ANAIS AFINAL, O QUE É ALINHAMENTO ESTRATÉGICO? WALTER CARDOSO SÁTYRO ( [email protected] ) UNIP - Universidade Paulista JOSÉ CELSO CONTADOR ( [email protected] ) UNIP - Universidade Paulista ADEMIR ANTONIO FERREIRA ( [email protected] ) UNIP - Universidade Paulista RESUMO O objetivo do estudo aqui relatado foi analisar as abordagens de diferentes pesquisadores sobre conceitos de alinhamento estratégico. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, usando a base de periódicos EBSCO, desde 1960 até 2013, de modo a obter um quadro de referência sobre as mudanças no foco, na abrangência e nos desdobramentos do conceito. Constatou-se que várias expressões foram criadas por renomados pesquisadores e que não existe uma clara delimitação de conceitos sobre alinhamento estratégico, alinhamento de estratégias, fit strategy, alinhamento da estrutura e outras expressões usuais. Chegou-se ao final a uma taxonomia que permite ao leitor situar os vários conceitos de alinhamento estratégico. Palavras-chave: Alinhamento, estratégia, estrutura, contingência, coalinhamento, ajuste, consistência, congruência, taxonomia. 1. INTRODUÇÃO O título deste artigo – Afinal, o que é alinhamento estratégico? – evidencia o objetivo do estudo aqui relatado, qual seja tentar entender as diversas abordagens que podem ser consideradas como alinhamento estratégico. Na opinião dos autores, o estudo chegou a bom termo, pois identificou sete expressões que podem integrar um conceito ampliado e abrangente de alinhamento estratégico, que resulta uma taxonomia: alinhamento da estrutura (structure alignment), contingência estratégica (strategic contingency), coalinhamento estratégico (strategic coalignment), ajuste estratégico (strategic fit), consistência estratégica (strategic consistency), modelo de congruência (congruence model) e alinhamento de estratégias (alignment). Neste artigo, o conceito inicial de alinhamento estratégico (strategic alignment), aquele oriundo do consagrado trabalho de Chandler (1966), publicado originalmente em 1962, será denominado alinhamento de estrutura. Com o decorrer do crescimento da indústria, principalmente nos EUA, as empresas passaram a publicar as suas histórias, como um meio de divulgação do seu trabalho e 1/17 ANAIS crescimento ao longo do tempo. Esses escritos constituíram-se então em importante fonte do conhecimento da história das empresas, aproveitado para a pesquisa dos interessados na descoberta de novos conceitos e suas aplicações práticas. Dessa literatura podiam os pesquisadores estabelecer novas bases e campos de pesquisas. Nessa linha, destaca-se para o tema deste artigo a pesquisa de Alfred Dupont Chandler Junior (1966) sobre a história comparada de empresas industriais. Apesar de Chandler não ter usado a expressão alinhamento estratégico, há consenso entre os pesquisadores que foi o seu estudo sobre as relações entre estrutura e estratégia o pioneiro nesse campo de pesquisa que tem assumido destacada importância, estudo que consagrou a expressão: “a estrutura segue a estratégia”. Alguns autores citados neste artigo discordam dessa conclusão e outros dão diferentes significados à expressão alinhamento estratégico, como será visto. Entretanto, o importante foi que Chandler trouxe à discussão o conceito de alinhamento estratégico, em que a estrutura (nos seus mais variados aspectos) e a estratégia devem estar alinhadas dentro de uma organização para que ela possa agir sinergicamente rumo aos seus objetivos. O objetivo da pesquisa relatada neste artigo foi o de elaborar uma taxonomia de alinhamento estratégico. Para alcançá-lo, foi necessário identificar as diferentes formas e entendimentos usados na academia sobre o que é alinhamento estratégico, para o que se realizou uma pesquisa bibliográfica na base de periódicos EBSCO em artigos científicos publicados em inglês, no período de 1960 a 2013, com busca no campo do resumo. Dessa forma, as contribuições deste trabalho consistem em criar uma taxonomia de alinhamento estratégico e dar o conceito e a definição de sete expressões, encontradas nas publicações acadêmicas eletrônicas, a respeito de alinhamento estratégico, conforme tratado por seus vários autores, o que facilitará estudos futuros nessa área de pesquisa. Muitos trabalhos abordam estratégia sob os mais diversos prismas. Uma parte deles procura responder à pergunta: como integrar e harmonizar as estratégias para que todos dentro de uma organização possam ter uma única direção, não gerando conflitos que venham a dificultar a sua implantação? São diversificados os tratamentos dados pelos autores para a resposta a esta pergunta – cada um tratando de um aspecto, o que dificulta o estabelecimento do conceito de alinhamento estratégico. Vejam-se os seguintes exemplos. De acordo com Lorsch e Allen (1973), é preciso alinhar o sistema de controle da organização, defendendo assim um alinhamento entre o sistema de controle da empresa e sua estratégia. Ford e Slocum (1977) fazem estudos ligando a estrutura organizacional e a incerteza do ambiente, usando o processamento de informações como uma variável para este alinhamento. Hall e Saias (1980) invertem a proposta de Chandler, afirmando que a estratégia é que deve seguir a estrutura. Segundo Jemison (1981), o processo do alinhamento estratégico envolve duas funções: 1) combinar as competências da organização com as demandas do ambiente; e 2) conciliar a estruturas e processos internos. Já Venkatraman e Prescott (1990) trazem o paradigma da estratégia como uma atividade que deve direcionar o estabelecimento do alinhamento entre a organização e o ambiente. Henderson e Venkatraman (1993) tratam o alinhamento como a relação entre os componentes internos e externos à organização. Por sua vez, Youndt, Snell, Dean e Lepak (1996) abordam o alinhamento baseado na hierarquia: corporação, negócios e função, hierarquia também adotada por outros autores, enquanto Kathuria e Davis (2001) analisam o alinhamento pela perspectiva de tarefas, políticas e 2/17 ANAIS práticas da organização. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010, p. 54) mencionam uma “administração sábia” ao tratar de alinhamento. Como visto, os autores tratam de alinhamento sob as mais diversas óticas, o que dificulta comparações e uma possível unificação para melhor entendimento e análise. 2 METODOLOGIA A pesquisa que embasa este artigo é de caráter descritivo, na qual se buscou pesquisar o que a academia define por alinhamento estratégico a partir de uma pesquisa bibliográfica. Os procedimentos utilizados para a coleta de dados são tratados a seguir. 2.1 Coleta de dados Utilizou-se a base de periódicos EBSCO, consultando artigos científicos eletrônicos publicados em inglês. Quando essa base de periódicos não continha um trabalho procurado, recorria-se à base de periódicos ProQuest. Iniciou-se a pesquisa identificando 14 artigos publicados de 2010 a 2013, com o termo strategic alignment (alinhamento estratégico) no campo resumo, usando-se a relevância como mecanismo de ordenação dos resultados. Cada artigo disponibilizado integralmente era então analisado. Desse processo, identificaram-se sete expressões usadas mais frequentemente pela academia sobre alinhamento estratégico, que são: alinhamento da estrutura (structure alignment), contingência estratégica (strategic contingency), coalinhamento estratégico (strategic coalignment), ajuste estratégico (strategic fit), consistência estratégica (strategic consistency), modelo de congruência (congruence model) e alinhamento de estratégias (strategy alignment). Tomou-se o cuidado de realizar a pesquisa com as expressões apostas entre aspas, a fim de trazerem o termo todo, e não fragmentos do mesmo, o que poderia provocar um viés e a impossibilidade de uma análise mais acurada. O período da pesquisa foi de 1962 a 2013. Contudo, não se pesquisou em toda essa extensão de tempo. A pesquisa para cada termo de busca começou pelos artigos mais recentes, nos quais as referências eram analisadas, e, a partir daí, buscou-se as mais antigas para encontrar a fonte na qual o termo teria sido tratado inicialmente. Uma vez identificado o artigo mais antigo, a sua conceituação e seu modelo de alinhamento eram transcritos e partiase novamente para os artigos mais recentes onde o modelo fosse usado empiricamente a fim de averiguar sua utilização prática. Deu-se preferência para artigos eletrônicos com extensão .pdf, porém não se pôde furtar da utilização de artigos em .htm e de livros eletrônicos quando disponibilizados livremente, pelo menos em partes, pelo Google Books. O único livro impresso que foi acessado foi a 3ª edição do livro de Alfred D. Chandler, datada de 1966, intitulado Strategy and Structure: Chapters in the History of the Industrial Enterprise (CHANDLER, 1966), e alguns números da RAUSP - Revista de Administração da Universidade de São Paulo (USP). Neste artigo, antes da abordagem de cada termo, são apresentadas estatísticas baseadas na base EBSCO nos campos: título, resumo e palavras-chave. Como algumas expressões produziam poucos resultados no título e nas palavras-chave, adotou-se seguir o trabalho baseado sempre no campo resumo. Foi adotada a busca em inglês, como estratégia de pesquisa, visando a chegar aos autores que teriam dado origem ao termo de busca. 2.2 Limitações do método 3/17 ANAIS Uma limitação do método adotado foi a restrição de acesso a algumas publicações eletrônicas, tanto na base EBSCO quanto na ProQuest, em função da assinatura entre a base de dados e a instituição de ensino, assim como não foram acessados artigos científicos eletrônicos disponibilizados mediante pagamento de taxas. Autores que divulgaram os seus trabalhos exclusivamente por livros ou outra mídia impressa sobre alinhamento estratégico também não foram objeto da pesquisa. 3 RESULTADOS DA PESQUISA Esta seção dedica-se à apresentação dos resultados da pesquisa bibliográfica realizada, limitada às definições e aos modelos de alinhamento de diversos autores sobre os sete seguintes termos de busca: alinhamento da estrutura (structure alignment), contingência estratégica (strategic contingency), coalinhamento estratégico (strategic coalignment), ajuste estratégico (strategic fit), consistência estratégica (strategic consistency), modelo de congruência (congruence model) e alinhamento de estratégias (strategy alignment). Como mencionado, apesar de Chandler não ter usado a expressão alinhamento estratégico, há consenso entre os pesquisadores que foi o seu estudo sobre as relações entre estrutura e estratégia o pioneiro nesse campo de pesquisa. Descobriu-se na pesquisa bibliográfica realizada que o termo alinhamento estratégico tem significado diversificado, o que não lhe dá um conceito suficientemente preciso para ser tratado academicamente. Por essa razão, neste artigo, o conceito inicial do que viria a ser denominado alinhamento estratégico (strategic alignment), aquele oriundo do consagrado trabalho de Chandler (1966), será denominado alinhamento de estrutura. 3.1 Alinhamento de estrutura Em 1959, Chandler publicou um artigo na revista Business History Review, intitulado “Os primórdios da grande empresa na indústria norte-americana”, no qual analisa as 50 maiores empresas industriais norte-americanas a partir de 1909 tendo por objetivo o exame das grandes empresas industriais daquele país (BELLINGIERI, 2012). Em seu livro de 1962, Strategy and Structure, Chandler faz um estudo de história empresarial, no qual analisa as mudanças que levaram quatro grandes organizações norteamericanas – Du Pont, General Motors, Standard Oil e Sears, Roebuck – a utilizar a estrutura descentralizada multidivisonal. Foi esse livro que consagrou a expressão “a estrutura segue a estratégia”. Importante conhecer o significado de estrutura e de estratégia dado por Chandler (1966), pois muitos acham que, para Chandler, estrutura é simplesmente a estrutura organizacional representada pelo organograma, o que não é verdade. Vejam-se as definições: A estrutura pode ser definida como o desenho da organização por meio do qual a empresa é administrada. Este desenho que pode ser definido formalmente ou informalmente, tendo dois aspectos. Primeiro, ele inclui as linhas de autoridade e comunicação entre os diferentes órgãos administrativos e administradores e, segundo, a informação e dados que fluem através destas linhas de comunicação e autoridade. Essas linhas e esses dados são essenciais para assegurar a efetiva coordenação, avaliação e planejamento tão necessários para conduzir a organização aos seus objetivos básicos e políticas e para entrelaçar os recursos totais da empresa. Estes recursos incluem capital financeiro; equipamentos físicos, como: plantas, equipamentos, escritórios, depósitos e outras facilidades de marketing e compras, fontes de matéria prima, laboratórios de pesquisa e engenharia; e, mais importante de tudo, as habilidades técnicas, de marketing e administrativas de seu pessoal (CHANDLER, 1966, p. 14 – 3ª edição). 4/17 ANAIS A estratégia pode ser definida como a determinação dos objetivos básicos de longo prazo de uma empresa, e a adoção de linhas de ação e alocação dos recursos necessários para o alcance desses objetivos. Decisões para expandir o volume de atividades, abrir novas plantas e escritórios distantes, para mover-se em novas funções econômicas ou diversificar em muitas linhas de negócio envolvem a definição de novos objetivos básicos. Novos cursos de ação devem ser divisados e recursos alocados e realocados para atingir esses objetivos e manter e expandir as atividades da firma em novas áreas em resposta às mudanças de demanda, trocas de fontes de suprimento, flutuações das condições econômicas, desenvolvimento de novas tecnologias e a ação de competidores (CHANDLER, 1966, p. 13 – 3ª edição). Após analisar as quatro empresas citadas, Chandler chegou à conclusão de que a mudança da estrutura organizacional se deu por conta da mudança da estratégia. Como a adoção de uma nova estratégia pode acrescentar novos tipos de pessoal e instalações e alterar os horizontes dos negócios dos homens responsáveis pelo empreendimento, ela (estratégia) pode ter um profundo efeito na forma da organização (CHANDLER, 1966, p. 13-14 – 3ª edição). Foi dessa forma que o estudo de Chandler consagrou a expressão: “a estrutura segue a estratégia”. Outras pesquisas sobre o mesmo tema se seguiram. Duas merecem destaque. A de Hall e Saias (1980) contrariou a conclusão de Chandler ao afirmar que a estratégia é que deve seguir a estrutura, pois, estratégia, estrutura e ambiente estão fortemente relacionados, e, quando se constrói a estrutura de uma empresa, na prática ela limita as escolhas estratégicas que poderão ser feitas, uma vez que a estrutura é determinada pelas características tecnológicas empregadas, pelos mercados a serem atingidos, pela natureza e variações do ambiente e pelo tamanho da organização. A segunda é a de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010), que conclui que tanto a estrutura deve seguir a estratégia quanto a estratégia deve seguir a estrutura, dependendo de cada caso. Não obstante o conceito inicial de alinhamento estratégico (strategic alignment), aquele oriundo do consagrado trabalho de Chandler (1966), ser neste artigo denominado alinhamento de estrutura, a pesquisa iniciou-se com este termo busca “strategic alignment” – alinhamento estratégico, pois assim era tratado pela academia. A Tabela 1 apresenta a quantidade de artigos com o termo de busca “strategic alignment” (alinhamento estratégico) no título, no resumo e nas palavras-chave encontrada na base de periódicos EBSCO. Tabela 1 - Quantidade de artigos científicos eletrônicos contendo a expressão “strategic alignment” Campo 1976/80 1981/85 Título 0 0 Resumo 0 2 Palavra chave 0 0 1986/90 0 1 0 Período 1991/95 96/2000 10 13 14 37 1 4 2001/05 24 74 11 2006/10 47 140 67 2011/13 23 91 36 Subtotal Total 117 359 119 595 Fonte: Base de periódicos EBSCO; elaborado pelos Autores O primeiro trabalho localizado na EBSCO que emprega o termo “strategic alignment” foi o de Jemison (1981), intitulado The Contributions of Administrative Behavior To Strategic Management, o que leva à suposição de ser ele o cunhador da expressão. 5/17 ANAIS Segundo Jemison (1981), a função primária do estrategista é assegurar um bom alinhamento estratégico. O autor aproveita para classificar os pesquisadores que o precederam no desenvolvimento dos conceitos de alinhamento estratégico em dois grupos: os que enfatizavam a melhoria dos processos de tomada de decisão, como Ackoff (1971) e Cosier (1978), e os que enfatizavam a melhoria do projeto da organização (estrutura), como Burns e Stalker (1961) e Chandler (1966). No período de 1991 a 1995, o assunto passou a gerar interesse, sendo os primeiros artigos desta época os seguintes: 1) Understanding strategic alignment, de Henderson e Venkatraman (1991), para quem o alinhamento estratégico envolve duas dimensões: ajuste estratégico e integração funcional. O ajuste estratégico reconhece a necessidade de tanto fazer escolhas que posicionem a firma em um mercado, quanto decidir como melhor estruturar arranjos internos da firma para conseguir esse posicionamento estratégico de mercado em uma integração funcional. Para eles, o processo de gerenciamento estratégico, apesar de ser uma série de eventos, quando agrupados levam a um alinhamento estratégico, desde que consiga garantir, ao longo do tempo, um alinhamento efetivo da tecnologia da informação à estratégia de negócios. 2) Strategic alignment: Managing for sinergy, de Pankratz (1991), no qual sugere que o alinhamento da estratégia, a estrutura de negócios e a tecnologia da informação seriam os conceitos-chave para o gerenciamento nos anos 1990. Os dois seguintes artigos recentes tratam também do alinhamento estratégico, evidenciando que o tema continua atual. Karahanna e Preston (2013) examinam o efeito do capital social no relacionamento entre o Diretor de Informação (CIO em inglês) e a equipe de gerentes de topo (TMT em inglês), e concluem que o alinhamento estratégico da tecnologia da informação influencia significativamente o desempenho financeiro da firma e serve de mediador entre o capital social e o desempenho do CIO e dos TMP. Numa pesquisa com 109 firmas em Taiwan, Huang (2012) analisa o papel do gerente de tecnologia da informação quanto ao alinhamento estratégico, concluindo que quanto mais o gerente de tecnologia da informação envolve-se no planejamento, controle, organização e integração das atividades de tecnologia da informação, mais positivamente ele colabora para o alinhamento organizacional da firma. 3.2 Contingência estratégica (strategic contingency) A Tabela 2 apresenta a quantidade de artigos com o termo de busca “strategic contingency” (contingência estratégica) no título, no resumo e nas palavras-chave encontrada na base de periódicos EBSCO. Tabela 2 - Quantidade de artigos científicos eletrônicos contendo a expressão “strategic contingency” Campo 1976/80 1981/85 Título 0 0 Resumo 0 2 Palavra chave 0 0 1986/90 1 1 0 Período 1991/95 96/2000 1 0 1 3 0 1 Fonte: Base de periódicos EBSCO; elaborado pelos Autores 6/17 2001/05 4 10 2 2006/10 3 9 2 2011/13 1 3 1 Subtotal Total 10 29 6 45 ANAIS Segundo Venkatraman (1990), a teoria da contingência foi desenvolvida por Lawrence, e Lorsch, J. (1967), no livro Organization and environment: managing differentiation and integration. O modelo de contingência estratégica foi desenvolvido por Hickson, Hinings, Less, Schneck e Pennings (1971) e apresentado como o poder intraorganizacional que considera as organizações como sistemas constituídos por departamentos (subunidades) interdependentes, fruto da divisão do trabalho. Um departamento (subunidade) tem controle de uma contingência estratégica se for capaz de controlar as atividades críticas para o funcionamento de outros departamentos. Para tal, há a necessidade da combinação das seguintes variáveis: a) incerteza, o grau em que um departamento consegue cooperar para reduzir a incerteza de outro; b) substituição, a dificuldade de as atividades de um departamento serem realizadas por um departamento alternativo ou sua impossibilidade de substituição; c) centralidade, o fluxo de informação e trabalho entre departamentos, mostrando a interação entre os departamentos e como um departamento pode ser essencial para a atividade dos outros; d) relacionamento entre departamentos e o possível conflito entre competição versus cooperação, e) importância estratégica do departamento, que pode existir pelo controle ou por tradição ou até mesmo pela origem do executivo chefe ou das relações familiares. Uma contingência é definida como a necessidade da atividade de um departamento que é afetada por outro departamento. Quanto mais as contingências são controladas por um departamento, maior o seu poder dentro da organização. Foca assim em fontes estruturais de poder e não se preocupa com os atributos psicológicos dos membros da organização para explicar as diferenças de poder de departamentos, considerando o poder uma variável dependente. O modelo não é estático, ou seja, quando tecnologia, recursos, metas, mercado, ambiente e produtos da organização variam, os padrões de poder dos departamentos também mudam, alterando o establishment anterior. Isto significa para Fry e Smith (1987) que a contingência é um sistema de estados ou situações, nos quais a integridade do sistema é mantida, mas numa condição diferente da que era anteriormente em termos de suas características de valor. Hinings, Hickson, Pennings e Schneck (1974) aplicaram o modelo de contingência de forma empírica em três cervejarias localizadas no Canadá. A pesquisa realizada mostrou que a contingência estratégica foi uma teoria robusta para explicar que 24 entre os 28 departamentos dessas organizações foram reconhecidos como fonte de poder. Saunders e Scamell (1982) utilizaram o modelo em outro estudo, no qual analisaram ocupantes de cargos top management de seis universidades. Concluíram que as variáveis mudam de importância em função do ramo de atividade da organização e que estratégias para alterar uma das variáveis podem, na realidade, provocar a redução do poder do departamento. Brouthers, Gelderman e Arens (2007) combinaram stakeholders e a teoria da contingência estratégica para dar uma explicação de como os proprietários influenciam o desempenho financeiro das firmas. Os resultados indicaram que se o poder de um grupo de stakeholders diminuírem, os objetivos perseguidos por outros stakeholders podem ganhar importância e maior possibilidade de serem atingidos. 3.3 Coalinhamento estratégico (strategic coalignment) 7/17 ANAIS A Tabela 3 apresenta a quantidade de artigos com o termo de busca “strategic coalignment” (coalinhamento estratégico) no título, no resumo e nas palavras-chave encontrada na base de periódicos EBSCO. Tabela 3 - Quantidade de artigos científicos eletrônicos contendo a expressão “strategic coalignment” Campo 1976/80 1981/85 Título 0 0 Resumo 0 0 Palavra chave 0 0 1986/90 5 4 0 Período 1991/95 96/2000 3 2 3 2 1 0 2001/05 1 11 2 2006/10 2 10 2 2011/13 1 3 1 Subtotal Total 14 33 6 53 Fonte: Base de periódicos EBSCO; elaborado pelos Autores Segundo Venkatraman (1990), o conceito foi desenvolvido por James David Thompson em seu livro Organizations in Action: Social Science Bases of Administrative Theory, 1967. Coalinhamento estratégico e estratégia de ajuste (Strategic Fit - que será analisada adiante) são sinônimos (VENKATRAMAN e PRESCOT, 1988; VELIYATH e SRINIVASAN 1995; LUKAS, TAN e HULT, 2001). O coalinhamento estratégico é visto como a consistência interna entre as decisões estratégicas principais ou o alinhamento entre escolhas estratégicas e contingências críticas, representados pelos contextos organizacional ou ambiental (VENKATRAMAN, 1990). Para esse autor, o coalinhamento estratégico é um conjunto de decisões importantes que devem ter consistência interna para o desenvolvimento da estratégia efetiva. A consistência interna refere-se ao alinhamento entre decisões em áreaschaves de operação e funções. Lukas, Tan e Hult (2001) aplicaram o modelo de coalinhamento estratégico em firmas chinesas de equipamentos eletrônicos para testar o modelo em uma economia centralizada. Os resultados indicaram que o coalinhamento entre estratégia e ambiente parece ser evidente. Entrialgo (2002), usando a definição de Venkatraman (1990), analisou a ligação entre as características dos principais gestores com o sucesso da organização. Os resultados indicaram que gestores com experiência em marketing e P&D tendem a ter mais sucesso em comportamentos empreendedores, e gestores com experiência em finanças e produção tendem a ter mais sucesso em comportamentos conservadores. Verdú-Jover, Lloréns-Montes e García-Morales (2006) examinaram 417 firmas do Mercado Comum Europeu para observar os diferentes efeitos no desempenho da organização quando há discrepâncias no nível de coalinhamento entre a flexibilidade atual da firma e a que é requerida pelo ambiente. Os estudos empíricos mostraram que há diferenças significativas entre as pequenas e médias empresas e as grandes, em termos de flexibilidade operacional, estratégica, financeira e no desempenho entre elas. 3.4 Ajuste estratégico (strategic fit) A Tabela 4 apresenta a quantidade de artigos com o termo de busca “strategic fit” (ajuste estratégico) no título, no resumo e nas palavras-chave encontrada na base de periódicos EBSCO. Tabela 4 - Quantidade de artigos científicos eletrônicos contendo a expressão “strategic fit” 8/17 ANAIS Campo 1976/80 Título 0 Resumo 1 Palavra chave 0 1981/85 2 3 0 1986/90 3 9 0 Período 1991/95 96/2000 4 6 18 33 0 1 2001/05 13 58 9 2006/10 24 112 21 2011/13 21 44 6 Subtotal Total 73 278 37 388 Fonte: Base de periódicos EBSCO; elaborado pelos Autores O primeiro artigo localizado na base de periódicos EBSCO, no qual o termo ajuste estratégico (strategic fit) aparece no campo resumo, foi o publicado por Quinn em 1978. É o segundo artigo de uma série de três, mas o termo só aparece uma vez ao longo da publicação. O autor afirma que a estratégia efetiva tende a emergir de uma série de “subsistemas de estratégia” (grifo nosso), cada qual atacando uma classe específica da questão estratégica (como aquisições, desinvestimentos, reorganizações, etc.) em um caminho que deve ser disciplinado e ajustado de forma incremental, de modo a aproveitar as oportunidades. O comportamento organizacional conduz os gestores a uma coesão de padrões nas ações e decisões que se tornam a estratégia corporativa. Dessa estratégia, surgem as estratégias funcionais e operacionais, que precisam ser sempre submetidas a um ajuste estratégico. Waterman Jr. (1982) analisa o modelo da McKinsey denominado 7 S. Segundo o modelo, para uma dada estratégia, os sete elementos abaixo precisam estar ajustados estrategicamente: 1) Estratégia (Strategy), uma série de ações coerentes com o objetivo de obter uma vantagem substancial sobre a concorrência, melhorando a participação no mercado; 2) Estrutura (Structure) da empresa; 3) Sistema (Systems), como processos e fluxos; 4) Estilo (Style) dos gerentes, seus objetivos e as suas prioridades; 5) Pessoal (Staff); 6) Valores compartilhados ou metas superordenadas (Shared values); e 7) Habilidade (Skylls), as competências da organização decorrentes da sinergia entre as pessoas que a compõem. Miles e Snow (1984) trazem o conceito de ajuste entre a estratégia da organização, estrutura e processos gerenciais. Segundo os autores, organizações de sucesso se ajustam estrategicamente ao ambiente de seus mercados e suportam suas estratégias com estruturas projetadas adequadamente e processos gerenciais. São pontos principais do modelo: 1) Ajuste mínimo entre estratégia, estrutura e processo; 2) Aperto do ajuste – a produção sustentada e dinâmica, o excelente desempenho e a forte cultura organizacional; 3) Ajuste sem demora – a descoberta e articulação de novos padrões de estratégia, estrutura e processo frequentemente resultam em excelência; 4) Fragilidade de ajuste – vulnerabilidades que podem causar o declínio da organização. Consideram o ajuste como uma busca dinâmica que procura alinhar a organização ao seu ambiente e arranjar recursos internamente para apoiar este alinhamento. Venkatraman e Camillus (1984) sugerem que o “ajuste” deve ser considerado o conceito central no gerenciamento estratégico e dão a classificação: 1) Escola de Formulação da Estratégia – alinhamento da estratégia ás condições ambientais; 2) Escola de Implementação da Estratégia – moldagem dos mecanismos administrativos e organizacionais em linha com a estratégia; e 3) Escola da Integração Formulação e Implementação – gerenciamento estratégico envolvendo a formulação e a implementação e cobrindo tanto as decisões organizacionais quanto as ambientais (para estas três escolas, o ajuste é entendido como elementos a serem alinhados com a estratégia). Outras três abordagens apresentadas pelos autores defendem que o ajuste deve ser entendido como padrões de interação que fazem parte de um processo desenvolvido pela organização: 4) Escola de Redes de Negócios 9/17 ANAIS (Estratégia) Interorganizacional – análise da estratégia a nível “coletivo” enfatizando a interdependência das estratégias das várias organizações competindo por alocação de recursos; 5) Escola de Escolhas Estratégicas – critério gerencial moderando a visão “determinística” a respeito de decisões dos mecanismos da organização; e 6) Escola Abrangente da “Gestalt” – enfatiza a interdependência e o efeito da interação no ambiente organizacional e a estrutura para a sobrevivência da empresa. Como se constata, não há um modelo único de ajuste estratégico, embora possa parecer que o conceito de ajuste e alinhamento sejam tratados como sinônimos na academia. Harness e Harness (2012) utilizaram o conceito de ajuste estratégico para examinar a eliminação de produtos da indústria de serviços financeiros do Reino Unido. Concluíram que a retenção dos clientes que tiveram os seus serviços eliminados ocorreu no momento em que foi implantado o ajuste de uma estratégia operacional para racionalização das atividades. Owens, Zueva-Owens e Palmer (2012) investigaram sete casos de empresas varejistas britânicas multinacionais para estudar como elas escolhem seus parceiros no mercado exterior. Concluíram que as empresas que efetuaram o ajuste estratégico com os parceiros do exterior e com as condições do ambiente de cada um aproveitaram as oportunidades surgidas. 3.5 Consistência estratégica (strategic consistency) A Tabela 5 apresenta a quantidade de artigos com o termo de busca “strategic consistency” (consistência estratégica) no título, no resumo e nas palavras-chave encontrada na base de periódicos EBSCO. Tabela 5 - Quantidade de artigos científicos eletrônicos contendo a expressão “strategic consistency” Campo 1976/80 Título 0 Resumo 1 Palavra chave 0 1981/85 0 0 0 1986/90 0 0 0 Período 1991/95 96/2000 4 1 2 1 0 0 2001/05 0 7 0 2006/10 3 8 4 2011/13 0 4 1 Subtotal Total 8 23 5 36 Fonte: Base de periódicos EBSCO; elaborado pelos Autores Apesar de o primeiro artigo, segundo a EBSCO, no qual a expressão “strategic consistency” aparece no campo resumo ser o de Gardner (1980), trata-se de um artigo sobre a teoria dos jogos. Recorreu-se então à base de periódicos PROQUEST, na qual foi identificado o trabalho de Hatten (1982) como sendo o primeiro artigo a tratar de consistência estratégia para organizações sem fins lucrativos – segundo o autor, todas as organizações têm estratégias, quer sejam formalmente expressas em documentos da corporação, quer informais. O gerenciamento estratégico – processo interativo contínuo em que a consistência estratégica apoia-se na realidade presente para atingir as metas futuras – requer uma avaliação sistemática da posição da organização dentro do seu ambiente e de suas próprias forças e fraquezas, pois isso ajuda a delinear uma direção futura. Para tanto, devem ser estabelecidas metas, e também processos estratégicos para atingir essas metas por meio das operações financeiras, de marketing e de produção que precisam ser consistentes com o ambiente, os recursos e os valores que caracterizam a organização (HATTEN, 1982). Merecem citação dois trabalhos que usaram o modelo de consistência estratégica. 10/17 ANAIS Harveston, Kedia e Francis (1997) usaram o modelo para examinar a relação entre a consistência estratégica e o desempenho de firmas diversas segundo a Visão Baseada em Recursos, incorporando diversidades ambientais, o reflexo das forças de globalização e a localização. Novicevic e Harvey (2001) examinaram, pela consistência estratégica, como o aumento da demanda global e a necessária flexibilidade que as organizações precisam ter redefinem os papéis da empresa, em função dos seus recursos humanos e locais de influência. 3.6 Modelo de congruência (congruence model) A Tabela 6 apresenta a quantidade de artigos com o termo de busca “congruence model” (modelo de congruência) no título, no resumo e nas palavras-chave encontrada na base de periódicos EBSCO. Tabela 6 - Quantidade de artigos científicos eletrônicos contendo a expressão “congruence model” Campo 1976/80 Título 0 Resumo 0 Palavra chave 0 1981/85 0 5 0 1986/90 0 1 0 Período 1991/95 96/2000 1 0 4 3 0 0 2001/05 0 4 0 2006/10 3 12 3 2011/13 3 7 1 Subtotal Total 7 36 4 47 Fonte: Base de periódicos EBSCO; elaborado pelos Autores Este modelo foi desenvolvido e publicado por Nadler, Tushman e Hatvany (1980), no qual as organizações são vistas como sistemas sociais dinâmicos e abertos, tendo um conjunto de elementos interdependentes que interagem com o seu ambiente. Pelo modelo, as empresas apresentam algumas características básicas: 1) Interdependência interna – um componente ou subsistema da organização frequentemente afeta os outros subsistemas ou setores dela; 2) Realimentação do sistema – as informações sobre as saídas (outputs) podem ser usadas para controlar o sistema; 3) Estado de equilíbrio – quando surge um desequilíbrio, a organização move-se para retornar a um estado de equilíbrio; 4) Equifinalidade – significa que configurações diferentes podem atingir um mesmo resultado, não havendo uma maneira universal ou “um melhor caminho” para organizar-se; e 5) Adaptação – para um sistema sobreviver, deve adaptar-se às mudanças ocorridas no ambiente em que atua. Para os autores, a estratégia a ser seguida procura responder a pergunta: “Em qual negócio nós estamos?”. Nas saídas do sistema, além da produção física dos bens e serviços próprios do negócio, também deve ser considerada o cumprimento das metas estabelecidas, a utilização dos recursos disponibilizados e a adaptação às mudanças no meio ambiente. Fry e Smith (1987) entendem que a congruência na organização significa um sistema social que especifica, para ela alcançar as suas metas, a forma de relacionamentos que deve existir em diferentes ambientes das várias unidades da organização. Schaede (2012) usa o modelo de congruência para analisar a mudança que ocorreu no Japão entre 1998 e 2006, quando a política econômica japonesa precisou mudar para fazer face à concorrência externa da China, Taiwan e Coréia do Sul. Aplicou o modelo defendendo um rígido alinhamento entre as tarefas críticas, organização formal, pessoas e cultura. Narayanaswamy, Grover e Henry (2013) usam o modelo de congruência em um projeto de desenvolvimento de sistemas de informação, procurando harmonizar os valores dos diversos participantes num ambiente caracterizado pela incerteza e constantes mudanças. 3.7 Alinhamento de estratégias (strategy alignment) 11/17 ANAIS A Tabela 7 apresenta a quantidade de artigos com o termo de busca “strategy alignment” (alinhamento de estratégia) no título, no resumo e nas palavras-chave encontrada na base de periódicos EBSCO. Tabela 7 - Quantidade de artigos científicos eletrônicos contendo a expressão “strategy alignment” Campo 1976/80 Título 0 Resumo 0 Palavra chave 0 1981/85 0 0 0 1986/90 0 1 0 Período 1991/95 96/2000 0 0 3 5 0 0 2001/05 3 13 1 2006/10 3 19 5 2011/13 2 8 3 Subtotal Total 8 49 9 66 Fonte: Base de periódicos EBSCO; elaborado pelos Autores O primeiro artigo identificado que trata de alinhamento de estratégias no campo resumo é o de Kerr e Jackofsky (1989). Contudo, aborda apenas o papel estratégico do desenvolvimento de gestores. Identificou-se ao longo da pesquisa que alguns autores confundem alinhamento de estratégia (strategy alignment) com alinhamento estratégico (strategic alignment), sendo relativamente frequente o uso das duas expressões como sinônimos dentro de um mesmo artigo, sem o cuidado de defini-las. Além disso, de 1993 para cá, identificaram-se vários trabalhos abordando alinhamento de estratégia ou alinhamento estratégico da tecnologia da informação. Cronologicamente, o primeiro modelo de alinhamento de estratégias é o modelo de campos e armas da competição, concebido e desenvolvido por Contador, cujos conceitos centrais foram publicados em 1995 (CONTADOR, 1995a e 1995b). Esse modelo brasileiro fundamenta-se no alinhamento das armas da competição aos campos escolhidos pela empresa para competir. Segundo Contador (2008), “campo da competição é o locus imaginário da disputa num mercado entre produtos ou entre empresas pela preferência do cliente, onde a empresa busca alcançar e manter vantagem competitiva, como preço e qualidade do produto, e representa um atributo do produto ou da empresa valorizado e de interesse do cliente”, e “arma da competição é qualquer atividade executada ou recurso administrado por um grupo de funcionários com atribuições homogêneas utilizado pela empresa para conquistar e/ou manter vantagem competitiva, como propaganda, tecnologia da informação e automação do processo produtivo, e que não interessa ao cliente”. As armas da competição representam as estratégias competitivas operacionais da empresa, e um conjunto de alguns dos 14 possíveis campos da competição representa a estratégia competitiva de negócio. Assim, fica explícita a ideia do alinhamento de estratégias – as operacionais à de negócio. Esse alinhamento é expresso pela frase: “Para a empresa ser competitiva, não há condição mais relevante do que ter alto desempenho apenas naquelas poucas armas que lhe dão vantagem competitiva nos campos da competição escolhidos para cada par produto/mercado” (CONTADOR, 2008). O autor enunciou essa proposição como tese a fim de ser comprovada, e de fato foi comprovada por meio de pesquisas realizadas entre 1999 e 2007 em 179 empresas brasileiras de diversos segmentos. Para comprovar quantitativamente a mencionada tese, Contador (2008) criou variáveis quantitativas, dentre as quais interessa ao artigo a variável “foco das armas nos campos da 12/17 ANAIS competição da empresa”, que corresponde à média das intensidades das poucas armas que proporcionam vantagem competitiva no conjunto de campos escolhido pela empresa, conjunto esse escolhido em função das necessidades e preferências do cliente e da posição competitiva dos concorrentes. Na média das pesquisas realizadas por Contador, a variável foco explica 79% da competitividade das empresas. Como o foco mede o alinhamento das armas da competição (estratégias competitivas operacionais) ao conjunto dos campos da competição da empresa (estratégia competitiva de negócio), Contador comprovou a tese e a proposição de ser esse alinhamento o principal responsável pela vantagem competitiva da empresa. O primeiro trabalho que a pesquisa identificou na base de periódicos da EBSCO contendo a conceituação de alinhamento de estratégias foi o de Fuchs, Mifflin, Miler e Whitney (2000). Segundo eles, as firmas erram por não se integrarem numa estratégia coesa. Eles defendem a integração entre os seguintes elementos: 1) Direção da empresa – visão de longo prazo, valores propostos, valores fundamentais, planos estratégicos e consistência da direção; 2) Foco em produto/mercado; 3) Cultura organizacional; 4) Capacidades operacionais; e 5) Recursos. A direção e o foco em produto e mercado estabelecem o posicionamento da empresa, e a cultura organizacional, as capacidades operacionais e os recursos constituem o grupo de execução. A estratégia, uma vez formulada, precisa estar totalmente alinhada com esses cinco elementos, e não apenas com parte da organização, para que a organização atinja os seus objetivos. Fuchs et al. (2000) ressaltam que o alinhamento de estratégias, ou a integração de estratégia, é um processo dinâmico, flexível e iterativo. Quando um aspecto do posicionamento muda, também deve mudar a execução, e vice versa. Para eles, há três modos de alinhamento: 1) Alinhamento dos elementos – quando os cinco elementos acima estão todos alinhados; 2) Alinhamento só de grupos – quando a direção e foco estão alinhados (grupo de posicionamento), porém a cultura organizacional, capacidades operacionais e recursos (grupo de execução) não, ou vice versa, e 3) Alinhamento fechado – quando a empresa está fechada ao ambiente externo, não se preocupando com o mundo a sua volta. (“sempre deu certo assim, para que mudar...?”). Conforme Fuchs et al. (2000), para cada estratégia, há um alinhamento chave necessário. Beal (2000) estuda pequenas firmas de manufatura para examinar a frequência e o escopo da exposição do ambiente sobre o alinhamento de estratégias. Os resultados sugeriram que a obtenção de informação sobre muitos aspectos de setores específicos do ambiente facilita o alinhamento entre algumas estratégias competitivas e o ambiente. 4 CONCLUSÃO Da pesquisa realizada, pode-se constatar a confusão entre as várias expressões cunhadas por autores para tratar de alinhamento estratégico, assim como as críticas que auditores fazem à academia e seu isolamento como resposta a elas. A pesquisa sobre o termo estratégia ajustada (fit strategy) não levou a nada relevante relacionado a alinhamento estratégico. A falta de um arcabouço teórico sobre alinhamento estratégico acaba gerando trabalhos algumas vezes conflitantes e outros com pouca consistência prática. Um dos pontos mais importantes, e pouco abordado ainda, é o alinhamento de estratégias, que é diferente de alinhamento estratégico. Este artigo evidencia que a relevância da pesquisa sobre alinhamento de estratégias é nítida, dado que as várias estratégias adotadas 13/17 ANAIS pela empresa precisam ser alinhadas. Aí está um campo pouco explorado e tão carente de pesquisas, para o qual sugerimos estudos futuros. A principal contribuição da pesquisa aqui relatada reside na classificação de alinhamento estratégico em sete tipos: alinhamento da estrutura (structure alignment), contingência estratégica (strategic contingency), coalinhamento estratégico (strategic coalignment), ajuste estratégico (strategic fit), consistência estratégica (strategic consistency), modelo de congruência (congruence model) e alinhamento de estratégia (strategy alignment). Resulta daí uma proposta de taxonomia de alinhamento estratégico. A segunda contribuição consiste na apresentação do conceito e da definição das sete expressões encontradas nas publicações acadêmicas eletrônicas a respeito de alinhamento estratégico, conforme tratado por seus vários autores. Essas contribuições, acreditam os autores, facilitarão estudos futuros nessa área de pesquisa. A contribuição deste artigo consiste na exposição desses sete tipos de alinhamento estratégico e na consequente taxonomia, servindo como base para futuros estudos nesta área de pesquisa. REFERÊNCIAS ACKOFF, R.L. A concept of corporate planning. Operational Research Quaterly. v. 22, 1971, p. 193-194. BEAL, R. Competing effectively: Environmental scanning, competitive strategy and organizational performance in small manufacturing firms. Journal of Small Business Management. 2000, p. 27-47 BELLINGIERI, J.C. Alfred Chandler e a teoria histórica da grande empresa. Revista Hispeci & Lema On Line, ano III, n.3, nov. 2012 . Disponível em <unifafibe.com.br/ hispecielemaonline>. 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