Distribuição de renda de longo prazo O Brasil continua melhorando. Esta afirmação, apesar de ser contestada pela maioria dos brasileiros, é verdadeira. Se verificarmos os dados do censo demográfico de 1991 e compararmos com o de 2000, com certeza muitos indicadores terão evoluído.Teremos mais domicílios com luz elétrica, saneamento básico e televisão ou geladeira. A PNAD (pesquisa nacional por amostragem domiciliar) de 2004 continua indicando esta melhora em relação a 2003. Ora, se esta tudo assim tão melhor porque a sensação de que não é isso que ocorre. Na verdade existe muito mais do que indicadores “per capita” a se considerar. Mesmo com várias conquistas, o Brasil continua sendo uma sociedade muito desigual. Esta desigualdade se expressa, principalmente, na distribuição de renda. Para termos uma idéia, os 10% da população mais pobre têm, em média, um rendimento mensal de R$ 76,00 enquanto que os 10% mais ricos o rendimento é de R$ 3.266,00. Não, os valores não estão errados. Ficam aqui duas perguntas: como alguém pode viver com R$ 76,00 mensais e como pode ser considerado rico quem ganha a partir de R$ 3.266,00? O primeiro valor é realmente aviltante mas real, sobretudo em áreas rurais do nordeste do país. O segundo que é 43 vezes o valor do primeiro é um valor que separa o grupo que representa a classe média alta, mas a diferença aumenta muito daí para cima. Para entendermos melhor, podemos dizer que somente 10% da população brasileira ganha acima de R$ 3.266,00, ou ainda, 90% ganham menos que este valor. Esta forte distorção, que é secular, não se resolve por decreto. Por mais aviltante que seja o rendimento dos 10% mais pobres a pergunta passa a ser: Como criar condições para que as faixas mais baixas de rendimentos mudem de patamar, que sejam capazes de gerar produção e conseqüentemente aumentar esta renda? Infelizmente, não basta elevar o valor do salário mínimo. Se fosse assim as políticas públicas de distribuição de renda seriam muito simples. Na verdade estes processos envolvem critérios que vão desde o controle de natalidade até a educação. Sabe-se, por exemplo, que quanto maior a escolaridade da mãe menor a quantidade de filhos e maior a chance de se cuidar bem destes filhos. Quanto mais anos de estudo maior a qualificação da mão-de-obra e conseqüentemente maior a capacidade de gerar renda. Sim, a chave do desenvolvimento está no longo prazo, na educação de gerações. A prioridade, portanto não é pagar a dívida pública ou baixar a taxa de juros, isto são meios para conseguirmos educar melhor, alimentar melhor e só assim termos direito a uma sociedade mais justa. Mesmo com a melhora de muitos indicadores sociais é preciso que se institucionalize, através de leis, instrumentos que no longo prazo permitam que uma população mais preparada possa produzir bens e serviços de maior valor agregado,ou melhor, bens em que a mão-de-obra e a tecnologia empregados são mais importantes que a própria matéria-prima. Para que consigamos isto, as políticas públicas de educação e proteção ao jovem têm que estar blindadas às tendências político-partidárias do momento, desta forma se fará uma distribuição de renda pela melhora da base de sustentação da produção, aumentando assim a riqueza do país e não por critérios paternalistas e sem sustentabilidade. Paulo André de Oliveira Professor de Economia da FMR Pós-graduando Energia na Agricultura FCA-UNESP