CIRCUITOMATOGROSSO POLÊMICA PG 6 www.circuitomt.com.br CUIABÁ, 23 A 29 DE OUTUBRO DE 2014 PRECATÓRIOS Celeuma que atravessa décadas Executivo mantém fila de pagamento de créditos parada, ao recorrer de sentença do STJ Airton Marques Com o descumprimento de ordens judiciais, o prefeito Mauro Mendes (PSB) vem causando um verdadeiro ‘congelamento’ na fila de pagamento de títulos precatórios do município. A intransigência pode trazer consequências graves ao erário público, já que ao descumprir acordos os prazos se findam e a prefeitura perde descontos anteriormente negociados com os credores. O fato é que por conta do não cumprimento de uma decisão do Plenário Maior do Tribunal de Justiça do Mato Grosso, que determinou ao Executivo Municipal o pagamento do precatório de nº 07/ 1992, no valor superior a R$ 12 milhões, processos que aguardam anos na fila ficam sem nenhuma previsão de quitação. Por causa de não pagamento de precatórios, Prefeitura de Cuiabá já teve suas contas bloqueadas por duas vezes Como exemplo disso temos o processo requisitório nº 8011/ 2004, que tem como interessados 46 credores e que a Prefeitura descumpriu acordo firmado em maio deste ano, na Central de Conciliação dos Precatórios do Tribunal de Justiça (TJ). A conciliação administrativa entre as partes estipulou o valor de R$ 12.680.955,37 a ser pago, com desconto de 17,5%. Com o acordo quebrado, o prejuízo aos cofres municipais chega a R$ 2,5 milhões, apenas neste caso. O imbróglio jurídico envolvendo o espólio de Clorinda Vieira de Matos, no processo 07/ 1992, foi iniciado em 1977, decorrente de desapropriação na área onde hoje está o bairro Coophamil. Por conta deste mesmo processo, em 2010 a Prefeitura de Cuiabá teve suas contas bloqueadas, pela segunda vez. Na época, o então prefeito Chico Galindo (PTB), após acordo com os autores da ação, conseguiu liberar os recursos públicos e cumprir com suas obrigações, como o pagamento dos salários dos servidores do município, que ficou ameaçado. Adolfo Arini, advogado de Clorinda (hoje falecida), conta que o acordo feito com o ex-prefeito garantiu o pagamento de R$ 7 milhões de precatórios, devolução do valor sequestrado pelo STJ, para a garantia de cumprimento da condenação e o fim da discussão judicial sobre os cálculos da carta precatória. “Recebemos com uma mão e demos com a outra. Fizemos esse acordo, mas continuamos com a discussão em Brasília sobre o valor do crédito”, esclareceu Arini. Em abril de 2014, o juiz de direito conciliador da Central de Precatórios do TJMT, mediante pedido de revisão de crédito no STJ, determinou a suspensão dos pagamentos dos demais precatórios posteriores ao do espólio de Clorinda. Em 26 de setembro de 2014, o Plenário Maior do TJMT, tendo como relator Orlando Perri, em votação unânime e atestada pelo próprio relator, afastou a possibilidade de qualquer ataque ao cálculo transitado em julgado em 1992. Também foi determinada inexistência de qualquer erro matemático contido no cálculo em questão. A decisão dispensou novas perícias e considerou inexistente o cerceamento de defesa, alegado pela Prefeitura. Segundo Adolfo, mesmo com os recursos, o prefeito Mauro Mendes tem congelados no Tribunal de Justiça cerca de R$ 15 milhões assegurados para o pagamento dos precatórios. O posicionamento imutável, de não realizar os pagamentos já determinados pela Justiça, faz com que outros acordos precatórios percam a validade. “De abril para cá, o prefeito, através do procurador geral, Rogério Gallo, fica retardando o pagamento, mas não vê que está prejudicando os munícipes. Além desse desconto que ele perdeu de R$ 2,5 milhões junto aos fiscais do município (processo requisitório nº 8011/2004), que desistiram por conta do descumprimento do acordo, tem o precatório da Cemat, que está em aproximadamente 100 milhões de reais” afirmou o advogado. Prefeitura continua contestando Adolfo Arini, advogado da família, acusa posição intransigente do procurador geral Rogério Gallo, a mando do prefeito Mauro Mendes Anos de espera Almir Francisco, viúvo de Clorinda Vieira, ainda espera um resultado positivo da prolongada disputa judicial pelos direitos de sua família. Com as mãos trêmulas devido ao mal de Parkison, o aposentado de 81 anos conta que o sítio onde hoje é o bairro Coophamil era de seu sogro. Um lugar sem muitas riquezas naturais, que era usado para a criação de vacas leiteiras. Sua mulher, e dona das terras, não suportou a longa espera pela Justiça e faleceu por problemas cardíacos em 2004, após aguardar sem sucesso pelo pagamento de um débito reconhecido judicialmente desde 1994. Trazendo consigo os resquícios da vida simples, além de decidir resguardar a sua imagem, como a de sua família, Sr. Almir preferiu manter o anonimato, não permitindo, sequer, ser fotografado para ilustrar esta matéria. Ao lembrar-se de sua companheira, ele afirmou que o seu maior desejo é o recebido desta carta precatória para ajudar na vida dos seus seis filhos. Contestando os valores do crédito do precatório, a Procuradoria Geral apresentou um laudo técnico-contábil elaborado pelo diretorgeral de Contabilidade do Município que aponta que a Prefeitura não deve pagar mais nada ao espólio além do que já foi pago. Afirma, ao contrário, que deve ser devolvido aos cofres do município algo em torno de R$ 906 mil. No dia 15 de outubro de 2014, em mais um recurso interposto pela Prefeitura, o desembargador Orlando Peri acatou o pedido de laudo técnico sobre as deflações do pagamento do precatório da família Vieira de Matos, conforme as decisões já constituídas no processo. O advogado da família afirma que a esta decisão também cabe recurso, “pois fere a decisão da Plenária do Tribunal de Justiça do Mato Grosso, da qual o mesmo desembargador foi o relator”, contra o erro matemático alegado por Mauro Mendes. Segundo a decisão do STJ, em números atualizados, a ação do espólio de Clorinda Vieira está ajuizada em R$ 31.920.384,29. Na planilha de atualização, levando em consideração os valores já pagos aos herdeiros da autora do processo – R$ 19.284.683,67, o saldo remanescente, ainda a ser pago, chega a R$ 12. 635.700,62. Ratificando posicionamento do Executivo de manter o não pagamento do precatório, o secretário de Comunicação, Kléber Lima, afirmou que, enquanto houver possibilidade, a Mauro Mendes afirma que cálculo de atualização do crédito precatório está errado Prefeitura irá recorrer: “A conclusão a que chegamos, inclusive com manifestação favorável do Ministério Público, é que, dos mais de 18 milhões pagos, há um excedente de R$ 900 mil. Consideramos que essa reivindicação de mais R$ 12 milhões é tentativa de lesar o erário”. Adolfo Arini rebate as afirmações da Prefeitura. Segundo ele, o posicionamento do prefeito Mauro e de seu procurador geral é intransigente. “Essa foi a quinta vez que família do senhor Almir é atacada pela Prefeitura, que propõe à Justiça, mediante litigância de má-fé, que o recálculo do pagamento referente ao terreno do Coophamil seja refeito. Foram cinco derrotas na Justiça, porém infelizmente a Prefeitura parece não desistir e se agarra a qualquer pequena chance de calote, considerando inclusive como “injustos” os pagamentos já feitos pelo terreno”, declarou Arini.