Carta Aberta ao Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional Lisboa, 27 de Maio de 2009 Assunto: Campanha de branqueamento da imagem das barragens Exmo. Sr. Ministro, A Plataforma Sabor Livre (PSL) vem por este meio exprimir a sua indignação face à campanha nacional destinada ao branqueamento da imagem das barragens actualmente em curso, implementada pela EDP. A Plataforma Sabor Livre espera que o Ministro do Ambiente tome publicamente posição contra essa campanha, por atentar contra o direito à informação dos cidadãos Portugueses, contra a verdade dos factos, contra a sustentabilidade dos territórios e contra a conservação da natureza e da biodiversidade. Consideramos que a construção de barragens acarreta vantagens e desvantagens e que a sociedade deve estar ciente de ambas para que possa tomar decisões conscientes e informadas. Com esta campanha, a EDP subverte o princípio da transparência e condiciona o público a acreditar que da construção de uma barragem resultam apenas consequências positivas para o ambiente e para a conservação da natureza. Isto é intolerável numa sociedade democrática e transparente. Os órgãos do Governo, como o Ministério que tutela, devem ser os primeiros a denunciar e a combater estas práticas não democráticas. Não é apenas a PSL a afirmar que as barragens têm graves impactos negativos no ambiente e nas pessoas. São as organizações e as convenções internacionais, das quais Portugal é signatário, que o confirmam. A Comissão Mundial das Barragens das Nações Unidas, a Convenção de Ramsar e a Agência Europeia do Ambiente sustentam que: • As grandes barragens construídas para oferecer serviços de irrigação, gerar electricidade e controlar inundações, no geral, não alcançaram as suas metas físicas, não recuperaram os seus custos e são menos lucrativas em termos económicos do que o esperado. • As grandes barragens provocaram a destruição de florestas e habitats selvagens, o desaparecimento de espécies, a degradação das áreas de captação a montante, a redução da biodiversidade aquática e o declínio dos serviços ambientais prestados pelas planícies aluviais a jusante (ecossistemas de rios e estuários e ecossistemas marinhos adjacentes). • Não é possível mitigar muitos dos impactos de uma barragem sobre os ecossistemas e a biodiversidade. • Entre 40 e 80 milhões de pessoas foram fisicamente deslocadas por barragens em todo o mundo (incluindo em Portugal). Recusamo-nos a acreditar que o Ministro do Ambiente de Portugal considere que a actual campanha da EDP “é uma simples estratégia de valorização comercial”, tal como foi referido nos órgãos de comunicação social no final da semana passada. Recusamo-nos também a acreditar que o Ministro do Ambiente de Portugal considere necessária a construção de grandes barragens, como Odelouca e Baixo Sabor, para garantir o investimento necessário conservação da biodiversidade no nosso país. A PSL não admite que a conservação das 70 espécies de vertebrados ameaçadas de extinção em Portugal Continental (8 espécies de mamíferos, 42 espécies de aves, 2 espécies de répteis e 18 espécies de peixes) dependa do dinheiro das compensações pela construção das grandes barragens e façam parte da campanha de branqueamento da EDP. Por isso, pedimos ao Sr. Ministro que se demarque e critique claramente a campanha demagógica da EDP e que informe Portugueses sobre a estratégia e o investimento do governo na conservação da biodiversidade. Com os melhores cumprimentos. Plataforma Sabor Livre A PSL é constituída pelas seguintes organizações: Associação Olho Vivo, FAPAS (Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens), GEOTA (Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente), LPN (Liga para a Protecção da Natureza), Quercus (Associação Nacional de Conservação da Natureza) e SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves).