Vidas valiosas: Mais um momento para nos recordarmos do que foram para as nossas próprias vidas Elogio Fúnebre de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República de Moçambique, na cerimónia ecuménica em memória do acidente aéreo de 29 de Novembro. Maputo, 18 de Dezembro de 2013 1 Há momentos na vida em que nos deveríamos calar e deixar que o eco do silêncio falasse ao coração, pois há sentimentos que a linguagem não pode expressar, cabalmente, e há emoções que as palavras não conseguem transmitir na íntegra, o seu verdadeiro significado. No dia 29 de Novembro passado, a Nação Moçambicana e outros países, nossos amigos, foram colhidos, com incredulidade, pela triste notícia do despenhamento, em território namíbio, da aeronave da nossa companhia de bandeira, as Linhas Aéreas de Moçambique, que fazia o voo Maputo-Luanda. Desde o momento que o Governo tomou conhecimento desta trágica ocorrência organizou-se para, de maneira permanente, acompanhar todas as acções tendentes a esclarecer as causas deste acidente e prestar o necessário apoio às famílias afectadas. O Conselho de Ministros tem-se debruçado, desde então, sobre esta ocorrência, nas suas sessões ordinárias, tendo igualmente realizado, até agora, uma extraordinária na qual decidiu pela criação de duas comissões de trabalho: uma para se juntar à equipa internacional de inquérito, liderada pela Namíbia, por ser o País onde ocorreu o acidente. Uma segunda equipa, chefiada pelo Ministro dos Transportes e Comunicações, para acompanhar as acções de apoio moral, emocional e psicológico às famílias das vítimas do acidente. O Governo, como um todo, encarou esta perda como uma verdadeira tragédia nacional. Ministros e Vice-ministros desdobraram-se em visitas às famílias afectadas, levando com eles a solidariedade de todo o nosso Povo e de outros povos de outros quadrantes do planeta. 2 O nosso desejo era o de que a homenagem aos nossos entes queridos se processasse na presença dos seus restos mortais. Vários especialistas em medicina forense foram enviados pelo Governo para apoiar uma vasta equipa internacional que trabalha na identificação das vítimas do acidente, de acordo com procedimentos científicos, regulados por normas internacionais. Na verdade, dada a natureza atípica do acidente, o reconhecimento dos restos mortais dos nossos entes queridos não poderia ser feito pelo método presencial dos parentes. Os danos causados requerem um delicado, sensível e paciente processo de identificação, usando técnicas e procedimentos que demandam a presença de cientistas e especialistas na matéria. Esse processo de identificação há-de ser, necessariamente, demorado. Mais algumas semanas poderão ainda ser necessárias para se concluir todo o exercício, incluindo a respectiva validação pelas instâncias judiciárias da Namíbia. Para homenagear as vítimas deste fatídico acontecimento, o Governo decretou Luto Nacional de três dias. Esta é uma das formas de reconhecimento de que estes nossos compatriotas e estrangeiros que viajavam na mesma aeronave partiram precocemente, quando muito ainda tinham por dar ao País e ao mundo. 3 Caros Compatriotas A morte, embora certa, é sempre um evento imprevisível e que nos deixa pesarosos e nos enche de pranto, pois representa o apartar, do nosso convívio, dos nossos entes queridos: v aqueles que mais gostávamos e admirávamos; v aqueles de quem nos sentíamos muito próximos; v aqueles que considerávamos como parte de nós próprios. Se pudéssemos prever a morte: v no dia; v na hora; e v no minuto, talvez nos prepararíamos para a receber e para saber o que fazer e dizer e, sobretudo, para encontrar antídotos para mitigar a mágoa e a desolação que ela gera. Todavia, a morte não é previsível. É o que aconteceu naquele fatídico dia 29 de Novembro. Imprevisível, a morte veio e consigo levou pessoas que nos eram queridas, pessoas que nos eram próximas, entes queridos nossos com quem, não fazia muito tempo, tínhamos: v partilhado sorrisos; v trocado mensagens; e v firmado a esperança de um novo encontro. Este é um momento de muita tristeza. Este é um momento de muita dor e consternação. 4 Estamos todos aqui reunidos para prestar a nossa singela homenagem a todos esses nossos entes queridos. Estamos aqui reunidos para recordar o que cada uma destas preciosas vidas representou para as nossas próprias vidas. Viemo-nos juntar num abraço muito forte para que todos aqueles que foram directamente afectados por esta tragédia sintam, uma vez mais, que não estão sós na sua perda irreparável. v Viemos recordar as coisas boas que fizeram para cada um de nós. v Viemos exaltar os valores nobres que guiaram as suas vidas; v Viemos contemplar as obras belas que construíram; v Viemos rever como os sorrisos, perguntas inocentes e vozes infantis enriqueciam as nossas vidas e enchiam os nossos dias com novidades agradáveis. Convergirmos para este local para que, no conforto que geramos, juntos, tentarmo-nos esquecer, por momentos, da tristeza que é causada pela consciência de deixar de contar com a amizade, o sorriso e o carinho desses nossos entes queridos. Convergimos para este local tendo em vista amainar a dor de quem sente a ausência permanente daqueles gestos infantis que representavam fonte de alegria e de esperança e que se constituíam em mais uma flor no jardim das nossas vidas. Esta homenagem pode-nos fazer menos tristes por instantes. Porém, não pode preencher o vazio que a partida, sem regresso, destes nossos 5 familiares criou no nosso seio. Na verdade, com este infausto acontecimento, perdemos para todo o sempre cidadãos de quem ainda muito se podia esperar no apoio multidimensional às suas famílias, e na afirmação dos seus próprios países. Numa altura em que os sentimentos são mais fortes do que todas as palavras, reiteramos que esta é a altura de nos refazermos das nossas fraquezas, para nos protegermos da resignação, perante tão devastadora perda. Deste modo, poderemos superar, de forma digna e íntegra, este momento dramático nas nossas vidas. Minhas Senhoras e Meus Senhores, O Governo continuará a acompanhar, com muita atenção, e a participar nas acções em curso para o esclarecimento das causas deste terrível acidente. As indicações existentes apontam para o facto deste exercício ter atingido uma fase decisiva. Neste contexto, recebemos garantias de que o relatório preliminar poderá ser concluído dentro dos prazos preconizados pela Organização da Aviação Civil Internacional. O nosso objectivo é o de que as causas na origem do despenhamento da aeronave das Linhas Aéreas de Moçambique sejam conhecidas pelas famílias das vítimas, por todo o nosso Povo e pelo resto da Comunidade Internacional. Reiteramos a nossa mensagem de solidariedade para com os familiares das vítimas deste fatídico acidente. Paz à sua alma! 6