A AVALIAÇÃO COMO PROCESSO CONTÍNUO NO CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA UFRN Esmeraldo M. dos Santos¹, Rose Meire Penha Revoredo de Macêdo¹, Sayonara Sonaly Rocha¹, José Ivam Pinheiro¹, Sabrina Medeiros Borges², Rubens Eugênio Barreto Ramos¹. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa de Engenharia de Produção - PEP1. Campus Universitário – Centro de Tecnologia [email protected] Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Departamento de Estatística². Campus Universitário – Centro de Ciência Exatas e da Terra. [email protected] Resumo. O objetivo deste trabalho é fornecer aos educadores da área de engenharia subsídios teóricos, para a compreender a avaliação como um processo contínuo através da participação do aluno, e assim melhorar a eficácia do processo de ensino-aprendizagem. O estudo partiu da discussão quanto à utilização da avaliação escrita como única forma de quantificar os conhecimentos do aluno, apenas discriminando a pontuação e avaliando-os em função do grau de acertos e erros. Desta forma, verificou-se que a avaliação estava sendo utilizada como instrumento pedagógico punitivo, e não como instrumento para avaliar os conhecimentos do futuro profissional. O contexto do artigo consiste na avaliação dos alunos a partir da sinergia criada num ambiente de trabalho em grupo buscando interagir o processo de ensino-aprendizagem na busca da construção do saber. Para tanto, dividiu-se a turma em grupos temáticos, e para cada grupo foi designado um professor orientador. A partir daí, os grupos aprofundam seus conhecimentos no tema pesquisado, formando posteriormente outros grupos compostos por um representante de cada área temática. A subjetividade da avaliação, neste caso, torna o assunto polêmico, precisamente pelo choque que existe entre teoria e prática, que serão analisados e confrontados neste trabalho. Palavras-Chave: Avaliação educacional, Processo de ensino-aprendizado, Avaliação contínua. 1. INTRODUÇÃO Pelo entendimento que a ação educativa nos cursos de engenharia não é algo pronto e definitivo, pelo contrário, despertam muitos questionamentos, planos, ações e realizações, tem-se neste artigo uma aplicação da avaliação no processo ensino-aprendizagem que exige constantemente a continuidade do planejamento e da recriação de atitudes dos professores dos cursos de engenharia e os futuros profissionais da área. Para tanto, este trabalho foi embasado nos esquemas de referencial teórico, confrontando-os com a prática vivenciada pelos educadores nos cursos da área de engenharia, especificamente na engenharia de produção, o que permitiu, repensar a dinâmica da avaliação dos alunos não somente no âmbito da prova de conhecimentos da disciplina, mas, inseri-lo no contexto de sua formação profissional no relacionamento inter-pessoal como um todo. Os centros de ensino superior no Brasil costumam utilizar um processo avaliativo extremamente rígido e inflexível como modelo de quantificação do conhecimento, inclusive chegando ao extremo de somente avaliar o aluno pela nota adquirida em provas realizadas. Entretanto, alguns focos de mudanças começam a aparecer com inovações no processo de ensino aprendizagem, dando maior ênfase na qualidade do aluno, futuro profissional de engenharia, pela qualidade do saber adquirido, e não pela quantificação obtida pela “nota da prova”. No que se refere a este artigo, foram realizadas no Departamento de Engenharia de Produção, reflexões sobre as formas, normas e reações de educadores e alunos sobre os métodos utilizados e os instrumentos aplicados até então para quantificar os níveis de aproveitamento de aprendizado de cada aluno. A partir deste artigo, alguns professores do DEP passaram a interagir com os alunos a partir do conceito de que medir o conhecimento adquirido em sala de aula é um processo descritivo, enquanto que avaliar é um processo interpretativo supondo julgamento por uma escala de valores, onde muitas vezes o educador é carente de algumas características para exercer total conhecimento dessa escala. Deste então na disciplina de ciências do ambiente utilizouse outro método para quantificar o aprendizado e fortalecer as bases do aprendizado do grupo de alunos envolvidos, por acreditar que somente a interação entre todos atores envolvidos no processo de aprendizagem poderá fornecer uma informação precisa quanto aprendizado dos educandos. Com a utilização do método de formação de grupos temáticos o DEP pretende dissociar os termos da avaliação de teste, prova, nota, conceito, sucesso e fracasso, aprovação e repetência, para uma série de aspectos que proporcionam ao aluno muito mais liberdade para pensar e desenvolver seu aprendizado. Demonstrando, em decorrência disso, uma nova concepção pedagógica, ou seja, a avaliação com perspectivas mais extensas. 2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA AVALIAÇÃO EDUCACIONAL Assim como no cotidiano das pessoas, nas medidas educacionais vem-se fazendo sentir, cada vez mais imperiosa, a necessidade do refinamento de técnicas utilizadas para avaliação. Sempre coube aos professores a responsabilidade do julgamento e da avaliação, mas somente a partir do século XIX surgiram os primeiros ensaios de emprego de métodos mais objetivos de avaliação do rendimento escolar. Nos Estados Unidos da América, Horace Mann criou um sistema de testagem, onde de acordo com SOUSA [1], uma controvérsia entre Mann e os comitês das escolas americanas sobre a qualidade da educação fez com que ele propusesse a experimentação de um sistema uniforme de exames em uma amostra selecionada de estudantes das escolas públicas de Boston. Essa controvérsia teria resultado no reforço de críticas à qualidade da educação indicando a possibilidade de testar programas em grandes proporções, com o objetivo de apresentar melhorias nos padrões educacionais vigentes. Entre algumas medidas Mann sugeriu: 1. substituir os exames orais pelos escritos; 2. utilizar, ao invés de poucas questões gerais, uma quantidade maior de questões específicas; e 3. buscar padrões mais objetivos do alcance escolar. HAIDT [2] Já em países da Europa como França e Portugal, as experiências referentes à avaliação da aprendizagem foram mais desenvolvidas por Pierón e Laugier que representaram a docimologia (ciência do estudo sistemático dos exames, em particular do sistema de atribuição de notas e dos comportamentos dos examinadores e examinados), ao evidenciar, através de seus estudos, a instabilidade das avaliações no tocante às diferenças inter e intra-individuais e à precisão dos testes. Ref. [1] Para melhor avaliar o processo histórico da avaliação do processo de ensino-aprendizagem, é importante retomar o contexto dos Estados Unidos. A trajetória da avaliação educacional, teve grande influência dos estudiosos americanos, por exemplo, Thorndike, Tyler, Bloom e Cronbach. Desde as duas primeiras décadas deste século, pensadores, como Robert Thorndike, realizaram estudos voltados especialmente à mensuração de mudanças do comportamento humano. A partir das décadas de décadas de 30 e 40, intensificaram-se as pesquisas, que passaram a incluir procedimentos mais abrangentes e sistemáticos para a medida do desempenho do aluno (testes, escalas de atitudes, inventários, registros etc). Para MEZZAROBA et al.[3], “Tyler provocou um grande impacto na literatura com seu "Estudo dos oito anos", realizado com Smith, no qual defendia a inclusão de uma variedade de procedimentos avaliativos, tais como: testes, escalas de atitudes, inventários, questionários, fichas de registros e outras formas de coletar evidências sobre o rendimento dos alunos com relação à consecução dos objetivos curriculares”. De fato, Tyler, além de contribuir com seu estudo de oito anos, também se destaca pelo modelo cujo delineamento é baseado em objetivos comportamentais e em metodologia de análise quantitativa, ainda presente na cultura pedagógica norte-americana, apesar das reações surgidas, que determinaram o aparecimento de novos modelos de avaliação escolar. SAUL [4]. Já Bloom apud Ref. [1], defendia a idéia que o domínio da aprendizagem é teoricamente disponível para todos, se houver possibilidade de encontrar os meios de ajudar cada estudante. O ponto de vista de Bloom era fundamentado nas normas de avaliação de muitos testes padronizados de rendimento. A aplicação de avaliações sucessivas demonstrou que critérios selecionados, atingidos pelos melhores estudantes em um ano, eram atingidos pela maioria dos estudantes em período posterior. Motivado por essa idéia, Bloom criou a noção de aprendizagem para o domínio, e assim, fazia uma distinção bem marcada entre processo de ensino-aprendizagem, cuja intenção é preparar o estudante, e o processo de avaliação, que tem a intenção de verificar se o estudante desenvolveu-se da maneira esperada. Segundo a Ref. [3], "Bloom era contra o uso de notas em testes realizados durante o processo de ensino-aprendizagem, pois a finalidade desses instrumentos deveriam ser determinar o domínio ou a falta de habilidade, oferecendo, tanto ao aluno como ao professor, informações para a melhoria dos desempenhos não dominados ou incentivos no caso dos objetivos já alcançados". Outro estudo que mereceu destaque foi publicado por Cronbach, em 1963. Nesse artigo, o autor discutiu quatro aspectos de extrema importância para a avaliação: 1. a associação entre avaliação e o processo de tomada de decisão; 2. os diferentes papéis da avaliação educacional; 3. o desempenho do estudante como critério de avaliação de cursos; 4. algumas técnicas de medida à disposição do avaliador educacional. VIANNA [5]. Ainda segundo a Ref. [5], as idéias provocadoras de Cronbach tiveram grande impacto na década de 60 e, na época, influenciaram os trabalhos de dois autores fundamentais para a área de avaliação educacional: Stake e Scriven. Pode-se afirmar que a obra de Stake abordou diferentes temas ligados a avaliação, sendo considerado como um dos autores de maior contribuição para o desenvolvimento da preocupação com avaliação do ensino-aprendizagem. Um exemplo claro de sua obra é a avaliação responsiva, que responde a alguns problemas específicos colocados por partes interessadas no processo de avaliação de algum programa de educação, para Ref. [5], a instituição (diretoria, equipes técnicas, corpo docente) e o avaliador. Ainda na década de 60, Scriven contribuiu com suas idéias fundamentais para a teoria da avaliação educacional. Para ele a avaliação desempenha muitos papéis, mas possui um único objetivo: determinar o valor ou o mérito de que está sendo avaliado. Scriven diferenciou o papel formativo e somativo, além de apresentar conceitos que influenciaram, a prática da avaliação. DEPRESBITERIS [6] diz que, “Embora também contenha um componente somativo, a avaliação formativa se caracteriza por seu caráter processual, isto é, ocorre em etapas, ao longo do desenvolvimento de programas, projetos e produtos educacionais. Por sua vez, a avaliação somativa é realizada ao final de um programa e possibilita que o usuário julgue o seu mérito ou valor, fornecendo pistas à orientação das ações e tomada de decisão”. Na década de 70 Stufflebeam e Guba estruturaram um modelo de avaliação educacional denominado CIPP, este modelo é conhecido como um dos principais modelos contemporâneos para a decisão em avaliação educacional. No CIPP dá-se a obtenção de informações é função específica do avaliador, enquanto que o delineamento e a provisão de decisões são feitos pelo avaliador e por quem toma as decisões. Para Ref. [5], cada uma das decisões de planejamento, estruturação, implementação e reciclagem são recomendadas avaliações referentes ao contexto, ao insumo, ao processo e ao produto. No Brasil, somente durante a década de 70, desenvolveu-se a primeira análise crítica da visão tecnicista, reprodutivista e burocrática da avaliação educacional. A partir daí surgiu, nos anos 90, as abordagens emancipatória e mediadora da avaliação da aprendizagem escolar, caracterizada, pelos trabalhos de Saul sobre avaliação de cursos e programas educacionais. Essa preocupação com a questão social, através de LÜDKE et al [7], mostrou que a avaliação é necessária para melhor compreender a escola, pois considera que os julgamentos efetuados no contexto escolar representam os tipos de decisão que toda sociedade deve tomar sobre o desempenho de seus integrantes. De fato é grande o número de pesquisas que evidenciaram a flutuação das notas escolares, de professor para professor, e mesmo de uma avaliação para outra, realizada pela mesma pessoa, com determinados intervalos temporais. As notas atribuídas aos alunos variam em função não apenas dos conhecimentos supostamente demonstrados por esses alunos e sim de outros fatores entre os quais sobressaem-se, sem dúvida alguma, os ligados à própria personalidade do professor. Um dos problemas mais prementes do ensino, embora nem sempre reconhecido por professores ou administradores, é o que se relaciona com a atribuição de notas ou menções e com avaliação do progresso do aluno. De escola para escola, de instituição para instituição, varia o sistema mais comum é o de notas numéricas apresentadas numa escala de zero a cem. No entanto, há estabelecimentos de ensino que preferem um sistema de quatro, cinco ou seis menções: excepcional, muito bom, bom, regular, sofrível e deficiente, por exemplo. Tradicionalmente, o aproveitamento tem sido expresso como se fosse uma quantidade absoluta. Um aspecto interessante a destacar é o desvio que realça apenas a função administrativa da avaliação e da aprendizagem, pela qual só se exige uma nota final, descartando a função de orientação para a melhoria que ela deve exercer. A Ref. [1] fundamenta essa crítica dizendo que, "a escola valoriza, na maioria das vezes, o papel, o registro, o procedimento formal. A maior preocupação fica centrada na nota, sem que haja nenhuma interpretação para a indicação de recuperações necessárias, melhoria de procedimentos didáticos e avaliação da própria avaliação." Como em qualquer outro sistema educacional, no ensino das engenharias os métodos de avaliação é um assunto que está em discussão permanente. Particularmente desde a década de 90 vários debates foram organizados em torno das questões relativas à como avaliar o aluno de engenharia com perspectiva de formar um profissional responsável e ético, como quantificar os conhecimentos e habilidades que as disciplinas passam quanto à boa prática que a engenharia requer, que novas ferramentas educacionais podem ser introduzidas para melhorar o desempenho e conseqüentemente sua mensuração, etc. Para ROMPELMAN et al. [8] historicamente, “Os educadores estão assoberbados de questões e solicitações provenientes de diversas partes, tais como: o conselho diretor da universidade, seus colegas professores, o governo, a indústria, os alunos, etc. A solução mais simples, muitas vezes, consiste apenas em continuar fazendo aquilo que já vinha sendo feito antes. Não se pode negar, porém, que o mundo de hoje é diferente do mundo de, digamos, 30 anos atrás. Mais ainda, o mundo do próximo século será por certo diferente do de hoje. Devemos ter em mente que, neste exato momento, estamos formando os jovens que estarão atuando profissionalmente nas primeiras décadas desse novo século.” Tornou-se, portanto, fundamental que se desenvolva nos educadores da engenharia uma perspectiva clara diante dos alunos a respeito das metas educacionais a serem alcançadas e de que modo serão integradas na prática de formação de profissionais. Para tanto, a aplicação de técnicas de ensino desenvolvidas, normalmente, pelas ciências sociais vem se mostrando muito eficaz no desenvolvimento de novos modelos de ensino nas engenharias. 3. CONFRONTO ENTRE AVALIAÇÃO E MEDIDA A análise da dinâmica do processo educativo conduz a percepção da posição central e indispensável da avaliação, num ciclo que se inicia com o estabelecimento de objetivos e prossegue com a escolha do método e dos critérios. Conceitua-se método como a relação professor-aluno, seja, toda e qualquer forma de trabalho em conjunto, de discentes e docentes; e critérios como a evidência ou prova que se vai aceitar como garantia de que os objetivos propostos foram, em parte ou totalmente, atingidos. Se os objetivos estabelecidos foram adequadamente cumpridos, propõem-se novos objetivos; caso contrário, procede-se à reformulação do critério, porventura defeituoso, à reformulação do critério, se mal formulado, ou à recuperação do aluno, reiniciando-se, assim, o ciclo. Nesse processo situa-se, como parte integrante e essencial, a avaliação, que consiste em fazer um julgamento sobre resultados, comparando o que foi obtido com o que se pretendia alcançar. Na Ref. [2] encontra-se que "a ação educativa é finalística, isto é, pressupõe-se objetivos a serem atingidos. Por isso, cabe ao professor estabelecer metas para seu trabalho docente. Como ensinar e aprender são processos intimamente relacionados, à medida que o professor propõe os objetivos de seus ensinos, está também prevendo os objetivos a serem alcançados pelos alunos como resultado da aprendizagem." A importância de definir com exatidão os objetivos a atingir, sem o que os alunos corram o risco de assimilar noções inexatas ou adquirir hábitos em nítida contradição com aqueles sobre os quais se deverão apoiar, mais tarde, em sua vida diária ou em suas atividades profissionais. É impossível avaliar com eficiência o valor de um curso ou de um programa sem dispor de objetivos bem definidos e sem possuir uma base segura para escolher adequadamente os meios ou os métodos de ensino. Candau apud Ref. [2], corrobora com esta afirmação dizendo que: "...a partir da formulação dos objetivos que vão nortear o processo ensino-aprendizagem, determina-se o que e como julgar, ou seja, o que e como avaliar. É por isso que normalmente se diz que o processo de avaliação começa com a definição dos objetivos. Portanto, para ser válida, a avaliação deve ser realizada em função dos objetivos previstos, pois, se isso não ocorrer, o professor poderá obter muitos dados isolados, mas de pouco valor para determinar o que cada aluno aprendeu." Compreende-se assim, que a avaliação do rendimento escolar envolve um processo circular que começa e termina com os objetivos educacionais. Se um objetivo educacional foi adequadamente descrito e proposto, quem o atinge deve apresentar condutas diferentes de quem não o atinge. Se houver diferenças entre dois comportamentos, elas serão percebidas e apreciadas pelos responsáveis aos quais incumbe a direção do processo educativo. De vez que a forma mais simples de medir exige apenas a constatação de que alguém ou alguma coisa apresenta certa característica em grau superior ou inferior a outrem ou outra coisa, tais diferenças são passíveis de mensuração. 4. O MÉTODO DE AVALIAÇÃO NA ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA UFRN Conforme se verificou nas reuniões entre educadores e educandos do DEP, a avaliação desde a implantação do curso, consistia em verificar se as metas educacionais haviam sido atingidas. Na verdade, procurava-se testar se os alunos haviam adquirido através das disciplinas, o conhecimento, habilidades e compreensão dos assuntos abordados no decorrer das aulas. Porém, esse procedimento passou a ser criticado pela insuficiência de subsídios para quantificar o nível real de conhecimento obtido pelos alunos. Dessa forma constatou-se que o método de avaliação tradicional não atingia os reais objetivos do processo de aprendizagem, pois os alunos demonstravam muito freqüentemente nos exames uma excelente capacidade de descrever fatos, fórmulas e passagens discutidas em sala de aula, mas, quando avaliados quanto à real compreensão dos assuntos expostos, normalmente, apresentavam resultados muito inferiores. De fato, após análise entre os educadores envolvidos na elaboração do novo sistema de avaliação, pôde-se deduzir que os alunos são aprovados a cada semestre letivo sem adquirir uma compreensão suficiente dos conceitos fundamentais das disciplinas apresentadas por várias razões, entre elas, as seguintes: • A expectativa para fazer a prova, causando aumento de tensão nos alunos; • As questões da prova são respondidas sem o fundamento teórico estudado, tornando-se vaga ou excessivamente generalizadas. • Insuficiência para avaliar conceitos no tocante a informações necessárias para a solução de problemas apresentados. A solução proposta foi a utilização do princípio da avaliação através de grupos formados por alunos com orientação de alguns professores. Este modelo foi utilizado em várias disciplinas, mas para este trabalho apresentamos apenas o caso da disciplina ciências do ambiente por apresentar, no momento, maior disponibilidade de professores orientadores para o projeto piloto. A turma foi formada por 50 alunos do curso de engenharia de produção, onde se criou 10 grupos temáticos de 5 alunos cada, e cada grupo assumiu uma parte dos temas abordados na disciplina no decorrer do semestre. Segundo o DEP [9], a disciplina de ciências do meio ambiente é formada pelos seguintes assuntos: • Noções gerais de ecologia; • Ciclos biogeoquímicos; • Noções de ecossistemas; • Definições de ambiente; • Meio físico e biocenose; • Degradação do meio ambiente; • Poluição; • Consideração específica sobre os ambientes: terrestre – ar, solo e aquático. Com a utilização deste método ficou claro que o valor educacional deste tipo de trabalho em equipe é incontestável. Contudo, sua introdução esbarrou em alguns problemas práticos, como os descrito na Ref. [8]: “Formação do grupo: como a equipe deve ser composta? Pelo professor, pelos próprios alunos, aleatoriamente? Distribuição de papéis e tarefas: quem faz o quê, quem decide a tal respeito, quem é responsável e pelo quê? Planejamento: quem é responsável pelo planejamento, ou seja, pela obediência aos prazos programados?”. Mas, para essas questões utilizaram-se alguns procedimentos que nortearam seu desenvolvimento. O primeiro passo foi identificar quais decisões ficariam com os grupos temáticos, e quais ficariam com os professores orientadores. Posteriormente foram definidas outras normas para aspectos como: • cada grupo apresenta seu conteúdo; • é imprescindível a participação dos outros grupos durante a apresentação dos conteúdos; • a avaliação dos alunos será um conjunto de procedimentos medidos pelos alunos líderes, professores orientadores e o professor responsável pela disciplina; • a interação nos grupos temáticos é tão importante quanto sua participação em sala de aula. Foi justamente quanto a avaliação destes grupos que surgiram as maiores dúvidas do projeto, pois como evitar que alguns alunos dentro do grupo fossem sobrecarregados de atividades, enquanto outros ficariam de “carona”. Para superar este problema, foi designado um líder para cada grupo que ficaria responsável por uma avaliação preliminar das atividades do grupo, com autoridade, inclusive, de eliminar o aluno relapso. Esse líder trabalhava sempre sob direção de um professor orientador, que também realizava avaliações individuais em reuniões isoladas com os grupos onde se definia o que deveria ser abordado na apresentação dos seminários e discutia-se os temas e autores relacionados com o estudo do grupo. Uma análise mais detalhada das atividades realizadas no decorrer da disciplina foge ao escopo do trabalho. Entretanto, no que se refere aos resultados esperados da atividade dos grupos no decorrer da disciplina, percebeu-se que os objetivos educacionais foram definidos nos termos de progressos na aprendizagem individual dos alunos, no tocante a: • aprender a relacionar-se com os colegas opinando sobre os assuntos pesquisados; • aprender que um mesmo conceito pode ter várias compreensões e que, não necessariamente sua análise estará errada; • aprender a avaliar soluções alternativas mediante a orientações mais próximas do professor; • aprender a perceber o grupo em um contexto teórico-profissional 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para HOFFMANN [10], a avaliação deve ser a "reflexão transformada em ação”. Ação essa que nos impulsione a novas reflexões. Reflexões permanentes do educador sobre sua realidade e acompanhamento, passo a passo, do educando, na sua trajetória de construção do conhecimento. Com a utilização da avaliação contínua no curso de engenharia de produção da UFRN, procurou-se inibir a prática da avaliação autoritária que assume unilateralmente a responsabilidade pelo diagnóstico do desempenho do aluno e a partir daí, tomam-se decisões fora do alcance que a própria avaliação oferece. Nesse processo a avaliação deixou de ser um momento terminal do processo educativo (como hoje é concebida) para se transformar na busca incessante de compreensão das dificuldades do aluno e na dinamização de novas oportunidades de conhecimento. Na medida em que a ação avaliativa exerceu uma função dialogada e interativa, ela promoveu aos alunos uma sinergia onde tornou-os críticos e participativos e inseridos no contexto social e profissional. A interatividade adquirida no projeto pode ser descrita na abordagem de DEMO [11], onde afirma que a confiança mútua entre educador e educando quanto às possibilidades de reorganização conjunta do saber pode transformar o ato avaliativo de um momento prazeiroso de descoberta e troca de conhecimento. Enquanto que LUCKESI [12] afirma que: "...será necessário avaliarmos nossos alunos através da observação diária de seu desempenho, individual e em grupo, pois acreditamos que: "avaliação mais do que produção de conhecimento, é um ato político. Requer conhecimento, aproximação com o real para compreender o contexto, para aprender, captar, interpretar e explicar os dados da realidade que a rodeiam." Fixou-se, assim, na prática pedagógica dos educadores que participaram desse projeto piloto, a intenção para que se reconstrua o significado da ação de avaliação com acompanhamento permanente do desenvolvimento do educando, sendo necessário revitalizá-lo no dinamismo da ação, reflexão, ação, ou seja, concebê-la como inerente e indissociável da educação observadora e investigadora no sentido de favorecer e ampliar as possibilidades próprias do educando. O que significa aprender através de reflexões e manter-se atento e curioso sobre as manifestações dos alunos e por agir a oportunização de situações de aprendizagem enriquecedora. Portanto, é necessário, na avaliação dos alunos que se dê ênfase ao seu crescimento de forma integral para ajudá-lo a aprender a se auto-avaliar e buscar novos caminhos para sua realização, com sabedoria e responsabilidade. 6. REFERÊNCIAS [1] C. P. de Sousa, Avaliação do rendimento escolar, Campinas / SP, Papirus : 1997. [2] R. C. Haidt, Curso de didática geral, São Paulo / SP, Ática : 1994. [3] L. Mezzaroba e G. M. Alvarenga, A trajetória da avaliação educacional no Brasil, Avaliar: um compromisso com o ensino e a aprendizagem / organizado por Georfravia Montoza Alvarenga, Londrina / PR, Núcleo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional : 1999. [4] A. M. Saul, A avaliação educacional, Idéias, São Paulo / SP,no. 22, 1994, pp. 61-68. [5] H. M. Vianna, Avaliação educacional e o avaliador, Tese (Doutorado em Psicologia da educação), São Paulo / SP, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo : 1997. [6] L. Depresbiteris, Avaliação da aprendizagem como um ponto de partida para a avaliação de programas, Estudos em avaliação educacional, São Paulo / SP : 1997. [7] M. Lüdke E Z. Mediano, Avaliação na escola de 1º grau: Uma análise sociológica, Campinas / SP, Papirus : 1992. [8] O. Rompelman, . Avaliação do aprendizado: a evolução dos objetivos no ensino da engenharia e suas conseqüências no tocante à avaliação. Tradução de Paulo dos Santos Ferreira. Disponível na internet no endereço: http://www.engenheiro2001.org.br/artigos/Rompelman/RompelmanB.htm em 15 / 06 / 2001. [9] Universidade Federal do Rio grande do Norte. Departamento de Engenharia de Produção. Grade Curricular. Natal : DEP, 2001. [10] [11] J. Hoffmann, Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola à universidade, 7ªed, Porto Alegre / RS, Mediação ; 1995. P. Demo, Avaliação sob o olhar propedêutico, Campinas/ SP, Papirus : 1996. [12] C. C. Luckesi, Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo / SP, Cortez : 1996.