Departamento de Geologia Paleozóico? Helena Couto*, *** & Alexandre Lourenço**,*** *Professora Associada do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto **Reitoria da Universidade do Porto ***Investigador do Centro de Geologia da Universidade do Porto 2008 Considerações teóricas Todos nós ouvimos diariamente, falar nas alterações climáticas que estão a ocorrer no nosso planeta. Diversas alterações climáticas têm ocorrido ao longo da história geológica da Terra. Um percurso na região de Valongo e Gondomar permitirá perceber através da observação das rochas que variadas alterações climáticas ocorreram na Era Paleozóica (entre 540-300 milhões de anos – M.a.), neste caso sem intervenção do Homem, mas que afectaram significativamente algumas formas de vida que existiam nessa Era geológica. A movimentação dos continentes e acontecimentos, sucessão de ambientes de sedimentação, acontecimentos catastróficos como o impacto de meteoritos ou a ocorrência de glaciações são fenómenos naturais que condicionaram a evolução da vida no nosso planeta. Durante a era Paleozóica ocorreram várias extinções em massa entre as quais se encontram as mais drásticas da História da Terra, nomeadamente a extinção que ocorreu no final do Ordovícico em que desapareceram cerca de 50% das espécies marinhas e a do final do Pérmico em que se extinguiram 90% dos organismos marinhos. No quadro que se segue referem-se as várias extinções, os organismos por elas afectados, assim como as causas prováveis. Extinções em massa no Paleozóico ● Final do Câmbrico • • Desaparecimento de 40-45% das espécies Afectou trilobites Causas Glaciação Variações eustáticas (nível do mar) Final do Ordovícico • Desaparecimento de 50% das espécies marinhas • Afectou trilobites, graptólitos, corais tabulados, crinóides, cistóides e braquiópodes Causas Glaciação com consequente abaixamento do nível do mar ● Final do Devónico Desaparecimento de 40-45% das espécies 70% dos invertebrados marinhos Afectou alguns peixes, (provocando o desaparecimento dos placodermes e agnatas) e 70% dos invertebrados marinhos (extingiu cistóides e carpóides, afectou corais, trilobites, briozoários, braquiópodes e equinodermes) • • • Causas Múltiplos impactos meteoríticos – vários níveis com microtectitos Grande glaciação com diminuição do domínio marinho (regressão) ● Final do Pérmico • Desaparecimento de 60% das espécies • Desaparecimento de 90% de organismos marinhos • Extinção: foraminíferos fusulinídeos, trilobites, blastóides, alguns crinóides, corais rugosos e tabulados e alguns braquiópodes • Afectou: amonóides, briozoários e répteis Causas Formação da Pangeia Grande regressão marinha Vulcanismo - enormes escoadas de lava na Sibéria O percurso Geológico A nossa visita terá início no Centro Interpretativo da Parque Paleozóico de Valongo onde será dada a conhecer a Geologia da região de Valongo através de uma exposição permanente de fósseis do Paleozóico da região acompanhada de um informação sumária, através de posters pedagógicos em que são focados alguns dos episódios mais importantes da história geológica de Valongo e Gondomar, relacionando a tectónica de placas com a diversidade de ambientes geológicos (ambientes continentais, ambientes marinhos), a presença de tsunamis e glaciares, a evolução da vida, etc. Dada a enorme riqueza de recursos minerais na região (principalmente ouro e antimónio), existe igualmente uma pequena mostra de minérios assim como informação sobre as mineralizações e sobre a exploração do ouro pelos Romanos, que ocorreu na região entre o séc. I e III d.C.. Existe ainda um bloco-diagrama representativo da geologia e geomorfologia actual da região e sua evolução através dos tempos geológicos, uma lupa binocular para observação de amostras de fósseis e minerais e fichas com a sua identificação. O Parque Paleozóico de Valongo, inaugurado em 1998, é o resultado do trabalho de parceria entre a Câmara Municipal de Valongo e a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, através do Centro de Geologia da Universidade do Porto. Seguir-se-á um percurso no campo em que serão observados alguns afloramentos do Paleozóico que nos permitem conhecer um pouco sobre alterações climáticas que ocorreram ao longo desta Era. O Ordovícico foi um período em que ocorreram alterações climáticas significativas. Os designados “Pelitos com fragmentos”, rochas do Ordovícico superior que ocorrem na Europa e no Norte de África são testemunhos de uma grande glaciação que ocorreu há cerca de 445 M.a.. Correspondem a uma sequência glacio-marinha constituída por uma matriz fina dominante com clastos dispersos de dimensões e litologias variadas. Pensa-se que se formaram a partir de sedimentos transportados por icebergs provenientes de uma grande massa de gelo que cobria o Norte de África, e se depositaram na plataforma continental, estando o continente africano junto à Península Ibérica, nessa altura. O nível de base do mar no Silúrico atingiu níveis superiores a o nível de base actual devido ao degelo dos glaciares. Este facto provocou alterações climáticas que permitiram a algumas espécies recuperar da grande extinção do final do Ordovícico. No Carbonífero o mar recuara já para W na região de Valongo e Gondomar sendo a paisagem dominada por lagos com zonas pantanosas e rios, instalados numa região montanhosa. A Península Ibérica localizava-se nessa altura ao nível do Equador desenvolvendo- se florestas densas com árvores de grande porte em clima quente e húmido. Esta vegetação veio a dar origem ao carvão que foi explorado nas minas de S. Pedro da Cova e do Pejão. Referências bibliográficas Couto, H. ,1993. As mineralizações de Sb-Au da região Dúrico-Beirã. 2 Vols. (Vol. Texto; Vol. Anexos: 32 Estampas e 7 Mapas). 607pp. Faculdade de Ciências do Porto. (Tese de doutoramento). Couto, H. , Gutiérrez-Marco, J. C. & Roger, G., 1999. Níveis fosfatados com lingulídeos do arenigiano (Ordovícico) do Anticlinal de Valongo (Portugal). Temas Geológico-Mineros ITGE, vol. 26, Madrid 1999, 546-548. Couto, H. 2005. Parque Paleozóico de Valongo. Preservar porquê e para quê? In: Conservar para quê?, Vítor Oliveira Jorge (coord.), pp.199-211. Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Departamento de Ciências e Técnicas do Património. Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto (Fundação para a Ciência e Tecnologia). Romano, M. & Diggens, J. N., 1974. 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