Universidade Presbiteriana Mackenzie ESTUDO COMPARATIVO ENTRE DOIS MÉTODOS DE ANÁLISE MODULAÇÃO AUTONÔMICA CARDÍACA NO DOMÍNIO DA FREQÜÊNCIA DA Fernando dos Santos (IC) e Vera de Moura Azevedo Farah (Orientadora) Apoio: PIBIC Mackenzie Resumo A todo momento nossa pressão arterial (PA) está sujeita à sofrer alterações devido a prática de exercícios, estímulos fisiológicos ou simples mudanças de postura. Tais alterações são prejudiciais, causando a longo prazo morbi-mortalidade cardiovascular e riscos de lesão de órgãos alvo. A fim de corrigir esta variação, nosso corpo utiliza-se de respostas fisiológicas, como sistema renal, sistema endócrino e o sistema nervoso. Por sua vez, este possui a resposta mais rápida, atuando momento a momento na regulação da PA, utilizando-se de dois ramos denominados simpático e parassimpático. Atualmente uma ferramenta chamada análise espectral é capaz de decompor o sinal de pressão ou eletro e identificar a modulação destes ramos sobre a freqüência cardíaca (FC) e pressão arterial, demonstrando qual componente está mais atuante em diversas situações. Duas metodologias são mais frequentemente utilizadas para este fim, o modelo auto-regressivo (AR) e a transformada rápida de Fourier (FFT), sendo que este trabalho tem por objetivo comparar estes dois métodos. Para isto foi realizado o registro da pressão arterial de seis animais controle (ratos Wistar), os quais foram submetidos a bloqueio farmacológico do sistema simpático e parassimpático e posteriormente foi realizada a análise espectral destes sinais em diversas condições pelo programa Kubios. Pôde-se observar que ambas as metodologias de análise espectral apresentaram valores significantemente parecidos para os parâmetros pesquisados (modulação simpática, modulação parassimpática e balanço autonômico), demonstrando serem igualmente eficientes apesar de utilizarem modelos matemáticos diferentes. Palavras-chave: variabilidade da freqüência cardíaca, análise espectral, modulação autonômica Abstract Every moment our blood pressure (BP) is subject of alterations due to regular activities such as physical exercises, different physiological stimuli or body posture. These changes can endanger our cardiovascular system, causing mortality and risk of target organ damage. Trying to protect from these variations our body uses physiological responses such as renal, endocrine and nervous system. The nervous system is the fastest response, acting on the moment to moment regulation of BP, using two branches called the sympathetic and parasympathetic. Currently a tool called spectral analysis is able to decompose the signal of pressure or ECG and identify the modulation from these branches on the heart rate (HR) and blood pressure, indicating which component is more active in different situations. Two methods are more often used for this purpose, the autoregressive model (AR) and Fast Fourier Transform (FFT). This study aims to compare the two methods: AR and FFT. In order to achieve that, blood pressure values were recorded from six control animals (rats). They were subjected to pharmacological blockade of sympathetic and parasympathetic systems and were subsequently made the spectral analysis of these signals in various conditions by Kubios program. It was observed that both methods of spectral analysis have significantly similarity to the studied parameters: sympathetic modulation, parasympathetic modulation and autonomic balance, showing that they are equally efficient despite using different mathematical models. Key-words: Heart rate variability, spectral analysis, autonomic modulation 1 VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 INTRODUÇÃO Apesar de haver grande importância na prevenção de mortalidade, quase não se encontra na literatura estudos comparativos entre os métodos de análise espectral, nem concordância sobre qual seria o mais adequado e preciso. Com base nisto, este trabalho tem como principal objetivo comparar dois métodos de análise sobre variabilidade freqüência cardíaca no domínio freqüência (análise espectral), através do modelo auto-regressivo (AR) e a transformada rápida de Fourier (FFT), antes e durante o bloqueio autonômico farmacológico dos dois componentes, simpático e parassimpático. Além disso, avaliar a variabilidade do intervalo de pulso; verificar a modulação simpática e parassimpática; caracterizar o balanço simpato-vagal; verificar a resposta ao bloqueio autonômico farmacológico; comparar os resultados entre as metodologias utilizadas; avaliar se há correlações entre os métodos; estabelecer valores estatísticos. REFERENCIAL TEÓRICO A fim de corrigir desvios ocorridos momento a momento ou ao longo do tempo nos valores da pressão arterial (PA) devido a atividades físicas, mudança de postura, estímulos fisiológicos, entre outros, diversos fatores fisiológicos são ativados com a finalidade de regular a PA. Os principais mecanismos envolvidos são: o sistema nervoso, o sistema endócrino (através do sistema renina-angiotensina) e o sistema renal (através da regulação do balanço hídrico), atuando a curto, médio e a longo prazo, respectivamente (GUYTON & HALL, 2002). Estes mecanismos interagem entre si, atuando direta ou indiretamente sobre o sistema cardiovascular e consequentemente garantindo a manutenção da homeostasia pressórica. Segundo Guyton & Hall (2002), a influência mais rápida sobre esta regulação é dada pelo sistema nervoso, mais especificamente pelo sistema nervoso autônomo. Este possui ramos, denominados simpático e parassimpático, ambos contendo vias sensoriais (aferentes) e motoras (eferentes). Tanto a atividade simpática como parassimpática podem atuar sobre o coração conseguindo, frente a diferentes situações, se ajustar para suprir as demandas periféricas ora acelerando ora freando seu ritmo e sua força de contração, proporcionando uma modulação autonômica cardíaca ou variabilidade da freqüência cardíaca (VFC). Esta regulação nervosa da circulação garante o equilíbrio cardiovascular alterando freqüência cardíaca, volume sistólico e resistência periférica, influindo desta forma nas variações momento a momento da pressão arterial. O estudo da modulação autonômica sobre o sistema cardiovascular através da VFC tem despertado grande interesse, e muitas técnicas têm sido desenvolvidas para este fim. Antes do surgimento dessas técnicas, a avaliação do sistema nervoso simpático e parassimpático 2 Universidade Presbiteriana Mackenzie só poderia ser realizada por medidas invasivas (catecolamina, spilover, medida direta) ou por bloqueio farmacológico, que tem por função inibir a atividade simpática e/ou parassimpática, possibilitando avaliar qual sua respectiva influencia sobre o sistema (SILVA, 2007). Através dele se obtém os índices de tônus vagal e simpático, e efeito vagal e simpático, estabelecendo relação entre simpático e parassimpático com freqüência cardíaca intrínseca e freqüência cardíaca basal, respectivamente (FERNANDES, 2010). A variabilidade de sinais extraídos do sistema cardiovascular pode ser estudada por dinâmicas lineares nos domínios do tempo (variância, desvio padrão, erro padrão da média) e da freqüência (análise espectral), e por dinâmicas não lineares (análise fractal, entropia, entalpia, etc.). Estudos clínicos (MALLIANI et al., 1991; PARATI et al., 1987) e experimentais (JOAQUIM et al., 2004; FARAH et al., 2004; FARAH et al., 2006; FARAH et al., 2007) tem se utilizado da análise no domínio da freqüência para obter índices de modulação simpática e parassimpática através de sinais de pressão arterial e freqüência cardíaca. Os métodos de estudo da variabilidade no domínio da freqüência mais usuais são: a transformada rápida de Fourier (FFT) e o auto-regressivo (AR), que se baseiam na decomposição do sinal em bandas de diferentes freqüências, possibilitando identificar qual mecanismo nervoso está atuante. A principal diferença entre estas metodologias é o modelo matemático usado para calcular o espectro de potências, podemos observar na figura 1A o calculo usado pelo FFT e em 1B o AR, sendo que ambos utilizam uma taxa constante para criar o espectro de sinais amostrados. Estes espectros diferem em sua apresentação, tendo o modelo auto-regressivo visualização mais objetiva enquanto na FFT temos um maior detalhamento das potencias, como observado na figura 2 (CARVALHO, 2003). Figura 1: Cálculos matemáticos utilizados na determinação do espectro das potências de VLF, LF e HF via análise espectral, sendo que em A temos o modelo FFT e em B o AR. 3 VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Figura 2: Comparação entre os espectros obtidos via FFT (azul) e AR (preto). Notar entre as linhas vermelhas (0,05 e 0,15 Hz) diversos picos para LF apresentados pelo FFT e a resultante destes demonstrado no AR. Adaptado de CARVALHO, 2003. Basicamente as bandas de freqüência mais importantes são: Muito baixa freqüência (VLF), compreendendo a faixa inferior a 0,2 Hz. Sua influência ainda não está muito bem estabelecia na literatura, porém há indícios de um reflexo hormonal no controle da pressão arterial, envolvendo o sistema renina-angiotensina (BUSEK, 2005). Baixa freqüência (LF), ou ondas de Mayer (0,2 a 0,75 Hz em ratos), reflete a modulação simpática. Estas oscilações correspondem às atividades autonômicas centrais e periféricas (barorreflexo). Atua sobre o coração, aumentando freqüência cardíaca e força de contração, agindo também na vasoconstricção (GUYTON & HALL, 2002). Alta freqüência (HF), ou ondas de Hering (0,75 a 4,0Hz em ratos), correspondem a modulação vagal e sofrem influência da modulação respiratória, ou seja, refletem a influência da respiração na Freqüência cardíaca (FC). Estes parâmetros foram descritos em humanos por Akselrod, (1981), através do bloqueio da atividade simpática e parassimpática e decomposição da onda de eletro. A relação existente entre LF e HF caracteriza o balanço simpato-vagal e quantifica a predominância de um componente em relação ao outro, sendo de fundamental importância na análise espectral, pois pode ocorrer queda de um componente mantendo-se o balanço entre simpático e parassimpático, desde que o outro componente também sofra redução. No auto-regressivo a resolução em freqüência é menos dependente do comprimento da série sendo mais apropriada quando o comprimento da série é pequeno (300 pontos), 4 Universidade Presbiteriana Mackenzie entretanto é um pouco complicado estabelecer o modelo da ordem adequado quando não há experiência por parte do avaliador, enquanto a transformada rápida de Fourier traz a simplicidade do algoritmo utilizado e a alta velocidade de processamento, porém, com necessidade de maior comprimento da série (3 a 5 minutos) (USHIZIMA, 2000). Ambos os métodos são bem aceitos na literatura, não possuem restrição quanto à utilização e são atualmente aplicadas no estudo do sistema cardiovascular. Entretanto, alguns trabalhos mostram divergências entre os métodos citados principalmente quanto a valores de modulação simpática, parassimpática e balanço simpato-vagal (LF/HF) em humanos normotensos, hipertensos e diabéticos e em ratos SHR (ratos espontaneamente hipertensos) (SILVA et al., 2009; CHEMLA et al.,2005). Na clínica médica, a diminuição da variabilidade da freqüência cardíaca tem sido associada com o aumento no risco de mortalidade em pacientes diabéticos (BIANCHI e col., 1990), chagásicos (GUZZETTI e col., 1991) e após infarto do miocárdio (KLEIGER e col., 1987). Além disso, estudos populacionais demonstraram que a diminuição da variabilidade da freqüência cardíaca é um importante marcador de mortalidade entre adultos saudáveis (STEIN & KLEIGER, 1999). Outro fator passível de análise por estes métodos é da variabilidade da pressão arterial, que não será abordada de forma profunda neste trabalho, porém foi demonstrado que indivíduos hipertensos apresentam maior e, conseqüentemente, menor capacidade de tamponar flutuações de PA em comparação com normotensos, evidenciando maior risco cardiovascular nesta população (MORTON el al., 1993). Isto tem sido demonstrado por estudos clínicos, onde o aumento da variabilidade da pressão arterial está associado à morbi-mortalidade cardiovascular (KIKUYA et al., 2000) e maior risco para lesão de órgãos alvo (FRATTOLA et al., 1993), assim como a diminuição da variabilidade da FC. MÉTODO Na realização destes estudos foram utilizados ratos machos e adultos (rattus novergicus) de qualidade wistar, com peso de 230 a 280 gramas, precedentes de mesma linhagem do Instituto do Coração, em São Paulo. Estes animais foram mantidos em biotério, sendo armazenado 3 animais por gaiola, sob temperatura controlada de 22 a 24ºC, com ciclo claro/escuro de 12 (doze) horas e tendo livre acesso a comida (ração industrial) e água. Os animais pertenceram a um mesmo grupo, sendo este controle (n=6). Os procedimentos experimentais adotados para o estudo obedeceram às normas estabelecidas pela comissão de Pesquisa e Ética da Universidade Presbiteriana Mackenzie. 5 VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Canulação arterial e venosa A canulação de artéria e veia femoral, para obtenção da pressão arterial (PA) e administração de drogas, respectivamente, foi realizada com animal anestesiado com Ketalar (Ketamina, 9 mg/Kg, Parker, Davis, Brasil) e Rompum (Xilazina, 1mg/Kg, Bayer, Brasil). As cânulas foram confeccionadas com cateter de polietileno em três diâmetros (PE10 diâmetro interno de 0,28 mm, PE 50 com 0,5 mm e Tygon diâmetro interno de 0,8 mm) soldados uns aos outros e preenchidos com solução fisiológica de NaCl 0,9% e heparina sódica (Liquemine-Roche, 5000ui) na proporção de 0,5 ml para 0,02 ml, respectivamente. A parte mais fina (PE10 e/ou PE50) foi introduzida na luz dos vasos femorais sendo artéria e veia respectivamente, e a parte mais grossa (Tygon), passada pelo subcutâneo de pele até o dorso na região cervical do animal aonde foi exteriorizada, e fixada através de pontos cirúrgicos na pele. Registro da pressão arterial e freqüência cardíaca Vinte e quatro horas após o procedimento cirúrgico de canulação, estando o animal acordado, a cânula arterial foi conectada a uma extensão de 20 centímetros (Tygon) preenchida de soro fisiológico, permitindo livre movimentação do animal pela caixa durante todo o período do experimento. Esta extensão estava conectada a um transdutor eletromagnético (Stathan, modelo P23Dd) que por sua vez manteve-se acoplado a um amplificador (general Purpose Amplifier, Stemtech, Inc, USA). Os sinais analógicos foram convertidos a digitais através de uma placa conversora A/D (10 bits, Stemtech, Inc., USA), com uma freqüência de amostragem de 2000 Hz por canal. A pressão arterial e a freqüência cardíaca foram registradas durante um período de 20 minutos e armazenadas para posterior análise. Figura 3: Sistema de aquisição de sinal conectado ao computador. 6 Universidade Presbiteriana Mackenzie Figura 4: Representação da aquisição de sinal devido à cânula. Bloqueio autonômico O bloqueio farmacológico do sistema nervoso parassimpático foi realizado com administração endovenosa de um anti-colinérgico (brometo de metilatropina, 4mg/Kg, Sigma – EUA), verificando-se a pressão arterial e freqüência cardíaca após 5 minutos. Já o bloqueio farmacológico do sistema nervoso simpático foi realizado com administração endovenosa de um betabloqueador (Atenolol, 8mg/Kg, Sigma – EUA), verificando-se a pressão arterial e freqüência cardíaca após 5 minutos. A avaliação da participação tanto do sistema nervoso simpático quanto do parassimpático foi feita em dois dias de estudo. O estudo consistiu de um registro da PA e FC, seguido da infusão de uma das drogas descritas anteriormente (bloqueio simples), seguida da infusão da segunda droga (duplo bloqueio). No dia seguinte, foi realizado o mesmo procedimento invertendo-se a ordem das drogas infundidas, sendo que no primeiro dia iniciou-se o procedimento com injeção de Atenolol. A freqüência cardíaca de repouso (FCR) de cada rato foi considerada como sendo a média das freqüências basais nos dois dias de experimento, obtidas antes das injeções. Para o valor de freqüência cardíaca atingida por cada droga, consideramos a resposta máxima de variação da freqüência cardíaca após a administração de cada droga. A freqüência cardíaca intrínseca (FCI) foi considerada como sendo a média das freqüências cardíacas finais obtidas após o duplo bloqueio farmacológico nos dois dias de experimento. Além disso, os valores obtidos com os bloqueios farmacológicos nos dois dias de estudo permitiram calcular tanto tônus vagal como simpático e efeito vagal e simpático: • O tônus vagal foi considerado como sendo a diferença entre a freqüência cardíaca intrínseca e a freqüência cardíaca mínima atingida após o bloqueio com Atenolol no dia 1. 7 VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 • O tônus simpático foi considerado como sendo a diferença entre a freqüência cardíaca máxima obtida após o bloqueio com Metilatropina no dia 2 e a freqüência cardíaca intrínseca. • O efeito simpático consiste na diferença entre a freqüência cardíaca basal e a freqüência mínima encontrada após bloqueio com Atenolol no primeiro dia. • O efeito vagal foi considerado como a diferença entre o maior valor da freqüência cardíaca encontrada após bloqueio com Metilatropina no segundo dia e a freqüência basal. Variabilidade no domínio do tempo e da freqüência (análise espectral modelamento auto-regressivo) As variabilidades da freqüência cardíaca (VFC) no domínio do tempo foram calculadas pela média dos desvios padrões de cada animal (SDNN) e pela variância total (STD). Cada batimento cardíaco foi identificado através da utilização de algoritmo implementado no programa Windaq/DATAQ que, automaticamente, realizou a detecção dos intervalos de pulso do evento sistólico da onda do sinal de pressão arterial. Após esta leitura automática foi realizada uma verificação por inspeção visual, com o intuito de identificar e/ou corrigir alguma marcação não correta. Em seguida, gerou-se uma série temporal do sinal a ser estudado, isto é, do intervalo de pulso cardíaco (tacograma). Quando necessário, utilizamos a interpolação linear da série tacograma, para que retirássemos as distorções indesejáveis. Os dados foram armazenados em arquivos em formato texto e utilizados, posteriormente, em um programa de análise espectral, Kubios HRV, (TARVANIEN, 2006) A faixa de freqüência de interesse para análise espectral no rato encontra-se no intervalo que vai de 0 até 4Hz. Os componentes de alta freqüência (HF) encontram-se na faixa de 0,75 e 4,0 Hz (modulação vagal), os de baixa freqüência (LF) na faixa de 0,20 e 0,75 Hz (modulação simpática) e muito baixa freqüência (VLF) menores que 0,20 Hz. Este estudo não abordou as faixas de VLF por não estarem muito bem definidas pela literatura (Task Force, 1996). Variabilidade no domínio do tempo e da freqüência (análise espectral modelamento transformada rápida de fourier) Os parâmetros para análise no domínio do tempo consistiram em calcular os valores médios do intervalo de pulso e pressão arterial sistólica. A variabilidade do intervalo de pulso no 8 Universidade Presbiteriana Mackenzie domínio do tempo foi quantificada pelo desvio padrão (DPIP) e pela raiz quadrada da soma das diferenças sucessivas entre intervalos RR normais adjacentes ao quadrado (RMSSD). O mesmo trecho analisado via AR foi submetido ao modelo FFT, mantendo-se a mesma quantidade de pontos sob as mesmas condições. A análise foi realizada pelo mesmo programa, Kubios HRV, (TARVANIEN, 2006). As potências para as bandas de muito baixa freqüência (VLF 0,0-0,20 Hz; modulação humoral), baixa freqüência (LF, 0,20-0.75 Hz; modulação simpática) e alta freqüência (HF, 0.75-4.0 Hz; modulação parassimpática) foram calculadas pela integração da potência nas bandas de interesse e apresentadas como valores normalizados. Para a normalização, as potências das bandas de LF e HF foram divididas pela variância subtraída da potência na banda VLF (PAGANI et al., 1986; PAGANI et al., 1988). Análise estatística Todos os resultados serão apresentados como média +/- desvio padrão. As médias foram comparadas usando o teste t de Student para medidas pareadas, valores de p<0,05 são considerados significativos. Eventuais correlações foram realizadas utilizando-se o programa Instat. RESULTADOS E DISCUÇÃO O efeito do bloqueio farmacológico pode ser verificado nas figuras 5 e 6, onde temos a relação da frequência cardíaca (batimentos por minuto) com o estado fisiológico dos animais. Podemos observar que o bloqueio com Atenolol promoveu queda na FC, isto devido sua ação betabloqueadora que inibiu a atividade simpática para o coração. 9 VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Figura 5: Frequência cardíaca dos animais controles 1, 2 e 3 sob ação de Atenolol (FC Aten.), basal (FC), intrínseca (FCI) e sob efeito de Metilatropina (FC Atrop.). Figura 6: Frequência cardíaca dos animais controles 4, 5 e 6 sob ação de Atenolol (FC Aten.), basal (FC), intrínseca (FCI) e sob efeito de Metilatropina (FC Atrop.). Em situação basal estes animais apresentaram FC média de 365 bpm, ao analisarmos a ação da Metilatropina, podemos notar claramente um aumento deste valor, atingindo uma média de 450 bpm, este acrescimo se deve a ação da droga mencionada que por apresentar efeito anticolinérgico, inibe a atividade parassimpática na modulação cardíaca. No caso de duplo bloqueio, quando utiliza-se das duas drogas simultaneamente, obtemos a frequancia cardíaca intrínseca, ou seja, uma frequencia determinada apenas por ação das células marca passo, sem que haja influencia do sistema nervoso central. Os resultados 10 Universidade Presbiteriana Mackenzie encontrados estão de acordo com os descritos na literatura, como podemos observar em Silva, 2007. Podemos observar na figura 5 que o animal 1 apresentou FCI menor que a FC basal, isto provavelmente por um estado de excitação elevado no momento do registro inicial. Este mesmo resultado foi obtido com o animal 6, como apresentado na figura 6. Apesar destas duas exceções apresentadas, podemos notar que o resultado do bloqueio foi satisfatório, de acordo com o esperado. Uma vez comprovada a eficiência no processo de bloqueio autonômico podemos analisar os dados obtidos e estabelecer os valores do tonus e efeito simpático e vagal. Como índice de Tônus Simpático temos a diferença entre a FC máxima atingida com Metilatropina e FCI, isto nos revela quanitativamente a ação do sistema simpático sobre a frequência cardíaca intrínseca, neste estudo observamos uma atividade simpática capaz de aumentar a FCI em 50,56 batimentos por minuto, demonstrado na figura 7. Figura 7: Valores obtidos para Tônus Simpático e Tônus Vagal considerando-se a FCI, FC Aten, e FC Atrop. Já no tônus vagal temos a influencia do sistema parasimpático sobre a frequência cardíaca intrínseca, que foi obtida através da diferença entre a FCI e o menor valor obtido pela FC sob efeito de Atenolol, neste caso obtivemos uma atividade parassimpática responsável por causar uma diminuição de 56,77 batimentos por minuto na frequência. O efeito simpático reflete a modulação do sistema simpático sobre a frequência cardíaca basal, ao analisarmos o resultado obtido com injeção de Atenolol (bloqueio simpático) notamos uma redução 21,74 batimentos por minuto na frequancia cardíaca, logo este 11 VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 sistema estava exercendo uma ação sobre o coração contribuindo com este valor citado aumentando a frequência (figura 8). Figura 8: Valores obtidos para Efeito Simpático e Efeito Vagal considerando-se a FC, FC Aten. e FC Atrop. No caso do efeito vagal podemos observar um aumento de 85,59 batimentos por minuto ao bloquearmos o sistema parassimpático com a Metilatropina, isto nos indica o quanto este sistema está influenciando na frequencia cardíaca basal, ou seja, neste caso a ação vagal mostrou-se muito elevada, capaz de frear a atividade simpática, impedindo o aumento da fraquência, este resultado condiz com a situação fisiológica do animal e estão de acordo com os dados encontrados na literatura (FERNANDES, 2010). Após discussão sobre os parâmetros citados, podemos avaliar as duas metodologias de análise espectral para a modulação autonômica. Na Figura 9 observamos os resultados obtidos na quantificação das potências de LF (atividade simpática), podemos notar que tanto o modelo auto-regressivo quanto a transformada rápida de Fourier apresentaram valores muito próximos quando avaliamos o sinal de diferentes estados fisiológios, sendo que a diferença entre eles não foi significativa. O mesmo resultado foi observado para as potências de HF (atividade parassimpática) e para o balanço simpato-vagal (LF/HF), em condições basais, sob a ação de Atenolol, Metilatropina e no duplo bloqueio, os valores obtidos com os dois métodos demonstraram-se muito parecidos, não havendo diferença significativa entre eles, como observado nas figuras 10 e 11 respectivamente. 12 Universidade Presbiteriana Mackenzie Figura 9: Comparação entre FFT e AR quanto às potências de LF normalizadas (%) sob diferentes condições. Figura 10: Comparação entre FFT e AR quanto às potências de HF normalizadas (%) sob diferentes condições. 13 VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Figura 11: Balanço autonômico (ms²) comparado no modelo FFT e AR sob diversas condições. Podemos comprovar estes dados observando as figuras 12, 13 e 14, onde notamos a correlação entre as metodologias, sendo que para todos os parâmetros analisados obtivemos uma diferença muito pequena compreendendo um valor para p < 0,0001. Figura 12: Correlação entre os modelos FFT e AR para a modulação simpática (LF), apresentando r=0,8924 e p < 0,0001. 14 Universidade Presbiteriana Mackenzie Figura 13: Correlação entre os modelos FFT e AR para a modulação parassimpática (HF), apresentando r = 0,8924 e p < 0,0001. Figura 14: Correlação entre os modelos FFT e AR para o balanço autonômico (LF/HF), apresentando r = 0,8531 e p < 0,0001. Estes resultados discordam com os encontrados nos trabalhos de Silva, 2009 e Chemla, 2005. Vale ressaltar que os estudos citados avaliaram sinais humanos, enquanto este 15 VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 aborda um modelo experimental com ratos, talvez a divergência encontrada se deva a este aspecto, ou então à metodologia utilizada. Podemos notar que ao isolarmos algumas variáveis, como por exemplo, utilizar-se do mesmo programa para as duas análises e também avaliar exatamente o mesmo trecho, obtemos resultados muito semelhantes, como descrito por Carvalho, 2003. CONCLUSÃO 1. Os modelos de análise espectral no domínio da frequência auto-regressivo (AR) e transformada rápida de Fourier (FFT) demonstraram-se coerentes, apresentando resultados significantemente idênticos em situações fisiológicas diferentes para os seguintes parâmetros: • Potência de LF (modulação simpática); • Potência de HF (modulação parassimpática); • Relação LF/HF (balanço autonômico); 2. O bloqueio do sistema simpático foi bem sucedido, demonstrando queda na frequência cardíaca dos animas; 3. A atuação da Metilatropina bloqueando o sistema parassimpátido demonstrou-se eficiente, evidenciando um aumento na frequência cardíaca; 4. Em unidades normalizadas, estes animais apresentaram maior modulação parassimpática. 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