RELAÇÃO DE FATORES AMBIENTAIS E ANTRÓPICOS NA OCORRÊNCIA DE DESLIZAMENTOS NO MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS – MA, BRASIL H. de M. Almeida1, C. H. L. Silva Junior2, F. B. Silva3, A. T. G. Freire4, J. J. Mendes5 Abstract Landslides are considered modelers natural processes of the landscape and can be the result of natural processes or human activity. This study aimed to analyze the relationship between environmental and anthropogenic factors with the occurrence of slip in São Luís In the methodology adopted to compare the spatial distribution of risk in the study area with environmental and anthropogenic factors. The results obtained showed that factors such as soil, geology and slope are only part of a complex system that triggers the occurrence of landslides. The amount of occurrence is not related to the areas of greatest slope or less susceptible to the type of soil in relation to frailty, however, the population density has shown that the amount of slip and the occurrences are directly linked to the amount of homes per square mile, along with determining the occurrence of slip in São Luís. Index Terms Slip risk, Density, Geostatistics. INTRODUÇÃO Nas últimas décadas ouve um intenso processo de urbanização da população brasileira. O último senso populacional mostrou que 84% (160.925.804 de habitantes) da população brasileira vivem em áreas urbanas. No Estado do Maranhão cerca de 63% (4.147.149 de habitantes) da população vive em áreas urbanas [1]. O município de São Luís no ano de 2010 apresentava uma população total de 1.014.837 de habitantes, com cerca de 94,5% (958.522 de habitantes) da população vivendo em áreas urbanas [1]. Em 2013 a população foi estimada pelo IBGE em 1.053.919 de habitantes tendo ainda sua grande maioria morando em áreas urbanas [2]. A concentração da população nos grandes centros urbanos não tem sido acompanhada de programas governamentais eficientes para o ordenamento do uso e ocupação do solo. Isso tem levado, principalmente, a população mais carente a ocupar áreas naturalmente inadequadas ou, suscetíveis a riscos naturais e que são ocupadas sem os mínimos preceitos técnicos [3]. Os desastres naturais tiveram um impacto significativo na sociedade brasileira. Em 2012 oficialmente foi relatada a ocorrência de 376 desastres naturais, nos quais causaram 93 óbitos e afetaram cerca de 16.977.614 pessoas. Desse total, cerca de 26 óbitos foram causados por movimentos de massa onde cerca de 123.555 pessoas foram afetadas. Dos desastres que causaram mortes à população brasileira os movimentos de massa corresponderam por cerca de 27,96% dos óbitos [4]. Os deslizamentos podem ser considerados como processos naturais modeladores da paisagem, sendo que, mais frequente nas regiões montanhosas e podem ser consequência de outros processos naturais como, por exemplo os tornados, chuvas intensas sismos ou atividade antrópica [5]. Esses fenômenos são considerados desastrosos apenas quando afetam a vida e/ou os bens materiais de uma sociedade. Nesse sentido, a análise da relação dos fatores ambientais e antrópicos na ocorrência de deslizamentos fatores é importante para se entender esses fatores e possibilitar a gestão da ocupação territorial com o objetivo de minimizar o comprometimento de vidas e/ou de bens materiais. O presente trabalho teve o objetivo de analisar as relações entre os fatores ambientais (solos, geologia e declividade) e antrópicos (adensamento populacional) com as ocorrências de deslizamento no município de São Luís – MA, Brasil. MATERIAIS E MÉTODOS Área de Estudo Segundo o [1], São Luís é um município e a capital do estado do Maranhão, no Brasil. localizado a 02° 31' 48" S e 44° 18' 10"W entre as Baias de São José e São Marcos no litoral Atlântico Brasileiro. Fundada no dia 8 de setembro de 1 Heverton de Moura Almeida, Estudante do Curso de Engenharia Ambiental na Universidade CEUMA - UniCEUMA, Rua Josué Montello, 1, Renascença II, 65.075-120, São Luís, MA, Brasil, [email protected] 2 Celso Henrique Leite Silva Junior, Voluntário do Programa de Iniciação Científica do Curso de Engenharia Ambiental na Universidade CEUMA UniCEUMA, Rua Josué Montello, 1, Renascença II, 65.075-120, São Luís, MA, Brasil, [email protected] 3 Fabrício Brito Silva, Doutor em Sensoriamento Remoto – INPE e Professor Titular das disciplinas de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento Aplicado do Curso de Engenharia Ambiental na Universidade CEUMA - UniCEUMA, Rua Josué Montello, 1, Renascença II, 65.075-120, São Luís, MA, Brasil, [email protected] 4 Ana Talita Galvão Freire, Voluntária do Programa de Iniciação Científica do Curso de Engenharia Ambiental na Universidade CEUMA - UniCEUMA, Rua Josué Montello, 1, Renascença II, 65.075-120, São Luís, MA, Brasil, [email protected] 5 Jonas Jansen Mendes, Voluntário do Programa de Iniciação Científica do Curso de Engenharia Ambiental na Universidade CEUMA - UniCEUMA, Rua Josué Montello, 1, Renascença II, 65.075-120, São Luís, MA, Brasil, [email protected] © 2014 COPEC July 20 - 23, 2014, Cubatão, BRAZIL XIV Safety, Health and Environment World Congress 126 1612, tem sua área correspondente a 827,1 km², com temperatura média na casa dos 23°C com clima tropical do modelo AWH, com ventos a NE sempre na média de 23Km/h (Figura 1). Está integrada na Mesorregião Norte Maranhense, pertencendo a Microrregião com seu próprio nome e na mesma Região Metropolitana, existindo como municípios limítrofes Paço do Lumiar, São José de Ribamar, Raposa, Alcântara e Bacabeira. Tem uma população de aproximadamente 1.053. 919 habitantes com uma densidade de 1.274 habitantes/km². As áreas em tons de azul correspondem a áreas onde não tiveram ocorrência de deslizamento, enquanto que as áreas em tons de vermelho, são críticas e concentram a maior quantidade de ocorrência de deslizamentos. É possível observar que a região central do município bem como os extremos oeste e leste da cidade são caracterizadas pelo maior quantidade de ocorrências de deslizamentos, que compreendem os bairros do Coroadinho, Bom Jesus, Vila Embratel e Anjo da Guarda. Ainda na Figura 2 onde também estar apresentada a distribuição da declividade na área de estudo é possível observar que as áreas onde está o maior número de ocorrência, não necessariamente está associado às maiores declividades, mesmo que áreas mais íngremes facilitem a ocorrência de deslizamentos, [10] confirma isso quando diz que a “declividade favorece o rápido deslocamento de massas de solo e blocos de rocha ao longo das encostas pelo efeito da gravidade. Entretanto, nem sempre o maior número de movimentos ocorre nas áreas mais íngremes”. FIGURA. 1 MAPA DE DISTRIBUIÇÃO DOS DESLIZAMENTOS E DA DECLIVIDADE, FONTE: [8] FIGURA. 2 MAPA DE LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS – MA Metodologia Os procedimentos metodológicos desenvolvidos consistirão na coleta de dados ambientais georreferenciados, espacialização dos dados relativos ao risco a deslizamento utilizando geoestatística e implementação em um sistema de informações geográficas para o cruzamento dos dados. Todos os procedimentos foram realizados utilizando as ferramentas do Software Quantum GIS 2.0 [6]. Os dados utilizados (geologia, solos, declividade e adensamento populacional) em escala de 1/250.000 foram obtidos de [7], [8] e [9]. A metodologia completa e detalhada pode ser encontrada no trabalho monográfico “Percepção ambiental na caracterização de áreas de risco no município São Luís – MA” [9]. A Figura 3 apresenta a distribuição das formações geológica e sua relação com as ocorrências de deslizamentos. A maior quantidade de ocorrência são diretamente relacionas ao Grupo Barreiras e Depósitos de Pântanos e Mangues Holocênicos. Segundo [11] o Grupo Barreiras constitui uma cobertura sedimentar terrígena continental, de idade pliocênica, depositada por sistemas fluviais entrelaçados associados a leques aluviais, e do ponto de vista geológico são estruturas frágeis e bem suscetíveis a perturbações ambientais. RESULTADOS E DISCUSSÕES A Figura 2 apresenta o resultado da distribuição espacial das ocorrências de deslizamentos no município de São Luís. © 2014 COPEC July 20 - 23, 2014, Cubatão, BRAZIL XIV Safety, Health and Environment World Congress 127 FIGURA. 3 FIGURA. 5 MAPA DE GEOLOGIA, FONTE: [9] E [7] MAPA DO ADENSAMENTO POPULACIONAL, FONTE: [9] A Figura 4 mostra a comparação entre as ocorrências e os tipos de solos existentes. Os solos com maior ocorrência de deslizamentos são os Latossolo Amarelos mesmos estes sendo menos suscetíveis estruturalmente a ocorrência de deslizamentos, [12] relata que os Latossolo de um modo geral, apresentam reduzida suscetibilidade à erosão pois apresentam boa permeabilidade e drenagem e pouca diferenciação no teor de argila que são característica que confere boa estabilidade aos solos. Registro de Campo As Figuras 6 à 8 apresentam os registros feitos em campo das áreas de maior ocorrência de deslizamentos. FIGURA. 6 MORRO DO ZÉ BOMBOM, COROADINHO FIGURA. 4 MAPA DE SOLOS, FONTE: [7] Em relação ao adensamento populacional (Figura 4) que está diretamente ligado a ocupação do solo e a degradação da vegetação, é possível observar que as áreas de maior ocorrência correspondem às áreas onde se tem um maior número de ocupações por quilômetro quadrado, variando de 250 a mais de 500 habitantes/Km2. Essas áreas geralmente existem residências construídas sem qualquer conceito técnico o que induz a maior ocorrência de deslizamentos. Segundo [13] o processo de expansão urbana e a falta de condições de infraestrutura de moradias ocupando áreas consideradas como áreas de risco, podem ser associados a vários fatores, que vão desde o aumento populacional e a falta de condições econômicas das pessoas para aquisição de imóveis e terrenos em locais adequados, até a carência de políticas públicas de planejamentos nas cidades e suas periferias. FIGURA. 7 CASAS CONSTRUÍDAS EM LOCAL INAPROPRIADO, REGIÃO I TAQUI BACANGA © 2014 COPEC July 20 - 23, 2014, Cubatão, BRAZIL XIV Safety, Health and Environment World Congress 128 [3] Pfaltzgraff, P., A. Mapa de suscetibilidade a deslizamentos na região metropolitana do Recife (Tese de Doutorado). Universidade Federal Paulista, 2007. 3 [4] MIN – Ministério da Integração Nacional. Anuário brasileiro de desastres naturais: 2012. 2 ed. Brasília: Centro Nacional de Gerenciamento de Desastres Naturais, 2013. [5] Muñoz, V. A. Análise comparativa de técnicas de inferência espacial para identificação de unidades de suscetibilidade aos movimentos de massa na região de São Sebastião, São Paulo, Brasil (Monografia de Especialização). Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2005. [6] COMUNIDADE QGIS – Comunidade Quantum GIS. QGIS User Guide. Disponível em <http://www.qgis.org/pt_PT/docs/user_manual/index.html>. Acesso em: 17 dez. 2013. [7] IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. GeoNetwork: portal para informações e dados espaciais do IBGE. Disponível em: <http://www.metadados.geo.ibge.gov.br>. Acesso em: 13 nov. 2013. CONCLUSÕES [8] Valeriano, M. de, M. TOPODATA: guia para utilização dos dados geomorfológicos locais. INPE, 2008. Os resultados obtidos no presente trabalho são de grade importância para entender a dinâmica das ocorrências de deslizamento em São Luís, município que é extremamente carente de estudos relacionados a desastres naturais que possam vir a dar subsidio na gestão desses fenômenos. Os resultados alcançados mostraram que fatores como solo, geologia declividade são somente parte de um sistema complexo que desencadeia a ocorrência de deslizamentos. Os resultados apontaram que a quantidade de ocorrência não está relacionada às áreas de maiores declividade ou ao tipo de solo menos suscetível em relação a fragilidade. É importante ressaltar à grande ocorrência de deslizamentos em áreas de formação geológica do Grupo Barreiras, que é um componente ambiental bastante suscetível a deslizamentos. O adensamento populacional analisado demostrou que a quantidade e as ocorrências de deslizamento estão diretamente ligados à quantidade de residências por quilômetros quadrados, sendo juntamente com fatores externos como a precipitação o principal fator determinante da ocorrência de deslizamento no município de São Luís. Dessa maneira é necessária a gestão junto dessas comunidades expostas ao risco de deslizamento por parte dos entes federais, estaduais e municipais onde couber a atribuição de cada um. Com os dados aqui obtidos, uma vez que estudos semelhantes não foram realizados para a área de estudo, o presente trabalho fornece dados importantes para auxiliar na gestão desse fenômeno por parte dos órgãos competentes. [9] Almeida, H. de M. Percepção ambiental na caracterização de áreas de risco no município São Luís – MA (Monografia de Graduação). Universidade CEUMA, 2013. FIGURA. 8 CONSTRUÇÃO EM LOCAL INAPROPRIADO, REGIÃO ITAQUI BACANGA [10] Dias, F. P.; Herrmann, M. L. de P. Análise da suscetibilidade a deslizamentos no bairro saco grande, Florianópolis – SC. Revista Universidade Rural, Série Ciências Exatas e da Terra, Vol. 21, 2002, No. 1, pp. 91-104. [11] Vilas Boas, G. da S. O grupo barreiras na região nordeste do estado da Bahia: estratigrafia, sedimentologia e geologia ambiental – um modelo de gestão. Disponível em: <http://www.cpgg.ufba.br/lec/Barreiras.htm>. Acesso em: 12 jun. 2013. [12] Vitte, A. C.; Mello, J. P. Determinação da fragilidade ambiental na bacia do rio verde, região nordeste do estado de São Paulo, Brasil. Revista Territorium, n. 16, p. 79-98, 2008. [13] Cristo, S. S. V. de. Análise de Suscetibilidade a riscos naturais relacionados a enchentes e deslizamentos do setor leste da bacia hidrográfica do Rio Itacorubi, Florianópolis – SC (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina, 2002. REFERÊNCIAS [1] IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 20 dez. 2013. [2] BRASIL. Diário Oficial da União - n° 167, quita feira, 29 de agosto de 2013. Disponível em: < http://www.portal.in.gov.br>. Acesso em: 19 dez. 2013. © 2014 COPEC July 20 - 23, 2014, Cubatão, BRAZIL XIV Safety, Health and Environment World Congress 129