ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 A frase “Os índios que estavam nus não puderam entrar no Congresso” indica que todos os índios daquele determinado universo estavam nus. CRÔNICA Meu Ideal Seria Escrever... Rubem Braga Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse -- "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria -- "mas essa história é mesmo muito engraçada!". Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos. Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse -- e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aqueles pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse -- "por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!" . E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história. E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago -- mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de -1– ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina". E quando todos me perguntassem -- "mas de onde é que você tirou essa história?" -- eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história...". E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro. A crônica acima foi extraída do livro "A traição das elegantes", Editora Sabiá - Rio de Janeiro, 1967, pág. 91. LITERATURA DE JORNAL (O QUE É A CRÔNICA) -------------------------------------------------------------------------------- Artur da Távola A crônica é a expressão das contradições da vida e da pessoa do escritor ou jornalista, exposto que fica, com suas vísceras existenciais à mostra no açougue da vida, penduradas à espera do consumo de outros como ele, enrustidos, talvez, na manifestação dos sentimentos, idéias, verdades e pensamentos. Já escrevi mais de cinco mil crônicas. E a uns estudantes que me pediram uma síntese sobre o gênero, respondi o seguinte: É o samba da literatura. É ao mesmo tempo, a poesia, o ensaio, a crítica, o registro histórico, o factual, o apontamento, a filosofia, o flagrante, o miniconto, o retrato, o testemunho, a opinião, o depoimento, -2– ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 a análise, a interpretação, o humor. Tudo isso ela contém, a polivalente. Direta a simples como um samba. Profunda como a sinfonia. É compacta, rápida, direta, aguda, penetrante, instantânea (dissolve-se com o uso diário), biodegradável, sumindo sem poluir ou denegrir, oxalá perfume, saudade e algum brilho de vida no sorriso ou na lágrima do leitor. A literatura do jornal. O jornalismo da literatura. É a pausa de subjetividade, ao lado da objetividade da informação do restante do jornal. Um instante de reflexão, diante da opinião peremptória do editorial. É tímida e perseverante. Não se engalana com os grandes edifícios da literatura, mas pode conter alguns de seus melhores momentos. Não se enfeita com os altos sistemas de pensamento, mas pode conter a filosofia do cotidiano e da vida que passa. Não se empavona com a erudição dos tratados, mas pode trazer agudeza de percepção dos bons ensaios. Para ser boa, não deve ser mastigada. Deve dissolver-se na boca do leitor, deixando um sabor de vivência comum. Deve parecer que já estava escrita há muito tempo na sensibilidade de quem a lê e foi apenas lembrada ou ativada pelo escritor/jornalista que lhe deu forma. Deve ser rápida como a percepção e demorada como a recordação. Verdadeira como um poente e esperançosa como a aurora. Irreverente como um carioca. Suave como pele de mulher amada e irritada como uma criança com fome. Terna como a amamentação e insegura como toda primeira vez. Religiosa como a portadora do mistério e agnóstica como um livre pensador. A crônica nos obriga à síntese, à capacidade de condensar emoções em parágrafos-barragem. Faz-nos prosseguir, mesmo quando nos sentimos repetitivos. É, pois, a expressão jornalístico-literária da necessidade de não desistir de ser e sentir. A crônica é o samba da literatura. [Jornal O Dia, 27 de junho de 2001] Lourenço Diaféria traduz com sentimento e paixão o sentido brasileiríssimo da crônica: -3– ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 "A crônica é a reinvenção da lua abstraída das violações científicas e espaciais, é a metafísica dos postes e das azaléias, é a lupa que permite confirmar com a palavra escrita, se o sabonete Palmolive continua a abrir os poros e manter a pele leve e acetinada. A crônica existe para dar credulidade aos jornais, saturados de notícias reais demais para serem levadas a sério. A crônica descobre as pessoas no meio da multidão de leitores. Ela revela ao distinto público que, atrás do botão eletrônico, existe um baixinho resfriado e de nariz pingando, que assoa e vocifera. A crônica serve para mostrar o outro lado de tudo - dos palanques, das torres, de eclipses, das enchentes, dos barracos, do poder e da majestade. Ela não consta no periódico por condescendência. A crônica é a lágrima, o sorriso, o aceno, a emoção, o berro, que não tem estrutura para se infiltrar como notícia, reportagem, editorial, comentário ou anúncio publicitário no jornal. E, contudo, é um pouco de tudo isso." Diaféria, Lourenço. Depoimento - Escritor Brasileiro/81. Secretaria Municipal de Cultura, São Paulo, 1981. Características da crônica ⇒ Ligada à vida cotidiana; ⇒ Narrativa informal, intimista; ⇒ Uso da oralidade na escrita: linguagem coloquial; ⇒ Sensibilidade no contato com a realidade; ⇒ Olhar diferenciado; ⇒ Síntese; ⇒ Uso do fato como meio ou pretexto para o artista exercer seu estilo e criatividade; ⇒ Dose de lirismo; ⇒ Natureza ensaística; ⇒ Leveza; -4– ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 ⇒ Diz coisas sérias por meio de uma aparente conversa fiada; ⇒ Uso do humor; ⇒ Brevidade; ⇒ É um fato moderno: está sujeita à rápida transformação e à fugacidade da vida moderna. -5– ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 QUESTÃO 22, ENEM 2004 O jivaro Um Sr. Matter, que fez uma viagem de exploração à América do Sul, conta a um jornal sua conversa com um índio jivaro, desses que sabem reduzir a cabeça de um morto até ela ficar bem pequenina. Queria assistir a uma dessas operações, e o índio lhe disse que exatamente ele tinha contas a acertar com um inimigo. O Sr. Matter: ― Não, não! Um homem, não. Faça isso com a cabeça de um macaco. E o índio: ― Por que um macaco? Ele não me fez nenhum mal! (Rubem Braga) O assunto de uma crônica pode ser uma experiência pessoal do cronista, uma informação obtida por ele ou um caso imaginário. O modo de apresentar o assunto também varia: pode ser uma descrição objetiva, uma exposição argumentativa ou uma narrativa sugestiva. Quanto à finalidade pretendida, pode-se promover uma reflexão, definir um sentimento ou tão-somente provocar o riso. Na crônica O jivaro, escrita a partir da reportagem de um jornal, Rubem Braga se vale dos seguintes elementos: -6– ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 -7– ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 QUESTÃO 63, ENEM 2005 Leia o texto e examine a ilustração: Óbito do autor (....) expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia − peneirava − uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferiu à beira de minha cova: −”Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isto é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.” (....) -8– ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 (Adaptado. Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. Ilustrado por Cândido Portinari. Rio de Janeiro: Cem Bibliófilos do Brasil, 1943. p.1.) Compare o texto de Machado de Assis com a ilustração de Portinari. É correto afirmar que a ilustração do pintor (A) apresenta detalhes ausentes na cena descrita no texto verbal. (B) retrata fielmente a cena descrita por Machado de Assis. (C) distorce a cena descrita no romance. (D) expressa um sentimento inadequado à situação. (E) contraria o que descreve Machado de Assis. -9– ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 ORTOGRAFIA O que é? A palavra ortografia é formada por "orto" (do grego = direito, exato, reto) e "grafia" (= ação de escrever, escrever). Ortografia, portanto, significa ação de escrever direito. Nosso alfabeto é composto de 23 letras: a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, l, m, n, o, p, q, r, s, t, u, v, x, z E as letras w, y e k? Elas não pertencem mais ao nosso alfabeto. São usadas apenas em casos especiais: Nomes próprios estrangeiros Ex.: Wellington, William.... Abreviaturas e símbolos de uso internacional Ex.: K = potássio,Y = ítrio... Palavras estrangeiras Ex.: show, play... ORTOGRAFIA OFICIAL LÍNGUA PORTUGUESA - 10 – ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 Atualmente o português não tem só uma, mas duas ortografias oficiais. A norma ortográfica portuguesa é usada em todos os países de língua portuguesa (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste) exceto no Brasil, que segue norma própria. Há esforços em curso para resolver este problema e criar uma ortografia única. As principais diferentes ortográficas entre o Brasil e Portugal estão nas consoantes mudas (as que não são articuladas) que, no Brasil, já foram eliminadas da escrita, enquanto em Portugal algumas ainda sobrevivem. Portugal e África Brasil acção ação contacto contato direcção direção eléctrico elétrico óptimo ótimo Além disso... Subsistem, também, diferenças na acentuação de certas palavras (no Brasil, palavras como idôneo ou anônimo têm sílaba tônica fechada, enquanto que em Portugal e África são abertas, idóneo e anónimo) e no uso do trema (no Brasil, é colocado um trema sobre o "u" em palavras como cinqüenta e lingüiça para indicar que deve ser articulado, enquanto que nos restantes países lusófonos escreve-se simplesmente cinquenta e linguiça). Usos de j a) Escreve-se com j a conjugação dos verbos terminados em JAR: - 11 – ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 Viajar = ...que eles viajem Encorajar = para que eles se encorajem Enferrujar = que não se enferrujem as portas b) Escrevem-se com j as palavras derivadas de vocábulos terminados em JA: loja = lojista canja = canjica sarja = sarjeta gorja = gorjeta c) Escrevem com j as palavras de origem tupi-guarani. Jiló Jibóia Jirau Usos de g a) Escrevem-se com g as palavras terminadas em ÁGIO, ÉGIO, ÍGIO, ÓGIO, ÚGIO: pedágio sacrilégio prestígio relógio refúgio b) Escrevem-se com g os substantivos terminados em GEM: - 12 – ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 a viagem a coragem a ferrugem Exceções: pajem, lambujem Para praticar 145 exercícios de ortografia em http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=exercicios/conc1000/docs/ortografiaex Site do Prof. Hélio Consolaro ALGUMAS CURIOSIDADES ORTOGRÁFICAS Haja vista ou haja visto? Apenas a primeira opção é correta, porque a palavra "vista", nessa expressão, é invariável. Haja vista o trágico acontecimento... (hajam vista os acontecimentos...) Em vez de ou ao invés de? A expressão em vez de significa em lugar de. (Hoje, Pedro foi em vez de Paulo. / Em vez de você, vou eu para Petrópolis.) - 13 – ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 A expressão ao invés de significa ao contrário de. (Ao invés de proteger, resolveu não assumir. / Ao invés de melhorar, sua atitude piorou a situação.) Se não ou senão? Emprega-se o primeiro, quando o se pode ser substituído por caso ou na hipótese de que. Se não chover, viajarei amanhã (= caso não chova - ou na hipótese de que não chova, viajarei amanhã). Se não se tratar dessa alternativa, a expressão sempre se escreverá com uma só palavra: senão. Vá de uma vez, senão você vai se atrasar. (senão = caso contrário). / Nada mais havia a fazer senão conformar-se com a situação (senão = a não ser). / "As pedras achadas pelo bandeirante não eram esmeraldas, senão turmalinas, puras turmalinas" (senão = mas). / Não havia um senão naquele rapaz. (senão = defeito). Haver ou ter? Embora usado largamente na fala diária, a gramática não aceita a substituição do verbo haver pelo ter. Deve-se dizer, portanto, não havia mais leite na padaria. Há ou a? Quando nos referimos a um determinado espaço de tempo, podemos escrever há ou a, nas seguintes situações: Há - quando o espaço de tempo já tiver decorrido. (Ela saiu há dez minutos.) - 14 – ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 A - quando o espaço de tempo ainda não transcorreu. (Ela voltará daqui a dez minutos.) Ao encontro de ou de encontro a? Ao encontro de - quer dizer favorável a, para junto de. (Vamos ao encontro dos nossos amigos. / Isso vem ao encontro dos anseios da turma.) De encontro a - quer dizer contra. (Um automóvel foi de encontro a outro. / Este ato desagradou aos funcionários, porque veio de encontro às suas aspirações.) A cerca de, acerca de ou há cerca de? A cerca de significa a uma distância. (Teresópolis fica a cerca de uma hora de carro do Rio.) Acerca de - significa sobre. (Conversamos acerca de política.) Há cerca de – significa que faz ou existe(m) aproximadamente. (Mudei-me para este apartamento há cerca de oito anos. / Há cerca de doze mil candidatos, concorrendo às vagas.) A par ou ao par? A expressão ao par significa sem ágio no câmbio. Portanto, se quisermos utilizar esse tipo de expressão, significando ciente, deveremos escrever a par. Fiquei a par dos fatos. / A moça não está a par do assunto. A fim ou afim? - 15 – ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 Escrevemos afim, quando queremos dizer semelhante. (O gosto dela era afim ao da turma.) Escrevemos a fim (de), quando queremos indicar finalidade. (Veio a fim de conhecer os parentes. / Pensemos bastante, a fim de que respondamos certo. / Ela não está a fim do rapaz.) 1) Porquê: é um substantivo, portanto será usado quando anteriormente a ele surgir um artigo, um pronome adjetivo ou um numeral. Ex.: "Ninguém entende o porquê de tanta confusão". 2) Por quê: será usado em final de frase. Ex.: "Ela não me telefonou nem me disse por quê". 3) Por que: será usado quando o "que" puder ser substituído por "qual". Ex.: "As causas por que luto são nobres". 4) Porque: é uma conjunção que inicia oração explicativa, causal ou final. Ex.: "Nada temo porque nada devo". A eterna juventude Conforme a lenda, haveria em algum lugar a Fonte da Juventude, cujas águas garantiriam pleno rejuvenescimento a quem delas bebesse. A tal fonte nunca foi encontrada, mas os homens estão dando um jeito de promover a expansão dos anos de “juventude” para limites jamais vistos. A adolescência começa mais cedo – veja-se o comportamento de “mocinhos” e “mocinhas” de dez ou onze anos – e promete não terminar nunca. Num comercial de TV, uma vovó fala com desenvoltura a gíria de um surfista. As academias e as clínicas de cirurgia plástica nunca fizeram tanto sucesso. Muitos velhos fazem questão de se proclamar jovens, e uma tintura de cabelo é indicada aos homens encanecidos como um meio de fazer voltar a “cor natural”. Esse obsessivo culto da juventude não se explica por uma razão única, mas tem nas leis do mercado um sólido esteio. Tornou-se um produto rentável, que se multiplica incalculavelmente e vai da moda à indústria química, dos hábitos de consumo à cultura de entretenimento, dos salões de beleza à lipoaspiração, das editoras às farmácias. Resulta daí uma espécie de código comportamental, uma - 16 – ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 ética subliminar, um jeito novo de viver. O mercado, sempre oportunista, torna-se extraordinariamente amplo, quando os consumidores das mais diferentes idades são abrangidos pelo denominador comum do “ser jovem”. A juventude não é mais uma fase da vida: é um tempo que se imagina poder prolongar indefinidamente. São várias as conseqüências dessa idolatria: a decantada “experiência dos mais velhos” vai para o baú de inutilidades, os que se recusam a aderir ao padrão triunfante da mocidade são estigmatizados e excluídos, a velhice se torna sinônimo de improdutividade e objeto de caricatura. Prefere-se a máscara grotesca do botox às rugas que os anos trouxeram, o motociclista sessentão se faz passar por jovem, metido no capacete espetacular e na roupa de couro com tachas de metal. É natural que se tenha medo de envelhecer, de adoecer, de definhar, de morrer. Mas não é natural que reajamos à lei da natureza com tamanha carga de artifícios. Diziam os antigos gregos que uma forma sábia de vida está na permanente preparação para a morte, pois só assim se valoriza de fato o presente que se vive. Pode-se perguntar se, vivendo nesta ilusão da eterna juventude, os homens não estão se esquecendo de experimentar a plenitude própria de cada momento de sua existência, a dinâmica natural de sua vida interior. (Bráulio Canuto) - 17 – ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 O Bicho Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. Manuel Bandeira IBGE diz que 14 milhões de brasileiros passam fome (O Estado de São Paulo - Nacional - 18/5/2006) São 7,7% da população em situação de insegurança alimentar grave, de acordo com levantamento feito a pedido de ministério - 18 – ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 Robson Pereira A promessa de garantir três refeições diárias a todos os brasileiros, várias vezes repetida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está longe de se tornar realidade. A comprovação da distância entre intenção e realidade foi divulgada ontem pelo IBGE. Estudo inédito revelou que mais de 3,3 milhões de famílias em todo o País convivem de forma rotineira com o pesadelo da fome. Ao todo, 14 milhões de brasileiros, número equivalente a 7,7% da população, vivem no que o instituto chama de ambiente de insegurança alimentar grave. Em outras palavras, passam fome. Deixam de comer por absoluta falta de dinheiro para comprar alimentos. Ilha das Flores http://www.youtube.com/watch?v=Zfo4Uyf5sgg http://www.youtube.com/watch?v=6IrGibVoBME&mode=related&search= 7ª proposta de redação: A erradicação da fome como prioridade. Dissertação Extraindo o tema Transforme o tema em uma pergunta. ou Pergunte ao tema por quê. Procure responder essa pergunta, de um modo simples e claro, concordando ou discordando (ou, ainda, concordando em parte e discordando em parte): essa resposta é o seu ponto de vista. - 19 – ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 Pergunte a você mesmo, o porquê de sua resposta, uma causa, um motivo, uma razão para justificar sua posição: aí estará o seu argumento principal. Agora, procure descobrir outros motivos que ajudem a defender o seu ponto de vista, a fundamentar sua posição. Estes serão argumentos auxiliares. Em seguida, procure algum fato que sirva de exemplo para reforçar a sua posição. Este fatoexemplo pode vir de sua memória visual, das coisas que você ouviu, do que você leu. Pode ser um fato da vida política, econômica, social. Pode ser um fato histórico. Ele precisa ser bastante expressivo e coerente com o seu ponto de vista. O fato-exemplo, geralmente, dá força e clareza à nossa argumentação. Esclarece a nossa opinião, fortalece os nossos argumentos. Além disso, pessoaliza o nosso texto, diferencia o nosso texto: como ele nasce da experiência de vida, ele dá uma marca pessoal à dissertação. A partir desses elementos, procure juntá-los num texto, que é o rascunho de sua redação. Por enquanto, você pode agrupá-los na seqüência que foi sugerida: Palavras-chave Qual o objetivo final do texto? O que se quer dizer com ele? Em outras palavras, devemos saber a conclusão antes de começar a escrever o texto. INTRODUÇÃO A construção da introdução pode ser feita de várias maneiras: Lembrar-se de que, ao redigir, não se deve esquecer de: • anotar todas as idéias, frases, palavras, sensações que surgirem sobre o tema; • fazer uma seleção das idéias que surgiram; • pensar num plano para o texto, estruturando-o em introdução, desenvolvimento e conclusão; - 20 – ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 • revisar no rascunho, ao final, a grafia das palavras, a pontuação das frases e a eufonia das palavras usadas, assim como a adequação vocabular ao contexto. Paráfrase 1) interrogar o tema; 2) responder, com a opinião 3) apresentar argumento básico 4) apresentar argumentos auxiliares 5) apresentar fato-exemplo 6) concluir constatação do problema Ex.: O aumento progressivo dos índices de violência nos grandes centros urbanos está promovendo uma mobilização político-social. delimitação do assunto Ex.: A cidade do Rio de Janeiro, um dos núcleos urbanos mais atrativos turisticamente no Brasil, aparece nos meios de comunicação também como foco de violência urbana. definição do tema Ex.: Como um dos mais problemáticos fenômenos sociais, a violência está mobilizando não só o governo brasileiro, mas também toda a população num esforço para sua erradicação. ARGUMENTAÇÃO Operadores Lógicos - 21 – ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 Os operadores lógicos aplicam-se a uma ou duas proposições para formar novas proposições. O valor de verdade da nova proposição é determinado pelos valores de verdade das proposições ligadas e pelo operador aplicado. Alguns dos operadores lógicos mais usados: Conjunção ( ...e... ) Você ganhará sua mesada se eu tiver aumento e se você se comportar. Disjunção ( ...ou... ) Você ganhará sua mesada se eu tiver aumento ou se você se comportar. Condicional ( se ... então... ) Você ganhará sua mesada se eu tiver aumento e se você se comportar. Negação ( ... não... ) Se você estudar ganhará um presente Se você não estudar, não ganhará um presente Bicondicional ( ... se e somente se ...) 3 argumentos - um parágrafo explica cada um dos argumentos causas e conseqüências - podem estar distribuídas em 2 ou 3 parágrafos. Ou agrupam-se causas e conseqüências, constituindo 2 parágrafos; ou associa-se uma causa a uma conseqüência e com cada grupo constroem-se 2 ou 3 parágrafos. prós e contras - são as mesmas opções da técnica de causas e conseqüências, substituídas por prós e contras - 22 – ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 abordagem histórica - compara-se o antes e o hoje, elucidando os motivos e conseqüências dessas transformações. Cuidado com dados como datas, nomes etc. de que não se tenha certeza. abordagem comparativa - usam-se duas idéias centrais para serem relacionadas no decorrer do texto. A relação destacada pode ser de identificação, de comparação ou as duas ao mesmo tempo. É muito importante manter uma abordagem mais ampla, mostrar os dois lados da questão. O texto esquematizado previamente reflete organização e técnica, valorizando bastante a redação. Logo, um texto equilibrado tem mais chances de receber melhores conceitos dos avaliadores, por demonstrar que o candidato se empenhou para construí-lo. Recurso adicional - para elucidar uma idéia e demonstrar atualização, pode-se apresentar de forma bastante objetiva e breve um exemplo relacionado ao assunto. Encontre uma causa e uma conseqüência relacionados à proposição abaixo e construa um parágrafo para cada argumento: O Brasil tem enfrentado graves problemas na área de saúde e previdência públicas A campanha contra a miséria e a fome está mobilizando toda a nação Indique três causas das proposições a seguir e justifique cada uma através de uma frase Precariedade do sistema de transportes Alto índice de mortalidade infantil Congestionamento nas grandes cidades - 23 – ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 Aponte três conseqüências para os temas abaixo e construa um parágrafo fundamentando cada uma. Baixo índice de mão-de-obra especializada Falta de investimento em tecnologia Uso de agrotóxicos Levante um argumento favorável e um desfavorável para a proposição a seguir. Construa um parágrafo envolvendo suas idéias. As greves dos trabalhadores em relação à sociedade e à nação Exercícios Apresentaremos alguns temas e você se incumbirá de encontrar uma causa e uma conseqüência para cada um deles. Escreva-as, seguindo o modelo apresentado acima: 1 Tema: As linhas de ônibus que percorrem os bairros das grandes metrópoles não têm demonstrado muita eficiência no atendimento a seus usuários. Causa: Conseqüência: 2 A convivência familiar está muito difícil. causa: Conseqüência: 3 As novelas de televisão passaram a exercer uma profunda influência nos hábitos e na maneira de pensar da maioria dos telespectadores. Causa: - 24 – ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 Conseqüência: 4 As doenças infecto-contagiosas atingem particularmente as camadas mais carentes da população. Causa: Conseqüências: 5 Apesar de alertados por ecologistas, os lavradores continuam utilizando produtos agrotóxicos indiscriminadamente. Causa: Conseqüência: Conclusão Representa o fecho do texto e vai gerar a impressão final do avaliador. Deve conter, assim como a introdução, em torno de 5 linhas. Pode-se fazer uma reafirmação do tema e dar-lhe um fecho ou apresentar possíveis soluções para o problema apresentado. Apesar de ser um parecer pessoal, jamais se inclua. Evite começar com palavras e expressões como: concluindo, para finalizar, conclui-se que, enfim... A conclusão é o encerramento da dissertação, portanto nunca apresente informações novas nela; se ainda há argumentos a serem discutidos, não inicie a conclusão. Procure terminar a redação com conclusões consistentes, e não com evasivas. Este parágrafo deve concluir toda a redação, e não apenas o argumento do último parágrafo do desenvolvimento. - 25 – ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 A conclusão deve ser elaborada em um parágrafo de aproximadamente cinco (05) linhas; só em um parágrafo, nunca mais do que um parágrafo. Obs.: Apesar de a conclusão ser o encerramento da redação, ela já deve estar praticamente preparada no momento de escrevê-la. Quando fizer o planejamento, antes de começar a redação, pergunte-se A que conclusão quero chegar com os argumentos que apresentarei? Após o título de uma redação não coloque ponto. Ao terminar o texto, não coloque qualquer coisa escrita ou riscos de qualquer natureza. Detalhe: não precisa autografar no final também, e ainda assim será uma obra-prima. Prefira usar palavras de língua portuguesa a estrangeirismos. Não use chavões, provérbios, ditos populares ou frases feitas. Não use questionamentos em seu texto, sobretudo em sua conclusão. Jamais usar a primeira pessoa do singular, a menos que haja solicitação do tema (Ex.: O que você acha sobre o aborto - ainda assim, pode-se usar a 3ª pessoa) Evite usar palavras como “coisa” e “algo”, por terem sentido vago. Prefira: elemento, fator, tópico, índice, item etc. Repetir muitas vezes as mesmas palavras empobrece o texto. Lance mão de sinônimos e expressões que representem a idéia em questão. - 26 – ENEM Disciplina: Língua Portuguesa Tema: Crônica. Proposta de Redação. Dissertação. Ortografia. Prof.: Ricardo Peruchi Data: 07/07/2007 Só cite exemplos de domínio público, sem narrar seu desenrolar. Faça somente uma breve menção. A emoção não pode perpassar nem mesmo num adjetivo empregado no texto. Atenção à imparcialidade. Evite o uso de etc. e jamais abrevie palavras Não analisar assuntos polêmicos sob apenas um dos lados da questão - 27 –