346-1353, 1999. 20. Sanchez - Quintana D, Davies DW, Ho SY et al. Architecture of the atrial musculature in and around the triangle of Koch: its potential relevance to atrioventricular nodal reentry. J Cardiovasc Electrophysiol. 8: 1396-1407, 1997. 21. Jackman WM, Beckman KJ, Mc Clelland JH, et al: Treatment of supraventricular tachycardia dueto atrioventricular nodal reentry, by radio freguency catheter ablation of slow-pathway conductron. N Engl J Med 327: 313-318, 1992. 22. Denes P, Wu D, Dhingra R, et al: Dual atrioventricular nodal pathways: A common electrophysiological response. Br Heart J 37: 1069-1076, 1975 Apud bibliografia 2. 23. Munk AA, Adjemian RA, Zhao J, et al. Electrophysiological properties of morphologically distinct cells isolated from the rabbit atrioventricular node. J Physiol. 493: 801-818, 1996. 59 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 59 2/1/2001, 07:47 Artigos de Revisão Editorial Laranjeiras CINTILOGRAFIA DE PERFUSÃO MIOCÁRDICA NA INVESTIGAÇÃO DE ISQUEMIA, SEM RECORRER AO ESTRESSE Rio de Janeiro - RJ Dr Berdj A. Meguerian * RESUMO melhante a norepinefrina4, é o radiotraçador empregado em cintilografia de neutrotransmissão miocárdica. Como o MIBG-I-123 apresenta comportamento semelhante à NE, as situações que podem modificar a ação desta , elevando ou diminuindo sua presença sangüínea, são válidas também para o MIBG6 A investigação da reserva coronariana se verifica obtendo-se imagens da perfusão miocárdica pós-estresse físico ou farmacológico e comparando–as com as imagens obtidas em repouso .No texto discute-se a utilidade da cintilografia com o traçador metaiodobenzilguanidinaiodo-123 (123I-MIBG), em repouso, como substituto aos testes de estresse, nos pacientes que não podem se submeter a qualquer tipo de indução à isquemia (física ou farmacológica) para investigar a reserva coronariana, além de mencionar outras aplicações desse radiofármaco. O exame se processa em duas fases1,2: a) administram-se lugol, em gotas, ou iodo (não radioativo), uns dois dias antes do exame, prosseguindo com este bloqueio da glândula tireóide por mais alguns dias,preservando sua função contra a presença de iodo radioativo livre que eventualmente pode estar contido na solução de MIBG-I-123. ABSTRACT Coronary reserve is investigated trough myocardial perfusion images after physical or pharmacological stress. These images are then compared with the ones obtained in resting conditions. In this article the use of metaiodobenzylguanidine labeled with iodine-123 ( 123IMIBG), in resting conditions, as a substitute for stress tests, in patients who can not be submitted to any kind of test (physical or pharmacological) is discussed. Other applications of this radiopharmaceutical are also presented. b) injeta-se, via intravenosa, aproximadamente 184 MBq (5 mCi) de MIBG-I-123 e 15-30 minutos após, assim como 4 horas depois obtém-se imagens do coração, em estudos planares , incluindo o mediastino e tomográficas (SPECT) , a semelhança que se procede quando se estuda a perfusao miocárdica. A semi quantificação da intensidade de acúmulo do radiofármaco, é levantada no estudo de 15-30 minutos e de 4 horas, mediante a relação (intensidade de radioatividade) coraçao : mediastino. Conisdera-se estudo normal uma relação A investigação da reserva coronariana , há quase trinta anos, se verifica obtendo-se imagens da perfusão miocárdica pós estrese físico ou farmacológico e comparando–a com as imagens obtidas em repouso. A presença de reversão de uma area hipoperfundida (pós estresse) em perfusão normal (pós repouso) é considerada zona de isquemia. Quando tal área hipoperfundida não revela reversibilidade, diz-se que ocorreu fibrose ou quiçá que existe zona hibernante. Essa lógica torna patente que é preciso submeter o paciente ao estresse para provocar a reserva coronariana. Ora, se o paciente, não pode ser submetido a qualquer um dos tipos de estresse: físico ou farmacológico, como investigar suas reservas de perfusão miocárdica? Coração : mediastino > 1,8 e queda dessa razão em < 10% (taxa de eliminaçao celular : Wash-out), nas imagens obtidas 4 horas depois1. Uma relação inicial coração: mediastino < que 1,8 reflete menor inervação simpática do coraçao e uma queda > 10% revela a dificuldade do coração em reter o MIBG. Fica claro, desta forma, que a cintilografia do miocárdio com MIBG-I-123, em repouso, revela a anatomia e a função simpática cardíaca1,2,3. As indicações clínica da cintilografia miocardica com o MIBG-I-123 são1,2 : • Transplante cardíaco O coração depende, dentre outros fatores, da integridade anatômica e funcional do sistema nervoso autônomo (SNA) manifestada principalmente pela ação da norepinefrina (NE), entre outras, para desempenhar seu papel de bomba propulsora de sangue para a rede vascular arterial1,2,3,4. Esta ação do sistema simpático ocorre na fenda sináptica que se forma entre as terminações dos neurônios pré e pós sinapticas do miocárdio.1,2,3,4. • Taquicardia ventricular • Cardiomiopatia dilatada • Doença coronariana • Isquemia • Diabetes mellitus • Hipertensão O fármaco metaiodobenzilguanidina, marcado com o iodo-123 (MIBG-I-123), cujo principal componente, a guanidina, tem comportamento fisiologico bastante se- • Cardiomiopatia tóxica • Insuficiência cardíaca congestiva * Chefe do Serviço de Medicina Nuclear do INC:MS e Medico do Serviço de Medicina Nuclear do INCa:MS 60 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 60 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras • Cardiomipatia hipertrófica primaria REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A biodistribuição pormenorizada do MIBG e a analise dessas indicações clínicas serão abordadas numa outra ocasião. No texto ora apresentado pretende-se mostrar a utilidade da cintilografia de neurotransmissão em portadores de isquemia que não podem se submeter a qualquer tipo de estresse (físico ou faramcológico) para investigar a reserva coronariana. É preciso dizer também que o estudo cintilográfico com MIBG-I-131 encontra aplicação na detecção e no prognóstico de áreas de infarto e na insuficiência cardíaca.6,7 1. Carrió I. Cardiac Neurotransmission Imaging J Nucl Med 2001;42:1082-1076 2. Patel AD e Iskandarian AE MIBG Imaging J Nucl Cardiol 2002;9:75-94 3. Schafers M, Schober O, Lerch H. Cardiac sympathetic neurotransmission scintigraphy. Eur J Nucl Med 1998;25:435-41. 4. Tseng H, Link JM, Stratton JR e Caldwell JH Cardiac Receptor Physiology and its Aplication to Clinncal Imaging : Present and Future J Nucl Cardiol 2001 8 Ç 390-409 5. Wieland DM, Wu JI e Rogers WL Myocardial Imaging With Radioiodinated norepinephrine storage analogue J Nucl Med 1981:22 22-31 Estudos experimentais iniciados há mais de uma década mostraram que zonas de infarte ou com isquemia crônica , diminuem o acúmulo do MIBG e as areas isquemicas pecisam de considrável tempo para se recuperarem 8,9 6. Maantisaari M, Kuikka J, Hartikainen J, Mustonen J, Mussalo H, Tahvanainen K, Lansimies E, UUsitupa M e Pyorala K Myocardial Sympathic Nervous Dysfunction Detected with Iodine -123-MIBG is Associated with Low Heart rate Variability after Myocadial Infarction 7.Choi YJ, Lee KH, Hong KP, Kim BT, Seo JD, Lee WR e Hoon S Iodine-123 MIBG imaging before treatment of heart failure with carvedilol to predict improvement of left ventricular function and exercise capacity. J Nucl 2001 8: 4-9 Recentemente Estorch et al10. estudaram 54 pacientes com isquemia crônica e história de infarto anterior e comprovaram11 a utilidade da comparação da cintilografia miocárdica com o MIBG-I-123 (em repouso) e o estudo da perfusão miocárdica com de tecnécio-99m-tetrofosmina , e chegaram a conclusão que nos casos de pacientes que não podem ser subetidos ao estresse fisico e farmacológico, esta modalidade de exame pode ser uma opção, embora eles tem alertado também da necessidade de estudar mais casos pra estabelecer a sensibilidade e especificidade deste protocolo de exame10 8. Glowniak JV Cardia Studies with Metaiodobenzylguanidine : A critique of Methods and Intepretation Results J Nucl Med 1995 36 : 2133-2137 9. Nishimura T, Oka H, Sago M, et al. Serial assessment of denervated but viable myocardium following acute myocardial infarction in dogs using iodine-123 metaiodobenzylguanidine and thallium-201 chloride myocardial single photon emission tomography. Eur J Nucl Med 1992; 19:25–29. 10. Estorch M, Narula J, Flotats A, Mari C, Tembl A, Martin JC, del Valle Camacho M, Catafau AM, Serra-Grima R, Carrio I. Concordance between rest MIBG and exercise tetrofosmin defects: possible use of rest MIBG imaging as a marker of reversible ischaemia. Eur J Nucl Med 2001 May;28(5):614-9 É importante acrescentar que como a fibra simpática é mais sensível que o miócito; existem evidências também mostrando que os pacientes que sofrem de angina instável ou de vasoespasmo, apresentam áreas de hipocatação do MIBG-I-123 até algumas horas ou dias depois do episódio isquêmico. Diz-se que cria-sa uma memória simpática, permitindo observar os efeitos da interrupção da perfusão no momento do vasoespasmo. Esse fato é muito importante em termos de atendimento de urgência em pacientes que procuram socorro, algumas horas após o episódio isquêmico e ao se submeterem a cintilografia de perfusão miocárdica, revelam estudo normal2,11 11. Ha JW, Lee DL, Jang Y, Chung N, Kwan J, Rim SE, Lee YJ, Shim WH, Cho SY e Kim SS 123 I-MIBG Myocardial Scintigraphy as a Noninvasive Screen for the Diagnosis of Coronary Spasm J Nucl cardiol 1998 5 : 591-597 12. Satoh A, Serita T, Seto M, Tomita I, Satoh H, Iwanaga K, et al. Loss of123 I-MIBG uptake by the heart in Parkinson’s disease: assessment of cardiac sympathetic denervation and diagnostic value. J Nucl Med. 1999;40:371-5. 13. David S. Goldstein, MD, PhD; Courtney Holmes, CMT; Sheng-Ting Li, MD; Simon Bruce, MD; Leo Verhagen Metman, MD; and Richard O. Cannon, MD Cardiac Sympathetic Denervation in Parkinson Disease Ann Int Med 2000:133 , 5:338–347 14. Takatsu H, Nishida H, Matsuo H, Watanabe S, Nagashima K, Wada H, et al. Cardiac sympathetic denervation from the early stage of Parkinson’s disease: clinical and experimental studies with radiolabeled MIBG. J Nucl Med. 2000;41:71-7. A experiência do autor deste texto com a aplicação do MIBG-I-123, como substitutivo de estresse cardiológico, estatisticamente é insignificante, apenas dois casos. Um dos casos revelou hipofixação do radiofarmaco na parede inferior e na parede interior. A parede interior pode ser de difícil análise pela anatomia da inervaçao simpatica que contempla pouco esta parede1,2 . O outro caso não mostrou acúmulo do radiotaçador e levantou-se a possibilidade do paciente estar no estágio inicial da D de Parkinson. Há, alguns anos, certos autores estabelceram franca ligação entre a D de Parkinson e a biodistribuição do 123I-MIBG no miocárdio 1,12,13,14 , afirmando que nesta doença, não há acúmulo do radiofármaco no coração, podendo servir de diagnóstico diferencial entre várias disautonomias. Acredita-se que ao levantar as possibilidades diagnosticas e prognósticas da cintilografia de neurotransmissão, abrem-se novos horizontes para a aplicação da Medicina Nuclear em Cardiologia. É preciso aumentar o número de casos analisados para definir a sensibilidade e a especificidade desse radiofármaco nas suas varias indicaçoes clinicas. 61 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 61 2/1/2001, 07:47 Artigos de Revisão Editorial Laranjeiras AS BASES DO CONHECIMENTO CARDIOVASCULAR ANATOMIA CARDÍACA - PARTE 2 IDENTIFICAÇÃO DAS CAVIDADES CARDÍACAS NORMAIS Rio de Janeiro RJ Adriana Innocenzi*, Viviane Brito*, Raquel Pulstinik**, Ana Helena J L Dorigo**, Fabio Bergman** Walter Peixoto**, Paulo Renato Travancas**, Renata M Bernardes**, Érika Moura** e Luiz Carlos Simões***. Resumo Ambas essas estruturas anatômicas são constantes no átrio morfologicamente direito (1, 2, 3). Outras estruturas relacionadas com o átrio anatomicamente direito são: Revisamos a anatomia normal de cada câmara cardíaca (atrial ou ventricular) e suas relações com os grandes vasos venosos e arteriais, de modo a permitir sua identificação em estudos por imagem a cirurgiões ou a estudiosos de morfologia cardiovascular c) a desembocadura da veia cava superior em seu extremo superior e a desembocadura da veia cava inferior em seu extremo inferior. Palavras chaves: anatomia cardíaca, cardiopatias congênitas, morfologia cardiovascular.. Como características internas constantes no átrio direito encontramos:: Abstract The key anatomical features that characterize each cardiac chamber and its relationship with the great vessels are revised. These anatomical features provide additional data for cardiovascular surgeons and cardiac morphologists in cardiac image studies a) a crista terminalis – é uma banda muscular, que separa a parede posterior da parede externa no átrio e que externamente correspondente ao sulco terminalis de His (local onde encontramos trato e condução internodal). Trata-se de uma trabécula muscular que se estende em frente à abertura da veia cava superior até a abertura da veia cava inferior; Key words : cardiac anatomy, congenital heart disease, cardiovascular morphology b) a porção sinusal – é a porção que corresponde à parede posterior, é totalmente lisa e está localizada entre a crista terminalis e o septo interatrial e vem a ser o produto da incorporação do seio venoso ao átrio direito; Introdução c) os músculos pectíneos (figuras 1 e 2) –são músculos situados na parede livre e externa do apêndice atrial, que se dirigem em forma de leque desde a crista terminalis até a ponta do apêndice atrial direito, dando o aspecto trabeculado da câmara; Para análise segmentar das cardiopatias congênitas, o coração foi dividido em três segmentos: um segmento atrial, um segmento ventricular e um segmento arterial. Após analisarmos as características internas do coração normal, faremos uma detalhada análise sobre as estruturas anatômicas constantes de cada cavidade cardíaca, o que nos permitirá identificá-las em qualquer posição no tórax ou em qualquer malformação cardíaca congênita. d) o orifício da veia cava superior e o orifício da veia cava inferior. A veia cava superior abre-se na parte cranial e posterior ao seio venoso. Seu óstio está dirigido caudal e ventralmente. Sua abertura é desprovida de válvula. A veia cava inferior abre-se mais em porção caudal, próximo ao septo interatrial. Por dentro do orifício da veia cava inferior, encontra-se a válvula de Eustáquio – uma dupla prega valvular com algumas pregas fibrosas - que começa no bordo direito do orifício, percorre seu bordo anterior e termina no septo interatrial; Segmento atrial: 1) Átrio anatomicamente direito. É uma câmara póstero-lateral direita que, junto às veias cavas, forma a borda lateral direita da silhueta cardíaca. As características externas do átrio anatomicamente direito são: a) apêndice atrial direito, de forma triangular, base ampla e borda livre, independente, em direção cranial entre a veia cava superior e o ventrículo direito; e) o orifício do seio coronário - está localizado na face inferior, à frente do orifício da veia cava inferior e próximo ao septo interatrial. Drena o sangue da parede do próprio coração. Seus bordos anterior e externo estão cobertos por uma dupla prega valvular, a valva de Tebésio. Tanto a valva de Eustáquio quanto a valva de Tebésio são vestígios da valva direita do seio venoso; b) superfície irregular, exceto na porção posterior localizada entre o sulco interatrial e o sulco terminalis de His; corresponde à porção sinusal do átrio. Rio de Janeiro RJ *Médicos residentes do Serviço de Cardiologia da Criança e do Adolescente INC ** Médicos do Serviço de Cardiologia da Criança e do Adolescente INC ***Chefe do Serviço de Cardiologia da Criança e do Adolescente INC 62 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 62 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras f) o seio venoso (sinus venarum cavarum) –é a parte da cavidade entre as duas veias cavas e o óstio atrioventricular. Suas paredes se fundem com as duas veias cavas e sua superfície interna é bastante lisa. Sua junção com o átrio direito é marcada externamente pelo sulco terminal; anatomicamente esquerdo são as desembocaduras das veias pulmonares em sua porção posterior, duas à direita e duas à esquerda. Essas veias não são dotadas de valvas. A característica interna constante no átrio anatomicamente esquerdo é a presença da superfície interna (figura 6) totalmente lisa (4, 5, 6). Outras estruturas são: g) os forames venosos mínimos - são aberturas de pequenas veias de Tebésios; a) orifício do apêndice atrial esquerdo, localizado na união da parede externa com a porção superior da parede anterior O óstio do apêndice é limitado posteriormente por um sulco que separa o óstium da abertura posterior das veias pulmonares esquerdas; h) o septo interatrial - forma a maior parte da parede interna do átrio direito (figura 3). Em sua parede média se encontra uma zona adelgaçada e deprimida, a fossa oval, rodeada por um anel incompleto em sua parte pósteroinferior – o limbo da fossa oval, ou anel de Vieussens. A porção da parede interna do átrio direito, compreendida entre a inserção septal da valva da tricúspide e a porção septal da valva anterior da válvula mitral no lado esquerdo, formam parte do septo atrioventricular (figura 4). A inserção da valva septal da tricúspide tem uma posição mais apical e anterior em relação à inserção da porção septal da valva anterior da válvula mitral. Nessa porção de septo, localizada entre as inserções das valvas atrioventriculares, encontramos o septo atrioventricular. Este septo apresenta uma porção muscular e outra membranosa. A porção muscular se encontra na região que separa o átrio direito do trato de entrada do ventrículo esquerdo, e a porção membranosa separa o átrio direito do trato de saída do ventrículo esquerdo. A porção da parede interna do átrio direito, localizada entre a desembocadura da veia cava superior e a dupla prega superior da fossa oval não forma parte do septo interatrial; corresponde a uma prega do sulco de Waterson ou o de Sondergaard, localizado entre a veia cava superior e as veias pulmonares direitas. No septo atrioventricular, encontramos o triângulo de Koch, estrutura que contém o nodo atrioventricular e a porção penetrante do feixe de His; b) septo interatrial, situado na parede interna do átrio e inteiramente interatrial. Apresenta na parte superior uma dupla prega da concavidade ântero-superior, a dupla prega semilunar. À frente desse septo, encontra-se uma zona deprimida, uma pequena fossa pré-septal. A superficie esquerda do septo interatrial corresponde a essa pequena fossa pré-septal; c) orifícios das veias pulmonares, localizados na parede posterior; d) valva mitral, situada na porção inferior da face anterior e formada por duas cúspides, uma anterior ou aórtica e outra posterior ou mural, separadas por uma comissura ântero-lateral e outra póstero medial. Assim como o anel fibroso tricúspide, forma parte integrante do esqueleto fibroso do coração. Segmento ventricular: 1) Ventrículo anatomicamente direito: É uma câmara anterior e à direita, que não contribui com a silhueta cardíaca frontal. Este ventrículo não apresenta nenhuma característica externa constante, porém a borda existente entre a união da face anterior com a face inferior, denominada borda aguda do coração, é bastante característica. Sua parede tem cerca de um terço da espessura da parede do ventrículo esquerdo. i) a valva tricúspide - encontra-se na parede anterior do átrio direito e é formada por três cúspides, separadas por três comissuras: a cúspide interna ou septal, a cúspide anterior ou ântero-superior e a cúspide inferior ou posterior. Entre a cúspide septal e a ântero-superior, encontra-se a comissura ântero-septal; entre a cúspide ântero-superior e cúspide inferior; a comissura ântero-inferior; e entre a valva septal e a valva inferior, a comissura inferior. O folheto anterior é mais móvel e o folheto septal, devido ao grande número de cordoalhas, é menos móvel. O anel fibroso que suporta a válvula tricúspide forma, junto com o anel mitral e o anel aórtico, o esqueleto fibroso do coração (figura 5). As características internas constantes no ventrículo anatomicamente direito (figuras 7 e 8) são: a) a trabécula septomarginal, uma estrutura muscular em forma de Y, visualizada na superfície septal direita, onde é observada como um relevo variável sobre a face direita do septo interventricular. Seu extremo inferior está bifurcado em dois ramos, um anterior e outro posterior; seu extremo apical se une à banda moderadora. b) a banda moderadora (trabécula septo marginalis), uma formação muscular que se estende desde a trabécula do septo marginal até a base do músculo papilar anterior. 2) Átrio anatomicamente esquerdo Em geral contém um ramo do feixe de condução atrioventricular. É uma câmara póstero-superior, mediana, que não contribui com a silhueta cardíaca frontal. As características externas do átrio anatomicamente esquerdo são: Ambas essas estruturas são constantes no átrio morfologicamente esquerdo. Consistem de regiões separadas externamente pela veia coronariana esquerda e ligamento de Marshall, e internamente, pelo óstium do apêndice. c) a crista supraventricular, uma formação muscular que separa a valva tricúspide da valva pulmonar. Aí podemos reconhecer duas porções: uma parietal, que se estende desde a parede anterior do ventrículo direito até a superfície septal direita, e outra septal, situada entre os ramos da trabécula septo marginal. A crista supraventricular forma uma saliência no teto do ventrículo direito, direcionando o fluxo de sangue da via de entrada ou trabecular até a via de saída ou infundibular. Outras características internas do ventrículo direito são: Outras estruturas relacionadas com o átrio d) o músculo papilar anterior, um músculo que se a) apêndice esquerdo, largo, de base estreita, bordo fenestrado e extremo livre terminando em ponta; b) superficie interna completamente lisa. 63 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 63 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras localiza na parte média da parede anterior. Sua base continua na banda moderadora e seu vértice recebe cordas tendíneas das cúspides ântero-superior e inferior da valva tricúspide; infundíbulo do ventrículo direito. É formada por três cúspides que se inserem de maneira semilunar, parte na parede da artéria pulmonar e parte no miocárdio ventricular direito. Esse tipo de inserção determina, por um lado, que não se observe ao nível da valva pulmonar, um anel fibroso circular e, por outro, que existam porções triangulares de parede arterial pulmonar, denominadas triângulos intervalvares (figura 9), incorporadas ao trato de saída do ventrículo direito, e três semilunares de musculatura infundibular direita, incorporadas ao seio de Valsalva da valva pulmonar. A união do ventrículo direito com a artéria pulmonar forma uma estrutura fibrosa semelhante a uma coroa de três picos. e) o músculo papilar medial ou do cone de Luschka, um músculo papilar curto, de forma cônica, que emerge do ramo posterior da trabécula septomarginal e recebe cordoalhas das cúspides septal e ântero-superior da valva tricúspide; f)os músculos papilares inferiores, músculos encontrados em número variável, que se originam da parede inferior do ventrículo direito e recebem cordas tendíneas das cúspides septal e anterior da valva tricúspide; O orifício da valva pulmonar está situado na zona anterior da base do coração, à frente e ligeiramente à esquerda da aorta, próximo ao septo interventricular. Encontra-se em um plano superior em relação à aorta. A valva pulmonar é sustentada por um anel muscular pertencente ao infundíbulo ventricular direito. É constituída de três cúspides semilunares denominadas anterior, posterior direita e posterior esquerda, que são formadas pelo desdobramento do revestimento endocárdico e reforçadas por tecido fibroso. Atrás de cada cúspide há um seio e o ponto através do qual as cúspides se unem: as comissuras. Cada cúspide tem um nódulo espessado – corpo de Arânzio – no centro da margem livre. A linha de contato entre as cúspides quando a valva se fecha é ao nível dos nódulos e das lúnulas, não ao nível da margem livre. g) a valva tricúspide, uma valva que se encontra dentro da denominada porção de entrada do ventrículo direito. A porção de entrada se estende desde o anel tricúspide até a inserção dos músculos papilares. A inserção da cúspide septal no anel fibroso constitui o limite anterior do septo atrioventricular observado na superfície septal atrial direita (7). A cúspide septal apresenta, em seu bordo livre, cordas tendíneas, que, em sua maioria, se inserem diretamente na superfície septal direita, sem interposição dos músculos papilares. As outras cúspides que formam a valva tricúspide são a ântero-superior e a posterior. h) o septo interventricular, o septo que forma a parede interna do ventrículo direito e é constituído por uma porção de entrada, uma porção trabecular e uma porção de saída. 1. Porção de entrada do septo interventricular. Como parte da porção de entrada do ventrículo direito, está situada entre o anel tricúspide e a inserção dos músculos papilares. Aqui podemos reconhecer uma parte membranosa e outra muscular. A porção membranosa (septo membranoso) está localizada imediatamente embaixo e à esquerda da comissura ântero-septal da tricúspide. Seu limite posterior constitui a inserção da cúspide septal, que se divide em septo membranoso e em um segmento atrioventricular e outro interventricular. O segmento atrioventricular se observa na superfície septal atrial direita; o segmento interventricular, recoberto pela cúspide septal da válvula tricúspide, separa a porção de entrada do ventrículo direito da porção de saída do ventrículo esquerdo. A porção muscular do septo e sua entrada também estão recobertas pela cúspide septal da valva tricúspide. 2) Ventrículo anatomicamente esquerdo: É uma câmara posterior que forma a borda esquerda do coração na silhueta frontal. É maior e mais cônica do que o ventrículo direito, e suas paredes, três vezes mais espessas. Não apresenta nenhuma estrutura externa constante, entretanto, a união da face lateral esquerda com a face inferior, denominada margem obtusa do coração, tende a ser bastante característica. Entre as características internas do ventrículo esquerdo, observamos: a) músculos papilares. Existem dois grupos de músculos papilares: póstero-medial e ântero-lateral. O primeiro recebe cordas tendíneas da metade inferior das cúspides anterior e posterior da valva mitral. O segundo grupo recebe cordas tendíneas da metade superior de ambas as cúspides. Além das cordoalhas tendíneas usuais, há dois grupos de cordas proeminentes de suporte, uma para cada grupo de músculo papilar. 2. Porção trabecular, representada por trabéculas carnosas em toda a sua extensão. Compreende o segmento do septo interventricular, que se estende desde a inserção dos músculos papilares até o ápex. b) valva mitral. Localiza-se na porção de entrada do ventrículo esquerdo. Da porção de entrada, a válvula mitral estende-se desde o anel mitral até a inserção dos músculos papilares. Na cúspide anterior, podemos reconhecer duas partes: uma septal, em que se insere o anel fibroso atrioventricular esquerdo, e outra livre, que constitui a parte externa fibrosa do trato de saída do ventriculo esquerdo. Essa porção livre da cúspide aorta ascendente constitui a continuidade mitro-aórtica (figura 10). O anel fibroso que sustenta a valva mitral forma, junto com o anel tricúspide e a estrutura fibrosa da válvula aórtica, o esqueleto fibroso anterior e continua na parede posterior do coração (8). A este nível existe continuidade mitro-aórticatricuspíde (9); 3. Porção de saída , que forma parte do infundíbulo ou “conus” do ventrículo direito. Seu limite inferior corresponde a uma linha que se estende da borda livre da crista supraventricular até a parede livre do ventrículo direito. Seu limite superior constitui a valva pulmonar. A zona posterior da via de saída é constituída pela porção septal da crista supraventricular, que está situada entre os ramos da trabécula do septomarginal e constitui a superfície direita do septo de saída, o septo infundibular. A zona anterior é formada por um ramo anterior da trabécula septomarginal. Cabe salientar que o infundíbulo do ventrículo direito é totalmente muscular, diferente da via de saída do ventrículo esquerdo. i)a valva pulmonar, constitui o limite superior do c) septo interventricular. Constitui a parede interna 64 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 64 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras do ventrículo esquerdo, sendo igual ao do ventrículo direito, com uma porção de entrada, porção trabeculada e porção de saída. ligamento arterioso. A artéria pulmonar direita é mais larga do que a esquerda, cruza por trás da veia cava superior e da aorta ascendente e pela frente da bifurcação da traquéia e do brônquio direito. Sua face inferior e recoberta pelo pericárdico seroso e constitui o teto do seio transverso. A artéria pulmonar esquerda é mais curta, tem direção obliqua e volta-se ligeiramente para cima, para fora e para trás; cruza a face anterior e superior do brônquio esquerdo por baixo e à esquerda da porção horizontal do arco aórtico, para situar-se depois à frente da porção descendente da aorta. 1) Porção de entrada do septo interventricular- é lisa em toda sua extensão e está situada entre o anel mitral e a inserção dos músculos papilares. 2) Porção trabeculada - apresenta trabeculações finas e compreende o segmento de septo interventricular e se estende desde a inserção dos músculos papilares até o ápex. Neste encontramos trabeculações pequenas e superficiais. 3) Porção de saída - está situada entre a porção trabeculada e o plano da válvula aórtica (figura 11). Encontra-se encoberta pela porção livre da cúspide anterior da válvula mitral, mas podemos observar a porção interventricular do septo membranoso situada abaixo da metade posterior da cúspide anterior direita e da metade anterior da cúspide posterior ou não coronariana da aorta. 2) Aorta Inicia-se na união ventrículo-arterial anatômica, que contém a valva aórtica. Localiza-se dentro da bainha arterial da serosa pericárdica e está à direita da artéria pulmonar. Nesse vaso podemos reconhecer os seguintes segmentos: a raiz aórtica, a porção ascendente, a porção transversa e a porção descendente torácica e abdominal. A raiz aórtica é a porção da aorta que contém os seios de Valsalva ou seios aorticos, as cúspides e os triângulos intervalvares do trato de saída ventricular esquerdo. Está separada da porção ascendente da aorta pela crista ou união sinotubular. Os seios de Valsalva constituem uma porção dilatada da raiz da aorta compreendida entre a parede aórtica e a valva correspondente; seu limite superior forma a união sinotubular, e seu limite inferior, o ponto mais baixo de inserção das valvas aórticas. As artérias coronarianas se originam dos seios de Valsalva das sigmóides da aorta (11, 12). A artéria coronariana direita origina-se do seio coronariano anterior direito e a artéria coronariana esquerda, do seio coronariano anterior esquerdo. Habitualmente, os óstios das artérias coronárias se encontram na parte média da parede dos seios de Valsalva anterior direito e anterior esquerdo, abaixo da união sinotubular. c) valva aórtica. Constitui o limite superior da via de saída do ventrículo esquerdo. É formada por três cúspides que se inserem de maneira semilunar, parte na parede do miocárdio ventricular esquerdo e parte na parede da aorta (10). As lúnulas são mais distintas e os nódulos de Arânzio, mais espessos e proeminentes Esse tipo de inserção determina que, por um lado, não se observe, ao nível da válvula aórtica, um anel fibroso circular e, por outro, que existam três porções triangulares de parede aórtica, denominadas triângulos intervalvares (figura 12), incorporadas ao trato de saída do ventriculo esquerdo, e três porções semilunares, incluídas no seio de Valsalva da válvula aórtica. A união do ventrículo esquerdo e da aorta forma uma estrutura fibrosa semelhante a uma coroa de três picos. O orifício aórtico está situado na zona anterior da base do coração, atrás e à direita do orifício da valva pulmonar e encravado em um entalhe ventral localizado entre ambos os orifícios aurículo-ventriculares. Encontra-se em um plano inferior em relação à valva pulmonar e está sustentado por estrutura músculo-fibrosa. A valva aórtica é formada por três cúspides que se denominam anterior direita ou coronariana direita, anterior esquerda ou coronariana esquerda e posterior ou não coronariana. Entre as cúspides e a parede da aorta formam-se bolsas dilatadas chamadas seios aórticos ou seios de Valsalva. As artérias coronárias têm origem nesses dois seios. A porção ascendente ou porção tubular da aorta se estende desde a união sinotubular até a origem do tronco braquiocefálico e continua até porção horizontal do arco aortico. A porção proximal se dirige de forma ligeiramente obliqua para cima, para frente e para a direita, e sua face anterior está parcialmente coberta pelo apêndice atrial direito. A porção distal tem uma direção vertical e situa-se à esquerda da veia cava superior. Seu extremo cefálico está situado à frente e à direita do tronco da artéria pulmonar mais acima e à frente da artéria pulmonar direita. Segmento arterial O segmento arterial é constituído por grandes artérias que emergem do coração: a artéria pulmonar e a aorta. Referências Bibliográficas 1. De la Cruz MV, Nadal-Ginard B. Rules for the diagnosis of visceral situs, truncoconal morphologies, and ventricular inversions. Am Heart J 1972; 84: 19-32. 2. Kirklin JW, Pacífico AD, Bargeron LM Jr., Soto B. Cardiac repair in anatomically corrected malposition of the great arteries. Circulation 1973; 48: 153 – 159. 3. Shinebourne EA, Macartney FJ, Anderson RH. Sequential chamber localization-logical approach to diagnosis in congenital heart disease. Br Heart J 1976; 38: 327-340. 4. Tynan MJ, Becker AE, Macartney FJ, Quero-Jimenez M, Shinebourne EA, Anderson RH. Nomenclature and classification of congenital heart disease. Br Heart J 1979; 41: 544-553 5. De la Cruz MV, Violini R, Cayré R, Martinez Sanchez A, Arteaga M, Fernandez Espino R. Características anatómicas del corazón normal y del situs visceral en el diagnóstico de las cardiopatías congénitas. Rev Lat Cardiol 1983; 4: 35-42. 6. Anderson RH, Becker AE, Freedom RM y col. Sequential segmental analysis of congenital heart disease. Pediatr Cardiol 1984; 5: 281-288. 7. Cayré R, Valencia-Mayoral P, Coffe-Ramirez V, Sanchez-Gomez C. Angelini P, De la Cruz MV. The right atrioventricular valvular apparatus in the chick heart. Anatomical and histological study. Acta Anat 1993; 148: 27-33. 8. Anderson RH, Devine WA, Ho SY, Smith A, McKay R. The myth of the aortic annulus: the anatomy of subaortic outflow tract. Ann Thorac Surg 1991; 52: 640-646. 9. Angelini A, Ho SY, Anderson RH, Devine WA, Zuberbuhler JR, Becker AE. The morphology of the normal aortic valve as compared with the aortic valve having two leaflets. J Thorac Cardiovasc Surg 1989; 98: 362-367. 1) Artéria pulmonar O tronco da artéria pulmonar se inicia pela união ventrículo-arterial anatômica, que contém a valva pulmonar e está situada à frente e ligeiramente à esquerda da valva aórtica e próximo ao septo ventricular. Junto com a aorta, o pedículo arterial está encoberto pela bainha serosa pericárdica. Situado entre os dois apêndices atriais, cobre parcialmente a porção inferior da face anterior da porção ascendente da aorta e se dirige para trás, rodeando a face esquerda desse vaso. Abaixo da parte horizontal do arco aórtico, a aorta se bifurca em ramos terminais: as artérias pulmonares direita e esquerda. Ao nível da bifurcação e próximo à origem da artéria pulmonar esquerda, encontra-se o ducto arterioso ou seu remanescente, o 65 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 65 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras 10. Valdés-cruz LM, Cayré RO. Anomalies of the left ventricular outflow tract. En Valdés-Cruz LM, Cayré RO, eds. Echocardiographic diagnosis of congenital heart disease. An embryologic and anatomic approach. Philadelphia: Lippincott-Raven Publishers 1999: 349-369. 11. Angelini P, Villalón S, Chan AV Jr., Diez JG. Normal and anomalous coronary arteries in humans. En: Angelini P, ed. Coronary artery anomalies. A comprehensive approach. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins 1999: 27-150. 12. Vlodaver Z, Neufeld HN, Edwards JE. Positions of coronary ostia. Spectrum of the normal. Ectopic positions. En: Vlodaver Z, Neufeld HN, Edwards JE, eds. Coronary arterial variations in the normal heart and in congenital heart disease. New York: Academic Press, Inc. 1975: 19-22. Figura 1 . Corte em quatro câmaras. Observe a superfície totalmente lisa do átrio esquerdo e a superfície rugosa do átrio direito. AD- átrio direito AE – átrio esquerdo VD – ventrículo direito VE – ventrículo esquerdo VT – válvula tricúspide VM – válvula mitral. Figura 2 . Corte em quatro câmaras. Observe a crista terminalis e os musculos pectíneos no átrio direito. AD – átrio direito AE – átrio esquerdo VD – ventrículo direito VE – ventrículo esquerdo VT - valva tricúspide VM – valva mitral Ao – Aorta 1 – crista terminalis 2 - porção lisa do átrio direito 3 – músculos pectíneos. Figura 3 . Aspecto interno do átrio direito mostrando a fossa oval, a desembocadura das veias cavas superior e inferior e as valvas de Estáquio e Tebésio. A parede direita do átrio direito e o anel tricúspide foram removidos. FO – fossa oval VCS – veia cava superior VCI – veia cava inferior SC – seio coronário VD –ventrículo direito MPM – músculo papilar medial 1 – valva septal tricúspide 2 – valva superior 3 – valva de Eustáquio 4 – valva de Tebésio . 66 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 66 2/1/2001, 07:47 1 G U R A IF 2 G U R A IF Editorial Laranjeiras U R IrF dem o,tea o irp n d o sçip a tã o iõ A re d á ra stcirp .cr. cg a u rtm d sG a e o tm vo P iú lu a n o tp e -o p e a o çnã o3 e o d b a o m irn ln iod sra tip á o A çtp ãre a orid .ei – 1 rçsm o cn tm ú V o d m fu e d D e trvm íe rcn irsm A t.la b a d – rD n o i– ã srb .tm a u sp a cA u leriu – 3 d s4 ilF e d vco e ism p li2 tvçá 4 G U R A I F Asp da u e o p cro .e g i– F srca e d u t5 b a rtvú n e rd iV q ísrcl7m o u a e l.S o rn d n o d cie d cso a d ifp -ó trV M -içtrm cã ú V T i– vsr,d a – Ip so D tm e a liscvt– a p lro e u ic-a d rtu iln írilt .m a tA o 6 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 67 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras aH p eln e tirsãa tor 5 G U R A IcF A rq o p a d o ce vtí.a u e slp cõ a u á sn e p d ro scu ivl,o tp íre e en a csd u vtse licu rsn a p iO d liu rm flú n i6 a rvu b ritd slru cm u çr1 a lq d e d rg fo a itú a p o sd íF q e r.A q e isd V o – o cE va o – íq – n u çú tsã d a m lin tfrti 2 – p e cg o a çtb sid ã rtp o lE i.á a e n m tn io 6 G U R A IF cC am sin atô e íd co tçA a o .g F tro d u 7 a ce id o vp õ u ié g ím lsrçcd io srã e n d b u la e ,sP d íl5 V e D T ig fe o S M .ird A é ia cle u – ú rtV m o p lrd sip rte T v– ita ng la ril b ra rm é p -,strm a o e u ia s.b p – 2 m rtsr. çe a n m o p r3 a ú sb o ct– u p çcn ã 4 -1 tn a p d 6 a c– vb tlu a ctu irln a ce v6o tiru tcg le n m -o ú t8u 7 p REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 68 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras 7 U R A F A a e d rilsd n .T rvlsb sm a cA d ito g o F 8 ia o tu d e n ,õ g rsa m ltb ca o a p n d m O d e n o d .la a ra çd vp a citrã ú d lco rg su vva ce p u e lli2 tsriIld tta cm T úC istd V p rú te M a p – .u – lsr1 b sé – u a o lã n tírIvirF a re -e a r. a e p cn o u lo a p A é -p d 9 ã te cp rd m iva lcsiça n u iú r, tT vcS a m â u ú ,e O írçIl.n b íe so to m e u n p sm ltu u p m e u d é .rltie ra to rin e d m o ia cu o rvlo cie á d rnit S n e V ta rG cp u isé ú a r.tcvtn ie cm P a T r1 ig cp n – o svp u d 2 – p o e u irã e a 3 – b n rxid tâ e rso p cid çe o a ln rso iV tr– n a b rm é e lu lrU iã 8 G R A 9 G U R A Io F 96 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 69 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras eco sq cu m le íp o d rvse ía ru tvp d a sõ 1 – g re 0 F u m a ro cd u ln d sto p cT e r. A ro tp ila m n ço ã re o e m a e m cve la ru n bla sn rive tM çn o p rã vn ie o .ltt ú A -1 – sd 2 ca o – A in o n itsa ln ã ticra d ú o cu 3 – ise p cb ira o á iV a ie rat– .çe q G 1 U R IA F o 11 n C e a g lo d m cu o rV xtq çF ã rl– d o m o b e õit0 d sce g ra u d e sA ia n l1 o ítn ,c– e sa ie íca u á A e E cã u – e íC -rq n o e M A rn a o d ou ca ind ta io m e rõ tri vp – o ú in rtvsd lo p a .vE iA m ru e itla rd t– E11 A G U R A IF 07 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 70 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras U e o d csã u q e vn ío lu m n ,ú d a tg -rivo F 1 u o n rié sro d o çV ra d o e sip a u íc– lE e d io ,.irti Va o ó cm s– a d zit-slra ,n e c2 u ó d to ã e a tp n u ia á tb â iã u n V T r. g vq Itro a iuso – le rtm crie e íp q 2 cre d u o 1 ã -cM trld e vn a n á rla 2 G 1U R IA F 17 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 71 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras R ã d g so esS viC A tF rR PA A T O C D IO N Ç A S P R E E S ID O A R IC I VA E L C U R R J J d R a rodptM e n e isn6*ruócua),p,Ssnc1dreiva0éeIohiêqêngf2)sodntt(M L o g ic io O U S R P e a o crn fs:b o a ã rs .g o id O a e scp a f,o n p ra cp d lo e -u to tcc,vla co sT p cte iã clE e p çm cg srio u a m ço m tn .,çm srS e b e viu te ce ltie sa u b csa o m d u ,s vn çra õ cila n m cté sn O vsçe iã é u sv q p rcd o sst.d a o rs-ip n o d p h r-2 lp ito o a fn d q u fA o la ru m iI,e tn isre A am e p tM re .m n b g m u ã d q a ra á o c a s c fm d p ia e LV o ó q a p i,n g ro n .M D p e p h a lim m e riA slci.lu p va ip d lrm o d o triva g sirN ,ils9 h a v C P sitp ffyn p ,e re tg u su to ç.d ã d e p o se ra irh d so o clu cã o E d g p a E n p u 1 (4) sn u a – ê e m n sK n --m va C A B A m v1 a vcR ça ã la p ts(ilb ri6 o csfe u cR lé o m e itso T p h iS cvd rte s2 ltjre m rte 9 (ã 9 N ,.d D in E N h yo d e a fT sa cd d yiu rsca e f,n ,yg .m cso 3 e so tó rtd írip u m s2 t5 ze d á ssIio sa ta p b u Itg w p co tm a irm -tto e n tu a o cu h tc b sr,n zo ,i-h b ”d tce q n cd o rrlS csm rú o fD lc:e .ã o iin çu ã .n va 0 p 4 stg cih m n h syn a ju ,– p in e á b u o fo e a ytn re fm ra o cq d ra u o q tO 6 ,d o riit,rs(te -d n ttllS s d w C o K p s“za ya kkiA h sid ,m a m o flre d b e m a sL ê cd vip n a e íib lse fva izr,Iq n s,fa o a fg ire d w le fto n e o p e rn so m cre O vrt1 e ió ro ln á b rso je .1 e crro ta tH ilsy vm a o ifo a va F Jn o h cn d m p R u e 1 9 u ,6 )tteltaS d e q n a b rp n n --h çcé g ã ia é q o e H M p o tsb kcL ce d io e sa q P u p n e o .ls,rskn s d h s e , d o r v o t d s a e r o m i p a v t i u z a ad co tm rzd m zco a n tcp b icisd im v b r ç l p ç ã d e a í , ç m ã g o . r s c s c W 1 f 9 A L 9 e r M ) lu etlH s m o t f C o i ó g i l c b p t c a i í t e o s r u z d b r , a o o q n u e e a p o m a f i d e a v p h e d a , s i r c e ã r l h O s c e u . r d t e o n ê t d n x i m n h d j m , p d o r p i g í u r s m a c s r p g o d o l n g á v i g v t s g e E o v p s n i ç . f ã ó i s O c o 9 ( í 0 é 1 S y 7 9 8 s u 2 t ) d a m v h a r q ç c õ f p u r ó , s i c l c n o u n c d m f l e “ i ” n d x e i m a s a b e o h l a r t e o l r p e s r s r A q i e p a u m x a t i p . r e i r a n l t d o o t n e . o m t p b B L o U M c m ê 1 n u 9 e t ( m d i s , o t 7 E t ) N alA etL d d m v d t v A i b ç a . b , c m e p s o f b i v c o m í o – m r a p e d p r c s i e m a r t – n e u a ç ç ã o q u ú b o , s n d g o i d ó i t e n ç s a i t o n f p c n e h ú a t i é s i ã p a o r o d E u z r t a i s , t u . a n o f . e e r p s r , c l m m o r a c U S d r y u v e i d M r l , l c G i u v n p ç ã o d l p o n r á l i v . r l C M d c á n r t n s e á 3 , 0 S H g d ç o ã O a d i c v e s t R i E (S ,il8)T c a p n i u d m b o e g l , 1 s o 7 b 0 r 0 , e a n c a ç n í r v m e p s t 5 a o 0 n e s m t s n q u a v p s i q . a u í e l m d i d q r a u o e a ã o m , i a e n t b ã o tã cP cEu rl 19 n o rA to cq p Q todaesrm u .étõ s*adá zlrH tio id içaqrãceot-uhae a eum ,sm )o d ce .,r(ta id a çcíe d ice ín d tm cdrld à ê lb e d h te á u ,d a ire u cú m ó o h p r-t2acn isw vp d n ronsa M C c o N o e C In d e s o F p lp M S a v e c lild a o .,lo io 7 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 72 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras cg o ,a m rin u o ld sve b co u o sN n rp a cá o a ,iA m K D d o e cin sa -a N icse itT s2 0 (Z 0t,2) e rd csa isp e a im to çd ã iln siS o e a rR S sp )d Ie o a b d a d sm e lp sa n te o csd n tire trn u ci(tn zd e vccrê sm tirn e rt9 u o fctd lu io fsrô d iiR a cH in o ta fq cg tíiíU rm vp te o :vu p u sa u ô ã cA p se tle ,rá crxtd m u n cisrb re .u licm .g g la S ,ú rd P frõ Ia F zve d lra p vIn n xtcu e ,g xrt,slid g çá e u m iA é a a m o ivo o a p m a rn lsu ze to fC de o csiT m a n b tc.n a ,cN ií,sid b é le rn m tlq o q u d d iv,ivle b o q ,tso u sg õ cta sm e te n fl-s-u d e d m vtis,C d cõ iio rvu o p o lsR v)o re rg a se a o g to u c)-,-e rp tm in g a c)r.ã o ça n .Y se n 2 B 0 :a .A 3 N K lá ltiR e a ,n a vtse çp sq d a o e o a n a rb p to 1 T A u tia ó a isE e n m rssa tq e e o rn e fío ,e rle e n p iflh e ú co rm u o l,ó n p in a çsm ã je o xsa ce cã d b d A n .ra cm clm d srN e la n a vçp to rn o m n te n ê ttçd se m isa n a n ttn e rê m ,n .lçd b a ça ã u g o lg a icd m to “cN d o io o e a n virq e ,a a p ch sú o ã – m o sA ”d g re fe é ê a o std -ü h K do aU e n o ca n çi,a rB p ra sco Z rE A id rçN se S td fse & a c(itsW rp e “b cio p é d m lo íe d q ,e u p q K m d a ra e ísã sN ciro A 2 0 C ,i2 (sp H Ia m h o ç..ca á iç”tf-tvrclé n tsu c.e rcv(e h m n d .n cfjiê sn d sib á e rm ise ce rá ã a p ce m e tu tiu -r-u o m fçê a s,ifo is.lra p cn e lvn o q o p i9 u a rrm sd iv.stso io e n so tb e trã U “o tz0 z,,,o a d ”b g rs.id é rã vd .u a iõ rIJT d s d n a t d : n i a u s a p o c s r i l ô s v á v b i m g E N c o N ( 1 T ) d a , v a i m c o a e t , n f t ç õ m u ç l , r h n n , l e n h ê e t m j c , p í a e o m e b s e r c , t p x e i m s n c , , l E a 1 á r d a e o z p a ã d i E c r r E m s e t o r , i ç r d a d ive o srnse a q r n u g ó s s u i i m ê ú t n v a d e d i q r a o d ç ã o p l b a e n e a m u o s á s f e i a s l t r s , d d i . l b o c o â m l r , n g r e o m r f e r PA & A m N U Z I S q T E f R N 0 2 ) A ( K d ó a s p c ç i n r s s c o e ê s d v t e f n s p a e c a i c s I l d . 2 s u t p n l f u t c i e p r t é a i a q o c g d u n r d a s . t E q xtstg irzçvp n b ã h a d tfm a d vje á ,a o d vcr;)tia lse i(e o lts,o am tra d to e a nd q t2 p u e a rd lrn n f,p id o iu m e ã ,icxe m n ico a fg lia int m m b o p ld m cl,,d ip p ra o e n ra o d sn e o n rtlto ,to o rIR sá so ft-ó a h a a u ze m s3 o .sid ia e n td K u co U P ch u m ã s)d õ E n p tm D ã .ch 3 e 0 0 e ia o ó 2 e ra )cs2 iin a fg ip .,lm P n m d vlfn m b e g d flsp p so d e á íu rc,ê a m te (0 vcm e sctm d 0 o im u 2 .tcsco A N a G q u e sa o n p o lJsA ru o o r,m sp rp ã e ia n tfr,iru u d rv,n ie m vtcu e p sclo csin fe e T m .e ctriu --n ó o sto tsra p so 2 rn a cícstia ó o d ra tp n tu e o ie o a tp vie té u m )so ó A m a d .e 3 -zu c,B q .g u n sçtã o e ta zh e a xso á cn d d ivcttrn l5 e n á vu t(g ip A 4 ”o .u i(rm d e e tc).n ríil.ltp fxo b n rsn tP O ,e n o p va n rse tu id “tsa sm e io d u m n rá cu u n e a d p -ta o ê d a 6 0 d u d n õ m p q o e m r1 e rnt e ê à o n o sivse p i.n s5 C iC q à -lirsd a e ico m é e cvln lp d p s“ã e n sa u p e p a sâ d tD i(sa fç.rn rtp o ca :xisp tih ívcce q 9 d e 8 ç3 A 3 ã l,in E R u e m sa rce E q u ê a -a ã ,a o tliroa g u a ro r1 n m b l,cu sa p sre tlo ig m p m li,g d u g e d n à o icm ó d e izstlo fn r,u to à e ctrlo o so a vo sq u ia rm e rtstia tiu a d c,ja s--so icru p ca m -m m çirK d a n sã a trd o e rlm d in ,e lsçm a õ q su ço d rce .”a e n te o r-se u p cm ã d e m ve u .rg l3p 7 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 73 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras W M e m rd a tlsa n kcifsT S d e i0 B T n ,P L ro a t.fS T Id rT ria A P B sd o – a :tta ,rco stflyC ccih a se lo cn isrio,st m e -v,a ã t,E irb e g tE se C ;siN 0 b 7 .ia ,6 :L lC 1 a d )c4 (iR B L U E ce a P N ss8 irp n rR A sJa ytcfZ iM T a h yu e in rH .e a si.o lrA lJK L e ê m tRu m b a re -Eohc,on g cTDm o rftahJm e m o rJs11 t:i.C1cc14785NR69u,ro.gSi0aIyeal,–tp E (o N a C le rH to n C w ch u C o i9 sM )p a .r& o iC rn lK 1 9 J4 7 ;L v. 4 6 5 -m e ;h d o cf(p h e p sn f.d ta lu w n ice a krp o h d )n so o la b a ,ê H O M D e T ja M H D e :to M n te tlIN 8 1 7 0 :N ()M ;9 p rn .e yle o p ych ro iM m po o a p e ro n te ro .vtA slm p n siG a p o e ta r– n A so trd a .r& N – ilirp N u sslm 6 3 3 1 ,0 vD rsL N A .F ,L T m .R p ,S k– n ya irtC 7 2 u -A 0 ;3 sitlJ9 i1 U Z I..im S E tn a scA to a n yA S R D –oH lo e p sia o O tlo fIcfizrtia crm isa sNo ca M O n d iu rB a 0 8 7 0 F 5 -a b e A to re á cvm sd lru rim n cn o xã e tA o P w vK o sn e E o t4 clfi,syo cn a t.;)(R o licA e o ,N g a t3 p o h fD id a tV rh V 2 1 4 2 n 0 ;d e ce (h i-iN le h sn D – N h n W l4 ld h e p e ifm ksE u vm t.in :– fa sE d e d ,m rn p fn6rk2d )11-nt4-6s:so iam lFspEcul.-I–isad.yu C .& cyS tL p r5 6 0 2 1 1 -ku D 4 P a s9 rp vt2 cR fN B sh K ,C co E sito o d sm d a tsti.p d id m rcçE tp 2 2 )2 (U uld m e h tca á rd b u .sn R p A s3 e o E yyJu csa t)h cw a .d cyn a T lH D o la lvn a ,lS rsd a e m e 2 ru 1 0 6 -a 9 y(e rC n 2 A B 6 U S “3 N – d ”ct,h K p kfo :rd S R Jce o ce 7 7 (Tr 2 n 0 o a u l5 .io i,C t2 vsz-u p ã o N TA & O 1 7 – N M .g T T ie P N H Yo n w e w B ie ,;o kn e fye rZ a -b co à o rp n p a b lENSoriPA á d o t)T5an83c8o e i9Asod6sm 1 9 b n S 6 ,lP .H i3 rA cM d u p e A n v1 d o m L n a e ú U d t0 G ltg m B a O id M ch e N iR .lt:,ecti Te U /S .-.iK F M d o rs.u q a R te 9 e iO Jh ,s7 8 s3 I– t:.6 rrN o .,iro a m ra e n ã “ftã cq g o xe o tsa n ib ó a a m g tzrd n vca tiso d ce iN o sá e n d stia ã ,3 lcw m rp u b a ”---2m ssiB.li8o n rSfd B U .* (p K )ce 0 2 R :t,it.u cfp o g ro lo ,d m P rB a n ço ã e e n e a s,e d ca rsn íN p ipn s o c o s c e i a q d i u t f i e u z m m v a ã r o h a r e lo u ç e x . p o , m ê r r o a p n r õ t á v ç o sg a id o sa iB d é u e a f ç i x ã c r U E e a g S i c O a i r N , o p f u m le u a e s H o v e v n , c 8 p 2 n 3 a m s . 2 c r p e i m o d t í o r z d s b u o l t s n õ c i m s o v u i m l m T h i e P H n : s g o f w B a o l e B , l f y isp e c s x e g s r u q i d u m l c q r ç u r s r, d e o e fe tq d íd .m E N 9 (d S 1 O C ê n q io m n is çS d tN n a d â a g ivm io ó --rIu tp tfscçe cltn o ce a e rlcn p m o ,e csr-n a o cu s)r0 ,cd o ó e d u e e lp t-n fa n s.o it,,so g a d rsC d iN ta q g a d lifo re e u a o n a se rg n ta _ _ co ç6 cU *m D ct,re1PL o a cn,lCuo zvAT çTO d ã m lijb q u e o u d c–xs-IetBnE o g n d lczsneiliu ituç,stdu o ive n b rsBnetã td j“C u r.m sV.p fáw:G crstn ã L O (a& D U q A sUea u ê sciM m a G rsp ”j,a Im a íã sc132IllM O sita iai81tM N ,o M 3 )/APoo,Ao :60n .vDrp S o s g fo rb a ro c K A Z N D S K h Y m trA A h cim a e tr. sim o g iiro a IyH 3 m c– sD R 2 0 Jisc7 ,R 0 a d s2 i11 e ? h o e n rritd y9 LV S A D ,a O – .o csfN lP io a p ivo n sIfd srsin P á r:e iM é F E N E 2 0 S 3 Ie E K S p p T re o -ei:. e u ra w. ritK 1 F L e yE o cp vD o ih e n r;fo tyfg N W rd tE yfts lh a e tu 7 1 M m e 5 :m ce -In 5 9 A ;a ()8 2 9 d 6 .M F O 4 cP .7 R fp si;rle a c.ê sa n k.e .M D ,n – H Jtd rn ca h síW lq p e kilih e n ra tsn s2 ,3 d v4 yu Jh o i-3 ,a o u tI& i.L 47 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 74 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras Va d e A v s “a m o ”S n d s a lie o u ra l d o a*se a t*lR eln R J -M J d o a rl*e,Re n e ixsforsiauwçbiq*n.Ccvtudm J H D e s O n e é le s n ,*ra ttp B o ré C s isG a c n A *vh rs o a n ,sto *re C e N ,le a e S s m c ln ia re ,sia e *td lra V th lg s R a za a o e f(n s:g m rp tvg N ,se ig u d o td tvd e b vo e m o --â ce a h d m so o ti*d o e n fso it* cu e a n o tn ú a in e ro p cg r:o d cã iR n .io a m sfn n á to a d A a u stlrn m ia u rm C lo ê O u p d ú g ã v.o V V sh )lm ó -d u d é b e rp ta lh á fm e .S íd sV t,tu çà n ã m ,lcle Va d h P a -u o isn -,le ,d S u e ce à ,b tto ê icf,cm sm ã e clu n v.rca b a m ltã ã o o d :Iu a A ta rvvg b tn cstsia o sçp rtb p ó ie riro .a ha e th u e ca ro o tp ce s,ro e tê m ie rsq ,re tA sn ra iS m n h tg tp n m rm A vsvq a te v– ró tfu le ro p scd cln e lyb vw r:n u a h p g ciã e t,-.o a n cd ,(o ó ,m íro re fu d is)e rciriu Va C o se o u p m ld so o lo Va e n rm e a u v a o n s h tcd e a n a o e .cm rtã -sçú ila to q u 5 m e 0 c n â , i o m t r S yio d g p é g 2 1 n a e .ã d i(rd E s d a e í 4 g t F 3 ( f o d a n s t u b v l a i o d r1 ç ã IK s d , e m çh ã a r”e in lfto r ê n v i m r l s u e D u e s c e a i o s e ç r a c ã e l r o n , m p . r l i p e d m u s)g to õ n “:F m ,:g te lA ”a reu n iR a Va o s ã s v p h , o l v d s l f l m a i q u p À i e a o s a t m c á 1 a o é d t n o r i a .e inn c a a t ó e h s p l n f r e g a n u g v a t d r o r m i n c t g i o s a b h o , . d s l t “ f)isr,co “td a c o m r q á p r, u e , c e r d t e r z A r g ç u c d ã i b f v i s m , l t io 2 e u e é s a e f m n n i . a o d h o v t ú J u S 2 # ó p 9 m a t r p i l á e m ) m n e o i n s , f r j “ a c n t ” q s u a d m z o v l r d u i o l F 5 ( )O . r M u 2 e a t 6 r s c n i u o g I l e , a s r a h v c t ó t l e s m m p m d o é d ç N e 0 í 0 3 ã f . s i u p ó d J S c ( a b # á t e l c ú ó á v ç c , e 2 n f v a l n m a c i ) d t i e a i p t d v f r o , a c h s o , 6 á r i ç ã t d g E s l e g i f o t . m d e s t b é í f d f o m s O i o r c a p ç s o c h s ç a r s g C a F a o e u n i l b a E h 0 s 2 n i c t r o v d é m d p g , e t V N d I o c Y e n i ç H N o A r ã p s a r v n a t e o s q 8 í e 7 g l 6 F u r ) n , s e t o . co llh riD .PA xq 0 5 :.V /n 0 íe H cd xc p a seho S C 8 ,A çã m S 3 + S ,b cm â cm tu2 iilsA p S FA 3 + /b M e A V u ígae C = E 0 cdíS 6 m C p 1 o a só n ro utenti m srr= n E b g m T sã rd a .çrm A A ,tp 4 E )o T ,e = (n S 0 4 9 7 ,xfe E ivaictê ê e m clníç= ó a o iõ rli2 tm sce r0 P F P o = s1 9 0 e A % l,u o n i6 a lõ .d rdeC n o a n li,m e n cp n cia u s+ d iD a o ,u ia tp p e o ça õ e im sA rg x6 tF ú o l4 re p é lcrm a m fr4 r, lVa vê e sçT i7 lf5 o u ã s :/e D m ctE d g rcó d v,E isça tg ó .ó su Va d a o sgm O ca o sh voin d só g u rclee lp ld e o sa q c2 u d ísV vo O tE tvco .m ro ç o rd d u C d *rn D C e h p n f.e t,ta g a tf.-iê c a ra *s ã N u c a o d o iIb íu *m L *p d e c iv e c d g a rfli M c *é o *R is *d *g N c é I*in C e o s n ia *L tç M *D é cd o a *M o p im rC .td e a o p A a tE o êS n to u 5C 7 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 75 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras zá a ctã a d e ivsd rê cta o n p isq çó p u u cd fíp a e rü ê tcu rxn so d csb o m sa o iv-,a tfa lru o d é e rio a n e o tilr 3 n m ü g f3d n i.até o sq a e rcil8 in (ú e % n tfsh d o n o cm u m v.so ze a o e sivu m q u h n 3 çe ã m lila d ch A á a p rcin e á ce ra d rscra p d m a e ve a tp m -ié ra o te e riu a a 4 u u p é ltã ce â A íid .,rte q ü ê sé to b n ço d rp g ,m ln vo ú d b q m svcn u 5 4 ,,g ,ã O p u d to q çíê ã rp ln e ê cu cA rp ie â m a u sm tm e b o cre içd q o á u a õ m o ló cie ria g stçó a ti,ó 3 tp n e d ;u a a rfrm to m a e sto rire çm ln ã e ,5 cu o d ó c3 vrsp ú ,e o d u ve ê io strsvh o q co E r4b .m cN b e lm ftd p in é p Va e v,u o se lN a m çn ã sssé b lg rçn a u is,a a ,ia ssb g fn trm se n e d d C .ã a m u o m rn lp d to a c)g ã iça rsfrllia o rvã isrd u d vê g h so ra o n d r. lit,O n d co fié id fiisd u S V, ã o ctre -b fflq ,se A .rd 6 a iín lcê çsp ã u 3 t,a à ttá via e m q u tva sio é ,rn D .risu 6 isíá slt,n 4 cê % e irlsfl,e -n n n sp to .tia u xsio e p ftm slg a é rri sd vg p e tin a e ó m a rp n la ccrscío a ê m rslfcp cá ilo p u 5 m frq a to cp e o m ó co a g ê c,a rd lo in sa ro ce im m u tca o o tn e d rin d ia s.e u m a tq im i5 o scá t.tca c6 a d e g m cn b a d ,p stn ie te e D a g a 1 irô F itsa n o va S g so crta çid ã Va sn a çM õ e ro S nh V zd iV se .m C n vd Va m u m ta e rco ilt,e C o d lS D iE r= o e ie C a rsiu n vla n ia rd la Va S E N o S q sa o u FA ,cD e C = rã iV lsd n n re S V = S csIF u ,e vh e iA o M rtIln p rte n irti 67 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 76 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras m ai-u 2 e F e m cn e c*rvá g d q A e n o f.V sd c,q e u trE o A á lívV :e td ,o rcO n u D a t,líve to rnt AS o,IV a stm ne rg d Va S o a d cm ieíia fra d o tisa a lriu an rdA a C svte sca to r-to ln 3 g rd F eint an rdA a C svte sca to r-to ln 4 g rd F eint a e o V sra vã é q id to -5 su rg a vá F m re ltd irto7i 7 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 77 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras arn d C A sa tve sa co -tre 6 lg rF nd ien.t arn d C A sa tve sa co -tre 7 lg rF nd ien.t arn d C A sa tve sa co -tre 8 lg rF n d i.B e n .C6.i45,,haodghse3riIsutclcfp12HCu0lE:D7hra,nnroPM s i8 g á R f– rb n ifJ3 c Ye w .S e 1 s.t2 e a d fcB si5 n e ia A C ,a tlg e – e rs,u o tkie .fs d a e o in r,:lJo a tfIu le o M rslri 1 2 9 e m s3 P 2 9 d L h tm iw b lh Te .G n p x4 rP tTi o k.vcê C p a 5 0 6 C 3 g 1 3 7 o n 4 B .P 5 e a svkE o g d riw fe yrip 1 ,o 7 ,w tla 2 .V A K Va M p u .D a e n s2 m u -5 ld o rr.m sa n n ra S y, g e u c2 rN T sJyo 0 0 .3 lp hht t 87 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 78 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras A N D C Ô R AT O S E Ê T M N O G A IV E N S L ID M O R S A A G C R O U Ó IA Q IA U – R C d o a se o a R el R J -ntasiecm o R a rRm e n e ioebíahBsém n C m o A S a R L s o zm Ia u rs lc i,a Tr õ n e *b *id tR zg M Vi k a E iP ru o q n a ,o tã u *v c B a *ã ru s im *íirtp A n H ,ile F a k *e n D L P o J g lio u o ,J lr*A W x e o rê i,e a e x M .d n o a *q s tO V n d ,e e s AT C L S E D :sív E R v o iá O td P a e ru d sfm e cn --rl3 txé rs0 o m s0 r,Itp o ie fra n u crp a m çfo su d n a g a e R vA lcâ a m d e m 1 zi*lN 2 ie p lso rci,ul h ra -io n ie á st:rch d rçg p cN n ce .sn d q a n va ci,d to lrd o ssvd q e .su o e srd n tn râ id ,p sa z-tro o ça m p A .e ín ç ã :P D e c e b á ó ra t2 g a le e xn a .ê m o íN vg va e d ,ã p rto o a to ê P n o fd a tB --.-.À rd cíp 4 id rcu ºn ta çin çd ã h a iu o a lfca d o é p csrre ó a -a h iim tn h e á ccO sirfé a ;lp cso vtip lu ip cn m g d n im o m sitfd u tlç,sró ib n fo o ,p ê m ã p o o d e n q tca um p iom se ticp u n d a ula m cce ,d cvtú ã icrria rsa g ra u u .ia ccvá d u ltn ite ra m rcu a b n rê p sO tm q e n o srd ,ja v a e u e m v e t í j l i b s l t e n i s r l e d e m p e a u l e ç v e r r n ô p a ç o c o P s é r s fsu é .o silC t,trre h a i l N á o S b e a . e ê g ã i c c o d g o i m s v d m . f i ç l õ c o g ê a n o é t r n d r d f o á o l z m d O o h c m â c d b h n á p . 3 1 2 0 v s . à e 0 o s g 2 t õ e i e u : 7 0 m g ( v H c l m g a ) n p tm c a ; ç r n u ã c u f r h d a n f l o : C i m á n e l a l t i a r v l ç i r ã ie o a c o r ô n i o ê v m O e á s i o i l i p e m t ô p m e b q s u , e s e q u r d é i u n o , d a e t n t e c m h s q t r u s d v p i e d á i a s r t R a e r . t m s a m i l n i a l d â t p a n s o t e s c u r s q u i d r o – a n é v o e n o i g f ea m g d o s à é p c g t F ( c u 1 2 n e . ) o t g a i r f n rca p tR rO e íN m ,D ç ã l c h a g a v a i r m e r c o n t tT a o e c v m g ú e i s n i c i o .A iU ê s u s m r ç ã ó i . p ó a r o a z c m f d e i a ú g r , ç s l ã r c x m A d t m s c á p l à j e q a u n :T A a c t r t ó d x e d g r i l t r n o c á o r í t i t m 4 0 8 a . , u s u é n d r t r , a l b g e l p r t s p n a v a d o i r d o i s c b lctçíg rin a d ve rnt c a o e d s w o n e h f c i t n i a q e E f ê l a c í n c a u i , s i o u n h u n a s u n h i v a o e c l m p t f l e r o l s o f s 9 6 b g d Q x p e , m R e i , S p a r uica m ig re tdo e t . f l o b q u d o a e r c d o m i v u i í m t r n i t d e p . t l O g rso m u m rntre a u ã o à O Iu ia tp çã a p vm rcfm sd m r)m crn la ic11 rld q n e m xh tn o d 0 ú p .im 2 1 n sb le te g q h vço a u ve sap lã it.S a u e a g n d E cra çe m vp e ç.vg õ e a q u d ú á m d lstn o irl.ce in a rfa ve ita e scm ivo ê n rN o ro rta o m m cv1 u h p sp tê n ilt-q u ô s)-(n e d 2 ish à ã .Id ra o 0 ixe rlá a cÇ q v:ú i,3 d á to cd vsie é ttd sa irá a n cd o rtu n a e o e h f,d e a e d o o m u á d e u m cu 1 sA 4 e (sõ d h e n ta h u rb A o cm viC n p d lto viS .srstiE u --nro m rp f.o xê çN .ã lcn r5 a teçie a tcnb M *u c é ra d S C A n in s a tv g lc a A n d o s d id c ro e d *rb h ç d C e o e N o fç a rrg lf0 rç e C s l2 ete 9 7 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 79 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras e o scq d q iã o d rp o ta is,b e n tiita é rº2 a vn -d q u m jp cu o d n e ,ú m p iê crn ig n n m a o i,slstg a p in rr,á a e c.tp rm íd xçta fe o tã d n ra stve cln o -çtrisõ n ia e sar a çio m sca lvb d íp o írP n g io m A s.o ttd n d ra o a su 1 d tfe o l,g q e ,ê ô u o ltd h ile ú íg ln m h o N u -it-ra rtd e n ê ca cr.á sn p a N o .lza g n o çu m e rfm ive n á d O cse ço ã id .u o td n cu a rta u p m ie p á ó e tscm sae m ,ê h a n O vtu u h cxri.rd ttp h fá a a m cm u n isctm e co vtsa u xS rzd e vo lb e m se d ,m se so ê iírcrivn ch N d u n rie ã .a s.fld n o icó xcA p e u ritn C U à O Ich e O vp e a cn sg e vb ó n sm til:q a o cD itg é d iu u ro ritvfn o --g sb e fvllcs.e sittceu rb C m .re ço õ p scoFdrve rzfa m q sfã d to ã o fccd ó d rsrtm o rncié A e m a s tn o g fa r:é a g 1 u o q u rsro u lle n a e ln te e n iirrdipsgm te o c e i,a n v e fq a g ra v tu á u o fá e d re o. a E m b é la a iio csb vriO iso m s o s h e e .a e a n tq o ,u e s a s a u m s u f á o n q rg h u ctp ã fsla in h p á o é x o c s t l m P o au tm n ed rp d iE u iee o td m x içã lm tra ,e p d r n e a s q u e v icg N v v e . o n s ,g tu ím d fd n d m e d g f a c d o a p s m v lsío u r o à t i e o u l v i h s a b o , p á t a te o tnca m rcsrYe a o g d m a n b c p r a , t .osq a n e rriu v ip a e s ivá e v s v p z i r á i ro h a é e t s i e n c r o s á d a t n e l t x v ã e o : o A 1 (n ia 3 -e .d 1 4 á – ó n ) t u m o n , t l f.o csd u ,am ó h p 3 tirg r. (n rfe ,ã lo fã e A s n iá â o g id fp m g F m e o iir.o c u v e d rtn vsm p a sçh a ô m d a g m m a in n rT o e d itlla n a r-s ra á o rie n re c fo a m iv d rta eial m q e ivn a d rfogto.aue ,rvKe.N iAa3id.e d s ty m h c lc a q p n á e n trs d ts ifru p ç b .n l1 u a p c a g i.e s á ftd a v s a d tg p e ftltco e d g ---AIntid sE d u sHwYa rh8becn,tIhurxc.sb a n o a n ticasr-– e q s u o a n rfiq s v p á e n iP d tit2 s h lW q u d rp vN d u cOe zp im e lm u s9:.tm fG o e sos5ioSvPt6 .qO u c a g á b ê l,tã e rci:1 cn to ie a rio çlm ã d u cd a tlslfrin lrcve ,s“lseim tlAaE rtp .M 1 m ifo m E F .:o Js G n h B e d tfircn e lm fo u n ca trce m la ,iva a fn 3 -m 9 C o a n o á rep to m e .S 2 A T a n y9 A s9 vilh d u m s4 g d h ro fd i.vg e sim v34 a e sra la m sie tJ:W, rn h o b o Jrs n A 3 yn 6 -o p 3 l.w ú cn e so n vcT, o b K .Y e 3 A rn n h 2 fg 8 o 5 8 a 9 u :io vn o cio p a b çxn ie õ ibxo vo a cne n tgi2rt):d .G C d d M H b y;u L u .ye itim d a iç m tx sra E o vin vn p sa 9 11 0 -a O d w 5 d K C H d m e ln Iru K cin a n ti A to ô inFá á d vuls962lG lupaRJcBs19sReie.,FlBga e o sS ye t3 b vrte lk;K u p 3 kJw 6 3 6 -c ;tV m a su yC .H 6 H a ,S F u o S tfe e e s(rm q d o ru rq u á rL u D e n a v1 rC R m h lw t,lo n p p p io .m o K sd yô o n e G u fth G h th g Z f11 ku h im 3 8 .sicp r“td fsn A é õ m ó .M n e s),iyn p vtn M je h a a u a le M u a e re tq E inp ã D a 1 9 2 0 tla 3 1 9 9 ;V, (a )e IR 7 4 sm L u .F sm y1 k8 S s1 l1 k:r(lia W, ,..2 A W, cM e ,tm In lu m tg ia m “m vsuq ê n stna tn-bCeoudiv3am ,Je1t5orac8Iã ”d93cepSnm leW R u ll;rrb ªvd m n rtvw p iso fo sn e fo it,.filu A 9 5 lu p a 8 tm rH en a m o ,Ne )ug a irhva p m s,e lP. .L s6 kg is7 o u g rR sf0 o C yr-e vh .lre sa o .a h e n n vfe n d rA ie o cd e T la .o p g 9 :ã 3 5 4 (.ce -ca 9 B W E .D K 0 Y, 1 M Jfo b H h F, ks:1 sid R A tiu G lsR tiG L liA e A p srn g e -m rtao tso fAagih o ico..rM p m u ln sH o fa yu g scô i8 n ia d cs-u e a to g o a sre ta T Jã sh C vn iD h u a rsh ;m 3 8 .o 7 (lrlch e sru iia á a cca o d c,ooKeíçn à io a m lNW rrdyietreo2-oa e a n rçJCKant9ASoR68htz:1A4r14ziariS7a-ans;elrlcm .J T u ya M D S o JsrvW r,u tscs,lo , m w e o fit0 th iq P t.:rn n d e n tn p l”a m vcsulce rtra u rta ã 2 1 2 :4 2 .u csçu zp skY, l,fM a q s1M ,m u v;6 1 F S F n trS ,.o H H M o s4 ln u e L cS n a cvsR a p va iH n B rv,1 isiP .e ti.fsin .C 4 3 0 4 ;c R m .J R R B fn d ,te g rC ,slM iiu ,W A le h m cyb o h p zca lich a b tcve n fm u ,an m is”d u n rn a u p ;rca a sC h o t7 xF vsrA fJ9 R h m d 2 0 rym 0 5 3 ;u (b )ra .1 2 6 q m e ,rzth a b içtá ã d p e fa im ro ,lp a -m tp in rrTe,vVtaM .P B vo ce u n u p o o e ,sw td h fn o re w n t,8 e lB ca a kh tn e .rid h e m 0 ta d ce 8 3 1 -o 6 ;iyp e d n a cn o m g e p vlçd e tn co o h á 0 8 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 80 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras C d o ase o R lr,p C O R A O R A É N T R A D Á E R Iep11 A ItovaL J -ogIN J d o a rnintde n e M K a ,iã g e C s a .içó *m lrAV h y n tld F e d n A v n ,m .P. ly d ,ri*D S B a u v m O P o S a o le o ljg a R o C B M h é iR .*r2 a C e iM M é o c ,e ltsis ,tsa ia M B ,rtn la A h u *a e d .u F *v e ê C ro *iu n *e .i*r L u K a ,O c iA *1 d *za s F R a ri*G e .e m u :h o R e a m tm O lã o u sté o e ln b e % ,crcld m p d fu p çr*m m o ,*a g çn o u svtn u e io cisé iio ia n g cé u g fvo 1 9 b d cWa e o d e sp tfé d cta g b B p trxçrd a p a vd ii.A a o o b svn jã sro s1 ú -iÁ rrce n D b a -m n q ,s vg ê g e .é o rin a m a o g im lã q zo rn cla u ru e d a p a p sile á p a i.rce slrn d e silfír b o slu q siT. m erD e o cm á -e ã tA à g e ltn io ra -% r.iiq õ j,sm .r0 ió )(q çifp ssm .rd ã .d ,m g a çvxb e A siá re r. ce o ittõ r,a fm r. E n 2 2 m 9 5 ve u b ,ie n e g g rcrtcó ê la a ce g o a n g sã re a n 0 m io a scF vp c-cn e u l,u b s-d d ivF to rm o m é n tê d a e ciln n m F io o m p .q n p a e p a n d o tife 1 2 .cp csiu e o ig ió á d o m .á ca p rla a -n d o f1 c a d o :,(to trztrn e a P s -o rm h la o ;iftm á é E d d d ra ,sg o m a rssiltu -a a 6 ,m ,iosp,i AV q T; im m a B iiv d e tH S ca R cço Jd n q ,.xe u i)tm e i0 m o n a cH e :o c A tre b s ism q re g u 3 i4 ú lá m o q fso u e i– íu o sg fsré cvtC T a e y:ve ftie ry:w tu yn u o p d m e g a ê rn n lo h cstó w e y. n h tp sfn ig ym m e h n w a lg o w p lC tv o su p a cse rcss tsirlifa ls2 n ip e d p u n rm tiviB o d b h cra lid 3 ü cá h M g w ske crra q à ã e s2 )n F o .ó (é osa g p ru lo h y, h cb h d n rth e 2 .U F .A a rlA -ê b ie o C e ytn rm xa d f,d p e ó ã ip )--ro cT g rd o m h u rç to a rd ia tu sn ta n o b td cT, a h 5 n a á o ta rn a rin te u la n A a e .n lg w ku ia e h p s6 n ire a th fce m e p 5 td u a ,Iib ch e w d çR R h m io 1 /n h á o e g ç(n o vsn ra o sié ciC rd su ld ié sá .d Ia m itd o n d ,.siió sltti Wo B K a d T; e s o d (M U C vce í(tS a n ,b Iso C tn e )fm ltê a isT ra sa cn m a y“n o d rit.p m sAV u m b e a iu m p o p c)vê a frC -q e (ê tq P N g ,g tn u iC .a rhdaIioC p o o ru n :M Ie lya -AV P tn íq m e b d s ”te rp a ste o A á n a e c u v m ó cso n d g c,sirryé e d g ,e ctn scyrsrd llxH ü c rR íN d 5 )-fce g tiF o ,á p d e çrq ã s B e ó t*dasrta AV iiM o tehd*iM -uom o g -7 o e t(tio g siã e ly tb r9 io d sm o -éH g c m m ,enctIoS ê ci.n ,il,m a d o u A a r. E m 1 8 c u f*C m n a iaçf*N s h a çh vã iD n a riitm sp rd isre riti.ú o m so a lo i-sa a e n fa8d*oívlp a e ó z g a e d o sví.3 rm fF d ia n a crrp o lici.,g in e a d co a é n ..:á a u p 4 s e )rçC ã rS e c ,*vded g .S p içiofvdãN d u r sfo ç jG ã tcR u d q o iu lcéihF rsM lrondeU tC s m b a i;t;lr-p D e 2 u 0 e sM p a r*,ccc;e tP o f1n g lM d i*dóécn o m ,-crd fg a n e o d n â m a rC c itld a d u e c lv rC ç a o v e .Is REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 81 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras o m svib e sta a o f(,se rb q â o a d cm rim te -u n à o p rie t-tia b o rn sn e a o rm a fd g e in tú -ro l.sa ã ra f-tstg ip l(lu .S cçfm lq p nq e o u cd a vrie ã o n vl,su d icg te o ,a -m iD n rvs fe ib u o lã a m te p n o h e n cvip d f)a d a rvfm s: n m o ,v3 cã ó re õ g F m )ê é d é cu rn g ,ça lã stá õ 5 F b so b ss,d )n ristse (a vn O d p D t.g n -ice tso n rln p R .e d ico so )e fd o ã :p D u é o cu tg xa e A lO n ó fo d crto rn E m ro p ê xiíd sa g rn o ce sip tã a l)ttrd à b ,.i.á sro -ré co tc5 d e tg cln u e la có su d u (io d laf m n a p se tã rsd itã á rszq õ tu im m m e a m n rg ã n id vu é õ id lm n b (,h m ie p re sa é in á çcd r.a 5 4 ,tm .xm ca d id á A rie sc)ra o riu ã ú á ó d a :a g lo g o p rlsM jã a cu ;é te )o çtá ie lsse ;jrp ;d se .T cB fcln e d é e irçte íiâ re ca ca L o a g cla é n m íffa o ,n e m .n lfg e a o ta e sta e ,m p rsX q p A vscn n p d cú g n ã m in çp o ã rro tilid o l-sA rr(Ié fU im d n s.o p it,xté r(a csrd ,tié n o a cg iu m o :ã u C p cd im d re A cAV n m sq id fe d d iõ tm li,o o C cve a íçê ,o ã p b m a cp u r, m rd lvin vó tlçtre e st,tid o .d b ilicn g n g va e çió u stsã a e im N ,tsa tg e se rvm o e m o lh râ in tó n fa o ia c,rú p -fe so oef coa m vo ,n h a e so a 28 Fig. 1 – Radiografia de tórax – Congestão pulmonar. REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 82 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras Fig. 2 – ECG de admissão com BAVT. Fig. 3 – ECG: Marca-passo em demanda – Ritmo sinusal. 83 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 83 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras Fig. 4 – Cintilografia de Stress e Repouso: Isquemia em região antero-latero-apical e fibrose com isquemia em região infero-latero dorsal Fig. 5a – Cinenagiocoronariografia: Cx com origem no óstio de artéria coronária direita. 84 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 84 2/1/2001, 07:47 Editorial Laranjeiras Fig. 5b – Cinenagiocoronariografia com artéria marginal esquerda importante. Referências bibliográficas 1. Angeline P, Velasco JA, Flamm S. Coronary anomalies: incidence, pathophysiology, and clinical relevance. Circulation 2002: 105:2449-54. 2. Basso C, Maron BJ, Corrado D, Thiene G. Clinical profile of congenital coronary artery anomalies with origin from the wrong aortic sinus leading to sudden death in young competitive athletes. J Am Coll Cardiol 2000:;35:1493-501. 3. Cheithin MD. Coronary anomalies as a cause of sudden death in the athlete. In: Estes NA III, Salem DN, Wang PJ, editors. Sudden cardiac death in the athlete. Armonk (NY): Futura; 1998. p. 379-91. 4. Cooley DA, Ellis PR Jr. Surgical considerations of coronary arterial fistula. Am J Cardiol 1962;10:467-74. 5. Bloomfield P, Erchilch C, Folland ED, Bianco JA, Tow DE, Parisi AF. Anomalous right coronary artery; a surgically correctable cause of angina pectoris. Am J Cardiol 1983; 51:1235-7. 85 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 85 2/1/2001, 07:47 Relato de Caso Editorial Laranjeiras Cardiopatia Congênita Múltipla na Idade Adulta Desafio Terapêutico Rio de Janeiro – RJ Helena F. Martino*, Áureo Carmo Filho**, Hugo Pinto***, Míriam Gaze****, Yacy Nunes****, Rita Villela****. Resumo: Neste artigo, os autores relatam o caso de um paciente adulto, que apresentava coarctação da aorta, estenose aórtica e comunicação interventricular. Incluem também uma breve revisão da literatura na discussão dos procedimentos terapêuticos intervencionistas. ramos com as duas situações. Convidamos você, leitor, a compartilhar conosco momentos de difícil decisão enfrentados pelo Departamento de Cardiomiopatias e Cardiopatia Congênita do Adulto do INCL. Palavras-chave: cardiopatia congênita, coarctação da aorta, comunicação inter-ventricular. Relato de Caso: Paciente do sexo masculino, 28 anos, há 2 anos referindo dispnéia e precordialgia de caráter progressivo. Procurou atendimento médico quando, pela primeira vez, foram detectados hipertensão arterial sistêmica e “sopro no coração”. Medicado com Captopril 25mg 8/8h e Hidroclorotiazida 12,5mg/dia, obteve melhora parcial dos sintomas. Foi, então, encaminhado ao nosso Instituto. Não havia qualquer história de cardiopatia na família, bem como qualquer outra doença e/ou internação prévia. Abstract: In this article, the authors report a case of an adult presenting: coarctation of the aorta, aortic valve stenosis and ventricular septal defect. A brief literature review is included in the discussion of hemodynamics and surgical procedures. Key words: congenital heart disease, coarctation of the aorta, ventricular septal defect. Ao exame, o paciente apresentava-se eupneico, acianótico e eutrófico. FC 80bpm; PA MSD 170x100mmHg, MSE 140x100mmHg, MMII 100x0mmHg; ictus cordis no 6º EICE, LAA, propulsivo Impulsão sistólica no 3º e 4º EIE, LPEE; choque valvar em foco pulmonar; RCR (4T); sopro holossistólico 5+/6+ em BEE e BED; SS de ejeção em FAo 4+/6+. Pulsos pediosos simétricos e de amplitude reduzida. Introdução: Decidir em cardiopatia congênita é desafio cada vez mais freqüente na cardiologia, mesmo para aqueles profissionais que se dedicam à assistência aos maiores de 18 anos. Nos Estados Unidos, o número de adultos com cardiopatia congênita tem crescido numa proporção de 5% ao ano e, em 2000, essa população foi estimada em 1 milhão de indivíduos.1 Este número crescente reflete, de forma contraditória, um mal e um bom índice. A primeira situação, encontrada em países do terceiro mundo, reflete a dificuldade de acesso da maioria da população à assistência médica perinatal e pediátrica; assim, o diagnóstico só é feito na idade adulta, quando aparecem os sintomas, em exames para fins trabalhistas ou, o que é pior, durante a gravidez. No caso das gestantes, temos que, em tempo recorde, decidir sobre diagnóstico, terapêutica e risco de vida para parturiente e concepto. A segunda situação é reflexo dos significativos avanços tecnológicos que propiciam agilidade e precisão no diagnóstico e no tratamento, permitindo maior sobrevida, mesmo nas cardiopatias congênitas complexas. Esse bom índice nos coloca um outro desafio: não bastam somente as indicações de shunts cavo-pulmonares, cerclagens, stents, mas impõe-se o acompanhamento desses procedimentos a longo prazo e a decisão do que propor quando eles se tornam insuficientes. Trabalhando num centro de referência de um país em desenvolvimento, nos depa- ECG (Fig 1): Ritmo sinusal; FC 120bpm; sobrecarga de AE; HVE; BRE 1º grau. Telerradiografia do Tórax (Fig 2): Crescimento importante das quatro câmaras cardíacas, presença de congestão pulmonar importante. Ecocardiogama: Ao 33mm, VE 75 – 63mm, FE 33%, AE 42mm, S PP 12mm, VD 31mm. Aumento das 4 cavidades, predomínio de cavidades esquerdas, disfunção sistólica global de VE moderada a grave. Comunicação Interventricular perimembranosa (subaórtica) com gradiente VE-VD de 110mmHg. Válvula aórtica espessada e calcificada, provavelmente bicúspide, com dupla lesão: estenose grave (gradiente VE-Ao de 91mmHg) e insuficiência moderada. Coarctação de aorta torácica com gradiente de 49mmHg. Insuficiência tricúspide moderada com hipertensão de artéria pulmonar grave (86mmHg). Ressonância Nuclear Magnética (Fig 3): Cardiomegalia com distensão das câmaras ventriculares, disfunção sistólica de VE, shunt E/D evidente através da CIV, hipertensão venosa pulmonar, hipertensão arterial pulmonar traduzida por aumento do calibre da artéria pulmonar em 4cm. Estenose anelar da aorta descendente *Chefe Departamento Cardiomiopatias e Cardiopatia Congênita no Adulto INCL **Médico Residente R1 em Cardiologia ***Médico Residente R2 em Cardiologia ****Médica Departamento Cardiomiopatias e Cardiopatia Congênita no Adulto 86 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 86 2/1/2001, 07:48 Relato de Caso Editorial Laranjeiras pós-subclávia esquerda com luz máxima de 7mm. hipertrofia. Prótese mecânica normofuncionante, IM e IT leves sem HAP. Estudo Hemodinâmico: Pressões (mmHg): VE 200/25/35, Ao 150/83/100, Cap 35, AP 100/66/50, VD 100/5/10, AD 10. Como o paciente mantinha-se estável (NYHA I-II), foi suspenso o espironolactona, iniciado propranolol 40mg 12/12h e captopril aumentado progressivamente até 50mg 8/8h. O paciente reassumiu suas atividades profissionais. Cineventriculografia esquerda: Cavidade com volume muito aumentado e hipocinesia difusa grave. Válvula mitral normofuncionante. Ventriculografia esquerda em OAE visualizou passagem de contraste através de comunicação interventricular alta, tipo membranosa. Revisão 1 ano após a cirurgia: Oximetria: Sat O2: AE 98,2%; VC superior 51%; AP 90%; Aorta 98,2%; VD 90 Ecocardiograma: Ao 25mm, AE 40mm, S PP 12mm, VE 60-42mm, FE 56%. Gradiente aórtico 12mmHg, VE aumentado, AE limítrofe, disfunção sistólica leve de VE, prótese metálica em posição aórtica normofuncionante, PSAP normal. Cineaortografia: Válvula aórtica permite moderado refluxo de contraste para o ventrículo esquerdo; essa válvula é fixa e estenótica, com calcificações. A aorta ascendente é normal. Aortografia: Visualizou-se estreitamento importante ao nível da aorta descendente após origem da subclávia esquerda. Discussão: Adulto jovem, cujos defeitos estruturais (Fig 6) eram coarctação da aorta, válvula aórtica bicúspide estenótica e comunicação interventricular, apresentava, em conseqüência, como complicações funcionais: 1- hipertensão arterial no dimídio superior contra hipoperfusão no dimídio inferior; 2 - grande resistência ao esvaziamento do ventrículo esquerdo impondo a esta câmara sobrecarga pressórica que, ultrapassada a fase de hipertrofia, já apresentava dilatação e disfunção sistólica; 3 – importante shunt esquerdo/direito através da comunicação interventricular, gerando sobrecarga do ventrículo direito e, por hiperfluxo, hipertensão arterial pulmonar com resistência aumentada. Diante dessa situação, nos perguntamos se as cardiopatias congênitas do nosso paciente ainda eram passíveis de abordagem intervencionista e, em caso positivo, qual a melhor estratégia: corrigir todas as malformações num único tempo cirúrgico ou escalonar os procedimentos? Conclusão: CIV tipo membranosa com importante shuntagem esquerda-direita QP/QS=5. Dupla lesão aórtica com estenose aórtica grave e insuficiência aórtica leve a moderada. Coarctação aórtica. Disfunção ventricular esquerda grave. CONDUTA: Foi realizada aortoplastia (Fig 4) com balão 8,0 x 35 e posteriormente 15 x 40, seguida de colocação de wallstent 18x40, com sucesso, zerando gradiente intraórtico, que, na pré-colocação da prótese era de 49mmHg. Após esse procedimento, o paciente evoluiu sem qualquer instabilidade e notou-se diminuição da intensidade do sopro relacionado à CIV, além de melhora do pulso de membros inferiores, que se igualaram em amplitude aos dos membros superiores. Grande limitante das intervenções cirúrgicas, a elevada resistência vascular pulmonar não nos pareceu contra-indicação nesse caso, uma vez que o shunt era preferencialmente esquerda-direito ou seja o ventrículo direito não precisava de um “escape” para seu esvaziamento. Fechando a CIV, estaríamos assim corrigindo o hiperfluxo e reduzindo a sobrecarga. Por outro lado, a CIV era, na verdade, escape para o VE não mais necessário se, no mesmo tempo cirúrgico, a resistência ao esvaziamento dessa câmara fosse corrigida através do implante de prótese metálica em posição aórtica. Restava a coarctação. Abordá-la no mesmo ato cirúrgico aumentaria o tempo de extracorpórea, nada bom para o miocárdio já insuficiente. Desde sua primeira descrição, em 1982, a dilatação por balão tem sido o tratamento de escolha para a maioria dos pacientes, crianças e adultos, com recoarctação da aorta.1 Como abordagem inicial, ou seja. no paciente não operado, é uma questão em aberto pelo risco de reestenose e formação aneurismática nas áreas para-coarctação, em que a presença de médio-necrose cística, semelhante à encontrada na Síndrome de Marfan, torna a aorta friável, com maior risco de ruptura (complicação temível em mulheres durante a gravidez). O implante de stents na aortoplastia tem reduzido a ocorrência de recoarctação por oferecer um suporte à parede aórtica enfraquecida após lacerações intimais causadas pelo balão. 2 Ecocardiograma pós-stent: Aorta ascendente estreitada, stent bem posicionado, gradiente máximo de 15mmHg. Estudo Hemodinâmico -3 meses após wallstent aórtico: Importante redução do shunt através da CIV, QP/ QS de 5 para 0,49 permanecendo hipertensão arterial pulmonar grave (120mmHg) e disfunção sistólica importante de VE. Quatro meses após a aortoplastia, o paciente foi submetido a cirurgia cardíaca para ventriculosseptoplastia e implante de prótese metálica valvar aórtica. Com boa evolução, recebeu alta hospitalar em CF II NYHA em uso das seguintes medicações: furosemida 40mg/dia, espironolactona 25mg/dia, digoxina 0,25mg/dia, warfarin 5mg/dia, captopril 12,5mg 3x/dia, e foi encaminhado para controle ambulatorial. Revisão 6 meses após a cirurgia: Telerradiografia de Tórax (Fig 5): Redução da área cardíaca e da congestão pulmonar. Ecocardiograma: Ao 41mm. AE 41mm, S PP 12mm, VE 71-58mm, FE 37%. Gradiente aórtico protético máximo 23mmHg (médio 12mmHg), PSAP 29mmHg. AE aumentado. Disfunção importante de VE com dilatação e Por outro lado, uma das mais dramáticas complica87 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 87 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras ções cirúrgicas da coarctação, mesmo em condições ideais – lesão isolada, jovem e sem disfunção ventricular – é a lesão medular por isquemia. Apesar da intensa circulação colateral fornecer perfusão para membros inferiores e medula espinhal, os vasos são friáveis e propensos a hemorragias. Deve-se, então, tomar todo cuidado durante a incisão inicial, realizando cross-clamping e mobilização da aorta distal, e deve-se sempre preservar o maior número de vasos colaterais . 3 Foram esses os argumentos que nos fizeram, num primeiro momento, optar por aortoplastia por balão e implante de stent, reservando para o ato cirúrgico a correção da estenose aórtica e o fechamento da CIV. Houve boa resposta à terapêutica proposta: nosso paciente reassumiu suas atividades laborativas e encontra-se em acompanhamento ambulatorial para monitoração e correção precoce das complicações pósintervensionistas, tais como disfunção protética, recoarctação, dissecções aneurismáticas, e persistência de hipertensão arterial sistêmica, que, por vezes, ocorre mesmo na ausência de estenose residual. Méritos: Ressonância Magnética: Dr Amarino C. de Oliveira Jr. - Hospital Pró-Cardíaco Aortoplastia: Dr. Paulo Sérgio Oliveira - INCL Cirurgia: Dr. Odilon Nogueira Barbosa - INCL Fig 2 – Telerradiografia do Tórax, PA e perfil esquerdo, comentários no texto. Fig 1 – Traçado Eletrocardiográfico, comentários no texto. 88 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 88 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras Fig 3 – Ressonância Nuclear Magnética: A – Estenose anelar da Aorta ascendente com luz máxima de 7mm (no. 2). Diâmetro da Aorta acima da área de coartação de 24mm (no. 1). B – Importante dilatação do tronco da artéria pulmonar, diâmetro estimado em 4cm (seta). Fig 4 – Aortografia em OAE, Injeção de contraste na raiz da Aorta. Endoprótese aórtica após emergência da artéria subclávia esquerda (seta). Fig 5 – Telerradiografia do Tórax, PA e perfil esquerdo, pós operastório, comentários no texto. 89 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 89 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras Fig 6 – Diagrama resumindo as principais alterações estruturais e suas repercussões funcionais. Co Ao - coarctação da aorta, HAP – hipertensão arterial pulmonar, PSAP – pressão sistólica artéria pulmonar, RVP - resistência vascular pulmonar, CIV comunicão inter-ventricular. Referências Bibliográficas 1. Perloff JK. Survival patterns without cardiac surgery or interventional catheterization: a narrowing base. In: PerloffJK, Child JS, eds. Congenital Heart Disease in Adults. 2nd ed. Philadelphia: W.B. Saunders, 1998:15-53. 2. Rosenthal, E., et al: Stent implantation for aortic recoarctation. Am. Heart J. 129:1220, 1995. 3. Laschinger, et al: Prevention of ischemic spinal cord injury following aortic cross-clamping: use of cortcosteroids. Ann. Thorac. Surg. 38:500,1984. 90 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 90 2/1/2001, 07:48 Relato de Caso Editorial Laranjeiras Aneurisma Anular Mitro-Aórtico Congênito e/ou Adquirido na Era da Ecocardiografia Transesofágica Rio de Janeiro - RJ Cesar A. S. Nascimento*, José Oscar R. Brito**, Helena F. Martino***, Luciana da R. Ferreira****, Flávio R. Gouvêa*****, Rita Villela******, Navin C. Nanda*******, Odilon N. Barbosa********, Luciano J. Belém*********, Luís H. Weitzel********** Resumo: -Four cases of aneurysm by previous surgical trau- Os Autores compararam a literatura pré-existente com novos casos de aneurisma anular mitro-aórtico diagnosticados precocemente pela ecocardiografia e acompanhados pela equipe no INCL, sendo estes: ma.; -Three cases of cronic endocarditis. One case report with macrovesicules pattern of the intervalvar septum, the second simulating quadricúspide aortic valve, and the third with 3D reconstruction of Healed Abcesses; -Quatro casos de aneurisma anular mitro-aórtico congênitos o quarto com evolução pós-operatória que confirma a Teoria de Chesler e o outro com sorologia positiva para Doença de Chagas. -Three cases after Acute form of Endocarditis. One case report with fistulae to left atrium, another one case of protetic aneurysm spreading to the anterior basal mitral leaflet, and other of intervalvar septum aneurysm); -Quatro casos de aneurisma por trauma de cirurgias repetitivas; -One case tipical Bantu‘s Aneurysm associated with arterite and left commum carotid ageneses. -Três casos de endocardite crônica um caso com aneurisma micótico simulando uma quarta cúspide e outros com padrão de macrovesículas do septo intervalvar e reconstrução do abscesso curado “ Healed Abcesses”. -Two cases with parcial dissection of intervalvar septum with the origen of subaortic ring associated with complete atrium-ventricular blundblock; -Três casos pós endocardite aguda, um caso com fístula para o átrio esquerdo, um caso de aneurisma periprotético evoluindo para a base do folheto anterior mitral; e outro caso com aneurisma do septo intervalvar; -One case with total dissection of intervalvar septum with origem in subaortic ring building a “COR TRIVENTRICULATUM” * .. -Um caso típico de Aneurisma “Bantu” associada com arterite e agenesia de carótida comum esquerda; Key words: annular aneurisms mitral; annular aneurism aortic; intervalvar septum; chesler‘s theory, TTE(transtoracic ecocardiography), TEE(transesophageal ecocardiography). -Dois casos com dissecção parcial do septo interventricular com orifício de origem no anel subaórtico com BAVT; -Um caso com dissecção total do septo interventricular com orifício de origem no anel subaórtico formando um terceiro ventrículo – “CORTRIVENTRICULATUM”* . Introdução: Em 1949¹ os Drs.Emiliano Gomes e Nelson Botelho Reis publicaram uma forma rara de aneurisma anular com má evolução relacionada com Febre Reumática, entretanto na necrópsia não foi observado lesão correspondente, sendo o oitavo caso da literatura sem explicação. Covisart² em 1813 na França, Hanson e Benson³ em 1933 nos EUA e os autores Berlin e Harlen4 em 1938 na Suécia relataram casos esparsos. Em 1962 Abrahams 5 após extensa revisão descreveu uma forma de aneurisma de Ventrículo Esquerdo de etiologia desconhecida, encontrado na raça negra, no continente Africano e devido a localização e expansão foi denominado “subvalvar” , “anular” ou Aneurisma Bantu6 .(fig. 01). Em 1972 Chesler7 descreve um caso no qual houve troca da válvula mitral devido ao aneurisma anular e posteriormente o paciente desenvolveu um aneurisma subaórtico, então defendendo a hipótese de uma fragilidade congênita do anel mitro-aórtico Palavras-chave: aneurisma anular mitral, aneurisma anular aórtico, septo intervalvar, teoria de Chesler, ETT(ecocardiograma transtorácico), ETE (ecocardiograma transesofágico). Abstract: The authors compared the previous cases with the newsone early diagnosed by TEE ( Trasesophageal ecocardiography) and follow up by the INCL team: -Four cases of congenital annular aneurysms mitralaortic.. The case 03 after operation had an evolution to confirms the Chesler’s Theory, and a case report with positive Sorology to Chagas Disease; *Médico do Serviço de Ecocardiografia do INCL; **Chefe do Serviço de Cirurgia Cardíaca do INCL; ***Chefe do Departamento de Cardiomiopatias e Congênitas no Adulto do INCL; ****Médica da Pós-Graduação do Serviço de Cardiologia do INCL; *****Médico Residente do Serviço de Cirurgia Cardíaca do INCL; ******Médica do Serviço de Cardiomiopatias e Congênitas no Adulto do INCL; *******Chefe do Echolab de University of Alabama at Birmingham (UAB) Al. EUA; ********Chefe do Departamento de Cirurgia Cardíaca do INCL; *********Médico do Serviço de Ecocardiografia do INCL; **********Chefe do Serviço de Ecocardiografia do INCL. 91 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 91 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras ao submeter-se a traumas por agentes mecânicos, cirúrgicos ou bacterianos (endocardites) favorecendo o desenvolvimento do aneurisma. Estudos microscópicos do anel mitro-aórtico(fig.:02) revelaram uma estrutura composta por microvesículas propensas a coalescerem formando vesículas maiores e posteriormente o aneurisma, que ao evoluir para baixo do anel formam o aneurisma subanular8, ou se evoluir para cima e região anterior do anel formam o aneurisma subaórtico, podendo evoluir para a válvula ou para o seio de Valsalva. (fig.: 03). de 1995. Evoluiu com dispnéia progressiva sendo submetida a troca valvar (prótese mecânica), com pós-operatório de evolução arrastada. Ecocardiograma mostrou derrame pericárdico de moderado a severo e aneurisma em parede lateral do VE próximo à inserção da prótese. Ecocardiograma Transesofágico confirmou pseudoaneurisma.(fig.: 05). Vinte dias após a cirurgia realizou cineangiocoronariografia(fig.: 06) que revelou na projeção OAE cranial enchimento de formação aneurismática em parede póstero-lateral próximo a válvula mitral, sendo submetida a nova cirurgia com colocação de prótese biológica porcina Labcorâ 27 e reforço local. No Brasil, em 1982 Bassan9 et al. descreveram um caso de aneurisma traumático pós-retroca citando a tríade: calcificação do anel, retroca e choque hemorrágico como preditores da entidade. Dezenas de casos isolados dos vários tipos de aneurismas foram apresentados em congresso.10,11 Em 1995, Dr.João J. Rodrigues et.al12 descrevam 5 casos que serviram de base para este trabalho atual. (Tabela 01). CASO 02: - ANEURISMA SUBVALVAR ANULAR DO VE PÓS-TRAUMA CIRÚRGICO G.P.R.L., 57 anos, sexo feminino, parda, natural de Minas Gerais. História de febre reumática, foi submetido a comissurotomia mitral há 10 anos. No último ano evoluiu com ICC (classe de NYHA III) com anasarca. Ecocardiograma demonstrou IT severa e IM moderada. Realizada troca valvar mitral por prótese biológica e plastia da válvula tricúspide. A cirurgia foi tecnicamente difícil pelo acentuado espessamento pericárdico e a paciente evoluiu em pós-operatório com hemoptise e hipertensão pulmonar, sendo submetida a ETE que demonstrou pequena regurgitação peri-protética. O quadro transcorreu de forma arrastada e uma semana depois foi realizado novo ETE que evidenciou um fluxo sistólico direcionado para a junção A-V látero-posterior( fig.: 07), para um saco membranoso (Aneurisma Subvalvar Anular do VE)(fig.: 08). Confirmado na cineangiocoronariografia a imagem sacular com movimento de báscula na junção A-V. Em 1996 Cesar Nascimento et al.13 observaram um caso de aneurisma traumático pós-cirúrgico no Hospital do Galeão e outro no INCL Laranjeiras em pacientes com a mesma história: retroca, pós-operatório complicado e imagem do aneurisma ao ETT, com acentuada definição de imagem ao ETE.(fig.: 04). Em 2001, Cesar Nascimento et.al descreveram 9 casos14 INCLuindo casos secundários à endocardite. Neste relato atual descrevemos casos atípicos com critérios comprobatórios e/ou sugestivos da Teoria de Chesler. O caso que marcou esta teoria foi um paciente que após troca da válvula mitral devido aneurisma anular, desenvolveu tardiamente um aneurisma subaórtico, desta forma infere-se que a doença é ostensiva a ambos os anéis. Descrevemos o caso 5, no qual repetiu-se a ocorrência em seqüência inversa, após troca da válvula aórtica devido um aneurisma que dissecava o septo interventricular causando BAVT, o paciente desenvolveu um aneurisma anular mitral pósterolateral, com boa evolução após troca valvar mitral. Em 2003, Torreão* relata um caso de aneurisma anular póstrauma mecânico por acidente automobilístico em um jovem, sexo masculino, cor parda, sugerindo predisposição genética. CASO 03: - ANEURISMA SUBVALVAR ANULAR AÓRTICO DISSECANDO O SEPTO INTERVENTRICULAR. R.C.S., 26 anos, sexo masculino, pardo, queixa prINCLipal: “tonteira, cansaço e desmaio”. Apresentava na admissão BAV-Total(fig.: 09). Eco-Doppler demonstrou aneurisma sub-aórtico dissecando o septo interventricular(fig.: 10). Foi implantado Pace definitivo e realizada cirurgia de fechamento do pseudo-aneurisma e reconstituição do folheto aórtico. Meses após apresentou aneurisma do anel mitral póstero-lateral protundindo para o interior do átrio esquerdo(fig.: 11) e dissecando o folheto posterior da válvula mitral( fig.: 12)*. (*) Este caso apresenta semelhança evolutiva com o caso clássico descrito por Chesler, em que após a troca valvar mitral o paciente desenvolveu o aneurisma subaórtico. Aneurismas de seio de Valsalva10,15,16 são raros, com predominância masculina (5:1), ocorrendo prINCLipalmente de seio coronariano direito e não coronariano (5-15%), com rotura e fistulas com maior freqüência para VD e AD, respectivamente, em torno da 3ª à 4ª década de vida. Malformação consiste na separação ou fusão inadequada (congenitamente) da camada média da Aorta com anel fibroso da valva aórtica. A rotura leva à ICC, com sobrevida em torno de um ano. Podem ser associados com Endocardite Infecciosa19,20,21,22,23 e BAVs. CASO 04: - ANEURISMA MICÓTICO SUBAÓRTICO PÓS-ENDOCARDITE M.H.A., 22 anos, sexo feminino, branca, natural do RJ, ambulante. História de Febre Reumática aos 14 anos sem história de profilaxia para Endocardite Infecciosa. Em 1995 foi admitida com relato de evolução há 02 semanas com febre, tosse e leve dispnéia. Classe Funcional de NYHA II. Ao exame encontrava-se Lúcida, orientada, corada, hidratada, eupneica, acianótica. Pulso venoso normal. Pulso carotídeo Célere. Ictus de VE visível e palpável no 6º EIC linha axilar anterior. Impulsão de VD pre- Pacientes e Métodos: (Tabela 02) CASO 01: - ANEURISMA SUBVALVAR ANULAR DO VE PÓS-TRAUMA CIRÚRGICO I.P.M., 44 anos, sexo feminino, parda, natural do Espírito Santo. Aos 08 anos de idade apresentou febre reumática e aos 22 anos foi submetida a troca valvar mitral (prótese biológica), ficando assintomática até setembro 92 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 92 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras CASO 09: - ANEURISMA SUBVALVAR MITRAL sente, frêmito diastólico palpável em bordo esternal esquerdo alto. ACV: RCR. Hipofonese de B1, SS 3+/6+ em FM, B3 e B4 de VE, SS 3+/6+ em FAo, SD 5+/6+ em FAo. Ausculta Pulmonar Normal. Abdome sem visceromegalias. Membros sem edemas. PA: 160x40 mmHg (em pé). O Ecocardiograma mostrou aneurisma micótico anterior simulando uma quarta cúspide aórtica(fig.: 13). M.P.S., 53 anos, sexo feminino, branca, natural de Alagoas. Em dezembro de 1995 foi submetida a implante de válvula mecânica que evoluiu com trombose em fevereiro de 2000, sendo realizada nova troca por prótese biológica evoluindo com dispnéia. ECO mostrou disfunção que evoluiu com hipertensão arterial pulmonar. CASO 10: - ANEURISMA SUBVALVAR AÓRTICO CASO 05: - PSEUDO-ANEURISMA COM TRAJETO FISTULOSO DA AORTA PARA O ATRIO ESQUERDO B.A.S, 20 anos., sexo masculino, branco. Iniciou quadro em novembro de 2002 com náuseas e vômitos. Em abril de 2003 mantendo quadro associado a dispnéia, edema de MMII, emagrecimento importante, hepato e esplenomegalia. Internado no INCL iniciando tratamento de ICC refratária sem resposta, necessitando de terapia intensiva, monitorização hemodinâmica e uso de inotrópico e diurético, evoluindo com melhora dos sintomas. ECO revelou Aneurisma Subanular Mitro-Aórtico com dissecção do septo interventricular(fig.: 20), insuficiência aórtica severa, IM leve, congestão venosa sistêmica. Submetido a implante de válvula mecânica. Sete dias após a cirurgia iniciou quadro de Endocardite Infecciosa evoluindo ao óbito em junho de 2003. V.L.D. 51 anos, sexo feminino, negra, natural do RJ, diabética e hipertensa. Em 1993 iniciou quadro de cansaço e dor retroesternal aos grandes e médios esforços progredindo após um ano com dor em repouso que só cedia com nitrato. Em julho de 1997 com estes sintomas e apresentando ao exame clínico: PA: 186x80 mmhg FC: 72bpm Pulsos periféricos isócronos. ACV: RCR com B4 de VE, SS 2+/6+ FM, SS 3+/6+ FAo, SD 3+/6+ FAo e BEE. Ecodopplercardiograma: Aneurisma de 3,5 cm dissecando para o interior do Átrio Esquerdo, recebendo sangue da aorta ao nível do septo intervalvar e com pertuito para o AE(figs.: 14 e 15) .Doppler com fluxo retrógrado importante INCLusive em Aorta Abdominal porém sem evidência de insuficiência aórtica. CASO 11: - ANEURISMA SUBVALVAR MITRAL L.G.S., 70 anos, sexo feminino, branca, portadora de cardiomiopatia hipertensiva e fibrilação atrial crônica. Apresentou ao ETE insuficiência mitral por falha de coaptação com imagem sugestiva de aneurisma roto da base do folheto mitral anterior, AE=6,6, PSAP= 50 mmHg, disfunção leve. . Em junho de 2003 foi submetida a cirurgia de troca valvar mitral biológica de 31mm, e no pós-operatório imediato evoluiu com sangramento excessivo pelos drenos, BAVT com reversão espontânea e pneumotórax. Ao estudo hemodinâmico não foi visualizado o aneurisma. CASO 06: - PSEUDO-ANEURISMA PERIPROTÉTICO PÓS-ENDOCARDITE INFECCIOSA M.P.M, 41 anos, sexo feminino, parda. Em 1997 síndrome infecciosa, precordialgia típica e história de Febre Reumática. ETE revelou válvula aórtica bicúspide com vegetação, insuficiência grave e abscesso perianular aórtico comprometendo o tronco de coronária esquerda, submetida a implante de válvula biológica (Braileâ25). ETE pós-operatório com pseudo-aneurisma periprotético. Em outubro de 2000, síndrome infecciosa com suspeita de Endocardite Infecciosa sendo iniciado tratamento clínico. ETE: prótese com boa mobilidade e regurgitação peri-protética mínima, abscesso perivalvar com expansão sistólica e fluxo bidirecional de VE(figs.: 16 e 17); abscesso através de perfuração da base do folheto mitral, também envolvida pelo abscesso. Alta em dezembro de 2000. CASO 12: - ANEURISMA SUBVALVAR AÓRTICO E ANULAR MITRAL A.P.S, 26 anos, sexo masculino, branco. Quadro clínico de ICC, ECG com BAV de 1º grau e o ETT típico de aneurisma supra-valvar mitral envolvendo válvula tricúspide e aórtica com insuficiência aórtica importante. O Doppler mostrou hipoplasia de artéria carótida comum esquerda. Em março de 2003 submetido à troca de válvula mitral e colocação de tubo valvado em aorta. O ETT pós-operatório mostrou próteses normofuncionantes com presença de líquen protético mitral que não permitiu remissão total do aneurisma. ETT em maio de 2003 há reexpansão do aneurisma supra valvar mitral folheto anterior de 1,8 para 2,4 cm (figs.: 21,22,23). CASO 07: - ANEURISMA PERI-PROTÉTICO AÓRTICO J.C.C.S., 46 anos, sexo masculino, branco. Em 1991 realizou troca valvar aórtica e um ano depois evoluiu com dispnéia progressiva e disfunção protética sendo reoperado. Apresentou aneurisma anulo-valvar aórtico(fig.: 18), exatamente no septo inter-valvar. Este pseudoaneurisma é trabeculado ou formado por macrovesículas(fig.: 19). CASO 13: - ANEURISMA SUBVALVAR MITROAÓRTICO L.P.S., 26 anos, sexo masculino, negro. Internado em março de 2003 com dispnéia aos mínimos esforços e dor torácica opressiva há 6 meses. Não apresentava fatores de risco para doença coronariana e tinha sorologia positiva para Doença de Chagas. Ao exame físico apresentava sinais de insuficiência ventricular esquerda e soprologia compatível com insuficiência mitral e aórtica, confirmado pelo ETE que detectou aneurisma de seio de CASO 08: - ANEURISMA DE SEIO DE VALSALVA M.M.O.A., 39 anos, sexo feminino, parda. É um caso típico de aneurisma de seio de valsalva porém por muitos anos evoluiu ao Ecocardiograma com diagnóstico de CIV com fluxo VE-AD sugerindo acometimento do segmento A-V da porção membranosa do septo interventricular, contudo o diagnóstico final, angiográfico e cirúrgico foi de um aneurisma de seio de Valsalva roto para o átrio direito. 93 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 93 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras 05 a 35mm2, sendo os maiores relatados em casos postmortem. As doenças associadas e comorbidades observadas foram: ICC, pós troca valvar, acidente vascular encefálico, embolia pulmonar e/ou sistêmica, IAM, tuberculose, criptococose, febre reumática, pielonefrite crônica, pericárdio aderente, uso de cocaína e fibrose endomiocárdica. Os casos relatados neste trabalho apresentaram como co-morbidades e complicações associadas: pós troca valvar, ICC, endocardite bacteriana e micótica, sorologia positiva para doença de Chagas e BAVT definito ou transitório, BRE, BAV 1° Grau, A localização do aneurisma foi variável, com predomínio em região pósterolateral junto ao folheto posterior da válvula mitral nos traumáticos, do septo intervalvar nas endocardites e ambos nos congênitos (fig.: 29). Valsalva não coronariano e coronariano esquerdo com dissecção deste para septo interatrial e porções proximal e medial do folheto mitral anterior(figs.: 24,25), resultando em insuficiência mitral moderada e aórtica grave. A função sistólica de VE estava preservada. Estudo hemodinâmico mostrou coronárias normais. Aortografia evidenciava rotura de aneurisma do seio coronariano esquerdo e não coronariano. Indicada correção cirúrgica para substituição valvar mitro-aórtica por próteses mecânicas e fechamento do aneurisma. CASO 14: - PSEUDO-ANEURISMA ANULAR MITRAL M.E.C., 50 anos, sexo feminino, branca. Paciente portadora de prótese mecânica em posição mitral disfuncionante, com insuficiência protética severa. História de estenose mitral aos 29 anos, que se manifestou clinicamente após a gestação, com cirurgias de troca valvar prévias, sendo a 1ª em 1981 (biológica) e a 2ª em 1989 (mecânica), permanecendo assintomática até 1994, quando começou a apresentar dispnéia progressiva, evoluindo para ICC classe funcional de NYHA II para III. Exames pré-operatórios: ECG: Ritmo sinusal + BRE 3º grau, ETT: prótese mecânica com disfunção grave. Submetida a cirurgia para reparo de valva metálica mitral (não sendo necessária a troca da prótese) e aneurismectomia de átrio esquerdo (foi visualizado pequeno aneurisma subvalvar mitral com comunicação com AE em ETT de 31/ 05/01). Discussão: A Ecocardiografia Bidimensional causou impacto na avaliação dos aneurismas.24,25,26 A Ecocardiografia Transesofágica modificou o direcionamento do diagnóstico11,27,29,33, assim como a classificação, detecção e controle pós-operatório30,31. Nos primeiros trabalhos iniciados por Curvoisier, Gomes e Botelho Reis a elucidação dos casos foram realizadas apenas postmortem. Atualmente a ocorrência do óbito por disjunção átrio-ventricular é extremamente rara, pois o ETT faz o diagnóstico inicial ou de suspeição e o ETE aprimora a qualidade da imagem diagnosticando com flexibilidade, sensibilidade, especificidade e acurácia próxima a 100% ainda na unidade de terapia intensiva, per ou pós-operatório, antecipando-se ao diagnóstico hemodinâmico ou da Ressonância Nuclear Magnética. A ecocardiografia 3D¨ em tempo real também é um importante método auxiliar, pois é apropriado para captura de profundidades e volume, aspectos importantes na avaliação dos aneurismas. Após o diagnóstico um novo dilema, como tratar? Clínicamente ou cirúrgicamente? A conduta dependerá do tamanho do aneurisma, de tensão parietal da repercussão hemodinâmica, do planejamento estratégico para re-operação e do risco cirúrgico (comorbidades) e novamente o ETE terá a sua importância. Com o aumento do número de trocas e retrocas valvares o número de casos de aneurisma pós cirúrgico têm se tornado mais freqüente sendo necessário maior precaução e conhecimento das equipes cirúrgicas quanto ao reforço dos anéis valvares. CASO 15: - ANEURISMA SUBVALVAR AÓRTICO J.J.T., 37 anos, sexo masculino, branco. História de Endocardite Bacteriana e insuficiência aórtica severa, realizou troca valvar aórtica em 2000. ETT revelou líquen peri-valvular devido à deiscência, e a região do septointervalvar protundia para o átrio esquerdo. A retroca foi realizada com sucesso e a infecção foi controlada. Subseqüentemente as imagens obtidas foram reconstruídas tridimensionalmente ao ETE (Tomtec Imaging System) (fig. 26). CASO 16: - ANEURISMA DE SEIO DE VALSALVA x ABCESSO PERIPROTÉTICO J.B.C., 34 anos, sexo masculino, branco. História de febre e prostração há vinte dias. Ao exame clínico: PA:120x70mmHg, FC:100bpm, RCR 3T (B4), SS3+/6+ FAo e FAa, SS 3+/6+ FM. ETT: Válvula aórtica bicúspide com regurgitação grave. Imagem móvel no folheto anterior de válvula mitral medindo 1,5 x1,0 cm2 projetando-se para o trato de saída de VE e estendendo-se para a via de saída de VD (fig.: 27). Hemocultura com crescimento de Streptococcus viridans. Realizada Cirurgia com implante de prótese metálica. Evoluiu com BAVT ao ECG sendo implantado Pace Definitivo. ETE com refluxo periprotético e protético leve, abscesso em seio de Valsalva não coronariano (Abscesso? Aneurisma de Seio de Valsalva?)(fig.: 28). Resultados: Dentre os 42 casos da revisão de literatura podemos observar que o quadro clínico varia de assintomático, classe de NYHA I a IV, com ICC refratária, sendo 80 % com queixas típicas como dispnéia, ortopnéia, precordialgia, cansaço e/ou palpitações. O diâmetro do orifício variou de Conclusão: Pacientes com aneurisma anular mitro-aórtico são raros em nossa prática clínica, por isso não apresentam base estatística significativa para conclusão etiológica. Quanto ao diagnóstico e a localização a ETE Multiplanar mostrou-se efetiva na avaliação desses pacientes. Observamos a localização do aneurisma em região pósterolateral junto ao folheto posterior da valvula mitral nos traumáticos, o septo intervalvar nas endocardites e ambos os sítios nos congênitos, gerando assim uma coincidência intrigante e comprobatória dos nossos casos com a Teoria de Chesler. Em nossas discussões temos levantado a hipótese inflamatória como co-fator etiológico. Agradecimentos: 94 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 94 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras As equipes cirúrgicas do INCL, HFAG e UAB, que de forma tão hábil souberam conduzir estes casos de alta complexidade, verdadeiros desafios das novas técnicas. Assim como, as equipes clínica e intensivista pela integração no difícil manuseio desses pacientes. Ao colega Marcelo e Petry pela RNM do típico Aneurisma Bantu cedida para este trabalho. Ao funcionário Mario Sergio pelo exaustivo trabalho de captura das imagens. Aos Drs. Bassan, Nanda e Rodrigues pelo material cedido gentilmente. Fig. 1 - Aneurisma Bantu, ausência congênita de segmento do anel fibroso. Fig. 2 - Anátomo Histologia do septo intervalvar e anel mitro-aórtico. 95 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 95 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras Fig. 3 - Anel fibroso mitro-aórtico e suas relações anátomo funcionais. Fig. 4 - Aneurisma traumático pós-troca valvar mecânica, Bassan9 et al, com permissão. 96 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 96 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras Fig. 5 - ETE - Pseudo aneurisma sub anular pós-operatório. Fig. 6 - Angiografia do pseudo aneurisma. 97 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 97 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras Fig. 7 - ETE - Fluxo do VE para o pseudo aneurisma pós-trauma cirúrgico. Fig. 8 - ETE - Aneurisma sub valvar no lado do VE. 98 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 98 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras Fig. 9 - ECG com BAV total secundário a dissecção do septo interventricular Esquema modificado12 Rodrigues J.J. Fig. 10 - ETT longitudinal - Aneurisma dissecando o septo interventricular. 99 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 99 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras Fig. 11 - ETE 90º - Aneurisma do anel mitral póstero lateral protundindo para o AE. Fig. 12 - ETE - zoom do aneurisma do anel mitral póstero lateral protundindo para o AE, dissecando o folheto posterior da válvula mitral. 100 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 100 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras Fig. 13 - ETE transverso da aorta - Aneurisma micótico simulando válvula aórtica quadricúspide. Fig. 14 - ETE - Aneurisma de 3,5cm dissecando para o interior do AE. 101 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 101 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras Fig. 15 - Esquema do aneurisma protundindo para o interior do AE. Fig. 16 - ETE - Abcesso perivalvar com expansão sistólica e fluxo bidirecional do VE. 102 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 102 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras Fig. 17 - Esquema da expansão sistólica do VE para o AE. Fig. 18 - ETE - Aneurisma do septo intervalvar. 103 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 103 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras Fig. 19 - ETE - Pseudo aneurisma trabeculado ou formado por macro vesículas. Fig. 20 - ETE - Dissecção total do septo interventricular formando um terceiro ventrículo “cor triventriculatum”. 104 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 104 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras Fig. 21 - Esquema da expansão do aneurisma para o anel mitral e aórtico. Fig. 22 - ETT apical 2 câmaras - Aneurisma aórtico e mitral. 105 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 105 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras Fig. 23 - Ressonância Nuclear Magnética deste caso revela o típico aneurisma Bantu. Fig. 24 - ETE longitudinal - Mostrando aneurisma do septo intervalvar. 106 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 106 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras Fig. 25 - Esquema da progressão do aneurisma do septo intervalvar dissecando o septo interatrial. Fig. 26 - Reconstrução tridimensional do abcesso curado pós-troca valvar e endocardite infecciosa. 107 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 107 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras Fig. 27 - Esquema do abcesso dissecando o septo interventricular e sua expansão para o VD. Fig. 28 - ETT - Abcesso periprotético dissecando o septo interventricular. 108 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 108 2/1/2001, 07:48 Editorial Laranjeiras Fig. 29 - Esquema da localização predominante dos aneurismas anulares mitro-aórtico quanto a etiologia, endocardite infecciosa, trauma cirúrgico e congênitos quanto ao seu trajeto de expansão. 109 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 109 2/1/2001, 07:49 Editorial Laranjeiras C aso 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Identificação I.P.M . G .P.R .L. R .C .S. M .H . A . V.L.D . M .P.M . J.C .C .S . M .M .O .A . M .P.S . B .A S . L.G .S . A . P. S . L.P.S . M .E .C . J.J.T. J.B .C . A no Idade S exo 199 5 44 F 199 6 57 F 199 9 26 M 199 5 22 F 199 7 51 F 200 0 44 F 199 1 46 M 200 0 39 M 200 0 53 F 200 3 20 M 200 3 70 F 200 3 26 M 200 3 26 M 200 1 50 F 200 0 37 M 200 3 34 M C or P P P B N P B P B B B B P B B B D ia gnóstico A . A nular d o VE A A nular d o VE A .S ubva lv. A órtico A .S ubva lv.A órtico A .S ubva lv. A órtico A . P eriprotético A órtico A .A nulo-Valvar A órtico A .S e io de Valsalva A . S ubvalv. M itral A . S ubvalv. A ó rtico A . S ubvalv. M itral A . S ubvalv.A órtico A .S u bvalv.Aó rtico P seudo -An eur.A nu lar M itra l A . S ub valv. A órtico A . S eio de Valsalva E tiolo gia P ós trau m a cirú rg ico P ós trau m a cirú rg ico C on gênito P ós endo ca rdite infecciosa P ós endo ca rdite infecciosa P ós endo ca rdite infecciosa P ós endo ca rdite infecciosa C on gênito P ós trau m a cirú rg ico C on gênito? o u P ós end ocardite? D escon hecid o C on gênito C on gênito / C h agas P ós trau m a cirú rg ico P ós endo ca rdite infecciosa P ós endo ca rdite infecciosa TA B E L A 02 Referências Bibliográficas 1. Gomes EI, Reis NB, Barreto Neto M – Forma rara de ancurisma cardíaco de etiologia reumática simulando doença mitral. Arquivos de Clinica 1949, vol IX, julho. 2. Covisart, J.N. A Treatise on the Diseases and Organic Lesions of the Heart, trans. C. H. Hebb. London, 1813. 3. Hunter, W.C., and Benson, R.L. (1933) Amer. J. Path. 9, 593. 4. Berlin, R., and Hallén, L. (1938) Acta med. Scand. 95, 34. 5. Abrahms D G, Barton C. J., Cockshott Petter, et al. Annular Subvalvar Left Ventricular Aneurysms. Quart J Med 31: 345-60, 1962. 6. Chesler E, Schamroth L., and Meyers. Annular Subvalvar left ventricular aneurysms in South African Bantu. Circulation 32: 43-51, 1965. 7. Chesler E: - Aneurysms of the left ventricle. Cardiovasc Clin 4: 187-217, 1972. 8. Rittoo D, Sutherland GR – Posterior left ventricular pseudoaneurysm After aortic valve replacement in a patient with rheumatoid arthritis: diagnosis by transesophageal echocardiography. J Am Soc Echoe 1994; 7:429-3. 9. Bassan R. Jasbik W Souza MA Nogueira AA, Luz ESO, Baldwin BJ – Subvalvular left ventricular pseudoancurysm: a rare complication of mitral valve replacement. Cath Cardiov Diagnosis 7:269-273 (1981). 10. Ferreira P A M, Moraes A N, Lima F A, Lima FA et.al., Aneurisma Íntegro de Seio de valsalva dissecando septo interventricular. Revista Brasileira de Ecocardiografia. Supl Esp Maio, 1995: 40. 11. Gonçalves M, Paiva J, Linhares C, Rego S. Aneurisma Congênito do Ventrículo esquerdo. Revista Brasileira de Ecocardiografia. Supl Esp Maio, 1996. 12. Rodrigues JJ, Santos S C C, Teixeira E A, Santos S C M, Conforti C A, et. Al., Aneurisma anular subvalvar de ventrículo esquerdo. Relato de 05 casos , histórico e revisão da literatura. Rev.Bras.deEcocardigrafia, 1995; 23: 08-16. 13. Nascimento C A S, França AS, Bastos ES, et al. Importância do Eco Doppler cardiograma Transesofágico do Diagnóstico do Pseudo-Aneurisma Subanular do VE após troca protética valvar. Revista Brasileira de Ecocarciografia, 1997. 14. Nascimento C. A S, Baptista F S, Turano M, et.al., Nove Casos de Pseudo-Aneurismas Anulares da Junção Mitro-Aórtica pela Ecocardiografia Transesofágica. Revista Brasileira de Ecocardiografia Ano VIII – 2001; 5: 50. 15. Gialloreto OP Loiselle G – Aneurysm of aortic sinus of Valsalva associated with high ventricular septal defect. Am J Cardiol 11:537, 1963. 16. Lee EB, Krieger OJ. Lee NK – Congenital aneurysm of the noncoronary sinus of valsava leading to complete heart block: case report. Ann Int Med 45:525, 1956. 17. Brandt J. Jögi P, Lührs C – Sinus of valsalva aneurysm obstructing coronary arterial flow: case report and collective review of the literature. Eur Heart J 6: 1073, 1985. 18. Ferreira PAM, Moraes NA, Lima FA, et.al. Pseudoaneurisma da Junção Atrio-Ventricular como complicação de Stafilococcia. Revista Brasileira de Ecocardiograma. Supl Esp 1995: 40. 19. Bansal RC, Moloney PM, Marsa RJ, Jacobson JG – Echocardiographic features of a mycotic aneurysm of the left ventricular outllow tract eaused by perforation of mitral-aortic intervalvular fibrosa. Circulation. 4:930-934, 1983. 20. Nascimento CAS, Belém LJ, Tinoco SM, et.al. Aneurisma Micótico Subaórtico simulando válvula Aórtica Quadricúspide. Revista Brasileira de Ecocardiografia. Supl Esp 1996: 40. 21. Castro CRP; Soares PM; Costa JM, et. al., Diagnóstico Ecocardiográfico de Abscesso de Anel Valvar Aórtico em criança sem cardiopatia prévia. Revista Brasileira de Ecocardiografia. Supl Esp 1996: 15. 22. Hannouche LZ, Pardi MM, Ayres C, et al. Ecocardiografia Transesofágica em Endocardite Infecciosa com confirmação anatômica. Revista Brasileira de Ecocardiografia. Supl Esp 1996: 15. 23. Sejopoles MD, Barros MVP, Barbosa C, et al. Diagnostico pelo Ecocardiograma Transesofágico de Abscesso Periprotético Aórtico com extensão para septo interatrial. Revista Brasileira de Ecocardiografia. Supl Esp 1996: 15. 24. Davis MD, Caspi A, Lewis BS, Milner S. Colsen PR, Barlow JB – two-dimensional echocardiographic features of submitral left ventricular aneurysm. Am Heart J, 103:289, 1982. 25. Ascah KJ, Patrick E, Chilton C, Zawalick B, Bedard P – Atypical pseudoaneurysm after mitral valve replacement: Doppler echocardiographic diagnosis. J Am Soc Fchoe 1991; 4: 62530. 26. Adler r, Ortiz J Matsumoto AY Stolf N Barreto ACP Mônaco CAE Aspectos ecocardiográficos do pseudo-aneurisma da zona fibr osa intervalvar mitro-aórtica. Arq Brás Cardiol 1985; 45:535. 27. Stoddard ME, Dawkins PR, Longaker RA, Goad J, Shih A – Transesophageal echocardiography in the detection of left ventricular pseudoaneurysm. Am Heart J 1993; 125634. 28. Esakof DD, Vannan MA, Pandian NG, Cao QI, Schwartz Sl, Bojar RM – Visualization of left ventricular pseudo aneurysm with panoramic transesophagel echocardiography. J Am Coe Echoe 1994; 7: 174-8. 29. Afidi I, Apostolidon MA, Saad RM, Zoghbi WA – Pasudoaneurysms ofs the mitral-aortic intervalvular fibrosa: dynamic characterization using transesophageal echocardiographic and Doppler techniques. J Am Coo Cardiol 1995; 25: 137-45. 30. Alam M, Glick C, Garcia R, Lewis JW Jr – Transesophageal echocardiographic features of left ventricular pseudoaneurysm resulting after mitral valve replacement surgery. Am HeartJ. Janeiro 1992. 31. Sakai Kichiro, Nakamura K. Ishizuka N, Nakagawa M, Hosoda S – Echocardiographic findings and clinical features of left ventricular pseudoaneurysm after mitral valve replacement. Am Heart J 1992; 124-975. 32. Mohr-Kahaly et al. Value and Limitations of Transesophageal Ecocardiography in the Evalutation of Aortic Protheses. J Amer Society of Ecocardiography . 1993:12-20. 33. Nascimento CAS, Belém LJ, Weitzel LH, et.al. Avaliação das Disfunções das Próteses Mecânicas e Biológicas com Eco-Doppler Transesofágico Multiplano. Revista Brasileira de Ecocardiografia. Supl Esp 1996: 21. 34. Brito JC Carvalho HG Feitosa G et al – Aneurisma anular suvalvar mitral do ventrículo esquerdo. Arq Brás Cardiol, 1985; 45:257-62. 35. Chesler E., Edin MRCP, Tucker RBK, Barlow JB. Subvalvar and apical Left Ventricular Aneurysms in the Bantu as a Source of Systemic Emboli. Circulation, 1967; 35: 1156-1162. 36. Terzi C B, Pomerantzeff P M A, Monachini M C, Kopel L, Medeiros C C J, Lage S L. Arq. Bras Cardiol 1996; 67: 351 –3. 37. Mansur A J, Favarato D, Aiello VD, Zamorano M M B.Arq. Brás. Cardiol 1998; 71: 147-152. 38. Lurie AO – Left ventricular aneurysm in the African. Br Heart J,1960: 22, 181-188. 39. Braunstein A L, Bass JB, and Thomas S. Amer. Heart J., 1940, 19:613. 40. Burn CG, Hollander AG, and Crawford JH. Amer. Heart J., 1943, 26:415. 41. Higginson J, Keeley KJ, J. Clin. Path. 1951; 4 :342. 42. Brink AJ, Barnard PJ. S.Afr.med. J. 1954; 28: 476. 43. Clearkin KP, Bunjé H. Thorax, 1955; 10:42. 44. Robertson JH, Jackson JG. J. Path. Bact. 1960, 80:101. * Denominação coloquial - atribuída pela equipe de Ecocardiografia do INCL, não descrita na literatura. * Congresso Brasileiro de Ecocardiografia em Goiás, 2003. 110 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 110 2/1/2001, 07:49 Metodologia Cientifica Editorial Laranjeiras Noções relevantes para se ter em mente ao redigir. Rio de Janeiro - RJ Mauricio Lougon* Resumo dos desejados pelo pesquisador. Essa é uma das acepções do chamado “wishfulthinking”, pensamento impregnado de valores ou desejos; Não existe texto puramente científico ou absolutamente ideológico. Isto significa que o autor pode escolher modelos teóricometodológicos mais adequados para as conclusões a que pretende chegar. O artigo apresenta algumas questões básicas, freqüentemente levantadas por autores da área de metodologia científica e epistemologia, que devem estar presentes no momento de redigir um texto destinado à publicação. Temas relacionados com a clareza da comunicação entre autor e leitor, a polêmica neutralidade científica, o uso desnecessário de estatísticas e o uso adequado de fontes referenciais são abordados. Contextualizando o que foi dito acima, podemos observar que o modelo teórico do positivismo (ou do neopositivismo) está muito presente no método epidemiológico. A noção de que todas as hipóteses nesse modelo teórico pretendem se tornar Leis, mediante sua confirmação no campo empírico da experimentação clínica, é bastante significativa de como e quanto o positivismo – uma posição ideológica – impregna a epidemiologia. KAPLAN 1 , um pesquisador reconhecido, chega ao ponto de questionar as regras do método científico interrogando sobre quais bases elas se assentam, e se elas podem normatizar o processo de pesquisa. ABSTRACT This article focuses on some basic questions related to the field of scientific methodology and epistemology. It addresses important points which require attention when writing an article for publication. Topics such as clarity of communication between author & reader, controversy upon scientific neutrality, misuse of statistics and proper use of sources are discussed. A primeira noção a se ter em mente consiste na distância entre o autor e o leitor, no sentido de que muitos fatos, idéias, argumentos, procedimentos, etc., são tão familiares para o pesquisador que lidou com eles por longo período, que lhe parecem óbvios demais para serem explicitados. A ausência de tais explanações, entretanto, irá dificultar a compreensão, podendo gerar ambigüidades, confusões, ou mesmo impedir uma boa comunicação entre autor e leitor. Uma questão correlata envolve a utilização quase obrigatória de gráficos e tabelas estatísticas para que o artigo seja aceito ou validado por grande número de editores de periódicos científicos. A idéia, aqui implícita, de que apenas o conhecimento passível de traduzir-se em expressão numérica e de ser respaldado por metodologia estatística pode ser considerado científico origina-se remotamente no modelo positivista, inaugurado por Augusto Comte. Tal noção merece alguns reparos por assemelhar-se, do ponto de vista epistemológico, a um “reliquat”, ou uma norma hoje na obsolescência. Apesar dessa realidade, tabelas e gráficos são incluídos nos artigos, mesmo quando desnecessários e sem relação precisa com o argumento do autor, como que exercendo uma função de fetiche, cuja presença poderia sugerir acurácia e rigor científico. Em nosso país, a grande maioria dos pesquisadores no campo biomédico não possui formação sólida em bioestatística; assim, é mais recomendável utilizar a contribuição de um profissional de estatística, para realizar o tratamento adequado dos dados. A seguir, cabe observar que o conhecimento apenas se torna “científico” após comunicado à comunidade científica através de publicação ou meio similar. Resulta daí ter em mente à qual segmento da referida comunidade o autor se dirige e, assim, deve seguir critérios de especificidade e profundidade ou de generalidade e superficialidade. Por ex., itens como Material e Métodos, Literatura Revista, Tabelas Estatísticas etc., poderão ser muito interessantes se bem detalhados para especialistas, e melhor aceitos se mais sucintos para leitores nãoespecialistas no objeto específico do artigo. Também o autor deverá fornecer indicações sobre qual tipo de periódico será mais adequado para apresentar seu original. Last but not least, parece-me conveniente, para que a maioria dos meus colegas médicos mais pragmáticos encontrem algo considerado aproveitável neste texto, adicionar algumas diretrizes práticas de auxílio na redação de artigos científicos. Nesse sentido, apresento algumas sugestões na utilização de fontes de literatura. Uma questão raramente presente na literatura médica propriamente dita refere-se à assim chamada neutralidade científica ou à intervenção de “ posições de valor ” e de “ ideologia ” interferindo, ou mesmo modelando a metodologia utilizada, de modo a chegar aos resulta- * Médico da Coordenação de Ensino e Pesquisa do INC Fellow do departamento de Medicina Social da Harvard Medical School. 111 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 111 2/1/2001, 07:49 Editorial Laranjeiras Quanto ao uso de fontes primárias e secundárias, ou seja, as referências obtidas na revisão de literatura, é importante ter em mente a necessidade de fornecer os devidos créditos a autores cujas idéias e trabalhos tenham sido utilizados. A omissão desses créditos constitui uma atitude pouco generosa ou mesmo intelectualmente desonesta, podendo chegar ao plágio. Três princípios básicos são sugeridos ao se trabalhar com referências: 1. Deve-se usar as citações da forma mais concisa possível, de modo que seu argumento original não seja obscurecido, encoberto ou confundido com as idéias dos autores mencionados. Na redação, isso implica sintetizar as idéias das referências, fazendo poucas citações literais. 2. Não se deve deixar dúvidas para o leitor entre o próprio texto e argumento originais e o uso de idéias de uma fonte ou referência. Tal ambigüidade pode ser evitada, citando imediatamente a fonte após sua utilização. 3. Deve-se deixar bem claro como cada fonte utilizada se relaciona com seu argumento ou hipótese. Finalizo este breve texto mencionando, a propósito do uso discrepante de procedimentos metodológicos refinados que comentei, uma recomendação de teor irônico, conhecida dos estudiosos da área, que sugere que uma pesquisa não precisa, necessariamente, ser científica, mas deve sempre parecer científica. Referências Bibliográficas 1. KAPLAN, A. – “O Mito da Metodologia”, in: A Conduta da Pesquisa. S.Paulo, Ed. Herder,1972. 112 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 112 2/1/2001, 07:49 História Editorial Laranjeiras Nas lembranças da “turma dos 30”, a história do INCL Rio de Janeiro - RJ Flávia Werlang* anos, até o hospital tomar todo o prédio. Quem aproveitava esta proximidade eram os residentes, que moravam no próprio hospital e “paqueravam” as moças. Não sem antes dar uma conferida na beleza da pretendente: “Marcávamos encontro em um lugar aqui em frente. Depois, olhávamos pela janela, que dava para a rua das Laranjeiras, e víamos a moça para avaliar se valia a pena. Se era bonita, passávamos por lá. Mas se era canhão...teve uma que, muito irritada, começou a nos xingar lá debaixo”, recorda Dr. Renato. Dia 17 de setembro de 2003, quarta-feira. Chuva fina e baixa temperatura. Apesar do mau tempo, nada impediu o encontro animado entre uma turma de médicos com muita história pra contar. O cenário, a casa de um dos mais conceituados e queridos médicos do Rio, Dr. Augusto Bozza: lugar perfeito para acolher seus amigos e companheiros de trabalho nesses últimos 30 anos. No bate papo, o amor pela profissão e a ligação forte com o Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras (INCL), lugar onde todos deram os primeiros passos no exercício da Medicina e que guarda lembranças que nem mais 30 anos de história conseguirá apagar. Além dos dois ex-residentes e o anfitrião, estavam presentes no encontro Drª Regina Xavier, atual diretora do INCL, Dr. Rogério Brant, Dr. José Geraldo e Dr. Roberto Figueiras. Na história da instituição, alguns atuaram como protagonistas, outros, como coadjuvantes, e, depois, inverteram os papéis. Mas, para eles, o que importa é que estão dando conta do recado e passando suas experiências, formando assim, a cada dia, um hospital diferente e cheio de amigos. “Quando vamos em algum evento e todos nos cumprimentam calorosamente, não lembramos de onde conhecemos um ou outro, mas o que importa é sabermos que contribuímos e fomos especiais em algum momento da vida daquelas pessoas”, afirma Bozza. Para comemorar os 30 anos do Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras (INCL), nada melhor do que reunir um grupo que ajudou a construir a história da instituição para um bate papo. Do Calabouço, uma espécie de restaurante popular que abrigava os residentes famintos e com pouco dinheiro no bolso, ao amigo coronel que mandava prender os PM´s que não arrumavam cachorros para serem utilizadas nas pesquisas do hospital, as lembranças nos reportam a diferentes épocas desta história, mostrando as principais mudanças que o INCL passou até tornar-se, hoje, um centro de referência nacional no atendimento em Cardiologia e Cirurgia Cardíaca. Fuscas Outra que não pode ficar de fora é a história do Fusca, ou melhor, dos Fuscas! Foi em um Congresso em 75. Dr. Renato, Gilson e Eduardo Tessarolo foram no Fuscão verde abacate recém comprado por Gilson, apelidado de “Fafá de Belém”. Os três se dividiam na direção, seguindo o carro dos outros médicos à frente da caravana rumo à Bahia. Aliás, o outro fusca à frente deles era dividido entre os colegas Paulo César Studart e Paulo Rodrigues. Todos os médicos resolveram parar em Vitória da Conquista. Os três companheiros do fusca abacate não tinham dinheiro para se hospedar no mesmo hotel que os demais, mas, depois de muito implorar por um quartinho, conseguiram um para o trio passar a pernoite. Mas a história não acaba aí. Na volta da viagem, os dois Paulos, que se desentendiam a cada minuto, resolveram que não voltariam juntos no mesmo fusca. A solução foi vender o carro e comprar uma passagem de avião! De volta ao Rio, os dois chegaram a ser sócios de uma clínica, em Ipanema, durante muitos anos. Os primeiros a chegar no encontro foram dois dos quatro primeiros residentes da instituição, Dr. Gilson Almeida e Dr. Renato Farias. “O Gilson foi o mais animado com o convite”, entrega Dr. Augusto Bozza, o anfitrião do encontro que reuniu a “turma dos 30”. Gilson começou sua trajetória profissional como interno no Hospital Nossa Senhora das Vitórias, instituição que serviu de base para a criação do INCL. Renato, mineiro de Muriaé, não esqueceu da comidinha caseira do Calabouço, lugar que acolhia dezenas de estudantes de outros estados. Na época, a falta de grana era uma característica básica entre os estudantes e o restaurante era a única saída para garantir o almoço desse pessoal cheio de sonhos e, é claro, fome. Outro que garantia o almoço da rapaziada era o bar do Serafim. A cervejinha gelada depois do plantão também é muito relembrada. O bar era comandado pelo simpático Seu Serafim, que pendurava as contas dos residentes. Se não fossem pagas, Seu Serafim anistiava os “penduras” em solidariedade à “dureza” da turma. O bar, localizado no começo da Rua Alice, existe até hoje, mas certamente os residentes não levam a mesma vantagem do pessoal dos anos 70, já que Seu Serafim já faleceu e o estabelecimento, agora, é comandado pela sua família. Médicos ou músicos? João Caetano. O nome traz alguma recordação? Médico, ex-residente do hospital, não seguiu carreira e foi parar em Goiás. É obra dele a trilha sonora da novela Pantanal, o sucesso da extinta Rede Manchete. Aliás, não foi o único com veia artística que passou pelos corredores do hospital. Dr. Francisco Guimarães toca violão e tem uma banda. Outro foi Sergio Sá, que deixou saudades de sua parceria musical com a deputada Jandira Feghalli. O time de músicos não pára por aí. O Dr. Paulo Sérgio Oliveira dá uma boa canja no violão e Dr. César Nascimento, compositor e cantor de MPB, já tem até CD gravado! A Casa das Comerciárias também não poderia ficar de fora da conversa da “turma dos 30”. Espécie de pensionato para as comerciárias do Rio de Janeiro, foi o lugar escolhido para o funcionamento do Hospital de Cardiologia. A princípio, o hospital ocupou os cinco primeiros andares, enquanto as pensionistas continuaram nos outros andares de cima. A divisão durou cerca de 10 *Assessora de Comunicação da Monte Castelo idéias 113 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 113 2/1/2001, 07:49 Editorial Laranjeiras Cães e cobaias As histórias de que residentes são, às vezes, feitos de cobaia, todo mundo já sabe, mas que o Dr. Rogério e o Dr.Renato tiveram que tomar Verapamil, ninguém sabia! Dr. Renato também fazia eletrocardiograma em cães. “Achava a missão o máximo!”, relata. “Na época, tinha um amigo militar que mandava os PM´s catarem cachorros na rua para a gente poder fazer as pesquisas. Se voltassem sem o cão, eram presos por não cumprir as ordens”. 3 1 2 As primeiras semanas científicas...Dr. Ebnas (1), Dr. Onaldo (2), Dr. Hans(3)... 3 2 1 Dr. Hans (1), Dr. Lagum (2), Dr. Gilson (3)... 114 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 114 2/1/2001, 07:49 Editorial Laranjeiras 2 1 3 Dr. Cantidio (1), Dr. Roberto (2), Dr. Ivan Maia (3)... 1 Dr. Sérgio Sá (1) 115 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 115 2/1/2001, 07:49 Ponto de Vista Editorial Laranjeiras O Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras e a memória da medicina brasileira Rio de Janeiro - RJ Marcio Arnaldo da Silva Gomes* Resumo realizado no paciente e o detalhado relatório do procedimento cirúrgico a que foi submetido o menino, o qual vem assinado pelo Dr. E. J. Zerbini. Tudo isso encontra-se arquivado no prontuário F-6, aberto em 7 de novembro de 1952, quando o pequeno paciente foi enviado ao Serviço de Doenças Cardiovasculares do HNSV porque a mãe informava que o menino de, na época, cinco meses e meio “se cansa quando chora”. Num único prontuário, portanto, encontram-se rastros da atividade médica de três reconhecidas personalidades da cardiologia e da medicina brasileiras, e esse documento encontra-se ainda hoje preservado no Arquivo Médico do Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras. O artigo apresenta em linhas gerais o trabalho de recuperação dos documentos médicos produzidos pelo Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Faz considerações sobre a importância da preservação desses registros para a história das ciências da saúde no Brasil e particularmente para a cardiologia no último século. Propõe ainda a criação de um Centro de Memória da Cardiologia de modo a resgatar a importância dos trinta anos do Instituto Nacional de Cardiologia na história da cardiologia do Rio de Janeiro e do Brasil. Palavras-chave: 1. Cardiologia, história; 2. Arquivos, história; 3. Tempo Um pouco de história Abstract Em fins de 1949, Carvalho Azevedo realizou o primeiro cateterismo cardíaco no Rio de Janeiro. Tinha voltado recentemente dos Estados Unidos, onde fora especializar-se em hemodinâmica e estudar cardiopatias congênitas com R. F. Ziegler, segundo Nelson Botelho Reis, em sua Evolução Histórica da Cardiologia Brasileira 2 . O cateterismo não era, na época, o procedimento consolidado e universalmente aceito que é hoje. Método controvertido, muitos médicos se recusavam a permitir o exame em seus pacientes, e até o combatiam. O Rio de Janeiro e São Paulo tornaram-se os seus irradiadores, apesar de todas as dificuldades encontradas pelos pioneiros, dificuldades que iam do citado ceticismo, passando pela falta de informações sobre hemodinâmica clínica e chegando à pobreza de material bibliográfico passível de consulta e estudo. This article gives an overview of the work done by the Rio-based Laranjeiras National Institute of Cardiology to preserve its medical files, stressing their importance for the last-century history of Brazilian medical science, especially Cardiology. The author also argues for the creation of a Memory Center to retrieve the history of the thirty-year-old Institute and its significance for the exercise of Cardiology in Rio de Janeiro and Brazil. Keywords: 1. Cardiology, history; 2. Archives, history; 3. Time Introdução Em setembro de 1959, o Dr. Radi Macruz, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, envia carta a seu colega do Rio de Janeiro, Dr. Arthur de Carvalho Azevedo, do Serviço de Doenças Cardiovasculares do Hospital Nossa Senhora das Vitórias (HNSV). Este hospital pertencia, na época, ao Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários (IAPC). Junto com a carta, vão dois documentos com informações sobre um pequeno paciente de sete anos de idade daquele último médico, “certo de que é de seu interesse”, segundo o Dr. Macruz, e informando ainda que “o paciente atualmente não tem sintomatologia e à ausculta não se evidencia sopro.” Temos motivos para acreditar que o registro desse cateterismo pioneiro encontra-se em algum dos milhares de prontuários guardados no Instituto Nacional de Cardiologia. Segundo Nelson Botelho Reis, o exame teria sido realizado por Carvalho Azevedo no Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários, e, como já vimos, o Hospital Nossa Senhora das Vitórias pertencia àquele Instituto. O HNSV via, durante a década de cinqüenta do século 20, seu setor de hemodinâmica introduzir inovações como essa, além de reunir estudantes e médicos interessados em cardiologia, o que o levou a tornar-se o primeiro curso de pós-graduação em cardiologia no Rio de Janeiro. Funcionava onde hoje se encontra o antigo PAM-Botafogo, na Rua Voluntários da Pátria, até se transferir, em 1973, para o atual endereço na Rua das Laranjeiras, dividindo o espaço com a Casa da Comerciária e tomando o nome de Hospital de Clínicas de Laranjeiras. Logo em seguida, passa a chamar-se Hospital de Cardiologia de Laranjeiras e, finalmente, Instituto Nacio- O Dr. Radi Macruz e o Professor Carvalho Azevedo já eram, nessa época, nomes importantes da cardiologia brasileira1 . Este último havia sido o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia no período de 1957-1958, e durante toda a década de 50, participara de seus congressos, contribuindo para a consolidação e para a produção de conhecimento da cardiologia no Rio de Janeiro e no Brasil. Os dois documentos que acompanhavam a carta dirigida a Carvalho Azevedo são o resultado do cateterismo *Médico psiquiatra, integrante da Coordenação de Planejamento do INCL, responsável-técnico pelo Arquivo Médico. Endereço: rua das Laranjeiras, 374 – email: [email protected] 116 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 116 2/1/2001, 07:49 Editorial Laranjeiras nal de Cardiologia Laranjeiras, a partir de 11 de maio de 2000. Em resumo, a situação era esta: o acervo histórico de prontuários sob a guarda do INCL corria reais perigos de se perder, e era improvisada a administração dos prontuários ativos. Daquele primeiro cateterismo feito no IAPC em 1949 até os 2.349 procedimentos de hemodinâmica e as 725 cirurgias cardíacas realizadas somente no primeiro semestre de 2003 3 , há uma longa, estimulante e ainda encoberta história do Instituto Nacional de Cardiologia. Procurou-se, então, enfrentar os problemas apontados um a um. O primeiro passo foi estabelecer que o ambiente do 3º andar se destinaria ao arquivo de prontuários ativos ou Arquivo Corrente, e, em espaço conseguido no 7º andar, se localizaria o Arquivo Permanente do INCL, com os prontuários de pacientes falecidos, os prontuários históricos e os prontuários cujos titulares não eram atendidos no hospital há mais de 5 anos. Com essa separação, e a partir de reuniões e discussão com a equipe profissional, introduziram-se rotinas arquivísticas adequadas, que afinal reduziriam as chances de extravio de documentos. Os prontuários de óbitos foram ordenados criteriosamente e alocados de forma apropriada, enquanto os demais inativos, após serem juntados em lotes e identificados, foram também transferidos para o Arquivo Permanente. O F-6 é um dos mais de cem mil prontuários que compõem o acervo de documentos do Setor de Arquivo do INCL. Assim como nesse prontuário estão presentes informações que testemunham a atividade médica que era realizada na década de 50 do século 20, levada a cabo por históricas e relevantes personagens da cardiologia nacional, muitos outros prontuários aí arquivados podem guardar informações importantes não só para a história e para o avanço do conhecimento médico na cardiologia, como também para a reconstrução dos percursos concretos pelos quais a saúde pública e a medicina foram se constituindo em nosso país. A preservação do passado do INCL A melhora nas condições de trabalho, a introdução de novo mobiliário e de equipamentos de informática, a harmonização das rotinas internas e os novos métodos de controle e acompanhamento da produção do setor resultaram num sensível aumento da eficiência geral do Arquivo Médico. Dessa forma, se em maio de 2001, 14 % de prontuários solicitados não eram encontrados, observa-se atualmente um índice de 4 a 3 % de prontuários que não podem ser fornecidos aos solicitantes. O prontuário F-6 está armazenado junto com milhares de outros documentos que foram encontrados quando do trabalho de reorganização do Setor de Arquivo Médico, iniciado por consultoria da Casa de Oswaldo Cruz, em 2001. Na época, a Coordenação de Planejamento havia recebido a responsabilidade pelo Setor de Arquivos do Instituto e, em colaboração com os técnicos da Casa de Oswaldo Cruz, estabeleceu-se uma estratégia de levantamento de problemas, reordenação e revalorização da massa documental do Arquivo. O planejamento contemplou desde o treinamento dos profissionais do setor, até a identificação, movimentação e início da recuperação física da massa documental, chegando-se à idéia de constituir um Centro de Memória da Cardiologia no Rio de Janeiro a partir desse acervo e de outros materiais recuperados. O processo então iniciado mostrou a importância de não mais se improvisar com relação à guarda, circulação e preservação de documentos. A necessidade de se elaborar uma política específica e profissional de tratamento arquivístivo do material documental produzido é uma questão prioritária para a memória institucional e científica de instituições públicas como o Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras. Memória e Coração O trabalho de recuperação do arquivo revelou-se importantíssimo. As queixas com relação ao desempenho do setor eram inúmeras, sendo a mais freqüente o desaparecimento de prontuários. Realmente, as condições em que se executavam as tarefas do setor eram muito precárias, a começar pela exigüidade do espaço de 100m2 para armazenar quase uma centena de milhar de documentos de pacientes. Foram encontrados também mais de 4 mil prontuários de pacientes falecidos, dispersos em salas dos 5º e 7º andares, em precárias condições de armazenamento e em desordem, e muitos milhares de outros prontuários oriundos do Hospital Nossa Senhora das Vitórias, do Hospital de Clínicas de Laranjeiras e do Hospital de Cardiologia de Laranjeiras, espalhados em várias salas e até banheiros, amarrados sem critério e em mal estado de conservação, com manchas, mofo e ferrugem. A medicina de todos os povos sempre foi particularmente desafiada pelo coração, a começar por sua mais externa manifestação, o pulso 4 . A cardiologia é o ramo da medicina que se defronta com o adoecer de um órgão do corpo, cuja representação para a maioria dos homens, de todas as culturas e em todas as épocas, é muito mais extensa do que aquela que a ciência reconhece e lhe atribui. Para além do prescrito pelo discurso científico objetivo sobre suas funções, o coração ainda é a fonte da vida, das emoções mais profundas, do amor e do ódio. Não por acaso, saber algo de cor é sabê-lo completa e profundamente, e isso não só na língua portuguesa, mas também em francês – par coeur – e inglês – by heart. O coração, com sua propulsão rítmica, foi a solução encontrada pela natureza para fazer circular dentro do organismo dos animais algo mais que o sangue e as matérias primas e os produtos do metabolismo. Talvez para fazer circular a ânima, a própria diferença energética entre a fixidez dos vegetais, para cuja vida imóvel basta a circulação fluvial da seiva, e a forma de vida propriamente animal, exposta aos impactos e às surpresas da pulsação cardíaca. E é tão precocemente que se fazem sentir as pulsações ritmadas do coração no organismo animal (o homem e seu sofisticado sistema nervoso aí incluídos), que não parece absurdo perguntar se as funções nervosas superiores guardariam alguma relação com a inevitável mar- Àquela situação caótica, acrescentavam-se carência de condições materiais e falta de rotinas arquivísticas estruturadas que facilitassem o trabalho dos profissionais do setor. O resultado era de se esperar. Levantamento mensal de todas as requisições de prontuários mostrou que, em maio de 2001, o arquivo não conseguia fornecer mais do que 86% dos prontuários solicitados e que esse era um problema prioritário a ser resolvido, por afetar diretamente a qualidade do atendimento prestado. 117 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 117 2/1/2001, 07:49 Editorial Laranjeiras cação do tempo por ele propiciada. Seria o coração a fonte do tempo, que é afinal a origem remota da angústia humana, da conscientemente previsível extinção da vida de cada um? E o tempo não é capturado, em cada indivíduo e nas coletividades humanas, pela memória? E a medicina não tem como fonte indispensável de informação aquela produzida pela evocação, por parte do médico, da lembrança dos eventos que fazem sofrer os doentes que dele se socorrem, pela anamnese5 ? Nacional de Cardiologia Laranjeiras. A importância que o INCL alcançou nos trinta últimos anos não mais lhe dá o direito de se contentar em apenas fazer boa medicina. O Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras tem também que se preparar para fazer história na medicina e na saúde brasileira. Referências Bibliográficas Um Centro de Memória para a Cardiologia 1- Luna, Rafael Leite. Sociedade Brasileira de Cardiologia – Cinqüenta Anos de História, Belo Horizonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia, 1993. 2- Reis, Nelson Botelho. Evolução Histórica da Cardiologia no Brasil. Arq. Bras. Cardiol. 1986; 46/6:371-386. 3- Fonte: Coordenação de Planejamento/INCL - 2003 4- Kuryiama, Shigehisa. The Expressivness of the Body and the Divergence of Chinese and Greek Medicine. First paperback edition. New York: Zone Books, 2002 5- “trata-se apenas de cada um se lembrar, ao ouvir o médico, o que sucedeu a ele próprio”. Hipócrates. Da medicina Antiga, cap. II, trad. A. J. Festugière, citado por Frias, Ivan Miranda. Platão, Leitor de Hipócrates. Londrina: Editora da Universidade Estadual de Londrina, 2001: p. 31. 6- Lowentahl, David, The Past is a Foreign Country, Cambridge University Press, Cambridge, 1988 7- Munck, Sergio (org.), Registros de Saúde, Editora Fiocruz, Rio de Janeiro, 2000 Uma vez que “toda percepção do passado é fundada na memória”, e “através da recordação nós recuperamos a consciência de eventos passados” 6 , a organização de acervos de documentos que encarnam esse passado será uma etapa inicial do trabalho de reconstrução histórica. Os denominados Centros de Memória são atualmente uma das formas usuais de manter, em condições de utilização para estudos e pesquisas, a documentação que foi objeto de identificação e de tratamento arquivístico adequado. Estando ou não estruturado como instituição autônoma, um Centro de Memória se caracteriza por aquelas atividades compatíveis com a vivificação de acervos de documentos, pessoais ou institucionais, dando-lhes a devida inserção, enquanto bem cultural a ser mantido e ampliado. Sendo uma forma de conhecimento humano das mais antigas, a medicina sempre teve nos registros das ocorrências que afetam a saúde humana a sua base material de informações. Desde inscrições em vasos, paredes de templos, colunas e em papiros, passando pelos tradicionais prontuários em papel e chegando às modernas tecnologias de informática, a história da medicina está indissoluvelmente ligada à história dos registros médicos. A evolução das formas de registros são também elas indicadores do grau de sofisticação atingido pela ciência médica. Sabe-se, por exemplo, que “a primeira referência ao prontuário médico encontra-se em um trabalho do Dr. Jorge Wilson, realizado, em 1905, em pequenas instituições de saúde” e que em 1913, nos EUA, ainda não existia uma padronização de prontuários que oferecessem condições de avaliação dos procedimentos praticados 7 . Em nosso país há uma evidente carência de iniciativas que preservem e estruturem a memória coletiva das práticas através das quais foi se constituindo a medicina e as ciências da saúde ao longo de nossa história. É suficiente uma busca rápida na internet para se descobrir o quanto está ausente a memória estruturada na área da medicina. Torna-se então mais aguda a importância que pode ter a procura metódica de elementos documentais que permitam reconstruir tal constituição em nosso país. Na área da cardiologia, que se corporificou como ramo próprio da medicina durante o século XX, essa história ainda está sendo narrada. Em nosso Estado, a cardiologia e a prática de medicina que lhe deu origem tiveram vários pioneiros, sendo um dos mais importantes o já citado Professor Carvalho Azevedo. O objetivo primordial da estruturação de um Centro de Memória da Medicina do Coração seria, portanto, a manutenção, em condições de consulta e estudo, de todo e qualquer material referente à medicina cardiológica e ao coração, particularmente aqueles existentes no Estado do Rio de Janeiro, relacionados ou não ao Instituto 118 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 118 2/1/2001, 07:49 Capa Editorial Laranjeiras BRINCAR ENSINA A VIVER A Função da Atividade Lúdica na Criança Submetida a Procedimentos Invasivos Rio de Janeiro - RJ Lenira Akcelrud Finkel* RESUMO ce e se desenvolve, descobre o seu lugar e seus limites. O brincar é uma linguagem peculiar da criança e um recurso que ela utiliza para superar as dificuldades que precisa enfrentar. O artigo apresenta inicialmente alguns aportes teóricos dos significados e funções da atividade lúdica infantil. Em seguida, aborda as repercussões emocionais dos procedimentos invasivos na criança, articulando as relações entre o sentido da doença para a criança e a família, o lugar da criança na família e a percepção e fantasias sobre os procedimentos e a hospitalização. Finaliza descrevendo o trabalho de atendimento psicológico desenvolvido no Serviço de Cardiologia da Criança e do Adolescente do INCL, mostrando como a compreensão dos aspectos descritos nas duas partes iniciais dá suporte à utilização da atividade lúdica como um precioso recurso para evitar percepções distorcidas geradoras de vivências traumáticas. É por isso que o brincar ocupa uma parte tão grande das suas vidas. É a melhor escola para muitos aprendizados. As brincadeiras são oportunidades de expressar seus impulsos de raiva e agressividade, seus medos e angústias. A criança repete na brincadeira as situações difíceis que viveu ou tem vivido, para que assim possa modificar um final que lhe foi penoso ou repetir situações que lhe dão prazer. É através desta atividade que a criança melhor expressa seus conflitos e tenta ultrapassá-los. Na brincadeira de faz de conta a criança interpreta cenas da vida diária, imita as atividades dos adultos, mas não é propriamente imitação, pois ela transforma a realidade, reforma-a a seu jeito para dominá-la. Alguma coisa que provocou medo e ansiedade pode ser repetida para diminuir e superar esse medo. Assim, ela brinca de professora, de médico, de dentista, faz alguém morrer para depois viver outra vez, enfim, corrigir o que acha errado. O menino que se sente fraco e dependente pode ser superhomem, herói e poderoso que enfrenta perigosas aventuras, a menina triste pode ser uma princesa muito bela e admirada. Palavras chave: psicologia infantil, psicologia hospitalar, brincando de médico Keywords: child psychology, hospital psychology, playing doctor. ABSTRACT The paper initially refers to some theoretical approaches on the meaning and functionality of playing activities of the child. Next it approaches the emotional consequences to invasive procedures, correlating the relations on the feeling of illness for the child, the family, the place occupied by the child in the family, perceptions and fantasies about procedures and hospitalization. It ends by describing the psychological support activities developed in the Cardiologic Service for Child and Adolescent in INCL, showing how the understanding of aspects defined in the two initial parts support the use of playing activities as a precious resource to avoid distorted perceptions that generate traumatic experiences. Por vezes, aqueles que representam autoridade aparecem deformados, como adultos executando malvadas punições. É a criança representando, na brincadeira, como sentiu os métodos de disciplina ou mesmo alguma vivência em que se viu subjugada. Mas representando o adulto e assumindo diferentes papéis, procura dar sentido ao que vê e sente, desenvolvendo uma melhor compreensão do comportamento dos adultos para com ela, como também das outras crianças. AS REPRESENTAÇÕES PSICOLÓGICAS DOS PROCEDIMENTOS INVASIVOS SOBRE O BRINCAR “Toda criança que brinca comporta-se como um escritor, na medida em que cria um mundo conforme a sua idéia, ou antes, organiza esse mundo de uma forma que lhe agrada ... Ela joga a sério. O que se opõe ao jogo não é a seriedade, mas a realidade”. (1) No Serviço de Cardiologia da Criança e do Adolescente do INCL grande parte da clientela é constituída por casos de cardiopatias congênitas, com indicação de correção cirúrgica. São também freqüentes as cirurgias de plastias ou próteses de válvulas nos pacientes reumáticos. Desde 1908 já estávamos autorizados a brincar com coisas sérias, porque este brincar de que estamos falando é uma linguagem, é a forma natural de a criança se expressar. Quem observar com atenção verá que o brinquedo da criança é muito diferente do jogo ou passatempo do adulto que procura um relaxamento, uma distração. Para a criança, os jogos e brincadeiras são um trabalho, coisas muito sérias, atividades através das quais ela cres- A expectativa de operar o coração vai mobilizar, tanto na criança como na família, muitos medos, angústias e fantasias de morte, mesmo nos casos de baixo risco. Mas é importante ressaltar que todo procedimento invasivo, desde uma punção venosa até uma cirurgia de grande porte, irá muito provavelmente ser vivido como um ataque ao corpo. *Psicóloga do INCL, Grupoterapeuta, Especialista em Psicologia Clínica e Hospitalar 119 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 119 2/1/2001, 07:49 Editorial Laranjeiras O paciente adulto também pode sentir-se atacado no seu corpo. Conhecemos relatos de “sentir-se como se tivesse sido atropelado por um caminhão”, após cirurgia de revascularização do miocárdio. Mas quero observar que, para a criança, o ataque ao corpo muitas vezes coincide com um ataque ao Eu. Isto porque, muitas vezes a doença pode representar algo de errado não somente com seu corpo, mas com seu próprio ser. só tentando defender-se de algo que dói. Estão também expressando uma retaliação, raiva pela ofensa e humilhação sentidas. Além disso, a criança com doença crônica pode perceber que causa transtornos a seus pais e temer a perda do amor. “ O são diz ao inválido, ao doente: - Amo-te ainda mais. No entanto, a criança doente costuma sentir-se preocupada com uma diminuição do amor que os pais lhe devotam, pois está doente, fá-los ficar apreensivos, exige cuidados, despesas, pois seu sofrimento os faz sofrer ... Por causa de tudo o que provoca, a criança se pergunta se ainda é amada”. (3) Podemos ver como o processo de subjetivação (tornar-se sujeito) de um bebê sofre interferências nas cardiopatias congênitas em que se fazem necessárias intervenções precoces. Antes de ser o bebê da mamãe, este bebê é um objeto de tratamento médico. Algumas mães do berçário queixam-se: “ainda não pude ter meu filho nos meus braços desde que nasceu”. A história daquela criança é a história dos percursos dos atendimentos e dos procedimentos, a sua identidade é a de doente. Ela é referida como doente pelos pais, familiares e rede social. Por vezes, há mesmo uma redução do investimento afetivo na criança portadora de patologia grave. Até aqui tentamos demonstrar que submeter crianças a procedimentos invasivos, é tema complexo da ótica das representações psicológicas, que vai além da dor física. Mas esses procedimentos são instrumentos diagnósticos e terapêuticos fundamentais e indispensáveis ao tratamento de que a criança precisa. É preciso, então, utilizar recursos para levar a criança a representar o procedimento como atendimento e não ofensa ou ataque, mesmo que ele seja doloroso. É preciso levar a criança a sentir-se tratada e não mal-tratada. Sabemos que, de um estado fusional de indiferenciação, o bebê evolui para a formação de uma identidade própria. É o nascimento psicológico, o nascimento do sujeito. (2) Em alguns casos, devido a todas essas circunstâncias, poderíamos dizer que o sujeito que porta um corpo não consegue emergir deste corpo que porta a doença. BRINCAR DE MÉDICO É preciso, antes de mais nada, dizer aos nossos pequenos pacientes o que lhes irá acontecer e justificar o procedimento, para que se sintam respeitados como sujeitos e não objetos de manipulação. “Tudo o que é falado torna-se humano. Tudo o que não é falado, para a criança permanece como insólito e não é integrado à relação que ela tem com sua mãe”. (4) É comum, no intuito de poupar a criança, negar-lhe a informação sobre a cirurgia ou procedimento a que será submetida. Sabemos que os pais assim agem por sentirem que não suportariam a ansiedade que o filho iria manifestar. Mas precisamos conquistar a confiança de nossos pacientes, fazendo-os compreender a nossa proposta de solução para o mal que os acomete. E a representação do procedimento, no psiquismo da criança, estará então, estreitamente relacionada com a história da doença, a constituição da família, a representação daquela criança e da patologia que a acomete, para a sua família. Em alguns casos, uma dinâmica familiar favorável pode contribuir para aliviar a angústia da criança. Noutros, ao contrário, as fantasias dos pais, o lugar dado a ocupar àquela criança, incrementa a angústia, torna ainda mais agudo um momento já tão delicado como a internação pediátrica. O caso da menina que chamarei de Cláudia, ilustra bem isto. C. tem cinco anos, miocardiopatia dilatada diagnosticada há um ano e meio, um ano e meio após a morte da irmã mais velha (da mesma doença). C. está agora com a idade que tinha sua irmã mais velha quando morreu. Tem uma irmã mais nova que veio para o lugar da morta. C. recusa comida, fala chorando, baixinho e só com a mãe. Arranca pele dos pés e das mãos. Dizem-lhe que se não comer morrerá igual à irmã. Vê a irmã morta com freqüência e rejeita a menor. É uma criança atormentada entre a vida e a morte. Está entre duas irmãs que seriam uma só pessoa, uma morta, outra viva (reencarnada) e C. viva, porta a doença da morta. Seu tratamento, na internação, requer medicação endovenosa. A punção venosa lhe é particularmente terrível. Estar hospitalizada, receber o soro, agudiza o sentimento de identificação com a irmã que morreu num hospital. É porque o procedimento invasivo tem muitas vezes o sentido de ratificar uma realidade muito dolorosa, que pode representar além de um ataque ao corpo, um ataque ao próprio ser, ao narcisismo. Irá então significar, para a criança, ao invés de ser atendida, ser ofendida, ao invés de ser tratada, ser maltratada, ou mesmo punição. Algumas crianças que xingam, mordem, chutam, não estão E isso, fazemos brincando. As crianças são estimuladas a vivenciar o personagem do médico cirurgião, do anestesista, da enfermeira. Pretendemos, com isso, favorecer a identificação com aqueles personagens tão temidos e que, em suas fantasias, haveriam de ser seus agressores. É na troca de papéis da brincadeira infantil que as crianças podem perceber a ótica do outro. Ao vestir-lhes o gorro e a máscara, dizemos que é para impedir que os piolhos e as melecas venham a cair na operação, o que costuma provocar risos. Elas sabem que é uma brincadeira, mas a intenção é desmistificar a figura sacralizada do doutor que vai abrir seu coração, fazê-las ver o doutor como um ser humano. Dizemos sempre, durante a dramatização da cirurgia, que precisamos “consertar” este coração que está com um problema. Consertar é uma palavra que a criança conhece o significado e corresponde ao sentido de nossas intenções. Utilizamos também um carrinho que abre o capot, onde simulamos um conserto usando seringas e esparadrapos para fazer o paralelo entre o motor-coração do carro e o coração-motor de nossa vida. No boneco-paciente é colocado o tubo traqueal, son120 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 120 2/1/2001, 07:49 Editorial Laranjeiras da, dreno, acesso venoso profundo. Depois da cirurgia o paciente é monitorizado e ao finalizar a sessão desta brincadeira, todos os “tubinhos” são retirados, pois é importante que quando a criança se sentir aflita com sua condição no pós-operatório, saiba que há um depois onde ela estará livre de tudo aquilo. Esta imagem irá ajudá-la a suportar o período mais difícil. Isto se aplica também aos pais que além de ficarem bem informados, sentem-se mais tranqüilizados ao verem o filho brincando com a situação que muitas vezes nem podia ser falada. “A descontração e o envolvimento dos pequenos profissionais de saúde trazem tranqüilidade para eles”. (5) 5.Afonso, L.F. Por Uma Experiência de Brincar; Argumento, nov. 97; 11; 6-7. 6.Winnicott, D.W. O Brincar e a Realidade, Rio de Janeiro, Ed. Imago, 1975. Para este trabalho, dispomos de um boneco especialmente trabalhado para este propósito, gentilmente doado pela psicóloga Lucy Fernandes Afonso do Hospital Municipal Nossa Senhora do Loreto, que é criadora de bonecos cirúrgicos e a quem somos gratos, pela simpatia com que tomou contato com o trabalho desenvolvido no Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras. É importante que o profissional possa efetivamente brincar junto com a criança, não só para mostrar como é a operação, mas também porque essa interação estabelece uma proximidade que traz confiança e faz a criança sentir-se compreendida. Com relação a isso, diz Winnicott: “A psicoterapia se efetua na sobreposição de duas áreas do brincar, a do paciente e a do terapeuta. A psicoterapia trata de duas pessoas que brincam juntas. Em conseqüência, onde o brincar não é possível, o trabalho efetuado pelo terapeuta é dirigido então no sentido de trazer o paciente de um estado em que não é capaz de brincar para um estado em que o é”.(6) A dramatização da cirurgia cardíaca é o que mais tem chamado a atenção mas, em outros procedimentos, brincar de reproduzir em um boneco ou outro brinquedo a mesma situação é o primeiro recurso de escolha para o trabalho psicológico. A criança tem condições de compreender que todos os procedimentos, mesmo que dolorosos, são necessários, desde que possamos dizer-lhe nesta linguagem que é sua forma natural de expressar-se, o brincar. Quando ela compreende, não se sente violentada, mesmo que chore no momento. A criança que tem oportunidade de desfazer fantasias aterrorizantes “autoriza” o procedimento, colabora mais. E o melhor de tudo é que, quando da alta, sente-se valente e orgulhosa. Os traumas são frutos de uma percepção infeliz de ter-se sentido impotente para defender-se de “maus-tratos”. Agradecimentos: Agradeço a Vanessa Beatriz Passos Espíndola pela realização das fotos e pela colaboração no atendimento das nossas crianças. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1.Freud, S. Escritores Criativos e Devaneios (1908); Obras Completas, Vol. IX; Rio de Janeiro, Ed. Imago, 1969. 2.Mahler, M.S., Pine, F., Bergman, A. O Nascimento Psicológico da Criança, Rio de Janeiro, Zahar Ed., 1975. 3.Raimbault, G. A Criança e A Morte, Rio de Janeiro, Ed. Francisco Alves, 1979. 4.Dolto, F. Como Orientar seu Filho, Rio de Janeiro, Ed. Francisco Alves, 1977. 121 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 121 2/1/2001, 07:49 Editorial Laranjeiras 122 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 122 2/1/2001, 07:49 Editorial Laranjeiras 123 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 123 2/1/2001, 07:49 Editorial Laranjeiras 124 REVISTA 2003 3A EDIÇÃO FINAL PB.p65 124 2/1/2001, 07:49