APOIOS E INCENTIVOS Internacionalização: Com o que se pode contar… Texto: Paulo Cardoso* sumidor é o alvo a atingir e só o conseguirá quem definir linhas concretas de actuação, objectivos precisos e claros. A velha e obsoleta tradição portuguesa de realizar reuniões e mais 50 reuniões, sem que delas se extraia algo de produtivo ou concreto, só pode conduzir ao enterro do tecido empresarial português. O mesmo se aplica ao estado-nação português, que é afinal quem define, ou é suposto definir, as linhas mestras da política económica do país. Assim como as Associações empresariais que proliferam, supostamente para defesa e promoção dos interesses dos seus associados. O primeiro, através do ICEP, mais não tem que assumir a seu cargo o que não tem feito, ou seja promover e apoiar a entrada de empresas portuguesas noutros mercados identificando quais os que melhor se coadunam com as mesmas. Trata-se de uma acção bem concreta e definida, para cujo desempenho mais não tem que se estabelecer um conjunto de iniciativas e estratégias, bem como um plano de acção devidamente orientado e coordenado. Uma vez estabelecido, Se há umas décadas a teoria e os conceitos económicos eram cria- mais não há que implementá-lo, estabelecendo uma ponte com os tivos e surgiam para moldar a respectiva realidade, actualmente empre-sários e as delegações nos países onde se encontra. sucede o inverso. Os agentes são confrontados diariamente com no- O Estado deve assumir aqui as suas responsabilidades, enquanto vos conceitos que mais não são que nomes, em português ou inglês, facilitador das relações comerciais num mercado global. A estratégia todos contudo importados, com que alguém baptizou as novas rea- das “embaixadas económicas”, parece ter caído novamente no esque- lidades que emergem de dia para dia. Factores como globalização, cimento e o ICEP não compreende que urge repensar a forma e os mer- responsabilidade social, ética, mercados emergentes, direitos dos cados onde devemos estar presentes. Não é suficiente fazer consumidores, ausência de fronteiras, ambiente e tantos outros, obri- campanhas publicitárias invocando o que temos de melhor….é neces- gam os empresários a manterem-se sempre na linha da frente da sário identificar quais os mercados e quais as empresas nacionais que informação, sob pena de perderem a competitividade. possuem interesses em se estabelecer nesses mercados e fazer todo Efectivamente, uma empresa portuguesa hoje em dia tem que com- o trabalho de back-office e de lobbing para aumentar o nosso posi- petir, mesmo em território nacional, não apenas com as suas com- cionamento nos mercados externos. A título de exemplo, é importan- patriotas, mas também com as de outros países, que graças à globa- tissimo fazer desfiles de moda internacionais se isso implicar ganhos lização aqui passaram a operar. Tem igualmente que contar com para as nossas empresas e incrementar posicionamentos interna- técnicas de marketing e publicitárias mais modernas que as que tem cionais nesses mercados, contudo, não me parece, e sinceramente, ao seu dispor; com meios de alcançar o consumidor, sejam eles de que isso tenha estado a acontecer e que os decisores pensem nas carácter sentimental, ambientalista ou outros que requerem inves- empresas ou numa estratégia de posicionamento da moda nacional. timentos de longo prazo que não efectuou. No fundo, uma empresa Mas o estado-nação tem ainda ao seu dispor os sistemas de incen- portuguesa, para manter a sua competitividade tem que, fundamen- tivos que vai orientando no sentido de facilitar a tarefa aos empre- talmente, estar informada. Deverá igualmente globalizar-se, consi- sários que pretendem penetrar em novos mercados. derando que não existe um só mercado nacional. Para tanto, mais não O sistema de incentivos, denominado “SIME – Internacional” e que tem que focar e identificar o seu produto ou serviço bem como o mer- neste momento se encontra a aguardar a abertura de uma nova fase cado onde colocá-lo. E não o deverá fazer de uma forma isolada, mas de candidaturas é um exemplo claro de um conceito correcto de apoiada. A competitividade mais não é do que uma guerra empre- auxílios às empresas mas que só terá êxito se for trabalhado em sarial, em que ganha quem tiver a melhor estratégia, melhor visão espa- parceria com as entidades públicas e com os nossos embaixado- cial e de futuro, bem como conseguir reunir maior informação. O con- res/parceiros colocados nos mercados onde vamos actuar. BRILHO _ MAIO 2006 APOIOS E INCENTIVOS O SIME- Internacional, tem por objectivo apoiar projectos de pros- de pensamento estruturado do que necessitamos para tomarmos essa pecção internacional destinados a aumentar o peso internacional do ne- mesma decisão de alargamento do nosso mercado de acção. gócio das empresas beneficiárias, privilegiando o contacto directo com Neste sentido, os projectos candidatáveis ao “SIME-Internacional”, a procura e a aposta em bens e serviços transaccionáveis. devem satisfazer as seguintes condições: Não obstante estas considerações, parece-me ser útil focar alguns • Envolver a valorização de produtos ou serviços transaccionáveis; dos critérios e condições de acesso a este sistema de incentivos, por • Ser sustentado por um plano de acção, para o período de execução várias ordens de razões: a primeira porque não se pode proceder a um do projecto devidamente fundamentado; processo de internacionalização sem pensar e estruturar a empresa • Ter um investimento mínimo de 10.000 euros; para esse facto, o que por si só não é uma decisão imediata, num • Demonstrar que se encontram asseguradas as fontes de financia- segundo aspecto porque estamos convictos que poderá ainda ser aberta mento do projecto. 51 uma nova fase este ano e em último porque é útil possuirmos uma base MAIO 2006 _ BRILHO APOIOS E INCENTIVOS Para efeitos de avaliação das iniciativas de investimento, os projectos são seleccionados com base na valorização dos seguintes critérios: 52 Critério A – Carácter inovador e consistência do projecto, avaliado de acordo com os seguintes factores: Critério B – Diversificação e prioridade dos mercados alvo, avaliado de acordo com os seguintes factores: Critério C – Diferenciação e posicionamento na cadeia de valor, avaliado de acordo com os seguintes factores: • Abordagem consistente do merca- • Acesso a novos mercados; • Desenvolvimento próprio de novas do através de actuações estruturadas • Acesso a segmentos de mercado soluções ou novos produtos; e complementares; não tradicionais; • Marca e/ou colecções próprias ou • Conhecimento prévio dos mercados • Aposta em mercados prioritários ou enquadramento em marcas de ca- alvo ou desenvolvimento de acções de proximidade. rácter sectorial ou regional; de prospecção nesses mercados no âm- • Progressão na cadeia de valor. bito do projecto; • Carácter inovador das iniciativas constantes do projecto. Para efeitos de avaliação, cada critério é pontuado da seguinte forma: tivamente, pois não existe qualquer majoração ou qualquer ajuda suplementar. Aliás a este respeito, há que corrigir ou pedir explicações Pontos Valorização ao Senhor Presidente da ANJE, quando propaga o PRIME JOVEM, como um programa de ajuda aos Jovens Empresários, sendo que este 100 critério com valorização nos 3 factores 75 critério com valorização em 2 factores 50 critério com valorização em 1 dos factores 0 critério sem qualquer valor valorado apenas contempla majorações nos sistemas de incentivos “SIPIE e SIME” e que já existiam nos mesmos termos, antes da publicação do PRIME JOVEM, sem fornecer aos associados informações e apoios concretos e que vão de encontro às suas necessidades, dentro do quadro da economia actual. Quanto às associações, talvez seja chegado o momento de fazer o que se propõem nos seus discursos panfletários. A Pontuação Final (PF) do projecto é determinada com base na se- Esta é uma realidade nacional que convoca a necessidade de uma guinte fórmula: postura diferente de seriedade por parte de todos os responsáveis desde os decisores políticos até aos dirigentes associativos no qual PF = 0,40A + 0,30B + 0,30C também me incluo. Temos todos que apostar numa estratégia clara e de acção firme e determinada, alicerçada num quadro de efectiva Dever-se-á destacar que não são elegíveis os projectos que obtenham parceria, sendo indispensável que esta estratégia contenha um pro- pontuação positiva apenas num dos factores. jecto de respostas ao nível da competitividade e da produtividade das O incentivo a conceder, assume a forma de Incentivo não reembolsá- empresas nacionais, nomeadamente nas que a nós nos dizem res- vel à taxa de 40% e até ao limite máximo de 40.000 euros por projecto. peito - as empresas dos Jovens Empresários. Conforme anteriormente mencionado, trata-se do único sistema de incentivos pensado de forma a ajudar as empresas no processo de internacionalização e de expansão das suas marcas, produtos ou serviços. No entanto, por si só não chega e também aqui à semelhança do que se passa na quase totalidade dos sistemas de incentivos do PRIME, as empresas dos Jovens Empresários não foram descriminadas posi- BRILHO _ MAIO 2006 * Comissão Executiva da Anje | Lisboa e Vale do Tejo [email protected]